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Tema: Dislipidemias e exercício 1. INTRODUÇÃO As dislipidemias representam grande ameaça ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, atualmente responsáveis por significativa taxa de mortalidade e morbidade em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), morrem cerca de 17 milhões de pessoas em todo o mundo devido às doenças cardiovasculares por ano. No Brasil, em 2002, tais doenças foram responsáveis por quase 300 mil mortes. Podem-se entender as dislipidemias como um distúrbio no metabolismo lipídico, caracterizado por alterações nos níveis das lipoproteínas e seus componentes presentes na circulação sanguínea. As dislipidemias podem ser representadas por níveis fora do padrão de normalidade de colesterol total, triglicerídeos, lipoproteínas de alta densidade ligadas ao colesterol (HDL colesterol) e lipoproteínas de baixa densidade ligadas ao colesterol (LDL colesterol). O colesterol é uma das principais formas circulantes de gorduras do sangue, originando-se de duas fontes: do próprio organismo ou dos alimentos ingeridos, especialmente os alimentos de origem animal. O colesterol é transportado no sangue para os órgãos e fígado pelas lipoproteínas plasmáticas. Existem vários tipos de colesterol circulando no sangue, e o conjunto de todos eles representa o colesterol total (CT). O colesterol não é capaz de se dissolver no sangue por ser uma molécula hidrofóbica, portanto, requer condições especiais para ser transportado na circulação sanguínea e linfática. Para tanto, o colesterol precisa se unir às proteínas para cumprir suas funções, e as uniões entre colesterol e proteínas são chamadas de lipoproteínas, substâncias compostas de lipídios ou gorduras e proteínas. Os triglicerídeos (TG) são outra forma como os lipídeos podem ser encontrados no organismo humano, constituindo uma importante reserva energética corporal, apresentando elevação de seus níveis após a ingestão de alimentos gordurosos. Juntamente com o LDL colesterol, os TG representam um grande fator de risco para doenças cardiovasculares. As lipoproteínas são estruturas que têm a finalidade de permitir a solubilização dos lípides no meio aquoso plasmático. A constituição das lipoproteínas (Figura 1) é basicamente uma monocamada de fosfolípides em volta de um núcleo de lípides neutro, os triglicérides e os ésteres de colesterol. Os lípides transportados na lipoproteína exercem funções fundamentais no organismo, sendo o colesterol componente básico de membranas celulares, além de precursor de hormônios esteroides, da bile e de vitaminas, enquanto os triglicérides são a principal fonte de armazenamento de gorduras no organismo (NEGRÃO & BARRETO, 2006). Figura 1. Estruturas das lipoproteínas plasmáticas As gorduras são essenciais ao organismo HUMANO, porém, quando em taxas elevadas, podem aumentar as chances de desenvolver doenças cardiovasculares. No entanto, o organismo necessita de apenas uma pequena quantidade de colesterol para satisfazer as suas necessidades. Quando o colesterol está em excesso, deposita-se nas paredes arteriais, formando placas ateroscleróticas que reduzem o calibre dos vasos, dificultando assim o fluxo de sangue aos órgãos e tecidos do corpo. Há diversos fatores apontados como contribuintes para o aumento do colesterol, destacando-se os genéticos, a obesidade, o sedentarismo e os efeitos de uma dieta inadequada, rica em gorduras saturadas, encontradas nos alimentos de origem animal como óleos, leite e ovos. A gordura saturada promove o aumento da quantidade de colesterol no organismo, enquanto a gordura insaturada, encontrada principalmente em alimentos de origem vegetal, é essencial ao organismo. Dessa forma, a substituição de gorduras saturadas por insaturadas na dieta pode auxiliar na redução dos níveis de colesterol no sangue. Há diversos tipos de lipoproteínas, assunto abordado mais profundamente na aula de Dislipidemias e Obesidade. As lipoproteínas mais conhecidas e atuantes nas dislipidemias apresentam-se em duas formas principais: HDL (high density ou alta densidade) e LDL (low density ou baixa densidade). A HDL é responsável pela retirada das gorduras nas células e facilita a sua eliminação, sendo benéfica para o organismo, enquanto a LDL faz