Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1A Escola de Relações Humanas A Escola de Relações Humanas Vania Martins 2A Escola de Relações Humanas Sumário Introdução .................................................................................................... 03 Objetivos ...................................................................................................... 04 Estrutura do Conteúdo ............................................................................... 04 A Escola de Relações Humanas Tópico 1: Contexto de Surgimento ....................................................................... 05 Tópico 2: Os Experimentos de Hawthorne ......................................................... 07 Tópico 3: A Organização Informal ........................................................................ 12 Tópico 4: Surge o Homem Social ......................................................................... 17 Tópico 5: A Escola de Relações Humanas Hoje ............................................... 20 Resumo ......................................................................................................... 22 Leitura Complementar ................................................................................ 23 Referências Bibliográficas ......................................................................... 24 3A Escola de Relações Humanas Neste material estudaremos as primeiras teorias da administração que colocaram o fator humano no centro das atenções das organizações. A Escola das Relações Humanas surgiu nos EUA, quando um grupo de cientistas sociais, liderado pelo psicólogo industrial Elton Mayo, realizou uma série de experimentos na fábrica da Western Eletric Company, em Hawthorne (EUA), entre os anos de 1927 e 1933. Os experimentos de Hawthorne levaram os pesquisadores a descobrir a influência de fatores psicológicos e sociais no desempenho dos trabalhadores, colocando em questão alguns princípios defendidos pela Abordagem Clássica. A partir dessas descobertas, o foco das teorias da administração se amplia, abrindo um campo significativo de desenvolvimento para a atuação do gestor de pessoas nas organizações. 4 Estrutura do Conteúdo Objetivo s A Escola de Relações Humanas Esperamos que, ao final deste conteúdo, você seja capaz de: 1. Conhecer os principais conceitos de- senvolvidos pela Escola de Relações Humanas; 2. Compreender a importância do fator humano no desempenho das organiza- ções; 3. Correlacionar os conhecimentos apresentados pela Escola de Relações Humanas com o contexto atual da ad- ministração. Para que você compreenda melhor a Escola de Relações Humanas, este conteúdo foi dividido nos seguintes tópicos: 1. Contexto de Surgimento 2. Os Experimentos de Hawthorne 3. A Organização Informal 4. Surge o Homem Social 5. A Escola de Relações Humanas Hoje 5A Escola de Relações Humanas 1. Contexto de Surgimento Para que você possa compreender melhor o contexto de surgimento da Escola de Relações Humanas, é necessário retomar os princípios básicos da Abordagem Clássica. Você lembra qual era o nível de importância atribuído ao fator humano nas teorias de Taylor, Fayol e Ford? Você acertou se foi capaz de lembrar que o elemento humano era totalmente secundário nas teorias de administração até esse momento. Enquanto Taylor privilegiou a organização racional do trabalho, Fayol ocupou-se da estruturação das áreas da empresa e Ford, por sua vez, buscou reduzir os custos de produção, acentuando ainda mais a racionalização do trabalho e aplicando a linha de montagem na fábrica. Você deve lembrar também que essa abordagem sofreu muitas críticas por conta da visão limitada que oferecia a respeito dos indivíduos na organização: seres que deveriam ser supervisionados constantemente e cuja única motivação para o trabalho era a necessidade financeira. Havia uma descrença total na capacidade das pessoas em agregar algum valor para a organização. Além disso, o sistema de trabalho altamente racionalizado aprisionava o indivíduo em tarefas monótonas e repetitivas, que não lhe permitiam nenhum progresso ou desenvolvimento. Portanto, este era o ambiente de trabalho que o operário médio encontrava na fábrica naquele momento: • Tarefas monótonas, rigidamente padronizadas e repetitivas; • Restrições à participação e ao desenvolvimento pessoal; • Chefia autoritária e supervisão acirrada; • Pouco espaço para opinar ou expressar emoções humanas. 