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Hurian Machado – Odontologia UNIG 1 Periodontia I Aula 1 Introdução A periodontia é a especialidade da odontologia que estuda os tecidos próximos aos dentes e o tratamento das possíveis alterações que possam atingi-lo. PERI à à volta de, ao redor de; ODONTO à termo para indicar relação com dente. Existem dois termos comumente utilizados em periodontia para referir-se aos dentes e gengiva, que são “estética branca” referindo-se aos dentes e “estética rosa” referindo-se a gengiva. Anatomia do Periodonto O periodonto é o conjunto dos tecidos de proteção e sustentação do órgão dentário que tem, entre si, uma completa interdependência anatômica e fisiológica. Sua principal função é inserir o dente no tecido ósseo da maxila e da mandíbula e manter a integridade da superfície da mucosa mastigatória da cavidade oral. O periodonto é divido em periodonto de sustentação e periodonto de proteção. 1.Periodonto de Sustentação/ Inserção O periodonto de sustentação/ inserção é composto pelo osso alveolar, ligamento periodontal e cemento radicular. Estas estruturas estão ao redor de toda a superfície radicular, e são as estruturas de suporte que fixam o dente ao alvéolo. A) Osso Alveolar O processo alveolar é definido como as partes da maxila e da mandíbula que dão suporte aos alvéolos dos dentes. Juntamente com o cemento radicular e o ligamento periodontal, constitui o aparelho de sustentação dos dentes, e tem como função principal distribuir e absorver as forças geradas pela mastigação e por outros contatos. O osso alveolar é constituído por dois componentes: o osso alveolar propriamente dito e o processo alveolar. O osso alveolar propriamente dito é contínuo com o processo alveolar e forma a delgada lâmina óssea que está localizada imediatamente lateral ao ligamento periodontal. • OSSO CORTICAL - É um osso compacto. - É constituído por uma série de lamelas concêntricas que apresentam canais ao seu redor. - As paredes dos alvéolos são revestidas por osso cortical (lâmina dura) e a área entre os alvéolos, é preenchida por osso esponjoso. - A mandíbula possui a maior quantidade de osso cortical. Figura 1. G: gengiva; PL: ligamento periodontal; RC: cemento radicular; ABP: osso alveolar propriamente dito; AP: processo alveolar. Figura 2. Setas apontando para o osso cortical. Hurian Machado – Odontologia UNIG 2 - Seu aspecto radiográfico é radiopaco. • OSSO ESPONJOSO - É uma substância esponjosa, e que possui trabéculas ósseas (traves ósseas dispostas em forma de rede/tubos). - É responsável pela flexibilidade do osso e pela absorção dos impactos. - Estrutura por onde passa a inervação e vascularização. - A maxila tem maior quantidade de osso esponjoso. • DEFEITOS ÓSSEOS - Deiscência: perda óssea total vestibular. - Fenestração: perda óssea parcial. B) Ligamento Periodontal O ligamento periodontal é formado por tecido conjuntivo frouxo, ricamente vascularizado e celular, que circunda a raiz dos dentes e une o cemento ao osso alveolar propriamente dito (lâmina dura). O ligamento periodontal se comunica através de canais vasculares no osso alveolar propriamente dito com os espaços medulares do osso alveolar. Se localiza entre o cemento radicular e o processo alveolar. Todo o cemento radicular é impregnado pelo ligamento periodontal. Obs: anquilose é a cicatrização onde o osso e o cemento se unem diretamente, em casos de avulsão, por exemplo. • FUNÇÕES DO LIGAMENTO PERIODONTAL - Presença de mecanoceptores: fazem reflexo de estiramento. Ex: quando mastigamos algo duro e paramos de mastigar imediatamente; isso ocorre devido a presença dos mecanoceptores. - Articulação gonfose: tipo de articulação no qual o dente apresenta pouco movimento. Quando ocluímos, o dente se movimenta. - Amortece os impactos através da absorção e transmissão de forças ao osso alveolar, durante a mastigação por exemplo. - Hidrodinâmica: tecido conjuntivo preenchido de água. • CÉLULAS QUE CONSTITUEM O LIGAMENTO PERIODONTAL - Fibroblastos: fazem a reconstituição das fibras. - Osteoblastos: fazem a reposição de osso através do cálcio. - Osteoclastos: responsáveis pela reabsorção óssea (osteólise). -Cementoblastos: responsáveis pela reconstituição do cemento. - Células espiteliais: células que formam tecidos. - Células nervosas: promovem estímulo. Hurian Machado – Odontologia UNIG 3 • FIBRAS QUE CONSTITUEM O LIGAMENTO PERIODONTAL a) Fibras de crista alveolar: próximas à coroa/crista alveolar. b) Fibras horizontais: se localizam logo abaixo da crista alveolar. c) Fibras obliquas: se localizam no terço médio radicular. d) Fibras apicais: se localizam no terço apical da raiz. • FORMAÇÃO DAS FIBRAS DO LG O ligamento periodontal e o cemento radicular desenvolvem-se a partir do tecido conjuntivo frouxo (folículo), que circunda o germe dentário. O ligamento periodontal se desenvolve concomitantemente com o desenvolvimento da raiz e a erupção do dente. O germe dentário é formado em uma cripta do osso. Durante o processo de sua maturação, as fibras colágenas produzidas pelos fibroblastos no tecido conjuntivo frouxo do germe dentário ficam envolvidas pelo cemento recém-formado, imediatamente apical à junção cemento-esmalte (JCE). As fibras dispõem- se em feixes, orientados em direção à parte coronal da cripta óssea. Esses feixes mais tarde formarão os grupos de fibras dentogengivais, dentoperiósteas e transeptais, que pertencem ao grupo de fibras orientadas pela gengiva. As fibras verdadeiras do ligamento periodontal (as fibras principais), surgem em associação com a erupção do dente. Primeiro, fibras podem ser identificadas penetrando na porção mais marginal do osso alveolar. Mais tarde, são vistos feixes em posição mais apical de fibras colágenas orientadas. A orientação dos feixes de fibras colágenas modifica-se continuamente durante a fase de erupção dentária. Primeiro, quando o dente atinge o contato em oclusão e começa a exercer sua função, as fibras do ligamento periodontal associam-se em grupos de fibras colágenas dento- alveolares bem orientadas. Essas estruturas colágenas sofrem remodelagem constante (reabsorção de fibras velhas e formação de novas). C) Cemento Radicular O cemento radicular é um tecido mineralizado especializado que reveste as superfícies radiculares, e em algumas situações pequenas porções das coroas dos dentes, podendo estender-se também ao canal radicular. • Características - Não possui vasos sanguíneos ou linfáticos; - Não possui invervação; - Não sofre remodelagem e nem reabsorção fisiológica; - Contribui para o processo de reparo após danos à superfície radicular; - Sobre deposição de acordo com a necessidade, tendo formação contínua ao longo da vida; - Recebe a inserção das fibras do ligamento periodontal. Hurian Machado – Odontologia UNIG 4 Figura 3. Limite cervical / Junção cemento-esmalte (JCE) / Junção amelo-dentária (JAD). • TIPOS DE CEMENTO a) Cemento acelular ou primário - Surge antes da erupção do dente. - Possui formação lenta. - Não contém células. - Se encontra em toda a raiz, mas principalmente na região cervical. - Fibras de Sharpey – principal componente. b) Cemento celular ou secundário - Se forma quando o dente está em oclusão. - Possui formação rápida. - Contém células. Como é formado? Os cementoblastos se calcificam através dos cementócitos e formam uma camada acima do cemento primário, aumentando a espessura da região. Ex: interferência oclusal. Esse tipo de cemento possui uma espessura maior, por isso apresenta menos fibras deSharpey inseridas. Localizado principalmente no terço médio até o apical. • FORMAÇÃO DAS FIBRAS a) Fibras Extrínsecas Formadas a partir das fibras de Sharpey, e são produzidas a partir dos fibroblastos do ligamento periodontal. b) Fibras Intrínsecas São produzidas pelos cementoblastos. São sepultadas de forma vertical pelos cementoblastos. • TIPOS DE CEMENTO DE ACORDO COM AS FIBRAS E CÉLULAS a) Cemento acelular de fibras extrínsecas (CAFE) - Formado com a formação do dente. - Contém as fibras de Sharpey. - É um cemento primário. - Se localiza na poção coronária e média da raiz. - Se liga ao osso propriamente dito. b) Cemento celular de fibras intrínsecas (CCFI) - Cemento secundário. - Formado após a erupção dentária. - É formado a partir de uma adaptação a uma força que foi gerada durante o processo mastigatório, por exemplo. FIBRAS EXTRÍNSECAS FIBRAS INTRÍNSECAS CEMENTO DENTINA Hurian Machado – Odontologia UNIG 5 - Muito comum em áreas de reabsorção. c) Cemento celular estratificado misto (CCEM) - Localizado no terço apical das raízes e área de furca. - Contém fibras intrínsecas, fibras extrínsecas e cementócitos. - Cemento secundário. Obs: esses tipos de cemento são formados a partir da necessidade. 