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Patrícia Miranda- MEDICINA Problema 1 intermediária 1. DISCORRER SOBRE AS CONSULTAS DE PUERICULTURA • HABILIDADES BÁSICAS DO PEDIATRA - A PEDIATRIA SO SÉCULO XXI: A NOVA PUERICULTURA O desenvolvimento tecnológico, a melhoria dos índices socioeconômicos associada à aquisição de hábitos pouco saudáveis, a transformação ambiental, a modificação do vínculo afetivo e das estruturas familiares (pais separados, guarda compartilhada, famílias homoafetivas, monoparentais, entre outras), a terceirização da criança, o modelo educacional vigente, o consumismo e o imediatismo exagerados, o crescimento urbano acelerado e a falta de perspectivas favoráveis estão produzindo uma rápida mudança nutricional e de comportamento, expondo as crianças e os adolescentes a um maior risco de doenças crônicas, como obesidade, hipertensão arterial, diabete, asma e depressão, além do aumento da violência, acidentes e drogadição, determinou o surgimento de um novo padrão de morbimortalidade, que compromete seriamente a saúde pública e reflete essencialmente a precariedade do desenvolvimento infantil e a desigualdade social. Um recente levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que, entre 2000 e 2012, cerca de 74% das mortes entre 30 e 70 anos de idade ocorreram por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), com alta prevalência de doenças cardiovasculares (31%), câncer (17%), condições nutricionais, maternas e perinatais (13%). As DCNT têm sua gênese na infância, fato que aumenta a responsabilidade do pediatra; um dos primeiros pesquisadores a estudar a relação entre a qualidade de vida do bebê, desde a concepção até a vida adulta, foi o epidemiologista britânico David Barker, professor de cardiologia da Universidade de Southampton (Reino Unido). Ele mostrou que a importância dos primeiros 1.000 dias de vida para a saúde de uma criança não é uma panaceia de marketing, como se costuma dizer; está claro que é uma janela crítica de tempo e oportunidade que pode ter um impacto mensurável e duradouro sobre o crescimento e o desenvolvimento da criança, que irá moldar o futuro desde a vida intrauterina. No passado, acreditava-se que as características genéticas eram fixas e imutáveis, entretanto, a partir dos estudos de Barker, embasando teoricamente a “hipótese de programação fetal” na gênese de doenças crônicas do adulto, novas teorias e pesquisas surgiram. Com o mapeamento do genoma e as pesquisas relacionadas às questões de nutrição e metabolismo (desnutrição, obesidade, dislipidemias), comprova-se a influência da alimentação materna e da exposição precoce a fatores ambientais na vida da criança a suscetibilidades para doenças na vida adulta, com riscos de transmissão genética para as gerações subsequentes. De acordo com o conceito das origens desenvolvimentistas da saúde e da doença (programming), a indução, a deleção e o prejuízo no desenvolvimento de uma estrutura somática permanente, bem como o ajuste de um sistema fisiológico por estímulo ou agressão que ocorre em um período suscetível (fases precoces da vida), teriam consequências de longo prazo sobre funções fisiológicas. A epigenética comprova a interferência alimentar em períodos críticos no desenvolvimento e na expressão gênica, que podem causar a alterações fenotípicas. Deste modo, cresce em relevância o ambiente onde a criança está se desenvolvendo desde a gestação, um período da vida crítico durante o qual a criança está em um intenso desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social. O estresse tóxico causado por adversidades significativas, frequentes ou prolongadas sofridas na 1ª infância, como pobreza extrema, abuso ou negligência, pode debilitar o desenvolvimento cerebral e provocar alteração na aprendizagem, distúrbios comportamentais e prejuízos Patrícia Miranda- MEDICINA significativos da saúde física e mental, aumentando o risco de doenças crônicas nas fases posteriores da vida, como alcoolismo, depressão, doenças cardíacas e diabete. Ou seja, muitas doenças do adulto têm origem na infância e traduzem distúrbios do desenvolvimento neurobiopsicomotor e social do ser em período de formação. Nas últimas décadas, várias pesquisas mostraram os efeitos da desnutrição sobre o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças. Sabe-se que vários fatores alteram esse desenvolvimento, entre eles os genéticos, o meio ambiente, o nível socioeconômico e a presença de comorbidades, mas seguramente a nutrição ocupa papel indispensável nesse desenvolvimento neurológico dacriança. Existem várias teorias para justificar a relação entre a desnutrição e déficit cognitivo na infância e uma delas aponta para lesões irreversíveis no cérebro em razão de uma dieta inadequada tanto quantitativa quanto qualitativamente. Diante de todas essas mudanças, a responsabilidade do pediatra cresce e impõe- se o desenvolvimento de novas habilidades para enfrentar esses desafios. -HABILIDADES DO PEDIATRA PARA A PEDIATRIA DO SÉCULO XXI A puericultura tem como base a consulta médica periódica e sistemática, cujo foco é a prevenção e a educação em saúde, sendo fundamental o vínculo do pediatra com a criança e a família. O atendimento ambulatorial de puericultura é destinado à criança saudável, para a prevenção, e não para o tratamento de doenças. A puericultura inclui as ações a serem realizadas nos atendimentos agendados em conformidade com o calendário. Nessas consultas, o pediatra tem que estar habilitado a avaliar e monitorar: • estado nutricional da criança pelos indicadores clínicos definidos pelo Ministério da Saúde; • história alimentar; • curva de crescimento pelos parâmetros antropométricos adotados pelo Ministério da Saúde; • estado vacinal segundo o calendário oficial de vacinas do Ministério da Saúde; • desenvolvimento neuropsicomotor; • desempenho escolar e cuidados dispensados pela escola; • padrão de atividades físicas diárias conforme parâmetros recomendados pelo Ministério da Saúde; • capacidade visual; • condições do meio ambiente conforme roteiro do