6A Escola de Relações Humanas Diante das reações de insatisfação dos operários com esse sistema de trabalho, a Abordagem Clássica parecia apresentar alguns sinais de esgotamento. Podemos somar a esse cenário a Grande Depressão econômica ocorrida nos Estados Unidos nos anos 1930, quando 25% da população ativa do país se encontrava desempregada e os que mantiveram seus empregos sofreram grandes perdas salariais. Nesse contexto, os padrões de organização da economia e também das empresas foram colocados em xeque, gerando um ambiente bastante favorável ao surgimento de novas ideias no campo administrativo. Por outro lado, como destacam Motta e Vasconcelos (2009), as Ciências Sociais ou Humanas estavam em franco desenvolvimento e passaram a oferecer novos subsídios aos estudiosos das organizações. Assim, os estudos da sociologia e da psicologia influenciaram bastante a Escola de Relações Humanas. Você sabe o que a sociologia e a psicologia estudam? Estuda as relações sociais, os grupos, o ambiente social e cultural onde ocorrem as ações humanas. Abordagem da Sociologia Compreende o comportamento humano a partir de fatores como emoções, sentimentos, desejos e percepções. Abordagem da Psicologia Foi neste contexto que uma equipe de cientistas sociais, liderada pelo psicólogo industrial Elton Mayo, deu início a uma série de experimentos para analisar a produtividade dos trabalhadores em uma fábrica da empresa Western Eletric Company, localizada na cidade de Hawthorne (EUA). Elton Mayo 7A Escola de Relações Humanas Para conhecer um pouco mais da obra de Elton Mayo, sugerimos a seguinte leitura: BERTERO, Carlos. Algumas observações sobre a obra de Elton Mayo. RAE-Revista de Administração de Empresas, vol. 8, n. 27, abr-jun., 1968. Disponível na seção Leitura Complementar, na página 23. 2. Os Experimentos de Hawthorne: Aspectos Psicológicos e Sociais do Desempenho Vamos acompanhar os experimentos realizados pelos pesquisadores em Hawthorne? Abordaremos quatro fases desta pesquisa, conforme o relato feito por George Homans em 1967. Você deve ficar atento às principais descobertas obtidas em cada uma dessas fases, afinal, elas trouxeram muitas ideias novas para a administração, que são utilizadas até os dias de hoje. Primeira Fase Segundo Homans (1967), a empresa Western Eletric Company era conhecida por oferecer bons salários e boas condições de trabalho a seus empregados. Na primeira fase da experiência, pretendia-se verificar a influência da intensidade da iluminação sobre o rendimento do trabalho. Entretanto, não foi verificada nenhuma correlação entre os dois fatores. O que os pesquisadores perceberam é que os trabalhadores submetidos ao teste estavam reagindo às mudanças de intensidade da luz conforme imaginavam que deveriam, isto é, quando a intensidade da luz aumentava, eles se sentiam obrigados a produzir mais, o contrário acontecendo quando a intensidade diminuía. 8A Escola de Relações Humanas Este efeito, na verdade, é totalmente psicológico. Você já percebeu que as pessoas, principalmente quando observadas, tendem a se comportar como os outros esperam que elas se comportem? Pois foi justamente o que ocorreu com os trabalhadores no experimento. Preponderância do fator psicológico sobre o fisiológico. Primeira Fase da Experiência Segunda Fase Na segunda fase da experiência, chamada “Sala de testes de montagem de relés”, ocorreu um fenômeno ainda mais interessante. Os pesquisadorespretendiam verificar o efeito de mudanças em certas condições fisiológicas — como temperatura, umidade, períodos de descanso, intervalos para lanches, dentre outras — sobre o rendimento do trabalho. Então selecionaram seis operárias que trabalhavam na montagem de relés de telefone e as levaram para a sala de testes, explicando cuidadosamente que tipo de experimento pretendiam fazer. Também pediram às moças que ficassem à vontade durante a experiência, trabalhando em seu ritmo normal, como se fosse um dia comum na empresa. Essa atitude de proximidade dos pesquisadores prosseguiu ao longo do teste: sempre que era planejada alguma mudança na experiência, as operárias eram chamadas para que ficassem a par do que iria ocorrer. As mudanças rejeitadas pelas operárias eram imediatamente retiradas do plano. 