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AFGE_4_4_APOSTILA

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Tema: Dislipidemias e exercício 
 
1. INTRODUÇÃO 
As dislipidemias representam grande ameaça ao desenvolvimento de doenças 
cardiovasculares, atualmente responsáveis por significativa taxa de mortalidade e 
morbidade em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde 
(OMS), morrem cerca de 17 milhões de pessoas em todo o mundo devido às doenças 
cardiovasculares por ano. No Brasil, em 2002, tais doenças foram responsáveis por 
quase 300 mil mortes. 
Podem-se entender as dislipidemias como um distúrbio no metabolismo lipídico, 
caracterizado por alterações nos níveis das lipoproteínas e seus componentes 
presentes na circulação sanguínea. As dislipidemias podem ser representadas por 
níveis fora do padrão de normalidade de colesterol total, triglicerídeos, lipoproteínas de 
alta densidade ligadas ao colesterol (HDL colesterol) e lipoproteínas de baixa densidade 
ligadas ao colesterol (LDL colesterol). 
O colesterol é uma das principais formas circulantes de gorduras do sangue, 
originando-se de duas fontes: do próprio organismo ou dos alimentos ingeridos, 
especialmente os alimentos de origem animal. O colesterol é transportado no sangue 
para os órgãos e fígado pelas lipoproteínas plasmáticas. Existem vários tipos de 
colesterol circulando no sangue, e o conjunto de todos eles representa o colesterol total 
(CT). O colesterol não é capaz de se dissolver no sangue por ser uma molécula 
hidrofóbica, portanto, requer condições especiais para ser transportado na circulação 
sanguínea e linfática. Para tanto, o colesterol precisa se unir às proteínas para cumprir 
suas funções, e as uniões entre colesterol e proteínas são chamadas de lipoproteínas, 
substâncias compostas de lipídios ou gorduras e proteínas. 
Os triglicerídeos (TG) são outra forma como os lipídeos podem ser encontrados 
no organismo humano, constituindo uma importante reserva energética corporal, 
apresentando elevação de seus níveis após a ingestão de alimentos gordurosos. 
Juntamente com o LDL colesterol, os TG representam um grande fator de risco para 
doenças cardiovasculares. 
As lipoproteínas são estruturas que têm a finalidade de permitir a solubilização 
dos lípides no meio aquoso plasmático. A constituição das lipoproteínas (Figura 1) é 
 
basicamente uma monocamada de fosfolípides em volta de um núcleo de lípides neutro, 
os triglicérides e os ésteres de colesterol. Os lípides transportados na lipoproteína 
exercem funções fundamentais no organismo, sendo o colesterol componente básico 
de membranas celulares, além de precursor de hormônios esteroides, da bile e de 
vitaminas, enquanto os triglicérides são a principal fonte de armazenamento de gorduras 
no organismo (NEGRÃO & BARRETO, 2006). 
 
 
Figura 1. Estruturas das lipoproteínas plasmáticas 
 
As gorduras são essenciais ao organismo HUMANO, porém, quando em taxas 
elevadas, podem aumentar as chances de desenvolver doenças cardiovasculares. No 
entanto, o organismo necessita de apenas uma pequena quantidade de colesterol para 
satisfazer as suas necessidades. Quando o colesterol está em excesso, deposita-se nas 
paredes arteriais, formando placas ateroscleróticas que reduzem o calibre dos vasos, 
dificultando assim o fluxo de sangue aos órgãos e tecidos do corpo. 
Há diversos fatores apontados como contribuintes para o aumento do colesterol, 
destacando-se os genéticos, a obesidade, o sedentarismo e os efeitos de uma dieta 
inadequada, rica em gorduras saturadas, encontradas nos alimentos de origem animal 
como óleos, leite e ovos. A gordura saturada promove o aumento da quantidade de 
colesterol no organismo, enquanto a gordura insaturada, encontrada principalmente em 
alimentos de origem vegetal, é essencial ao organismo. Dessa forma, a substituição de 
gorduras saturadas por insaturadas na dieta pode auxiliar na redução dos níveis de 
colesterol no sangue. 
 
