Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre No Brasil as queimaduras representam a quarta causa de morte e hospitalização, por acidente, de crianças e adolescentes de até 14 anos. A maioria das queimaduras ocorre na cozinha e na presença de um adulto. Em muitos casos o tratamento é muito doloroso, demorado e deixa marcas para sempre. O que é Queimadura é toda lesão provocada pelo contato direto com alguma fonte de calor ou frio, produtos químicos, corrente elétrica, radiação, ou mesmo alguns animais e plantas (como larvas, água-viva, urtiga), entre outros. Causas Escaldadura (queimadura por líquidos quentes) – é a principal causa em menores de 5 anos. Contato com fogo e objetos quentes – as queimaduras por chamas são mais graves, atingem maior extensão e profundidade da pele. O álcool é um importante agente causador. Queimadura provocada por substâncias químicas – a ingestão de soda cáustica continua sendo a maior fonte de queimaduras químicas em crianças.As pequenas pilhas, as baterias de relógios e de aparelhos eletrônicos representam perigo por possuir conteúdo corrosivo. Queimadura por exposição à eletricidade – os acidentes por fios e aparelhos elétricos acometem mais as crianças menores de 5 anos. Também são vítimas os adolescentes que ao empinar ou retirar pipas da rede elétrica têm contato com fios de alta tensão. Exposição excessiva ao sol. Como avaliar uma queimadura? São múltiplos os fatores envolvidos nas queimaduras que devem ser observados em sua avaliação. A profundidade, extensão e localização da queimadura, a idade da vítima, a existência de doenças prévias, a concomitância de condições agravantes e a inalação de fumaça têm de ser considerados na avaliação do queimado. O ambiente da avaliação deve manter-se aquecido, devendo a pele ser descoberta e examinada em partes, de modo a minimizar a perda de líquido por evaporação. Queimaduras Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre Profundidade Depende da intensidade do agente térmico, se gerador ou transmissor de calor, e do tempo de contato com o tecido. É o fator determinante do resultado estético e funcional da queimadura e pode ser avaliada em graus. Extensão Os riscos gerais do queimado nas primeiras horas dependem fundamentalmente da extensão da área queimada, sendo maior a repercussão sistêmica, devido à perda das funções da pele, quanto maior for a área afetada. A extensão é calculada em porcentagem da superfície corporal total (SC), sendo consideradas apenas as áreas queimadas com profundidade de segundo e terceiro graus. Um método prático para calcular a área queimada toma como medida de referência a palma da mão da vítima, considerando-se que a superfície palmar, incluindo os dedos unidos e estendidos, corresponde aproximadamente a 1% de sua superfície corporal. Excluindo os dedos, a superfície palmar representa 0,5% da SC, independente da idade. Embora grosseiro, esse método é bastante útil para determinar de imediato se a área, principalmente nas queimaduras irregulares, ultrapassa 15% da SC do adulto e 10% da SC da criança, situação em que se deve instituir a reidratação de urgência. No entanto, para uma avaliação mais precisa da extensão da queimadura, o método mais empregado é a regra dos noves de Wallace, de fácil memorização. Esse método deve ser ajustado para crianças menores de 10 anos de idade . Método mais acurado para avaliar a área da queimadura utiliza o diagrama de Lund & Browder, que pondera as variações da forma do corpo conforme a idade. É, portanto, mais adequado para crianças, mas tem de estar disponível, impresso na ficha da vítima, dada a dificuldade de ser memorizado. Diagrama de Lund & Browder Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre Regra dos nove: é atribuído, a cada segmento corporal, o valor nove (ou múltiplo dele): cabeça - 9% tronco frente - 18% tronco costas - 18% membros superiores - 9% cada membros inferiores - 18% cada