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AT8 Doenças Autoimunes Relacionadas à Odontologia

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Imunologia Aplicada à Odontologia 
 
AT8 Doenças Autoimunes Relacionadas à Odontologia 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
1. Conceituar doença autoimune; 
2. Compreender a gênese das doenças autoimunes 
3. Conhecer mecanismos de lesão de algumas doenças autoimunes com manifestações orais. 
 
Conceito de autoimunidade 
 
Fisiológica: 
- Mecanismo de regulação da resposta imune 
- Não há lesão, logo sem inflamação. 
 
Patológica: 
- Quebra dos mecanismos de regulação da resposta imune 
- Ocorre lesão, logo com inflamação 
 
 
Do ponto de vista fisiológico, as células apoptóticas são retiradas pelos macrófagos. Após essa 
retirada, os macrófagos liberam citocinas, como TGF beta, que agem de forma 
anti-inflamatória, controlando a resposta imune. 
 
Existe um mecanismo pouco esclarecido onde células dendríticas processam células 
apoptóticas e levam a ativação de linfócitos T autorreativos. Durante esse processo de 
ativação dessa população linfocitária T, participam as células dendríticas do indivíduo, 
linfócitos autorreativos do indivíduo, moléculas HLA ou de histocompatibilidade que estão 
presentes na membrana da célula dendrítica, os receptores dos linfócitos T e os antígenos em 
questão são estruturas do próprio organismo. 
 
Esses linfócitos T podem interagir com células B e essas células também autorreativas vão 
produzir anticorpos contra estruturas do próprio organismo. 
 
Hipóteses da saída da homeostase para o estado de lesão: 
Genes e fatores ambientais. 
 
Fatores que influenciam o surgimento de doenças autoimunes 
Fatores genéticos; infecção e exposição ambiental. 
 
 
Gênese das doenças autoimunes: mimetismo molecular 
 
Um microrganismo ativaria uma resposta imunológica, com formação de anticorpos contra ele. 
Entretanto, esse microrganismo compartilha estruturas semelhantes a estruturas do próprio 
organismo. Assim, se tem um quadro de reatividade cruzada → anticorpos que reagem contra 
microrganismos e contra estruturas do corpo. Exemplo: febre reumática. Causada por 
estreptococos. O antígeno ataca vasos do coração. 
 
Outro exemplo é a artrite reumatóide. Antígenos relacionados a periodontite atacam também 
as articulaçõs. 
Diabetes melitus → Vírus podem despertar respostas imunes e os antígenos também reagirem 
a células beta do pâncreas. 
Lesões orais nas doenças autoimunes 
 
Artrite Reumatóide 
 
- Doença sistêmica 
- Poliarticular e bilateral 
- 1% a 2% da população geral (alta) 
- Prevalente em mulheres. 
- Entre 20 a 50 anos 
- Acometimento da ATM (5% a 86%) 
- História familiar 
- Associação HLA 
- DRB1 *0101/*02; e DRB1 *0401/04 
 
- Mecanismos de lesão: 
- Reação tipo III: Fator reumatóide; Ac anti-CCP 
- Reação tipo IV: T CD4; Macrófagos 
 
Periodontite em 80 a 85% dos pacientes com AR 
Agente etiológico mais frequente: Porphyromonas gingivallis 
 
 
Lúpus Eritematoso Sistêmico 
 
- Mais prevalente em mulheres, ainda mais que a AR 
- Doença auto-imune sistêmica 
- Deposição de imunocomplexos. Esses imunocomplexos se acumulam e causam as 
lesões (ex a vermelhidão na pele ou danos nas articulações) 
- Lesões articulares e vasculares 
- Progressão da lesão renal → glomerulonefrite renal 
- Quadro de vermelhidão na pele 
- Atinge vários órgãos - rins, pele, coração, intestino, cavidade oral 
- Lesão de asa de borboleta → vasculites. Produção de autoanticorpo; se ligam com 
autoantígenos na circulação → deposição nos pequenos vasos → ativação da via 
clássica do complemento → vasculite cutânea. 
- HLA-DRB1*03 
- Comprometimento neurológico → Linfócitos T CD8 autorreativos capazes de 
reconhecer estruturas no cérebro → leva a destruiçã neuronal. 
 
Na cavidade oral, essas vasculites decorrentes da deposição de imunocomplexos levam a 
ulcerações. 
 
