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UNINTA � S5 � BRENDA AMANDA REINALDO DE SOUZA 1 Cirrose Hepática GASTROENTEROLOGIA DEFINIÇÃO > Doença crônica do fígado decorrente de destruição e regeneração das células hepáticas, ocasionando, do ponto de vista histológico, a presença de fibrose e formação nodular difusas, com consequente desorganização da arquitetura lobular e vascular do órgão. > A composição da matriz extracelular e a estrutura do fígado cirrótico são as mesmas, quer a lesão tenha sido causada por álcool, vírus, doença genética ou metabólica. > Brasil: • 8° lugar em mortalidade • 853.571 hospitalizações ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO > Os principais agentes causadores de cirrose podem ser classificados como: > Virais: hepatite B ou C > Alcoólico: • Principal agente etiológico entre os pacientes adultos; • Período médio de 5 a 10 anos de ingestão • Homens: 40g/d • Mulheres: 20g/d > Metabólicos: • Erros congênitos ou adquiridos do metabolismo: Galactosemia, Tirosinemia, Doença de Wilson, Hemocromatose, Deficiência de Alfa 1-antripsina, Esteato- hepatite não-alcoólica (cresce a cada dia) • Acometem crianças ou adultos jovens > Induzida por fármacos: Metotrexato, Isoniazida, Alfametildopa > Autoimune: • Hepatite ou colangiopatia autoimune • Mulheres em idade jovem ou pós- menopausa, com fenômenos autoimunes concomitantes. > Biliares: • Primária: clinica bem definida • Secundária: colangites de repetição > Obstrução do fluxo venoso hepático: • Anóxia congestiva: Sd. de Budd-Chiari, doença venosa oclusiva e pericardite constritiva > Criptogênicas: etiologia indeterminada (5-10%) FISIOPATOGENIA PRINCIPAIS ACHADOS MORFOLÓGICOS > Fibrose difusa > Nódulos regenerativos > Arquitetura lobular alterada > Derivações vasculares intra-hepáticas > Capilarização dos sinusóides > Fibrose perissinusoidal > Trombose vascular > Lesões obliterativas no trato portal e veias hepáticas Juntas essas alterações são responsáveis pelo desenvolvimento de HIPERTENSÃO PORTAL e sua complicações. FIBROSE HEPÁTICA E FIBROGÊNESE > Fibrose: acúmulo relativo e absoluto de componentes de matriz extracelular no lugar do componente celular. Esse acúmulo decorre de uma maior síntese e/ou menor degradação desses componentes. > Citocinas inflamatórias liberadas por linfócitos e monócitos/macrófagos estimulam a fibrogênese ou fibrólise > Células estreladas – principais efetoras da fibrogênese HIPERTENSÃO PORTAL > Aumento da pressão entre a veia porta e a veia hepática acima de 6mmHg > Circulação hiperdinâmica (vasodilatação esplâncnica e periférica → redução da PA → aumento do débito cardíaco) > CIRCULAÇÃO HIPERDINÂMICA ↑RESISTÊNCIA INTRA-HEÁTICA + ↑FLUXO HIPERTENSÃO PORTAL CIRCULAÇÃO COLATERAL PORTOSSISTÊMICA VASODILATAÇÃO ARTERIAL PERIFÉRICA (REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA → REDUÇÃO DA PA) ATIVAÇÃO DO SRAA/SNS (VASOCONSTRIÇÃO RENAL-SHR) RETENÇÃO DE ÁGUA E SÓDIO (ASCITE) AUMENTO DA VOLEMIA E DO DÉBITO CARDÍACO UNINTA � S5 � BRENDA AMANDA REINALDO DE SOUZA 2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS > Refletem a hipertensão portal e a insuficiência hepatocelular > Fase Inicial: Assintomático > Fases Avançadas: • Ascite • Distúrbios da coagulação • Hiperestrogenismo/Hipoandrogenismo (eritema, palmar, telangiectasias, ginecomastia, rarefação de pelos e atrofia testicular) • Hemorragia digestiva • Encefalopatia CLASSIFICAÇÃO DE CHILD-PUGH > Importante valor prognóstico, em termos de mortalidade dos portadores de cirrose. 