2. Periodonto de proteção O periodonto de proteção é formado pela gengiva, e sua função é proteger o periodonto de sustentação/ inserção. A mucosa da cavidade oral é contínua com a mucosa do palato mole e da faringe. A mucosa oral de divide em: mucosa mastigatória, mucosa especializada e mucosa de revestimento/alveolar. a) Mastigatória Consiste na mucosa aderida ao processo alveolar tanto da maxila, quanto da mandíbula. Formada pela gengiva e o revestimento do palato duro. b) Especializada Mucosa que recobre o dorso da língua. É considerada especializada devido a presença das papilas. c) De revestimento/Alveolar Compreende a mucosa jugal, lábio, assoalho de boca e palato mole. É a parte mais flexível/mole e que não está inserida, iniciando-se a partir da junção mucogengival. É altamente vascularizada, e possui aspecto liso, pois não há fibras sendo inseridas no osso. Gengiva (mucosa mastigatória) A gengiva é a parte da mucosa mastigatória que cobre o processo alveolar e circunda a porção cervical dos dentes. Consiste em uma camada epitelial e um tecido conjuntivo subjacente, chamado de lâmina própria. A gengiva assume sua forma e textura definitivas em associação com a erupção dos dentes. Limites gengivais: • Ranhura gengival Divide a gengiva livre da gengiva inserida e coincide com a junção cemento-esmalte. • Junção mucogengival Divide a mucosa alveolar da gengiva inserida. Não existe linha mucogengival no palato, visto que o palato duro e o processo alveolar da maxila são revestidos pelo mesmo tipo de mucosa mastigatória. A gengiva se divide de acordo com a localização/ característica clinica. Três partes da gengiva podem ser identificadas: gengiva livre, gengiva interdental e gengiva inserida. A) GENGIVA LIVRE OU MARGINAL A gengiva marginal ou livre, é a porção terminal ou borda da gengiva ao redor dos dentes em forma de colar. Normalmente medindo aproximadamente 1mm de largura, a gengiva marginal forma a parede do sulco gengival. Hurian Machado – Odontologia UNIG 6 Possui cor rósea, tem a superfície opaca e consistência firme. A gengiva marginal cobre uma parte da coroa dentária. Não está inserida, e somente se apoia no dente. Quando se separa do dente (durante uma sondagem, por exemplo), forma o sulco gengival. O ponto mais apical do arco côncavo da gengiva marginal é chamado de zênite gengival. B) GENGIVA INSERIDA A gengiva inserida se estende da ranhura gengival até a junção muco-gengival, e faz a união real do dente com a gengiva. Possui textura firme e cor rósea, e apresenta pequenas depressões na superfície. Essas depressões conferem um aspecto de casca de laranja ou pontilhado. A gengiva está firmemente inserida no osso alveolar e no cemento por meio de fibras do tecido conjuntivo, o que a torna imóvel e rígida. Quanto maior a faixa de gengiva inserida, melhor, pois a proteção do periodonto de sustentação é maior. Quando há retração óssea, há uma diminuição da faixa de gengiva inserida. C) PAPILA INTERDENTÁRIA E “COL” A gengiva interdental ocupa a ameia gengival, que é o espaço interproximal abaixo da área de contato dos dentes. A gengiva interdental pode ser piramidal (dentes anteriores) ou pode ter a forma de “col” (dentes posteriores). • Ponto de contato Está presente nos dentes anteriores, e consiste no ponto onde um dente toca o outro. Este ponto define até onde a papila se estende. Nos dentes anteriores, a papila interdental possui formato piramidal. • Superfície de contato Está presente nos dentes posteriores. A papila chega ao dente e percebe-se uma divisão por não ser apenas um ponto. Uma parte vai para a vestibular e outra para a língua/palatina, e entre essas duas partes é formada uma concavidade denominada “Col”. Obs: se por algum motivo a ameia dental não for preenchida pela papila interdental, haverá o que chamamos de “black space”. Figura 4. Presença de black space entre os incisivos cenrais superiores. Anatomia microscópica 1. EPITÉLIO ORAL O epitélio oral ou externo recobre a crista e a superfície externa da gengiva marginal e a superfície da gengiva inserida. Na média, o epitélio oral possui 0,2 a 0,3mm de espessura. Hurian Machado – Odontologia UNIG 7 É a parte externa e mais espessa, e é um tecido queratinizado. O epitélio oral é composto por quatro camadas: camada basal, espinhosa, granulosa e ceratinizada. Se projeta para o tecido conjuntivo através de interdigitações. 2. EPITÉLIO SULCULAR O epitélio sulcular reveste o sulco gengival. É um epitélio escamoso estratificado não queratinizado fino sem cristas epiteliais, e se estende do limite coronal do epitélio juncional à crista da gengiva marginal. Está voltado para o esmalte, dentro do sulco gengival, e forma o sulco histológico. Não há a presença de hemidesmossomos. 3. EPITÉLIO JUNCIONAL O epitélio juncional consiste em uma faixa de epitélio escamoso estratificado não quaratinizado em forma de colar, e possui em média 0,97 mm. O epitélio juncional está aderido à superfície dental (adesão epitelial) por meio de uma lâmina basal interna, e está unido ao tecido conjuntivo por uma lâmina basal externa. A lâmina basal interna consiste em uma lâmina densa (adjancente ao esmalte) e uma lâmina lúcida na qual os hemidesmossomos estão inseridos. Os hemidesmossomos têm um papel decisivo na firme união das células à lâmina basal interna na superfície dental. O epitélio juncional se junta ao esmalte do dente através de células, os hemidesmossomos, que fazem uma adesão do tecido gengival ao dente. Os hemidesmossosmos fazem uma adesão fraca. À medida que há estímulo (jato de ar, sondagem), o epitélio se separa. É no epitélio juncional onde começa a adesão: une a gengiva livre/marginal ao esmalte; e é onde começa a proteção do periodonto de sustentação/inserção. O epitélio juncional apresenta várias características estruturais e funcionais únicas que contribuem para prevenir a superfície dental subgengival da colonização pelo biofilme bacteriano patogênico. 1) Está firmemente aderido à superfície dental, formando uma barreira epitelial contra o biofilme bacteriano; 2) Permite acesso do fluido gengival, células inflamatórias e componentes do sistema imunológico de defesa do hospedeiro à gengival marginal. 3) As células do epitélio juncional apresentam uma rápida renovação, que contribui para o equilíbrio hospedeiro-parasitae permite um rápido reparo do dano tecidual. 4. TECIDO CONJUNTIVO GENGIVAL O tecido conjuntivo se insere ao cemento e ao osso alveolar, e possui em média 1,07mm. O tecido conjuntivo é composto em 60% por fibras, 5% fibroblastos e 35% vasos, nervos e matriz conjuntiva. • Fibras do tecido conjuntivo 1. Colágenas; 2. Reticulares; 3. Oxitalânicas; 4. Elásticas. Hurian Machado – Odontologia UNIG 8 Figura 5. Fibras circundantes (CF); Fibras dentogengivais (DGF); Fibras transeptais (TF); Fibras dentoperiósteas (DPF). Figura 6. Diagrama de uma arteríola que penetra o osso alveolar interdental para suprir os tecdiso interdentais (esquerda) e uma arteríola supraperiosteal sobre o osso alveolar vestibular, que envia ramos ao tecido circunjacente (direita). 1. Fibras colágenas O tecido conjuntivo da gengiva marginal é densamente colagenoso e contém um sistema de feixes de fibras colágenas chamadas de fibras gengivais. Elas consistem em colágeno tipo I. Possuem as seguintes funções: - Unir firmemente a gengival marginal contra o dente; - São responsáveis pela resistência, espessura e sustentação; - Promovem a rigidez necessária para resistir às forças da mastigação São organizadas em 4 grupos: a) Fibras circundantes (CF): circundam o dente na porção do cemento. b) Fibras dentogengivais (DGF): saem do dente e se inserem na gengiva. c) Fibras transeptais (TF): ligam o cemento de um dente ao outro atravessando o septo. d) Fibras dentoperiósteas (DPF): saem do dente, passam pelo periósteo e se inserem na gengiva. • REPARO DO TECIDO CONJUNTIVO GENGIVAL Devido a sua alta taxa de renovação, o tecido conjuntivo gengival possui uma boa capacidade regenerativa e de cicatrização. Ele é um dos melhores tecidos de cicatrização no organismo e geralmente mostra pouca evidência de formação de cicatrizes após procedimentos cirúrgicos. Isto provavelmente é causado pela rápida reconstrução da arquitetura fibrosa dos tecidos. Entretanto, a capacidade reparativa do tecido conjuntivo gengival não é tão grande quanto aquela do ligamento periodontal ou do tecido epitelial. • SUPRIMENTO SANGUÍNEO DO PERIODONTO A microcirculação, os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos desempenham um papel importante na drenagem do fluido tecidual e na disseminação da inflamação. Na gengivite e periodontite, a microcirculação e a formação vascular alteram muito a rede vascular diretamente sob o epitélio sulcular gengival e o epitélio juncional. As três fontes de suprimento sanguíneo para a gengiva são as seguintes: 1. Arteríolas supraperiosteais: estão presentes ao longo das superfícies vestibular e lingual do osso alveolar, das quais capilares se estendem ao longo do epitélio sulcular e entre as cristas epiteliais da superfície externa gengival. Ramos ocasionais das arteríolas passam através do osso alveolar para o ligamento periodontal ou percorrem sobre a crista do osso alveolar. 