Mecanismos de lesão no LES: 
- Deposição de imunocomplexos 
- Anticorpos contra antígeno na membrana das células 
- Citocinas inflamatórias 
- Linfócitos T Citotóxicos 
 
Normalmente os antígenos do lúpus eritematoso são nucleares ou citoplasmáticos; logo 
provavelmente são derivados do mecanismo de células apoptóticas que levaram a ativação de 
linfócitos T autorreativos. Esses linfócitos T ativam linfócitos B, que produzem anticorpos 
contra antígenos. Essas estruturas (nesse caso, antígenos nucleares das células apoptóticas) 
podem ser encontradas na circulação. Esses autoanticorpos podem formar então os 
imunocomplexos. 
Esses imunocomplexos podem se depositar. No local da deposição, pode haver ativação do 
complemento, que libera moléculas altamente inflamatórias, como C3a e C5a. Atraem 
neutrófilos, ativam macrófagos, etc. Esses neutrófilos não conseguem fagocitar o 
imunocomplexo, liberam seu conteúdo enzimático, que destrói o tecido em volta. Os 
macrófagos também chegam no local e produzem citocinas inflamatórias. 
 
No lúpus, além dos imunocomplexos formados, há a formação de anticorpos contra estruturas 
presentes na membrana das células. Pode-se ter então uma anemia decorrente do lúpus, pois 
há produção de anticorpos contra antígenos eritrocitários, ativando o complemento e levando à 
hemólise. Pode-se ter também uma plaquetopenia, também por presença de anticorpos contra 
as plaquetas, levando a destruição dessas estruturas. 
 
Pode-se haver ainda a ativação de citocinas inflamatórias por macrófagos e também pode ter a 
participação de Linfócitos T citotóxicos, como no quadro neuronal. 
 
 
Síndrome de Sjogren 
 
- Pode ser primária - sem associação com outras doenças 
- Secundária - ligada a autoanticorpos 
- É a produção de anticorpos que se ligam à glândula salivar e à glândula lacrimal, 
levando à sua destruição. 
- Xerofltamia - olho seco → leva a lesões na córnea 
- Xerostomia - boca seca → pode levar a processo inflamatório e perda dos dentes. 
- 0,2% da população mundial 
- Mulheres entre 50 e 60 anos. 
- Associação HLA 
- HLA-DQA1 e HLADQB1 
- Mecanismo de lesão nas glândulas lacrimais e salivares 
Reação tipo II: Anticorpos anti-ENA (SS-A e SS-B) 
Reação tipo IV: T CD4 
 
Não só a presença de anticorpos contra antígenos nucleares; pode-se ter a produção de fator 
reumatóide (anti IgG), e também a ativação de linfócitos T autorreativos. 
 
Na glândula salivar → população de células dendríticas que são ativadas por antígenos da 
própria glândula salivar → leva a ativação de linfócitos T autorreativos → leva a ativação de 
linfócitos B autorreativos → produção de autoanticorpos. 
 
Autoanticorpos → reação de hipersensibilidade tipo II 
IgG contra antígenos nucleares → se liga a estruturas da glândula salivar → ativa o 
complemento. 
 
Portanto nessa síndrome: reação citotóxica mediada por complemento e pela tentativa de 
fagocitose. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Líquen plano 
 
- 40 a 60% com lesão oral 
- 1 a 2% da população geral 
- Mais frequente em mulheres 
- Entre 30 e 60% 
- 10% com história familiar 
- Associação HLA, tanto de classe I como de classe II. 
- HLA-B7, A3, B5, A28, DR1 e DR10 
- Associação com metais pesados (como outro e mercúrico) e Hepatite C 
- Mecanismo de lesão 
Reação tipo IV: TCD8 e TCD4 
 
O mecanismo de lesão é principalmente celular: 
Linfócito T citotóxicos e T auxiliares → reconhecem estruturas próprias → Lesões 
 
Lesão oral no líquen plano →.Estrias de Wickham 
 
- Estrias azuis esbranquiçadas 
- Localizadas nas laterais da língua, na parte interna da bochecha e da gengiva. 
- Formam linhas em forma de uma rede. 
 
 
Antígenos do Pênfigo e Penfigóide 
 
- Lesões orais em 50 a 90% dos casos 
- 18% dos diagnósticos primários quem dá é o dentista 
- Anticorpos contra antígenos teciduais da epiderme 
 
Um dos antígenos que é alvo desses anticorpos → Desmogleína (Dsg 1 e 3), se localizam 
entre queratinócitos da porção inferior da camada basal (pênfigo). Na junção entre epiderme e 
membrana basal. A desmogleína é importante na adesão célula a célula. Se tem anticorpo 
contra elas → ruptura dessa adesão → Formação principalmente de bolhas. 
 
No caso do penfigóide → Anticorpos contra o colágeno tipo VII, presente entre a membrana 
basal e a derme.Formação de bolhas associadas à alteração causada pelos autoanticorpos. 
 
Os autoanticorpos vão se ligar aos antígenos, ativar o complemento e levar a um quadro de 
hipersensibilidade tipo II, que é o mecanismo de lesão do pênfigo e penfigóide. 
O complemento sendo ativado leva a atração de células inflamatórias para o local → 
destruição tecidual. 
 
Mecanismo de lesão: Hipersensibilidade tipo II.

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