Há diversos tipos de lipoproteínas, assunto abordado mais profundamente na 
aula de Dislipidemias e Obesidade. As lipoproteínas mais conhecidas e atuantes nas 
dislipidemias apresentam-se em duas formas principais: HDL (high density ou alta 
densidade) e LDL (low density ou baixa densidade). A HDL é responsável pela retirada 
das gorduras nas células e facilita a sua eliminação, sendo benéfica para o organismo, 
enquanto a LDL faz exatamente o contrário, promovendo a entrada de gorduras nas 
células e, consequentemente, o acúmulo delas nas artérias sob a forma de placas de 
ateroma (Figura 2), trazendo diversos efeitos negativos à saúde. 
 
 
Figura 2. Representação da placa de ateroma (placa aterosclerótica) em uma artéria 
coronária 
 
Dessa forma, a HDL colesterol, conhecida popularmente como colesterol bom, 
tem a função de conduzir o excesso de colesterol para fora dos tecidos e das artérias, 
diretamente para o fígado, onde é metabolizado, protegendo assim o organismo contra 
as doenças cardiovasculares e evitando a obstrução dos vasos. Dessa forma, os níveis 
de HDL devem idealmente ser mais elevados. Já a LDL colesterol, conhecida 
popularmente como colesterol ruim, é responsável pelo depósito de colesterol nas 
paredes das artérias, formando as placas de gordura ou ateroma, que provocam a 
obstrução dos vasos, podendo resultar no infarto do miocárdio (Figura 3). O conteúdo 
lipídico de LDL é degradado em colesterol livre e em ácidos graxos. Assim, para manter 
 
a saúde e reduzir o risco de doenças cardiovasculares, o LDL colesterol deve estar em 
quantidades mais baixas. 
Os níveis ideais de colesterol no sangue de um adulto são: 
 colesterol total: abaixo de 200mg/dL de sangue; 
 colesterol bom (HDL): acima de 40mg/dL de sangue; 
 colesterol ruim (LDL): abaixo de 100mg/dL de sangue. 
As alterações dos níveis de colesterol representadas pelas dislipidemias podem 
ser classificadas como primárias ou secundárias. Os fatores desencadeadores das 
dislipidemias primárias têm origem genética e incluem as alterações neuroendócrinas e 
os distúrbios metabólicos. Já as dislipidemias secundárias são resultantes de outras 
doenças ou complicações, como hipotireoidismo, diabetes mellitus, síndrome nefrótica, 
insuficiência renal crônica, obesidade, anorexia, bulimia, etilismo, tabagismo, dieta 
inadequada ou, ainda, pelo uso excessivo de medicamentos diuréticos, 
betabloqueadores, corticosteroides e anabolizantes. Além disso, o desequilíbrio entre a 
ingestão alimentar e o gasto calórico, associado ao sedentarismo, contribui para o 
estabelecimento de um quadro de obesidade, ampliando ainda mais o risco de 
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principalmente através da 
aterosclerose. 
 
Figura 3. Representação do infarto do miocárdio secundário à obstrução de uma placa 
de ateroma formada em função da dislipidemia 
 