2. Vasos do ligamento periodontal: se estendem para a gengiva e anastomosam com os capilares na área do sulco. 3. Arteríolas: emergem da crista do septo interdental e se estendem paralelamente à crista óssea e se anastomosam com os vasos do ligamento periodontal, com capilares nas áreas creviculares gengivais e com vasos que percorrem sobre a crista alveolar. Hurian Machado – Odontologia UNIG 9 • SUPRIMENTO LINFÁTICO DO PERIODONTO O papel do sistema linfático é remover o excesso de fluidos, debris celulares e proteicos, microrganismos e outros elementos, sendo importante para o controle da difusão e na resolução do processo inflamatório. A drenagem linfática da gengiva ocorre nos vasos linfáticos do tecido conjuntivo papilar, formando uma rede extensa de capilares neste tecido. Essa drenagem progride para a rede coletora externa ao periósteo do processo alveolar, em seguida para os linfonodos regionais (particularmente para o grupo submandibular). A linfa dos tecidos periodontais é drenada para os linfonodos da cabeça e pescoço. 1) As gengivas vestibular e lingual da região dos incisivos inferiores drenam para os linfonodos submentuais (SME); 2) A gengiva palatina da maxila é drenada para os linfonodos cervicais profundos (CP); 3) A gengiva vestibular da maxila drena para os linfonodos submandibulares (SMA); 4) As gengivas vestibular e lingual da região de pré- molares inferiores drenam para os linfonodos submandibulares (SMA); 5) Os terceiros molares são drenados pelos linfonodos jugulodigástricos (JD). • SUPRIMENTO NERVOSO DO PERIODONTO Como outros tecidos do corpo, o periodonto contém receptores que registram a dor, tato e pressão (nociceptores e mecanoceptores). Além dos diferentes tipos de receptores sensoriais, os vasos sanguíneos do periodonto são inervados. Os nervos que registram a dor, tato e pressão têm seu centro no gânglio trigeminal e chegam ao periodonto através do nervo trigêmeo e seus ramos terminais. Graças aos receptores do ligamento periodontal, é possível identificar pequenas forças aplicadas aos dentes. Por exemplo, uma tira de metal muito fina colocada entre os dentes durante a oclusão pode ser facilmente identificada. Espaço biológico • UNIÃO DENTO-GENGIVAL É a inserção do tecido conjuntivo em uma região do cemento. O epitélio juncional reforça e colabora na proteção. • SULCO HISTOLÓGICO X SULCO CLÍNICO a) Sulco histológico: compreende a área do epitélio sulcular. Normalmente, o sulco histológico apresenta 0,69 mm. b) Sulco clínico: compreende o epitélio sulcular e o epitélio juncional. Normalmente apresenta aproximadamente 2 mm. Obs: A sondagem periodontal é a investigação da condição periodontal que é feita através de um instrumento milimetrado (sonda milimetrada) utilizado para medir os parâmetros gengivais. Hurian Machado – Odontologia UNIG 10 Aula 2 Placa e Cálculo Dental Para que haja placa bacteriana, é necessária uma superfície dura não-escamativa, que são os dentes. O acúmulo bacteriano causa uma resposta inflamatória (vermelhidão, sangramento, inchaço). A remoção desse acúmulo bacteriano leva ao desaparecimento dos sinais clínicos da inflamação. Obs: A bolsa periodontal é o aprofundamento patológico do epitélio juncional em direção ao ápice. - Sem perda óssea: gengivite. - Perda óssea: periodontite. Obs: quando há perda óssea, a papila também migra. Ela só se forma quando há ponto de contato. Teoria da placa não-específica (Theilade 1986) Número total de bactérias está relacionado com amplitude do efeito patogênico. - Define placa como uma massa biológica; - Dizia que diferenças na composição não são consideradas; - Afirmava que formas agressivas da doença são resultado de baixa resistência aos depósitos bacterianos ou higiene oral deficiente; - Não considerava diferenças entre gram positivas e gram negativas. Teoria da placa específica (Loesche 1979) A destruição relaciona-se com patógenos específicos. - Destruição localizada do periodonto; - Nem toda gengivite evolui para a periodontite; - Afirmava o risco aumentado de destruição em sítios colonizados por microorganismos específicos. Hoje, as teorias se uniram. As bactérias Gram + são supragengivais e as Gram - são subgengivais. Formação da placa Superfície dura não-escamativa (dente) → Película adquirida (formada pela saliva) → aderência seletiva de bactérias → colonização primária (bactérias gram positivas) → aderência subsequente de microorganismos → colonização secundária → colonização terciária Película adquirida → receptores específicos → adesão seletiva de bactérias → coagregação (multiplicação) → cooperação (emitem sinais) → gradiente de difusão de O2 → proteção contra agentes antimicrobianos.Obs: as doenças gengivais surgem quando há um predomínio de bactérias gram negativas, ao invés de gram positivas. Obs: até 48h não há formação da placa. Hurian Machado – Odontologia UNIG 11 Figura 7. Fotomicrografias de um implante removido devido a uma infecção periimplantar fornecem evidências da semelhança entre a imagem estrutural da microbiota que se forma no sulco ao redor do implante e a placa subgengival. Composição da placa - Bactérias; - Células de defesa; - Restos de células epiteliais. Evolução da placa - Ordem complexa de bactérias; - Interações positivas e negativas; - Comunidade bacteriana estável; - Reação inflamatória nos tecidos moles adjacentes. - Colonizadores primários: Streptococcus e Actinomyces. - Colonizadores secundários: Fusobacterium nucleatum, Prevotela intermedia e Espécies capnocytophaga. - Colonizadores terciários: Porphyromonas gingivalis, Campylobactes rectus, Eikenella corrodens, Actinobacillus actinomycetemcomitans. Determinantes biológicos - Presença de O2: os diferentes níveis de O2 levam à variação de crescimento e multiplicação das bactérias. - Presença de gengivite: acelera a formação da placa e uma composição mais complexa é alcançada mais rapidamente. Placa supra-gengival - Deposita-se na coroa clínica dos dentes. - A nutrição é feita pelos produtos da dieta dissolvidos na saliva. Placa sub-gengival - Formada a partir da placa supra-gengival; - Deposita-se no sulco gengival ou na bolsa periodontal; - A nutrição é feita pelos tecidos periodontais e sangue; - Gengivite (sem bolsa): continuação apical da placa supragengival; - Periodontite (com bolsa): Cocos e Bastonetes G-, bactérias móveis (Espiroquetas e flagelos). Placa periimplantar O biofilme se forma não apenas em dentes naturais, mas também nas superfícies artificiais expostas ao meio bucal, como os implantes. Controle da placa - O controle completo a cada 48h ou mais frequentemente não desenvolve inflamação gengival. - Menor quantidade de placa é formada próximo a tecidos saudáveis do que na presença de gengivite. Obs: o fator primário para a doença periodontal será sempre a placa bacteriana. Conclusão “A placa bacteriana é crucial para o processo inflamatório. A resposta inflamatória varia muito a frente da mesma agressão, sugerindo que a mesma é a maior fonte de variações sendo, então, um Hurian Machado – Odontologia UNIG 12 fator primordial na etiopatogenia da doença periodontal.” Cálculo dental É a placa bacteriana mineralizada, tornando o meio ideal para aderência bacteriana. • Cálculo supra-gengival - Depende da quantidade da placa e secreção das glândulas salivares; - Face lingual dos dentes antero-inferiores (glândula submandibular e sublingual); - Face vestibular dos primeiros molares superiores (glândula parótida). Obs: o ducto da glândula excreta saliva o tempo todo, e a saliva tem uma concentração alta de Ca, fazendo com que haja formação rápida de cálculo. • Cálculo sub-gengival - É formado pelo acúmulo bacteriano associado a produtos do fluido gengival sulcular, sangue e exsudato inflamatório da bolsa. Obs: exsudato consiste num líquido com alto teor de proteínas séricas e leucócitos, produzido como reação a danos nos tecidos e vasos sanguíneos. - Ocorre sensibilidade tátil durante a sondagem. -Depósitos volumosos são visíveis radiograficamente. Conclusão “O cálculo dental não é causa primária das doenças periodontais. Seu efeito parece ser secundário, fornecendo superfície ideal para maior acúmulo de placa e subsequente mineralização. Além disso, os depósitos de cálculo podem comprometer a higiene oral e amplificar o efeito da placa bacteriana.” Aula 3 Microbiota da Doença Periodontal Cerca de 500 espécies são capazes de colonizar a cavidade oral, porém somente cerca de 300 bactérias foram caracterizadas. Existe um equilíbrio dinâmico entre essas bactérias. Doença periodontal X Doença infecciosa Características da doença periodontal - Anatomia do dente: os dentes multirradiculares são mais susceptíveis devido à sua anatomia. Ex: a região de furca é afetada e isso dificulta a higienização. - Facilidade de acumulação bacteriana. - Ambiente favorável as bactérias. Biofilme - É uma comunidade bacteriana