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Cursos Online EDUCA www.CursosOnlineEDUCA.com.br Acredite no seu potencial, bons estudos! Curso Gratuito Introdução à Gestão, Supervisão, Orientação e Inspeção Educacional Carga horária: 60 hs Conteúdo programático: Contexto histórico de gestão escolar sob o olhar de diversos autores Período de estudos clássicos Síntese das ideias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil Período de estudos críticos Síntese das ideias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil Período compreendido entre 1987- 2004 tendências da pesquisa brasileira na área da gestão escolar Síntese das ideias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil Princípios da Gestão Escolar Concepções e estilos de gestão escolar Administração x Gestão Escolar O papel do gestor escolar A função do diretor/gestor no contexto escolar Gestão pedagógica Gestão administrativa Gestão de resultados Liderança Teorias de traços de personalidade Teorias sobre estilos de liderança Teorias situacionais de liderança A supervisão escolar Idade Média Idade Moderna e Contemporânea Contrastes na supervisão No Brasil — alguns dados Conceitos de supervisão Importância da supervisão O contexto de surgimento da orientação educacional A Orientação Educacional no Brasil A relação entre teoria e prática no cotidiano da orientação educacional As tendências pedagógicas e a Orientação Educacional As áreas de atuação do orientador educacional A Orientação Educacional e a família do aluno A Orientação Educacional e a integração do aluno à escola e à sociedade A Orientação Educacional e o desenvolvimento físico e emocional do aluno As atuais atribuições da orientação educacional Um breve histórico da inspeção escolar Atribuições do inspetor Escolar O trabalho do Inspetor Escolar nas Superintendências Regionais de Ensino Referências Pode-se iniciar esse texto com a origem da palavra Gestão que advém do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, cujo significado é levar sobre si, carregar, chamar para si, executar, exercer e gerar. Desse modo, gestão é a geração de um novo modo de administrar uma realidade, sendo, então, por si mesma, democrática, pois traduz a ideia de comunicação pelo envolvimento coletivo, por meio da discussão e do diálogo. Para Libâneo, a gestão é a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais e técnicos-administrativos. Gestão é a atividade que põe em ação o sistema organizacional. Para Souza, a gestão escolar pode ser compreendida como um processo político, de disputa de poder, explicitamente ou não, através da qual as pessoas agem sobre ela pautam-se predominantemente pelos seus próprios olhares e interesses acerca de todos os passos desse processo, com vistas a garantir que as suas formas de compreender a instituição e os seus objetivos prevaleçam sobre os dos demais sujeitos, ao ponto dos demais sujeitos a agirem como eles pretendem. Para Luck, é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de seu projeto político-pedagógico e compromissado com os princípios da democracia e com os métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo de participação e compartilhamento e autocontrole. Para Paro (1986), gestão e administração (aqui tratados pelo autor como sinônimos) é a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados. Contexto histórico de gestão escolar sob o olhar de diversos autores Para pensarmos sobre a atuação do diretor, diante das exigências do mundo contemporâneo, impõe-se uma reflexão sobre o movimento pela qualidade da educação entendendo o movimento da gestão como um conjunto de ações desenvolvidas principalmente no interior da escola que aponte para as exigências de um modelo educacional satisfatório, pelo menos nos termos da lei e das relações entre instituição escolar e sociedade. Acredito ser bastante interessante fazer um apanhado histórico sobre a administração escolar e posteriormente gestão escolar no Brasil, pois através desse contexto histórico podemos fazer algumas reflexões sobre a atual política de gestão nas escolas públicas e uma comparação entre o perfil e o papel que os diretores desempenhavam nos diferentes períodos apontados. Para isso vamos tomar como referência Souza, 2006, onde fez uma análise profunda, em sua tese de doutorado, dos autores e os divide em três períodos: período de estudos clássicos, período de estudos críticos e período pós 1987. Período de estudos clássicos Compreende o período de 1930 a meados da década de 70 e serão analisados os seguintes autores: Carneiro Leão, Querino Ribeiro, Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Myrtes Alonso e Benno Sander. Antônio Carneiro Leão, de 1939 trata-se de uma obra muito importante sobre administração escolar no país, além de ter sido a primeira sistematização na área, foi por muito tempo um dos mais citados referenciais para o estudo da administração escolar e da educação comparada. O autor procura articular os conceitos e exemplos da administração escolar nos diferentes países e sistemas de ensino pelo mundo. Na visão de Leão o diretor da escola deve ser sempre um professor. O autor confunde direção e administração escolar, ou seja, o processo de identificação de problemas, de planejamento, de tomada de decisões, de acompanhamento e controle e avaliação das ações escolares é todo ele centrado na figura do diretor: o diretor é a alma da escola. Diz-me quem é o diretor que te direi o que vale a escola (Leão, apud Souza, 2006). Prof. José Querino Ribeiro, 1952, representa talvez a primeira bem sucedida tentativa no país de apresentação de um ensaio que busca ao mesmo tempo sugerir formas de organização e administração da escola e teorizar sobre esses aspectos. A obra está dividida em duas partes: a primeira parte são os fundamentos da administração escolar, que vai da complexidade da escola moderna até a identificação do problema da administração escolar, passando por discussões acerca dos princípios e responsabilidades da escola e pelas fontes de inspiração da administração escolar. F. W. Taylor e H. Faiol são os principais autores citados por Ribeiro na sua apresentação teórica. Esses autores eram a expressão mais expoente mundialmente da chamada administração científica, que se apresentava na área da educação como uma espécie de antídoto às tradicionais (e conservadoras) formas de se pensar e organizar a escola. A segunda parte do livro apresenta os aspectos, tipos, processos, meios e objetivos da administração escolar, numa perspectiva de conceituação dos elementos e orientação do trabalho da administração escolar. O autor reconhece que a administração escolar tem a tarefa de organizar e coordenar os trabalhos escolares, a partir de informações coletadas na própria fonte dos problemas educacionais, uma vez que admite que nenhuma regulação estatal acerca dos currículos possa cercear a liberdade de condução da ação pedagógica do professor. Para tanto, é necessário um clima de ação coletiva na escola, superando-se as tradicionais formas hierárquicas da organização escolar (Ribeiro apud Souza, 2006). O autor termina sua obra mostrando os três problemas fundamentais para a administração escolar: a) apreender os ideais propostos pela Filosofia da Educação para, em função deles, determinar os objetivos da escola; b) conhecer a Política de Educação para, em função dela, adotar um estilo de ação adequado; c) aproveitar as contribuições da ciência para o conhecimento dos elementos humanos envolvidos no processo de escolarização e, em função dele, empregar as técnicas mais convenientes às atividades da escola (Ribeiro apud Souza, 2006).Manuel Bergstron Lourenço Filho, em 1941 já havia trazido contribuições importantes para a área da administração escolar. Em 1963 em sua obra denominada Organização e Administração Escolar, a inicia afirmando acerca da relação entre escola e vida social que ―assim como seja cada sociedade, assim serão suas escolas‖ (Lourenço Filho apud Souza, 2006 p.39), permitindo compreender que a escola não é espelho da sociedade, mas que ela em grande parte reproduz aspectos significativos da organização da vida social. Para o autor, as pessoas sobre as quais se concentram as atividades administrativas são os alunos, os professores, os diretores e os dirigentes do sistema de ensino. Em ordem ascendente, os dirigentes do sistema de ensino estão hierarquicamente acima dos diretores, que estão acima dos professores, que estão acima dos alunos. É curioso que o autor não se preocupe com os familiares dos alunos e com os demais trabalhadores não-docentes da escola, possivelmente porque para ele aqueles sujeitos concentram as atividades essenciais do fazer escolar. De qualquer forma, o conjunto de situações concretas que envolvem essas pessoas sobre as quais a organização e gestão escolar se debruçam cotidianamente implica sempre na ideia de ter opções, isto é, administração significa ter opção, pois nas situações nas quais não haja vários caminhos possíveis, não se requerem tomar decisões, não é necessário procurar definir e agir com mais eficiência, não havendo assim ação administrativa (Lourenço Filho apud Souza, 2006). E, em um contexto de opções, as atividades fundamentais do dirigente escolar estão, segundo o autor, em: a) Reunir informações sobre a situação problemática, tal como realmente se apresente; b) Decidir no sentido de modificar esse estado de coisas, a fim de que os objetivos assentados possam ser obtidos com a eficiência desejada. As tarefas fundamentais do organizador e administrador resumem-se (...) em duas apenas (...): informar-se e decidir. (Lourenço Filho apud Souza, 2006). Anísio Teixeira. O pensamento deste autor é bastante importante, pois apresenta e mapeia os principais pensamentos sobre a área da Gestão Escolar durante o século passado, pois Teixeira foi, um dos maiores autores a tratar sobre a educação no Brasil em toda a sua história, logo, quando pensador desta envergadura escreve sobre a Gestão Escolar, precisamos observar suas ideias. Em 1960 proferiu a palestra ―Que é Administração Escolar?