 
Assim, tanto os níveis elevados de LDL colesterol quanto a baixa concentração 
de HDL colesterol caracterizam um quadro de dislipidemia capaz de favorecer o 
desenvolvimento da aterosclerose (Figura 4), uma doença multifatorial, inflamatória e 
crônica que ocorre em resposta à agressão endotelial, afetando a camada de artérias 
de médio e grande calibre. Há um depósito de lipoproteínas na parede arterial, que se 
dá de maneira proporcional à concentração dessas lipoproteínas encontradas no 
sangue. Esse processo provoca redução da luz arterial e disfunção endotelial em função 
da formação da placa de ateroma, tendo como principal e mais grave consequência a 
obstrução total da circulação pela artéria, gerando a redução do aporte sanguíneo para 
os tecidos por ela nutridos. Esse é o mecanismo pelo qual as doenças cardiovasculares 
provocam grande morbidade e mortalidade em todo o mundo. 
As principais complicações da aterosclerose são angina, infarto agudo do 
miocárdio, AVE isquêmico, AVE hemorrágico, doença renal crônica e doença vascular 
periférica. O desenvolvimento da aterosclerose pode iniciar-se na infância, por muitas 
causas, como a
partir das dislipidemias, e se manifestar somente na idade adulta, por 
meio das principais comorbidades associadas. Outros fatores que podem levar à 
aterosclerose, além das dislipidemias, são: idade avançada, tabagismo, diabetes 
mellitus, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, estresse e sedentarismo. 
 
 
 
Figura 4. Representação da doença aterosclerótica 
De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Prevenção da 
Aterosclerose, as dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem ser 
classificadas genotipicamente ou fenotipicamente através de análises bioquímicas. Na 
classificação genotípica, as dislipidemias se dividem em monogênicas, causadas por 
mutações em um só gene, e poligênicas, causadas por associações de múltiplas 
mutações. A classificação fenotípica ou bioquímica considera os valores de CT, LDL, 
TG e HDL. Existem quatro tipos principais: 
 Hipercolesterolemia isolada: altas concentrações isoladas do LDL colesterol (≥ 
160 mg/dL); 
 Hipertrigliceridemia isolada: altas concentrações isoladas de triglicérides (TG) 
(≥150 mg/dL); 
 Hiperlipidemia mista: altas concentrações de ambos, tanto de triglicérides (≥150 
mg/dL) quanto de LDL colesterol (≥ 160 mg/dL); 
 HDL-C baixo: baixos níveis do HDL-C (homens <40 mg/dL e mulheres <50 
mg/dL) isolados ou combinados com o aumento de LDL-C ou de TG. 
O diagnóstico das dislipidemias pode ser feito a partir de dosagem laboratorial 
do colesterol total e suas frações. Raramente as dislipidemias podem causar alterações 
na pele, como os xantelasmas e os xantomas. Um fato muito comum é a descoberta de 
uma dislipidemia apenas quando as manifestações clínicas da aterosclerose já estão 
presentes. 
Além dessas alterações lipídicas, a inatividade física é outro fator de risco que 
contribui para o desenvolvimento da placa aterosclerótica. Dessa forma, a prática de 
exercícios físicos é estimulada como meio preventivo e terapêutico de todos os fatores 
de risco da doença arterial coronariana (DAC). Os efeitos da atividade física sobre o 
perfil de lipídios e lipoproteínas são positivos, pois indivíduos ativos fisicamente 
apresentam maiores níveis de HDL e menores níveis de triglicérides e LDL. 
Portanto, as pessoas que têm diagnóstico de dislipidemia devem realizar 
mudanças nos hábitos de vida. Nesse aspecto é essencial perder peso, parar de fumar, 
praticar exercícios físicos regularmente, restringir o consumo de bebidas alcoólicas e 
melhorar os hábitos alimentares. Estudos demonstram que a redução do colesterol 
somente a partir da mudança dos hábitos alimentares é pouco significativa, porém, 
quando acompanhada de expressiva perda de peso e prática regular de exercícios 
físicos, essa redução ocorre de forma mais acentuada. Logo, o exercício representa 
 
papel chave na prevenção e no tratamento das dislipidemias, que têm como principal 
agravante a aterosclerose e as doenças cardiovasculares. Ainda, de acordo com Negrão 
e Barretto (2006), independente de fatores como idade, distribuição de gordura corporal, 
composição da dieta e nível de tabagismo, a prática de exercícios pode modificar 
positivamente o metabolismo e a composição das lipoproteínas, reduzindo o risco de 
desenvolvimento da DAC. 
 