não definida associada a qualquer superfície dura não- escamativa imersa em meio aquoso; - Película glicoproteica; - Possui receptores específicos (gram + e -). - Faz adesão seletiva de bactérias; - Coagregação; - Agregação. • Fator primário: biofilme • Fator secundário: cálculo Se não houver essas características, não é doença periodontal. Hurian Machado – Odontologia UNIG 13 Postulados de Koch modificados (Socransky e Haffage 1994) a) Critérios de associação As espécies devem ser encontradas com maior frequência e em maior número em casos de infecção. b) Critérios de eliminação A eliminação das espécies deve ser acompanhada pela remissão paralela da doença, ou seja, se eliminar o patógeno, a doença deve acabar. c) Resposta do hospedeiro Produção de anticorpos específicos (locais e sistêmicos) direcionados a espécie. d) Fatores de virulência Propriedades possuídas por certas espécies ou metabólitos potencialmente destrutivos (causar malefícios. Ex: morte celular). e) Fatores animais Estudos de doenças induzidas experimentalmente em sistemas de modelo animal. Bactérias X Etiologia Dificuldades: - Entre 30 e 100 espécies patogênicas podem ser coletadas em um só sítio; - Existe uma dificuldade de identificação; - A atividade no sítio não é constante; - Ocorre a presença em sítios e bocas não doentes. Obs: As bactérias da periodontite podem migrar para o cemento e penetrar através dos canalículos dentinários, chegando à polpa e podendo causar uma lesão endo-perio. Patógenos periodontais • Actinobacillus actinomycetemcomitans (Aa); - Bacilo G -; - Capnofílico (se desenvole na presença de CO2); - Anaeróbico; - Fortemente associado a periodontite agressiva localizada (PJL); - Fatores de virulência: leucotoxina, bacteriocina, colagenases, endotoxina, epiteliotoxina, epiotoxina, fator inibidor de fibroblastos, fator indutor de reabsorção óssea, invasão de células epiteliais, etc. • Porphyromonas gingivalis (Pg); - Bastonete G -; - Anaeróbico; - Assacarolíticos; - Relacionado com a periodontite crônica (do adulto); - Fator de virulência: invasão de células epiteliais. • Bacterioides forsythus (Tannerella forsythie); • Prevotella intermedia/ nigrescens; • Treponema denticola; • Fusobacterium nucleatum; • Campylobacter rectus; • Peptostreptococcus micros; • Eikenella corrodens. Complexos microbianos subgengivais a) Grupo vermelho: fortemente relacionado com o aumento da profundidade de bolsa periodontal e sangramento (terciário). Hurian Machado – Odontologia UNIG 14 Figura 8. Complexos microbianos subgengivais. b) Grupo laranja: precede o grupo vermelho. Apresenta um importante papel na patogenia (secundário). c) Grupo amarelo, verde, azul e roxo: compostos por bactérias consideradas benéficas (primário). Aula 4 Patogênese da Doença Periodontal Ocorrem reações inflamatórias e imunológicas a presença de bactérias patogênicas, causando a gengivite e a periodontite. As alterações inflamatórias podem permanecer confinadas à área gengival por vários anos, porém em algumas áreas a gengivite transforma-se em doença periodontal destrutiva, resultando em perdas dos ligamentos de tecido conjuntivo e osso alveolar. A doença periodontal é uma infecção bacteriana mista, ligada à surtos, queocorrem devido à resolução inadequada das medidas clínicas. O desenvolvimento ou não da doença depende da resposta imunológica de cada indivíduo. A partir do momento que há placa bacteriana na cavidade oral e a mesma não é removida por algum motivo, pode-se ter uma gengivite ou periodontite. Dependendo do tempo em que a placa permanece na cavidade oral, pode levar a uma destruição tecidual, agravando a situação (periodontite). Toda periodontite é proveniente de uma gengivite, mas nem toda gengivite evolui para periodontite pois depende da resposta do hospedeiro e a doença pode ser tratada, não evoluindo para periodontite. A doença não necessariamente se instala em todos os dentes, podendo ser localizada ou generalizada. Gengiva clinicamente sadia X Gengiva histologicamente normal • Gengiva clinicamente sadia - Livre de doença, sem inflamação; - Coloração esbranquiçada; Indivíduos susceptíveis → Desequilíbrio na relação hospedeiro-microorganismo Gengiva saudável → Placa → Gengivite → Tempo → Destruição tecidual → Periodontite Hurian Machado – Odontologia UNIG 15 - Textura de casca de laranja; - Ausência de sangramento. • Gengiva histologicamente normal - Pouca ou nenhuma célula inflamatória; - Não existe, pois há sempre microrganismos presentes; - Só existe em situações de experimento e/ou gengiva primária (vida uterina). Inflamação gengival Foi feito um experimento com alunos que deviam permanecer sem escovar os dentes e realizar diariamente uma sondagem periodontal (presente no livro Gengivite experimental em humanos, 1965). Nesse experimento observou-se que o quadro da doença varia de pessoa para pessoa (cada um possui uma resposta diferente), que era uma doença reversível e que sem a ingestão de açúcar era possível permanecer sem escovação durante 3 dias. O estudo também mostrou que a escovação correta é essencial e muito mais importante do que a quantidade de vezes que escovamos os dentes. - Características do experimento: - 10 a 20 dias – acúmulo de placa; - Tumefação gengival (edema); - Sangramento à sondagem delicada; - Sinais clínicos de inflamação reversíveis Progressão da lesão 1. Lesão inicial - Inicio 24h após acumulo de placa; - 02 a 04 dias após o acúmulo de placa começam os primeiros sinais: a) Alterações histológicas (vasodilatação e aumento da permemabilidade microvascular; b) Aumento do fluido gengival; c) Quimiotaxia com o aumento do número de leucócitos principalmente neutrófilos. 2. Lesão precoce - 07 dias após o acúmulo de placa; - Aumento das características da lesão inicial; - Aumento do número de vasos da rede de capilares; - Leucócitos predominantes são os linfócitos e neutrófilos; - Início da presença de plasmócitos (pequena quantidade); - Degeneração dos fibroblastos; - Destruição do colágeno; - Proliferação de células basais do epitélio juncional e do sulco; - Alterações inflamatórias detectáveis ao exame clínico; -Na lesão precoce já teremos sangramento à sondagem, isto é, já não teremos clinicamente uma gengiva sadia. Obs: na sondagem, quando introduzimos a sonda dentro do sulco clínico, separamos o epitélio juncional do esmalte do dente. Quando o tecido está inflamado e fazemos essa manobra, ocorre o sangramento. 3. Lesão gengival estabelecida - Intensificação do processo inflamatório; - Exacerbação das características da lesão precoce; - Aumento da exsudação do fluido; - Edema maior; - Migração dos leucócitos; - Lesão dominada por plasmócitos; - Pode ocorrer úlceras no tecido conjuntivo. Obs: o sangramento à sondagem é causado por microúlceras no tecido conjuntivo. Somente a sondagem periodontal pode diagnosticar as doenças periodontais. Sem sangramento = periodonto saudável. Hurian Machado – Odontologia UNIG 16 4. Lesão gengival/ periodontal avançada - Aprofundamento da bolsa periodontal; - Migração apical do epitélio juncional; - Propagação lateral e apical do infiltrado inflamatório; - Exacerbação das características da lesão estabelecida; - Perda de osso alveolar; - Destruição das fibras; - Predominância de plasmócitos. Quando a doença não é tratada, o epitélio juncional começa a se projetar para o tecido conjuntivo até que ele não consegue mais se defender e começa a migrar pro ápice, criando a bolsa periodontal. No tecido conjuntivo, estão as fibras colágenas que são responsáveis pela inserção/sustentação da gengiva, e são formadas pelos fibroblastos. Quando temos células de defesa + microrganismos presentes, ocorre uma destruição dessas fibras colágenas, causando a perda da união gengiva-dente, e formando uma área maior chamada de bolsa periodontal. Quando há bolsa periodontal, significa que a união que a gengiva faz com o dente para proteger o periodonto de sustentação, é perdida e o periodonto de sustentação se torna susceptível, podendo ocorrer a entrada de microrganismos e posteriormente a perda óssea. Aula 5 Antibióticos Sistêmicos na Terapia Periodontal Sua finalidade é ajudar as defesas do hospedeiro a eliminar a infecção através da destruição de patógenos periodontais remanescentes após terapia convencional. Motivos de falha no tratamento convencional - Alguns microrganismos (P. Gingivalis e A. Actinomycetemcomitans) são capazes de invadir o tecido conjuntivo adjacente à parede da bolsa. - Patógenos periodontais podem residir em outros nichos intra-orais, como restaurações de Classe V, região de furca, lesão de cárie, PPR, etc. - Bolsa periodontal. Antibióticos na terapia periodontal -Possuem atividade in-vitro contra microrganismos considerados mais importantes na etiologia da doença. - A dose para eliminar o organismo-alvo deve ser alcançada no ambiente subgengival e mantida por um período longo o suficiente para afetar significantemente a microbiota. Hurian