9A Escola de Relações Humanas Você arriscaria uma explicação para que a produção aumentasse mesmo sob condições desfavoráveis de trabalho? “As declarações das próprias moças nos dizem o seguinte: elas sabiam que es- tavam produzindo mais na sala de provas do que no departamento e declaravam que esse aumento no ritmo de produção surgiu sem nenhum esforço deliberado, pois parecia mais fácil produzir ali do que no departamento. Elas disseram gostar do trabalho na sala de testes porque era divertido e a supressão do antigo controle de supervisão lhes dava a possibilidade de trabalhar com mais liberdade e sem an- siedade. Por exemplo, no departamento, a conversação não era permitida, embora fosse na prática tolerada, desde que em voz baixa a ponto de não perturbar o tra- balho. Já na sala de testes, o observador permitia que a conversa se generalizasse e, segundo foi observado, ela chegava mesmo a ficar muito intensa e em voz alta. Embora também houvesse supervisão na sala de testes, as operárias percebiam que o objetivo era diferente, pois participavam de uma pesquisa importante e inte- ressante”. (HOMANS, 1967) O resultado dessa nova bateria de testes pode parecer surpreendente, mas o fato é que nenhuma mudança nas condições fisiológicas de trabalho afetou o rendimento das trabalhadoras. Aliás, a produção só fez aumentar, de modo constante, durante todo o experimento, chegando a um nível de rendimento bastante elevado no final. Os pesquisadores buscaram saber com as próprias operárias o motivo de tanto empenho: Você percebeu o efeito positivo do novo “ambiente” criado na sala de testes sobre as operárias? Um dos pesquisadores da equipe, Thomas Whitehead, explicou que o trabalho adquiriu um significado social para as operárias: elas sentiram que a empresa estava interessada no trabalho delas e que sua participação na pesquisa era importante. Todos gostam de saber que seu trabalho tem algum sentido, que não é apenas uma tarefa repetitiva, não é mesmo? 10A Escola de Relações Humanas Segundo Whitehead, na sala de testes as moças mantinham entrevistas regulares com o superintendente, que era alto funcionário da companhia que as colocava a par das razões das mudanças a serem introduzidas na experiência: seus pontos de vista podiam ser manifestados e eram ouvidos atentamente. Em certos casos, elas eram convidadas e autorizadas a examinar e vetar projetos de modificações. O significado social do trabalho eleva a produtividade. Segunda Fase da Experiência Essa ideia contradiz um princípio básico da Abordagem Clássica, a respeito do ser humano. Você lembra qual é? Os resultados dessa nova fase dos experimentos contradizem a ideia do homo economicus, na qual o indivíduo é motivado a ter melhor desempenho somente por incentivos financeiros. Esta fase da experiência permitiu algumas outras conclusões. Foi possível perceber que uma interação mais próxima e amistosa por parte da administração para com seus funcionários ajuda a construir um ambiente de relações humanas mais favorável a um bom rendimento no trabalho. 11A Escola de Relações Humanas Segunda Fase da Experiência A relação entre administradores e funcionários interfere no rendimento do trabalho. O comportamento humano está apoiado no grupo. Homans (1967) relata também que as operárias desenvolveram relações de amizade na sala de testes, relações que até se estendiam para fora do ambiente de trabalho. Foram observadas situações como troca de presentes, refeições coletivas e atitudes de proteção, típicas de um grupo social. Por exemplo, quando uma das operárias se sentia cansada, as outras trabalhavam em ritmo mais acelerado, a fim de compensar qualquer queda na produção. Agindo como um grupo socialmente organizado, as moças desenvolveram objetivos comuns, surgindo também uma liderança espontânea entre elas. Como os pesquisadores perceberam, alguns fatores haviam aumentado a satisfação no trabalho das operárias: Como consequência, formou-se um grupo que agiu em torno do objetivo comum de aumentar a produção. Supervisão branda e tratamento respeitoso; Trabalho com liberdade e menor ansiedade; Ambiente amistoso e sem pressões; A conversa era permitida e a amizade gerou um sentimento de equipe. 