genitais - 1% Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre Localização das queimaduras Em razão dos riscos estéticos e funcionais, são desfavoráveis as queimaduras que comprometem face, pescoço e mãos. Além disso, aquelas localizadas em face e pescoço costumam estar mais frequentemente associadas à inalação de fumaça, assim como podem causar edema considerável, prejudicando a permeabilidade das vias respiratórias e levando à insuficiência respiratória. Por outro lado, as queimaduras próximas a orifícios naturais apresentam maior risco de contaminação séptica. Idade do paciente queimado Deve ser considerada na avaliação da gravidade das queimaduras. Idosos e crianças costumam ter repercussão sistêmica mais crítica, os primeiros pela maior dificuldade de adaptação do organismo, e os últimos pela desproporção da superfície corporal em relação ao peso. Nessas faixas etárias as complicações são, portanto, mais comuns e mais graves. Doenças e condições associadas São condições que pioram o prognóstico os traumas concomitantes, principalmente neurológicos, ortopédicos e abdominais, ou mesmo politraumatismos, assim como a presença de doenças preexistentes, tais como insuficiência cardíaca, insuficiência renal, hipertensão arterial, diabete e etilismo. Também tendem a evoluir com pior prognóstico as vítimas alcoolizadas ou sob efeito de drogas ilícitas. Essas situações devem ser consideradas e adequadamente abordadas. Nesses casos a recuperação das alterações decorrentes da queimadura fica substancialmente prejudicada. Inalação de produtos de combustão Além dos danos provocados pela inalação de gases tóxicos, como monóxido de carbono, os produtos de combustão são irritantes e causam inflamação com edema da mucosa traqueobrônquica, que se manifesta por rouquidão, estridor, dispneia, broncoespasmo e escarro cinzento. Essas lesões costumam ser graves, pioram muito o prognóstico e são responsáveis por elevar a mortalidade dos queimados. Quanto ao grau da queimadura Primeiro grau Atinge a camada superficial da pele, que fica vermelha, quente e dolorosa, mas não forma bolhas. Ocorre por exemplo quando a pessoa fica exposta ao sol por períodos prolongados. Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre A cura espontânea ocorre em 3 a 6 dias, sem deixar cicatrizes. Segundo grau: Atinge mais profundamente a pele, que se apresenta dolorosa, vermelha e com bolhas. O edema (inchaço) e a dor são importantes. É comumente observada nas queimaduras por líquidos quentes. A evolução depende da gravidade das lesões: quando menos profundas, a cura pode ocorrer em cerca de duas semanas sem deixar cicatrizes ou com cicatrizes discretas. As mais profundas demoram várias semanas e podem resultar em cicatrizes significativas Terceiro grau: Todas as camadas da pele são lesadas. A ferida é seca, brancacenta ou marrom, e a dor é menos intensa devido aos danos nos nervos. Observada freqüentemente nas queimaduras por chama, nas queimaduras químicas e elétricas. O tratamento é complexo, exigindo cirurgia plástica reparadora com enxerto de pele. Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre Condutas TRATAMENTO DE EMERGÊNCIA DAS QUEIMADURAS 1)Tratamento Imediato de Emergência Interromper o processo de queimadura. Remover roupas, jóias, anéis, piercing, próteses. Cobrir as lesões com tecido limpo. 2)Tratamento na sala de Emergência a) Vias aéreas (avaliação): Avaliar presença de corpos estranhos, verificar e retirar qualquer tipo de obstrução. b) Respiração: Aspirar vias aéreas superiores, se necessário. Administração de O2 a 100% (máscara umidificada) e na suspeita de intoxicação porCO manter por 3h. Suspeita de lesão inalatória: queimadura em ambiente fechado, face acometida, rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispnéia, queimadura nas vibrissas, insuficiência respiratória. Cabeceira elevada (30°). Intubação orotraqueal = Escala de coma Glasgow55 n c) Avaliar queimaduras circulares – tórax, membros superiores, membros inferiores, perfusão distal e aspecto circulatório (oximetria de pulso). d) Avaliar traumas associados, doenças prévias ou outras incapacidades. Providências imediatas. Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre e) Expor área queimada Acesso Venoso: Obter preferencialmente acesso venoso periférico e calibroso mesmo em área queimada. Somente na impossibilidade desta, utilizar acesso venoso central f) Sonda vesical de demora para controle de diurese para queimaduras acima de 20% em adultos e 10% em crianças. 3) Profundidade da Queimadura: a) Primeiro Grau (espessura superficial) - solar. Afeta somente epiderme, sem formar bolhas. Vermelhidão, dor, edema, descamam 4-6 dias. b) Segundo Grau (espessura parcial- superficial e profunda). Afeta epiderme e derme, com bolhas ou flictenas. Base da bolha rósea, úmida, dolorosa (superf.). � Base da bolha branca, seca, indolor (profunda). Restauração das lesões entre 7 e 21 dias. c.) Terceiro Grau (espessura total) Indolor. Placa esbranquiçada ou enegrecida. Textura coreácea. Não reepitelizam, necessitam de enxertia de pele (indicado no II Grau profundo) 9) Trauma Elétrico: Definir se foi alta tensão, corrente alternada ou contínua, se houve passagem de corrente com ponto de entrada e saída. Avaliar traumas associados (queda de altura e outros). Avaliar se ocorreu perda de consciência ou PCR no momento do acidente. Avaliar extensão da lesão e passagem da corrente. Monitorização contínua e enzimas (CPK e CKMB) por 24- 48h Internar sempre. Avaliar eventual mioglobinúria e estimular o aumento da diurese com maior infusão de líquidos. Passagem de corrente pela região do punho- avaliar necessidade de fasciotomia e abertura do túnel do carpo. 10) Queimadura Química: Equipe que atende deve utilizar proteção universal para não ter contato com o agente químico. Identificação do agente (ácido, base, composto orgânico). Avaliar concentração, volume e duração de contato. A lesão é progressiva. Remover roupas, retirar excesso. Substância em pó, remover previamente excesso com escova ou panos. Larissa Fernandes Cavalcante dos santos –Medicina Unime 2 semestre DILUIÇÃO da substância pela água corrente por no mínimo de 30 minutos. Irrigar exaustivamente os olhos. Internar e na dúvida entre em contato com Centro Toxicológico mais próximo. Ácido Fluorídrico- repor cálcio sistêmico. 11) Infecção da Área Queimada: Mudança da coloração da lesão. Edema de bordas das feridas Aprofundamento das lesões. Mudança do odor Separação rápida da escara, escara úmida. Coloração hemorrágica sob a escara. Celulite ao redor da lesão. Vasculite no interior da lesão (pontos vermelhos). Aumento ou modificação da queixa dolorosa 12) Critérios de transferência para Unidade de Tratamento de Queimaduras Queimaduras de 2º grau em áreas maiores que 20% SCQ em adultos Queimaduras de 2º grau maiores de 10% SCQ, em crianças ou maiores de 50 anos Queimaduras 3º grau em qualquer extensão Lesões em face, olho, períneo, mão, pé e grande articulação Queimadura elétrica Queimadura química Lesão inalatória, ou lesão circunferencial de tórax ou de membros Doenças associadas, auto-extermínio, politrauma, maus tratos ou situações sociais adversas A transferência do paciente deve ser solicitada à UTQ de referência, após a estabilização hemodinâmica e medidas iniciais. Enviar sempre relatório contendo todas as informações colhidas, anotações de condutas e exames realizados. Pacientes graves somente deverão ser transferidos acompanhados de médico em ambulância UTI, com possibilidade de assistência ventilatória. Transporte aéreo para pacientes com trauma, pneumotórax ou alterações pulmonares deve ser realizado com extremo cuidado pelo risco de expansão de gases e piora clínica. As UTQs de referência sempre têm profissional habilitado para dar orientações sobre tratamento completo das vítimas de queimaduras.
Compartilhar