Machado – Odontologia UNIG 17 - Nessa dose, a droga não deve apresentar maiores efeitos adversos locais ou sistêmicos. Antibióticos sistêmicos mais utilizados na odontologia - Penicilinas; - Clindamicina; - Tetraciclina; - Metronidazol. • Indicações - Profilaxia antibiótica; - Pacientes impossibilitados sistemicamente; - Tratamento de doenças periodontais agudas associadas a comprometimento sistêmico (febre, mal-estar, linfodenopatia); - Tratamento de periodontite agressiva e refratária; - Adjunto à terapia cirúrgica (regenerativa). • Profilaxia antibiótica - Realizada antes de procedimentos que apresentam risco de hemorragia, em pacientes portadores de insuficiências cardíacas, febre reumática ou que apresentam risco de desenvolver endocardite bacteriana. - Dose recomendada: 2 g de Amoxicilina ou 600 mg de clindamicina 1h antes do procedimento. Fármaco Bactericida X Bacteriostático • Bactericida - Causam a eliminação dos microrganismos sensíveis; - Levam menos tempo para remover a infecção; - As concentrações não tem que ser mantidas em todos os momentos durante o tratamento de uma infecção. • Bacteriostático - Evitam a multiplicação dos microrganismos sensíveis; - Levam mais tempo para remover a infecção; - Se as concentrações não forem mantidas, o resultado do tratamento fica prejudicado, e há risco de causar resistência. Inibidores da síntese da parede celular a) Penicilinas • Penicilina G (Benzetacil – procaína + benzatina) - Bactericida de pequeno espectro - efetivo contra microrganismos aeróbios e facultativos G+ e G-; alguns anaeróbios e espiroquetas; - Administração via parental (intramuscular); - Sensível à beta-lactamase (penicilinase); - Indicada em infecções severas (quando a via oral está comprometida). Obs: Não é eficiente na odontologia. • Penicilina V (fenoximetilpenicilina)- Bactericida de pequeno espectro – efetiva contra aeróbios e facultativos G+ e G-; alguns anaeróbios e espiroquetas; - Administração via oral; - Sensível à penicilinase. • Amoxicilina e Ampicilina Hurian Machado – Odontologia UNIG 18 - Bactericidas de amplo espectro (maior atividade contra G- e discretamente menor contra G+); - Sensível à penicilinase; - A amoxicilina possui atividade considerável contra patógenos periodontais; - A amoxicilina é indicada em casos de periodontite agressiva, avançada e refratária, em combinação com metronizadol ou ácido clavulânico. • Contra indicações - Contra-indicada em pacientes com alergia à penicilina (1-10% da população); - Doses devem ser reduzidas em pacientes com insuficiência renal grave; - Precaução em grávidas, lactantes e pacientes com hipersensibilidades às cefalosporinas. • Reações tóxicas e efeitos colaterais - Apresentam toxicidade seletiva máxima; - Podem causar distúrbios gastrointestinais; - As reações alérgicas incluem quase todos os tipos de reação imune adversa conhecida; - A frequência e gravidade das reações alérgicas é influenciada pela via de administração e tipo de derivado da penicilina utilizado. - A penicilina G procaína está associada à maior incidência de alergia à droga; - Amoxicilina e ampicilina têm maior probabilidade de causar superinfecções; - Ampicilina e amoxicilina foram associadas à colite pseudomembranosa. b) Cefalosporinas (Cefalexina) - Droga bactericida de espectro aumentado (eficaz contra cocos G+ e várias cepas de bacilos G-); - Sensível à beta-lactamase (cefalosporinas); - Utilizada em pacientes com histórico de alergia não aguda à penicilina e não tolerantes à eritromicina, e no tratamento de infecções causadas por microorganismos resistentes à penicilinase. • Reações tóxicas e efeitos colaterais - O efeito adverso sistêmico mais comum é a alergia, semelhante àquela associada ao uso de penicilinas; - Causa distúrbios gastrointestinais (anorexia, náusea, vômitos e diarreia, além de colite pseudomembranosa); - Reações cruzadas entre penicilinas e cefalosporinas ocorrem com frequência de 5 a 10%. Inibidores da síntese proteica a) Eritromicina (Macrolídeo) - Droga bacteriostática de pequeno espectro; - Inibe a síntese proteica ligando-se à subunidade de 50S do ribossomo bacteriano; - Seu uso é secundário ao da penicilina G; Ácido clavulânico: - É uma molécula beta-lactâmica sem atividade antimicrobiana; - Possui alta afinidade pelas beta-lactamases; - Torna a penicilina resistente à maioria das beta- lactamases produzidas por bactérias orais; - Antibiótico suicida. Hurian Machado – Odontologia UNIG 19 - As bactérias rapidamente adquirem resistência à eritromicina (desvantagem); - Ocorre resistência cruzada à clindamicina. • Reações tóxicas e efeitos colaterais - Causa distúrbios gastrointestinais (náusea, vômito, desconforto epigástrico e diarreia) relacionados à dose; - Reações alérgicas ocorrem com pequena frequência e incluem prurido e febre; - Potencializa o efeito de anticoagulantes orais (warfarin), carbamazepina (anticonvulsivante) e ciclosporina (imunossupressor); - Interfere no metabolismo de corticosteroides. b) Clindamicina - É farmacologicamente semelhante à eritromicina (os mecanismos de ação são idêntico); - São mais ativos contra a maioria de anaeróbios G+ e G-; - Alcança altas concentrações no tecido ósseo (excelente no tratamento de osteomielite e osteíte purulenta); - Não é afetada pelos microrganismos produtores de beta-lactamases; - Risco de causar colite pseudomembranosa. c) Tetraciclinas (Doxiciclina e Minociclina) - Bacteriostáticos de amplo espectro (eficazes contra G+ e G-; aeróbios, anaeróbios e treponemas); - Inibem a síntese proteica através da ligação reversível à subunidade 30S do ribossomo bacteriano; - Formam complexos com o cálcio e são depositados junto com ele durante a calcificação do osso, dentina e esmalte. - A doxiciclina e a minociclina são mais bem absorvidas pelo trato gastrointestinal que as outras tetraciclinas; - A concentração da minociclina no fluido gengival pode chegar a 5 vezes a concentração do sangue; - São drogas muito utilizadas em estudos clínicos de longo prazo com pacientes periodontais. • Interações medicamentosas - Não devem ser administradas junto com outros antibióticos; - Cálcio, magnésio, ferro e alumínio prejudicam absorção da tetraciclina e da minociclina pelo trato gastrointestinal. • Reações tóxicas e efeitos colaterais - Causam irritação gastrointestinal (anorexia, desconforto epigástrico, distenção abdominal, náusea, vômito, diarreia, úlceras orais e irritação perianal) relacionado à dose; - Aumentam o tempo de coagulação sanguínea; - Não devem ser administradas durante a gravidez nem em fases de crescimento ósseo. d) Aminoglicosídeos - Estreptomicina; - Gentamicina; - Amicacina; - Bacteriostáticos de espectro aumentado, eficazes contra microrganismos G+ e G- (principalmente bastões aeróbicos G-); - Atuam sinergisticamente com penicilinas e outras drogas que afetam a parede celular; - Amicacina e gentamicina causam ototoxicidade e nefrotoxicidade. Hurian Machado – Odontologia UNIG 20 Interferência na síntese de ácidos nucleicos a) Metronidazol - Droga bactericida de curto espectro (só é ativo contra bactérias obrigatoriamente anaeróbicas); - Reage com o DNA bacteriano, inibindo sua replicação, fragmentando o DNA existente e, em baixas doses, provocando mutação do genoma; - Muito útil no tratamento de periodontite agressiva e na gengivite ulcerativa necrosante. • Reações tóxicas e efeitos colaterais - Náusea, anorexia, dor epigástrica, estomatite, língua pilosa negra e gosto metálico na boca; - A ingestão de bebidas alcoólicas é contra-indicada durante seu uso, pois causa a reação do tipo Antabuse; - Pode potencializar o efeito de anticoagulantes orais; - A coloração da urina pode se tornar vermelha- amarronzada. b) Quinolonas (Ciprofloxacina). - Droga bactericida de amplo espectro; - Altamente eficaz contra bactérias entéricas G-, incluindo cepas resistentes aos antibióticos b- lactâmicos e aminoglicosídeos; - É eficaz contra cocos G+ (embora menos que as penicilinas). → Insucesso - Escolha não apropriada da droga; - Falha no cálculo da dosagem; - Incapacidade de penetrar no sítio da infecção; - Antagonismo entre as drogas; - Resistência; - A prescrição deliberada de antibióticos pode induzir a aparição de cepas bacterianas resistentes, levando à formação de infecções difíceis de tratar. Aula 6 Agentes Químicos na Terapia Periodontal Sua finalidade é auxiliar no controle da placa supragengival, coadjuvante ao controle mecânico convencional. Características necessárias aos agentes químicos - Adsorção e retenção prolongada nas superfícies orais, incluindo os dentes cobertos por películas; - Baixa toxicidade; - Mínimos efeitos colaterais e sistêmicos; - Não causar resistência bacteriana; - Facilidade de uso pelo paciente. Veículos de administração - Dentifrício; - Colutórios bucais; - Sprays; - Irrigadores; - Gomas de mascar; - Vernizes. Hurian Machado – Odontologia UNIG 21 Clorexidina – antisséptico bisbiguanidas - A clorexidina