Ministério da Saúde; cuidados domiciliares dispensados à criança; • desenvolvimento da sexualidade; • sono, quantitativa e qualitativamente; • função auditiva; • saúde bucal; • exposição à mídia. PEDIATRA: MUITO MAIS QUE UM MÉDICO- UM LÍDER E UM EDUCADOR Em 1990, o professor Morris Green dirigiu um projeto conhecido como Bright Futures, uma iniciativa do US Bureau of Maternal and Child Health apoiado pela American Academy of Pediatrics utilizando a logística da Georgetown University, dedicada ao princípio de que toda criança merece ser saudável, e que a saúde ideal envolve uma relação de confiança entre o pediatra, a criança, a família e a comunidade como parceiros na prática de saúde. O Bright Futures indica que a puericultura se baseia em uma “conexão vertical” dentro dos serviços de saúde, envolvendo todos os profissionais de saúde e pessoal auxiliar, associada a uma “conexão horizontal” com os programas comunitários de creches, escolas, associações de bairro, igrejas e Patrícia Miranda- MEDICINA serviços de saúde pública. Toma como base que a consulta de puericultura busque o diagnóstico adequado da saúde da criança dentro de seu microambiente, ou seja, todo paciente tem que ser visto dentro do contexto de sua família e comunidade. Entretanto, a grande diversidade no mundo atual constitui um obstáculo e um desafio a essa tarefa: o pediatra encontra as mais variadas condições familiares; crianças terceirizadas, sem regras e limites, sem exemplos e líderes, além de pressões negativas do meio ambiente, uma mídia sem limites e sem respeito à criança, transbordando consumismo, práticas alimentares pouco saudáveis com facilidades ao sedentarismo e ao pouco pensar. Diante desse cenário, insere-se a figura do pediatra, que precisa se atualizar para aprimorar suas habilidades em comunicação, vinculadas à sua empatia e ao dom recebido para essa missão, se quiser ser ouvido e respeitado.Consultas mais producentes costumam ser aquelas baseadas nas questões levantadas pela família ou pelo paciente, analisadas, enquadradas em contextos e diretrizes baseadas em evidências científicas, e finalmente uma resposta deve ser dada de modo coloquial, clara e aberta a dúvidas e observações; assim, propõe-se o “rastreamento clínico na puericultura”. ANAMNESE Começar uma consulta com “e aí, tudo bem?” ou “o que está acontecendo com o Joãozinho?” não é um bom começo, segundo estudos realizados pela iniciativa Bright Futures. É mais produtivo e provocador começar a consulta com “perguntas gatilho” ou perguntas facilitadoras, como: 1. Quais são suas preocupações hoje? 2. Desde nossa última consulta, quais as novidades que o Joãozinho apresentou? 3. Ocorreu alguma mudança importante na família desde a nossa última consulta? 4. Do que vocês mais gostam no Joãozinho? 5. O que no Joãozinho mais incomoda você? 6. Qual seria, em sua opinião, a alimentação ideal para o Joãozinho? 7. E o que ele come diariamente? 8. Qual seria uma solução, ao seu ver, para esse problema do Joãozinho? Existem “perguntas gatilho” mais diretas: 1. Vocês acham que é normal uma criança ir dormir após as 22 horas? 2. Em sua opinião, qual seria o local ideal para o Joãozinho dormir? 3. Onde ele dorme atualmente? 4. Você tem medo que ele sofra um acidente doméstico? 5. Quais cuidados você já tomou para prevenção de acidentes? Devem ser feitas perguntas facilitadoras para introduzir as questões mais pertinentes a cada faixa etária, como: • nutrição; • evacuação e diurese; • padrão de sono e comportamento; • adaptação e rendimento escolar; • comportamento de risco, contato com álcool, tabaco e outras drogas. Recentemente, um grupo de trabalho inspirado no Bright Futures formulou estratégias práticas para facilitar a interação entre médicos, pacientes e famílias nas consultas de puericultura: • chamar as pessoas pelos seus nomes, demonstrar empatia; • não usar jargão médico; • valorizar as preocupações do paciente e da família; • dar informações claras, treinar habilidades verbais e não verbais de ouvir as pessoas; • criar uma parceria efetiva com a família, reconhecendo capacidades e dividindo as tarefas com os pais e outros membros da família; Patrícia Miranda- MEDICINA • aprimorar o uso de momentos próprios para ações educativas (p.ex., informação associada ao exame físico); • prestar ajuda objetiva no uso de recursos externos (p.ex., indicar escolas com métodos de ensino diferenciados, contatar especialistas, indicar produtos seguros); • personalizar a orientação preventiva e gerenciar o tempo de forma eficaz (revisão do prontuário antes da consulta, uso de formulários na sala de espera, treinamento dos auxiliares para dirimir dúvidas menores). Uma novidade com bons resultados que está chegando ao Brasil é o atendimento de puericultura em grupo, introduzido e recomendado há mais de 20 anos em outros países, principalmente no Reino Unido. Nesse novo modelo, um grupo de mães com filhos na mesma idade é convidado para um encontro mensal ou bimestral com o pediatra, como uma terapia em grupo. Há evidências de que as famílias gostariam de obter mais informações sobre a saúde da criança do que os pediatras costumam dar, elas preferem receber material escrito e, mais recentemente, pela internet e outras mídias sociais. É de bom tom o pediatra indicar mídias confiáveis para o público leigo; atualmente, as sociedades e academias médicas de especialidades estão disponibilizando materiais de excelente qualidade em uma linguagem coloquial HABILIDADES BÁSICAS DO PEDIATRA - Comunicação Em pediatria, a comunicação é extremamente importante, porque, muitas vezes, os pais chegam à consulta com muita ansiedade, decorrente de fantasias de culpa e sensação de terem negligenciado os cuidados com o filho. A palavra-chave é escutar (escutar = compreender). A característica essencial do pediatra é a empatia (= sintonia = sentir o que o outro está sentindo e antecipar suas necessidades), mas sem perda de limites, isto é, o médico deve manter a posição que lhe dá a força almejada pela família. É nesse momento que o pediatra deve usar toda a