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Fundamentos da Pedagogia Social W B A 0 2 5 3 _ V 1. 1 2/223 Fundamentos da Pedagogia Social Autoria: Rita de Cássia Moreno Barbosa Como citar este documento: BARBOSA, Rita de Cássia Moreno. Fundamentos da Pedagogia Social. Va- linhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola 05 Unidade 2: Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas 32 Unidade 3: Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis 60 Unidade 4: O Educador e o Pedagogo Social 87 2/223 Unidade 5: Lideranças na Educação Social 119 Unidade 6: Pedagogia Social e Identidades do Educador Social 145 Unidade 7: Responsabilidade Social e Relações Intersetoriais 172 Unidade 8: Função das Instituições Sociais e Educacionais na Sociedade Contemporânea 197 3/223 Apresentação da Disciplina Esta disciplina tem como pressuposto apre- sentar os principais fundamentos da Pe- dagogia Social, demonstrando seu caráter científico e autônomo em relação a outras ciências. Veremos que, ainda que inter-re- lacionada com outras áreas do conheci- mento, tais como: a Sociologia, a Psicolo- gia, a Pedagogia e a Assistência Social, por exemplo, ela se diferencia não apenas pelos seus objetivos, mas pela perspectiva pela qual reflete e interfere sobre seu objeto de estudo. A população marginalizada econô- mica e socialmente é seu principal foco de trabalho, mas não é o único. A partir de uma incursão histórica, abordaremos de que for- ma a Pedagogia Social vem se estruturando enquanto teoria social, bem como quais são seus desafios, impasses e perspectivas em construção. O objetivo dessa reflexão teórica é dar um panorama da amplitude de atuação do Educador Social e do Pedagogo Social e abastecer esses profissionais de um reper- tório teórico e metodológico para que eles estejam preparados para intervirem crítica e responsavelmente em diversas realida- des sociais, culturais, políticas e pedagógi- cas. Para tanto, serão tratados dentro dessa disciplina perspectivas educacionais e ge- renciais para que o profissional seja capaz de ocupar todos os níveis organizacionais – dentro de espaços formais ou não formais de educação. Este estudo se configura em um importante passo para a profissionali- zação da área e para o reconhecimento da legitimidade de atuação dos atores sociais que, há tempos, já trabalham com esses pú- blicos marginalizados. 4/223 A partir de autores considerados referência no assunto, apresentaremos a realidade tal qual está colocada, na perspectiva de que esse conhecimento possa munir e garantir a profissionalização dos atores da área para que uma nova realidade possa emergir. Edu- cação integral, integradora e libertadora é o objetivo final da Pedagogia Social. 5/223 Unidade 1 Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola Objetivos 1. Apresentar o contexto histórico que fundamentou a teoria da Pedagogia Social enquanto ciência; 2. Discorrer sobre as origens de uma Pe- dagogia Social no Brasil; 3. Apresentar os principais conceitos da Pedagogia Social, bem como seus ob- jetivos e seu objeto de estudo. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola6/223 Introdução Nesta unidade discutiremos os princípios fundamentais da Pedagogia Social enquan- to uma área do conhecimento independen- te. Iniciaremos fazendo uma breve revisão histórica a respeito da sua origem como ci- ência, tanto no Brasil como em outras partes do mundo. Trataremos sobre as bases teó- ricas e práticas sobre as quais ela tem sido fundamentada e sobre as dificuldades de se falar sobre uma ciência em construção, pois suas definições ainda estão em deba- te. Por fim, buscaremos encontrar, dentre o referencial teórico dos principais autores do tema, algumas concordâncias e dissonân- cias acerca de seu objeto de estudo e seus objetivos empíricos. Ao longo desta discussão teórica, você en- contrará alguns materiais complementares que servirão para enriquecer seu conheci- mento sobre o tema e trazer outras pers- pectivas sobre a Pedagogia Social. A boa compreensão desta aula será fundamental para melhor desenvolvermos os assuntos abordados nos próximos conteúdos da dis- ciplina. Portanto, certifique-se de que esses conceitos tenham ficado bem esclarecidos e, caso necessário, retome a leitura de algu- mas partes que precisam ser reforçadas. Os exercícios propostos pela unidade também favorecerão para esse propósito. Para iniciarmos as discussões, sugiro que você assista a essa entrevista dada por um dos autores mais importantes da Pedagogia Social no Brasil na contemporaneidade, o Prof.º Dr. Roberto da Silva. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola7/223 1. Fundamentação e desenvolvimento da pedagogia social É difícil precisar exatamente quando nasceu a Pedagogia Social. Estima-se que sua origem esteja associada ao período pós 2ª Revolução Industrial (final do século XIX), impulsionada pela neces- sidade de atuar junto aos grupos marginalizados como consequência do grande impacto econô- mico e social sofrido por boa parte da população europeia. O alemão Paul Natorp (1854 – 1924) Link A entrevista possui 3 partes curtas, de cerca de 15 minutos cada, mas é bem interessante para nos dar a dimensão do que a Pedagogia Social tem como principal objetivo na atualidade. Parte 1: ENTREVISTA com Roberto da Silva. [s.i]: Youtube, 2014. Son., color. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=YOyrHcov82Y>. Acesso em: 31 jul. 2017. Parte 1 Parte 2: ENTREVISTA com Roberto da Silva. [s.i]: Youtube, 2014. Son., color. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=ZZurlhBdssI>. Acesso em: 31 jul. 2017. Parte 2 Parte 3 : ENTREVISTA com Roberto da Silva. [s.i]: Youtube, 2014. Son., color. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=zU0zMy9TaXI&t=613s>. Acesso em: 31 jul. 2017. Parte 3 https://www.youtube.com/watch?v=YOyrHcov82Y https://www.youtube.com/watch?v=YOyrHcov82Y https://www.youtube.com/watch?v=ZZurlhBdssI https://www.youtube.com/watch?v=ZZurlhBdssI https://www.youtube.com/watch?v=zU0zMy9TaXI&t=613s https://www.youtube.com/watch?v=zU0zMy9TaXI&t=613s Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola8/223 é considerado o primeiro autor responsável pela sistematização das produções acadê- micas e pela defesa de sua fundamentação teórica enquanto ciência independente, já no início do século XX. As instabilidades que sucederam a 1ª e a 2ª Guerra Mundial reforçaram ainda mais a necessidade de existência de uma ciência social mais intervencionista, ou seja, uma ciência que contribuísse enfaticamente (e não apenas no discurso) na ressocialização dos milhares de excluídos. Desde então, a Pedagogia Social vem sendo articulada te- oricamente e apropriada enquanto práti- ca de maneiras bem diferentes ao redor do mundo. Link Neste artigo disponibilizado abaixo você pode- rá se inteirar mais profundamente sobre a forma como outros países, principalmente europeus, se apropriaram teórica e empiricamente da Pedago- gia Social. PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira e MACHA- DO, Érico Ribas. A Pedagogia Social na Educação: análise de perspectivas de formação e atuação dos educadores sociais no Brasil. In: II CONGRES- SO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA SOCIAL, 2., 2008, São Paulo. Disponível em: <http://www. proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MS- C0000000092008000100005&script=sci_ arttext>. Acesso em: 27 ago. 2017 http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola9/223 No Brasil,ainda que não tenhamos tido grandes guerras – pelo menos não em nos- so território – a exclusão social também se fez sentir. As políticas públicas não deram conta de sanar as crescentes demandas so- ciais que acabaram sendo assumidas pela sociedade civil. Através de ONGs, funda- ções e outras modalidades de organização, tais como movimentos sociais e comunitá- rios, a sociedade passou a se envolver e in- tervir ativamente em setores específicos. Portanto, a insuficiência (e ineficiência) do governo em atender carências e exigências de parte da população criou um vácuo de atuação e permitiu que esses novos atores sociais tomassem para si a responsabilida- de total ou parcial de atendimento de ques- tões sociais negligenciadas pelo Estado. Todo esse cenário aqui apresentado contri- buiu para a emergência do que convencio- namos chamar de Pedagogia Social. 2. Raízes de uma pedagogia so- cial no brasil Até este momento, tratamos sobre as con- dições históricas e sociais que contribuí- ram para o nascimento de uma ciência de- nominada Pedagogia Social. Para melhor compreendermos o seu conceito, sugiro que façamos, agora, uma incursão sobre a forma como a Educação e a Pedagogia fo- ram estruturadas no Brasil. Essa retomada é importante para que possa elucidar com o que essa ciência dialoga e a que se propõe. Esses objetivos vão ficando mais claros ao longo do texto. Vamos lá?! Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola10/223 2.1 A Educação como Direito Universal: Educação X Escolar- ização O discurso da Educação enquanto Direi- to Humano Fundamental é muito recente em nossa história. Sabemos que por muito tempo, o direito à educação estava restrito a determinados grupos sociais na perspec- tiva de dar continuidade a valores culturais e conhecimentos históricos que garantissem a manutenção do status quo. Essa perspec- tiva restritiva da educação foi se alargando ao longo dos anos, até ganhar constitucio- nalidade na Legislação Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996. Entretanto, o que essas legislações garan- tem (ao menos no discurso) é o direito à es- colarização e não à educação (SILVA; SILVA; LOPES, 2012). Percebam: o que era restrito a determinadas camadas sociais era o direi- to de frequentar espaços específicos, onde determinados conhecimentos eram ensi- nados. Esses conhecimentos, como bem sabemos, eram selecionados a partir de um repertório cultural de um setor também muito peculiar: o grupo dominante. Portan- to, temos que um determinado grupo social decidiu quais conteúdos (dentro de uma gama de infinitas possibilidades) deveriam ser transmitidos e perpetuados de geração para geração de forma universal e homo- gênea. A esse conjunto de informações – só acessível dentro de uma instituição em par- ticular – deram o nome de Educação. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola11/223 Por muitos anos, também aqui no Brasil, a ideia de Educação estava limitada à percep- ção de apreensão de conhecimentos es- pecificamente obtidos dentro do ambien- te escolar. Desde sua origem na década de 1930 até reformulações curriculares sofri- das no decorrer dos anos 1960, os cursos de Pedagogia pouco avançaram no debate de pensar a educação como uma experiência que pudesse ocorrer fora da escola. A Peda- gogia acostumou-se a pensar a educação e o pedagogo circunscritos a limitar-se à es- cola. Nos últimos anos houve algumas mu- danças (ainda que tímidas) nessa perspec- tiva de Educação. A própria Reforma Edu- cacional proposta em 1996, por exemplo, já propiciava uma releitura mais ampla sobre as demandas pedagógicas e da atuação do pedagogo. É bem verdade, entretanto, que grande par- te do que essas legislações trazem é apenas contemplativo, ou seja, estão registradas e legitimadas por leis de direito, mas não se constituem em lei de fato. Muitas delas nasceram da impossibilidade de continuar ignorando setores sociais, que há tempos já reivindicavam essas demandas. Mas, de forma nenhuma, essas leis asseguram efe- tivo esforço e energia do Estado em garantir sua efetividade. (SILVA; SILVA; LOPES, 2012). O que nos ampara é que essa legitimidade constitucional possibilita e fundamenta um debate entre sociedade civil e governo. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola12/223 Pois bem, retomemos a ideia que tratáva- mos no tópico anterior: vimos que nesses espaços onde o Estado não chega, outros atores políticos começaram a atuar. Discu- timos também que esse trabalho de inter- venção social foi por muitos anos (e conti- nua sendo) desenvolvido por organizações independentes dos órgãos governamentais, o que significa dizer que essas atuações são, muitas vezes, desenvolvidas de forma vo- luntária ou contam com recursos extrema- mente reduzidos. Além disso, geralmente esses grupos de trabalho atuam em realida- des locais e não possuem grandes conheci- mentos das condições estruturais daqueles problemas sociais específicos. A predominância de profissionais pouco (ou nada) qualificados, bem como a inexistên- cia de um mínimo de sistematização do tra- balho desenvolvido (a partir da criação de parâmetros, indicadores, metodologias de trabalho e avaliação) tem contribuído para Para saber mais Na LDB, em Artigo 1º afirma que: “A educação abrange os processos formativos que se desen- volvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesqui- sa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” O que aparentemente dá uma dimensão ampliada da Educação, mas já no 1º Parágrafo deste capí- tulo afirma: “Esta Lei disciplina a educação esco- lar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.” Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola13/223 um cenário um tanto quanto caótico de atuação na área. Esse contexto, no entanto, vem sendo gradativamente transformado, e a conformação de uma teoria da Pedago- gia Social tem tido grande responsabilidade nesse sentido. 3. Pedagogia social: princípios e objetivos Agora sim, que tal tratarmos sobre a Peda- gogia Social propriamente dita? Acredito que estamos prontos. Por se tratar de uma ciência ainda em cons- trução, principalmente aqui no Brasil, como mencionamos anteriormente, é difícil esta- belecer uma definição do conceito de Peda- gogia Social. O termo ainda está em discus- são pelos diferentes autores da área, que apresentam diferentes perspectivas sobre seu objeto de estudo e de propostas de in- tervenção. O que faremos neste momento da disciplina é buscar organizar as principais ideias sobre o tema e apontar alguns cami- nhos já trilhados por seus teóricos. O mais importante é que tenhamos em mente que a Pedagogia Social se apresenta como um terreno ainda pouco explorado e bastante fértil para a expansão do debate no sentido de uma educação integral e integradora do indivíduo. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola14/223 A primeira coisa que convém destacarmos é que a Pedagogia Social é a teoria que orga- niza a prática da Educação Social. Vocês se lembram quando discutimos que, por muito tempo (e ainda hoje), a concepção hegemô- nica de Educação era pautada no que cha- mamos de Educação Escolar, ou seja, uma Educação restrita ao ambiente, normas e conteúdo escolar? Pois bem, a Educação Social nasce na tentativa de ser uma força contra-hegemônica dessa concepção res- tritiva de educação. Ela defende um projeto mais amplo de educação, que extrapola os muros da escola. Uma educação que está em toda parte, a todo momento, pela vida toda e que acontece nas próprias relações sociais. É importante esclarecermos que a Educação Social não se contrapõe a Educação Escolar; ela a amplia, complementa, potencializa. (SEVERO, MACHADO, RODRIGUES,2014). Para saber mais “Pedagogia Social é o referencial teórico que fun- damenta, dá organicidade e cientificidade às prá- ticas de Educação Popular, social e comunitária forjadas nos movimentos populares, sociais e co- munitários no Brasil. Adotada como Teoria Geral da Educação Social (que serve também à Educa- ção Popular e à Educação Comunitária), sua vo- cação primordial é tirar estas práticas educativas da posição marginal a que foram relegadas, tan- to pela academia quanto pela legislação e pelas sucessivas políticas educacionais.” (SILVA; SILVA; LOPES, 2012, p. 8) Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola15/223 Seu intuito é alcançar espaços onde a escola não chega. Por isso seu público alvo prioritário (mas não exclusivo) são os grupos marginalizados socialmente, tais como pessoas em situação de rua, crianças e jovens de orfanatos, abrigos e albergues, presidiários, etc. As categorias próprias da Pedagogia Social incluem o universo da mar- ginalidade social, mas não se limitam a ele. Entender a Pedagogia Social como um projeto da sociedade significa que defendemos a ideia de que Educação se faz ao longo da vida, em todos os espaços e que todos são potencialmente educadores. (SILVA; SILVA; LOPES, 2012, p. 10) A Pedagogia Social, portanto, não está em disputa com a Pedagogia Escolar, elas apenas têm en- foques, perspectivas, prioridades e formas de intervenção diferentes dentro do universo da edu- cação. (SEVERO; MACHADO; RODRIGUES, 2014). Seu grande diferencial é apresentar-se como uma ciência mais intervencionista, imergindo na realidade, nas histórias de vida dos indivíduos, na perspectiva de valorizar, organizar e sistematizar seus conhecimentos múltiplos, experiências e vivências em saber qualificado. Ou seja, um saber que possa ser usado socialmente, um saber que os empodere e os liberte de uma situação de opressão. Nesse sentido, ainda que atue sobre/ com os indivíduos, o objetivo final é sua liberdade e socialização. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola16/223 Na década de 1960, o Educador Paulo Freire, com sua metodologia de alfabetização de adultos, desenvolveu uma proposta pedagógica muito aproximada dessas prerrogativas, ainda que não tenha usado essa nomenclatura para denominar seu trabalho. Por esse motivo, além de ícone da chamada Educação Popular, Freire é também considerado uma das principais referências teóri- co-metodológicas da Pedagogia Social. Na próxima unidade trataremos sobre as diferenças entre a Educação Formal, Educação Não For- mal e Educação Informal, e onde se encaixam a Pedagogia Social e a Educação Popular neste debate. É importante, no momento, destacarmos que a Educação Não Formal se situa no interior da Pedagogia Social, mas não a contempla por inteiro. A Educação Formal também é seu objeto de intervenção, uma vez que tem como prerrogativa influenciar, inclusive, sua perspectiva edu- cacional, tornando-a mais abrangente e integradora (individual e socialmente). Para saber mais A educação popular é uma proposta educacional que valoriza os conhecimentos prévios de seus alunos, e parte deles para a construção de novos saberes; tal propósito é muito parecido com o da Pedagogia So- cial, e na próxima unidade na próxima unidade discutiremos suas afinidades e distanciamentos. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola17/223 Diferentemente do que ocorreu em outros países europeus, por exemplo, aqui no Bra- sil, a prática antecedeu a teoria. Apesar da influência de Paulo Freire em meados dos anos 60, somente nas últimas décadas a Pedagogia Social tem ganhado expressiva visibilidade e sustentação teórica; e essa necessidade urgente de organização, sis- tematização e planejamento emergiu das próprias práticas socioeducativas realiza- das por profissionais que já atuavam em di- ferentes frentes sociais. Desde então, essa área do conhecimento tem elaborado e es- truturado seu referencial, trabalhando no sentido de impedir que suas práxis não se percam em ações amorfas ou meramente assistencialistas. Para saber mais Paulo Freire (1921-1997) foi um dos mais impor- tantes educadores, internacionalmente reconhe- cido. Suas principais contribuições estão relacio- nadas ao caráter político e empoderador de sua ação pedagógica. Tornou-se universalmente re- conhecido por sua metodologia inovadora de al- fabetização de adultos. Para ele, a coparticipação do educando em seu próprio processo educativo era tida como fundamental para sua emancipa- ção e autonomia social. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola18/223 São objetivos da Pedagogia Social: • Legitimar-se enquanto ciência dotada de recursos técnicos e metodológicos, capaz de realizar ações pedagógicas orientadas e intencionais; • Influenciar tanto a Educação Não For- mal, quanto a Educação Formal no sentido de criar um projeto de socie- dade em que a educação não esteja restrita ao âmbito escolar, porque é atemporal, contínua e ininterrupta. Isso significa dizer que a educação é um processo que acontece ao longo da vida, em todos os lugares, espaços, tempos e no âmbito das relações so- ciais; • Contribuir na elaboração de políticas públicas específicas para o reconheci- mento das práticas educativas já exis- tentes, pondo fim ao lugar de margi- nalidade em que essas ações têm sido colocadas, tanto pela legislação, como pela academia; • Contribuir na organização de qualifi- cações profissionais a nível de grad- uação e especialização, dotando seus Link Para uma discussão mais aprofundada, acesse: MACHADO, Evelcy. Pedagogia e a Pedagogia Social: Educação Não Formal. Disponível em: <http://www.boaaula.com.br/iolanda/pro- ducao/me/pubonline/evelcy17art.html>. Acesso em: 30 jul. 2017. http://www.boaaula.com.br/iolanda/producao/me/pubonline/evelcy17art.html http://www.boaaula.com.br/iolanda/producao/me/pubonline/evelcy17art.html Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola19/223 profissionais de subsídios teóricos e práticos para uma efetiva intervenção político-pedagógica, que tenha como finalidade a liberdade e autonomia desses indivíduos. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola20/223 Glossário Práxis: Relacionado à ação, à prática. Experimentação; momento em que a teoria toma contato com a realidade e suas reflexões validam ou aprimoram a teoria. ONG: Organizações Não Governamentais. LDB: Lei de Diretrizes e Bases. Questão reflexão ? para 21/223 Como pudemos perceber, esta unidade trouxe alguns concei- tos fundamentais para embasar a disciplina. Elabore um mini resumo do que vimos, destacando os principais conceitos tra- tados aqui para facilitar seus estudos posteriores. Reflita sobre esses conceitos e procure averiguar suas principais dúvidas para reforçar seus estudos e manter um ótimo aproveitamen- to das unidades que virão a seguir. Não se esqueça de utilizar- -se das bibliografias complementares relacionadas ao final e das indicações oferecidas ao longo deste material teórico. 22/223 Considerações Finais • A Pedagogia Social é uma teoria que organiza a prática da Educação Social. • A Educação Social almeja a educação integral do indivíduo, sem separação entre o mundo da vida e o mundo da escola. • Não há concorrência entre Educação Social e Educação Escolar, bem como não há relação de oposição entre Pedagogia Social e Pedagogia Escolar; a proposta é de complementação e integração entre elas. • A Pedagogia Social tem como principal objetivo garantir um processo edu- cativo democrática e libertador. Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola23/223 Referências MACHADO, Evelcy. Pedagogia e a Pedagogia Social: Educação Não Formal. Disponível em: <http://www.boaaula.com.br/iolanda/producao/me/pubonline/evelcy17art.html>. Acesso em: 30 jul. 2017.MACHADO, Evelcy Monteiro. Pedagogia social no Brasil: políticas, teorias e práticas em con- strução. In: Anais do IX Congresso Nacional de Educação e III Congresso Sul Brasileiro de Psicopedagogia, 2009, Curitiba. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo. php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext>. Acesso em: 02 ago. 2017. PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira e MACHADO, Érico Ribas. A Pedagogia Social na Educação: análise de perspectivas de formação e atuação dos educadores sociais no Brasil. In: II CONGRES- SO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA SOCIAL, 2., 2008, São Paulo. Disponível em: <http://www. proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext>. Acesso em: 27 ago. 2017 SEVERO, José Leonardo Rolim de Lima; MACHADO, Érico Ribas; RODRIGUES, Marli de Fátima. Pedagogia, Pedagogia Social e Educação Social no Brasil: entrecruzamentos, tensões e possib- ilidades. Interfaces Científicas-educação, Aracaju, v. 3, n. 1, p.11-20, 20 out. 2014. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.br/index.php/educacao/article/view/1635>. Acesso em: 01 ago. 2017. http://www.boaaula.com.br/iolanda/producao/me/pubonline/evelcy17art.html http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext. http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext. http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100005&script=sci_arttext https://periodicos.set.edu.br/index.php/educacao/article/view/1635 Unidade 1 • Pedagogia Social – Uma Educação para Além dos Muros da Escola24/223 SILVA, Sheila Agda Ribeiro da, SILVA, Roberto da; LOPES, Roseli Esquerdo. O direito à educação sob a perspectiva da pedagogia social. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA SO- CIAL, 4., 2012, São Paulo. Associação Brasileira de Educadores Sociais. Disponível em: <http:// www.proceedings.scielo.br/pdf/cips/n4v2/32.pdf>. Acesso em 02 ago. 2017. SOUZA NETO, João Clemente de; SILVA, Roberto da; MOURA, Rogério Adolfo (Orgs.). Pedagogia social. São Paulo: Expressão e Arte, 2009. http://www.proceedings.scielo.br/pdf/cips/n4v2/32.pdf http://www.proceedings.scielo.br/pdf/cips/n4v2/32.pdf 25/223 1. Sobre a origem da Pedagogia Social enquanto teoria no Brasil, é possível afirmar que: a) Existe desde o século XVI, sendo retomada apenas atualmente. b) Teve início já no Século XXI e já está amplamente consolidada. c) Ainda não está consolidada, pois os autores não chegam a um consenso sobre o assunto e ainda veem a Pedagogia Escolar como fonte privilegiada de conhecimento. d) É uma teoria relativamente nova e tem Paulo Freire como referencial teórico fundamental no Brasil. e) Teve início no Brasil e depois foi apropriada por países europeus. Questão 1 26/223 2. Sobre Paulo Freire, é correto afirmar que: a) Nada teve a ver com a fundamentação da Pedagogia Social, visto que cuidava da Alfabetiza- ção de Adultos. b) Sua metodologia de trabalho se aproximava muito das propostas defendidas pela Pedagogia Social. c) Estava preocupado em educar as crianças que não iam bem na escola, oferecendo uma edu- cação escolar no contra período. d) Ocupou-se da educação da elite social brasileira. e) Tinha como objetivo uma educação continuísta, ou seja, uma educação de manutenção do status quo. Questão 2 27/223 3. O público-alvo da Pedagogia Social é: a) Exclusivamente os indivíduos que vivem à margem da sociedade, tais como presidiários e moradores de rua. b) Exclusivamente pessoas atendidas pela educação não formal. c) Pessoas atendidas tanto pela educação formal, quanto pela não formal, dando prioridade aos marginalizados socialmente. d) Todas as pessoas interessadas em voltar a estudar para obtenção de um diploma. e) Todas as pessoas em idade escolar. Questão 3 28/223 4. A Educação Social é: a) Uma proposta de educação para o mercado de trabalho. b) Uma perspectiva de educação mais ampla e integral. c) Contrária à educação escolar. d) Uma educação para pessoas carentes. e) Uma educação elitizada. Questão 4 29/223 5. É objetivo da Pedagogia Social: a) Contrapor-se à Pedagogia Escolar. b) Garantir um atendimento assistencial voltado para o cuidado de seu grupo atendido. c) Restringir a educação à esfera escolar. d) Elaborar uma proposta de intervenção pautada na formação profissional do indivíduo. e) Proporcionar uma educação integral e social, com perspectiva emancipatória. Questão 5 30/223 Gabarito 1. Resposta: D. Na década de 1960, o Educador Paulo Frei- re, com sua metodologia de alfabetização de adultos, desenvolveu uma proposta pe- dagógica muito aproximada com as prerro- gativas defendidas pela Pedagogia Social, ainda que não tenha usado essa nomencla- tura para denominar seu trabalho. Por esse motivo, Paulo Freire é considerado uma das principais referências teórico-metodológi- cas da Pedagogia Social. 2. Resposta: B. Na década de 1960, o Educador Paulo Frei- re, com sua metodologia de alfabetização de adultos, desenvolveu uma proposta pe- dagógica muito aproximada com as prerro- gativas defendidas pela Pedagogia Social, ainda que não tenha usado essa nomencla- tura para denominar seu trabalho. Por esse motivo, Paulo Freire é considerado uma das principais referências teórico-metodológi- cas da Pedagogia Social. 3. Resposta: C. É importante esclarecermos que a Educa- ção Social não se contrapõe a Educação Es- colar; ela a amplia, complementa, potencia- liza. Seu intuito é alcançar espaços onde a escola não chega. Por isso seu público alvo prioritário (mas não exclusivo) são os gru- pos marginalizados socialmente, tais como pessoas em situação de rua, crianças e jo- vens de orfanatos, abrigos e albergues, pre- sidiários, etc. 31/223 Gabarito 4. Resposta: B. Educação Social nasce da defesa de ser uma força contra-hegemônica dessa concepção restritiva de educação. Ela defende um pro- jeto mais amplo de educação, que extrapola os muros da escola. Uma educação que está em toda parte, a todo momento, pela vida toda e que acontece nas próprias relações sociais. 5. Resposta: E. Educação integral, integradora e libertado- ra é objetivo final da Pedagogia Social. 32/223 Unidade 2 Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas Objetivos 1. Apresentar as características gerais dos três principais campos educacio- nais: Educação Informal, Educação Formal e Educação Não Formal; 2. Destacar os principais eixos da Educa- ção Social; 3. Discutir sobre alguns desafios teóri- cos e metodológicos a serem supera- dos pela Pedagogia Social. Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas33/223 Introdução Nesta unidade aprofundaremos um pouco mais nossos conhecimentos sobre a Peda- gogia Social, uma área do conhecimento ainda em construção, conforme discutimos na unidade anterior. O primeiro objetivo desta aula será inves- tigar os diferentes campos de atuação da prática educativa – Educação Informal, Educação Formal e Educação Não Formal –, bem como qualificar o caráter pedagógico, o público-alvo e os objetivos esperados em cada um deles. O intuito é que, a partir des- sas diferenciações, possamos localizar as áreas de atuação da Pedagogia Social. Daremos maior ênfase à Educação Não For- mal por compreendermos que, apesar de não ser o único, configura-se em seu prin- cipal foco de intervenção. A proposta é exa- tamente apontar as características centrais da Educação Não Formal que a tornam ob- jeto prioritário da Pedagogia Social. A partir dessa contextualização, faremos alguns apontamentos acerca dos desafios e impasses que essa ciência tem enfrentado nos últimos anos, com relação a sua abor- dagem teórica e prática e quais as possibi- lidades de superação dessas dificuldades. Neste momento, apresentaremos a meto- dologia dialética enquanto um recurso de extrema relevância para atingir os fins (e processos)propostos pela Educação Social. Espera-se que esses conceitos sejam bem compreendidos por vocês, queridos alunos, na perspectiva de que possamos avançar em nossas discussões sobre o tema sem grandes percalços. Preparados? Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas34/223 1. Educação informal, educação formal e educação não formal Nesta unidade, apresentaremos as diferen- ças entre os três principais campos de atu- ação da educação: A Educação Informal, a Educação Formal e a Educação Não Formal; identificaremos suas principais motivações e destacaremos suas aproximações e dife- renças. Essa caracterização é importante para que você, caro aluno, seja capaz de vi- sualizar as esferas de atuação da Pedagogia Social e os motivos pelos quais ela atua em alguns campos específicos e não em outros. Vamos começar pela Educação Informal. 1.1 Educação Informal É o nome dado para os processos espon- tâneos de aquisição de conhecimento que o ser humano acumula durante toda sua trajetória de vida, pelo simples fato de fre- quentar ou ocupar qualquer espaço social. Ela (a educação) é concretizada por meio de todas as relações e interações sociais pelas quais o indivíduo transita diariamente. Ao frequentar sua vizinhança, fazer parte de uma família, praticar um esporte, ir à igre- ja, etc., o sujeito é atravessado por expe- riências e aprendizagens que contribuem para a conformação de seus pensamentos e comportamentos. A ação educativa ocor- re, prioritariamente, de forma involuntá- ria. Ou seja, não há intencionalidade do ato Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas35/223 educativo, apenas o compartilhamento de valores culturais e sociais que são retrans- mitidos e absorvidos em todos os lugares a todo tempo. A inexistência de um espaço específico para que esses conhecimentos se constituam também é uma característica particular da Educação Informal. Não há um local pré- -determinado para esse propósito, assim como não há um mediador, um mentor, um professor que a organize. Ela (a educação) é concretizada na relação com o outro. Não podemos dizer que possui uma finali- dade, já que não é intencional; mas o que podemos afirmar é que promove a sociali- zação dos indivíduos, aproximando-os de acordo com seus gostos, hábitos e costu- mes – organizando-os a partir de suas pre- ferências materiais e subjetivas. São rela- ções de aprendizagem cultural que se dão pela convivência, que criam sentimento de pertencimento e são carregadas de valores. (GOHN, 2006). Esses conhecimentos não são planejados, sistematizados ou categorizados. São con- tinuidades de práticas anteriores, reprodu- zidas através de um processo de livre trans- Para saber mais A não intencionalidade de constituir-se como um espaço pedagógico é, conforme propõe alguns autores, o principal elemento de diferenciação entre a Educação Informal e a Educação Formal e Não Formal. Esse é o principal motivo da Pedago- gia Social não atuar nesse campo. Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas36/223 missão de saberes. São fluxos de conheci- mentos permanentes que atuam no âmbito da prática e das emoções, não perpassam a teoria. Não há, portanto, expectativas por resultados, já que o planejamento ine- xiste. Essas vivências constituem o indiví- duo e orientam sua forma de ser e estar no mundo. 1.2 Educação Formal A Educação Formal é o campo de atuação que nos é mais familiar. Quando pensamos na palavra educação, logo somos remetidos à imagens e experiências em sala de aula. Ela é a única modalidade obrigatória e le- galmente legitimada. Com relação ao espaço geográfico onde a Educação Formal acontece – as escolas – podemos afirmar que são ambientes de funcionamento burocratizados, onde pre- valecem normas e padrões comportamen- tais estipulados previamente. Essas regras regem o funcionamento da escola e visam garantir a boa convivência de todos seus in- tegrantes – o que nem sempre acontece. Os agentes educadores aqui são os professores, constituído por profissionais especializados que têm a responsabilidade de propagar e intermediar o conhecimento dos alunos. No Brasil, o currículo é previamente prepa- rado e organizado e deve ser seguido em todo o território nacional. Através de Dire- trizes específicas se estabelece a seleção dos conteúdos teóricos que serão utilizados Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas37/223 e a sistematização sequencial das ativida- des, através da divisão em séries/idades. É uma modalidade do ensino que entende o aprendizado como um conjunto de conheci- mentos lineares que serão gradativamente assimilados por seus alunos de acordo com sua idade, ou seja, sua capacidade intelec- tual biológica. Essas regulamentações devem ser seguidas em âmbito nacional, independentemente da realidade local, das características ou in- teresses da população. Com essa metodo- logia de trabalho o Estado garante um sis- tema de acompanhamento mais eficaz, na medida em que torna possível uma avalia- ção uniformizada para mensurar o aprendi- zado. Isso também permite que seja criado um sistema de ranqueamento e hierarqui- zação entre os diferentes estados, cidades, escolas e alunos, com relação aos níveis de conhecimento escolar. Essa homogeneiza- ção do ensino permite, também, que estu- dantes de diferentes espaços geográficos possam mudar de escola sem interrupção ou prejuízo na sua aprendizagem. Ainda que no plano discursivo e legal a perspectiva da educação seja bastante am- pla, como podemos constatar na LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e PNE (Plano Nacional de Educação), por exemplo; nas relações práti- cas, ela assume uma finalidade, prioritaria- mente, conteudista. Desenvolver habilida- des manuais e intelectuais que possibilitem a formação de um indivíduo ativo e pro- dutivo na esfera social. A participação do educando, tanto na seleção das temáticas Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas38/223 abordadas, quanto no processo pedagógico ainda é bastante restritiva. Espera-se que ao final da vida acadêmica, o aluno tenha tido uma efetiva aprendizagem dos assun- tos abordados, o que será referendado por um certificado de conclusão nacionalmente reconhecido, que garante sua continuidade de estudos em outros níveis e/ou adentrar no mercado de trabalho. 1.3 Educação Não Formal Existem várias definições para essa moda- lidade de educação. Não há unanimidade com relação às suas atribuições, nem sobre os campos e atividades que nela estão in- seridos. Faremos aqui uma abordagem bas- tante ampla, reiterando que ela é o principal – mas não único – ambiente de atuação da Pedagogia Social. Geralmente essa nomenclatura é utilizada para contrapor-se a educação escolar, ou seja, a educação que ocorre dentro das ins- tituições escolares. Mas tal definição tam- bém não é precisa, visto que, em muitos ca- sos, atividades descritas como de Educação Não Formal desenvolvem práticas de esco- larização e complementação dos aprendi- zados escolares; atuando, inclusive, den- tro das próprias instituições escolares, no seu contraturno. A Educação Não Formal também abarca práticas pedagógicas mais centradas em ações compensatórias e as- sistencialistas, que atuam diretamente nas necessidades imediatas dos grupos e indiví- duos, tais como questões relacionadas à ali- Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas39/223 mentação, moradia, desemprego, acompa- nhamento familiar, entre outras. Ainda que reconheçamos a importância dessas ações sociais, não nos aprofundaremos nessa te- mática por compreendermos que não é tema central da Pedagogia Social, mas sim, de outras ciências, tais como a Assistência So- cial, a saúde, a psicologia, etc. Assim como a Educação Formal, a característica principal da Educação Não Formal é sua intencionali- dade. Aqui, não necessariamente o proces- so pedagógico ocorre no ambiente escolar. Ele geralmenteacontece em espaços pre- viamente planejados para receber grupos, com o intuito de estabelecer interações e relações entre os indivíduos. A participação é voluntária (salvo exceções) e ela se dá pela perspectiva dos integrantes de aprender e trocar experiências. Os mediadores desse processo são chamados de educadores que, em sua maioria, são funcionários pouco (ou nada) qualificados profissionalmente. São geralmente