é o antisséptico mais estudado e mais eficaz para a inibição da placa e a prevenção da gengivite; - Possui importante ação antimicrobiana (ampla variedade de bactérias G+ e G-); - Eficaz também contra alguns fungos e leveduras (inclusive cândida) e alguns vírus como HBV e HIV. • Mecanismo de ação - Em baixas concentrações, causa aumento da permeabilidade com perda de componentes intracelulares; - Em altas concentrações, causa precipitação do citoplasmabacteriano e morte celular; - Efeito bacteriostático persistente por 12h. • Efeitos colaterais - Manchas acastanhadas nos dentes, no dorso da língua e em alguns materiais restauradores; - Perturbação do paladar; - Erosão da mucosa oral (dependente da concentração); - Tumefação da parótida (ocorrência rara e sem explicação). • Nome comercial/ concentração - Periogard, Noplak, Perioxidin; - Colutórios bucais – 0,12%; - Géis – 0,2 %. • Usos clínicos da clorexidina na odontologia - Como um complemento à higiene oral e à profilaxia profissional; - Para pacientes com fixação mandibular; - Para higiene oral de deficientes físicos e mentais; - Indivíduos clinicamente comprometidos predispostos a infecções orais; - Pacientes de alto risco para cárie; - Ulceração aftosa recorrente; - Usuários de aparelhos ortodônticos. • Usos clínicos da clorexidina na periodontia - Durante tratamento periodontal convencional; - Enxágue e irrigação pré-operatória imediata; - Após cirurgia periodontal; - Irrigação subgengival. • Conclusões - A clorexidina é mais eficaz como agente preventivo do que como agente terapêutico; - Os empregos mais valiosos no controle químico da placa são os de curto e médio prazo, quando a limpeza mecânica não é possível. Cloreto de cetilpiridínio – componente quarternário de amônio - Possui efeito limitado como inibidor da microbiota bucal; - A efetividade de ação parece ser de somente 3-5 horas; - A evidência de benefício contra a gengivite é duvidosa; - Pode-se aumentar a eficácia dobrando a frequência de enxágues para 2x ao dia, o que aumentaria os efeitos colaterais bucais. Hurian Machado – Odontologia UNIG 22 Triclosan – composto fenólico - Antimicrobiano amplamente usado por muitos anos em vários produtos; - Em altas concentrações tem ação inibidora da placa moderada e atividade com duração de 5h; - A associação com o zinco aumenta sua retenção e ação antibacteriana; - Parece proporcionar maior benefício para a gengivite do que para a redução de placa (efeito anti-inflamatório). Xilitol – poliácool - Semelhante ao açúcar, porém não fermentável pelas bactérias da placa; - Possui sabor agradável e refrescante, sem sabor residual, que estimula o fluxo salivar; - Além de reduzir o crescimento e adesão da placa dental, também promovem a remineralização de manchas brancas iniciais; - Parece diminuir os níveis salivares de S. Mutans; - Pode ser utilizado em produtos de higiene bucal, como enxaguatórios, pastilhas de garganta e dentifrícios; - A principal desvantagem é o alto custo, que impossibilita seu uso em saúde pública; - Os principais efeitos colaterais (associados a altas doses) são desconforto abdominal e diarreia; - A dosagem máxima diária é de 20 mg. Aula 7 Plano de Tratamento Periodontal - Anamnese; - Exames: hematológicos, raio-x, biópsia, moldagem, foto, exame físico (intra oral – mucosa, dentes, sondagem, periodonto e extra oral). - Urgência: dor, estética e função. Foge do planejamento. Base do plano de tratamento • Deve-se avaliar: - Mobilidade; - Furca; - Sangramento e profundidade de sondagem; - Anatomia do defeito ósseo. Obs: A idade do paciente é um fator importante. Medidas terapêuticas a) Terapia inicial - Conscientização, ensinar a técnica de escovação correta; tem por objetivo dar condição para o paciente realizar o tratamento; - Diminuir ou resolver o sangramento à sondagem; - Diminuir a profundidade da bolsa; - Eliminar a exposição de furca; - Estética funcional; - Remoção ou controle da infecção; - Raspagem supra-gengival; - Instrução de higiene oral. b) Terapia corretiva - Fase onde é executado o procedimento; - Ex: cirurgia periodontal, tratamento endodôntico e tratamento restaurador. Exame físico: sondagem → detecção da doença periodontal Hurian Machado – Odontologia UNIG 23 c) Fase de manutenção - Acompanhamento do paciente. Aula 8 Classificação das Doenças Periodontais (2018) A classificação das doenças periodontais auxilia e facilita o diagnóstico, prognóstico e o tratamento dessas doenças. Sistemas classificatórios que reúnem as doenças periodontais • 1806 – Joseph Fox; • 1942 – Orban; • 1966, 1977, 1986, 1989 – AAP; • 1999 – Workshop Internacional para classificação das doenças e condições periodontais; • 2018 - Workshop Mundial para classificação das doenças periodontais. Chicago – Novembro, 2017. O que é saúde? Saúde é o bem-estar físico, mental e social completo, e não apenas ausência de doença ou enfermidade. Saúde Periodontal A saúde periodontal pode existir antes do acometimento das doenças, mas também pode ser restaurada após um tratamento bem-sucedido, resultando em saúde periodontal em periodonto reduzido. Assim, um paciente pode apresentar saúde mesmo que apresente um quadro clínico e radiográfico de perda de inserção. • Em periodonto íntegro - Ausência de sangramento à sondagem; - Ausência de eritema e edema; - Sem perda óssea e/ou perda de inserção. - Profundidade de sondagem até 3mm. • Em periodonto reduzido - Ausência de sangramento à sondagem; - Ausência de eritema e edema; - Há perda óssea e/ou perda de inserção. a) Com histórico de periodontite - Paciente tratado com sucesso; - Perda de inserção; - Profundidade de sondagem até 4mm; - Sangramento a sondagem até 10% dos sítios; - Perda óssea radiográfica. b) Sem histórico de periodontite - Perda de inserção não relacionada à inflamação gengival; - Recessão gengival, aumento de coroa clínica; - Perda de inserção; - Profundidade de sondagem de até 3mm; - Sangramento em até 10% dos sítios; - Pode apresentar perda óssea radiográfica. Condições gengivais a) Condições gengivais induzidas pelo biofilme - Associadas apenas ao biofilme; - Mediadas por fatores sistêmicos/locais; - Associadas a medicação. Gengivite induzida pelo biofilme: - Sinais e sintomas de inflamação confinadas à gengiva e apresenta reversibilidade após a desorganização do biofilme; - Inserção periodontal estável; - Pré-requisito para uma periodontite; Fatores de risco: - Controle inadequado de placa; - Doença sistêmica e tabagismo. Hurian Machado – Odontologia UNIG 24 - Sinais clínicos: eritema, edema, sangramento e alargamento do sulco gengival. • Em periodonto íntegro - Profundidade de sondagem de até 3mm; - Sem perda inserção e/ou perda óssea radiográfica. • Em periodonto reduzido - Profundidade de sondagem até 3mm; - Perda de inserção e/ou perda óssea radiográfica. Obs: - Após o tratamento periodontal não há inflamação dos tecidos, porém a altura óssea é menor; - A gengivite associada ao biofilme num periodonto reduzido é caracterizada pelo retorno da inflamação, porém a margem gengival não apresenta progressão da perda de inserção. • Fatores modificadores - Hormônios sexuais esteroidais: a puberdade em conjunto com o aumento dos hormônios pode promover um aumento na resposta inflamatória gengival. - Puberdade: aumento drástico dos níveis hormonais tem efeito transitório na inflamação gengival. - Gravidez: gengivite associada (aumento de profundidade a sondagem e sangramento a sondagem). - Contraceptivos orais: hiperplasia gengival. • Exacerbada por fatores sistêmicos - Hiperglicemia/ Diabetes: perda de inserção, severidade de inflamação gengival. - Leucemia: deficiência nos fatores de coagulação (inchaço, aspecto esponjoso, cor vermelha a roxo intenso, sangramento). - Tabagismo: causa menor apresentação de sinais clínicos e sintomas. - Deficiência de vitamina C: características similares a gengivite. • Exacerbada por fatores locais - Margem de restaurações: maior acúmulo de biofilme. - Hipossalivação: dificultao controle de placa (medicamentos, ansiedade, diabetes). - Influenciada por medicação: pode causar hiperplasia. b) Condições gengivais não induzidas pelo biofilme - A gengiva pode exibir lesões patológicas não induzidas por placa bacteriana como manifestação de uma outra condição sistêmica. - Não são causadas pelo biofilme, mas são impactadas pelo seu acúmulo; - Anomalias genéticas e hereditárias: fibromatose gengival hereditária; - Infecções de origem bacteriana: gonorreia, síflis e tuberculose. • Sangramento à sondagem - Diagnóstico de gengivite; - Sítios: D-V, V, M-V, M-L/P, L/P, D-L/P; - Localizada: menos de 30% dos sítios; - Generalizada: mais de 30% dos sítios. • Drogas antiepiléticas: fenitoína, valproato de sódio; • Bloqueadores do canal de cálcio: nifedipina, verapamil; • Imunorreguladores: ciclosporina. Hurian Machado – Odontologia UNIG 25 - Infecções de origem viral: mão-pé-boca, gengivoestomatite herpética, varicela zoster, molusco