sua habilidade de comunicação, conseguindo, na maior parte das vezes, antes mesmo de iniciar o exame da criança, transformar todo o ambiente da consulta. No primeiro contato, deve- se perguntar o nome da criança e dos pais. Evitar sempre dirigir-se aos pais com expressões impessoais, como “mãe/mãezinha” ou “pai/paizinho”. Isso tende a despersonalizá-los e colocá- los em situação de inferioridade. Com crianças maiores, perguntar como gostam de ser chamadas ou se têm um apelido, tratando-as da forma à qual estejam habituadas. Dar especial atenção a esses aspectos quando se tratar de adolescentes pode facilitar muito a relação médico-paciente. A orientação de como será o exame é indispensável para a criança maior, que já entende e, muitas vezes, fica ansiosa antes de sua realização. Aos pais de lactentes e pré- escolares, que ocasionalmente choram durante o exame, deve-se explicar que o choro é um sinal da existência de um bom vínculo mãe-filho. -Anamnese: Deve-se realizar a anamnese abrangente de forma organizada, focada no contexto clínico, psíquico, social e cultural. Os antecedentes familiares são fundamentais diante do comprovado aumento de risco para certas doenças, como alguns tipos de câncer, dislipidemias (p.ex., hipertrigliceridemia familiar), hipertensão arterial, diabete, osteoporose, doenças da tireoide, entre outras. Também são importantes os antecedentes pessoais, incluindo a vida gestacional, como suplementação de ômega 3, vitamina D, ferro e ácido fólico durante a gestação; o nascimento, incluindo o tipo de parto, peso ao nascer, idade gestacional, Apgar, icterícia, internação; tempo de aleitamento materno, idade da introdução de fórmulas; marco da entrada em creches e escolinhas; e doenças, medicamentos, suplementação vitamínico- mineral e intercorrências anteriores. - Exame físico: Deve ser completo, realizado com o lactente sem roupa, a criança com roupas íntimas e o adolescente sempre na presença dos pais. A medida rotineira da pressão arterial está indicada a partir dos 3 anos de idade. - Monitorização do crescimento: Deve ser feita utilizando as curvas de crescimento da carteira Nascional de Saúde Patrícia Miranda- MEDICINA - Desenvolvimento: Devem- se conferir os marcos do desenvolvimento - Comportamento : Devem-se verificar se o paciente é agressivo, passivo, depressivo, hiperativo, e tal comportamento deve constar em ficha. -Avaliação da audição: Deve-se realizar triagem universal de recém-nascidos e prevenção contra ruídos e barulhos. - Avaliação da audição: Deve-se realizar triagem universal de recém-nascidos e prevenção contra ruídos e barulhos. -Avaliação da visão: O teste de triagem para ambliopia e estrabismo é recomendado para todas as crianças normais, pelo menos uma vez a partir dos 3 anos de idade. É recomendável realizar testes de alinhamento ocular (Hirschberg e cobertura) durante o 1º ano de vida e repeti-los anualmente até a idade escolar. A partir dos 3 anos, está indicada a triagem da acuidade visual, usando-se tabelas de letras ou figuras. - Avaliação da dentição: O único procedimento preventivo de saúde bucal que tem embasamento científico sólido é a suplementação oral de flúor. Está recomendada a suplementação de flúor, por via oral, dos 6 meses até os 16 anos, de acordo com o grau de fluoretação da água ingerida. Em comunidades cuja água tenha menos de 0,3 ppm, a dose de flúor é de 0,25 mg/dia para crianças de 6 meses a 3 anos, 0,5 mg/dia para crianças de 3 a 6 anos, e 1 mg/ dia para crianças de 6 a 16 anos. O encaminhamento ao dentista deve ser feito entre 1 e 3 anos de idade. -triagem metabólica neonatal: Deve-se conferir se foi realizada; se foi, deve-se recomendar e valorizar os resultados, explicando que são doenças raras, mas quando diagnosticadasprecocemente, mudam uma vida. - imunização: É importante valorizar a Caderneta Nacional de Saúde conferindo imunizações, recomendando e principalmente explicando a utilidade de cada vacina. -exames laboratoriais: Alguns são protocolares, como a hematimetria com ferritina e o protoparasitológico no 1º ano de vida; outros são eventuais segundo conhecimento do risco dos antecedentes, por exemplo: em dislipêmicos, incluir, a partir dos 3 anos de idade, perfil lipídico e glicemia; nos afrodescendentes, incluir controle semestral da pressão arterial; em obesos e usuários de corticosteroides, como os atópicos, solicitar a dosagem da 25-OH-vitamina D. De modo geral, é preciso conhecer muito bem osantecedentes familiares e pessoais e os riscos relativos a determinadas doenças para iniciar precocemente a prevenção. A PRIMEIRA CONSULTA DO RECÉM-NASCIDO A possibilidade de acompanhar famílias ao logo do tempo mantém os profissionais da atenção básica em uma situação privilegiada no reconhecimento de situações que necessitam ser bem entendidas e acompanhadas. Nos serviços de atenção básica, os profissionais que realizam o pré-natal frequentemente são os que seguirão acompanhando a família durante a puericultura da criança. Sendo assim, o vínculo entre a equipe de saúde e a família do recém-nascido para o acompanhamento da criança deve preferencialmente se iniciar pelo menos desde o pré-natal. A ÉPOCA IDEAL PARA A PRIMEIRA CONSULTA. A primeira consulta do recém-nascido deverá ocorrer na sua primeira semana de vida, que constitui um momento propício para estimular e auxiliar a família nas dificuldades do aleitamento materno exclusivo, para orientar e realizar imunizações, para verificar a realização da triagem neonatal (teste do pezinho) e para estabelecer ou reforçar a rede de apoio a família. Patrícia Miranda- MEDICINA Como a primeira consulta da criança pode ser programada pela equipe, é possível adaptar a agenda para o referido momento, adequado o tempo de consulta ás suas necessidades inerentes. Por exemplo: o procedimento de reservar dos horários de consultas normais para a primeira consulta do RN garantiria mais tempo do profissional de saúde. CONTEÚDO DA CONSULTA • Anamnese: a partir da anamnese, procura-se avaliar principalmente as condições do nascimento da criança (tipo de