1 2 3 BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL) < 2 2-3 >3 ENCEFALOPATIA Ausente Grau 1-2 Grau 3 ou 4 ASCITE Ausente Leve a moderada Grave TP(INR) < 1,7 1,7 – 2,3 >2,3 ALBUMINA 3,5 < 3,5 – 2,8 2,8 > Grau A = 5-6 (Cirrose Compensada) > Grau B = 7-9 (Dano funcional significativo) > Grau C = 10-15 (Cirrose descompensada) Obs: (>) � maior que e (<) menor que CLASSIFICAÇÃO DE MELD (TRANSPLANTE HEPÁTICO) > Bilirrubina > INR > Creatina > (MELD = 0,957 + log (creatinina mg/ dL) + 0,378 × log (bilirrubinas mg/dL) + 1,120 × 10 g (RNI) + 0,643. DIAGNÓSTICO > Anatomopatológico (biópsia hepática) → Ideal, porém devido as alterações vasculares hepáticas e peri-hepáticas, há um elevado risco de complicação > Alterações no exame físico → fígado nodular, hepatoesplenomegalia, sinais periféricos de insuficiência hepática) > Alterações no exame de imagem → alteração da ecogenicidade / sinais de hipertensão portal > MARCADORES NÃO INVASIVOS > DE FIBROSE HEPÁTICA > Biomarcadores diretos → aqueles envolvidos com a síntese e degradação da matriz extra-celular (ácido hialurônico, pró-colágeno tipo III, metaloproteases etc.) > Biomarcadores indiretos → refletem as alterações bioquímicas da fibrose (AST, ALT, bilirrubinas, proteínas e plaquetas) > Escores: • APRI (AST/PLAQUETAS) - Hepatite C • FIB 4 (AST/ALT/PLAQUETAS) – Coinfectados com HIV/HCV > Elastograma: • Fibroscan – combina haptoglobina, bilirrubinas, GGT, alfa-2-macroglobulina, apolipoproteína A1 • ARFI (Acoustic Radiation Force Impulse) - avaliação de fibrose hepática que utiliza o mesmo princípio de velocidade de propagação da onda através do tecido hepático, porém, no modo ultrassonográfico B, permitindo também a avaliação ultrassonográfica do fígado como um todo. TRATAMENTO GERAL > Erradicar o agente causal > Reversível (Estágios muito iniciais) > Irreversível (grande retração do órgão e hipertensão portal) > Terapia nutricional > Tratamento das complicações > Transplante hepático NUTRIÇÃO > A cirrose leva a alterações no metabolismo de hidrato de carbono, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais. UNINTA � S5 � BRENDA AMANDA REINALDO DE SOUZA 3 > Hipermetabolismo pode causar desnutrição de causa multifatorial > 30-40kcal/kg de peso ideal > 1,2 a 1,5g/kg/dia de peso ideal de proteínas (principalmente vegetais e lácteas) > Na encefalopatia hepática, diminuir proporção de proteína animal, mas manter a vegetal > Restrição de sódio 2g/dia (paciente estiver anasarcado) > Restrição hídrica, se Na < 120mEq/L > As recomendações de energia e proteína dos pacientes com doença hepática variam em função do estado nutricional e do tipo de doença. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES > Hemorragia Digestiva > Ascite > Peritonite Bacteriana Espontânea > Encefalopatia > Síndrome Hepatorrenal > Síndrome Hepatopulmonar Ascite FREQUENTE COMPLICAÇÃO DA CIRROSE (EVENTO TARDIO) > 60% dos cirróticos vão desenvolver > Acúmulo de liquido na cavidade peritoneal > Cirrose → principal causa (80%) > Marcador de mau prognóstico • 1 ano - 85% • 2 anos - 44% > Indicação de transplante hepático FISIOPATOLOGIA > Vasodilatação arterial periférica > Hipertensão portal → liberação de substâncias vasodilatadoras arteriolares em região esplâncnica → redução do volume arterial efetivo → ativação do sistemas vasoconstritores (SRAA e SNS) → retenção de sódio e água → ascite e edemas > Tudo isso acontece de forma compensatória para tentar reestabelecer a homeostase DIAGNÓSTICO > História clinica > Exame físico • Macicez móvel em flancos → 1,5L de LA • Semicírculo de SKODA/ Sinal do piparote → volumes maiores que 5L • Derrame pleural a direita → circulação hiperdinâmica (baixa PA e taquicardia) > Exames laboratoriais de sangue, urina, liquido ascítico (LA) > USG abdominal → diagnostico de pequenos volumes não detectados ao exame físico, estadiamento da doença e rastreamento de carcinoma hepatocelular ANÁLISE DO LÍQUIDO ASCÍTICO > Fornece importantes informações sobre a causa da ascite, presença de infecção e hipertensão portal. > Paracentese – retirada do liquido ascítico, ideal colher nas primeiras 24h de internação do paciente. > Exames essenciais: Proteína total e albumina, glicose e DHL > GASA (calculo do