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Curso MBA EM PEDAGOGIA EMPRESARIAL Disciplina PEDAGOGIA EMPRESARIAL Curso MBA EM PEDAGOGIA EMPRESARIAL Disciplina PEDAGOGIA EMPRESARIAL Ana Claudia FREIRE Antonio NEY Dênia SANTANA Roberta BRITES www.avm.edu.br S u m á ri o 05 Apresentação 07 Aula 1 Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 33 Aula 2 Fundamentos e concepções da pedagogia empresarial 86 Aula 3 Modelos, teoria e práticas da educação de adultos 128 Aula 4 O perfil de competências do pedagogo empresarial 171 Aula 5 O desenvolvimento de competências no contexto organizacional 212 Aula 6 Educação na empresa 253 Referências bibliográficas Pedagogia Empresarial C A D E R N O D E E S T U D O S A pr es en ta çã o A pedagogia empresarial tem como objeto de estudo e ação da aprendizagem do homem no e para o trabalho. A pedagogia não é um campo novo do conhecimento e a educação sempre esteve presente no contexto do trabalho. Entretanto, a pedagogia empresarial necessita de enriquecimento conceitual para uma definição mais precisa de seu campo de atuação no novo contexto produtivo. A complexidade do processo produtivo, com suas modernizações tecnológicas aceleradas, exige um saber pedagógico, no interior das empresas, capaz de dar conta da aprendizagem continuada das competências técnicas e pessoais cada vez mais mutáveis. A relação educação-trabalho, no sentido de preparar os membros das sociedades para o mundo do trabalho, interconectado com o exercício da cidadania, hoje tem como desafio o desenvolvimento de práticas pedagógicas atreladas ao Planejamento Estratégico institucional. Neste sentido, os pedagogos são, cada vez mais, necessários nos quadros funcionais das empresas. Os pedagogos empresariais devem refletir sobre as finalidades de suas ações neste novo espaço de atuação profissional, de modo que os objetivos de propiciar um maior desenvolvimento da produtividade nos processos de trabalho das empresas sejam sempre fundamentados nos propósitos sócios políticos e éticos da educação. Nesse sentido, procuramos nessa disciplina despertar seu interesse para os conceitos básicos que fundamentam a ação pedagógica no contexto empresarial e esperamos que você tenha especial atenção ao estudo deste caderno buscando delinear com clareza a especificidade da atuação do pedagogo empresarial. O bj et iv os G er ai s Este caderno de estudos tem como objetivos: Listar a evolução da organização do trabalho e as diferentes perspectivas de ação da pedagogia no trabalho; Explicar os elementos teóricos fundamentais para pedagogia empresarial; Analisar os conceitos básicos da pedagogia empresarial; Apresentar os aspectos da aprendizagem de adultos no contexto empresarial; Sistematizar um conjunto de elementos fundamentais para formulação de um Perfil competências do pedagogo empresarial; Analisar os aspectos essenciais para o desenvolvimento das competências do Pedagogo empresarial no contexto organizacional; Elaborar um modelo para desenvolvimento do processo educativo na empresa. Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional Dênia Glais Santana A U L A1 A pr es en ta çã o A educação sempre se aliou ao trabalho, no sentido de preparar os membros das sociedades para o mundo do trabalho, interconectado com o exercício da cidadania. Neste sentido, os pedagogos que agora se inserem mais amiúde no interior das empresas, devem refletir sobre as finalidades últimas do agir neste novo espaço de atuação profissional, de modo que os objetivos de propiciar um maior desenvolvimento da produtividade nos processos de trabalho das empresas, não obscureçam os propósitos sócios políticos e éticos da educação. A disposição da aula, que se desenvolve com material informativo, reflexões e questões de avaliação de conhecimento, foi dividida de modo a proporcionar um conhecimento organizado dos conceitos básicos da pedagogia e da pedagogia empresarial, seguidos dos elementos históricos da organização do trabalho desde a Corporação de ofícios até o contexto atual de emergência das possibilidades de atuação do pedagogo empresarial nas organizações. Para uma abordagem da pedagogia empresarial, inicialmente remeteremos nossas reflexões para a pedagogia como ciência e prática da educação. Passamos pela prática pedagógica formal e informal para apresentar as características do empresarial. Para bem situar a emergência, da intensificação das ações educativas no interior das empresas nos tempos atuais, iniciamos com a revisão da história dos processos de gestão do trabalho. O bj et iv os Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Definir os conceitos de pedagogia enquanto ciência e prática; Compreender a evolução histórica dos modelos de organização do trabalho; Explicar ações educativas na empresa ao longo da evolução dos modelos de organização do trabalho. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 8 Caracterização do pedagógico A pedagogia é o campo do conhecimento que realiza estudos sistemáticos da educação na sociedade. A educação por sua vez, refere-se aos processos segundo os quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades, técnicas, atitudes e valores existentes no meio culturalmente organizado. As formas como se realiza a educação numa dada sociedade, guarda relação com suas estruturas econômicas, sociais, política e cultural, isto é, com a totalidade das relações que se estabelecem num determinado momento histórico. Portanto, as práticas educativas, transformam-se na medida das mudanças ocorridas nas sociedades. As sociedades de maneira mais ou menos consciente, buscam nos seus processos educativos, a formação do homem de acordo como entendem deva estar organizada as relações destes homens entre si e com o aparato material que determina seu modo de produção econômico. Considera, portanto a divisão social e técnica do trabalho e a inserção dos indivíduos em classes sociais. Os processos educativos têm, pois finalidades e ações práticas para a consecução dos seus fins, que são aqueles dos grupos dominantes das sociedades. PEDAGOGIA ENQUANTO CIÊNCIA A pedagogia enquanto ciência, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico- profissionais, investiga a realidade educacional, visando o entendimento dos problemas educativos, numa perspectiva histórica, social e individual. E assim fazendo, desenvolve a ciência pedagógica, que fundamenta e parte das práticas educativas. Incorpora Para pensar Como você definiria PEDAGOGIA, EDUCAÇÃO e EMPRESARIAL? Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 9 ao seu saber conhecimentos advindos de outras ciências, as chamadas ciências fontes da educação, dentre as principais estão a psicologia, a sociologia, a filosofia e a antropologia (ciências auxiliares). Cada uma dessas ciências aborda a educação sob seus próprios conceitos e métodos de investigação, sendo a pedagogia a integradora dos aportes dessas demais áreas no que se refere ao intrinsecamente educativo. Toma os resultados de suas investigações como instrumentos intelectuais para estudar os problemas educativos, elaborar técnicas, processos e modos de operação apropriados à prática da educação. Para uma abordagem da pedagogia empresarial, inicialmente remeteremos nossas reflexões para a pedagogia como ciência e prática da educação. PEDAGOGIA ENQUANTO PRÁTICA Segundo Libâneo (2002), o pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, desenvolvendo açõesdireta ou indiretamente relacionadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e Vamos tentar estabelecer a interface entre essas ciências e a Pedagogia? Psicologia – questões cognitivas, aspectos do desenvolvimento psíquico, afetividade, relações interpessoais, construção da subjetividade; Sociologia – aspectos ideológicos na educação, transformação social, instituições, relações e classes sociais, cidadania; Filosofia – ética, valores, princípios, visão de ser humano, epistemologia; Antropologia – cultura, visão de mundo, pluralidade cultural, diversidade, etnocentrismo. Perceba assim o quanto a Pedagogia é uma área INTERDISCIPLINAR! Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 10 modos de ação, tendo em vista, objetivos da formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica. Insere-se aqui, a pedagogia como técnica, que sendo produto de investigações, estudos e experimentações da pedagogia como ciência, desenvolveu métodos, técnicas e tecnologias que, em conformidade com os objetivos da ação pedagógica aportam estrutura, organização e coerência à relação ensino-aprendizagem. Teoria e prática unem-se assim a partir da própria ação. As práticas educativas numa sociedade, segundo as características materiais e sociais existentes, e a sua intenção educativa explicitada, podem ser consideradas formais, não formais ou informais. - PRÁTICAS EDUCATIVAS FORMAIS: A educação formal compreende as instâncias de formação, escolares ou não, onde há objetivos educativos explícitos e uma ação intencional institucionalizada, estruturada e sistemática. Em tais circunstancias, os elementos da prática educativa estão presentes e definidos: o sujeito do processo de aprendizagem, o educador, o saber objeto de aprendizagem e o contexto em que ocorre a ação educativa. - PROCESSOS PEDAGÓGICOS NÃO FORMAIS E INFORMAIS: As ações pedagógicas não formais ou informais (conforme maior ou menor nível de estruturação) podem ocorrer por meio da escola, da família, trabalho, associações, meios de comunicação (imprensa, televisão, livros, teatro, cinema etc.), vizinhança, ou por quaisquer outras formas de interações e influências dos indivíduos e grupos com seu ambiente humano, social, físico e cultural (Libâneo, 2002). Entretanto, há uma interação e influência recíproca entre estas modalidades de ações educativas Para refletir Caracterize com suas palavras a pedagogia enquanto ciência e enquanto prática. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 11 formais, não formais e informais. Considerando que os espaços sociais e culturais se interpenetram e se complementam na experiência vivida pelos indivíduos e grupos numa mesma sociedade, estes estarão sujeitos a viver uma multiplicidade de situações em que estarão presentes de forma concomitante ou intercalada ações educativas ora formais, não formais ou informais. Todas contribuindo seja para a incorporação de saberes, hábitos, habilidades, capacidades, atitudes, valores e ideologias que influenciam a forma de perceber e interpretar o mundo. Caracterização do empresarial Considera-se a empresa como aquela organização intencionalmente planejada como produtora ou intermediadora de bens ou serviços, que tem como finalidade precípua atender a objetivos econômicos, utilizando-se para isto entre outros meios, o trabalho humano coletivo e assalariado. Para atingir seus objetivos, implementa processos de trabalho, entendido como a dinâmica dos meios materiais, técnico-organizativos (que dizem respeito a organização dos fluxos da produção em conjugação com a base técnica/tecnológica) e sociais (que dizem respeito ao papel dos indivíduos no seio da produção em interface com os fluxos e a base técnica). A configuração tomada pelos processos de trabalho, as estratégias de gestão, incluindo aí as práticas educativas a elas afetas, se transmutam na medida em que esses processos evoluem na história. Em tempos recentes assiste-se a significativas transformações nos processos de trabalho no âmbito das empresas, com profundas alterações na base técnica e tecnológica, na organização do trabalho, nas formas de gerenciar e compatibilizar o trabalho humano com as necessidades e estratégias empresariais contemporâneas. Para pensar Muitos projetos em Educação Ambiental se dividem em educação formal e informal. Onde se daria a educação ambiental FORMAL? e a INFORMAL? Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 12 As empresas fazem novas exigências em relação ao aproveitamento das capacidades dos seus trabalhadores. Na configuração apresentada, o pedagogo empresarial é chamado a intervir, com o saber e as práticas inerentes a sua profissão. Juntamente com outros profissionais das ciências sociais e humanas, deverá dar respostas aos desafios que são colocados para propiciar a produtividade do trabalho nos moldes exigidos no contexto atual. Histórico da organização do trabalho Para bem situar a emergência, da intensificação das ações educativas no interior das empresas nos tempos atuais, é necessário fazer uma revisão sobre como evoluiu na história os processos de trabalho relacionados às empresas, nos seus diversos elementos dos meios materiais, tecnico-organizativos, e sociais. O TRABALHO SOB AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO A organização dos artesãos da idade média e as bases cooperativas existentes em suas oficinas ligadas às corporações de ofício forneceram historicamente os elementos sobre os quais se desenvolveram em seus primórdios os processos de trabalho tal como se configuraram depois nas sociedades industriais. Nessas oficinas, trabalhava um grupo de homens pouco numeroso que, de acordo com um plano, organizava as atividades de modo a se completarem mutuamente para produzir um produto. Tal organização se dava sob a forma de cooperação simples. Já se tinha, embora em pequenas dimensões, uma organização de trabalho coletivo, que utilizando base técnica de instrumentos simples, obtinha o efeito do trabalho combinado, no qual um conjunto de trabalhadores, atuando sob cooperação no mesmo processo de produção ou em diferentes processos (mas conexos), tem um resultado Dica da professora Procure estudar mais sobre a história dos modelos administrativos. Se você for da área educacional possivelmente não conhecerá autores como Taylor, Fayol, Ford, entre outros. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 13 material com potência produtiva maior que a soma das atividades de trabalhadores isolados (Marx, 1988). O produto do trabalho, além de permitir a subsistência dos trabalhadores, deveria atender a certo “ideal de perfeição”, o que nos parâmetros atuais poderia revelar preocupação com a qualidade. Os mestres de cada ofício são os que detêm os instrumentos de trabalho e fornecem a matéria prima. Os que desejavam entrar para as corporações deveriam ser aceitos por um mestre. A transmissão de conhecimentos era feita pelos mestres aos aprendizes, na forma da observação do trabalho e instrução direta. A forma de transmissão direta e com sistematização empiricamente estruturada da aprendizagem do trabalho será predominante nas fases posteriores da organização capitalista, até o advento do taylorismo. A MANUFATURA A organização embrionária da indústria (antes da introdução da maquinaria) vai aumentar o número de trabalhadores, para que atuem no mesmo local produzindo a mesma mercadoria, igualando-os todos, substituindo os artesãos organizados sob as corporações de ofício. Ainda com a base técnica artesanal, aumentar a potência do trabalho pela conjugaçãode maior número de trabalhadores em atividades parceladas passa a ser a estratégia da organização da produção, face à maior rapidez, precisão e regularidade com que passa a ser executado. Nas manufaturas do século XVII, há a decomposição da atividade dos artesãos nas diversas operações que constituem o processo de trabalho manufatureiro. Este processo surge e se desenvolve da Dica da professora Você verá o Taylorismo em vários momentos dessa disciplina. Quer saber mais? Corporações de ofício - Chamadas de guildas, ansas, confrarias ou fraternidades, as corporações de ofício existem em toda a Europa. São organizações urbanas que detêm o monopólio do exercício de determinadas profissões - ferreiros, marceneiros, pedreiros, alfaiates, vidraceiros - e das tecnologias a elas associadas. A transmissão dos conhecimentos técnicos é feita pelos mestres aos aprendizes no interior dessas associações. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 14 contínua promessa de “racionalização” das tarefas. Como conseqüência, o trabalhador perde o acesso subjetivo ao plano de trabalho e à percepção objetiva de sua participação no resultado (produto) do seu próprio trabalho. É nessa fase da organização do trabalho que primeiro se acentua a clássica separação entre o trabalho manual e intelectual, execução e concepção. A gestão do trabalho, na forma da coordenação das atividades dos trabalhadores torna-se cada vez mais necessária. Em primeiro lugar, a função de direção se impõe por questões da própria organização do trabalho. A natureza do organismo produtivo coletivo, tendo muitas partes que se especializam, necessita de elos de ligação para que façam a conexão entre as partes para que atendam à composição do todo. De outro lado, um trabalho que se estrutura em movimentos que tendem à padronização possibilita maior facilidade de vigilância, uma vez que fatores subjetivos de difícil controle, tais como as decisões tomadas pelo trabalhador durante o curso das atividades vão sendo subtraídas. Em conseqüência, a forma de utilização dos trabalhadores que privilegia seus movimentos físicos tornando crescentemente supérflua a elaboração intelectual, dificulta que este trabalhador localize-se no todo da produção, tornando-se dependente de uma direção para conectá-lo ao todo da produção. Além dessas razões, a direção era necessária para o controle do comportamento no sentido da continuidade da dedicação ao trabalho, pois a atividade monótona e extenuante devido a repetição de operações simplificadas, a autonomia limitada e as relações interativas reduzidas não deixavam margem para um interesse e motivação maior por parte do trabalhador. Com grande parte das atividades parceladas, o trabalho na manufatura era transmitido ao aprendiz Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 15 facilmente no próprio local, sem grande dispêndio de tempo para o seu aprendizado, a não ser o desenvolvimento da destreza e rapidez que a própria repetição tratava de aperfeiçoar. A INTRODUÇÃO DA MAQUINARIA NA INDÚSTRIA A divisão manufatureira do trabalho, com seus instrumentos especializados manuseados por trabalhadores parciais em operações repetidas serve de ponto de partida para a máquina. Tais instrumentos são adentrados a mecanismos e se constituem em máquinas-ferramentas. Tem-se uma seqüência evolutiva, que vai da máquina ferramenta primitiva à máquina mais aperfeiçoada e ao emprego de sistemas de máquinas. A máquina substitui a habilidade manual do trabalhador e o motor, a máquina motriz, seu impulso e força muscular. A introdução da máquina não reduz os movimentos parcelados e repetidos dos trabalhadores. Ao contrário, estes deverão adaptar seus Marx desenvolve duras críticas a esta forma de organizar o trabalho que tem início com o modelo da manufatura e redunda na indústria. A organização da produção (ou, como escreve Marx, a divisão técnica do trabalho) e o fenômeno de especialização em que elas implicam, impedem a percepção pelo trabalhador de todo o processo de produção, impossibilitando que o trabalhador se identifique com o seu produto. A divisão e a especialização separam o trabalhador do fruto de seu esforço, uma vez que sua contribuição individual para o resultado final pode ser irrisória. Um operário cuja atividade consiste em instalar os faróis dos carros que saem da linha de montagem não dirá que o carro foi feito por ele. Assim, quando o carro for vendido, o comprador também não verá nele o trabalho daquele operário, mas apenas o do conjunto. Esta é a segunda alienação: a divisão do trabalho separa as pessoas uma das outras, ao impedir que nas relações de troca (ou compra e venda) elas se comuniquem pelo produto: o comprador não sabe quem fez aquele bem, o operário não sabe quem o comprou. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 16 movimentos ao ritmo e regularidade própria das máquinas. A divisão do trabalho torna-se a divisão dos trabalhadores pelas diversas máquinas. Além disto, há um reduzido número de trabalhadores com diversos níveis de conhecimentos sobre os mecanismos técnicos da maquinaria (engenheiros, técnicos, mecânicos), que tem a função de controlar e reparar o sistema de máquinas. Estes recebiam treinamento técnico mais sistematizado dentro ou fora da empresa, ministrado por outros profissionais técnicos ou escolas especializadas. O TAYLORISMO No final do século XIX, quando Frederick Taylor inicia seus trabalhos de “administração Científica” do trabalho, as indústrias possuíam já um sistema de máquinas bastante desenvolvido, embora os movimentos sucessivos das máquinas não tivessem grau de automação elevado e uniforme, exigindo então diversos tipos de desempenhos parcelados por parte dos trabalhadores. Existiam ainda alguns tipos de trabalho remanescentes das corporações de ofícios, nos quais os trabalhadores atuavam com ferramentas manuais. Por esta época, os conhecimentos sobre as propriedades e desempenho das máquinas permitem o controle do seu funcionamento com base numa precisão calculada antecipadamente. Já a atividade do homem, podia ser apenas prevista e desejável, face principalmente ás formas de intervenção que as máquinas requeriam dos trabalhadores. Conclui-se, pois que neste período de desenvolvimentos dos processos de trabalho na indústria mecanizada, a gerência possuía informações sobre o que o trabalhador deveria fazer para obter o Dica de filme Sobre esta adaptação do trabalhador à máquina, veja o filme TEMPOS MODERNOS de Charles Chaplin. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 17 resultado previsto como desejável. O “como fazer” cabia ao operário desenvolver, e era aprendido através da experiência com os mais antigos na função ou pela própria prática. É neste espaço onde ainda vale o conhecimento empírico que Taylor vai debruçar-se para imprimir uma feição “científica” do trabalho, compatível com maior produtividade e controle social, segundo o explicitado por ele mesmo como motivo de realização de suas pesquisas primeiras. Taylor (1966). Taylor expôs suas propostas de administração científica do trabalho por meio de “princípios”, que complementares entre si, conformam uma determinada lógica ao Gerenciamento do trabalho humano nas empresas produtivas. Frederick W. Taylor desenvolveu estudos a respeito de técnicas de racionalização do trabalho dos operários. Suas idéias preconizavam a prática da divisão do trabalho. A característica mais marcante do estudo de Taylor é a buscade uma organização científica do trabalho, enfatizando tempos e métodos e por isso é visto como o precursor da Teoria da Administração Científica. Taylor via necessidade de aplicar métodos científicos à administração para assegurar seus objetivos de máxima produção a mínimo custo, para tanto seguia os seguintes princípios: Seleção científica do trabalhador - O funcionário desempenha a tarefa mais compatível com suas aptidões. É importante pro funcionário que é valorizado e pra empresa, que aumenta sua produtividade e aumenta seus lucros. Tempo padrão - O funcionário deve atingir a produção mínima determinada pela gerência. Esse controle torna-se importante pelo fato do ser humano ser naturalmente preguiçoso. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 18 O primeiro princípio: No primeiro princípio da “Administração Científica” (que é o mais importante, pois nele calcam- se os demais), Taylor vai propor que a gerência deve possuir o domínio das minúcias de todo o como fazer das atividades e, este como fazer deve ser o melhor método para realizar o trabalho. O “melhor método” é obtido através de uma metodologia específica de decomposição e recomposição de uma determinada atividade que ele chama “tarefa”. A manufatura também já tinha feito isto, também com o objetivo de maior produtividade e controle sobre o trabalho. Taylor vai radicalizar a decomposição das operações em movimentos elementares e a recomposição dirá respeito a padronizar os tipos de movimentos essenciais á Plano de incentivo salarial - O funcionário ganha pelo que produz. Trabalho em conjunto - Os interesses da empresa e dos funcionários quando aliados, resultam numa maior produtividade. Gerentes planejam, funcionários executam - Cabe aos gerentes planejarem e aos funcionários agirem. Divisão do trabalho - A tarefa subdivide-se ao máximo, dessa forma ganha-se velocidade, produtividade e o funcionário garante lucro de acordo com seu esforço. Supervisão - É especializada por áreas. Controla o trabalho dos funcionários verificando o número de peças feitas, assegurando o valor mínimo da produção. Ênfase na eficiência - Há uma única maneira certa de se fazer o trabalho. Para descobri-la, a administração empreende um estudo de tempo e métodos, decompondo os movimentos das tarefas exercidas. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 19 reconstrução de cada operação que deve ser realizada por cada trabalhador, eliminando os movimentos considerados supérfluos. Utiliza-se da observação cronometrada do trabalho de vários operários na função, pois além da precisão no como fazer, propunha-se a padronizar também a medida do tempo do trabalho para compor o melhor método. A seguir, as atribuições da gestão do trabalho, segundo os princípios prescritivos de Taylor: 1º - Desenvolver para cada elemento do trabalho individual uma ciência que substitua o trabalho empírico. 2º - Selecionar cientificamente, depois treinar, ensinar e aperfeiçoar o trabalhador. 3º - Cooperar cordialmente com os trabalhadores para articular todo o trabalho com os princípios da ciência que foi desenvolvida. 4º - Manter a divisão eqüitativa de trabalho entre a direção e o operário. A direção incumbe-se de todas as atribuições para as quais esteja mais aparelhado que o trabalhador... Taylor (1966). Segundo tais princípios, está claro que à direção caberá as ações de estruturar o trabalho (primeiro princípio), planejá-lo (4º princípio), selecionar, treinar e aperfeiçoar o trabalhador (2º princípio), e convencer o trabalhador da aceitação da execução do trabalho tal como foi concebido. Caberá então ao trabalhador simplesmente executar. Em realidade, quando fala em “treinar, ensinar e aperfeiçoar o trabalhador”, Taylor está referindo-se a Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 20 uma espécie de “adestramento”, pois quando aborda em sua obra as características adquiridas pelo trabalho conformado através do seu sistema diz, referindo-se aos trabalhadores: “Graças a esta instrução minuciosa, o trabalho torna-se tão cômodo e fácil que à primeira vista parece que o sistema tende a convertê-lo em um mero autômato, um verdadeiro boneco de madeira. Os operários observam pela primeira vez, sob o novo sistema e dizem: porque não me permitem pensar ou agir? Há sempre alguém fazendo ou agindo por mim?” (Taylor). A partir de Taylor, os projetos de sistemas produtivos farão referencia não só à especificação e à performance de máquinas, mas também a métodos e medidas do trabalho humano. Taylor também levava em consideração a capacidade física do trabalhador para realizar o trabalho, tendo empreendido estudos sobre a capacidade energética e o desgaste do organismo humano em atividade. Visava determinar a quantidade ótima de esforço físico a ser efetuado em determinado tempo numa atividade laboral. Posteriormente, seguidores de Taylor, utilizando-se de novas tecnologias, conseguiram empreender estudos dos movimentos humanos no trabalho que prescindiam da observação empírica cronometrada. Nestes estudos, são decompostos todos os movimentos de membros e órgãos envolvidos no trabalho (mãos, braços, pernas, olhos), sendo estabelecido por técnicas estatísticas, o tempo correspondente para o movimento de cada um desses membros, em função de variáveis tais como; distância, peso do objeto, ângulos dos movimentos etc. Dica da professora Perceba aqui qual a concepção de treinamento presente em Taylor. Analise de que maneira esta sua visão marca as práticas educativas nas empresas. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 21 Com base em tal sistema, torna-se desnecessário o exame de um trabalho concreto. O cronômetro e a observação são substituídos por um catálogo de tempos pré-determinados e o projeto do trabalho pode ser feito até antes de iniciar a atividade. Frederick Taylor, ao realizar os estudos científicos do trabalho, imputou tal necessidade devido ao comportamento de “indolência sistemática ou natural” do trabalhador. Propõe-se então que seja retirada deste a possibilidade de opor-se à produtividade do trabalho, pela adoção dos métodos por ele desenvolvidos nos seus estudos. O trabalhador deverá receber instruções por escrito a respeito de como fazer o trabalho, e executar tais instruções rigidamente. A adoção de qualquer outro comportamento não antecipadamente prescrito é considerada nociva à produção. Ao fazer formulações sobre as motivações humanas, Taylor vai afirmar que o homem é impelido a trabalhar por medo da fome e busca do lucro, defendendo assim, um sistema de recompensas para estimular os que apresentam maior esforço. Outros fatores capazes de influir no desempenho estariam ligados às limitações do organismo humano e às condições físicas do ambiente de trabalho. Tais fatores deverão ser considerados na estruturação do “melhor método” e na organização e escolha dos aspectos físicos mais favoráveis ao aumento da produtividade. Advoga ainda a possibilidade de se obter o consenso no interior da empresa, pela conjugação dos objetivos da direção e dos trabalhadores. Uma vez que estes últimos sejam mais produtivos, a empresa ganhará mais em lucros, e, portanto terá condições de recompensar melhor seus trabalhadores. Para refletir Você concorda com esta “indolência sistemática ou natural do trabalhador” que exige instruções rígidas? Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 22 O FORDISMO O núcleo da gerência científica era o estudo organizado dos atos humanosfísicos no trabalho, sua análise, visando a melhoria sistemática da produtividade. Vê-se, pois, que a proposta adequava-se a qualquer estágio de desenvolvimentos técnico- tecnológico que demandasse movimentos físicos humanos como fator importante para a produtividade. Taylor empreendeu seus “estudos científicos” tanto em oficinas com base técnica ainda artesanal, onde os trabalhadores atuavam com ferramentas manuais diretamente sobre a matéria, como junto a contextos onde o homem atuava com movimentos em interface com as maquinas, seja em sua preparação, acionamento, manejo, alimentação, regulagem etc. Todos esses processos demandavam o trânsito dos trabalhadores pelo interior das oficinas, trânsito este que a nova organização tratava de suprimir ao máximo, ora dispondo de materiais de forma mais acessível, ou encarregando outros trabalhadores de distribuí-los, ora decompondo e recompondo os movimentos para que melhor se pudesse acessar os instrumentos e suprimir os deslocamentos. Posteriormente, com o respaldo das prescrições de Taylor de racionalização máxima dos movimentos no interior das unidades produtivas, com a simples introdução de correias transportadoras nas fábricas (através das quais os objetos em fabricação são posicionados a cada período de tempo pré- determinados frente a máquinas ou instrumentos operados por trabalhadores dispostos em seqüência), toma forma a organização da produção fordista na década de trinta do século XX. A primeira empresa a utilizar-se desta forma de organização da produção foi a fábrica de automóveis da FORD. A forma de Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 23 organização da produção fordista representou o ápice de trabalho parcelado, e desqualificado no sentido da não utilização de potencialidades e saberes do trabalhador. Nas formas de organização da produção que se desenvolveram desde os primórdios do capitalismo, a ação de capacitação para o trabalho da maior parte dos trabalhadores restringia-se a prepará-los para um saber fazer prescrito, pois o que se requeria era a precisão e velocidade em atividades físicas simplificadas. Não era sem razão que por volta da primeira metade do século passado, ainda no reinado dos sistemas taylorista e fordista, a psicometria, que estuda medidas de aspectos psicológicos humanos, a partir dos requisitos das tarefas nas fábricas, elaborava programas de treinamento profissional que consistiam em conjuntos de exercícios de velocidade, precisão, acuidade e automatismos, além da transmissão de informações e mudança de atitudes, tendo em vista aproximar o desempenho do padrão esperado no planejamento da fábrica. Malvezzi (1994). Henry Ford é visto como um dos responsáveis pelo grande salto qualitativo no desenvolvimento organizacional atual. Ciente da importância do consumo em massa, lançou alguns princípios para agilizar a produção, reduzir os custos e o tempo de produção. Integração vertical e horizontal - Produção integrada, da matéria-prima ao produto final acabado (Integração vertical) e instalação de uma rede de distribuição imensa (Integração horizontal). Padronização - Instaurando a linha de montagem e a padronização do equipamento utilizado, obtinha- se agilidade e redução nos custos. Em contrapartida, prejudicava a flexibilização do produto. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 24 O desenvolvimento dos processos de trabalho desde o início da constituição das empresas produtivas remeteu a uma constante simplificação, parcelamento e desqualificação do trabalho humano tendo como conseqüência a desvalorização do saber dos agentes do trabalho. Pode-se concluir que isto ocorreu como resultante das formas organizativas e técnicas da produção, nas quais os movimentos físicos repetidos e parcelados do trabalhador constituíam o mais importante fator de produtividade. Os atos educativos no interior das fábricas eram realizados tendo em vista os treinamentos simplificados, normalmente realizados por colegas e chefes, ou apenas chefes. Entretanto, as fábricas também cumpriam o papel educativo de formar hábitos e atitudes de conformidade nos trabalhadores, submetidos a condições de trabalho tão insatisfatórias. ALTERAÇÕES NO EMPREGO A análise histórica aponta que na evolução do modo de produção capitalista, as empresas produtivas eram numericamente superiores aos outros organismos do sistema, sendo que a maior parte de seus empregados constituíam-se de trabalhadores que atuavam nas oficinas, produzindo mercadorias. Contudo, já no final da primeira metade do século XX, como fruto de desenvolvimentos posteriores, inúmeras atividades que eram antes auxiliares e complementares do processo produtivo avolumaram-se, constituindo-se desde então, em locais por excelência de emprego. Dentre estas atividades, aquelas chamadas de intermediação financeira (bancos, cia de seguros, todo o aparato de circulação e controle financeiro), passaram a ocupar lugar de destaque, em face da importância do capital financeiro sobre o conjunto da economia. Economicidade - Redução dos estoques e agilização da produção. Quer saber mais? Segundo Marx, o modo de produção de uma sociedade, a maneira pela qual essa sociedade produz seus meios de vida e de reprodução, tem papel determinante sobre sua organização jurídica, sua estrutura política, sua ideologia, enfim, todos os aspectos de sua vida. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 25 Além dessas atividades mais estreitamente relacionadas ao aparato produtivo de produção de bens a concentração populacional e a conseqüente complexificação dos centros urbanos suscitaram uma infinidade de serviços de consumo individual e coletivo (asilos, serviços de saúde, hotelaria, diversão, transporte, comunicação etc.), que passam a carrear para si volumes crescentes de processos de trabalho e de emprego. As atividades relacionadas à circulação, distribuição e consumo de mercadorias, também com os desdobramentos das condições da dinâmica econômica (mercado mundial, conquista de toda a produção de bens) sob a forma de mercadorias, passaram a ter peso significativo o modus operandi do sistema. Atualmente, o que se chama de nova revolução delineia-se com os avanços sem precedentes nas áreas de comunicação e tecnologias de ponta, que possibilitaram a globalização acentuada de mercados e fragilização das fronteiras nacionais, enquanto que uma gama de empresas dedicadas à pesquisa, produção, armazenamento e distribuição de informações, laboratórios de pesquisas, publicidade etc. já se encontram incorporadas ao sistema produtivo. No âmbito da própria unidade de produção de bens, outras atividades que não as diretamente relacionadas à produção de bens se incorporam de forma mais incisiva, tais como o planejamento, controle e avaliação, concepção de novos produtos, melhoria de processos, produção, armazenamento e disseminação de conhecimentos necessários para a manutenção de competitividade das empresas, administração e desenvolvimento de recursos humanos, publicidade etc. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 26 E mesmo na produção direta de bens, a inserção de tecnologias de base eletrônica muda a fisionomia da organização do trabalho e a forma de interação humana, exigindo não mais as habilidades físicas aderentes ao trabalho parcelado, mas aquelas capacidades que caracterizam um certo nível de representação mental para a tomada de decisões frente a um trabalho que não se resume mais ao que está prescrito. Vale mencionar, que tanto as atividades realizadas no interior das empresas de produção de bens, comoaquelas relacionadas ao terceiro setor são de natureza diversa daquela de produção de bens materiais, tal como se conformava sob a chancela do sistema taylorista de gestão do trabalho. Na realidade, esse novo padrão da produção do trabalho na sociedade contemporânea, como nas fases anteriores de reformulação dos processos de trabalho, responde a determinados aspectos do contexto econômico, social, político no qual as empresas se inserem, e vai demandar por parte das empresas: Uma capacidade de dar respostas rápidas e variadas a um mercado instável, balizado por acirrada concorrência. Estas respostas deverão ser eficazes no sentido de diferenciar-se permanentemente, vez que os problemas colocados são constantemente mutáveis. Cunha-se como referência para essa prontidão de renovar-se como um estado permanente a denominação de “organizações que aprendem”, no sentido de incorporar rapidamente o novo às suas práticas. Dica da professora O Terceiro Setor é constituído por organizações privadas sem fins lucrativos que geram bens, serviços públicos e privados. Todas elas têm como objetivo o desenvolvimento político, econômico, social e cultural no meio em que atuam. Exemplos de organizações do Terceiro Setor são as organizações não governamentais (ONGs), as associações e fundações. O Estado é o Primeiro Setor O Mercado é o Segundo Setor Entidades da Sociedade Civil formam o Terceiro Setor Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 27 Uma redefinição das relações com os trabalhadores, que ao invés de serem controlados, são chamados a colaborar para o alcance dos objetivos da empresa, utilizando para isto de todo o seu potencial como seres humanos pensantes, criativos, autônomos e responsáveis. Há, portanto uma mudança na forma de gerir as pessoas, de maneira que incorporem o sentido, ou uma representação do que sejam os padrões esperados, à partir de sua adesão à lógica da empresa, que irá referenciar a busca de indicadores que balizem as ações e as formas adequadas de conduta. A aquisição do saber toma uma importante dimensão, como um capital que as empresas deverão contar como fator imprescindível para se manterem competitivas e assim garantir sua sobrevivência. A inovação, a interpretação das variações do meio, a melhoria dos processos de trabalho, a melhor utilização de tecnologias, a definição de estratégias para soluções de problemas que surgem frente ao variável e imprevisível, são algumas entre tantas ações que deverão fazer parte do repertório do conjunto das equipes de trabalho. Valorização das práticas pedagógicas na empresa Nesta nova perspectiva, o agora colaborador, que deverá comportar-se como sujeito ativo, capaz de adaptar-se às variações do meio apresentando soluções para os problemas previstos e imprevistos, necessariamente será alvo de processos pedagógicos formais e informais no âmbito interno ou externo ás Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 28 empresas, processos estes que deverão estar compatíveis com o que dele é solicitado. A pedagogia de base behaviorista ou transmissora, que buscava fixar condutas preestabelecidas tidas como desejáveis sob o ponto de vista da organização taylorista e fordista, mediante manipulação de estímulos e normalização rígida de condutas, deverá ser revista. Atualmente, nas mais diversas abordagens, seja para aquisição de conhecimentos, habilidades, atitudes, capacidades relacionadas às funções psíquicas superiores, ou mesmo para a promoção de mudanças planejadas nas empresas, são adotadas metodologias de ensino outras, cujo processo de aprendizagem deverá ocorrer por meio de uma relação dinâmica entre aquele que aprende e o objeto da aprendizagem. O marco conceitual e metodológico para operacionalizar as mudanças no seio das organizações e mesmo na sociedade, vez que por influencia do mundo do trabalho acabam surgindo demandas na esfera da sociedade em geral, até para garantir a empregabilidade da população economicamente ativa, são as competências, que incorporam para além do saber fazer técnico, outras dimensões das capacidades humanas, que deverão ser desenvolvidas, por meio de ações educativas. A área de recursos humanos das empresas, tendo necessidade de diferenciar suas práticas das formas mais tradicionais de perceber e atuar, passa a incorporar outras práticas, entre elas: Há um maior cuidado de investigar as necessidades e planejar seus processos educativos, com definições precisas de seus Dica da professora Behaviorismo: “behavior” significa comportamento. Esta linha psicológica que fundamenta práticas educativas e empresariais baseia- se no estudo do comportamento humano a partir das relações Estímulo – Resposta (E-R) e do condicionamento operante. Seu principal teórico é B. F. Skinner. Para pensar Quais as funções “tradicionais” ou “clássicas” da área de recursos humanos? Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 29 objetivos, resultados a alcançar, escolha de métodos e dos processos organizativos da aprendizagem, bem como avaliar seus resultados. Para tanto, os conhecimentos e aportes técnicos do profissional pedagogo vai constituindo-se como prática de trabalho de relevância para garantir a validade e assertividade dos trabalhos relacionados. O repertório do que ensinar amplia-se para além do técnico, muitas vezes abarcando competências intangíveis e difíceis de avaliar, tais como as capacidades relacionadas às atitudes, valores, formas de raciocinar, e para isto há de haver investigação e proposições de novas experiências no âmbito pedagógico também. Há necessidade de estimular a explicitação e disseminação dos conhecimentos adquiridos com a própria prática do trabalho, os chamados conhecimentos tácitos, e para isto há de se desenvolver estratégias calcadas nos valores e cultura da organização. As relações informais que propiciam a aquisição de saberes deverão ser objeto de investigação e proposição de ações que possibilitem sua maximização. A definição dos conhecimentos a serem incorporados pelas empresas não se pautam mais tão somente no que é realizado ou será feito proximamente. A definição do que aprender deverá estar diretamente relacionado ao planejamento estratégico das organizações, no sentido das novas aprendizagens estarem relacionada aos caminhos futuros definidos, seja, ao que ainda não é fato, mas pretende ser. Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 30 RESUMO Vimos até agora: A pedagogia enquanto ciência toma os resultados de suas investigações como instrumentos intelectuais para estudar os problemas educativos, elaborar técnicas, processos e modos de operação apropriados à prática da educação. As práticas educativas numa sociedade, segundo as características materiais e sociais existentes, e a sua intenção educativa explicitada, podem ser consideradas formais, não formais ou informais. A evolução dos processos de trabalho desde o início da constituição das empresas produtivas, remeteu a uma constante simplificação, parcelamento e desqualificação do trabalho humano tendo como conseqüência a desvalorização do saber dos agentes do trabalho. O novo padrão de produção na sociedade contemporânea, como nas fases anteriores de reformulação dos processos de trabalho, responde a determinados aspectos do contexto econômico, social, político no qual as empresas se inserem, e vai demandar por parte das empresas: redefinição das relações com os trabalhadores, capacidade de dar respostas rápidas e variadasa um mercado cada vez mais instável e a aquisição do saber dimensão do um capital empresarial. Atualmente, são adotadas metodologias de ensino outras, cujo processo de aprendizagem Aula 1 | Evolução do trabalho e da pedagogia no contexto organizacional 31 deverá ocorrer por meio de uma relação dinâmica entre aquele que aprende e o objeto da aprendizagem. 32 Fundamentos e Concepções da Pedagogia Empresarial Ana Claudia Freire Dênia Glais Santana A U L A2 A pr es en ta çã o Esta aula mostrará a você a importância do conhecimento das concepções pedagógicas que orientam a prática educacional e será fundamental para orientar sua atuação no contexto organizacional, afinal como pedagogo empresarial deverá ter como base em sua ação profissional os fundamentos pedagógicos. Talvez você se pergunte qual a importância de conhecer os teóricos que mais interferiram nas linhas pedagógicas que hoje seguimos em nossas Instituições Educacionais, e agora nas empresas, já que o Pedagogo chegou à empresa. Acreditamos que conhecendo a história poderemos entender o contexto da Educação hoje e os mais graves problemas que nos afetam em nossa prática pedagógica seja ela na escola ou na empresa. A perspectiva histórica é muito importante em todo tipo de análise, tanto no campo educacional, como em qualquer outro tema de ciências humanas e sociais. Como especialistas da Educação na função Pedagogos Empresariais, precisamos estar prontos para identificar a corrente pedagógica da Instituição que atendemos para podermos intervir no processo, buscando a qualidade e procurando garantir, dessa forma, o melhor desempenho dos profissionais envolvidos. Precisamos estar aptos a discutir e sugerir novos caminhos para a Educação. Para isso precisamos estar bem situados na sua evolução e seguros das informações que precisaremos estar multiplicando. Os meios tecnológicos pulverizam informações sobre os mais diversos assuntos e muitas vezes os profissionais da Educação se satisfazem com informações superficiais e repetem em suas práticas a mesma superficialidade contidas nessas informações. Sabemos que a maior dificuldade se encontra na formação desses profissionais, mas cabe a nós especialistas estarmos fundamentando essa prática pedagógica e subsidiando suas ações com os conhecimentos necessários. Promoveremos condições de formação continuada dentro da própria Instituição, Empresa ou Corporação sempre que necessário. O bj et iv os Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Apresentar as principais tendências e correntes pedagógicas que fundamentam o processo de aprendizagem Relacionar os principais teóricos e as tendências pedagógicas que representam Descrever os principais aspectos de cada uma das tendências pedagógicas Apresentar um conjunto de conhecimentos que possam contribuir com a ação pedagógica na empresa. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 34 Uma Breve Introdução Nossa referência será a classificação proposta por Libâneo (1989: 21), em seu livro Democratização da Escola Pública: a Pedagogia crítica-social dos conteúdos, para situarmos os teóricos nas tendências apresentadas. Pedagogia liberal Tradicional Renovadora progressista Renovadora não-diretiva Tecnicista Pedagogia progressista Libertadora Libertária Crítico-social dos conteúdos Iniciaremos esta apresentação com Froebel pela sua importância para a Educação, inclusive sendo considerado o “Pai do Jardim da Infância”. Mesmo sem compor especificamente uma destas tendências, entendemos que discutir seus princípios, desde sua época, voltados para a educação pela ação, é o ponto de partida fundamental deste nosso estudo. Froebel Froebel nascido em Oberweibach, no ano de 1782 e falecido em 1852, Órfão de mãe, muito cedo, ainda bebê, Froebel é criado pelo pai e pela madrasta. Tem uma infância isolada e triste. Sua própria infância, seu amor pela natureza e sua grande religiosidade influenciaram toda sua obra educacional. Trabalhou com Pestalozzi, tendo suas idéias influenciadas por ele, Dica de leitura Procure o livro Filosofia da Educação de Cipriano Luckesi (Ed. Cortez) e leia o capítulo Tendências Pedagógicas na Prática Escolar de José Libâneo. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 35 mas conseguiu manter-se independente e crítico, criando seus próprios princípios educacionais, tendo sido esses princípios, durante muitos anos considerados politicamente radicais, por isso foram banidos da Prússia. Suas idéias reformularam a educação. A sua pedagogia é caracterizada pelos ideais de atividade e liberdade. Suas idéias reformularam a Educação. Como já foi dito anteriormente, Froebel valorizou a educação da criança, seus estudos sobre a criança resultaram na abertura dos Jardins da Infância, Froebel dedicou os últimos anos de sua vida à atuação junto aos jardins de infância e a divulgação da importância da educação durante os primeiros anos de vida infantil. Em 1873 Froebel abriu o primeiro jardim de infância, onde as crianças eram consideradas como plantinhas de um jardim, do qual o professor seria o jardineiro. A criança se expressaria através das atividades de percepção sensorial, da linguagem e do brinquedo. A linguagem oral se associaria à natureza e à vida. Froebel foi um defensor do desenvolvimento genético. Para ele o desenvolvimento ocorre segundo as seguintes etapas: Infância; Meninice; Puberdade; Mocidade; Maturidade. Considerava todas elas igualmente importantes. Observava, portanto a gradação e a continuidade do desenvolvimento, bem como a unidade das fases de crescimento. Quer saber mais? Froebel afirma em sua obra A educação do homem (1826) que "a educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana autoconsciente, com todos os seus poderes funcionando completa e harmoniosamente, em relação à natureza e à sociedade. Além do mais, era o mesmo processo pelo qual a humanidade, como um todo, originariamente se elevara acima do plano animal e continuara a se desenvolver até a sua condição atual. Implica tanto a evolução individual quanto a universal". FROEBEL Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 36 A escola, para Froebel, é o lugar onde a criança deve aprender as coisas importantes da vida, os elementos essenciais da verdade, da justiça, da personalidade livre, da responsabilidade, da iniciativa, das relações causais e outras semelhantes, não as estudando, mas vivenciando- as. (Monroe, P. Op. Cit., p, 306) Existe, segundo ele a necessidade que se respeite os interesses das crianças, parir sempre destes interesses das tendências inatas da criança para a ação, o jardim de infância deve ser o caminho para o auto desenvolvimento da criança, baseando-se sempre na auto-atividade. Para ele a aquisição do conhecimento deve ficar em segundo plano, estando sempre subordinada ao crescimento obtido através da atividade. Este teórico foi o primeiro a considerar a importância da educação lúdica a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica, a apreender o significado da família nas relações humanas. Froebel idealizou recursos sistematizados para as crianças se expressarem: recursos como: blocos de construção que eram utilizados pelas crianças em suas atividades criadoras, papel, papelão, argila e serragem. O desenho e as atividades que envolvem o movimento e os ritmos eram muito importantes. Para a criança se conhecer, o primeiro passo seria chamar a atenção para os membros de seu próprio corpo, para depois chegar aos movimentos das partes do corpo. Valorizava também a utilização de histórias, mitos,lendas, contos de fadas e fábulas, assim como as excursões e o contato com a natureza. Importante observarmos que ele já sinalizava para a importância das linguagens e para as múltiplas linguagens como forma de expressão. Para refletir É grande a discussão sobre a importância que deve ser dada aos conteúdos programáticos nos treinamentos, mediante suas demais funções. Qual a sua opinião sobre este tema?O conhecimento técnico deve estar sempre em primeiro plano, ou deve ficar em segundo? Dica de leitura Empresários, muitas vezes, citam em suas palestras, o livro de um escritor americano (Robert Fulghum) chamado “TUDO QUE EU DEVIA SABER NA VIDA APRENDI NO JARDIM DA INFANCIA”. O autor o classifica como “um livro de idéias incomuns sobre coisas banais”. O livro está esgotado. Não posso sugerir que compre. O importante é você saber que Froebel foi aquele que deu o nome de “Jardim da Infância” ao primeiro segmento de nossa aprendizagem. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 37 O gesto, o canto e a linguagem são as formas de expressão de sentimentos e idéias apropriadas à educação infantil. (Piletti, 2002, p.105) O conceito de parte-todo foi um dos mais bem desenvolvidos por Froebel. Cada objeto é parte de algo mais geral e é também uma unidade, se for considerado em relação a si mesmo. No campo das relações humanas, o indivíduo é, para ele, uma unidade, quando considerado em si mesmo, mas mantém uma relação com o todo, isto é, incorpora-se a outros homens para atingir certos objetivos. FROBEL E A EDUCAÇÃO Froebel em 1805 seguindo os princípios educacionais de Pestalozzi começa a trabalhar numa PRINCIPAIS CONCEPÇÕES EDUCACIONAIS A educação deve estar baseada na evolução natural das atividades infantis. O ensino de objetivar sempre extrair mais do homem do que colocar mais e mais dentro dele. Deve-se sempre considerar a maturidade da criança antes de iniciá-la em um novo assunto. O verdadeiro desenvolvimento advém de atividades espontâneas. O brinquedo deve ser considerado um processo essencial na educação inicial da criança. Os currículos das escolas devem basear-se nas atividades e interesses de cada fase da vida da criança. Sua proposta pode ser caracterizada como um "currículo por atividades", no qual o caráter lúdico é o fator determinante da aprendizagem das crianças. Entende a educação como suporte no processo de apropriação do mundo pelo homem, é um modelo de educação esférica, onde os alunos aprendem em contato com o real, com as coisas em sua volta, com os objetos de aprendizagem. A matemática só é entendida quando o sujeito for capaz de estruturar a realidade. Considerar o ser humano como sendo essencialmente dinâmico e produtivo, e não meramente receptivo. O homem possui uma força auto-geradora e não é uma esponja que absorve conhecimento do exterior. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 38 escola utilizando-se dos princípios educacionais de Pestallozzi. Mais tarde, Froebel conhece o trabalho do próprio Instituto Pestallozzi e fica fascinado com os métodos lá empregados. Froebel aprofunda-se no estudo do Método Pestallozzi e, a partir deste, desenvolve sua concepção pessoal de educação. Para Pestallozzi todo homem deveria adquirir autonomia intelectual para poder desenvolver uma atividade produtiva autônoma. O ensino escolar deveria propiciar o desenvolvimento de cada um em três campos: o da faculdade de conhecer, de desenvolver habilidades manuais e o de desenvolver atitudes e valores morais. Assim se iniciam: cérebro, mãos e coração, segundo Pestallozzi. Froebel fundamentado nas teorias de Pestalozzi formula a Philosophie de la Sphère, fundamento de sua pedagogia e base dos jogos iniciados para os jardins de infância. A Philosophie de la Sphère de Froebel que integra a autonomia intelectual, a aprendizagem social, o aprofundamento religioso em relação com a ação concreta. O aluno é o centro do processo educacional e a escola reproduz práticas de educação familiar e comunitária. RESUMINDO Segundo Piletti (2002:106) “Froebel destacou-se pela organização dos Jardins deInfância com as seguintes características: Atividades educativas: o brinquedo, o trabalho manual e o contato com a natureza. Formas de expressão: o gesto, o canto e a linguagem. Importância da auto-atividade, a partir dos interesses e tendências da criança.” Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 39 A Pedagogia de Froebel pode ser subdividida em três grandes partes: Filosofia da educação, Pedagogia escolar, Concepção de teoria sobre jogos para a 1ª infância. A Philosophie de la Sphère se funda na interrelação entre conhecimento subjetivo e objetivo e entende a educação como ajuda no processo de apropriação idealista do mundo pelo homem. A esfera, é a representação da unidade na pluralidade e da pluralidade na unidade. Se o homem, através da educação, conhecer suas possibilidades de vida pela reflexão, praticará a auto-reflexão e se apropriará destas possibilidades. O homem necessitaria exteriorizar o interior, interiorizar o exterior, reencontrando a unidade entre estes pólos. A Pedagogia de Froebel segue esta linha. É um modelo de educação esférica, onde os alunos aprendem em contato com o real, com as coisas, com os objetos de aprendizagem. O aluno é levado a refletir sobre estes objetos, a tomar consciência deles. Ao aprender a língua, por exemplo, os alunos não devem aprendê-la como algo exterior a si próprio, mas devem entender-se como criadores da língua. A língua é, então, um meio exterior que descreve a realidade e um meio interior com potencial criativo, produto do intelecto. Da mesma forma Froebel concebe a Matemática: não como operações isoladas, mas como algo geral que só poderá ser compreendido quando o sujeito for capaz de estruturar a realidade. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 40 Os jardins de infância e os jogos na teoria de Froebel têm papel importante na organização escolar. Froebel organiza jogos com diferentes materiais, começando pelo uso das formas esféricas, das bolas. Os jogos se subdividem em três tipos: formas da vida, da beleza e do conhecimento. Atualmente, os jardins de infância não conservam traços da autêntica teoria dos jogos de Froebel, embora sua idéia geral tenha permanecido, a de aliar a ludicidade ao ato de conhecer. Tendência liberal renovadora progressiva Principal característica desta tendência é a escola adequar as necessidades individuais ao meio social. Alguns dos teóricos que inspiraram essa tendência são: Dewey Decroly Montessori Piaget DEWEY E A ESCOLA PROGRESSIVA Dewey preocupava-se com o lado prático da educação; pragmático, dava importância central à adequação da educação ao meio e à evolução social. Para ele a educação é o principal fator de progresso do mundo. A moral está jungida às realidades da vida, não a ideais, fins e obrigações independentes das realidades concretas. Os fatos dos quais ela depende, que são seus alicerces, procedem das ligações ativas e recíprocas entre indivíduos, são conseqüências das suas atividades entrelaçadas com a vida dos desejos, crenças, dos julgamentos, das satisfações e dos descontentamentos. Para navegar Para saber mais sobre teóricos da educação, consulte o site do Centro de Referência Educacional centrorefeducacional .com.br. Lá você encontra informações sobre todos os autores apresentados nesta aula. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 41 Nestesentido a conduta e, conseqüentemente, a moral são sociais (...) (DEWEY, J. A Natureza Humana e a Conduta, IV, cap. 4, p. 257). VAMOS CONHECER UM POUCO DA BIOGRAFIA DE JOHN DEWEY? O filósofo John Dewey (1859-1952), tornou-se um dos maiores pedagogos americanos, contribuindo intensamente para a divulgação dos princípios do que se chamou de Escola Nova. Entre outras, escreveu, Meu credo Pedagógico, A escola e a criança, Democracia e educação. Estudou nas Universidades de Vermont e Johns Hopkins, recebeu nessa última, em 1884, o grau de doutor em filosofia. Ensinou na universidade de Chicago, aonde veio a ser chefe do departamento de filosofia, psicologia e pedagogia, e onde, por sugestão sua, se agruparam essas três disciplinas em um só departamento. Ainda em Chicago fundou uma escola experimental, na qual foram aplicadas algumas das suas mais importantes idéias: a da relação da vida com a sociedade, dos meios com os fins e da teoria com a prática. Em 1904 assumiu a direção do Departamento de Filosofia da Universidade de Colúmbia, em New York, na qual permaneceu até retirar-se do Ensino. A partir de primeira guerra mundial interessou-se pelos problemas políticos e sociais. Deu cursos de filosofia e educação na universidade de Pequim em 1919 e em 1931; elaborou um projeto de reforma educacional para a Turquia, em 1924; visitou o México, o Japão e a U.R.S.S., estudando os problemas da educação nesses países. Ao falecer, em 1952, com 92 anos de idade, Dewey deixou extensa obra na qual se destacam: Quer saber mais? “Quando os homens viviam em pequenos grupos que tinham pouco que ver com os demais, o dano que a educação intelectualista e memorista causava era realmente pequeno. Mas agora é diferente. Os métodos e operações industriais dependem, hoje, do conhecimento dos fatos e leis das ciências naturais e sociais, num grupo muito maior do que o foram antes. Nossas ferrovias e barcos, os bondes, telégrafos e telefones, fábricas e granjas de trabalho, e até nossos recursos domésticos comuns dependem para sua existência de intricados conhecimentos materiais, físicos, químicos e biológicos. Dependem, em sua melhor e última aplicação, de uma compreensão dos fatos e relações da vida social”. (Apud Larroyo, F. Op. Cit.,p.768.) Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 42 Psychology (1887; Psicologia); My pedagogic creed (1897, Meu Credo Pedagógico); Psychology and Pedagogic method (1899; Psicologia e Método Pedagógico); The School and Society (1899; A Escola e a Sociedade); How we think (1910; Como pensamos); Democracy and education (1916; Democracia e educação; Reconstrucion in philosophy (1920; Reconstrução na filosofia); Human nature and conduct (1922 Natureza humana e conduta); Philosophy and civilization (1931 Filosofia e civilização); Art as experience (1934; A arte como experiência); Logic, the teory of inquiry (1938; Lógica, a teoria da investigação); Freedom and culture (1939; Liberdade e cultura); Problems of men (1946; Problemas dos homens. Dewey não aceita a educação pela instrução proposta por Herbart, propondo a educação pela ação; critica severamente a educação tradicional, principalmente no que se refere a ênfase dada ao intelectualismo e a memorização. Para Dewey, o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está dirigido para a experiência. As idéias são hipóteses de ação e são verdadeiras quando funcionam como orientadoras dessa ação. A educação tem como finalidade propiciar à criança condições para que resolva por si própria os seus problemas, e não as tradicionais idéias de formar a criança de acordo com modelos prévios, ou mesmo orientá-la para um porvir. Tendo o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos, chega à conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim, a própria vida. Assim, para ele, vida- experiência e aprendizagem estão unidas, de tal forma que a função da escola encontra-se em possibilitar uma Importante A Pedagogia Renovada é conhecida também como Pedagogia Nova, Escolanovismo ou ainda Escola Nova. Dica da professora "Por educação nova entendemos a corrente que trata de mudar o rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo. Por isso se deu também a esse movimento o nome de ”escola ativa" (LUZURIAGA, 1980, p. 227). Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 43 reconstrução permanente feita pela criança da experiência. A educação progressiva está no crescimento constante da vida, na medida em que o conteúdo da experiência vai sendo aumentado, assim como o controle que podemos exercer sobre ela. É importante que o educador descubra os verdadeiros interesses da criança, para apoiar-se nesses interesses, pois para ele, esforço e disciplina, são produtos do interesse e somente com base nesses interesses a experiência adquiriria um verdadeiro valor educativo. Atribui grande valor às atividades manuais, pois apresentam situações problemas concretas para serem resolvidas, considerando ainda, que o trabalho desenvolve o espírito de comunidade, e a divisão das tarefas entre os participantes, estimula a cooperação e a conseqüente criação de um espírito social. Dewey concebe que o espírito de iniciativa e independência levam à autonomia e ao autogoverno, que são virtudes de uma sociedade realmente democrática, em oposição ao ensino tradicional que valoriza a obediência. A Educação, para ele, é uma necessidade social, os indivíduos precisam ser educados para que se assegure a continuidade social, transmitindo suas crenças, idéias e conhecimentos. Ele não defende o ensino profissionalizante, mas vê a escola voltada aos reais interesses dos alunos, valorizando sua curiosidade natural. De acordo com os ideais da democracia, Dewey, vê na escola o instrumento ideal para estender a todos os indivíduos os seus benefícios, tendo a educação uma função democratizadora de igualar as oportunidades. Advém dessa concepção o "otimismo pedagógico" Quer saber mais? Herbart – É o fundador da psicologia científica. Nasceu na Alemanha, em 1776 e morreu depois de 1833. Na atividade educativa, distingue três movimentos essenciais: O governo, a instrução e a disciplina. Ou seja, respectivamente, a conservação da ordem, a força de caráter e da moralidade e a formação do caráter. Suas idéias encheram a segunda metade do século XIX. Obra pedagógica decisiva: “Esboço de um curso de Pedagogia” – (1833). Dica da professora Nosso texto reforça em “negrito” a frase “atribui grande valor às atividades manuais”. Leia com cuidado o parágrafo, estabelecendo relação com o que consideramos “aprendizagem psicomotora”. Não é fascinante?... Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 44 da escola nova, tão criticado pelos teóricos das correntes crítico-reprodutivistas. O processo de ensino-aprendizagem para Dewey estaria baseado em: - Uma compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se entrelaçam de forma dinâmica, distante da previsibilidade das idéias anteriores; - Alunos e professor detentores de experiências próprias, que são aproveitadas no processo. O professor possui uma visão sintética dos conteúdos, os alunos uma visão sincrética, o que torna a experiência um ponto central na formação do conhecimento, mais do que os conteúdos formais; - Uma aprendizagem essencialmente coletiva, assim como é coletiva a produção do conhecimento. O conceito central do pensamento de Dewey é a experiência, a qual consiste, por um lado, em experimentar e, por outro, em provar. Com base nasexperiências que provam, a experiência educativa torna-se para a criança num ato de constante reconstrução. A pedagogia de Dewey apresenta muitos aspectos inovadores, distinguindo-se especialmente pela oposição à escola tradicional. Mas, não questiona a sociedade e seus valores como estão propostos no seu tempo; sua teoria representa plenamente os ideais liberais, sem se contrapor aos valores burgueses, acabando por reforçar a adaptação do aluno à sociedade. Vera Lúcia Camara F. Zacharias é mestre em educação, pedagoga, diretora de escola aposentada, com vasta experiência na área educacional em geral, e, em especial na implantação de Cursos. Dica da professora Essa é a diferença entre as linhas liberais e as progressistas. A pedagogia progressista sempre faz uma crítica social, um questionamento da sociedade, enquanto as liberais atendem às necessidades da sociedade tal como ela se apresenta, sem propor mudanças. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 45 OVIDE DECROLY Decroly era médico e partindo de suas experiências com crianças normais e deficientes mentais passou a se preocupar com um método globalizado de ensino. Em 1901, abriu a primeira escola para cairn deficientes com retardo mental, propondo uma educação voltada para os interesses destas crianças, apta a satisfazer sua curiosidade natural, que os estimulasse a pensar colocando-os em contato com a realidade física e social. Mais tarde, Dècroly convenceu-se de que estes princípios se adequavam a qualquer criança. Através de sua metodologia procurava fazer com que o processo integrasse toda a aprendizagem em determinada Unidade da experiência Infantil. Decroly criou o que chamava de “Centros de Interesse”, estes deveriam ser criados a partir das prioridades das crianças, de suas necessidades primordiais, tais como: alimentação, respiração, asseio, proteção contra as intempéries e os perigos, jogo e trabalho. Os centros de interesse deveriam nortear todas as atividades escolares, em todas as matérias. VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE DECROLY? Ovide Decroly nasceu em 1871 e morreu em 1932. Destacou-se pelo valor que colocou nas condições do desenvolvimento infantil; ressalta o caráter global da atividade da criança e a função de globalização do ensino. Fundamentou suas teorias na psicologia e na sociologia, podemos resumir os critérios de sua metodologia no interesse e na auto-avaliação. Ressalta a importância do trabalho em equipe, mas, mantendo a Quer saber mais? Segundo Piletti,”Esses centros são os seguintes: a criança e a família; a criança e a escola; a criança e o mundo animal; a criança e o mundo vegetal; a criança e o mundo geográfico; a criança e o universo. Em relação à cada um desses centros de interesse, seguem- se três etapas de aprendizagem: observação direta das coisas, associação das coisas observadas e expressão do pensamento da cairn através da linguagem, do desenho, da modelagem e de outros trabalhos manuais.” (2002:114) Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 46 individualidade do ensino com o fim de preparar o educando para a vida. A ausência de ideais religiosos é uma das características de seu modelo pedagógico. Para Decroly, a educação não é somente a preparação da criança para a vida adulta, para ele é essencial que a criança vivencie as atividades da infância e da juventude, resolvendo os problemas compatíveis com a sua fase de desenvolvimento. Como pressuposto básico postulava que a necessidade gera o interesse, verdadeiro móvel em direção ao conhecimento. Essas necessidades básicas do homem em sua troca com o meio, seriam: a alimentação, a defesa contra intempéries, a luta contra perigos e inimigos e o trabalho em sociedade, descanso e diversão. Desse pressuposto deriva sua proposta de organização da escola. Seu método, mais conhecido como centros de interesse, destinava-se especialmente às crianças das classes primárias. Nesses centros, a criança passava por três momentos: OBSERVAÇÃO: não acontece em uma lição, nem em um momento determinado da técnica educativa, pois, deve ser considerada como uma atitude, chamando a atenção do aluno constantemente. ASSOCIAÇÃO: permite que o conhecimento adquirido pela observação seja entendido em termos de tempo e espaço. EXPRESSÃO: por esse meio a criança poderia externar sua aprendizagem, através de qualquer meio de linguagem, integrando os conhecimentos adquiridos, de maneira globalizadora. A expressão seria a culminância do processo e nela pode-se destacar: Dica de leitura Decroly, também médico como Maria Montessori, pretendia que a Educação deixasse de ser filosófica e passasse a ser científica. Infelizmente, sua produção acadêmica quase não chegou até nós. Uma de suas obras mais conhecidas: Iniciação à atividade intelectual e motora pelos brinquedos educativos. Dica de leitura Edouard Claparede Nasceu em Genebra em 1873 e morreu em 1940. Apesar de formado em medicina, orientou-se para a psicologia. Desenvolveu uma pedagogia baseada nas necessidades e interesses da criança, denominando-a de “Educação Funcional.” Leia no livro História das Idéias Peagógicas de Moacir Gadotti, da Ed. Ática,SP, um pouco mais sobre Claparède. Aula 2| Fundamentos e a concepção da pedagogia empresarial 47 Expressão concreta (materialização das observações e criações pessoais; se traduz em desenho livre, trabalhos manuais...). Expressão abstrata (materialização do pensamento através de símbolos e códigos convencionais; apresenta-se no texto livre, linguagem matemática, musical...). Não havia um programa pré-fixado. Do ato de comer poderia surgir o estudo da alimentação, a origem dos alimentos, sua classificação, os preços, o preparo, a produção. E, com a curiosidade infantil e o desenvolvimento das crianças, surgiriam noções de geografia, história, ciências, redação, desenho, matemática. Decroly não esqueceu de nada que a escola devesse ensinar à criança; o que ele fez foi transformar a maneira de aprender e ensinar, adequando-as à psicologia infantil. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança, levando em conta seus interesses. Contrariamente à Montessori, Decroly estimula o uso pela criança de objetos concretos, do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição. Como Claparède, concede amplo espaço ao jogo. DÉCROLY E A EDUCAÇÃO Teoria e prática se encontram articuladas na obra de Dècroly. Para este autor, a teoria não tem nenhum valor se a prática não confirmá-la. As bases de sua teoria, com já falamos, são bio-sociais, isto é, as bases do desenvolvimento da criança apoiam-se no curso natural de sua evolução, sendo necessário um meio enriquecedor para estimular suas potencialidades. Quer saber mais? Como profissional que atuará em uma empresa, você percebe a importância de conhecer as diversas propostas pedagógicas que marcaram o século XX. Decroly foi um apaixonado pela vida concreta e a atividade realmente livre, suprimindo todo material abstrato, pretendendo iniciar a criança à ação complexa, adaptada ao ambiente e levando em conta apenas os estágios de seu desenvolvimento. Entendendo melhor: Decroly parte do global, do indiferenciado à análise e síntese combinadas. Isto é à base do método global de leitura. Será que você foi alfabetizado assim? Como essa proposta poderia ajudar nos programas de aprendizagem na empresa? Pesquise sobre este método e pense como poderá utilizá- lo no contexto empresarial!! Que tal propor um
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