exatamente o contrário, promovendo a entrada de gorduras nas células e, consequentemente, o acúmulo delas nas artérias sob a forma de placas de ateroma (Figura 2), trazendo diversos efeitos negativos à saúde. Figura 2. Representação da placa de ateroma (placa aterosclerótica) em uma artéria coronária Dessa forma, a HDL colesterol, conhecida popularmente como colesterol bom, tem a função de conduzir o excesso de colesterol para fora dos tecidos e das artérias, diretamente para o fígado, onde é metabolizado, protegendo assim o organismo contra as doenças cardiovasculares e evitando a obstrução dos vasos. Dessa forma, os níveis de HDL devem idealmente ser mais elevados. Já a LDL colesterol, conhecida popularmente como colesterol ruim, é responsável pelo depósito de colesterol nas paredes das artérias, formando as placas de gordura ou ateroma, que provocam a obstrução dos vasos, podendo resultar no infarto do miocárdio (Figura 3). O conteúdo lipídico de LDL é degradado em colesterol livre e em ácidos graxos. Assim, para manter a saúde e reduzir o risco de doenças cardiovasculares, o LDL colesterol deve estar em quantidades mais baixas. Os níveis ideais de colesterol no sangue de um adulto são: colesterol total: abaixo de 200mg/dL de sangue; colesterol bom (HDL): acima de 40mg/dL de sangue; colesterol ruim (LDL): abaixo de 100mg/dL de sangue. As alterações dos níveis de colesterol representadas pelas dislipidemias podem ser classificadas como primárias ou secundárias. Os fatores desencadeadores das dislipidemias primárias têm origem genética e incluem as alterações neuroendócrinas e os distúrbios metabólicos. Já as dislipidemias secundárias são resultantes de outras doenças ou complicações, como hipotireoidismo, diabetes mellitus, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, obesidade, anorexia, bulimia, etilismo, tabagismo, dieta inadequada ou, ainda, pelo uso excessivo de medicamentos diuréticos, betabloqueadores, corticosteroides e anabolizantes. Além disso, o desequilíbrio entre a ingestão alimentar e o gasto calórico, associado ao sedentarismo, contribui para o estabelecimento de um quadro de obesidade, ampliando ainda mais o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principalmente através da aterosclerose. Figura 3. Representação do infarto do miocárdio secundário à obstrução de uma placa de ateroma formada em função da dislipidemia Assim, tanto os níveis elevados de LDL colesterol quanto a baixa concentração de HDL colesterol caracterizam um quadro de dislipidemia capaz de favorecer o desenvolvimento da aterosclerose (Figura 4), uma doença multifatorial, inflamatória e crônica que ocorre em resposta à agressão endotelial, afetando a camada de artérias de médio e grande calibre. Há um depósito de lipoproteínas na parede arterial, que se dá de maneira proporcional à concentração dessas lipoproteínas encontradas no sangue. Esse processo provoca redução da luz arterial e disfunção endotelial em função da formação da placa de ateroma, tendo como principal e mais grave consequência a obstrução total da circulação pela artéria, gerando a redução do aporte sanguíneo para os tecidos por ela nutridos. Esse é o mecanismo pelo qual as doenças cardiovasculares provocam grande morbidade e mortalidade em todo o mundo. As principais complicações da aterosclerose são angina, infarto agudo do miocárdio, AVE isquêmico, AVE hemorrágico, doença renal crônica e doença vascular periférica. O desenvolvimento da aterosclerose pode iniciar-se na infância, por muitas causas, como a partir das dislipidemias, e se manifestar somente na idade adulta, por meio das principais comorbidades associadas. Outros fatores que podem levar à aterosclerose, além das dislipidemias, são: idade avançada, tabagismo, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, estresse e sedentarismo. Figura 4. Representação da doença aterosclerótica De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose, as dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem ser classificadas genotipicamente ou fenotipicamente através de análises bioquímicas. Na classificação genotípica, as dislipidemias se dividem em monogênicas, causadas por mutações em um só gene, e poligênicas, causadas por associações de múltiplas mutações. A classificação