gradientede albumina soro- ascite) - Albumina sérica e do liquido ascítico maior ou igual (>=) 1,1 g/dL → Hipertensão Portal > Células neoplásicas – exclusão de ascite carcinomatosa > ADA (Adenosina deaminase) – hipótese de presença de ascite pancreática e decorrente de peritonite tuberculosa > Cultura e ceulularidade – peritonite bacteriana espontânea DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE ACORDO COM O GASA GASA ≧ 1,1 (HIPERTENSÃO PORTAL) GASA < 1,1 CIRROSE HEPATITE ALCOÓLICA ASCITE CARDÍACA TROMBOSE DE VEIA PORTA SÍNDROME DE BUDD-CHIARI METÁSTASE HEPÁTICAS CARCINOMATOSE PERITONEAL PERITONITE TUBERCULOSA ASCITE PANCREÁTICA ASCITE BILIAR SÍNDROME NEFRÓTICA SEROSITE TRATAMENTO > Fases todas as fases → Dieta hipossódica (2g sal/dia) > Fases avançadas → Restrição de água (1L/dia) somente se Na < 130mmol/L, com o objetivo de evitar hiponatremia > Diuréticos • Espironolactona: Inibe a aldosterona § Ginecomastia dolorosa – Amilorida • Furosemida: Diurético de alça > Paciente no 1° caso – 1 diurético > Paciente com descompensação prévia – 2 diuréticos > Está recomendado o uso de diuréticos em: • Pacientes sem edema – Perda de 300- 500g/dia • Pacientes com edema – Perda de 800- 1000g dia > Sem resposta aos diuréticos: • Paracentese de alívio (Desconforto respiratório) • Repor albumina (coloide EV) se > 5L (6 a 8g/L) > TIPS (SHUNT portossistêmico intra-hepático por via transjugular) > Transplante Hepático UNINTA � S5 � BRENDA AMANDA REINALDO DE SOUZA 4 Peritonite Bacteriana ESPONTÂNEA > Complicação infecciosa → 8 – 30% dos cirróticos com doença avançada > Infecção do liquido ascítico na ausência de qualquer foco primário > Via de infecção: Hematogênica (Translocação bacteriana → linfonodos mesentéricos → corrente sanguínea) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS > Febre > Sinais clínicos de irritação peritoneal → dor a descompressão, febre, alterações da motilidade gastrointestinal, náuseas, vômitos, diarreia ou íleo ou só sinais de insuficiência hepática (encefalopatia hepática ou alteração da função renal) > 50% dos casos são assintomáticos DIAGNÓSTIC0 LABORATORIAL > Contagem de polimorfonucleares ≧ 250/mm3 + cultura positiva > 60% tem cultura negativa > Baixa sensibilidade do exame > Bactéria ascite: Faço a cultura e vejo as bactérias, porém o polimorfonucleares < 250/mm3 TRATAMENTO > Episódio agudo: • ATB empírico mesmo antes da cultura do laboratório • Cobertura de Gram-negativas • Quinolonas ou cefalosporina de 3° geração • 1/3 dos pacientes podem ter falha circulatória – associar albumina • Re-punção em 48hrs para avaliar resposta ao ATB (redução dos 25% no total de PMN) PROFILAXIA > Primária: • Cirrose e sangramento TGI • Cirrose com proteína total do liquido ascítico < 1g/dL > Secundária: • Cirrose com recuperação de um episódio prévio de PBE (uso de ATB) Encefalopatia Hepática MANIFESTAÇÕES PSÍQUICAS E NEUROLÓGICAS > Conjunto de alterações neuropsiquiátricas, que vão desde alterações no sono ao coma hepático profundo. > Ocasionada por distúrbios metabólicos em pacientes com doença hepática aguda ou crônica > Potencialmente reversíveis: • Disfunção hepática • Shunts portossistêmicos CLASSIFICAÇÃO DA EH CONFORME A DOENÇA DE BASE > A abordagem atual inclui 3 tipos de encefalopatia: • EH aguda da insuficiência hepática fulminante o Risco de herniação craniana e alterações na pressão intracraniana • EH por shunts portossistêmicos • EH de cirróticos CLASSIFICAÇÃO DA EH CONFORME A FREQUÊNCIA > Episódica: Rara e com menos de 2 eventos anuais > Recorrente: Intervalos pequenos, menores que 6 meses > Persistente: alterações continuas, intercalando sinais leves a alterações neurológicas evidentes. CLASSIFICAÇÃO DA EH CONFORME AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS > Grau I: • Alterações leves de comportamento • Alternância do ritmo de sono • Distúrbios discretos do