‖ Na aberturado 1° Simpósio Brasileiro de Administração Escolar. O autor se posiciona de forma diversa ao longo desses anos sobre assuntos do campo da gestão escolar. Essas mudanças de pensamento decorrem de avaliações e posição política do autor, o que espelha uma condição muito presente ao longo de toda a sua trajetória profissional: a de um intelectual que estava no centro da política educacional. Myrtes Alonso se destaca com o texto adaptado de sua tese defendida em 1974, ―O papel do diretor na administração escolar‖, datado de 1976. Trata-se de um estudo importante considerando a sua abrangência teórica e o período em que foi escrito. Contudo, caminha numa espécie de contramão dos trabalhos de crítica que começavam a surgir e que colocavam sérias restrições à concepção de administração escolar até então defendidas. A autora deixa bastante clara sua concepção de que a administração escolar é uma especialização da ampla área da administração. Esta ideia de especialização da administração geral explica por que o diretor da escola é, para ela, a figura que expressa por excelência as funções administrativas naquela instituição (Alonso apud Souza, 2006 ). Existe em seu livro uma diferenciação entre ―funções administrativas‖ e ―funções técnicas‖. O papel do diretor na escola não é de desenvolver um trabalho técnico pedagógico, mas é sim uma tarefa administrativa. Essas tarefas administrativas são compreendidas pela autora como organização, planejamento, supervisão do trabalho escolar e tomada de decisão. Este trabalho do administrador escolar se desdobra nas funções de ―Organização e direção do trabalho escolar, desenvolvimento de atividades de liderança ou estimulação e manutenção do comportamento humano produtivo, ao controle dos resultados e apreensão do seu valor social‖ (Alonso apud Souza, 2006). Benno Sander A ideia central desse trabalho reside na identificação dos referenciais dos principais autores do campo da administração escolar, no Brasil e no exterior. O resumo desses levantamentos que produz aponta, segundo o autor, para o reconhecimento de duas grandes correntes de pensamento no campo da administração da educação: a administração do consenso e a administração do conflito. Para o autor há quatro critérios de acordo com os quais a administração da educação se orienta e que estão relacionados com essas dimensões: ―relevância (dimensão humana), efetividade (dimensão sociopolítica), eficácia (dimensão pedagógica) e eficiência (dimensão econômica) (Sander apud Souza, 2006). Esses critérios e dimensões se expressam na função do administrador da educação, cujas competências podem assim ser vislumbradas: A competência humana do administrador da educação revela-se na capacidade para conceber soluções e na liderança para implantá-las sob a ótica da relevância para a plena realização dos participantes da comunidade educacional. A competência sociopolítica define o talento do administrador da educação para perceber o ambiente externo e sua influência sobre o sistema educacional e seus participantes, e a habilidade de adotar uma estratégia de ação para a efetiva satisfação das necessidades e demandas sociais e políticas do sistema educacional. A competência pedagógica do administrador da educação reflete sua capacidade para formular objetivos educacionais e para desenhar cenários e meios pedagógicos eficazes para a sua consecução. Finalmente, a competência econômica do administrador da educação refere-se à sua eficiência para otimizar a captação e utilização dos recursos e elementos técnicos e racionais a serviço dos objetivos do sistema educacional. (Sander, apud Souza, 2006). Síntese das ideias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil A U TO R ES C LÁ SS IC O S Direção Escolar Gestão Escolar • O diretor deve ser um professor. • Gestão e direção se confundem. • O diretor educacional. como defensor da política • As atividades que são próprias da escola são o fundamento para a AE. • O diretor professor. deve se colocar a serviço do • A administração científica possui princípios e métodos que cabem na escola. • O papel pedagógico do diretor está em desenvolver ações administrativas para garantir as condições de funcionamento das ações pedagógicas. • A AE é uma especialização da administração. • O elemento mais importante não é o administrador, mas o professor. • A AE é necessária pela complexificação da educação escolar, em tamanho e em problemas. • O papel do diretor não é técnicopedagógico, mas sim, Administrativo. • É necessário um clima de ação coletiva na escola. • O papel do diretor é manter o equilíbrio, conduzindo a escola nos processos de mudança. • Escola eficiente e eficaz: condição para garantir o acesso de todos. • O diretor é o responsável pela implementação dos objetivos educacionais. • Objetivo da AE: tornar as escolas mais eficientes. • O diretor é o pólo de poder central da escola. Este poder vem da legislação e das expectativas que a escola tem para com ele, o que resulta em pressões legais e sociais. • A consecução dos objetivos escolares de forma eficiente e a coordenação do esforço coletivo é o foco da AE. • A AE ocorre antes, durante e depois das funções pedagógicas escolares: Antes = planejamento; durante = comando e assistência; depois = medição e avaliação. • A AE deve garantira unidade e a economia, através da divisão do trabalho, mas sem perder a unidade. • Distinção entre ação operativa: pensar e fazer. administrativa e ação • Administração significa ter opção, logo significa tomar decisões. • O processo administrativo se resume em: reconhecimento de um problema; planejamento; coordenação; verificação do resultado; exame para evitar a reaparição do problema. Período de estudos críticos Este período se inicia no final da década de 70. Os principais autores aqui citados estão Miguel Arroyo, Maria Dativa S. Gonçalves, Maria de Fátima C. Félix. Miguel Arroyo o artigo intitulado ―Administração da educação, poder e participação‖, publicado em janeiro de 1979 trata, como o título sugere, das relações políticas que cercam a administração da educação, procurando construir uma linha crítica aos modelos implantados no país que procuravam ao ver do autor, torná-la uma tarefa meramente técnica e, com isto, buscavam identificar as causas dos problemas educacionais brasileiros com razões tipicamente técnicas. Isto é, se os problemas educacionais eram ocasionados por incompetência ou incapacidade técnica, a administração científica, calcada na racionalidade da empresa privada – modelo que inspirava a administração educacional no país resolveria esses problemas. Para esta concepção então dominante na administração educacional no país. Para Arroyo praticamente equivale o poder público com a empresa privada, observando que ambos operam sob raciocínios semelhantes no que tange ao processo de racionalidade administrativa. Arroyo se preocupa com o papel do dirigente escolar e educacional, que deve, em sua concepção, superar a pretensa neutralidade que se lhe atribuem os cursos de formação básica e continuada e os documentos legais, percebendo a natureza política do trabalho escolar e reconstruindo nas análises macrossociais sobre a escola. Trata-se de um período em que ao administrador é reclamado amplo conhecimento sobre as técnicas de gestão e organização, mesmo que com conhecimentos superficiais sobre o real objeto com o qual deveria lidar: a educação escolar e o processo educativo. Maria Dativa Gonçalves. 1980 As sínteses da autora sobre os trabalhos que analisa apontam para a constatação de que se trata de estudos que confirmam que todas as instituições e organizações têm elementos comuns, permitindo a constituição de teorias gerais da administração aplicáveis a todas elas e que, nas escolas, haveria a necessidade de se articular a burocracia e a organização profissional, para o seu desenvolvimento administrativo e institucional. Todavia, ela reconhece que os autores dos trabalhos que analisa destacam as articularidades da ―empresa educacional‖, as quais demandam elementos administrativos particulares, mesmo que sob a defesa de uma teoria geral da administração. Maria de Fátima C. Félix produziu um trabalho de crítica aos modelos de administração escolar vigente no país até o início dos anos 80 foi, com a publicação da sua dissertação de mestrado, intitulada ―Administração Escolar: um problema educativo ou empresarial? (1984). O trabalho tinha como objetivo ajudar na construção ―deste movimento crítico, mediante uma análise da Administração Escolar, explicitando as relações que se estabelecem entre o sistema escolar e a evolução do capitalismo‖ (Félix apud Souza, 2006). A partir desse objetivo a autora procura deixar claro ao leitor que as análises que se apresentam no seu livro confrontam a administração escolar como ferramenta operacional da política educacional, e as relações entre esta política e a política mais ampla do Estado. E a hipótese que guia o trabalho da autora aponta para a ideia de que a administração escolar tem como principal papel garantir ao Estado o controle sobre a educação, tendo em vista a crescente burocratização dos