parto, local de parto, peso ao nascer idade gestacional, índice de Apgar, intercorrências clínicas na gestação, no parto, no período neonatal e nos tratamentos realizados). • Exame físico completo: Um exame físico completo deve ser realizado na primeira consulta de puericultura. É consenso que o exame físico e seus achados devem ser descritos e compartilhados com os pais, como forma de facilitar-lhes a percepção das necessidades do bebê. Tópicos do exame Ações especificas PESO, COMPRIMENTO E PERÍMETRO CEFÁLICO Avalie o peso em relação ao peso ideal ao nascer. Considerando normal tanto uma perda de peso de até 10% ao nascer quanto sua recuperação até o 15º dia de vida. O perímetro cefálico com medidas acima ou abaixo de dois desvio padrão pode estar relacionado a doenças neurológicas, como microcefalia ou hidrocefalia. DESENVOLVIMENTO SOCIAL E PSICOATIVO Observe e avalie o relacionamento da mãe/ cuidador e dos familiares com o bebê: como respondem às suas manifestações, como interagem com o bebê e se lhe proporcionam situações variadas de estímulo ESTADO GERAL Avalie a postura normal do RN, o padrão respiratório, o estado geral de vigilância, identificação de sinais de desidratação e hipoglicemia. FACE Pesquise alguma assimetria, mal formação, deformidade ou aparência sindrômica PELE Observe a presença de edema, palidez, cianose, icterícia. CRÂNIO Exame das fontanelas: ela não deve estar fechada no momento do nascimento. OLHOS Reflexo fotomotor, teste do reflexo vermelho. ORELHAS E AUDIÇÃO Triagem auditiva NARIZ Avalie a forma e a possível presença de secreção (sifilis) BOCA Alterações morfológicas podem apresentar dificuldade para a pega durante a amamentação PESCOÇO Avalie a simetria facial a posição viciosa da cabeça. Patrícia Miranda- MEDICINA TÓRAX Avalie a assimetria, pois ela sugere malformações cardíacas, pulmonares, de coluna ou arcabouço costal. ABDOMEM Observe a respiração, que é basicamente abdominal e deve estar entre 40mrm e 60mrm. GENITÁLIA Apalpe bolsa escrotal para identificar a presença dos testículos. Caso não forem palpáveis é uma situação comum, pois eles descem até os 3 meses de vida. Observar se os pequenos lábios e o clitoris estão proeminentes. ÂNUS E RETO Verifique a permeabilidade anal, bem como a posição do orifício e a presença de fissuras. SISTEMA OSTEOARTICULAR Examine os membros inferiores e superiores, para avaliar sua resistência a extensão, a flexão dos membros, a possibilidade de flacidez excessiva e a suposta presença de paralisia. COLUNA VERTEBRAL Examine toda a coluna, em especial a área lombo-sacral, percorrendo a linha médial AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Observe reflexos arcaicos: sucção, preensão palmo-plantar e moro, que são atividades próprias do recém-nascido a termo, sadio. - DADOS ANTROPOMETRICOS A monitorização do crescimento de forma rotineira é amplamente aceita por profissionais de saúde e é um componente da consulta para a criança no mundo inteiro. Os registros do peso, da estatura e do comprimento, bem como do perímetro cefálico da criança, aferidos nos gráficos de crescimento, são recomendáveis para todas as consultas, para crianças de risco ou não, até os 2 anos de idade. Entre os 2 e os 10 anos de idade, deve-se aferir o peso e a altura e plotá-los no gráfico nas consultas realizadas. A altura para a idade é o melhor indicador de crescimento da criança e, no Brasil, representa o deficit antropométrico mais importante. O índice de massa corporal (IMC) teve seu uso validado em crianças como bom marcador de adiposidade e sobrepeso, além do fato de que seu valor na infância pode ser preditivo do IMC da vida adulta. Recomenda-se a plotagem de peso, estatura/comprimento nas curvas de IMC por idade e gênero desde o nascimento. - RASTREAMENTO PARA DISPLASIA EVOLUTIVA DO QUADRIL Não há consenso na literatura sobre a efetividade da redução de desfechos clínicos com o rastreamento para displasia evolutiva do quadril. Mesmo assim, os protocolos recomendam a sua realização pois o diagnóstico precoce (anterior aos 3 a 6 meses de idade) é importante na escolha de tratamentos menos invasivos e com menores riscos de complicações. Identificam-se três fatores de risco para luxação congênita do quadril: gênero feminino, crianças com história familiar de displasia congênita do quadril e parto com apresentação pélvica. Meninos sem risco ou com história familiar de subluxação do quadril têm o menor risco de ter displasia evolutiva do quadril. Meninas sem risco e meninos nascidos de apresentação pélvica têm risco intermediário. Já meninas com história familiar de subluxação do quadril e nascidas de apresentação pélvica têm o mais alto risco para displasia do quadril. Patrícia Miranda- MEDICINA Se houver a opção por realizar o rastreamento, deve-se proceder às manobras de Barlow (provocativa do deslocamento) e Ortolani (sua redução) nas primeiras consultas (15 dias, 30 dias e 2 meses), testando um membro de cada vez, conforme mostra a figura 1, apresentada a seguir: A observação da limitação da abdução dos quadris e o encurtamento de um dos membros inferiores devem ser os exames de rastreamento nas consultas após os 3 meses de idade, ou seja, nas consultas dos 4, 6, 9 e 12 meses. Quando a criança começa a deambular, a partir da consulta dos 12 ou dos 18 meses, a observação da marcha da criança é o exame de escolha. Os testes de Trendelenburg positivo,* marcha anserina** e hiperlordose lombar possibilitam o diagnóstico. • AVALIAÇÃO E ORIENTAÇÃO - AVALIE A PRESENÇADE SITUAÇÕES DE RISCO E VULNERABILIDADE À SAÚDE DO REC- EM-NASCIDO Patrícia Miranda- MEDICINA Criança residente em área de risco, baixo peso ao nascer, prematuridade, asfixia grave ou apgar menor que 7, mãe com menos de 18 anos de idade. Outras situações reconhecidas de vulnerabilidade: o aleitamento materno ausente ou não exclusivo, gestação gemelar, malformações congênita, mais que três filhos morando juntos, ausência de pré-natal, problemas familiares e socioeconômicos que interfira na saúde da criança, problemas físicos da criança que interfira na sua