riso e choro fácil • Hálito hepático > Grau II: • Letargia ou apatia • Lentidão nas respostas • Desorientação temporo-espacial • Alterações de personalidade e comportamento inadequado • Presença de flapping > Grau IV: • Coma não responsivo aos estímulos verbais e com resposta flutuante à dor FISIOPATOGENIA > Alterações de substâncias nitrogenadas de origem intestinal (amônia) > Ativação excessiva dos receptores gabaérgicos (GABA) com aumento da inibição do SNC AMÔNIA > Até 90% excretada pelo metabolismo de primeira passagem > Interfere com a função cerebral → Síntese de dopamina, norepinefrina e serotonina > Edema cerebral > Inibe potenciais pós-sinápticos FATORES PRECIPIANTES > Hemorragia digestiva > Constipação UNINTA � S5 � BRENDA AMANDA REINALDO DE SOUZA 5 > Infecções > Insuficiência renal > Drogas psicotrópicas > Distúrbios hidroeletrolíticos > TIPS DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL > Sd de wernicke-korsakoff (deficiência de B1) > Lesões intracranianas > Abstinência alcoólica > Delirium/demência > Hipoglicemia / DHE > Uremia / acidose TRATAMENTO > Corrigir fatores precipitantes (HDA, constipação, infecção, distúrbio hidroeletrolítico) > Restrição protéica > Limpeza intestinal – visando aumentar a concentração colônica de bactérias não produtoras de amônia • Lactulose § Laxativo osmótico § 1° escolha em pacientes com EH episódica § Diminui as substancias aminogênicas na luz do intestino pela diminuição do pH colônico ou ação osmótica § Dose que promova 2-3 evacuações pastosas/dia • Lactitol: § Laxativo osmótico § Menos efeitos colaterais > Cuidado com hipernatremia / distensão abdominal / desidratação ANTIBIOTICOTERAPIA > Reduzem a produção de amônia pela diminuição intestinal de bactérias produtoras de urease; > Neomicina • EH aguda • Uso prolongado – nefrotoxicidde e ototoxicidade > Rifaximina • Bactérias entéricas • Não absorvível > Metronidazol • Uso prolongado – nefrotoxicidade e distúrbios gastrointestinais √ ESVAZIAMENTO DO CÓLON > Ornitina L-aspartato (Hepamerz) • Metabolização de amônia – ureia e glutamina • Pacientes com sangramento digestivo TRANSPLANTE HEPÁTICO • Única opção em pacientes com CH que não melhoram com os tratamentos realizados, incluindo embolização. • Pacientes com insuficiência hepática e EH recorrente ou refratária Síndrome Hepatorrenal PERDA PROGRESSIVA DA FUNÇÃO RENAL > Pacientes com CH, insuficiência hepática avançada e hipertensão portal, insuficiência hepática aguda; > Disfunção circulatória decorrente da vasodilatação esplâncnica que leva a vasoconstrição renal. > Natureza funcional – não há marcador diagnostico (excluir outras causas) > Em resumo: VASODILATAÇÃO ESPLÂNCNICA HIPERTENSÃO ARTERIAL ATIVAÇÃO DO SRAA/SNS (VASOCONSTRIÇÃO RENAL-SHR) RETENÇÃO DE ÁGUA E SÓDIO (ASCITE) AUMENTO DA VOLEMIA E DO DÉBITO CARDÍACO CLASSIFICAÇÃO > SHR TIPO 1 • Insuficiência renal rápida e progressiva • Aumento de pelo menos 100% dos valores basais de creatina em um prazo inferior a 2 semanas. • Pode ocorrer espontaneamente • Infecções bacterianas, hemorragia gastrointestinal, grandes procedimentos cirúrgicos ou hepatite aguda superposta a cirrose. • Pior prognostico > SHR TIPO 2 • Diminuição moderada e constante da função renal • Ascite tensa que responde mal a diuréticos (ascite refratária) • Podem desenvolver SHR tipo 1 UNINTA � S5 � BRENDA AMANDA REINALDO DE SOUZA 6 √ DIAGNÓSTICO > Cirrose com ascite > Aumento da Creatina 0,3 mg/dL em 48horas ou de 50% em relação ao valor basal, nos últimos 7 dias > Ausência de melhora da Cr após suspensão do diurético e expansão com albumina > Ausência de choque > Ausência de tratamento com drogas nefrotóxicas > Ausência de enfermidade renal parenquimatosa TRATAMENTO > Objetivo: reverter a vasodilatação arterial esplâncnica> Albumina + Terlipressina > Transplante hepático
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