fenotípica ou bioquímica considera os valores de CT, LDL, TG e HDL. Existem quatro tipos principais: Hipercolesterolemia isolada: altas concentrações isoladas do LDL colesterol (≥ 160 mg/dL); Hipertrigliceridemia isolada: altas concentrações isoladas de triglicérides (TG) (≥150 mg/dL); Hiperlipidemia mista: altas concentrações de ambos, tanto de triglicérides (≥150 mg/dL) quanto de LDL colesterol (≥ 160 mg/dL); HDL-C baixo: baixos níveis do HDL-C (homens <40 mg/dL e mulheres <50 mg/dL) isolados ou combinados com o aumento de LDL-C ou de TG. O diagnóstico das dislipidemias pode ser feito a partir de dosagem laboratorial do colesterol total e suas frações. Raramente as dislipidemias podem causar alterações na pele, como os xantelasmas e os xantomas. Um fato muito comum é a descoberta de uma dislipidemia apenas quando as manifestações clínicas da aterosclerose já estão presentes. Além dessas alterações lipídicas, a inatividade física é outro fator de risco que contribui para o desenvolvimento da placa aterosclerótica. Dessa forma, a prática de exercícios físicos é estimulada como meio preventivo e terapêutico de todos os fatores de risco da doença arterial coronariana (DAC). Os efeitos da atividade física sobre o perfil de lipídios e lipoproteínas são positivos, pois indivíduos ativos fisicamente apresentam maiores níveis de HDL e menores níveis de triglicérides e LDL. Portanto, as pessoas que têm diagnóstico de dislipidemia devem realizar mudanças nos hábitos de vida. Nesse aspecto é essencial perder peso, parar de fumar, praticar exercícios físicos regularmente, restringir o consumo de bebidas alcoólicas e melhorar os hábitos alimentares. Estudos demonstram que a redução do colesterol somente a partir da mudança dos hábitos alimentares é pouco significativa, porém, quando acompanhada de expressiva perda de peso e prática regular de exercícios físicos, essa redução ocorre de forma mais acentuada. Logo, o exercício representa papel chave na prevenção e no tratamento das dislipidemias, que têm como principal agravante a aterosclerose e as doenças cardiovasculares. Ainda, de acordo com Negrão e Barretto (2006), independente de fatores como idade, distribuição de gordura corporal, composição da dieta e nível de tabagismo, a prática de exercícios pode modificar positivamente o metabolismo e a composição das lipoproteínas, reduzindo o risco de desenvolvimento da DAC. 2. OS EFEITOS DO EXERCÍCIO SOBRE O METABOLISMO LIPÍDICO A magnitude dos efeitos do exercício sobre o metabolismo lipídico depende da intensidade e frequência da atividade e, consequentemente, da energia envolvida durante o esforço. Diversos estudos têm demonstrado que a prática regular de exercício físico pode promover efeitos crônicos, como diminuição nas concentrações de TG, LDL, CT, resistência à insulina, massa corporal e índice de massa corporal, além de aumento nos níveis de HDL, massa magra e taxa metabólica basal. Em relação aos efeitos agudos, encontra-se melhora nos níveis de HDL, TG e LDL em indivíduos ativos, sedentários ou com diabetes. Dessa forma, seja pelo efeito agudo ou crônico sobre o perfil lipídico, o exercício atua contra o desenvolvimento de doenças crônico degenerativas. Os mecanismos pelos quais os exercícios físicos induzem alterações nos níveis sanguíneos de lipídios incluem a redução da massa e da gordura corporal, mudanças na distribuição da gordura corporal e na atividade de enzimas que regulam o metabolismo das lipoproteínas, sendo que essas alterações podem ser observadas em pessoas sedentárias, fisicamente ativas ou atletas. Entretanto, os efeitos positivos se revertem rapidamente no momento em que a pessoa suspende a prática de atividade física regular e retorne ao sedentarismo. O destreinamento leva à diminuição da HDL e ao aumento da massa de gordura, da LDL, da relação LDL/HDL, da apolipoproteína B e de triglicérides. Desse modo, o sucesso no tratamento terapêutico ou preventivo das dislipidemias depende essencialmente da habilidade em desenvolver abordagens que garantam o envolvimento das pessoas em padrões de estilo ativo por toda a vida. Para a elaboração de um programa ideal de treinamento, é importante compreender os efeitos do exercício sobre cada componente do metabolismo lipídico. LÍPIDES PLASMÁTICOS: TRIGLICÉRIDES (TG) Após a realização de exercícios, as concentrações de triglicérides plasmáticos encontram-se diminuídas e podem ser observadas na condição em jejum. Uma característica importante é que a redução das concentrações de triglicérides pode ser observada de maneira mais significativa em indivíduos iniciantes que possuem altas taxas de TG em jejum, pois as pessoas com taxas normais de TG apresentam uma menor redução nas concentrações após o exercício. A magnitude de redução de TG também é associada à intensidade e duração do exercício. Portanto, não há alterações imediatas nos níveis de TG em uma sessão de exercícios de curta duração e baixa intensidade. Porém, quando o exercício tem duração mínima de uma hora e há uma grande quantidade de energia gasta, existe a possibilidade de redução de TG imediatamente após a sessão até cerca de 72 horas. Vale ressaltar que a maior taxa de redução ocorre em pessoas que apresentam níveis de TG elevados em jejum. COLESTEROL Vários estudos relatam que o exercício não exerce efeito significativo sobre os níveis de colesterol plasmático. A redução do colesterol ocorre de forma mais acentuada quando o exercício é associado à dieta e à perda de peso. Portanto, o programa de exercícios precisa conquistar primariamente a perda de peso e de gordura corporal, juntamente com a menor ingestão de alimentos gordurosos, a fim de promover maior nível de perda de colesterol. Os efeitos da realização exclusiva de exercícios sobre o colesterol plasmático ocorrem a partir das alterações nas frações deste, ou seja, na concentração de colesterol nas lipoproteínas plasmáticas. LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS: LIPOPROTEÍNA DE BAIXA INTENSIDADE (LDL) A LDL é uma das principais componentes relacionadas ao desenvolvimento de DAC e, em geral, não apresenta redução significativa em seus níveis por meio do exercício físico. De acordo com estudos experimentais, em indivíduos treinados ou iniciantes, a redução dos níveis de LDL ocorre em torno de 5% a 10%. Entretanto, quando associada à dieta adequada e à perda de peso, o exercício pode novamente resultar em uma redução maior, de 7,6% do LDL para cada 10% de perda de peso. LIPOPROTEÍNA DE ALTA INTENSIDADE (HDL) Estudos comprovam que o exercício exerce efeitos positivos e significativos sobre os níveis de HDL. Exercícios aeróbios de diferentes níveis de intensidade, duração e frequência, independente da idade e do nível de condicionamento cardiorrespiratório, são capazes de promoverem aumento nas taxas de HDL. Porém, há uma relação direta entre o volume do treinamento, o aumento da energia despendida no exercício e o aumento na HDL. Ainda, o incremento depende da associação com a perda de massa corporal, apresentando uma correlação inversa com o índice de massa corporal (IMC). Pode-se destacar o efeito agudo do exercício sobre as concentrações de HDL, pois, após uma única sessão de exercícios aeróbios, já ocorre um aumento significativo da HDL, que promove efeito protetor contra o desenvolvimento de DAC. A elevação de HDL pode variar de 4% a 43% em resposta ao efeito agudo, sendo proporcional ao decréscimo de triglicérides. Diversos estudos comprovam o efeito benéfico do exercício agudo no perfil lipídico, independente do nível de capacidade física da pessoa. Apesar de esses efeitos serem de grande importância clínica, prevalecem os efeitos crônicos do condicionamento, pois, além de serem mais acentuados, também resultam em melhora da capacidade física. Algumas das alterações atribuídas ao treinamento físico no metabolismo lipídico ocorrem em uma única sessão de prática. Entretanto, as alterações metabólicas que o exercício agudo promove no metabolismo de lipoproteínas geralmente desaparecem em 48 horas. Além disso, os resultados devem ser avaliados em aspectos específicos, incluindo a duração e a intensidade da atividade, os níveis plasmáticos de lípides na condição pré-exercício, a condição física do indivíduo, e no caso das mulheres, o status menstrual e o uso de contraceptivo oral. Portanto, as respostas ao exercício, constituídas por alterações metabólicas adaptativas, são mais duradouras com maior frequência de sessões, o que destaca a importância fundamental da prática regular de exercícios (NEGRÃO & BARRETO, 2006). TIPO