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DOENÇA CELÍACA - PARTE 2

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TÂMARA MELO - MEDICINA 
 
Continuação 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – ADULTO: 
Geralmente a doença celíaca é diagnosticada no adulto, sendo que a idade média global do diagnóstico é 
de 45 anos. Isso ocorre, ou pelo sistema imune só se tornar reagente ao glúten depois de anos ou pela 
doença se manifestar de forma silenciosa. 
No adulto a evolução dos sintomas é um pouco diferente, com manifestações gastrointestinais menos 
frequentes. 
 Diarreia menos frequente. 
 Doença assintomática por longos períodos. 
 Desenvolvimento na vida adulta. 
No adulto é mais comum vermos as manifestações clínicas decorrentes dos distúrbios nutricionais. 
O diagnóstico e a apresentação tardia são tão comuns que 25% dos pacientes são diagnosticados com mais 
de 60 anos. 
MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS: 
Apesar de menos frequentes, as manifestações gastrointesniais no adulto podem se apresentar de forma 
muito variável e vão depender da extensão da doença. 
 ATENÇÃO: Desconforto abdominal vago – importante diagnóstico diferencial com DII (doenças 
inflamatórias intestinais como doença de crhon por ex). 
Sintomas de má absorção 
 Inespecíficos 
o Diarreia, esteatorreia, perda de peso, flatulência. 
 Diarreia: 
o Episódica, não contínua, noturna, matinal, pós prandial. 
 Com características bem variáveis e podem se apresentar durante semanas e depois demorar 
meses para reaparecer. 
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MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS: 
Mais preocupante que os sintomas gastrointestinais, costumam ser os sintomas extraintestiais. Eles 
decorrem da má absorção, podem acometer qualquer órgão e dependem do nutriente que não está sendo 
absorvido. 
 Tendem a piorar com a idade 
 Decorrem da má-absorção 
 Podem acometer qualquer órgão 
 Podem ser mais alarmantes que os sintomas GI 
→ ANEMIA: 
A anemia é uma complicação clinica muito frequente no paciente com doença celíaca. Isso ocorre devido 
precisarmos de inúmeros nutrientes para a produção adequada das hemácias. 
 Pode ser ocasionada pela deficiência de absorção de ferro ou folato 
o Ocasiona uma anemia microcística. 
o Indicando um acometimento das vilosidade do Intestino proximal. 
 Doença grave com comprometimento de íleo: menos comum, mas pode acontecer. 
o Ocasiona uma deficiência de B12 resultando em uma anemia macrocística 
(MEGALOBLASTICA). 
 Hemorragias, decorrentes da absorção deficiente de vitamina K, também podem ocasionar anemia 
por perda de sangue. 
→ OSTEOPENIA: 
 ATENÇÃO: Complicação mais comum no paciente celíaco! 
 70% dos pacientes celíacos não tratados apresentam. 
 Prevalência ↑ com idade 
 25% dos pacientes evoluem para a osteoporose 
É causada principalmente pela Absorção prejudicada de cálcio e vit D. além disso, Ácidos graxos não 
absorvidos na luz 
 Acabam por prejudicar a absorção de Mg e Ca → Perda de Mg e Ca 
Esse paciente pode se manifestar com Dor óssea (lombar, pélvica, torácica). 
A ↓ Ca e Mg pela destruição da mucosa, por sua vez pode causar Parestesias, cãibras e até mesmo a 
tetania. 
Hiperparatireoidsimo secundário 
 As paratireoides tentando compensar a baixa de Ca no sangue, aumentam sua atividade, liberando 
mais paratormônio (hormônio responsável pela retirada de Ca da matriz óssea e liberação de Ca no 
sangue). 
 O que vai causar uma piora da osteopenia, visto que mais osso vai ser consumido para liberar cálcio 
para a corrente sanguínea. 
SINTOMAS NEUROLÓGICOS: 
Existe uma grande associação de pacientes com doença celíaca e sintomas neurológicos, que podem se 
apresentar como: 
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 Lesões do SNC e periférico. 
 Ataxia, fraqueza muscular, parestesias 
 Neuropatia periférica, desmielinização, atrofia cerebelar, encefalopatia de Wernicke 
 Epilepsia, demência, depressão, esquizofrenia. 
 Deficiência de tiamina, B12, riboflavina, piridoxina. 
 Precisamos de vitamina B12 para o correto funcionamento do sistema nervoso. Ela é envolvida na 
mielinização, na produção de enzimas, entre outros. E, por isso, sua falta causa inúmeros sintomas. 
Alguns sintomas não melhoram com dieta, isso pode acontecer devido a algumas lesões serem irreversíveis, 
o que torna, ainda mais importante, um diagnóstico precoce. 
Alguns sintomas neurológicos não são muito explicados, sendo atribuídos ao processo inflamatório 
sistêmico provocado pela doença. 
ALTERAÇÕES GINECOLÓGICAS: 
Uma mulher que está tendo uma síndrome desabsortiva, como a que acontece na doença celíaca, vai ter 
seu corpo querendo poupar energia de todas as formas possíveis e por isso, uma das primeiras ações, é a 
supressão do ciclo ovariano, podendo resultar em. 
 Amenorreia 
 Atraso da menarca 
 Infertilidade 
Se por acaso essa mulher consegue engravidar ela vai ter uma grande dificuldade para manter essa 
gestação. 
 Abortos recorrentes, RCIU (restrição do crescimento intrauterino) 
Nos Homens essa desnutrição pode ocasionar 
 Disfunção erétil e infertilidade. 
 ATENÇÃO: Muitas vezes é um casal que está tendo dificuldade para engravidar e chega ao seu 
consultório com somente essa manifestação clínica, se não pensarmos em doença celíaca não 
conseguiremos diagnosticar a paciente. 
MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS: 
Equimoses e petéquias 
 Decorrentes da Deficiência de vit K: nós precisamos de vitamina K para um processo de coagulação 
sanguínea adequado e sua falta pode ocasionar sangramentos cutâneos, provocando equimoses e 
petéquias. 
Edema 
 Hipoproteinemia: decorrente da síndrome desabsortiva, resultando na ida de liquido para o espaço 
intersticial e consequentemente no edema. 
Dermatite herpetiforme 
DERMATITE HERPETIFORME: 
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É a manifestação cutânea mais comum da doença celíaca, suspeita-se que seja uma consequência da 
reação imune contra o glúten. 
 Pacientes entre 10-50 anos 
 Pápulas eritematosas, agrupadas, com evolução para vesículas. 
 Distribuição simétrica. 
 Superfície extensora de MMSS e MMII, cotovelos, joelhos, couro cabeludo, nuca, nádegas. 
Suas características lembram um pouco as lesões cutâneas causada pelo vírus da herpes zoster e por isso 
leva esse nome. 
Muitas vezes as doenças sistêmicas se manifestam de forma cutânea o que confere ao dermatologista um 
importante papel no diagnóstico e conhecimento sobre clínica médica. 
 