saúde, não realização de vacinas, identificação de atraso no desenvolvimento. - AVALIE E ORIENTE OS PAIS SOBRE OS SINAIS DE PERIGO NA CRINAÇA COM MENOS DE 2 MESES E SOBRE A NECESSIDADE DE PROCURAR ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA - PROMOVA E APOIE O ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E AUXILIE A FORMAÇÃO OU O FORTALECIMENTO DO VÍNCULO ENTRE OS PAIS E O BEBÊ. A criança que é alimentada somente com leite materno até os 6 meses de vida, apresenta menor morbidade. Por isso, maiores são os efeitos benéficos à sua saúde Estimule amamentação, orientando a livre demanda e não prescreva suplementação desnecessária com outros leites. A formação ou o fortalecimento do vínculo entre os pais e o bebê é importante também para auxiliar os pais na percepção das necessidades do bebê e para estimulá-los a prover os cuidados necessários a ele. - ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE OS CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO Algumas orientações são importantes e devem ser fornecidas aos pais, como por exemplo: - A lavagem de mãos por todas as pessoas que têm contato com o bebê deve ser orientada em todas as visitas de puericultura, como objetivo de evitar de evitar a propagação de micro-organismos causadores de doenças respiratórias. - Orientar a família de modo a não permitir que as pessoas fumem dentro de casa ou que aquelas que acabaram de fumar peguem o bebê no colo - Oriente- os a respeito do banho e cuidados como coto umbilical, que deve cair nas primeiras duas semanas. Para isso o coto deve ser mantido limpo e seco. Orientar sobre a troca de fraldas, a prevenção de assaduras, os hábitos de sono e os diferentes tipos de choro. - Oriente a respeito da posição supina (de barriga pra cima) para dormir e a sua relação de proteção contra morte súbita de lactante. Caso se pratique o coleito (quando o bebê dorme com os pais) alerte-os para os casos em que certos comportamentos do pais (uso de bebidas alcoolicas, cigarros, drogas ilícitas e licitas) podem acarretar maior risco de morte para o bebê, além de lesões não intencionais. - Existem também boas evidências para o aconselhamento antecipado referente ao choro noturno e aos diferentes significados do choro: sono, fome, desconforto, dor... - PREVENÇÃO DE ACIDENTES: deve-se cuidar da temperatura do banho e não se deve deixar a criança sozinha na banheira, mesmo que com pouca água. Oriente a família a manter as grades do berço em boa distância, Patrícia Miranda- MEDICINA Oriente a família a utilizar cobertas leves e travesseiro firme para evitar a sufocação do bebê. Se estiver frio, é preferível agasalhá-lo com maior quantidade de roupas do que cobri-lo com muitas cobertas. Oriente os cuidadores a não aquecer o leite materno, a fórmula infantil ou outros líquidos em forno de micro-ondas, devido ao risco de escaldamento. Transporte do bebê em automóvel deve ser feito sempre no banco traseiro, em cadeirinha especial para lactente, com cinto de segurança e com a criança posicionada na cadeirinha apropriada de costas para o motorista. A criança não deve ser deixada perto de animais, mesmo os animais de casa, pois eles podem ter reações imprevisíveis - ORIENTAÇÕES PARA O CALENDÁRIO DE IMUNIZAÇÕES É importante verificar se o recém-nascido recebeu a 1a dose da vacina contra hepatite B e da BCG na maternidade e se será necessário indicar a aplicação dessas vacinas na unidade de saúde. - COMBINE O CALENDÁRIO DE CONSULTAS O Ministério da Saúde recomenda sete consultas de rotina no primeiro ano de vida (na 1ª semana, no 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês e 12º mês), além de duas consultas no 2º ano de vida (no 18º e no 24º mês) e, a partir do 2º ano de vida, consultas anuais, próximas ao mês do aniversário. Essas faixas etárias são selecionadas porque representam momentos de oferta de imunizações e de orientações de promoção de saúde e prevenção de doenças. As crianças que necessitem de maior atenção devem ser vistas com maior frequência. Este calendário de consultas representa um consenso em relação à bibliografia consultada. 2. ELUCIDAR A FISIOPATOLOGIA DA CÓLICA NEONATAL A cólica infantil é uma condição clínica frequente na infância e queixa recorrente nas primeiras consultas de puericultura. Sua ocorrência independe dos seguintes fatores: sexo da criança, peso ao nascimento, situação socioeconômica. Porém sua ocorrência depende do nível de escolaridade materna, do tipo de parto e da oferta de leite materno. Porém pode estar relacionada com os fatores gastrointestinais, é também conhecida como síndrome do excesso de choro. O conceito da literatura comumente utilizando para definição da cólica infantil é o estabelecido por Wessel, baseado na presença dos paroxismos de irritabilidade, agitação e choro. Quando o choro se faz presente, este se inicia geralmente ao entardecer, com duração igual ou mais de 3 horas por dia, com ocorrência deste choro por 3 dias da semana ou mais, e que se estende por um período de no mínimo três semanas. O inicio da cólica ocorre na segunda semana após o nascimento e persiste até a sexta semana, ou até o terceiro mês de vida, sendo prevalente em aproximadamente 10% a 30% dos lactantes. Contudo, há falta de evidências cientificas que definam etiologia e patogenia da cólica com clareza, sendo assim, não existe um tratamento especifico, mas se sabe que quando a criança alcança a idade de 4-6 meses, o problemas resolve-se espontaneamente. Sobre a etiologia o que se sabe é que está relacionada à imaturidade fisiológica, tendo múltiplos fatores da sua causa, podendo ser divididos em fatores gastrointestinais e não gastrointestinais. Os fatores mais mencionados pela literatura forma: (1) disfunção gastrointestinal; (2) Patrícia Miranda- MEDICINA imaturidade do sistema gastrointestinal que gera acumulo de gases e consequente distensão abdominal e dor, (3) má absorção alimentar, (4) dismotilidade gastrointestinal, (5) hipermotilidade gastrointestinal, (6) insuficiência de enzimas fisiológicas no sistema intestinal, (7) hiperperistalse