DE EXERCÍCIOS: EXERCÍCIOS RESISTIDOS Não há consenso na literatura sobre os efeitos do treinamento de força sobre o metabolismo de lípides. Alguns trabalhos encontram efeitos benéficos sobre os lípides, enquanto outros não encontraram nenhum efeito. Quando são encontrados efeitos positivos, o melhor funcionamento das enzimas (aumento da lipase lipoproteica e lecitina-colesterol-aciltransferase; diminuição da lipase hepática) também é apontado como os agentes causadores. Essas contradições dos estudos podem ocorrer devido às diferenças na intensidade dos exercícios físicos, duração da sessão, frequência semanal, assim como na duração total do programa de exercícios, no estado de treinamento ou nos níveis lipídicos pré-treinamento, pois, nos casos em que o perfil lipídico nesse período é normal, pode haver dificuldade de se obter um efeito do treinamento. Embora ainda não estejam claros os efeitos dos exercícios resistidos sobre o perfil lipídico, o treinamento de força tem sido recomendado para promover aumento da força muscular, do equilíbrio e da densidade mineral óssea em diversas populações. EXERCÍCIOS AERÓBIOS Diferentemente do exercício resistido, os efeitos dos exercícios aeróbios são claramente benéficos ao perfil lipídico, e diversos estudos comprovam tal efeito. Dessa forma, o exercício aeróbio tem sido considerado fundamental no tratamento das dislipidemias secundárias. A prática regular de exercícios pode promover efeitos positivos tanto em indivíduos que possuem taxas normais de lípides e lipoproteínas quanto naqueles que possuem dislipidemias. Segundo Negrão e Barretto (2006), os principais efeitos do exercício aeróbio referem-se à diminuição na concentração plasmática de triglicérides, ao aumento na concentração plasmática de HDL e da atividade de algumas enzimas que atuam no metabolismo das lipoproteínas. Ainda, o exercício pode promover o aumento do transporte reverso do colesterol, acelerar o metabolismo de lipoproteínas ricas em triglicérides, e tais efeitos podem ser intensificados quando são associados à dieta com baixo teor de gordura, principalmente as gorduras saturadas, e à redução de massa corporal, bem como à melhora da distribuição de gordura corporal. As alterações lipoprotéicas encontradas nos níveis plasmáticos da HDL, LDL e suas subfrações com o exercício aeróbio, em intensidades, durações e frequências diferenciadas, ocorrem devido ao melhor funcionamento dos processos enzimáticos envolvidos no metabolismo lipídico, principalmente no aumento da atividade enzimática da lipase lipoproteica, que favorece um maior catabolismo das lipoproteínas ricas em triglicérides, formando uma quantidade menor de LDL aterogênica e elevando a produção de HDL, além do aumento da lecitina-colesterol-aciltransferase e redução da atividade da lipase hepática, ambas favorecendo a formação de subfrações HDL2- colesterol. A redução de atividade da proteína de transferência de colesterol esterificado que ocorre com o exercício aeróbio atua na prevenção da formação de LDL. 3. ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO Antes do início de um programa de treinamento, deve-se realizar uma avaliação pré-treinamento, a fim de avaliar as condições clínicas, físicas e cardiovasculares do aluno. Alguns exames são fundamentais nessa fase, dentre eles a dosagem de colesterol total e suas frações e o teste de esforço (teste ergométrico ou preferivelmente o teste ergoespirométrico). Esses exames, além de informarem se o aluno está apto para a prática de exercícios, podem auxiliar na prescrição do treinamento aeróbio, no caso do teste de esforço. Segundo o American College of Sport Medicine (ACSM), as recomendações de exercícios aeróbios e resistidos para prevenção de doenças cardiovasculares e melhora do metabolismo lipídico seguem a frequência mínima de quatro vezes por semana, cada sessão com de 30 a 60 minutos de duração, e a intensidade para exercício aeróbio deve ser entre 60% e 80% da frequência cardíaca máxima (FC max.), correspondendo entre 50%-70% do consumo máximo de oxigênio (VO2 max.), enquanto para exercício resistido a carga deve ser menor que 50% da carga máxima. Já se sabe que o sedentarismo constitui fator de risco para a aterosclerose e o exercício é capaz de prevenir a doença