oficineiros, ou pessoas que te- nham know-how em algum conhecimento técnico e o utilizam para desenvolver ativi- dades dentro das organizações sociais. Cabe uma ressalva neste sentido: há uma defesa bastante ampla por parte de vários intelectuais para que essas pessoas sejam reconhecidas enquanto profissionais, pois muitas ainda atuam de forma voluntária, ou com remunerações bastante precárias. No interior da Pedagogia Social, principalmen- te, muitos autores defendem que eles (os educadores sociais) possuam uma escolari- zação mínima e específica (a nível médio e/ Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas40/223 ou técnico), para que as práticas não se per- cam na mera reprodução mecânica de uma atividade, sem qualquer tipo de reflexão crí- tica da realidade. Alguns outros, entretanto, defendem que muitos profissionais já têm uma prática crítica e transformadora mes- mo sem a formação técnica, e, portanto, já devem ser reconhecidos como educadores sociais. Enfim, esses embates nos acompa- nharão durante toda a trajetória de nosso curso, demonstrando como essas discus- sões ainda estão vivas dentro da Educação Social e, mais especificamente, da Pedago- gia Social. Com relação à sua finalidade, podemos afir- mar que são múltiplas, indo desde o apren- dizado específico de uma atividade laboral, passando pelo reforço dos aprendizados escolares, até a construção de um processo coletivo que permita aos seus participantes uma leitura crítica do mundo em que vive, de sua própria realidade e de si mesmo; com a perspectiva de se auto fortalecer e pro- piciar o fortalecimento de seus pares para encontrar caminhos pessoais e sociais que antes desconhecia. A finalidade do trabalho desenvolvido, portanto, vai depender das diretrizes e objetivos de cada instituição e das pessoas que a compõem. O conhecimento que ali circula, na gran- de maioria das vezes, não é sistematizado e organizado em categorias. A ideia é que ele seja produzido coletivamente, durante o percurso, e não a priori. A coparticipação no processo pedagógico favorece a constru- ção de um sentimento de pertencimento de Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas41/223 seus integrantes, criando laços emocionais. Entretanto, sabemos que em muitos casos essas práticas não se efetivam, principal- mente porque muitos profissionais que aqui atuam são oriundos da educação escolar e, por falta de experiência em outras práticas, a mantém como referência didática e meto- dológica. A descrição dessas características da Edu- cação Não Formal é suficiente para que possamos compreender porque esse campo educacional habita a centralidade do traba- lho da Pedagogia Social. Muito mais do que conteúdos pragmáticos e conhecimentos historicamente acumulados, ambas com- partilham de valores, tais como: a democra- cia, a liberdade, a justiça, os direitos sociais e as diferenças culturais. (GOHN, 2006). Evidentemente, o que aqui apresentamos são apenas tipos ideais de modelos educa- tivos, ou seja, atributos centrais e generali- zados de cada um desses campos de atua- ção pedagógica. Sabemos, no entanto, que existe uma infinidade de exemplos de insti- tuições que não se encaixam de forma exata em algumas dessas descrições. Destacamos os elementos centrais e mais recorrentes de Link GOHN, Maria da Glória, 2006. “Educação Não- -Formal na pedagogia social”. In: I Congresso In- ternacional de Pedagogia Social, 1., 2006. Anais eletrônicos. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, Disponível em: <http://www. pro- ceedings.scielo.br>. Acesso em: 01 Ago. 2017. http://www.proceedings.scielo.br/ http://www.proceedings.scielo.br/ Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas42/223 cada uma delas para que possamos com- preender suas interações e ressonâncias. 2. Eixos da educação social Já destacamos o porquê da Educação Não Escolar ser a menina dos olhos da Pedagogia Social. Agora vamos mergulhar mais pro- fundamente nos princípios que norteiam as ações da Educação Social. Lembrando que, quando falamos em Educação Social auto- maticamente estamos falando do trabalho desenvolvido pela Pedagogia Social. Não podemos nos esquecer que a Pedagogia So- cial é a ação materializadora da Educação Social, é ela que articula a intervenção no objeto. Exatamente a mesma relação que existe entre a Pedagogia Escolar e a Educa- ção Escolar. Podemos destacar como pilares da Educação Social: • DIMENSÃO SOCIAL DO SUJEITO Conforme discutimos em outras ocasiões, o educando deve ser compreendido, anali- sado, amparado e trabalhado como um ser social. Ainda que diga respeito a um indiví- duo socialmente marginalizado, nenhuma pessoa está à margem das relações sociais. Não há como tomá-lo como um objeto des- colado da comunidade onde vive, frequen- ta, dos grupos que o circundam e das in- terações que estabeleceu ao longo de sua vida. Todo ser humano, sem exceção, é um ser social e deve dessa forma ser conside- rado. Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas43/223 • EDUCAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO A finalidade máxima da Educação Social é a emancipação do sujeito. Emancipar-se sig- nifica tornar-se livre e independente. Essa libertação, no entanto, não pode ser vista como uma condição individual. Como par- timos do pressuposto que todo ser humano é um ser social, obviamente ser livre e in- dependente refere-se ao seu direito social. Na prática, significa capacitar o sujeito para que ele seja socialmente ativo, dotá-lo de condições para que ele seja protagonista de sua própria vida. Em outras palavras, signi- fica garantir que ele seja portador de iguais condições políticas, sociais e jurídicas como todos os outros sujeitos. É importante frisar que, ainda que seja uma preocupação constante adotada princi- palmente com os grupos marginalizados, a pretensão da Educação Social é a de que esses direitos e essa defesa pela autonomia esteja em todos os âmbitos educacionais e de forma permanente, seja no campo da Educação Formal ou Não Formal. • EDUCAÇÃO SOCIAL E ASSITENCIALIS- MO Uma das principais características que a Educação Social se propõe a desconstruir é sua relação direta com a prática assis- tencialista. Já destacamos que esse tipo de ação intervencionista é extremamente ne- cessária e fundamental na atuação com esse público, mas não é o enfoque da Edu- cação Social como ciência. Essas medidas são estratégias usadas por outros campos científicos, tais como a Assistência Social, o Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas44/223 Serviço Social, alguns ramos da psicologia e das áreas da saúde. A Educação Social adota uma postura mais politizadora e empoderadora. Ela atua mui- to mais na esfera das subjetividades, crian- do condições para que o sujeito se fortaleça com ideias, conhecimentos, saberes e expe- riências. Sua função, inclusive, pretende ser mais preventiva do que reparadora. 3. Pedagogia social: impasses, desafios e perspectivas Vamos agora tratar sobre algumas adver- sidades enfrentadas pela Pedagogia Social no que se refere à sua prática metodológica. Lembramos, no entanto, que essa aborda- gem sobre os desafios a serem enfrentadas estão sendo nesta unidade apenas introdu- zidos. Nos debruçaremos sobre essa temá- tica durante toda a trajetória do curso, em várias outras ocasiões. Vamos começar? Se pudéssemos resumir a prática da Peda- gogia Social, seguramente apontaríamos duas características: 1. Ela atua na formação integral do indi- víduo,mas seu foco é sua socialização; 2. Esse objetivo só faz sentido se o pro- cesso educativo for democrático e co- letivo, isso é, se o sujeito for cúmplice de sua aprendizagem. É sobre esses dois princípios que vamos dia- logar agora. Existe um risco muito sério e iminente de que essas instituições educacionais não Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas45/223 formais sejam indevidamente utilizadas e acabem por se configurar em territórios de manipulação política e/ou massificação de ideias. O que estamos dizendo é que, em muitas ocasiões, a prática do educador so- cial se confunde com uma militância polí- tica, e a instituição passa a funcionar como ambiente de imposição de ideais. Muitas vezes, essas estratégias de convencimen- to soam falsamente como reflexões cole- tivas, mas não é o que de fato ocorre. Isso não significa dizer que os educadores de- vam ser isentos politicamente ou não pos- sam exprimir suas convicções a respeito de algum assunto político e social. É necessá- rio, apenas, que o educador saiba apresen- tar suas ideias como elas de fato são: ideias. Nossas ideologias influenciam diretamente nas nossas ações e pensamentos. O que o educador deve atentar-se é para não fazer com que seus princípios prevaleçam ou se imponham aos demais. Isso pode acontecer, principalmente, devi- do ao caráter do público alvo atendido, ge- ralmente pessoas que têm problemas de autodesvalorização e falta de confiança em seus conhecimentos e reflexões. Atrelado a isso, temos ainda uma predominância de profissionais desqualificados atuando nes- sas áreas. Esses fatores são a condição per- feita para que uma prática antidemocrática se estabeleça. É fundamental que a Educação Social se preocupe em desconstruir relações de hie- rarquia que fatalmente serão estabelecidas em um primeiro momento. Obviamente, Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas46/223 educadores e educandos ocupam lugares diferentes no processo educativo, mas ser diferente não significa ser desigual. Se o educando estiver alienado de seu processo educativo, toda finalidade da Educação So- cial se perde. É o elemento de troca que o enriquece, é a via de mão dupla. Para tanto, o educador social deve abrir mão da relação verticalizada e construir saberes e conheci- mentos a partir de relações mais horizon- tais, sem vaidades, sem hierarquia. A proposta de trabalho da Pedagogia Social é tornar visível as regras do jogo social, para que o educando possa adotar uma percep- ção mais crítica da própria realidade. Mas é também conhecer as regras do jogo social a partir do ponto de vista do educando, de sua realidade vivida, de suas experiências, do seu conhecimento e trajetórias; ponto de vista esse que, seguramente o educador desconhece. E é nesse movimento dialético que os saberes são construídos. No cami- nho, e não no fim. Não estabelecidos a prio- ri, mas coletivamente. “O processo de formação teórico-prático deve levar seus protagonistas a adquirir a Para saber mais Existem diferentes concepções sobre o conceito de dialética. Adotaremos aqui a definição de Karl Marx (1818 – 1883), segundo a qual o mundo só pode ser compreendido a partir da contraposição de ideias para se chegar a um resultado: uma tese discute com uma antítese e juntas compõe uma síntese (tese-antítese-síntese). Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas47/223 capacidade de pensar por si mesmos, as- sumindo convicções próprias, analisando os acontecimentos com categorias teóri- cas para a interpretação e a transformação da realidade em que vivem”. (GRACIANI, 2006, p. 4) Adotar a dialética enquanto metodologia pode ser um caminho relevante para impe- dir ou minimizar práticas pedagogizantes e não pedagógicas. A proposta da metodolo- gia dialética é atuar sob a tríade: ação – re- flexão – ação. O que isso significa? Significa dizer que, tanto educador quanto educan- do devem partir das ações práticas, ou seja, da realidade concreta, elevar esses dados empíricos ao nível da reflexão, pensar sobre eles e organizá-los conceitualmente, para então ser capaz de retornar à realidade e atuar sobre ela, transformando-a, compre- endendo-a, etc. Link A ideia de práticas educacionais pedagogizantes referem-se a práticas pedagógicas disciplina- doras e autoritárias. Para compreender melhor o conceito, acesse: AQUINO, Julio Groppa. Da “cri- se” da educação formal ao fulgor dos processos de governamentalização educacional. In: Anais do XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, Campinas: UNICAMP, 2012. Disponível em: <http://www.infoteca.inf.br/ endipe/smarty/templates/arquivos_tem- plate/upload_arquivos/acervo/docs/0027s. pdf>. Acesso em: 30 Jul. 2017. http://www.infoteca.inf.br/endipe/smarty/templates/arquivos_template/upload_arquivos/acervo/docs/0027s.pdf http://www.infoteca.inf.br/endipe/smarty/templates/arquivos_template/upload_arquivos/acervo/docs/0027s.pdf http://www.infoteca.inf.br/endipe/smarty/templates/arquivos_template/upload_arquivos/acervo/docs/0027s.pdf http://www.infoteca.inf.br/endipe/smarty/templates/arquivos_template/upload_arquivos/acervo/docs/0027s.pdf Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas48/223 É esse exercício crítico do pensar sobre si mesmo e sobre a realidade que o cerca que propicia o desenvolvimento de uma postura mais ativa e de resistência (individual e socialmente), tornan- do-os educando-sujeitos de sua própria história. Para saber mais Karl Marx estava preocupado em transformar o mundo e não apenas interpretá-lo, como fizeram muitos filósofos. A proposta da dialética enquanto metodologia, para Marx, é uma forma de pensar a realidade e agir sobre ela. Ao partir da realidade material, podemos desencadear um processo reflexivo que nos permite conceituar, dialogar com a realidade e, a partir desses conflitos, criar uma síntese, ou seja, um rearranjo de nossos pensamentos e práticas. Vale muito a pena se aprofundar nessa metodologia. Link Por ora, indicamos a leitura de uma breve reflexão bem esclarecedora do tema. SALATIEL, José Renato. Marx - Teoria da Dialética: Contribuição original à filosofia de Hegel. 2008. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/marx---teoria-da-dialetica- -contribuicao-original-a-filosofia-de-hegel.htm>. Acesso em: 05 Ago. 2017. https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/marx---teoria-da-dialetica-contribuicao-original-a-filosofia-de-hegel.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/marx---teoria-da-dialetica-contribuicao-original-a-filosofia-de-hegel.htm Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas49/223 Glossário Metodologia dialética: estratégia de reflexão sobre a própria realidade. Método de análise da realidade, que parte dela (a realidade concreta) e passa pela abstração (pensamento crítico) para criar estratégias de ação (reorganização da realidade concreta). Diretrizes Curriculares Nacionais: referem-se a um conjunto de normas, fundamentos, princí- pios e procedimentos que regem a Educação Básica. LDB: Lei de Diretrizes e Bases PNE: Plano Nacional de Educação A priori: pressuposto, que é definido de antemão. Tipos Ideais: Geralmente associado a Max Weber, esse termo é utilizado para referir-se a mo- delos ideais, que não necessariamente correspondem à realidade, mas auxiliam na análise do objeto estudado. Questão reflexão ? para 50/223 Discutimos como a metodologia dialética se apresen- ta como um instrumento importante de ação dentro da Educação Social. Imagine-se como um Pedagogo Social já em exercício e pense de que forma você aplicaria essa metodologia com seu grupo de trabalho. Descreva seu público alvo, reflita e narre de que forma seria sua pri- meira abordagem com esse grupo a partir dessa impor- tante ferramenta. Boa sorte! 51/223 Considerações Finais • A prática educacional pode ser dividida em: Educação Informal,Educação Formal e Educação Não Formal. • A Pedagogia Social atua tanto na educação Formal, como na Não Formal, sendo essa última sua principal área de atuação. • São eixos fundamentais da Educação Social: tomar o sujeito como ser so- cial; Educar para a emancipação e Ultrapassar o estigma assistencialista. • A metodologia dialética se constitui uma importante ferramenta teórica e prática para garantir um processo pedagógico democrático e emancipató- rio. Unidade 2 • Práticas Educacionais: Desafios e Perspectivas52/223 Referências DIAZ, Andrés Soriano (2006). “Uma aproximação à pedagogia-educação social”. In Revista Lusó- fona de Educação. Lisboa, no.7, pp. 91-104. GOHN, Maria da Glória, 2006. “Educação Não-Formal na pedagogia social”. In: I Congresso In- ternacional de Pedagogia Social, 1., 2006. Anais eletrônicos. Faculdade de Educação, Univer- sidade de São Paulo, Disponível em: <http://www. proceedings.scielo.br>. Acesso em: 01 Ago. 2017. GRACIANI, Maria Stela Santos. Pedagogia social: impasses, desafios e perspectivas em con- strução. In: I Congresso Internacional de Pedagogia Social, 1, 2006, Anais eletrônicos. Facul- dade de Educação, Universidade de São Paulo, Disponível em: <http://www.proceedings.scielo. br> Acesso em: 04 Ago. 2017. PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira. Educação Popular, Educação Não Formal e Pedagogia So- cial: Análise de conceitos e implicações para a Educação Brasileira e Formação de professores. Disponível em <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2103_1034.pdf>. Acesso em: 05 Ago. 2017. http://www. proceedings.scielo.br http://www.proceedings.scielo.br/ http://www.proceedings.scielo.br/ http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2103_1034.pdf 53/223 1. Com relação a Educação Informal, podemos dizer que: a) Tem uma finalidade muito clara e bem delimitada. b) Sua principal característica é a intencionalidade do processo pedagógico. c) Sua principal característica é a espontaneidade do processo pedagógico. d) É realizado prioritariamente nas escolas. e) É obrigatório por lei. Questão 1 54/223 2. A Educação Formal é: Questão 2 a) Obrigatória por lei. b) Acontece em todos os ambientes sociais. c) É feita na relação com pais, amigos e comunidade. d) Preocupa-se com a ressocialização do indivíduo. e) Sua frequência é voluntária. 55/223 3. A Educação Não Formal se aproxima da Educação Social porque: Questão 3 a) Tem como prioridade a certificação e o mercado de trabalho. b) A formação cultural e o acúmulo do conhecimento do indivíduo. c) Assistir às necessidades básicas dos marginalizados socialmente. d) Prioriza o conhecimento científico e conteúdo escolar. e) Tem como objetivo tornar o indivíduo um sujeito político e social. 56/223 4. Por emancipação, a pedagogia social entende: Questão 4 a) A liberdade individual das pessoas. b) A independência e liberdade dos setores excluídos. c) A liberdade e autonomia da parte escolarizada e alfabetizada da população. d) A liberdade e autonomia social e política de todos os sujeitos, sem exceção. e) A necessidade de auxílio assistencial para os sujeitos socialmente excluídos. 57/223 5. O método dialético pressupõe que: Questão 5 a) Os pedagogos sociais partam de suas teorias para apoiar e fortalecer os educandos. b) Um aprendizado de via de mão dupla, onde o conhecimento se constrói na troca, na circula- ção de experiências e saberes. c) O educando saiba que ocupa um lugar hierárquico diferente do educador e essa hierarquia deve ser respeitada para que o conhecimento aconteça. d) Os pedagogos sociais são como professores escolares, que estão ali para repassar seus co- nhecimentos e enriquecer seus educandos com saberes específicos. e) Os pedagogos sociais auxiliem os educandos com suas necessidades básicas, no intuito de que eles possam ser reincorporados no mercado de trabalho. 58/223 Gabarito 1. Resposta: C. É o nome dado para os processos espon- tâneos de aquisição de conhecimento que o ser humano acumula durante toda sua trajetória de vida, pelo simples fato de fre- quentar ou ocupar qualquer espaço social. 