1 2 3 4 12A Escola de Relações Humanas A partir desse momento, o foco de atenção dos experimentos de Hawthorne deixou de ser as condições fisiológicas de trabalho para se concentrar nas Relações Humanas na Empresa. Terceira Fase Assim, a terceira fase da experiência consistiu em um programa de entrevistas para compreender melhor o que os empregados pensavam a respeito do seu trabalho e da empresa. Até mesmo os supervisores da empresa foram treinados para participar desta fase de entrevistas, de modo a obter com esse trabalho algum tipo de experiência para sua supervisão. De fato, Homans (1967) relata que houve melhoria no nível de supervisão, o que foi tido como resultado do aumento de conhecimento dos supervisores sobre os interesses dos operários. Você pode imaginar o que acontece quando as pessoas começam a ter alguma voz e receber alguma atenção em uma organização? Com essa técnica de entrevistas que os pesquisadores aplicaram a mais de 20.000 pessoas (a empresa tinha cerca de 40.000 funcionários), foi possível à administração tomar conhecimento de fatos totalmente ignorados anteriormente, como o sentimento de humilhação que as pessoas revelaram ter quando submetidas a uma supervisão rigorosa. 13A Escola de Relações Humanas Para Whitehead, o programa de entrevistas teve outro efeito positivo: a descoberta de que a administração estava interessada no que os operários pensavam ou sentiam foi um grande estímulo para esses trabalhadores. Outro elemento que acabou ficando evidente nas entrevistas foi destacado pelo pesquisador W. L. Warner: as informações colhidas não deveriam ser consideradas apenas como reações de seres humanos individuais, pois estavam muito ligadas às interações que essas pessoas mantinham com seus grupos sociais, como família, vizinhos, grupos de trabalho, dentre outros. Na verdade, os pesquisadores estavam muito interessados em compreender melhor a organização social dos empregados dentro da fábrica e, por essa razão, foram gradativamente deslocando seu interesse das entrevistas individuais para outras formas de entrevista que buscavam compreender as interações que as pessoas mantinham entre si no ambiente de trabalho. O foco da observação do comportamento humano na empresa estava agora voltado para o comportamento grupal. Terceira Fase da Experiência Existência da organização informal na empresa. 3. A Organização Informal Ainda na terceira fase dos experimentos de Hawthorne, a equipe de Elton Mayo pôde perceber que, na verdade, o nível de organização que os grupos sociais desenvolviam na empresa era ainda maior do que aquele imaginado inicialmente, atingindo o nível de uma verdadeira organização informal. 14A Escola de Relações Humanas Dentre outras descobertas, a equipe de pesquisadores descobriu o seguinte sobre a organização informal dos grupos na empresa: Existência de liderança informal por indivíduosque se dedicavam a manter o grupo unido e coerente com certas regras de conduta. Os trabalhadores eram capazes de estabelecer uma “produção controlada”, isto é, parâmetros que achavam que deveriam guiar a produção normal para um dia de trabalho — e este padrão não era ultrapassado por nenhum membro do grupo. Práticas de controle que o grupo estabelecia para punir aqueles que tentavam exceder o padrão de produção, rotulando essas pessoas como “sabotadores”. Os trabalhadores tentavam se proteger do que consideravam ameaças da administração por meio de uma organização informal, criando objetivos comuns — que, aliás, nem sempre coincidiam com os objetivos da empresa. Veja como Homans (1967) relata a história de um dos grupos que foi percebido na pesquisa: “O trabalho de um certo grupo de operários consistia no ajuste de pequenas peças que entravam na fabricação de equipamentos telefônicos. A administração via o ajuste como uma tarefa complicada. O entrevistador descobriu que, na realidade, esse trabalho era bastante simples. Ele percebeu que qualquer pessoa poderia aprender o trabalho com facilidade, mas que os operadores conspiravam entre si para criar uma barreira em torno desse trabalho. 