sistemas de ensino. Tal controle permitiria ao Estado adequar a educação ao seu projeto de desenvolvimento econômico e também seria condição para uma avaliação sobre os produtos da educação numa perspectiva da produtividade. Aborda em sua obra o estudo das relações o estudo das relações entre a organização do sistema escolar e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil; a contraposição entre a administração de empresa e a administração escolar; e o estado capitalista brasileiro e a burocratização do sistema escolar. Acácia Z. Kuenzer Zung A autora faz considerações sobre alguns aspectos da teoria da administração escolar, a qual se sustenta em aspectos mais prescritivos, evidenciando uma natureza pouco científica. Além disso, faz críticas à naturalização da divisão social do trabalho, apresentada pelas teorias da administração como parte integrante da natureza humana e não como produto social, bem como também se soma aos demais autores do período no que se refere às críticas ao entendimento de que a administração educacional é uma aplicação da administração no ambiente educacional . Vitor Paro o autor procura demonstrar como as duas tendências então dominantes no pensamento da administração educacional brasileira de então estavam equivocadas. De uma parte, a concepção que advogava que a escola poderia ser administrada pelos mesmos procedimentos da empresa capitalista, e de outra, a concepção que avaliava ser desnecessário qualquer tipo de organização administrativa na escola; ambas incorriam, na visão de Paro, no mesmo engano de não levarem em conta que a administração escolar recebia decisivas influências e impactos dos determinantes sociais e econômicos, pois para o autor a ...atividade administrativa não se dá no vazio, mas em condições históricas determinadas para atender a necessidades e interesses de pessoas e grupos. Da mesma forma, a educação escolar não se faz separada dos interesses e forças sociais presentes numa determinada situação histórica (Paro, 1988). Paro conclui seu trabalho afirmando que a administração escolar transformadora não pode ignorar a realidade em que se encontra a organização das escolas, ao contrário, é partindo dessa realidade que a transformação necessária emergirá, na qual a figura do diretor, então uma personagem central e de responsabilidade última pela escola, não pode ser ignorada e deve ser atraída para os compromissos de transformação social em busca não da conquista do poder por grupos mais avançados e menos conservadores, mas na luta primeira pela transformação do poder. Esses trabalhos do período do início dos anos 80 têm algumas características bastante similares: a) estão todos voltados à crítica aos modelos de organização e gestão das escolas até então dominantes na literatura especializada e na prática escolar e educacional. Os autores ―críticos‖ colocam no centro da sua análise os trabalhos dos períodos anteriores, desfocando-os um pouco. A exceção fica por conta de Paro, o qual, a despeito das críticas, enxerga alguma positividade naqueles trabalhos, mas a qualifica normalmente como ingenuidade; b) são todos os trabalhos com perfil teórico, ou de análise de produção teórica, não havendo, em nenhum desses casos, articulação com pesquisas empíricas que tomassem a escola e a sua gestão como objeto de estudos; c) há um pressuposto para esses trabalhos: a administração escolar como aplicação da administração científica nas escolas contribui para a manutenção das condições econômicas, sociais e políticas da sociedade; d) os instrumentos e processos da gestão escolar, como estavam sendo tratados pelos autores clássicos e como eram entendidos na organização prática das escolas, na visão desses autores críticos, são fenômenos essencialmente tecnocráticos, assim como o perfil do dirigente escolar, reconhecido por esses autores como de um gerente em uma empresa produtiva, cuja tarefa era de garantir a produtividade, de um lado, ou,mais o controle dos trabalhadores da educação. Síntese das ideias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil Direção Escolar Gestão Escolar • Crítica à concepção do Crítica aos modelos técnicos de AE Diretor como um gerente, própria implantados até então no país. da administração capitalista. • Crítica aos pensadores brasileiros e • O diretor deve ser um estrangeiros pela linearidade entre a AE e a educador, antes de tudo. administração em geral. • O diretor como • Crítica ao uso da administração coordenador do trabalho coletivo. científica na AE. • Crítica à ideologização da teoria administrativa. • Crítica à AE que tem como principal papel garantir ao Estado o controle sobre a educação. • Críticas à naturalização da divisão social do trabalho. • Crítica às teorias da administração por sua pretensa neutralidade técnica. • Crítica à administração conservadora pela negligência técnica em favor de uma ação política conservadora: aplicação de um tecnicismo vazio. • Administração é o uso racional de recursos com vistas a determinados fins. • Administração como racionalização do trabalho e coordenação do trabalho coletivo. • Administração, em última análise, são métodos. • Educação escolar é um fenômeno muito específico que demanda tratamento específico. • Percebem a dimensão política da administração. • A AE deve estar articulada com os objetivos escolares • Administração transformadora: percepção política e intervenção técnica. • Participação da sociedade na administração transformadora. • Autogestão. Período compreendido entre 1987- 2004 tendências da pesquisa brasileira na área da gestão escolar A pesquisa no campo, a partir dos anos 80, herdou importantes marcas daquela crítica, destacadamente: a) o reconhecimento da gestão escolar como um processo político pedagógico; b) a preocupação com temas até então pouco importantes, como a democratização da gestão escolar. Todavia, mesmo sendo possível se afirmar que o período da crítica à escola clássica da gestão escolar inspirou uma sequência de estudos na área durante as décadas de 80 e 90, é também possível se observar o surgimento de novos temas e abordagens nas pesquisas na área. A produção acadêmica do campo da gestão escolar no Brasil neste período foi de 514 (quinhentos e catorze) trabalhos de mestrado e doutorado. Os temas no início dos anos 80 que mais se evidenciaram eram o papel do diretor, o perfil do diretor, forma de escolha dos diretores escolares, relação entre o papel do diretor e o sucesso escolar a partir da segunda metade dos anos 90, surgiram outros assuntos com práticas e desafios do diretor, formação, prática cotidiana dos dirigentes escolares. Gestão democrática, projeto político pedagógico, APMF, avaliação institucional, grêmio estudantil. Poucos estudos sobre a questão de gênero. Síntese das ideias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil Direção Escolar Gestão Escolar Papel do diretor: articulador da • Gestão é um processo político. organização e gestão Escolar. • A democracia na escola. • Preocupação central com as formas • Gestão democrática. de escolha da função de diretor. • Conselhos de escola, junto com a • Na identificação do perfil do diretor, eleição de diretores, como as a preocupação com as contradições expressões da gestão democrática. da função: representante do poder • A Gestão e as relações de poder na público X representante da escola. comunidade escolar; função • O projeto político-pedagógico como administrativa X função pedagógica uma ferramenta da organização e • O diretor no centro das relações de gestão escolar. poder. • Autonomia na gestão escolar. Todos, na escola, por meio do trabalho pedagógico, são responsáveis pelo andamento do processo de ensino e aprendizagem. A administração escolar se desenvolve no atendimento ao conjunto de características que a escola apresenta. ―Tanto a teoria como a prática sugerem que o estilo de liderança e gestão do diretor será crucial em qualquer escola...‖ (COLS, 2006) Isto serve para compreender que uma boa atuação do diretor e o bom funcionamento da escola podem significar preocupação com a educação e ao mesmo tempo contribuir com a elevação do nível cultural dos alunos. Nessa perspectiva é possível pensar na educação como um instrumento que possibilite às camadas populares uma ampliação do universo cultural. O funcionamento da escola e, sobretudo, a qualidade da aprendizagem dos alunos dependem de boa direção, ou seja, de formas democráticas e eficazes de gestão do trabalho escolar. É preciso estar claro que a direção e a administração da escola são meios para garantir os objetivos educacionais. Libâneo, 2003, defende estudos que mostram que o modo de funcionamento de uma escola faz diferença nos resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam iguais, não sendo possível estabelecer regras e procedimentos organizacionais de validade geral, as pesquisas contribuem para a indicação de características organizacionais que podem ser úteis para a compreensão do funcionamento delas, considerados os contextos e as situações escolares específicas. ―... O perfil do diretor e da gestão escolar são elementos que se somam a um conjunto de outros aspectos responsáveis pelos resultados escolares, mas não deixam de ser variáveis importantes para a compreensão dos resultados estudantis, permitindo-se concluir que há uma espécie de efeito gestão nas escolas públicas de educação básica no Brasil...