aterosclerótica. Estudos demonstram efeitos positivos na redução de triglicérides e no aumento de HDL em exercícios de alta e baixa intensidade, realizados entre 85%-90% e 50%-70% do VO2 max., respectivamente. Além disso, há melhora da condição cardiorrespiratória e composição corporal, redução da obesidade, do estresse, do nível de catecolaminas e também efeitos benéficos nos níveis de pressão arterial para os hipertensos. As intensidades propostas de exercício aeróbio permitem maior facilidade de realização, pois representam um esforço moderado e apresentam-se ideal para induzir modificações lipoproteicas basais do indivíduo em diferentes faixas etárias, seja este normolipidêmico ou dislipidêmico. Entretanto, é importante ressaltar a importância da associação de uma dieta e a perda de massa corporal ao exercício aeróbio, elementos fundamentais para a obtenção de um bom perfil lipídico. As recomendações em relação ao treinamento de força não são muito claras na busca da melhora do perfil lipídico. Alguns estudos sugerem efeitos positivos sobre o treinamento de hipertrofia e de força pura nos níveis de HDL. O treinamento de força consiste de exercícios de 8 a 12 repetições com carga máxima e intervalo entre as séries de aproximadamente 60 segundos, enquanto o treinamento de força pura consiste de 1 a 5 repetições com carga máxima e intervalos entre as séries de 3 minutos. Portanto, sugere-se que se analisem as características do aluno, como idade, nível de aptidão física, bem como as possíveis comorbidades associadas, especialmente as doenças cardiovasculares, para a prescrição do treinamento de força. Ainda, não se pode deixar de trabalhar as outras capacidades físicas, além de força e resistência adquiridas através de exercícios resistidos e aeróbios, como a velocidade, agilidade, coordenação motora, equilíbrio e flexibilidade, que podem ser desenvolvidas a partir dos mais variados tipos de exercício. O objetivo maior é o de melhorar o metabolismo lipídico do indivíduo, o que pode ser feito essencialmente a partir de exercícios aeróbios, juntamente com a inclusão de uma dieta adequada e, se necessário, do uso de medicações específicas. Todavia, há o dever de desenvolver as capacidades físicas, funcionais, psicológicas e sociais do indivíduo, e a elaboração de um programa ideal de exercícios deve incluir todas essas características. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As dislipidemias representam fator de risco elevado para a aterosclerose e DAC. A importância da realização de exercícios está na prevenção da aterosclerose, por meio da modificação do metabolismo das lipoproteínas. Os efeitos agudos e crônicos do exercício aeróbio resultam na melhora do perfil lipoproteico, estimulando o melhor funcionamento dos processos enzimáticos envolvidos no metabolismo lipídico e favorecendo principalmente o aumento dos níveis da HDL e da subfração HDL2-colesterol, assim como a modificação da composição química das LDL, tornando-as menos aterogênicas. Já a existência de poucos e controversos estudos envolvendo o treinamento de força não permite afirmar se há alterações significativas no perfil lipídico. De qualquer forma, a sua prática deve ser estimulada para qualquer pessoa, pois a capacidade da força muscular é considerada um dos componentes da aptidão física relacionada à saúde, além de contribuir para a preservação e o desenvolvimento da massa magra com benefícios no combate à obesidade e outros fatores de risco para DAC. Em suma, os estudos sobre exercício aeróbio tendem a apresentar metodologias mais uniformes quando comparados àqueles com exercícios resistidos, nos quais as metodologias diferem muito entre si, principalmente em relação ao volume e à intensidade das sessões de treinamento, dificultando assim as inferências sobre os seus benefícios. Dessa forma, para uma prescrição de treinamento individualizada, segura e eficaz, devem-se avaliar primeiramente as condições e características do indivíduo. É extremamente importante realizar um programa de exercícios que envolva todas as capacidades físicas, com atividades prazerosas e eficientes, a fim de promover maior aderência à atividade física, fator de extrema importância para a obtenção e manutenção dos benefícios adquiridos. Portanto, para que se