15A Escola de Relações Humanas Eles se sentiam orgulhosos em poder dizer que aparelhos que ninguém conseguia fazer funcionar vinham para sua seção para serem regulados. Quando os enge- nheiros vinham perguntar como era feito tal conserto, os operadores procuravam complicar a tarefa, fazendo coisas erradas e levando cerca de duas horas para regular qualquer aparelho. Dessa maneira, eles impediam que pessoas de fora descobrissem o que realmente faziam. Os trabalhadores confessavam até com certo prazer aos entrevistadores que enganavam a todos assim, mantendo a admi- nistração na ignorância sobre o volume de trabalho que poderiam realizar”. (HOMANS, 1967) Outros detalhes dessa organização informal também foram percebidos, como a existência de lideranças com atribuições específicas para o manter o sistema criado pelo grupo: sempre que alguém de fora — engenheiro, inspetor ou supervisor — entrava na sala, era sempre o mesmo operário que se encarregava de atendê-lo. Para outros assuntos, como a recepção de um novo companheiro de trabalho, o grupo tinha outro líder, como se tivesse um departamento de “assuntos externos” e outro para “assuntos domésticos”. Como você pode perceber, o conceito de organização informal trouxe uma nova perspectiva sobre o comportamento das pessoas na empresa. O termo “informal”, é bom destacar, não significa a inexistência de regras entre as pessoas que formavam o grupo, mas apenas que essas regras não eram aquelas estabelecidas formalmente pela empresa. As interações sociais eram bem espontâneas, no sentido de que não eram planejadas pela empresa e não estavam sob seu controle. Em diversos momentos da pesquisa, quando os trabalhadores que não se conheciam eram reunidos, o que se percebia é que sempre ocorriam grupos e relações de amizade, surgindo, inclusive, a liderança informal entre eles. 16A Escola de Relações Humanas Quarta Fase Para entender ainda melhor essa organização, os pesquisadores desenvolveram uma nova fase de observações, reunindo um grupo de nove operadores, nove soldadores e dois inspetores que ficariam incumbidos da montagem de terminais telefônicos. Eles foram levados para uma sala de testes onde haveria um pesquisador, cuja função seria observar o comportamento dos trabalhadores. Esta quarta fase do experimento ficou conhecida como “Sala de observação de montagem de terminais”. Nessa fase também foram descobertos vários estratagemas utilizados pelos trabalhadores para manter aquilo que consideravam ser o ritmo normal de trabalho, a despeito da presença do observador e do plano de incentivos que a empresa tinha para estimular uma produção maior. Ao contrário de exercer pressão sobre os mais lentos, o grupo exercia sobre os que produziam demais. A organização informal se manifestava por meio de vários métodos de efeito moral para manter o respeito às regras do grupo, como a aplicação de pequenos socos no braço como forma de “advertência”, além do uso de sarcasmo e de apelidos. O operário que produzisse em ritmo muito acelerado era chamado de “fominha” ou “escravo”. Aqueles que falassem qualquer coisa que prejudicasse os companheiros do grupo eram taxados de “delatores”. Os que eram lentos demais eram os “parasitas”. (HOMANS, 1967). Os integrantes do grupo por diversas vezes se revezavam nas tarefas e se ajudavam informalmente; comportamentos não previstos no planejamento feito pela administração. Era comum, inclusive, que os supervisores, ao invés de relatar as situações que ocorriam fora dos padrões, acabassem fazendo parte daquele sistema informal. Embora representantes dos interesses da administração, os supervisores nem sempre estavam dispostos a criar conflitos que poderiam tornar seu dia a dia de trabalho junto àqueles operários muito mais difícil. Desse modo, os supervisores procuravam formas de cumprir seu trabalho e, ao mesmo tempo, de manter boas relações com os operários. Embora a administração não considerasse a produção do grupo baixa — se considerasse teria tentado medidas corretivas — o que ficou bastante claro, como destaca Homans (1967), é que a produção poderia ser tranquilamente maior. 17A Escola de Relações Humanas É bom destacar que os pesquisadores descobriram o “outro lado” da influência do grupo informal na organização. Se na segunda fase da experiência foi possível perceber um efeito positivo da participação no grupo, que estimulou a elevação da produtividade, agora estamos falando do efeito é o contrário, não é mesmo? Nesse caso, o grupo informal estava trabalhando contra os objetivos da administração! Quarta Fase da Experiência A organização informal pode atuar contra os objetivos da administração. Por isso Elton Mayo ressalta a importância de administração considerar a existência desses grupos e desenvolver formas de atrair sua colaboração. 