do colon, (8) refluxo gastroesofágico, (9) desequilíbrio hormonal intestinal, (10)dificuldades de relacionamentos entre pais e filhos, (11) desregulação no SNC e autônomo. Em adição, um estudo mostrou que as crianças que não são alimentadas no seio materno apresentam maios incidência de cólica infantil da que recebem leite materno. O leite materno tem um efeito inibidor da cólica e do choro, devido a liberação de melatonina, hormônio com propriedades miorrelaxantes ao sistema gastrointestinal. Ele gera aumento do esvaziamento gástrico, aumento do peristaltismo do instestino delgado e diminuição no tempo do trânsito intestinal. Em contraponto, aponta-se que o leite materno contém o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) que desregula a produção de melatonina e os níveis de serotonina do bebê, desencadeando a cólica no lactente. Para o diagnostico da cólica, os pais se baseiam na presença do choro do filho, sendo que este é estridente, inconsolável, incessante, intenso e está acompanhado de contratura das pernas e do corpo, rubor da face, fanzir de sobrancelhas, caretas, sudorese e a agitação em que o filho se encontra. A presença do choro da criança causa na mãe e na família preocupações e nervosismo, e por não conhecer a causa certa do como cessar esse choro sentimentosde impotência, desespero e pena da criança surgem, ao vivenciarem esta situação. Apesar dos tratamentos não terem sua eficácia comprovada cientificamente, os pais lançam-se nos contínuos processos de experimenta-los e verificar seus efeitos. Sendo assim, algumas intervenções são adotadas no manejo da cólica infantil no intuito de amenizar a dor e o choro. Dentre elas destacam-se: (1) acumputura que resulta na redução do choro, melhora na qualidade do sono e na agitação do bebê, (2) massagem, por ser um método de fácil aplicabilidade e de estímulo na formação de vínculo com mãe e filho e a aromoterapia que assim como a massagem diminuem a ansiedade da criança, aliviam a dor e relaxam a musculatura, (3) sacarose oral por liberar opioides endógenos que proporcionam um efeito analgésico (4) introdução de chá de ervas, (5) os medicamentos anticolinérgicos, (6) medicamentos alopáticos muitas vezes ofertados à criança sem a prescrição médica, (7) diferentes maneiras de segurar o bebê, como os bruços, por exemplo, concomitantemente com a realização de diversos tipos de balanço e aconchego, (8) colocar a barriga do bebê em contato com a barriga da mãe e/ou algum membro da família, (9) exercícios com as pernas, (10)uso do calor na barriga com o pano quente, (11) uso de probióticos na diminuição do tempo de choro. Em adição, um estudo mostra que a realização de uma dieta hipoalergênica e a restrição alimentar da mãe que amamenta trazem repercussões positivas e eficazes no surgimento da cólica, e essa técnica é colocada em prática por algumas mães. Porém, um estudo afirma que quando a mãe restringe alimentos como o leite de vaca e seus derivados, estes não surtem efeitos positivos, mostrando que não existe nenhuma influência de a mãe ingeri-los com a ocorrência da cólica. Quando nenhuma dessas intervenções mencionadas acima surte efeitos positivos no manejo da cólica, os pais e familiares recorrem a informações em livros e na internet e testam diferentes maneiras de alimentação e mediação na busca de solucionar a cólica infantil. Sendo assim, a cólica infantil traz repercurssões para a dinâmica familiar, como problemas na relação e interação entre pais e filhos, conflitos na relação conjugal, maus tratos à criança, Patrícia Miranda- MEDICINA negligência, interferências no cuidado a outros filhos, além de isolamento de convívio familiar e social. Próximo problema 1.Elucidar a composição e a importância do aleitamento materno IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO Já está devidamente comprovada, por estudos, por estudos científicos, a superioridade do leite materno sobre os leites de outras espécies. São vários os argumentos em favor do aleitamento materno - EVITA MORTES INFANTIS: graças aos inúmeros fatores existentes no leite materno que protegem contra infecções, ocorrem menos mortes entre as crianças amamentadas. Estima-se que o aleitamento materno poderia evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo, por causas preveníveis. Segundo estudo de avaliação de risco, no mundo em desenvolvimento poderiam ser salvas 1,47 milhões de vidas por ano se a recomendação de aleitamento materno exclusivo por seis meses e complementado por dois anos ou mais fosse cumprida. Atribui-se ao aleitamento subótimo, conforme classificação da OMS (Tabela 1), 55% das mortes por doença diarreica e 53% das causadas por infecção do trato respiratório inferior em crianças dos 0 aos 6 meses, 20% e 18% dos 7 aos 12 meses, respectivamente, e 20% de todas as causas de morte no segundo ano de vida (LAUER, 2006). Nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças menores de 5 anos. No Brasil, em 14 municípios da Grande São Paulo, a estimativa média de impacto da amamentação sobre o Coeficiente de Mortalidade Infantil foi de 9,3%, com variações entre os municípios de 3,6% a 13%. A proteção do leite materno contra mortes infantis é maior quanto menor é a criança. Assim, a mortalidade por doenças infecciosas é seis vezes maior em crianças menores de 2 meses não amamentadas, diminuindo à medida que a criança cresce, porém ainda é o dobro no segundo ano de vida. É importante ressaltar que, enquanto a proteção contra mortes por diarréia diminui com a idade, a proteção contra mortes por infecções respiratórias se mantém constante nos primeiros dois anos de vida. A amamentação previne mais mortes entre as crianças de menor nível socioeconômico. Enquanto para os bebês de mães com maior escolaridade o risco de morrerem no primeiro ano de vida era 3,5 vezes maior em crianças não amamentadas, quando comparadas com as amamentadas, para as crianças de mães com menor escolaridade, esse risco era 7,6 vezes maior. Mas mesmo nos países mais desenvolvidos o aleitamento materno previne mortes infantis. Nos