2. OS EFEITOS DO EXERCÍCIO SOBRE O METABOLISMO LIPÍDICO 
A magnitude dos efeitos do exercício sobre o metabolismo lipídico depende da 
intensidade e frequência da atividade e, consequentemente, da energia envolvida 
durante o esforço. Diversos estudos têm demonstrado que a prática regular de exercício 
físico pode promover efeitos crônicos, como diminuição nas concentrações de TG, LDL, 
CT, resistência à insulina, massa corporal e índice de massa corporal, além de aumento 
nos níveis de HDL, massa magra e taxa metabólica basal. Em relação aos efeitos 
agudos, encontra-se melhora nos níveis de HDL, TG e LDL em indivíduos ativos, 
sedentários ou com diabetes. Dessa forma, seja pelo efeito agudo ou crônico sobre o 
perfil lipídico, o exercício atua contra o desenvolvimento de doenças crônico 
degenerativas. 
Os mecanismos pelos quais os exercícios físicos induzem alterações nos níveis 
sanguíneos de lipídios incluem a redução da massa e da gordura corporal, mudanças 
na distribuição da gordura corporal e na atividade de enzimas que regulam o 
metabolismo das lipoproteínas, sendo que essas alterações podem ser observadas em 
pessoas sedentárias, fisicamente ativas ou atletas. Entretanto, os efeitos positivos se 
revertem rapidamente no momento em que a pessoa suspende a prática de atividade 
física regular e retorne ao sedentarismo. O destreinamento leva à diminuição da HDL e 
ao aumento da massa de gordura, da LDL, da relação LDL/HDL, da apolipoproteína B 
e de triglicérides. Desse modo, o sucesso no tratamento terapêutico ou preventivo das 
dislipidemias depende essencialmente da habilidade em desenvolver abordagens que 
garantam o envolvimento das pessoas em padrões de estilo ativo por toda a vida. 
Para a elaboração de um programa ideal de treinamento, é importante 
compreender os efeitos do exercício sobre cada componente do metabolismo lipídico. 
 
 
 
LÍPIDES PLASMÁTICOS: 
 
TRIGLICÉRIDES (TG) 
 Após a realização de exercícios, as concentrações de triglicérides plasmáticos 
encontram-se diminuídas e podem ser observadas na condição em jejum. Uma 
característica importante é que a redução das concentrações de triglicérides pode ser 
observada de maneira mais significativa em indivíduos iniciantes que possuem altas 
taxas de TG em jejum, pois as pessoas com taxas normais de TG apresentam uma 
menor redução nas concentrações após o exercício. 
 A magnitude de redução de TG também é associada à intensidade e duração do 
exercício. Portanto, não há alterações imediatas nos níveis de TG em uma sessão de 
exercícios de curta duração e baixa intensidade. Porém, quando o exercício tem 
duração mínima de uma hora e há uma grande quantidade de energia gasta, existe a 
possibilidade de redução de TG imediatamente após a sessão até cerca de 72 horas. 
Vale ressaltar que a maior taxa de redução ocorre em pessoas que apresentam níveis 
de TG elevados em jejum. 
 
COLESTEROL 
 Vários estudos relatam que o exercício não exerce efeito significativo sobre os 
níveis de colesterol plasmático. A redução do colesterol ocorre de forma mais acentuada 
quando o exercício é associado à dieta e à perda de peso. Portanto, o programa de 
exercícios precisa conquistar primariamente a perda de peso e de gordura corporal, 
juntamente com a menor ingestão de alimentos gordurosos, a fim de promover maior 
nível de perda de colesterol. Os efeitos da realização exclusiva de exercícios sobre o 
colesterol plasmático ocorrem a partir das alterações nas frações deste, ou seja, na 
concentração de colesterol nas lipoproteínas plasmáticas. 
 