ASSOCIAÇÃO COM DOENÇAS AUTOIMUNES: 
É muito comum que uma doença autoimune venha acompanhada de outras doenças autoimunes, então não 
é raro, junto a doença celíaca, o paciente também apresentar: 
 Hepatite auto imune 
 Cirrose biliar primária. 
 Colangite esclerosante primária. 
 Tireoidite de Hashimoto. 
 Diabetes tipo 1. 
 Doença de Addison. 
 Miocardite auto imune. 
É por isso, que o indivíduo com doença autoimune deve ser sempre monitorado e, quando manifestar outros 
sintomas, investigar a possiblidade de outras doenças autoimunes estarem presente. 
ASSOCIAÇÃO COM NEOPLASIAS: 
A doença celíaca ainda causa um maior risco de desenvolvimento de câncer no sistema gastrointestinal, 
principalmente: 
 Linfoma intestinal de células T. 
 Câncer de: Cólon, orofaringe, esôfago, pâncreas, hepatobiliar. 
Além disso, O paciente celíaco pode ter alterações de transaminases, de enzimas hepáticas e por isso 
apresentar inflamações hepáticas . 
DIAGNÓSTICO: 
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A doença celíaca é uma doença autoimune séria e que necessita de uma confirmação diagnóstica com 
precisão, para que todas as manifestações clinicas agora possam ser monitoradas e controladas. Além 
disso, o diagnostico condena o paciente a uma dieta vitalícia de glúten free. 
Diante da suspeita clínica da doença celíaca, pediremos testes sorológicos que medem principalmente a 
presença dos anticorpos envolvidos com a reação imune, sendo eles: 
 Anti endomísio (IgA) (Sensibilidade: 90%; Eespecificidade:100%) 
 Anti transglutaminase (IgA) (S: 95%; E: 94%) 
 Anti gliadina (IgG e IgA) – menor acurácia. 
 Após o Diagnóstico, monitorar aderência e resposta ao tratamentoCom uma clínica muito sugestiva e os testes sorológicos sugestivos, ou com os testes dando positivos, 
devemos realizar a confirmação do diagnóstico através da biopsia de duodeno. 
 Endoscopia com Biópsia de duodeno 
o Confirmação do diagnóstico 
Além disso existem alguns Testes genéticos, contudo a pessoa pode ter o gene da doença e não 
desenvolve-la. Sendo por isso não usados com tanta frequencia. 
TRATAMENTO: 
Consiste na eliminação total e vitalícia do glúten da dieta. Há a necessidade de se explicar ao paciente a 
importância dele seguir essa recomendação, já que inúmeros alimentos e até mesmo cosméticos podem 
conter glúten. Além disso, há uma necessidade de suplementar a alimentação desse paciente e por isso é 
de extrema importância: 
 Consultar um nutricionista experiente. 
 Educar sobre a doença. 
 Eliminação total e vitalícia do glúten na dieta. 
 Identificação e tratamento das deficiências nutricionais. 
 Acesso a um grupo de apoio. 
 Acompanhamento contínuo de uma equipe multidisciplinar.