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DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS CHOQUE/INFARTO . INFARTO Um infarto é definido como uma área de necrose isquêmica causada pela falta de suprimento arterial ou dre nagem venosa. Pode acometer qual quer tecido do corpo, porém os infar tos mais comuns são do miocárdio e cerebral. Normalmente os infartos são causa dos pela oclusão arterial trombótica ou embólica, mas também podem ser causados por vasoespasmo, rompi mento de placa de ateroma e tumores (compressão extrínseca do vaso). Os infartos são classificados de acor do com a cor e presença ou ausência de infecção. Assim, eles podem ser: vermelhos (hemorrágicos) ou brancos (anêmicos) e podem ser sépticos ou assépticos. Os infartos vermelhos são causa dos por oclusões venosas; em tecidos DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 26 frouxos onde o sangue pode se acu mular na região infartada; em tecidos com circulação dupla, como o pulmão, pois isso permite o fluxo sanguíneo de um vaso paralelo desobstruído; na zona necrótica; em tecidos conges tionados pelo fluxo venoso lento; e quando o fluxo é restabelecido em um local de necrose ou que estava ocluí do. Esses infartos são mais frequentes no pulmão, onde aparecem macrófa gos carregados de hemossiderina. Os infartos brancos ocorrem com oclusões arteriais em órgãos sólidos que possuem circulação arterial ter minal, como coração, baço e rim, e onde a densidade do tecido limita a entrada de sangue dos leitos capila res próximos à área necrótica. Os infartos sépticos ocorrem quan do as vegetações das válvulas cardí acas infectas embolizam ou quando microorganismos se instalam no teci do necrótico. Esses infartos são subs tituídos por abscessos, acompanhado de reação inflamatória mais vigorosa. A característica histológica do in farto é a necrose coagulativa is quêmica. Mas vale ressaltar que se a oclusão ocorrer antes do indivíduo morrer, não será possível identificar alterações histológicas, pois o tecido leva de 4 a 12 horas para exibir necro se evidente. Além disso, nas margens do infarto se inicia uma inflamação aguda em poucas horas, que se de fine dentro de 2 dias, e normalmente essa inflamação é acompanhada por mecanismos de reparo. A maioria dos infartos são substituídos por cicatriz (áreas de fibrose), com exceção do cérebro, onde o infarto causa necrose liquefativa. Os principais fatores que causam in farto são: • A natureza do suprimento vas cular: a falta de circulação cola teral determina o quanto de dano a oclusão do vaso irá causar. Os pulmões, por exemplo, são mais protegidos de um infarto causado por trombo, pois apresentam du plo suprimento arterial (pulmonar e brônquico). • A taxa de desenvolvimento da oclusão: as oclusões de desenvol vimento lento têm menor probabi lidade de provocar infarto, pois seu crescimento permite que haja tem po para que se desenvolva circu lação colateral alternativa, promo vendo fluxo sanguíneo ainda que o vaso principal esteja obstruído. • A vulnerabilidade à hipóxia: quando privados de oxigênio por mais de 4 minutos os neurônios sofrem danos irreversíveis. As cé lulas miocárdicas são mais resis tentes à hipóxia, sobrevivendo até 30 minutos em isquemia, e após esse tempo os fibroblastos ainda estão ativos, vistos que participa rão do processo de cicatrização da área infartada. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 27 • Teor de oxigênio sanguíneo: a obstrução parcial de um vaso me que não causaria problemas em indivíduos normais, pode anêmico ou cianótico, visto que nesses casos, o indivíduo possui complicações no transporte de oxigênio (deficiências na provocar infarto em paciente hemoglobina). 2. CHOQUE A principal característica do choque é hipoperfusão tecidual, o que normal mente é causado por um estado de hipotensão sistêmica, que pode ser provocado por diminuição do débi to cardíaco ou do volume sanguíneo circulante. Assim, o choque pode ser classificado em hipodinâmico, quan do há déficit no débito cardíaco e consequente aumento da resistência vascular periférica (vasoconstrição), ou hiperdinâmico, relacionado à um alto débito cardíaco e baixo resistên cia vascular periférica (vasodilatação acelerada). Porém, essas classifica ções podem apresentar associadas nos casos de choque misto. As causas de choque se dividem nas seguintes categorias gerais: • Choque cardiogênico: ocorre quando o débito cardíaco está bai xo devido à falência do miocárdio, o que pode ser causado por infartos, arritmias, compressão extrínseca (tamponamento cardíaco) ou obs trução do fluxo (embolia pulmonar). • Choque hipovolêmico: resulta da diminuição do débito cardíaco como consequência da perda do volume sanguíneo ou plasmático, como ocorrem em casos de he morragias graves e perda de líqui dos nos grandes queimados. • Choque distributivo: A má perfu são tecidual é resultado de vaso dilatação periférica global que leva DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 28 a redução acentuada da pressão de enchimento capilar, compro metendo o fornecimento de oxigê nio pelos capilares. A vasodilata ção periférica que leva ao choque distributivo pode ser causada por subtipos de choque: ◊ Séptico (inflamação permeabilidade vascular + síntese de óxido nítrico) ◊ Anafilático (prurido, rash cutâ neo, rouquidão, dispneia, ma nifestações do TGI) ◊ Neurogênico (lesão da medula espinhal acima do nível torácico superior, -> ativação imunoló gica -> lesão endo telial -> aumento da grave TCE ou fármacos anestésicos) As vias de morte celular no choque séptico ainda não são totalmente elu cidadas, porém os choques hipovo lêmico e cardiogênico normalmente evoluem passando pelos seguintes estágios: • Estágio inicial não progressivo: nesse momento, os mecanismos compensatórios reflexos são ati vados e a perfusão dos tecidos é mantida. • Estágio progressivo: caracteriza do por hipoperfusão tecidual e iní cio do agravamento circulatório e desequilíbrio metabólico, cursando inclusive com acidose. • Estágio irreversível: é o estado em que o organismo sofreu lesão celular e tecidual incompatíveis com a vida, ainda que o equilíbrio hemodinâmico seja restabelecido. Os mecanismos compensatórios que mantém a perfusão dos órgãos DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 29 vitais no início do choque incluem os reflexos barorreceptores, liberação de catecolaminas, ativação do siste ma renina-angiotensina-aldosterona (RAA), liberação de ADH e estimula ção simpática generalizada. Tudo isso resulta em taquicardia, vasoconstri ção periférica e conservação do líqui do renal. Nos casos de não reversão do choque, o mesmo evolui substi tuindo a respiração aeróbica intrace lular por glicólise anaeróbica, visto a persistência do déficit de oxigênio, causando a produção excessiva de ácido lático. Com isso, se instala uma acidose metabólica, que diminui a resposta vasomotora, gerando vaso dilatação e acúmulo de sangue na mi crocirculação. No estágio irreversível, a lesão celular generalizada é causa da pela saída das enzimas lisossômi cas, o que agrava o estado de cho que, consequentemente compromete a função contrátil do miocárdio (devi do à síntese de óxido nítrico) e outros tecidos vitais, levando à óbito. ESREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas Das Doenças - 9ª Ed. 2016. GOLDMAN, L. et al: Cecil Medicina. 25 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Hoffbrand, A. Victor. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,2013. ZAGO, Marco Antônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hemato logia. São Paulo: Atheneu, 2013. FRANCO, Rendrik F. Fisiologia da coagulação, anticoagulação e fibrinólise. Medicina (Ribei rão Preto. Online), v. 34, n. 3/4, p. 229-237, 2001. DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 31
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