Estados Unidos, por exemplo, calcula-se que o aleitamento materno poderia evitar, a cada ano, 720 mortes de crianças menores de um ano. - EVITA DIARREIAS: Há fortes evidências de que o leite materno protege contra diarreia, principalmente em crianças mais pobres. É importante destacar que essa proteção pode diminuir quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo. Oferecer à criança amamentada Patrícia Miranda- MEDICINA água ou chás, prática considerada inofensiva até pouco tempo atrás, pode dobrar o risco de diarreia nos primeiros seis meses. Além de evitar a diarreia, a amamentação também exerce influência na gravidade dessa doença. Crianças não amamentadas têm um risco três vezes maior de desidratarem e de morrerem por diarreia quando comparadas com as amamentadas. -EVITA INFECÇÃO RESPIRATÓRIA: A proteção do leite materno contra infecções respiratórias foi demonstrada em vários estudos realizados em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil. Assim como ocorre com a diarreia, a proteção é maior quando a amamentação é exclusiva nos primeiros seis meses. Além disso, a amamentação diminui a gravidade dos episódios de infecção respiratória. O aleitamento materno também previne otites. - DIMINUI O RISCO DE ALERGIAS: Estudos mostram que a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, de dermatite atópica e de outros tipos de alergias, incluindo asma e sibilos recorrentes. A exposição a pequenas doses de leite de vaca nos primeiros dias de vida parece aumentar o risco de alergia ao leite de vaca. Por isso é importante evitar o uso desnecessário de formulas infantis. - DIMINUI O RISCO DE HIPERTENSÃO, COLESTEROL ALTO E DIABETES: Há evidências sugerindo que o aleitamento materno apresenta benefícios em longo prazo. Individuos amamentados apresentam pressões sistólicas e diastólicas mais baixas, níveis menores de colesterol total e risco 37% menor de apresentar diabetes tipo 2. Não só o indivíduo que é amamentado adquire proteção contra diabetes, mas também a mulher que amamenta. Foi descrita uma redução de 15% na incidência de diabetes tipo 2 para cada ano de lactação. Atribui-se essa proteção a uma melhor homeostase da glicose em mulheres que amamentam. A exposição precoce ao leite de vaca (antes dos quatro meses) é considerada um importante determinante do Diabetes mellitus Tipo I, podendo aumentar o risco de seu aparecimento em 50%. Estima-se que 30% dos casos poderiam ser prevenidos se 90% das crianças até três meses não recebessem leite de vaca - REDUZ A CHANCE DE OBESIDADE: A maioria dos estudos que avaliaram a relação entre obesidade em crianças maiores de 3 anos e tipo de alimentação no início da vida constatou menor frequência de sobrepeso/obesidade em crianças que haviam sido amamentadas. Na revisão da OMS sobre evidências do efeito do aleitamento materno em longo prazo, os indivíduos amamentados tiveram uma chance 22% menor de vir a apresentar sobrepeso/obesidade. É possível também que haja uma relação dose/resposta com a duração do aleitamentomaterno, ou seja, quanto maior o tempo em que o indivíduo foi amamentado, menor será a chance de ele vir a apresentar sobrepeso/ obesidade. -MELHOR NUTRIÇÃO: Por ser da mesma espécie, o leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança pequena, além de ser mais bem digerido, quando comparado com leites de outras espécies. O leite materno é capaz de suprir sozinho as necessidades nutricionais da criança nos primeiros seis meses, e continua sendo uma importante fonte de nutrientes no segundo ano de vida, especialmente de proteínas, gorduras e vitaminas. -EFEITO POSITIVO NA INTELIGÊNCIA: Há evidências de que o aleitamento materno contribui para um melhor desenvolvimento Cognitivo. A maioria dos estudos conclui que as crianças amamentadas apresentam vantagem nesse aspecto quando comparadas com as não amamentadas, principalmente as com baixo peso de nascimento. Os mecanismos envolvidos na possível associação entre aleitamento materno e melhor desenvolvimento cognitivo ainda não são totalmente conhecidos. Alguns defendem a presença de substâncias no leite materno que Patrícia Miranda- MEDICINA otimizam o desenvolvimento cerebral; outros acreditam que fatores comportamentais ligados ao ato de amamentar e à escolha do modo como alimentar a criança são os responsáveis. -MELHOR DESENVOLVIMENTO DACAVIDADE BUCAL: O exercício que a criança faz para retirar o leite da mama é muito importante para o desenvolvimento adequado de sua cavidade oral, propiciando uma melhor conformação do palato duro, o que é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e uma boa oclusão dentária. Quando o palato é empurrado para cima, o que ocorre com o uso de chupetas e mamadeiras, o assoalho da cavidade nasal se eleva, com diminuição do tamanho do espaço reservado para a passagem do ar, prejudicando a respiração nasal. Assim, o desmame precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, podendo prejudicar as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala, ocasionar má-oclusão dentária, respiração bucal e alteração motora- oral. - PROTEÇÃO CONTRA O CÂNCER DE MAMA: - PROMOÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO ENTRE MÃE E FILHO: Acredita-se que a amamentação traga benefícios psicológicos para a criança e para a mãe. Uma amamentação prazerosa, os olhos nos olhos e o contato contínuo entre mãe e filho certamente fortalecem os laços afetivos entre eles, oportunizando intimidade, troca de afeto e sentimentos de segurança e de proteção na criança e de autoconfiança e de realização na mulher. Amamentação é uma forma muito especial de comunicação entre a mãe e o bebê e uma oportunidade de a criança aprender muito cedo a se comunicar com afeto e confiança. PRODUÇÃO DE LEITE MATERNO As mulheres adultas possuem, em cada mama, entre 15 e 25 lobos mamários, que são glândulas túbulo-alveolares constituídas, cada uma, por 20 a 40 lóbulos. Esses, por sua vez, são formados por 10 a 100 alvéolos. Envolvendo os alvéolos, estão as células mioepiteliais e, entre os lobos mamários, há tecido