HPV. - Infecções de origem fúngica: candidíase. - Lesões inflamatórias e imunológicas: reações de hipersensibilidade, alergia e eritema multiforme. - Doenças autoimunes de pele e mucosa: pênfigo vulgar, penfigóide, líquen plano, lúpus- eritematoso, granulomatos orofacial. - Processos reativos: hiperplasia, hiperplasia fibrótica, granuloma fibroblástico, calcificante, granuloma piogênico, granuloma de células gigantes. Doenças gengivais não induzidas pelo biofilme: • Desordens genéticas e de desenvolvimento: - Fibromatose gengival hereditária. • Infecções específicas: - Bacteriana: Neisseria gonorrhoeae, Treponema pallidum, Mycobacterium tuberculosis, gengivite estrepcócica. - Viral: coxsackie, herpes simples, varicela zoster, molluscum contagiosum, papiloma vírus. - Fúngica: candidíase. • Condições imunológicas e inflamatórias: - Reações de hipersensibilidade; - Doenças autoimunes; - Condições inflamatórias granulomatosas. • Processos reacionais: - Epúlides. • Neoplasias: - Pré-maligna: leucoplasia; - Maligna: carcinoma de células escamosas, leucemia e linfoma. • Doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais: - Deficiência de vitamina C. • Lesões traumáticas: - Físico; - Químico; - Térmico. Doenças necrosantes • Características: - Dor; - Sangramento; - Necrose da papila. • Comprometimento da resposta imune (fatores predisponentes): - Tabagismo e etilismo; - HIV; - Desnutrição; - Sono e stress; - Má higiene; - Gengivite pré-existente; - História prévia de doença necrosante. a) Gengivite necrosante - Processo inflamatório agudo do tecido gengival; - Necrose/ulceração papilar; - Sangramento gengival; - Dor; - Halitose; - Pseudomembranosa; - Linfodenopatia; - Febre. b) Periodontite Necrosante - Processo inflamatório do periodonto; - Necrose/ ulceração papilar; Hurian Machado – Odontologia UNIG 26 - Sangramento gengival; - Dor; - Halitose; - Perda óssea rápida; - Pseudomembranosa; - Linfodenopatia; - Febre. c) Estomamtite necrosante - Condição inflamatória grave do periodonto e da cavidade oral; - Necrose dos tecidos moles se estende além da gengiva; - Desnudação óssea; - Osteíte; - Sequestros ósseo; -Acomete pacientes sistêmica e severamente comprometidos. Periodontites - Doença inflamatória crônica; - Multifatorial; - Destruição progressiva do aparato de suporte dentário; - Formação de bolsa periodontal e sangramento gengival; - Se divide em estágios de severidade e grau. • Será considerado periodontite, quando: - Perda de inserção interproximal em 2 ou mais dentes não adjacentes; - Perda de inserção vestíbulo-lingual/palatina de mais de 3 mm; - Profundidade de bolsa maior que 3 mm. a) Estágios - Está relacionado com a evolução, tratamento e prognóstico da doença. • Estágio I - Profundidade de sondagem de aproximadamente 4 mm; - Periodontite inicial; - Transição de gengivite para periodontite; - Início da perda de inserção clínica. • Estágio II - Profundidade de sondagem de aproximadamente 5 mm; - Periodontite moderada; - Estabilidade da doença; - Exame clínico detalhado. • Estágio III - Profundidade de sondagem de aproximadamente 6mm; - Periodontite severa com risco de perda dentária; - Dano significativo ao aparato periodontal; - Perda de dentes; - Bolsas profundas; - Defeitos/LF. • Estágio IV - Complexidade do estágio III; - Periodontite avançada com dentes perdidos por doença periodontal; - Diminuição da função mastigatória; - Mobilidade aumentada. b) Grau de evolução - Está relacionado com a velocidade da evolução da doença (prognóstico/como tratar). 1. Critéio primário • A – Lenta - Sem perda óssea radiográfica em 5 anos; - Acúmulo de biofilme com baixo nível de destruição; • B – Moderada - <2mm em 5 anos; - Destruição proporcional com o acúmulo de biofilme; Hurian Machado – Odontologia UNIG 27 • C – Rápida - >= 5mm em 5 anos; - Destruição acima da relação com o biofilme; - Prognóstico rápido ou precoce; - Falta de controle bacteriano padrão. II. Modificadores • A – Lenta - Tabagismo: não fumante; - Diabetes: normal ou sem diagnóstico. • B – Moderada - Menos de 10 cigarros por dia; - HBA1C < 7%. • C – Rápido - Mais de 10 cigarros por dia; - HBA1C > 7%. Obs: HBA1C = hemoglobina glicada. Passo a passo do diagnóstico I. Exame inicial • Anamnese; • Periograma; • Exame radiográfico. II. Estabelecer estágio • Separar os casos de perda de inserção não ocasionados por periodontite; • Determinar a máxima perda de inserção ou perda óssea radiográfica; • Confirmar os padrões de perda óssea radiográfica. III. Estabelecer grau • Calcular o índice de perda óssea; • Observar presença de fatores de risco; • Observar resposta ao tratamento periodontal. Periodontite com manifestações de doenças sistêmicas - Várias doenças e condições sistêmicas podem afetar ou ter impacto negativo no curso da doença periodontal; - Afetam o periodonto mesmo sem a presença do biofilme. a) Doenças genéticas 1. Desordens associadas a desordens imunológicas - Síndrome de Down; - Síndromes associadas à deficiência na adesão leucocitária; - Síndrome de Papillon-Lefevre; - Síndrome de Haim-Munk; - Síndrome de Chediak-Higashi; - Neutropenia severa / Neutropenia congênita / Neutropenia clínica. 2. Desordens que afetam a mucosa oral e o tecido gengival - Epidermólise bolhosa; - Síndrome de Kindler; - Deficiência plasmogênica. 3. Desorderns que afetam o tecido conjuntivo - Síndrome de Ehlers-Danlons (tipos IV e VIII); - Angiodema; - Lúpus Eritematoso Sistêmico. 4. Desordens metabólicas e endócrinas - Doença de armazenamento de glicogênio; - Doença de Gaucher; - Hipofosfatasia; - Raquitismo; - Síndrome de Hadju-Cheney. b) Doenças de imudeficiência adquirida - Neutropenia adquirida; - Infecção por HIV. Hurian Machado – Odontologia UNIG 28 c) Doenças inflamatórias - Epidermólise bolhosa adquirida; - Doença inflamatória intestinal. Aula 9 Tratamento Periodontal Não-Cirúrgico Terapia básica periodontal (TPNC) É o conjunto de medidas que tem como objetivo: - Remoção de depósitos supragengival e subgengival de placa e cálculo; - Instrução ao paciente em relação as medidas adequadas de controle de placa; - Controle da inflamação; - Os objetivos do tratamento periodontal são reduzir a infecção, controlar, eliminar e prevenir a doença periodontal. Obs: a raspagem periodontal + higiene oral eficiente + controle efetivo de placa, irão devolver a saúde periodontal ao paciente. A terapia básica periodontal consiste em: - Profilaxia; - Higiene oral eficiente + motivação; - Raspagem supra e subgengival;- Agentes antimicrobianos. • Resposta esperada em 3 meses - Diminuição da profundidade de sondagem; - Nível de inserção clínica estável; -Diminuição dos sítios de sangramento a sondagem; - Melhora mobilidade dentária. • Terapia básica periodontal - Mecânico + químico. - Mecânico: curetas periodontais, ultrassom; - Químico: clorexidina + antibiótico. Obs: A terapia periodontal química não é eficaz se não estiver associada à terapia mecânica • Fase I: terapia associada a causa ou inicial - Fase onde ocorre a remoção da causa; - O profissional é o responsável; - Remoção do biofilme dental; - Controle de placa; - Motivação; - Remoção de fatores retentivos de placa; - Cooperação paciente-profissional. • Fase II: terapia adicional ou corretiva - Fase onde ocorre a correção de outros problemas; - Não deve ser feita em presença de doença periodontal. 1. Terapia básica periodontal; 2. Cirurgia; 3. Endodontia; 4. Dentística; 5. Prótese. • Fase III: terapia de suporte ou manutenção - É um conjunto de procedimentos realizados em intervalos relacionados para auxiliar o paciente periodontal na manutenção da saúde oral. - Prevenção a recorrência da doença periodontal evitando sua recorrência, progressão e perda dentária. - Métodos de controle de placa; - Monitoramento profissional. • Instrução de higiene oral - Método eficaz; - Controle diário; - Explicar a doença periodontal: demonstrar sinais e sintomas e enfatizar a causa; -Métodos adicionais: evidenciador de placa, vídeos, fotos, manequim, etc. Sequência clínica Hurian Machado – Odontologia UNIG 29 • Métodos de controle de placa 1. Escovas manuais - Desenho anatômico da esvoca; - Cerdas maciais e tamanho da ponta ativa adequado; - Habilidade do indivíduo; - Frequência e duração da escovação. Obs: A Técnica de Bass é a mais eficiente e mais fácil de ser executada. 2. Escovas elétricas - Indicadas para paciente deficientes ou com dificuldade motora. 