 
 
 
 
LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS: 
 
LIPOPROTEÍNA DE BAIXA INTENSIDADE (LDL) 
 A LDL é uma das principais componentes relacionadas ao desenvolvimento de 
DAC e, em geral, não apresenta redução significativa em seus níveis por meio do 
exercício físico. De acordo com estudos experimentais, em indivíduos treinados ou 
iniciantes, a redução dos níveis de LDL ocorre em torno de 5% a 10%. Entretanto, 
quando associada à dieta adequada e à perda de peso, o exercício pode novamente 
resultar em uma redução maior, de 7,6% do LDL para cada 10% de perda de peso. 
 
LIPOPROTEÍNA DE ALTA INTENSIDADE (HDL) 
 Estudos comprovam que o exercício exerce efeitos positivos e significativos 
sobre os níveis de HDL. Exercícios aeróbios de diferentes níveis de intensidade, 
duração e frequência, independente da idade e do nível de condicionamento 
cardiorrespiratório, são capazes de promoverem aumento nas taxas de HDL. Porém, há 
uma relação direta entre o volume do treinamento, o aumento da energia despendida 
no exercício e o aumento na HDL. Ainda, o incremento depende da associação com a 
perda de massa
corporal, apresentando uma correlação inversa com o índice de massa 
corporal (IMC). Pode-se destacar o efeito agudo do exercício sobre as concentrações 
de HDL, pois, após uma única sessão de exercícios aeróbios, já ocorre um aumento 
significativo da HDL, que promove efeito protetor contra o desenvolvimento de DAC. A 
elevação de HDL pode variar de 4% a 43% em resposta ao efeito agudo, sendo 
proporcional ao decréscimo de triglicérides. 
 
 Diversos estudos comprovam o efeito benéfico do exercício agudo no perfil 
lipídico, independente do nível de capacidade física da pessoa. Apesar de esses efeitos 
serem de grande importância clínica, prevalecem os efeitos crônicos do 
condicionamento, pois, além de serem mais acentuados, também resultam em melhora 
da capacidade física. Algumas das alterações atribuídas ao treinamento físico no 
metabolismo lipídico ocorrem em uma única sessão de prática. Entretanto, as alterações 
metabólicas que o exercício agudo promove no metabolismo de lipoproteínas 
geralmente desaparecem em 48 horas. Além disso, os resultados devem ser avaliados 
em aspectos específicos, incluindo a duração e a intensidade da atividade, os níveis 
 
plasmáticos de lípides na condição pré-exercício, a condição física do indivíduo, e no 
caso das mulheres, o status menstrual e o uso de contraceptivo oral. Portanto, as 
respostas ao exercício, constituídas por alterações metabólicas adaptativas, são mais 
duradouras com maior frequência de sessões, o que destaca a importância fundamental 
da prática regular de exercícios (NEGRÃO & BARRETO, 2006). 
 
TIPO DE EXERCÍCIOS: 
EXERCÍCIOS RESISTIDOS 
 Não há consenso na literatura sobre os efeitos do treinamento de força sobre o 
metabolismo de lípides. Alguns trabalhos encontram efeitos benéficos sobre os lípides, 
enquanto outros não encontraram nenhum efeito. Quando são encontrados efeitos 
positivos, o melhor funcionamento das enzimas (aumento da lipase lipoproteica e 
lecitina-colesterol-aciltransferase; diminuição da lipase hepática) também é apontado 
como os agentes causadores. 
Essas contradições dos estudos podem ocorrer devido às diferenças na 
intensidade dos exercícios físicos, duração da sessão, frequência semanal, assim como 
na duração total do programa de exercícios, no estado de treinamento ou nos níveis 
lipídicos pré-treinamento, pois, nos casos em que o perfil lipídico nesse período é 
normal, pode haver dificuldade de se obter um efeito do treinamento. Embora ainda não 
estejam claros os efeitos dos exercícios resistidos sobre o perfil lipídico, o treinamento 
de força tem sido recomendado para promover aumento da força muscular, do equilíbrio 
e da densidade mineral óssea em diversas populações. 
 