4.Surge o Homem Social Você deve estar percebendo que as interações sociais que ocorrem no ambiente da empresa estão parecendo cada vez mais importantes para os pesquisadores de Hawthorne. A partir dessas conclusões é que surge na teoria da administração o conceito de Homem Social (homo socialis, em latim). Segundo Motta e Vasconcelos (2006), esse conceito mostra que as pessoas são motivadas pela necessidade de reconhecimento, aprovação social e participação nas atividades dos grupos sociais nos quais convivem. 18A Escola de Relações Humanas Isso ocorre porque os grupos sociais definem regras de comportamento, recompensas e punições sociais, objetivos, valores sociais, crenças e expectativas que cada participante vai assimilando e integrando em suas atitudes e comportamento. Segundo as conclusões da pesquisa, os trabalhadores não agem ou reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros de grupos. Quando desvia das normas grupais, o trabalhador pode sofrer punições sociais ou morais dos colegas, por isso tende a se ajustar aos padrões do grupo — em outras palavras, o comportamento humano no trabalho é um comportamento social. Agora estamos em condições de entender a conclusão mais complexa retirada dos experimentos de Hawthorne. Ao lado da organização técnica (formal) da fábrica — composta dos planos de operação e dos regulamentos estabelecidos pela administração — existia na fábrica também uma organização social (informal), isto é, os trabalhadores, ligados por amizade desenvolviam sentimentos comuns, aplicavam regras de conduta e criavam mecanismos para manter coesos os grupos assim formados. Como foi possível perceber, nem sempre essa organização social coincidia totalmente com a organização técnica (HOMANS, 1967). A partir dessas descobertas fica claro que o desempenho da organização como um todo depende não só de sua eficiência técnica, como tambémdo suporte que a organização social pode ser capaz de oferecer. Diversos estudos na administração irão se desenvolver, dali em diante, para encontrar as melhores maneiras de promover a comunicação entre essas dimensões da organização. Vamos ler, agora, na página seguinte, uma passagem de Homans (1967) que nos ajuda a ver as implicações que os experimentos de Hawthorne provocaram no pensamento administrativo: 19A Escola de Relações Humanas “O operário ocupa posição especial na organização social. Ele está na base de uma organização altamente estratificada. Está sempre na posição de ter que se acomodar a modificações oriundas de outras partes. Embora participe pouco da organização técnica, ele suporta o maior peso das atividades dessa organização. É ele, mais do que ninguém, que é afetado pelas decisões da administração; no entanto não pode partilhar das preocupações dessa mesma administração, que pouco faz para convencê-lo de que o que ele considera importante está realmente sendo tratado como importante na cúpula”. (HOMANS, 1967) Você percebe que, a partir dessa nova visão sobre a organização, vão ser estabelecidas novas tarefas para a administração? Agora não se trata mais de apenas selecionar, treinar, estabelecer padrões e remunerar de acordo com o desempenho. A tarefa básica da administração é, segundo a Escola de Relações Humanas, formar uma elite capaz de compreender e de se comunicar com as pessoas, por meio de chefes que tenham a capacidade de persuadir os subordinados para que eles se comprometam com os objetivos da organização. Podemos dizer que a Escola de Relações Humanas foi a primeira a destacar as habilidades sociais do administrador, ajudando a estabelecer um ambiente saudável de relações humanas na empresa. Esse foi um importante ponto de partida para os estudos sobre liderança na empresa. Segundo Motta e Vasconcelos (2006), a Escola de Relações Humanas acreditava que a liderança mais eficaz seria aquela do tipo democrático, na qual o subordinado teria possibilidade de opinar sobre o próprio trabalho, contribuindo para o seu aperfeiçoamento, sendo preferível que o trabalhador estivesse sujeito a um controle por resultado e não por uma supervisão acirrada. Outros dois estudiosos não participaram dos Experimentos de Hawthorne, mas são considerados importantes nomes da Abordagem das Relações Humanas: Mary Park Follet e Chester Barnard. Acesse o Recurso Multimídia e conheça algumas de suas