‖ (SOUZA, 2006) Princípios da Gestão Escolar A gestão escolar, como área de atuação, constitui-se, pois, em um meio para a realização das finalidades, princípios, diretrizes e objetivos educacionais orientadores da promoção de ações educacionais com qualidade social, isto é, atendendo bem a toda a população, respeitando e considerando as diferenças de todos os seus alunos, promovendo o acesso e a construção do conhecimento a partir de práticas educacionais participativas, que fornecem condições para que o educando possa enfrentar criticamente os desafios de se tornar um cidadão atuante e transformador da realidade sociocultural e econômica vigente, e de dar continuidade permanentemente aos seus estudos. Para que as organizações funcionem e, assim, realizem seus objetivos, requer-se a tomada de decisões e a direção e controle dessas decisões. É esse processo que denominamos de gestão. Para o gestor escolar torna-se, entretanto, imprescindível conhecer a dimensão do conjunto organizacional, isto é, a escola como realidade global, ser capaz de adaptá-la às novas exigências que a localidade deseja. A organização e a gestão da escola visam: • Promover as condições, os meios e todos os recursos necessários ao ótimo funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula; • Promover o envolvimento das pessoas no trabalho por meio da participação e fazer o acompanhamento e a avaliação dessa participação, tendo como referência os objetivos da aprendizagem. • Garantir a realização da aprendizagem de todos os alunos. A gestão escolar constitui uma das áreas de atuação profissional na educação destinada a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos. Gestão escolar é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com a s diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de seu projeto político pedagógico e compromissado com os princípios da democracia e com os (soluções próprias, no âmbito de suas competências), de participação e compartilhamento (tomada de decisões conjunta e efetivação de resultados) e autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno de informações)Compete, pois, à gestão escolar estabelecer o direcionamento e a mobilização capazes de sustentar e dinamizar a cultura das escolas, para realizar ações conjuntas, associadas e articuladas, sem as quais todos os esforços e gastos são despendidos sem muito resultado, o que, no entanto, tem acontecido na educação brasileira, uma vez que se tem adotado, até recentemente, a prática de buscar soluções tópicas, localizadas, quando, de fato, os problemas são globais e inter- relacionados. Cabe ressaltar que a gestão escolar é um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo. O fim último da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola desenvolvam as competências que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam pensar criativamente: analisar informações e proposições diversas, de forma contextualizada; expressar ideias com clareza, oralmente e por escrito; empregar a aritmética e a estatística para resolver problemas; ser capaz de tomar decisões fundamentadas e resolver conflitos. ( LUCK, 2008) Concepções e estilos de gestão escolar Segundo Libâneo os processos de gestão assumem diferentes concepções conforme a intencionalidade em relação às finalidades sociais e políticas da educação. Em um extremo temos a concepção técnico-científica e em outro a sóciocritíca. Na concepção técnico-científica prevalece a visão mais burocrática e tecnicista da escola. A escola funciona como uma realidade neutra e objetiva, deste modo pode ser planejada, organizada e controlada de modo a obter altos índices de eficácia e eficiência. A direção é centralizada no papel do diretor, as decisões vêm de cima para baixo onde não existe a participação coletiva. Valorizam a estrutura organizacional, normas, regulamentos. Este modelo é o mais comum encontrado na realidade brasileira. Na concepção sócio crítica a escola é concebida como um sistema que agrega pessoas para que ocorra intencionalmente ações de interações sociais. A organização escolar não é algo um espaço neutro e sim um espaço que deve ser construído na coletividade escolar. Tanto o processo de gestão como o de tomada de decisão se dão no coletivo. Conforme os últimos estudos sobre os estilos de gestão escolar Libâneo classifica quatro concepções de gestão: a técnico-científica, a autogestionária, a interpretativa e a democrática-participativa. Concepção técnico-científica, esta baseia-se na hierarquia de cargos e funções, nas regras e procedimentos administrativos, visando sempre a racionalização dos trabalhos e a eficiência dos serviços escolares. Também conhecida em sua visão mais conservadora como administração clássica ou burocrática. Na versão mais recente é conhecida como modelo de gestão da qualidade total, utilizada de forma mais veemente em práticas de gestão da administração empresarial. Concepção autogestionária sua base está na responsabilidade coletiva sem a presença de uma direção centralizada. Existe uma tendência nessa concepção de recusar o exercício da autoridade e as formas sistematizadas de organização e gestão. Valoriza muito a capacidade do grupo criar, instituir as suas próprias regras. Concepção interpretativa a base desta concepção se encontra na percepção de que a escola é uma realidade social subjetivamente construída. Concepção democrática-participativa baseia-se na relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe. Acentua a importância da busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de tomada de decisões, após a decisão tomada cada pessoa deve se responsabilizar por sua parte, admitindo a avaliação sistemática. O quadro da próxima página auxilia na distinção das principais características de cada concepção de organização e gestão escolar. Concepções de organização e gestão escolar TÉCNICO CIENTÍFICA AUTOGESTIONÁRIA INTERPRETATIVA DEMOCRÁTICO- PARTICIPATIVA Prescrição detalhada de funções e tarefas, acentuando a divisão teórica do trabalho escolar. Vínculo das formas de gestão interna com as formas de autogestão social (poder coletivo na escola para preparar formas de autogestão no plano político). A escola é uma realidade social subjetivamente construída, não dada nem objetiva. Definição explicita, por parte da equipe escolar, de objetivos sociopolíticos e pedagógicos da escola. Articulação da atividade de direção com a iniciativa e a participação das pessoas da escola e das que se relacionam com ela. Poder centralizado no diretor, destacando-se as relações de subordinação, em que uns têm mais autoridade do que outros. Decisões coletivas (assembleias, reuniões), eliminação de todas as formas de exercício de autoridades e de poder. Privilegia menos o ato de organizar e mais a ―ação organizadora‖ com valores e práticas compartilhados. Qualificação e competência profissional. Busca de objetividade no trato das questões da organização e da gestão, mediante coleta de informações reais. *Ênfase na administração regulada(rígido sistema de normas, regras, procedimentos burocráticos de controle das atividades), descuidando-se, às vezes, dos objetivos específicos da instituição escolar. Ênfase na auto- organização do grupo de pessoas da instituição, por meio de eleições e de alternativas no exercício de funções. A ação organizadora valoriza muito as interpretações, os valores, as percepções e os significados subjetivos, destacando o caráter humano e preterindo o caráter formal, estrutural , normativo. Acompanhamento e avaliação sistemáticos com finalidade pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos, reorientação de rumos e ações, tomada de decisões. Comunicação linear ( de cima para baixo) baseada em normas e regras. Recusa a normas e a sistemas de controles, acentuando a responsabilidade coletiva. Crença no poder instituinte da instituição e recusa de todo o poder instituído. O caráter instituinte dá-se pela prática da participação e da autogestão, modos pelos quais se contesta o poder instituído. Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados. Mais ênfase nas tarefas do que nas pessoas. Ênfase as inter- relações, mais do que nas tarefas. Ênfase tanto nas tarefas quanto nas relações. Administração x Gestão Escolar Mudanças de paradigma de administração para gestão Organização e ações dos dirigentes ADMINISTRAÇÃO GESTÃO • O direcionamento do trabalho consiste no processo racional, exercido objetivamente de fora para dentro, de organização das condições de trabalho e do funcionamento de pessoas, em um sistema ou unidade social. • Aos administrados compete manter-se objetivo, imparcial e distanciado dos processos de produção, como condição para poder exercer controle e garantir seus bons resultados. • Ações e práticas que produzem bons resultados não devem ser mudadas, a fim de que estes continuem sendo obtidos. • A autoridade do dirigente é centrada e apoiada em seu cargo. • O dirigente exerce ação de comando, controle e cobrança. • A responsabilidade maior do dirigente é a de obtenção e garantia de recursos necessários para o funcionamento perfeito da unidade. • O dirigente orienta suas ações pelo princípio da centralização de competências e especialização da tomada de decisões. • O direcionamento do trabalho consiste no processo intersubjetivo, exercido mediante liderança, para a mobilização do talento humano coletivamente organizado, para melhor emprego de sua energia e de organização de recursos, visando à realização de objetivos sociais. • Ao gestor compete envolver-se nos processos sob sua orientação, interagindo subjetivamente com os demais participantes, como condição para coordenar e orientarseus processos e alcançar, melhores resultados. • A alteração contínua de ações e processos é considerada como condição para o desenvolvimento contínuo; a sua