3. Métodos auxiliares - Fio e fita dental; - Passa fio; - Escovas interproximais e unitufo; - Raspador de língua; - Dentifrícios. • Controle químico - Previne a aderência seletiva de bactérias; - Retarda a proliferação bacteriana; - Altera a patogenicidade da placa. Gluconato de clorexidina 0,12% - Eficiente agente antiplaca; - Sem toxicidade; - Reduz a carga bacteriana; - Previne a formação de placa; - Efeitos colaterais – estética e paladar. Doença ativa - A desorganização do biofilme permite a chegada do sistema de defesa do hospedeiro. - O princípio da terapia periodontal é simples: raspagem de dentes e raízes (fase I: terapia causal). Nichos de retenção a) Naturais Fazem parte da anatomia do dente. Ex: - Sulco que pode se formar na JCE; - Ranhuras palato gengivais; - Concavidades e fissuras. b) Patológicos - Cárie; - Bolsa periodontal; - Cálculo. c) Iatrogênicos (causados pelo profissional) - Restaurações mal adapatadas; - Materiais porosos próximos ao sulco gengival; - Restauração subgengival. Raspagem periodontal - Consiste na remoção de placa e cálculo das superfícies dentárias; - Pode ser supra gengival e subgengival; - Pode ser raspagem fechada ou aberta. Obs: - Supra gengival: coroa clínica; - Subgengival: com bolsa. Respostas esperadas - Ausência de sangramento a sondagem; - Redução da profundidade de sondagem; - Ganho de inserção clínica; Uso externo: 1. PerioGard sem álcool ou clorexidina 0, 12% -------- 01 frasco - Bochechar a medida da tampa 2x ao dia por 15 dias, após a primeira e última escovação do dia; - Não engolir e não lavar a boca após bochecho. Hurian Machado – Odontologia UNIG 30 - Redução da mobilidade dental; - Bom controle de placa do paciente; - Aspectos de normalidade tecidual. Obs: • Ganho de inserção: diferença de profundidade “antes” e “depois” do tratamento. • Bolsa: da margem gengival até o fundo da bolsa. • Nível de inserção clínica: da JCE até o fundo da bolsa. Cicatrização e maturação do periodonto após raspagem Após qualquer terapia periodontal, desencadeia-se cascatas celulares que comandam um processo denominado cicatrização. a) Regeneração - A reposição dos tecidos periodontais perdidos é um grande desafio na periodontia. - Regeneração: formação de um novo cemento, novo osso alveolar e novo ligamento periodontal. • Objetivos: 1. Selamento epitelial funcional estabelecido; 2. Novas fibras de Sharpey inseridas na raiz reproduzindo o ligamento periodontal e as fibras dentogengivais; 3. Novo cemento acelular de fibras extrínsecas sobre a superfície radicular exposta. 4. Osso neoformado. b) Reparo - O tecido epitelial sempre prolifera mais rapidamente que os tecidos mesenquimais, levando a formação de epitélio juncional longo. - Não promove a formação de cemento e de ligamento periodontal. - A formação de epitélio juncional longo proporciona sucesso clínico e saúde periodontal, mas a anatomia original do periodonto não é restabelecida. Regeneração X Reparo • Regeneração - Na regeneração, a relação estrutural e funcional do tecido periodontal danificado, é renovado; - Pequenas perdas – estruturas de profundidade a sondagem são mantidas; - É o processo de cicatrização mais desejado, entretanto, não é o processo que mais acontece, por isso diversas terapias têm sido desenvolvidas com intuito de restaurar os tecidos periodontais perdidos. • Reparo - Os tecidos danificados são substituídos por tecidos cuja função não é necessariamente aquela do tecido original; - Regeneração incompleta; - Tecido conjuntivo não especializado; - Colágeno. Regeneração tecidual guiada (RTG) O princípio da regeneração tecidual guiada é isolar o epitélio gengival evitando a migração apical do epitélio juncional e a migração de células do tecido conjuntivo gengival para a superfície radicular, facilitando a reinserção de células do ligamento periodontal e do osso. O princípio biológico da regeneração tecidual guiada presume que o ligamento periodontal contenha todas as células necessárias para a regeneração periodontal. Obs: a RTG evita que o epitélio juncional e o tecido conjuntivo alcance a superfície radicular durante a cicatrização. Hurian Machado – Odontologia UNIG 31 Após a instrumentação - Espera-se que a cicatrização depois da terapia não-cirúrgica aconteça entre 3-6 meses. - Diminua-se os sítios com sangramento à sondagem; - As maiores alterações na redução da profundidade de sondagem e ganho de inserção clínica ocorrem de 4 a 6 semanas. - Reparo gradual e maturação pode ocorrer por até 9 a 12 meses. Aula 10 Tratamento de Dentes com Envolvimento de Furca O complexo radicular é composto por tronco radicular e cone radicular (podendo ser mais de um ou não). Existe uma porção da raiz que não é inserida no osso alveolar, e essa pequena porção é o local onde a gengiva se insere. Aproximadamente 0,97 mm do cemento se encontra fora do osso alveolar. Dentes com mais de uma raiz - 1º Pré-molar superior; - Molares superiores; - Molares inferiores. Graus de lesão de furca de Miller A lesão de furca consiste na exposição da furca, devido à reabsorção óssea. a) Classe I Perda óssea horizontal até 3mm. b) Classe II Perda óssea horizontal maior que 3mm, mas que não ultrapassa totalmente a furca. c) Classe III Perda horizontal com comunicação (a sonda sai do outro lado do dente). O exame de furca é feito com a sonda Nabers. Hurian Machado – Odontologia UNIG 32 Obs: Deve-se avaliar o tamanho do tronco para traçar o diagnóstico. Em casos de lesão de furca, quanto maior for o tronco radicular, menor será aárea de inserção de raiz, logo, deverá ter uma perda óssea maior para que atinja a furca. É inversamente proporcional. Tratamento para lesões de furca - Eliminar a placa bacteriana; - Estabelecer a anatomia facilitando o autocontrole de placa. a) Envolvimento de furca grau I - Raspagem e alisamento radicular; - Plastia de furca (tornar a furca menos retentiva). b) Envolvimento de furca grau II - Plastia; - Tunelização; - Ressecção radicular (rizectomia); - Extração dentária; - Regeneração tecidual guiada (nos molares inferiores é mais fácil). Obs: Rizectomia c) Envolvimento de furca grau III - Tunelização; - Ressecção radicular; - Extração dentária. Cicatrização após raspagem Cicatrização por reparo (forma epitélio juncional longo). Regeneração Deve-se impedir a migração epitelial sobre o cemento radicular utilizando barreiras mecânicas, que são as membranas. • Regeneração tecidual guiada - Classe II de furca; - Defeitos ósseos verticais; - Defeitos ósseos circunferenciais. • Barreira biológica (membrana) - Impede migração do epitélio e conjuntivo; - Permite a formação de espaço periodontal para formação de cemento e ligamento. Tipos de membrana: - Não reabsorvível; - Reabsorvível. Hurian Machado – Odontologia UNIG 33 Aula 11 Classificação de Miller (1985) A classificação de Moller leva em consideração o recobrimento radicular possível de se obter (previsibilidade). • Classe I - Não atinge a JMG; - Não haverá perda óssea, e nem de tecido mole interdental; - Espera-se 100% de recobrimento. • Classe II - Atinge a JMG; - Não há perda óssea, e nem de tecido mole interdental; - Espera-se 100% de recobrimento. • Classe III - Atinge a JMG; - A perda óssea ou de tecido interdentais é discreta (apical em relação à JCE, porém coronária à extensão da retração); - Espera-se cobertura parcial. • Classe IV - Atinge a JMG; - Há perda inter-dental severa (estende-se apicalmente em relação à retração); - Baixa previsibilidade. Nova Classificação das recessões gengivais (2018) • Recessão Tipo 1 (RT1) Sem perda de inserção interproximal. Junção cemento-esmalte (JCE) interproximal não detectável clinicamente na mesial ou na distal. • Recessão Tipo 2 (RT2) Perda de inserção interproximal, com distância da JCE ao fundo de sulco/bolsa menor ou igual à perda de inserção vestibular (medida da JCE ao fundo de sulco/bolsa na face vestibular). • Recessão Tipo 3 (RT3) Perda de inserção interproximal, com distância da JCE ao fundo de sulco/bolsa maior que a perda de inserção vestibular (medida da JCE ao fundo de sulco/bolsa na face vestibular). Referências: • Material de apoio cedido pelos professores da disciplina; • LINDHE, J. A. N.; KARRING, Thorkild; LANG, Niklaus. Tratado de periodontia clínica e implantodologia oral, 1999; • Newman, Michael G. Carranza periodontia clínica. Elsevier Brasil, 2012; • Periobook: Classificação das Doenças Periodontais – Eduardo de Mesquita Sampaio; Hurian Machado – Odontologia UNIG 34 • STEFFENS, J.P; MARCATONIO R.A.C. Classificação das Doenças e Condições Periodontais e Peri-Implantares: guia Prático e Pontos-Chaves, São Paulo: Revista de Odontologia da UNESP, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rounesp/v47n4/180 7-2577-rounesp-47-4-189.pdf. Recado para você que adquiriu essa apostila: Caso tenha alguma dúvida, entre em contato comigo ou tire essa dúvida com algum professor. Talvez possa ter coisas diferentes da forma que você aprendeu, mas isso não quer dizer necessariamente que eu ou você estejamos errados. Professores e autores têm diferentes pontos de vista as vezes. Essa apostila não pode ser vendida por terceiros e nem plagiada. Plágio é crime de violação aos direitos autorais no Art. 184. Obrigado e bons estudos! "#$% E-mail p/ contato: hurianmachado@hotmail.com Ah, se por acaso você postar algum story no Instagram estudando por essa apostila, me marca para que eu reposte :) Instagram: @DOUTOR_SORRISO
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