contribuições. Conteúdo On-line 20A Escola de Relações Humanas 5. A Escola de Relações Humanas Hoje Será que a Escola de Relações Humanas significou mesmo uma grande ruptura com a Abordagem Clássica? Apesar de tantas diferenças entre as duas abordagens, ambas acreditavam que era possível uma empresa ser livre de conflitos entre patrões e empregados e com trabalhadores empenhados em obter uma maior produção (CORADI, 1977). Na visão dos estudiosos das relações humanas, os incentivos econômicos aplicados no sistema taylorista deveriam ser mantidos, porém associados a incentivos psicossociais, de modo a satisfazer necessidades afetivas dos indivíduos que buscam estabelecer um ambiente acolhedor de relações humanas na empresa. Nesse sentido, a Escola de Relações Humanas foi criticada por criar estratagemas de manipulação do operário para trabalhar mais docilmente a favor dos objetivos da administração, garantindo, assim, a colaboração e a obediência dos indivíduos às regras e aos padrões (CORADI, 1977). A Escola de Relações Humanas tem um grande ponto de semelhança com as teorias que formam a Abordagem Clássica: a visão da organização como um sistema fechado. Os pesquisadores de Hawthorne continuaram com o mesmo enfoque que não dá atenção ao ambiente externo da organização. Essa é uma limitação importante dessas teorias quando pensamos no ambiente atual de negócios. 21A Escola de Relações Humanas É importante destacar as contribuições da Escola de Relações Humanas para a administração na atualidade. Para isso, acesse o Recurso Multimídia e observe uma pesquisa feita em 2013, que avaliou as práticas de gestão de pessoas adotadas em cerca de 500 empresas que atuam no Brasil. Conteúdo On-line Que tal assistir a um filme que aborda a complexidade dos relacionamentos humanos na empresa? Recursos Humanos (Ressources Humaines). Direção de Laurent Cantet - França (1999) – Drama (100 min.) Sinopse: Frank é um jovem estudante de uma grande faculdade de comércio. Ao voltar para a casa dos pais, consegue estágio na empresa onde seu pai é porteiro a trinta anos. Trabalhando no setor de recursos humanos, achou que conseguiria mudar o conservadorismo da empresa, negociando para que houvesse uma redução de horas de trabalho dos empregados. Mas logo descobre que sua tarefa é preparar caminho para uma reestruturação que levará à demissão de doze pessoas, inclusive do seu pai. Acesse o Recurso Multimídia e confira! 22A Escola de Relações Humanas Vimos neste conteúdo as principais contribuições da Escola de Relações Humanas para a administração. Acompanhamos quatro fases dos Experimentos de Hawthorne que deram origem a esta escola. Destacamos a existência de fatores psicológicos e sociais no ambiente de trabalho que influenciam o desempenho dos trabalhadores, apontando a importância do significado social que o trabalho deve ter para as pessoas na organização. Vimos, também, que a equipe de Elton Mayo observou a existência de uma organização informal na empresa, dentro da qual os indivíduos se relacionam com grupos que podem atuar a favor ou contra os objetivos da organização. Outro tópico importante abordou os estudos de Mary Park Follet sobre os conflitos na organização e os estudos de Chester Barnard sobre a importância da comunicação e da liderança na organização. Procuramos entender que as descobertas desses experimentos trouxeram à administração o conceito de homem social, abrindo um grande campo de pesquisas sobre o comportamento humano na empresa e trazendo para os administradores a exigência de novas habilidades para lidar com as pessoas no contexto das organizações. 23A Escola de Relações Humanas Algumas observações sobre a obra de MAYO, Elton. RAE-Revista de Administração de Empresas, vol. 8, n. 27, abr-jun, 1968. Disponível em: http://rae.fgv.br/rae/vol8-num27-1968/algumas-observacoes-sobre-obra-g- elton-mayo 24A Escola de Relações Humanas CORADI, Carlos. Teorias da Administração de Empresas. São Paulo: Perspectiva, 1977. Gabor, A. The Capitalist Philosophers: The Geniuses of Modern Business. New York: Random House, 2000. HOMANS. As pesquisas na Western Eletric. In: BALCÃO, Yolanda Ferreira; CORDEIRO, Laerte Leite (orgs). O Comportamento Humano na Empresa. Rio de Janeiro: FGV, 1967. MOTTA, Fernando Prestes; VASCONCELOS, Isabella. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.
Compartilhar