EXERCÍCIOS AERÓBIOS 
Diferentemente do exercício resistido, os efeitos dos exercícios aeróbios são 
claramente benéficos ao perfil lipídico, e diversos estudos comprovam tal efeito. Dessa 
forma, o exercício aeróbio tem sido considerado fundamental no tratamento das 
dislipidemias secundárias. A prática regular de exercícios pode promover efeitos 
positivos tanto em indivíduos que possuem taxas normais de lípides e lipoproteínas 
quanto naqueles que possuem dislipidemias. 
Segundo Negrão e Barretto (2006), os principais efeitos do exercício aeróbio 
referem-se à diminuição na concentração plasmática de triglicérides, ao aumento na 
 
concentração plasmática de HDL e da atividade de algumas enzimas que atuam no 
metabolismo das lipoproteínas. Ainda, o exercício pode promover o aumento do 
transporte reverso do colesterol, acelerar o metabolismo de lipoproteínas ricas em 
triglicérides, e tais efeitos podem ser intensificados quando são associados à dieta com 
baixo teor de gordura, principalmente as gorduras saturadas, e à redução de massa 
corporal, bem como à melhora da distribuição de gordura corporal. 
As alterações lipoprotéicas encontradas nos níveis plasmáticos da HDL, LDL e 
suas subfrações com o exercício aeróbio, em intensidades, durações e frequências 
diferenciadas, ocorrem devido ao melhor funcionamento dos processos enzimáticos 
envolvidos no metabolismo lipídico, principalmente no aumento da atividade enzimática 
da lipase lipoproteica, que favorece um maior catabolismo das lipoproteínas ricas em 
triglicérides, formando uma quantidade menor de LDL aterogênica e elevando a 
produção de HDL, além do aumento da lecitina-colesterol-aciltransferase e redução da 
atividade da lipase hepática, ambas favorecendo a formação de subfrações HDL2-
colesterol. A redução de atividade da proteína de transferência de colesterol esterificado 
que ocorre com o exercício aeróbio atua na prevenção da formação de LDL. 
 
3. ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO 
Antes do início de um programa de treinamento, deve-se realizar uma avaliação 
pré-treinamento, a fim de avaliar as condições clínicas, físicas e cardiovasculares do 
aluno. Alguns exames são fundamentais nessa fase, dentre eles a dosagem de 
colesterol total e suas frações e o teste de esforço (teste ergométrico ou preferivelmente 
o teste ergoespirométrico). Esses exames, além de informarem se o aluno está apto 
para a prática de exercícios, podem auxiliar na prescrição do treinamento aeróbio, no 
caso do teste de esforço. 
Segundo o American College of Sport Medicine (ACSM), as recomendações de 
exercícios aeróbios e resistidos para prevenção de doenças cardiovasculares e melhora 
do metabolismo lipídico seguem a frequência mínima de quatro vezes por semana, cada 
sessão com de 30 a 60 minutos de duração, e a intensidade para exercício aeróbio deve 
ser entre 60% e 80% da frequência cardíaca máxima (FC max.), correspondendo entre 
50%-70% do consumo máximo de oxigênio (VO2 max.), enquanto para exercício 
resistido a carga deve ser menor que 50% da carga máxima. 
Já se sabe que o sedentarismo constitui fator de risco para a aterosclerose e o 
exercício é capaz de prevenir a doença aterosclerótica. Estudos demonstram efeitos 
 