2. Resposta: A. A Educação Formal é o campo de atuação que nos é mais familiar. Quando pensamos na palavra educação, logo somos remetidos à imagens e experiências em sala de aula. Ela é a única modalidade obrigatória e le- galmente legitimada. 3. Resposta: E. Ao longo do texto é possível perceber várias correlações entre elas. Destacamos: A des- crição dessas características todas da Edu- cação Não Formal é suficiente para que pos- samos compreender por que esse campo educacional habita a centralidade do traba- lho da Pedagogia Social. Muito mais do que conteúdos pragmáticos e conhecimentos historicamente acumulados, ambas com- partilham de valores, tais como: a democra- cia, a liberdade, a justiça, os direitos sociais e as diferenças culturais. (GOHN, 2006). 4. Resposta: D. É importante frisar que, ainda que seja uma preocupação constante adotada princi- 59/223 Gabarito palmente com os grupos marginalizados, a pretensão da Educação Social é a de que esses direitos e essa defesa pela autonomia estejam em todos os âmbitos educacionais e de forma permanente, seja no campo da Educação Formal ou Não Formal. 5. Resposta: B. É fundamental que a Educação Social se preocupe em desconstruir relações de hie- rarquia que fatalmente serão estabelecidas em um primeiro momento. Obviamente, educadores e educandos ocupam lugares diferentes no processo educativo, mas ser diferente não significa ser desigual. Se o educando estiver alienado de seu processo educativo, toda finalidade da Educação So- cial se perde. É o elemento de troca que o enriquece, é a via de mão dupla. Para tanto, o educador social deve abrir mão da relação verticalizada e construir saberes e conheci- mentos a partir de relações mais horizon- tais, sem vaidades, sem hierarquia. 60/223 Unidade 3 Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis Objetivos 1. Apresentar a trajetória histórica de Paulo Freire. 2. Discutir as propostas pedagógicas da Educação Popular. 3. Evidenciar as contribuições da Educa- ção Popular para a Pedagogia Social. 4. Propor uma desconstrução dos cam- pos educacionais, a fim de integrá-los em uma Pedagogia verdadeiramente social e emancipadora. Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis61/223 Introdução Na unidade anterior procuramos sistema- tizar os campos educacionais e enquadrá- -los em algumas estruturas teóricas histo- ricamente construídas. Nesta aula, nosso objetivo será no sentido contrário: vamos desconstruir essas fronteiras teóricas que os separam. Explico: o objetivo central da Pedagogia Social, como vimos, é a transfor- mação social, a partir da emancipação do indivíduo. Se ambicionamos uma mudança na realidade, talvez não faça mais sentido pensarmos a educação dentro dessas caixi- nhas, não é mesmo? E se uma nova forma de perceber a educação for possível? Uma educação para a utopia! Não é essa nossa proposta enquanto educadores sociais? Por esse motivo, o esforço que faremos ao longo desta unidade será o de pensar “fora da caixinha”, ou seja, fora das amarras con- vencionais. Para tanto, vamos conhecer um pouco mais da história de Paulo Freire e onde sua história se cruza com a Pedagogia Social. Discutiremos sua prática dentro da Educação Popular e fora dela, e suas ações enquanto Secretário da Educação do Muni- cípio de São Paulo (1989-1991) durante o mandato de Luiza Erundina (PT). Ao discutirmos as contribuições da peda- gogia freiriana à Pedagogia Social será pos- sível vislumbrar de que maneira essa última pode ser pensada enquanto uma possibili- dade de construção de um novo paradigma do modelo educacional vigente. Um modelo que entenda a educação de forma mais in- tegral e social, capaz de acontecer em to- das as relações e por toda nossa vida; onde Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social:Diálogos Possíveis62/223 as fragmentações entre Informal, Formal e Não Formal não fazem mais sentido. 1. Paulo Freire e a educação po- pular Conforme destacamos em outras ocasiões, são inúmeras as teorias sobre o surgimento da Pedagogia Social no Brasil. Alguns auto- res afirmam que ela teve origem no início do século XX, quando esteve atrelada à Escola Nova. (MACHADO, 2012). Outros defendem que ela aparece como resultante da Educa- ção Popular, na efervescência questionado- ra dos anos 1970. Alguns ainda consideram que a Pedagogia Social só pode ser assim considerada a partir dos anos 2000, quando se estruturou minimamente como uma área científica. Independentemente de sua ori- gem e para além das nomenclaturas classi- ficatórias, o que de fato nos interessa é sua estreita relação com a Pedagogia Freiriana. Para compreendermos sobre o que trata essa pedagogia, vamos conhecer melhor seu idealizador: Paulo Freire foi o educa- Para saber mais O Movimento Escola Nova surge no Brasil no final do século XIX, mas ganha notoriedade a partir da década de 1930. Defendiam a universalização da escola pública, laica e gratuita, além de uma maior autonomia dos estudantes. Foram defensores desse movimento personalidades como: Anísio Teixeira, Cecília Meireles e Fernando de Azevedo; além de Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes. Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis63/223 dor brasileiro mais influente do século, com reconhecimento nacional e internacional. Nasceu em 1921, em Recife em uma família de classe média, mas conheceu as dificul- dades econômicas impostas pela crise de 1929. Já na década de 1940, ingressou no curso de Direito e continuou dando aulas de Português na escola em que se formou. Preocupado com a quantidade de adultos analfabetos na zona rural do Nordeste e seu consequente estado de exclusão, Pau- lo Freire desenvolveu uma metodologia de alfabetização inovadora. Ao invés de utili- zar as cartilhas prontas, que apelavam para a memorização de vogais e consoantes e partiam da junção das sílabas para formar palavras; ele utilizava palavras que eram cotidianamente usadas no contexto social destas pessoas. A ideia era ir ampliando o vocabulário com termos que fizessem sen- tido para aquela população, que contribu- íssem diretamente para sua realidade. Di- ferente de uma criança que, muitas vezes, tem seu primeiro contato com experiências linguísticas, esses adultos já possuíam um repertório de saberes e memórias que deve- Para saber mais Também conhecida como a Grande Depressão, a Crise de 1929, caracterizou-se por uma das pio- res recessões econômicas mundiais, ocasionadas pela queda drástica de ações na bolsa de valores. Esse período foi marcado por altas taxas de de- semprego, exclusão social, miséria e até suicídios. Apesar de ter sido iniciado nos EUA, teve reper- cussão no mundo inteiro. Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis64/223 ria ser considerado para o desenvolvimento de seu processo de alfabetização. Essa me- todologia foi apenas a fagulha inicial para uma proposta educativa que se tornaria muito mais ampla e complexa nas décadas seguintes. A repercussão de seu trabalho começa a se ampliar entre a década de 1950 e 1960, após a implementação de um projeto de al- fabetização de mais de 300 adultos em 45 dias, no Rio Grande do Norte. Devido ao seu engajamento político, foi perseguido du- rante a ditadura militar brasileira e se exilou no Chile por alguns anos – onde escreveu sua obra principal: “Pedagogia do Oprimi- do” em 1968. Na década de 1970 desenvolveu vários trabalhos de educação em diversos paí- ses africanos, como por exemplo, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia, etc. Já nos anos de 1980, com a redemocratiza- ção, retornou ao Brasil e atuou ativamente na política. Foi nomeado Secretário da Edu- cação no município de São Paulo, durante a prefeitura de Luiza Erundina (PT), atuando entre os anos de 1989 a 1991. Essa experi- Link Para conhecer um pouco mais sobre Paulo Freire e sua metodologia de trabalho, assista a esse ví- deo: DOCUMENTÁRIO Paulo Freire Contemporâ- neo. Si: Tv Escola, 2015. P&B. Disponível em: <ht- tps://www.youtube.com/watch?v=5y9KM- q6G8l8>. Acesso em: 05 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8 https://www.youtube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8 https://www.youtube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8 Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis65/223 ência foi fundamental para a aproximação entre sociedade civil e Estado, com propos- tas de parcerias e implementação de polí- ticas públicas significativas para o sistema educacional. Grande parte de sua obra foi nomeada de Educação Popular. Mas sua influência foi muito além, contribuiu de forma expressi- va em diversos campos educacionais e so- ciais. Por toda sua trajetória, Paulo Freire se tornou referência mundial, não só devido ao seu método de alfabetização, mas, prin- cipalmente, em decorrência das suas con- cepções pedagógicas libertadoras e eman- cipatórias. Com a finalidade exclusivamente analítica, utilizaremos a nomenclatura de Educação Popular para desenhar algumas características da proposta pedagógica desse importante educador. 1.1 Contribuições da Educação Popular para a Pedagogia Social O conceito de Educação Popular é ante- rior a Paulo Freire. De acordo com Macha- do (2012) sua aparição remete ao início do século XX e esteve atrelada ao Movimento da Escola Nova. Nesse momento, o concei- to de Educação Popular tinha como objetivo o esclarecimento das massas, realizado por uma elite intelectual. Na década de 1960, já sob influência de Paulo Freire, houve uma ressignificação desse conceito. Nascia aqui a defesa de um processo de educação mais democrático, onde a participação da popu- lação atendida era incentivada e colocada como ponto de partida para o fazer educa- cional. Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis66/223 Fazem parte do repertório teórico de Paulo Freire filósofos diversos, como Hegel, Luká- cs, Sartre, Gramsci e Marx. O referencial marxista é bastante presente em toda a tra- jetória teórica e prática desse pedagogo. Ao tratar da relação entre opressor e oprimido social, Paulo Freire deixa claro que está dia- logando com o conceito de Luta de Classes, traçando um paralelo sobre a forma como essas desigualdades sociais, econômicas respingam no interior da educação, pro- movendo um abismo de desigualdades. A pretensão de influenciar diretamente nas mudanças sociais estruturais, no sentido de diminuir as desigualdades é também he- rança do marxismo, mais especificamen- te de Antonio Gramsci, que tinha o campo educacional como um dos pontos centrais de sua obra. Paulo Freire parte do pressuposto de que toda educação é necessariamente um ato político. Ainda que algumas teorias edu- Para saber mais O conceito de Luta de Classes criado por Karl Marx, refere-se à tensão permanente existente entre grupos de classes econômicas sociais dife- rentes. De acordo com Marx, esses conflitos são originados por interesses antagônicos das dife- rentes classes, no que se refere às questões eco- nômicas, políticas e sociais. Antonio Gramsci (1891-1937) foi um filósofo ita- liano, fortemente influenciado pela teoria marxis- ta e um dos autores mais relevantes a tratar sobre a temática da educação. Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis67/223 cacionais se apresentem como neutras ou puramente científicas, elas mascaram sua intenção de continuidade e manutenção do status quo. Essa situação de permanência beneficia a classe social mais privilegiada, já que é ela quem dita, organiza e hierarquiza os saberes que serão ensinados nas insti- tuições educacionais. As investidas dos se- tores privilegiados para a continuidade das relações de poder, no entanto, nem sempre se apresentam em embates explícitos;po- dem ocorrer através de atos de omissão, negligência, alienação ou passividade, por exemplo. O não reconhecimento do currícu- lo escolar como um currículo que tem uma intencionalidade política, é, em si, um ato político. Não há neutralidade na educação, toda proposta pedagógica implica valores e princípios que ambicionam um modo de ver o mundo e um projeto de sociedade especí- fico. Parece evidente afirmarmos que a pe- dagogia tradicional e hegemônica operante no Brasil não privilegia mudanças sociais. Nesse sentido, a Educação Popular traz al- gumas características inovadoras quando comparada às tradições pedagógicas, den- tre as quais destacamos: • Teorizar a prática na perspectiva de transformá-la. • Os sujeitos devem ser protagonistas de seu processo educativo. • Reconhecimento dos saberes popula- res enquanto saberes legítimos. • Método de ensino que parte da reali- dade dos sujeitos. Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis68/223 • Reflexão crítica sobre a realidade. • Ênfase nos processos e não nos resul- tados. • Educação enquanto exercício da de- mocracia, métodos participativos, dialógicos e críticos. • Qualquer espaço pode ser educativo. • Educação enquanto produção de co- nhecimento e não como transmissão de conteúdos. • Transposição da fronteira entre for- mal e não formal, a educação é social e, necessariamente, um ato político. • A utopia é o que move a educação – educação para a transformação. Todas essas características se configuraram em importantes contribuições freirianas para a organização da Pedagogia Social. Se- gundo Machado (2012), a grande diferença entre Educação Popular e Pedagogia Social, além da sua origem e ressignificações atu- ais, é a pretensão da segunda em se esta- belecer como uma área do conhecimento, buscando reconhecimento acadêmico e le- gitimidade institucional; na perspectiva de influenciar políticas públicas e garantir for- mação profissional para seus educadores. 1.2. Desconstruindo barreiras conceituais Para Gadotti (2012, p. 25), “a Pedagogia Social caracteriza-se como um projeto de Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis69/223 transformação política e social, visando ao fim da exclusão e da desigualdade”. Nes- se sentido, ela pode ser considerada uma “Pedagogia da Práxis”, e o conceito de prá- xis, como discutimos anteriormente, está relacionado à ideia de ação. Na perspecti- va marxista, ela se constitui em uma ação transformadora, e como dialoga, a todo momento, com a prática, é uma ação que, transforma e é transformada a todo tem- po, acompanhando a mudança que ajudou a promover, se auto questionando e se auto reformulando a partir dessa nova realida- de. Em outras palavras: partimos da reali- dade, para refletir sobre ela e agir sobre ela. No momento em que agimos sobre ela e a transformamos, mudamos nosso ponto de partida: a “nova” realidade; sobre a qual re- fletiremos para, novamente, transformá-la, em um movimento contínuo e ininterrupto. Reflexão e ação são complementares, não faz sentido um sem o outro. A consciência de si e do mundo ao seu redor contribui para a liberdade e para uma atu- ação social mais efetiva. Ao compreender- -se como protagonistas, os sujeitos adotam outras posturas na vida coletiva. O fato da Link Para uma melhor compreensão sobre o concei- to, acesse: GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Prá- xis. Disponível em: <http://gadotti.org.br:8080/ xmlui/bitstream/handle/123456789/426/ AMG_PUB_02_055.pdf?sequence=2&i- sAllowed=y>. Acesso em: 10 ago. 2017. http://gadotti.org.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/426/AMG_PUB_02_055.pdf?sequence=2&isAllowed=y http://gadotti.org.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/426/AMG_PUB_02_055.pdf?sequence=2&isAllowed=y http://gadotti.org.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/426/AMG_PUB_02_055.pdf?sequence=2&isAllowed=y http://gadotti.org.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/426/AMG_PUB_02_055.pdf?sequence=2&isAllowed=y Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis70/223 sociedade civil organizada lutar pelos inte- resses das classes sociais desprivilegiadas, chegando onde o Estado não chega, não o desobriga desse dever. Pelo contrário, é fundamental que essa população fortaleci- da, conhecedora de seus direitos, pressione o Estado para que ele assuma o seu papel e cumpra suas funções. Quando assumiu seu cargo na Secretaria Municipal de Educação, em São Paulo, Pau- lo Freire buscou uma aproximação entre as instituições governamentais e as organiza- ções civis, propondo parcerias e trabalhos conjuntos com vistas a estabelecer uma aproximação entre esses dois universos que se acostumaram a trabalhar separados. Aqui fica evidente que a proposta de Pau- lo Freire não era exclusivamente atuar com os setores periféricos e/ou restritos a uma educação não formal, mas, influenciar dire- tamente todo o sistema escolar, adotando uma nova perspectiva educacional. A potência de uma educação capaz de es- cancarar as contradições sociais e a possi- bilidade de revigorar as classes marginali- zadas, tornando-as capazes de se libertar das amarras opressoras, foram as principais responsáveis pela perseguição que Paulo Freire sofreu durante a Ditadura Militar e por sua conseguinte necessidade de exílio. (SILVA, 2016) Ao propor a liberdade do oprimido, a partir da consciência de si, do outro e das relações de poder que estão em jogo, Paulo Freire entende que também é função da educa- ção esclarecer ao opressor. Sendo ele parte Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis71/223 integrante da engrenagem que move tais relações de poder, excluí-lo desse processo educativo em nada alteraria as estruturas de reprodução das desigualdades. Se ambi- cionamos uma mudança estrutural, é fun- damental a inclusão de opressores e opri- midos no processo pedagógico. Esse é um dos argumentos centrais para que defenda- mos que toda a educação é, ou deveria ser, social. A Pedagogia Social não comporta mais a di- visão em Educação Formal, Não Formal, In- formal, Escolar ou não escolar; ela é um hí- brido. É fundamental evitarmos reforçar es- sas dicotomias e subdivisões classificatórias se a ideia é tornar a educação, de um modo geral, cada vez mais democrática. Essas no- menclaturas podem servir apenas para fi- nalidades discursivas, ou seja, para que – no campo da teoria – possamos delimitar me- lhor nosso objeto de estudo e tratar sobre um assunto específico. Mas na prática, es- sas fronteiras se desfazem. Não se trata apenas de uma nova frente de atuação, a pretensão da Pedagogia Social é colaborar para uma mudança de paradigma Link Para se aprofundar no assunto, acesse: BRUNO, Ana. Educação Formal, Não Formal e Informal: da trilogia aos cruzamentos, dos hibridismos a ou- tros contributos. Medi@ções. Vol. 2, n.º 2, p. 10- 25, 2014. Disponível em: <http://mediacoes. ese.ips.pt/index.php/mediacoesonline/arti- cle/view/68>. Acesso em 10 ago. 2017. http://mediacoes.ese.ips.pt/index.php/mediacoesonline/article/view/68 http://mediacoes.ese.ips.pt/index.php/mediacoesonline/article/view/68 http://mediacoes.ese.ips.pt/index.php/mediacoesonline/article/view/68 Unidade 3 • Pedagogia Freiriana e Pedagogia Social: Diálogos Possíveis72/223 do modelo educacional hegemônico vigente. Trata-se da proposição de uma educação para as relações sociais, e não para os conteúdos pedagógicos simplesmente. Não só as pessoas, mas o próprio sistema educacional precisa ser educado socialmente, e isso é um grande desafio para uma sociedade pautada no individualismo, na competição e no consumo. O modelo escolar vigente tem confundido educação com escolarização, tem confundido pedagogia com didática, qualidade de educação com tes- tes de aprendizagem, tem confundido o saber escolar com todo o saber e, por isso, tem concebido a escola como único espaço educativo. Tudo isso por conta
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