adiposo, tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, tecido nervoso e tecido linfático. O leite produzido é armazenado nos alvéolos e nos ductos. Os ductos mamários não se dilatam para formar os seis lactíferos, como se acreditava até pouco tempo atrás. O que ocorre é que durante as mamadas, enquanto o reflexo de ejeção do leite está ativo, os ductos sob a aréola se enchem de leite e se dilatam. A mama, na gravidez, é preparada para a amamentação (lactogênese fase I) sob a ação de diferentes hormônios. Os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também estão envolvidos na aceleração do crescimento mamário, tais como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica. Na primeira metade da gestação, há crescimento e proliferação dos ductos e formação dos lóbulos. Na segunda metade, a atividade secretora se acelera e os ácinos e alvéolos ficam distendidos com o acúmulo do colostro. A secreção láctea inicia após 16 semanas de gravidez. Com o nascimento da criança e a expulsão da placenta, há uma queda acentuada nos níveis sanguíneos maternos de progestogênio, com consequente liberação de prolactina pela hipófise anterior, iniciando a lactogênese fase II e a secreção do leite. Há também a liberação de ocitocina durante a sucção, hormônio produzido pela hipófise posterior, que tem a capacidade de contrair as células mioepiteliais que envolvem os alvéolos, expulsando o leite neles contido. A produção do leite logo após o nascimento da criança é controlada principalmente por hormônios e a “descida do leite”, que costuma ocorrer até o terceiro ou quarto dia pós-parto, ocorre mesmo se a criança não sugar o seio. Após a “descida do leite”, inicia-se a fase III da lactogênese, também denominada galactopoiese. Essa fase, que se mantém por toda a lactação, Patrícia Miranda- MEDICINA depende principalmente da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Quando, por qualquer motivo, o esvaziamento das mamas é prejudicado, pode haver diminuição na produção do leite, por inibição mecânica e química. O leite contém os chamados “peptídeos supressores da lactação”, que são substâncias que inibem a produção do leite. A sua remoção contínua com o esvaziamento da mama garante a reposição total do leite removido. Outro mecanismo local que regula a produção do leite, ainda não totalmente conhecido, envolve os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando assim um efeito inibidor da síntese de leite. Grande parte do leite de uma mamada é produzida enquanto a criança mama, sob estímulo da prolactina. A ocitocina, liberada principalmente pelo estímulo provocado pela sucção da criança, também é disponibilizada em resposta a estímulos condicionados, tais como visão, cheiro e choro da criança, e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranqüilidade. Por outro lado, a dor, o desconforto, o estresse, a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança podem inibir a liberação da ocitocina, prejudicando a saída do leite da mama. Nos primeiros dias após o parto, a secreção de leite é pequena, e vai aumentando gradativamente: cerca de 40-50 mL no primeiro dia, 300-400 mL no terceiro dia, 500-800 mL no quinto dia, em média. Na amamentação, o volume de leite produzido varia, dependendo do quanto a criança mama e da frequência com que mama. Quanto mais volume de leite e mais vezes a criança mamar, maior será a produção de leite. Uma nutriz que amamenta exclusivamente produz, em média, 800 mL por dia. Em geral, uma nutriz é capaz de produzir mais leite do que a quantidade necessária para o seu bebê. COMPOSIÇÃO Patrícia Miranda- MEDICINA Apesar de a alimentação variar enormemente entre as pessoas, o leite materno, surpreendentemente, apresenta composição semelhante para todas as mulheres que amamentam do mundo. Apenas as com desnutrição grave podem ter o seu leite afetado na sua qualidade e quantidade. Nos primeiros dias, o leite materno é chamado colostro, que contém mais proteínas e menos gorduras do que o leite maduro, ou seja, o leite secretado a partir do sétimo ao décimo dia pós-parto. O leite de mães de recém-nascidos prematuros é diferente do de mães de bebês a termo. Veja na Tabela 2 as diferenças entre colostro e leite maduro, entre o leite de mães de prematuros e de bebês a termo e entre o leite materno e o leite de vaca. Esse tem muito mais proteínas que o leite humano e essas proteínas são diferentes das do leite materno. A principal proteína do leite materno é a lactoalbumina e a do leite de vaca é a caseína, de difícil digestão para a espécie humana. A concentraçãode gordura no leite aumenta no decorrer de uma mamada. Assim, o leite do final da mamada (chamado leite posterior) é mais rico em energia (calorias) e sacia melhor a criança, daí a importância de a criança esvaziar bem a mama. O leite humano possui numerosos fatores imunológicos que protegem a criança contra infecções. A IgA secretória é o principal anticorpo, atuando contra microrganismos presentes nas superfícies mucosas. Os anticorpos IgA no leite humano são um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, ou seja, ela produz anticorpos contra agentes infecciosos com os quais já teve contato, proporcionando, dessa maneira, proteção à criança contra os germens prevalentes no meio em que a mãe vive. A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do primeiro mês, permanecendo relativamente constante a partir de então. Além da IgA, o leite materno contém outros fatores de proteção, tais como anticorpos IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisosima e fator bífido. Esse favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria não patogênica que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, tais como Shigella, Salmonella e Escherichia coli. Alguns dos fatores de proteção do leite materno são total ou parcialmente destruídos pelo calor, razão pela qual o leite humano pasteurizado (submetido a uma temperatura de 62,5o C por 30 minutos) não tem o mesmo valor biológico que o leite cru.
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