positivos na redução de triglicérides e no aumento de HDL em exercícios de alta e baixa 
intensidade, realizados entre 85%-90% e 50%-70% do VO2 max., respectivamente. 
Além disso, há melhora da condição cardiorrespiratória e composição corporal, redução 
da obesidade, do estresse, do nível de catecolaminas e também efeitos benéficos nos 
níveis de pressão arterial para os hipertensos. 
As intensidades propostas de exercício aeróbio permitem maior facilidade de 
realização, pois representam um esforço moderado e apresentam-se ideal para induzir 
modificações lipoproteicas basais do indivíduo em diferentes faixas etárias, seja este 
normolipidêmico ou dislipidêmico. Entretanto, é importante ressaltar a importância da 
associação de uma dieta e a perda de massa corporal ao exercício aeróbio, elementos 
fundamentais para a obtenção de um bom perfil lipídico. 
As recomendações em relação ao treinamento de força não são muito claras na 
busca da melhora do perfil lipídico. Alguns estudos sugerem efeitos positivos sobre o 
treinamento de hipertrofia e de força pura nos níveis de HDL. O treinamento de força 
consiste de exercícios de 8 a 12 repetições com carga máxima e intervalo entre as séries 
de aproximadamente 60 segundos, enquanto o treinamento de força pura consiste de 1 
a 5 repetições com carga máxima e intervalos entre as séries de 3 minutos. Portanto, 
sugere-se que se analisem as características do aluno, como idade, nível de aptidão 
física, bem como as possíveis comorbidades associadas, especialmente as doenças 
cardiovasculares, para a prescrição do treinamento de força. 
Ainda, não se pode deixar de trabalhar as outras capacidades físicas, além de 
força e resistência adquiridas através de exercícios resistidos e aeróbios, como a 
velocidade, agilidade, coordenação motora, equilíbrio e flexibilidade, que podem ser 
desenvolvidas a partir dos mais variados tipos de exercício. O objetivo maior é o de 
melhorar o metabolismo
lipídico do indivíduo, o que pode ser feito essencialmente a 
partir de exercícios aeróbios, juntamente com a inclusão de uma dieta adequada e, se 
necessário, do uso de medicações específicas. Todavia, há o dever de desenvolver as 
capacidades físicas, funcionais, psicológicas e sociais do indivíduo, e a elaboração de 
um programa ideal de exercícios deve incluir todas essas características. 
 
 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
As dislipidemias representam fator de risco elevado para a aterosclerose e DAC. 
A importância da realização de exercícios está na prevenção da aterosclerose, por meio 
da modificação do metabolismo das lipoproteínas. 
Os efeitos agudos e crônicos do exercício aeróbio resultam na melhora do perfil 
lipoproteico, estimulando o melhor funcionamento dos processos enzimáticos 
envolvidos no metabolismo lipídico e favorecendo principalmente o aumento dos níveis 
da HDL e da subfração HDL2-colesterol, assim como a modificação da composição 
química das LDL, tornando-as menos aterogênicas. 
Já a existência de poucos e controversos estudos envolvendo o treinamento de 
força não permite afirmar se há alterações significativas no perfil lipídico. De qualquer 
forma, a sua prática deve ser estimulada para qualquer pessoa, pois a capacidade da 
força muscular é considerada um dos componentes da aptidão física relacionada à 
saúde, além de contribuir para a preservação e o desenvolvimento da massa magra 
com benefícios no combate à obesidade e outros fatores de risco para DAC. 
Em suma, os estudos sobre exercício aeróbio tendem a apresentar metodologias 
mais uniformes quando comparados àqueles com exercícios resistidos, nos quais as 
metodologias diferem muito entre si, principalmente em relação ao volume e à 
intensidade das sessões de treinamento, dificultando assim as inferências sobre os seus 
benefícios. Dessa forma, para uma prescrição de treinamento individualizada, segura e 
eficaz, devem-se avaliar primeiramente as condições e características do indivíduo. 
É extremamente importante realizar um programa de exercícios que envolva 
todas as capacidades físicas, com atividades prazerosas e eficientes, a fim de promover 
maior aderência à atividade física, fator de extrema importância para a obtenção e 
manutenção dos benefícios adquiridos. Portanto, para que se possa evitar ou amenizar 
o desenvolvimento de doenças cardiovasculares devido às alterações no perfil lipídico, 
deve-se adotar um estilo de vida saudável, por meio da prática regular de exercícios 
físicos. 
 