manutenção, mesmo que favorável, leva à estagnação. • A autoridade do dirigente é centrada e apoiada em sua competência e capacidade de liderança. • O dirigente exerce ação de orientação, coordenação, mediação e acompanhamento. Mudanças de paradigma de administração para gestão Organização e ações dos dirigentes ADMINISTRAÇÃO GESTÃO A responsabilidade funcional é A responsabilidade maior do dirigente definida a partir de tarefas e funções. Avaliação e análise de ação e de desempenho são realizadas com foco em indivíduos e situações específicas, considerados isoladamente, visando identificar problemas. O importante é fazer mais, em caráter cumulativo. é a sua liderança para a mobilização de processos sociais necessários O dirigente orienta suas ações pelo princípio da descentralização e tomada de decisão compartilhada e participativa. A responsabilidade funcional é definida a partir de objetivos e resultados esperados com as ações. Avaliação e análise de ação e de desempenho são realizadas com foco em processos, em interações de diferentes componentes e em pessoas coletivamente organizadas, todos devidamente contextualizados, visando identificar desafios. O importante é fazer melhor em caráter transformador. Luck Heloísa – vinhetas de aulas,2008 O papel do gestor escolar A função do diretor/gestor no contexto escolar Primeiro é importante evidenciar que a direção escolar é compreendida como uma função desempenhada na escola, com a tarefa de dirigir a instituição, através de um conjunto de ações e processos caracterizados como político pedagógicos. Em uma frase, a função do diretor é a de coordenar o trabalho geral da escola, lidando com os conflitos e com as relações de poder, com vistas ao desenvolvimento mais qualificado do trabalho pedagógico. O diretor é o coordenador do processo político que é a gestão da escola, é entendido como o executivo central da gestão escolar. (Souza,2006) Segundo Libâneo a direção da escola, além de uma das funções do processo organizacional, é um imperativo social e pedagógico. O significado do termo direção, no contexto escolar, difere de outros processos direcionais, especialmente os empresariais. Ele vai além da mobilização das pessoas para a realização eficaz das atividades, pois implica intencionalmente, definição de um rumo educativo, tomada de posição ante objetivos escolares sociais e políticos, em uma sociedade concreta. A escola, ao cumprir sua função social de mediação, influi significativamente na formação da personalidade humana; por essa razão, são imprescindíveis os objetivos políticos e pedagógicos. O processo educativo, portanto, por sua natureza, inclui a compreensão do conceito de direção por todos os segmentos da escola. Sua adequada estruturação e seu ótimo funcionamento constituem fatores essenciais para atingir eficazmente os objetivos da formação. Ou seja, o trabalho escolar implica uma direção. Com base nesse princípio mais geral, há que se destacar o papel significativo do diretor da escola na gestão da organização do trabalho escolar. A participação, o diálogo, a discussão coletiva, a autonomia são práticas indispensáveis da gestão democrática, mas o exercício da democracia não significa ausência de responsabilidade. Uma vez tomadas as decisões coletivamente, participativamente, é preciso colocá-las em prática. Para isso, a escola deve estar bem coordenada e administrada. Não se quer dizer com isso que o sucesso da escola reside unicamente na pessoa do diretor ou em uma estrutura administrativa autocrática – na qual ele centraliza todas as decisões. Ao contrário, trata-se de entender o papel do diretor como o de um líder cooperativo, o de alguém que consegue aglutinar às aspirações, os desejos, as expectativas da comunidade escolar e articula a adesão e a participação de todos os segmentos da escola na gestão em um projeto comum. O diretor não pode ater-se apenas às questões administrativas. Como dirigente, cabe- lhe ter uma visão de conjunto e uma atuação que apreenda a escola em seus aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros e culturais. O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola, auxiliando pelos demais elementos do corpo técnico-administrativo e do corpo de especialistas. Atende às leis, aos regulamentos e às determinações dos órgãos superiores dos sistemas de ensino e às decisões no âmbito da escola assumidas pela equipe escolar e pela comunidade. Segundo Saviani, o diretor apresenta-se, como o responsável máximo no âmbito da unidade escolar e seu papel é garantir o bom funcionamento da escola‖ (Saviani, 1996). Já Vitor Paro, vê uma situação bastante contraditória na função do diretor, quando observa o uso político desta função pelo sistema de ensino, quando lhe é transferido a função de gerente, de controlador do trabalho escolar. O diretor por muitas vezes é o porta voz das pessoas da comunidade escolar, de um lado e preposto do estado do outro. Aí percebe-se a natureza política do cargo do diretor. (...) o diretor se vê permanentemente colocado entre dois focos de pressão: de um lado, professores, pessoal da escola em geral, alunos e pais, reivindicando medidas que proporcionem melhores condições de trabalho e promovam a melhoria do ensino; de outro, o Estado, não satisfazendo a tais reivindicações e diante do qual o diretor deve ―responder pelo cumprimento, no âmbito da escola, das leis, regulamentos e determinações‖ dele emanadas, evitando, inclusive, que as ações dos primeiros venham a representar quaisquer ameaças aos interesses dominantes (Paro, 1988) O diretor escolar atua diversas vezes como o juiz que julga e disciplina, que define o certo e o errado; como legislador que define as regras; como burocrata administrador que deve ordenar e assinar papéis (Souza et.ali 2005, p 51). Essas não são tarefas menores, mas são o que Santos Guerra chama de ―tarefas pedagogicamente pobres‖ (1994). Infelizmente o que se percebe hoje é o uso do tempo dos diretores cada vez maior com tais tarefas deixando a essência pedagógica em segundo plano. A escola é uma instituição de natureza educativa. Ao diretor cabe, então, o papel de garantir o cumprimento da função educativa que é a razão de ser da escola. Nesse sentido, é preciso dizer que o diretor de escola é, antes de tudo, um educador; antes de ser administrador ele é um educador (Saviani, 1996) Para Luck (2008) o diretor escolar é o profissional que tem a função de liderar e organizar o trabalho de todos na escola, de modo a orientá-los no desenvolvimento do ambiente educacional capaz de promover aprendizagens e formação dos alunos, no nível mais elevado possível, de modo que estejam capacitados a enfrentar os novos desafios que são apresentados. É o líder, mentor, coordenador e orientador principal da vida da escola e todo o seu trabalho educacional, não devendo sua responsabilidade ser diluída entre todos os colaboradores da gestão escolar, embora possa ser com eles compartilhada. (...) ao diretor compete zelar pela escola como um todo, tendo como foco de sua atuação em todas as ações e em todos os momentos a aprendizagem e formação dos alunos. A implementação de práticas alternativas de organização e gestão da escola depende muito da atuação da direção e da sua equipe pedagógica. Partimos do princípio que o diretor de escola é o responsável pelo funcionamento administrativo e pedagógico, portanto necessita de conhecimentos tanto administrativos quanto pedagógicos. Sabemos que na escola o diretor desempenha predominantemente a gestão geral da escola e, especificamente, as funções administrativas (relacionadascom o pessoal, com a parte financeira, com as instalações e os recursos materiais, com a supervisão geral das obrigações de rotina do pessoal, relações com a comunidade) repassando a parte pedagógica para as pedagogas. Segundo Libâneo (2004) o papel do diretor deve ser do profissional que detém os conhecimentos e habilidades para exercer liderança, iniciativa e utilizar práticas de trabalho em grupo para assegurar a participação de alunos, professores, especialistas e pais nos processos de tomada de decisões e na solução de problemas. O papel dos diretores vem tomando um novo aporte devido a uma série de mudanças que estão ocorrendo na sociedade, o crescimento populacional e a urbanização da sociedade têm levado a criação de escolas maiores, bem mais complexas em suas tarefas e organizações. A necessidade de um vínculo maior com as famílias, uma vez que muitas das responsabilidades antes conferidas aos pais vêm sendo repassadas à escola como orientação sexual, orientação para novas necessidades da vida urbana, educação para o trânsito, educação ambiental, entre outros atributos. Também conforme a postura do diretor e os encaminhamentos que ele dá à escola vão representar o respeito e credibilidade da escola perante a sua comunidade. Precisamos entender o papel do diretor como um líder, uma pessoa que consegue aglutinar as aspirações, os desejos, as expectativas da comunidade escolar e articular a adesão e a participação de todos os segmentos da escola na gestão de um projeto comum. Novos desafios e exigências são apresentados à escola, que recebe o estatuto legal de formar cidadãos com capacidade de não só enfrentar esses desafios como de superá-los. Como consequência, para trabalhar em educação, de modo a atender as demandas, trona-se imprescindível que se conheça a realidade e que se tenham competências necessárias para realizar contextos educacionais os ajustes e mudanças de acordo com as necessidades e demandas emergentes no contexto da realidade externa e no interior da escola. (LUCK ,2008) Competências dos Diretores Escolares Na escola, o diretor é o profissional a quem compete à liderança e organização do trabalho de todos os que nela atuam, de modo à formação dos alunos, no nível mais elevado possível, de modo que estejam capacitados a enfrentar os novos desafios que são apresentados. Demanda do diretor capacidade conceitual sobre a educação; a gestão escolar e seu trabalho, mediante visão de conjunto e uma perspectiva sobre a natureza da educação; o papel educacional da escola e dos profissionais que nela atuam; a demanda educacional dos alunos; a relação da escola com a comunidade. Segundo Penin (2001) uma das competências básicas do diretor escolar é promover na comunidade escolar o entendimento do papel de todos em relação à educação e a função social da escola mediante a adoção de uma filosofia comum e clareza de uma política educacional de modo a haver unidade e efetividade no trabalho de todos. Compete ao diretor (a) segundo as especificações da SEED: -Cumprir e fazer cumprir a legislação em vigor; -Responsabilizar-se pelo patrimônio público escolar recebido no ato da posse; -Coordenar a elaboração e acompanhar a implementação do Projeto Político-Pedagógico da escola, construído coletivamente e aprovado pelo Conselho Escolar; -Coordenar e incentivar a qualificação permanente dos profissionais da educação; -Implementar a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, em observância às Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; -Coordenar a elaboração do plano de Ação do estabelecimento de ensino e submetê-lo à aprovação do Conselho Escolar; -Convocar e presidir as reuniões do Conselho Escolar, dando encaminhamento às decisões tomadas coletivamente; -Elaborar os planos de aplicação financeira sob sua responsabilidade, consultando a comunidade escolar e colocando-os em edital público; -Prestar contas dos recursos recebidos, submetendo-os à aprovação do Conselho Escolar e fixando-os em edital público; -Coordenar a construção coletiva do Regimento Escolar, em consonância com a legislação em vigor, submetendo-o à precisão do conselho escolar e, após, encaminhá-lo ao Núcleo Regional de Educação para a devida aprovação; -Garantir o fluxo de informações no estabelecimento de ensino e deste com os órgãos da administração estadual; -Encaminhar aos órgãos competentes as propostas de modificações no ambiente escolar, quando necessária, aprovadas pelo Conselho Escolar; -Deferir os requerimentos de matrícula; -Elaborar, juntamente com a equipe pedagógica, o calendário escolar, de acordo com as orientações da Secretaria de Estado da Educação, submetê-lo à apreciação do Conselho Escolar e encaminhá-lo ao Núcleo Regional de Educação para homologação; -Acompanhar, juntamente com a equipe pedagógica, o trabalho docente e o cumprimento das reposições de dias letivos, carga horária e de conteúdo aos discentes; -Assegurar os cumprimentos dos dias letivos, horas-aula e horas-atividades estabelecidos; -Promover grupos de trabalho e estudos ou comissões encarregadas de estudar e propor alternativas para atender aos problemas de natureza pedagógico- administrativa no âmbito escolar; -Propor à Secretaria de Estado da Educação, via Núcleo Regional de Educação, após aprovação do Conselho Escolar, alterações na oferta de ensino e abertura ou fechamento de cursos; -Participar e analisar a elaboração dos Regulamentos Internos e encaminhá-los ao Conselho Escolar para aprovação; -Supervisionar a cantina comercial e o preparo da merenda escolar, quanto ao cumprimento das normas estabelecidas na legislação vigente relativamente a exigências sanitárias e padrões de qualidade nutricional; -Presidir o Conselho de Classe, dando encaminhamento às decisões tomadas coletivamente; -Definir horário e escalas de trabalho da equipe técnico-administrativa e equipe auxiliar operacional; -Articular processos de integração da escola com a comunidade; -Solicitar ao Núcleo Regional de Educação suprimento e cancelamento de demanda de funcionários e professores do estabelecimento, observando as instruções emanadas da Secretaria de Estado da Educação; -Organizar horário adequado para a realização da Prática Profissional supervisionada do funcionário cursista do Programa Nacional de Valorização dos Trabalhadores em Educação ~ Pro funcionário, no horário de trabalho, correspondendo a 50% (cinquenta por cento) da carga horária da Prática Profissional Supervisionada, conforme orientação da Secretária de Estado de Educação, contida no Plano de Curso; -Participar, com a equipe pedagógica, da análise e definição de projetos a serem inseridos no Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino, juntamente com a comunidade escolar; -Cooperar com o cumprimento das orientações técnicas de vigilância sanitária e epidemiológica; -Viabilizar salas adequadas quando da oferta do ensino extracurricular plurilinguístico da língua Estrangeira Moderna, pelos Centro de línguas estrangeiras modernas - CELEM; -Disponibilizar espaço físico adequado quando da oferta de Serviços e Apoios Pedagógicos Especializados, nas diferentes áreas da Educação Especial; -Assegurar a realização do processo de avaliação institucional do estabelecimento de ensino; -Zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; -Manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; -Assegurar o cumprimento dos programas mantidos e implantados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação /MEC - FNDE; -Cumprir e fazer cumprir o disposto no Regimento Escolar. Para exercer todas essas competências é preciso conhecer, compreender e incorporar em suas ações os fundamentos e princípios da educação, assim como asdeterminações legais norteadora dos processos educacionais constitui-se, portanto, uma das primeiras e contínuas preocupações do diretor escolar na busca de realizar um bom trabalho, no sentido de liderar e orientar sua escola para que melhor desempenhe o seu papel social, realizando os objetivos educacionais. Existem documentos básicos, os quais serão citados a seguir, cujos diretores devem ter conhecimento básico para poder usar como referência no exercício de suas funções: • Constituição Federal e Constituição Estadual; • Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional • Diretrizes Curriculares Nacionais dos diversos níveis e modalidades de ensino; • Diretrizes Curriculares Estaduais; • Legislação Educacional de seu Estado e do seu Município; • Estatuto do Magistério; • Estatuto da Criança e do Adolescente. Gestão pedagógica A gestão pedagógica é a essência da escola, pois está mais diretamente ligada com o foco da escola que é o de promover a aprendizagem e a formação dos alunos. Logicamente que todas as demais formas de gestão subsidiam a gestão pedagógica. O importante é não esquecer que a gestão pedagógica afinada com as suas atribuições é aquela capaz de criar na escola um ambiente estimulante e motivador orientado por elevadas expectativas de aprendizagem e desenvolvimento, autoimagem positiva e esforço compatível com a necessária melhoria dos processos educacionais e seus resultados. Orientar a integração horizontal e vertical de todas as ações pedagógicas propostas no projeto pedagógico e a contínua contextualização dos conteúdos do currículo escolar com a realidade. Outra questão a ser considerada no processo da gestão democrática é a articulação das atividades extraclasses, orientadas por projetos educacionais, de modo a estabelecer orientação integrada entre as áreas de conhecimento e plano curricular. Ainda, orientar, incentivar e viabilizar oportunidades pedagógicas para os alunos com dificuldades de aprendizagem e necessidades educacionais especiais, promovendo as TICS no ambiente escolar. Gestão administrativa Zelar pelos bens da escola, fazer bom uso deles, contribuir para sua manutenção são elementos básicos da formação dos alunos, além de condição para a realidade de processo pedagógico de qualidade. Precisa gerenciar a correta e plena aplicação de recursos físicos, materiais e financeiros da escola para melhor efetivação dos processos educacionais e realização dos seus objetivos. Promover na escola a organização, atualização e correção de documentos, escrituração, registro de alunos, diários de classe, estatísticas, legislação, de modo a serem continuamente utilizados na gestão dos processos educacionais. Assegurar a constituição, de forma permanente na escola, de ambiente limpo, organizado e com materiais de apoio e estimulação necessários à promoção da aprendizagem dos alunos e sua formação para a cidadania e respeito ao meio ambiente. Assegurar, mediante contínuo monitoramento, o cumprimento dos 200 dias letivos e das 800 horas de trabalho educacional (art.24 da LDB 9394/96) Zelar pela manutenção das condições de uso dos bens patrimoniais disponíveis na escola mediante contínuo inventário dos mesmos e providência de consertos imediatos. Todos esses trabalhos administrativos que a direção precisa desempenhar não devem ser a razão central do trabalho do diretor, que deve organizar um bom planejamento para que a sua equipe execute de maneira eficiente, para cumprir as tarefas no prazo estipulado e também para se dedicar mais as funções pedagógicas da escola que normalmente pela demanda existente acabam ficando em segundo plano. Gestão financeira da escola, a partir dos esforços pela democratização da educação e da gestão escolar e dos movimentos de descentralização da gestão, favoreceu a escola a resolução de muitos de seus problemas de consumo, manutenção e reparos, pelo repasse de recursos feitos a ela pelo Governo Estadual e Federal. Esses