possa evitar ou amenizar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares devido às alterações no perfil lipídico, deve-se adotar um estilo de vida saudável, por meio da prática regular de exercícios físicos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACSM - American College of Sports Medicine. Position stand - exercise and physical activity for older adults. Med Sci Sports Exerc, 30: 992-1008, 1998. ACSM/AHA - American College of Sports Medicine – American Heart Association. Joint position statement: recommendations for cardiovascular screening, staffing, and emergency policies at health / fitness facilities. Med Sci Sports Exerc, 30: 1009-18, 1998. Bauman WA, Adkins RH, Spungen AM, et al. Individuals with extreme inactivity do not have abnormal serum lipoprotein (a) levels. Horm Metab Res, 30: 601-3, 1998. Bielinski R, Schutz Y, Jéquier E. Energy metabolism during the post-exercise recovery period in man. Am J Clin Nutr, 42:69-82, 1985. Carroll S. and Dudfield. M. 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B) As dislipidemias referem-se às concentrações de CT, TG, HDL e LDL. C) A formação da placa de ateroma, causada pelas dislipidemias, aumenta o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. D) O colesterol é essencial ao organismo, entretanto, em níveis excessivos, pode causar as dislipidemias. E) Todas as alternativas estão corretas. 2) A aterosclerose é: A) uma doença multifatorial, inflamatória e aguda que ocorre em resposta à agressão endotelial, afetando a camada de artérias de médio e grande calibre; B) uma doença multifatorial, inflamatória e crônica que ocorre em resposta à agressão endotelial, afetando a camada de artérias de médio e grande calibre; C) uma doença inflamatória e aguda que ocorre em função das formações de placas de gordura ou ateroma e pode desenvolver DAC; D) uma complicação das dislipidemias e ocorre em função de fatores exclusivamente genéticos; E) todas as alternativas estão corretas. 3) As dislipidemias podem ser classificadas em: A) monogênicas, poligênicas, hipercolesterolemia mista, hipertrigliceridemia mista; B) monogênicas, poligênicas, hipercolesterolemia mista, hipertrigliceridemia isolada; C) hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada, hiperlipidemia mista e HDL-C baixo; D) monogênicas, hipercolesterolemia mista, hipertrigliceridemia isolada e HDL-C baixo; E) nenhuma das anteriores. PARA PROVA 4) Em relação à prática de exercícios: A) As alterações nos níveis sanguíneos de lipídios incluem necessidade de redução da massa e da gordura corporal, mudanças na distribuição da gordura corporal e na atividade de enzimas que regulam o metabolismo das lipoproteínas e ocorrem a partir da realização de exercícios. B) A magnitude dos efeitos do exercício sobre o metabolismo lipídico depende da intensidade e frequência da atividade realizada. C) Os efeitos agudos promovem melhora nos níveis de HDL, TG e LDL em pessoas ativas ou sedentárias. D) É fundamental a realização de uma avaliação pré-treinamento, a fim de avaliar as condições clínicas, físicas e cardiovasculares do indivíduo. E) Todas as alternativas estão corretas. 5) Em relação às principais recomendações de exercícios para o tratamento das dislipidemias, marque a alternativa incorreta: A) O programa deve conter exercícios aeróbios e resistidos para prevenção de doenças cardiovasculares e melhora do metabolismo lipídico. B) O ACSM sugere a frequência mínima de quatro vezes por semana, com sessões de 30 a 60 minutos de duração, e a intensidade para exercício aeróbio deve ser entre 60% a 80% da FC Max. ou 50% a 70% de VO2 max.; C) Apesar de poucos estudos demonstrarem a importância da prática de exercícios resistidos no metabolismo lipídico, estes devem ser incluídos devido aos benefícios de ganho de força. D) Os exercícios resistidos podem ser a única opção de exercícios, pois são capazes de promover melhoras significativas no perfil lipídico. E) Os exercícios aeróbios exercem efeitos significativos no metabolismo lipídico, na condição cardiorrespiratória, melhora da composição corporal, redução da obesidade e, assim, devem obrigatoriamente fazer parte de um programa de exercícios. RESPOSTAS 1 – E 2 – B 3 – C 4 – E 5 – D
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