 
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Tema: Dislipidemias e exercício 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
1) Assinale a alternativa correta: 
A) As dislipidemias são alterações no metabolismo lipídico, mais especificadamente 
nos níveis das lipoproteínas e seus componentes presentes na circulação 
sanguínea. 
B) As dislipidemias referem-se às concentrações de CT, TG, HDL e LDL. 
C) A formação da placa de ateroma, causada pelas dislipidemias, aumenta o risco 
de desenvolver doenças cardiovasculares. 
D) O colesterol é essencial ao organismo, entretanto, em níveis excessivos, pode 
causar as dislipidemias. 
E) Todas as alternativas estão corretas. 
 
2) A aterosclerose é: 
 A) uma doença multifatorial, inflamatória e aguda que ocorre em resposta à agressão 
endotelial, afetando a camada de artérias de médio e grande calibre; 
B) uma doença multifatorial, inflamatória e crônica que ocorre em resposta à 
agressão endotelial,
afetando a camada de artérias de médio e grande calibre; 
C) uma doença inflamatória e aguda que ocorre em função das formações de placas 
de gordura ou ateroma e pode desenvolver DAC; 
D) uma complicação das dislipidemias e ocorre em função de fatores exclusivamente 
genéticos; 
E) todas as alternativas estão corretas. 
 
3) As dislipidemias podem ser classificadas em: 
A) monogênicas, poligênicas, hipercolesterolemia mista, hipertrigliceridemia mista; 
B) monogênicas, poligênicas, hipercolesterolemia mista, hipertrigliceridemia isolada; 
 
C) hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada, hiperlipidemia mista e 
HDL-C baixo; 
D) monogênicas, hipercolesterolemia mista, hipertrigliceridemia isolada e HDL-C 
baixo; 
 E) nenhuma das anteriores. 
 
PARA PROVA 
 
4) Em relação à prática de exercícios: 
A) As alterações nos níveis sanguíneos de lipídios incluem necessidade de redução da 
massa e da gordura corporal, mudanças na distribuição da gordura corporal e na 
atividade de enzimas que regulam o metabolismo das lipoproteínas e ocorrem a partir 
da realização de exercícios. 
B) A magnitude dos efeitos do exercício sobre o metabolismo lipídico depende da 
intensidade e frequência da atividade realizada. 
C) Os efeitos agudos promovem melhora nos níveis de HDL, TG e LDL em pessoas 
ativas ou sedentárias. 
D) É fundamental a realização de uma avaliação pré-treinamento, a fim de avaliar as 
condições clínicas, físicas e cardiovasculares do indivíduo. 
E) Todas as alternativas estão corretas. 
 
5) Em relação às principais recomendações de exercícios para o tratamento das 
dislipidemias, marque a alternativa incorreta: 
A) O programa deve conter exercícios aeróbios e resistidos para prevenção de doenças 
cardiovasculares e melhora do metabolismo lipídico. 
B) O ACSM sugere a frequência mínima de quatro vezes por semana, com sessões de 
30 a 60 minutos de duração, e a intensidade para exercício aeróbio deve ser entre 60% 
a 80% da FC Max. ou 50% a 70% de VO2 max.; 
 
C) Apesar de poucos estudos demonstrarem a importância da prática de exercícios 
resistidos no metabolismo lipídico, estes devem ser incluídos devido aos benefícios de 
ganho de força. 
D) Os exercícios resistidos podem ser a única opção de exercícios, pois são capazes 
de promover melhoras significativas no perfil lipídico. 
E) Os exercícios aeróbios exercem efeitos significativos no metabolismo lipídico, na 
condição cardiorrespiratória, melhora da composição corporal, redução da obesidade e, 
assim, devem obrigatoriamente fazer parte de um programa de exercícios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPOSTAS 
 
1 – E 
2 – B 
3 – C 
4 – E 
5 – D

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