programas de descentralização financeira vêm se tornando cada dia mais crescentes. O diretor da escola que acaba na prática, assumindo o controle da gestão deste recurso, já que a APM, mesmo sendo uma entidade de direito privado, independente da escola, está diretamente ligada a direção escolar. Além dos recursos recebidos de fontes públicas, a unidade executora da escola pode receber recursos oriundos de várias fontes, como por exemplo, de doações, de resultados de campanhas diversas. Portanto todo o diretor assume responsabilidade pela gestão financeira desses valores variados, advindos de fontes diversas, mas que precisam ser geridos de forma colegiada. A gestão financeira, mesmo que descentralizada, deve receber todos os cuidados estabelecidos pela legislação. Gestão de resultados Por melhores que sejam os processos de gestão escolar, pouco valor terá, caso não produzam resultados efetivos de melhoria da aprendizagem dos alunos. Segundo o CONSED (2007) ―a gestão de resultados abrange processos e práticas de gestão para a melhoria de resultados de desempenho da escola – rendimento, frequência a proficiência dos alunos. Destacam-se como indicadores de qualidade: a avaliação e melhoria contínua do projeto pedagógico da escola; a análise, divulgação e utilização dos resultados alcançados; a identificação dos níveis de satisfação da comunidade escolar com o trabalho da sua gestão; transparência e resultados. Percebemos que a gestão de resultados não vinha tendo muito significado nas escolas, que consideravam as estatísticas educacionais uma questão burocrática, de interesse de sistemas de ensino e de pouca importância para a escola. Compreender o papel e os mecanismos de avaliação de resultados educacionais tanto no âmbito externo, realizado pelos sistemas de ensino, como os mecanismos internos, constitui em condição fundamental para definir qualificações que tornam as escolas mais eficientes. • • Baseia-se em indicadores de desempenho, que sintetizam os elementos que traduzem o nível de aprendizagem dos alunos. Promove a verificação sistemática e contínua da frequência dos alunos, da sua aprendizagem e do desempenho escolar; Características da gestão de resultados educacionais • É realizada em âmbito de sistemas de ensino, mediante adoção de testes padronizados que permitem comparação de resultados. • É realizada na escola em todas as unidades de aprendizagem, com fins pedagógicos (melhoria da aprendizagem dos alunos que demandam atenção diferenciada). • É também realizada na escola, mediante testes padronizados, que permitem identificar a necessidade de mudanças e reorganização do processo educacional para garantir melhores resultados de grupos específicos de alunos. • É associada à definição de metas de desempenho. • É realizada, na escola, com objetivos pedagógicos de identificar necessidades de melhoria, em associação aos elementos melhor condizentes a esses resultados. • É dependente de práticas de acompanhamento e análise de resultados finais de processos educacionais: fim de aprendizagem (escola), de ano letivo(sistema). • É realizada nos sistemas de ensino com o objetivo de estabelecer políticas de melhoria do ensino. • Baseia-se na comparação de dados, que permitem verificar quanto de melhora houve em um dado período e como variam esses resultados em condições diferentes. Luck H. 2008 Considerada desta forma mais ampla, a avaliação tornasse instrumento de acompanhamento do processo de realização da função social da escola. Certamente, é difícil avaliar o trabalho da escola, sem conhecer o produto deste trabalho, qual seja o aluno educado. Conforme Souza retrata em sua tese, a avaliação está intimamente ligada à qualidade da escola, se o intuito não é avaliar para premiar ou castigar, cabe avaliar para redimensionar o processo, para intervir nas condiçõesde qualidade oferecida a professores e alunos na construção do trabalho pedagógico. Avaliar o processo educacional é mais que avaliar o aluno, implica o conceito de qualidade de ensino. Para isto a construção de indicadores de qualidade é interessante de forma que no lugar de padronizarmos os resultados esperados dos alunos possamos padronizar as condições de ensino ofertadas, assegurando, assim, igualdade de condições de acesso ao conhecimento. Liderança A liderança é necessária em todos os tipos de organização humana, principalmente nas escolas. Ela é essencial em todas as funções da Administração: o administrador precisa conhecer a natureza humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar. Na educação, em âmbito internacional, está sendo destacada como condição fundamental para determinar a qualidade do ensino e a formação efetiva de seus alunos, daí por que a proliferação de estudos a respeito no contexto educacional. Destaca-se, por exemplo, que há uma relação direta entre a qualidade de liderança dos gestores e a qualidade do ensino e desempenho dos alunos (NCSL,2002 apud LUCK 2008). Tomaremos como referência em nossos estudos os conceitos de Maximiniano e Chiavenato. Liderança é a realização de metas por meio da direção de colaboradores. A pessoa que comanda com sucesso seus colaboradores para alcançar finalidades específicas é líder. Um grande líder tem essa capacidade dia após dia, ano após ano, numa grande variedade de situações. (PRENTICE, W.H.C. apud Maximiniano) Maximiniano traz um termo muito interessante que é o consentimento que é diferente do tipo de obediência produzido pela autoridade formal. Só há liderança quando os seguidores seguem o líder espontaneamente. A ideia de seguidores atraídos e guiados por um líder pressupõe consentimento. A ideia de consentimento exclui a coerção como base de liderança. É difícil dizer se o consentimento é produto das convicções dos seguidores ou das habilidades de persuasão do líder. O consentimento pressupõe identidade de interesses. A liderança ocorre quando há congruência entre a proposta do líder e a recompensa esperada pelo grupo, ou problema que o grupo precisa resolver que cria no grupo a disposição para fazer aquilo que o líder propõe. O líder é alguém que apresenta da maneira correta a proposta correta, na hora correta. Dentro de todos os conceitos é importante distinguir autoridade formal de liderança. Segundo conceitos de Max Weber a autoridade formal: • Baseia-se em normas que formam uma legislação e são aceitas por seguidores e condutores. • Pertence ao cargo, não ao indivíduo. O ocupante do cargo é uma ―figura de autoridade‖: chefe, juiz, presidente. • Estabelece o comportamento desejado dos seguidores e os limites para a ação das figuras de autoridade. • É permanente para o cargo, enquanto o cargo existir. • É temporária para a pessoa que ocupa o cargo. Terminando o mandato, o ocupante perde os poderes formais que o cargo lhe conferia, e os transfere para seu sucessor. A liderança, por outro lado: • É subjetiva. Para ter liderança, alguém deve ser visto como líder por outros. • É limitada ao grupo social dentro do qual o líder exerce influência. • Cumpre função social. A pessoa tem liderança porque atende aos interesses ou resolve os problemas de um grupo. • É efêmera, porque depende da sintonia entre os interesses dos seguidores e as proposições do líder. • É o produto de diversas habilidades, interesses e traços de personalidade. Autoridade formal, portanto, é diferente de liderança, porque são diferentes as bases nas quais se assenta a motivação dos seguidores. Chefes são diferentes de líderes – a base em que se assenta a capacidade de influenciar é diferente de um para o outro. A autoridade formal e liderança nem sempre andam, nem precisam andar juntas. Para se ter eficácia na administração o ideal é combinar os dois atributos: a autoridade formal e a habilidade de liderança. A liderança é uma função, papel, tarefa ou responsabilidade que qualquer pessoa precisa desempenhar, quando responsável pelo desempenho de um grupo. Independente de suas qualidades, muitas pessoas são colocadas em posições de liderança, em que precisam dirigir os esforços de outros para realizar objetivos: professores, diretores, treinadores. Todas essas pessoas têm metas a serem realizadas com a colaboração dos seus grupos. No papel de líderes, algumas pessoas são mais eficazes que outras, ou sentem-se mais confortáveis que outras. As características individuais importantes para o entendimento dessas diferenças são as habilidades e a motivação. Algumas pessoas têm mais habilidade que outras no papel de líder e algumas são mais motivadas que outras para desempenhá-lo. Outro elemento importante no comportamento do líder é a maneira como se relaciona com sua equipe (seguidores). Os seguidores seguem o líder por alguma razão ou motivo. Por essa razão os processos sociais e comportamentais da motivação e da liderança estão interligados. O líder propõe uma tarefa ou missão aos seguidores, porque é de seu interesse realizá-la. Os seguidores podem concordar desde que a realização da tarefa também seja de seu interesse. O líder precisa dos seguidores para realizar as metas e vice- versa. Sempre há um processo de troca entre líder e os seguidores, o que muda de uma situação para outra, é o conteúdo da troca, que depende da natureza da tarefa. O que liga o líder aos seguidores é a existência de uma tarefa ou missão. Sem esse componente, não há liderança, apenas influência ou popularidade. Apenas com um plano, objetivo ou ideia, que atraia os seguidores, o líder potencial torna-se líder real. A missão pode situar-se num contexto social ou organizacional As missões que o líder propõe ao grupo podem ser classificadas nos três tipos de envolvimento identificados por Etzioni: moral, calculista e alienatária. (sintetizados no quadro a seguir) Atrai os seguidores pela força intrínseca de sua ideia ou proposta. A recompensa dos seguidores é a própria realização da missão ou tarefa. • • MISSÃO MORAL • O conteúdo moral da missão ou tarefa pode ser enfatizado pelo líder, por meio da evolução do sentido ou importância da missão, da necessidade de sacrifício ou do uso de imagens de propaganda. MISSÃO CALCULISTA • É realizada em troca de uma recompensa material ou psicológica. • Prêmios, participação em lucros, elogios e diplomas de ―melhor funcionário do mês‖ são exemplos de recompensa. MISSÃO ALIENATÓRIA • O receio de um castigo por não realizar a tarefa motiva os seguidores. Em certos casos, a tarefa é realizada por senso de responsabilidade, mesmo que os seguidores não acreditem em sua legitimidade ou não precisem temer qualquer tipo de punição. Teoria Geral da Administração – Maximiano A.C. A. 2001 A liderança constitui um dos temas mais pesquisados e estudados nas últimas décadas. Várias teorias sobre a liderança acompanharam o desenvolvimento da teoria administrativa. Segundo Chiavenato, as teorias sobre liderança podem ser classificadas em três grupos: Teorias de Traços de Personalidade Características marcantes de personalidade possuídas pelo líder Teorias sobre Estilos de Liderança Maneiras e estilos de se comportar adotados pelo líder Teorias de traços de personalidade São as teorias mais antigas a respeito da liderança. Um traço é uma qualidade ou característica distintiva da personalidade. Segundo essas teorias, o líder é aquele que possui alguns traços específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas, podendo dessa forma influenciar o comportamento das demais pessoas. Cada autor especifica alguns traços alguns traços característicos de personalidade que definem o líder, como: 1. Traços físicos: como energia, aparênciapessoal, estatura e peso. 2. Traços intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança. 3. Traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa. 4. Traços relacionados com a tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa. Porém essas teorias apresentam vários aspectos falhos o que fez com que as mesmas caíssem em descrédito e perderam a sua importância. Elas não responderam a importância relativa de cada uma das várias características e traços de personalidade que realçam os aspectos da liderança, nem todos os traços são igualmente importantes na definição de um líder, pois alguns deveriam ter maior destaque que outros. Essas teorias ignoram a influência e a reação dos seguidores, também ignoram a situação em que a liderança se efetiva. Nas organizações existem diferentes situações que exigem características diferentes dos líderes. Nessa abordagem simplista uma pessoa dotada de traços de liderança é sempre líder durante o tempo todo e em qualquer situação, o que não ocorre na realidade. Teorias Situacionais de Liderança Teorias sobre Liderança. comportamento do líder às circunstâncias da situação do Adequação Teorias sobre estilos de liderança São teorias que estudam a liderança em termos de comportamento do líder em relação aos seus seguidores. Enquanto a abordagem dos traços de personalidade se refere àquilo que o líder é, a abordagem dos estilos de liderança se refere àquilo que o líder faz, seu estilo de liderar. A teoria mais conhecida que explica liderança por meio de comportamento refere-se a três estilos: autoritária, liberal e democrática AUTOCRÁTICA DEMOCRÁTICA LIBERAL O líder fixa as diretrizes, sem qualquer participação do grupo. As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, estimulado e assistido pelo líder. Há liberdade total para as decisões grupais ou individuais, e mínima participação do líder. O líder determina as providencias para a execução das tarefas, cada uma por vez, na medida em que se tornam necessárias e de modo imprevisível para o grupo. O grupo esboça as providências para atingir o alvo e pede aconselhamento do líder, que sugere alternativas para o grupo escolher. As tarefas ganham novas perspectivas com os debates. A participação do líder é limitada, apresentando apenas materiais variados ao grupo, esclarecendo que poderia fornecer informações desde que as pedissem. O líder determina a tarefa que cada um deve executar e o seu companheiro de trabalho. A divisão das tarefas fica a critério do grupo e cada membro tem liberdade de escolher seus companheiros de trabalho. A divisão das tarefas e escolha dos colegas fica totalmente a cargo do grupo. Absoluta falta de participação do líder. O líder é dominador e é “pessoal” nos elogios e nas críticas ao trabalho de cada membro. O líder procura ser um membro normal do grupo, em espírito. O líder é ―objetivo‖ e limita-se aos ―fatos‖ nas críticas e elogios. O líder não avalia o grupo nem controla os acontecimentos. Apenas comenta as atividades quando perguntado. Na prática o líder utiliza os três processos de liderança, de acordo com a situação, com as pessoas e com as tarefas a ser executada. O líder tanto manda cumprir ordens, como consulta os subordinados antes de tomar uma decisão, como também sugere a algum liderado realizar determinadas tarefas: ele utiliza a liderança autocrática, a democrática e a liberal. O desafio da liderança é saber quando aplicar qual processo, com quem e dentro de que circunstâncias e atividades a serem desenvolvidas. Teorias situacionais de liderança As teorias sobre traços de personalidade são simplistas e limitadas. As teorias sobre estilos de liderança consideram apenas certas variáveis da situação. As teorias situacionais explicam a liderança dentro de um contexto mais amplo e partem do princípio de que não existe um único estilo ou característica de liderança válida para toda e qualquer situação. Cada situação requer um tipo de liderança para alcançar eficácia dos seguidores. As teorias situacionais são mais atrativas, pois aumentam as opções e possibilidades de mudar a situação para adequá-las a um modelo de liderança ou então mudar o modelo de liderança para adequá-lo à situação. O líder é aquele que é capaz de se ajustar a um grupo de pessoas sob condições variadas. Algumas considerações a respeito desta teoria: um líder pode assumir diferentes padrões de liderança para cada um de seus seguidores. Para um mesmo seguidor, o líder pode assumir diferentes padrões de liderança, conforme a situação envolvida. Em situações em que o seguidor apresenta alto nível de eficiência, o líder pode dar-lhe maior liberdade de decisões, mas se o seguidor apresenta erros seguidos, o líder pode impor-lhe maior autoridade pessoal e menor liberdade de trabalho. A supervisão escolar Durante a Pré-história não se pode falar de um serviço de inspeção, pois não se dispunha de um sistema de educação. Já nos povos da Antiguidade, Índia, Egito, Pérsia e China, a vigilância das instituições educativas estava a cargo de pessoas representantes das castas sacerdotais ou da nobreza. Foi na Grécia que nasceu a verdadeira instituição educativa, como um sistema que acompanha o indivíduo desde o nascimento até a idade adulta. Aí existiam pessoas, encarregadas de exercer vigilância sobre as escolas. Idade Média Durante a Idade Média a vigilância das instituições de ensino estava praticamente a cargo da Igreja; inicialmente exercida pelos bispos e, posteriormente, por pessoas indicadas pelas autoridades eclesiásticas. Contudo é na Idade Média que vamos encontrar as raízes da inspeção exercida pelo cidadão, através de comissões, com o surgimento, no século XIII, das escolas municipais de nível elementar. Notamos que, até esta época, a supervisão tinha o caráter de vigilância e fazia- se através de elementos que detinham o domínio econômico, político ou religioso, visando a garantia primária e substancial dos interesses que sua classe representava. Assim, era exercida por leigos, geralmente autoridades civis ou religiosas. Visava a fiscalização e voltava-se principalmente para aspectos externos no ensino, tais como, matrícula e frequência de alunos, pontualidade de alunos e professores e conduta de professor em relação aos deveres especificados. Também o aproveitamento do aluno era objeto de preocupação em alguns sistemas, como sucedia na China, com seu sistema de examinadores nomeados pelo Estado. O caráter da vigilância era autoritário. Idade Moderna e Contemporânea Após a Idade Média, quando se estruturam as modernas nações e se fundam os sistemas escolares, compreendendo a educação em todos os seus níveis, surge a inspeção escolar em termos de instituição. A partir de então, inspeção tem sido exercida de modo diverso, variando não só o objeto, mas também os propósitos e os métodos adotados pelo inspetor. Entre os séculos XVII e XIX, a supervisão é considerada inspeção, geralmente realizada por leigos. O supervisor é chamado "inspetor" e suas funções eram mais de julgar do que funções executivas. Julgava mais o professor do que o ensino ou o rendimento do aluno. Assim, o objeto da inspeção é essencialmente a figura do professor, cuja situação funcional ficava a depender do julgamento que dele fizesse o inspetor. A inspeção neste período passa a constituir-se em função específica, exercida por funcionários para isso remunerados. Sua atuação mantinha-se autoritária. Com a Revolução Francesa surge a proposta de Condorcet à Assembleia Legislativa, em 1792, para a criação de um novo sistema de educação, na qual se fala de inspetores técnicos, especialmente preparados para o cumprimento da função.
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