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Processo Civil

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Processo Civil 
Fredie Didier Jr. 
1 INTRODUÇÃO AO PROCESSO CONTEMPORÂNEO .......................................................................... 7 
1.1 CONCEITO DE PROCESSO ................................................................................................................... 7 
1.2 PROCESSO E TEORIA DO DIREITO ......................................................................................................... 7 
1.3 PROCESSO E CONSTITUIÇÃO ............................................................................................................... 9 
1.4 PROCESSO E DIREITO MATERIAL ......................................................................................................... 11 
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS ............................................................................. 12 
2.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................................................................................................ 12 
2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ......................................................................................................... 14 
2.3 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ................................................................................................... 15 
2.4 PUBLICIDADE ................................................................................................................................. 15 
2.5 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS .................................................................................................................... 16 
2.5.1 Princípio da Efetividade ........................................................................................................ 16 
2.5.2 Princípio da Adequação ........................................................................................................ 16 
2.5.3 Princípio da boa-fé processual .............................................................................................. 17 
3 PRECLUSÃO ................................................................................................................................. 18 
3.1 CLASSIFICAÇÃO .............................................................................................................................. 18 
3.2 PRECLUSÃO EM QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA .................................................................................... 18 
4 JURISDIÇÃO ................................................................................................................................. 20 
4.1 CONCEITO .................................................................................................................................... 20 
4.2 EQUIVALENTES JURISDICIONAIS ......................................................................................................... 22 
4.3 ARBITRAGEM ................................................................................................................................ 22 
4.4 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO............................................................................................................... 24 
4.4.1 Princípio da Investidura ........................................................................................................ 24 
4.4.2 Princípio da inevitabilidade da jurisdição ............................................................................. 24 
4.4.3 Princípio da indelegabilidade ................................................................................................ 24 
4.4.4 Princípio da territorialidade .................................................................................................. 25 
4.4.4.1 Extraterritorialidade ................................................................................................................... 25 
4.4.5 Princípio da inafastabilidade ................................................................................................ 25 
4.4.6 Princípio do juiz natural ........................................................................................................ 26 
4.5 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ................................................................................................................. 27 
4.5.1 Características gerais ............................................................................................................ 27 
4.5.2 Questões polêmicas sobre a jurisdição voluntária................................................................ 28 
5 COMPETÊNCIA ............................................................................................................................. 29 
5.1 CONCEITO .................................................................................................................................... 29 
5.2 PRINCÍPIOS ................................................................................................................................... 29 
5.3 REGRA FUNDAMENTAL DA COMPETÊNCIA............................................................................................ 29 
5.4 FOROS CONCORRENTES ................................................................................................................... 29 
5.5 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA ....................................................................................................... 30 
5.5.1 Perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdictionis) ......................................................... 31 
5.6 CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ..................................................................................................... 32 
5.6.1 Efeitos do reconhecimento da incompetência ...................................................................... 33 
2 
 
5.6.2 Questões relevantes sobre competência .............................................................................. 33 
5.7 CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA .................................................................................. 34 
5.7.1 Competência objetiva ........................................................................................................... 34 
5.7.2 Competência funcional ......................................................................................................... 35 
5.7.3 Competência territorial ......................................................................................................... 35 
5.7.3.1 Regras gerais de competência territorial ................................................................................... 36 
5.8 COMPETÊNCIA DOS JUÍZES FEDERAIS .................................................................................................. 36 
5.8.1 Em razão da pessoa .............................................................................................................. 36 
5.8.2 Em razão da função .............................................................................................................. 39 
5.8.3 Em razão da matéria ............................................................................................................ 39 
5.9 JUIZ ESTADUAL INVESTIDO DE JURISDIÇÃO FEDERAL ............................................................................... 40 
5.10 COMPETÊNCIA DO TRF ................................................................................................................... 41 
5.11 CONEXÃO E CONTINÊNCIA ................................................................................................................ 42 
5.11.1 Efeitos ............................................................................................................................... 43 
5.11.2 Prevenção ......................................................................................................................... 43 
5.11.3 Conceito de conexão e continência .................................................................................. 44 
5.12CONFLITO DE COMPETÊNCIA ............................................................................................................. 45 
5.13 OUTRAS REGRAS DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ............................................................................ 46 
6 TEORIA DA AÇÃO ......................................................................................................................... 47 
6.1 ACEPÇÕES DA PALAVRA AÇÃO ........................................................................................................... 47 
6.1.1 Demanda .............................................................................................................................. 47 
6.2 ELEMENTOS DA AÇÃO ..................................................................................................................... 48 
6.2.1 Pedido ................................................................................................................................... 48 
6.2.2 Partes .................................................................................................................................... 48 
6.2.3 Causa de pedir ...................................................................................................................... 49 
6.2.3.1 Causa de pedir próxima e causa de pedir remota ...................................................................... 50 
6.2.3.2 Teoria da substanciação da causa de pedir ................................................................................ 50 
6.2.3.3 Teoria da individualização da causa de pedir ............................................................................. 50 
6.3 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES............................................................................................................... 51 
6.3.1 Ações reais e ações pessoais ................................................................................................. 51 
6.3.2 Ação reipersecutória ............................................................................................................. 51 
6.3.3 Ações mobiliárias e imobiliárias ........................................................................................... 51 
6.3.4 Ações de conhecimento, cautelar e de execução.................................................................. 51 
6.3.5 Ações necessárias ................................................................................................................. 51 
6.3.6 Ação dúplice.......................................................................................................................... 51 
6.3.7 Ações condenatória, mandamental, executiva em sentido amplo, constitutiva e meramente 
declaratória ....................................................................................................................................... 52 
6.3.7.1 Direito a uma prestação ............................................................................................................. 52 
6.3.7.2 Direitos potestativos .................................................................................................................. 54 
6.3.7.3 Questões relevantes ................................................................................................................... 55 
6.3.7.4 Ação meramente declaratória ................................................................................................... 55 
6.4 CONDIÇÕES DA AÇÃO ...................................................................................................................... 56 
6.4.1 Introdução ............................................................................................................................ 56 
6.4.2 Teoria da asserção ................................................................................................................ 57 
6.4.3 Condições da ação em espécie ............................................................................................. 57 
6.4.3.1 Possibilidade jurídica do pedido ................................................................................................. 57 
6.4.3.2 Interesse de agir ......................................................................................................................... 58 
6.4.3.3 Legitimidade “ad causam” ......................................................................................................... 58 
6.4.3.4 Legitimidade exclusiva e concorrente ........................................................................................ 59 
6.4.3.5 Legitimação ordinária e extraordinária ...................................................................................... 59 
3 
 
6.4.3.6 Legitimidade exclusiva autônoma e subordinada ...................................................................... 60 
7 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ..................................................................................................... 61 
7.1 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA .......................................................................................................... 61 
7.1.1 Capacidade de ser parte ....................................................................................................... 61 
7.1.2 Demanda .............................................................................................................................. 62 
7.1.3 Existência de órgão jurisdicional .......................................................................................... 62 
7.2 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE ............................................................................................................ 62 
7.3 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS DE VALIDADE ............................................................................................. 63 
7.3.1 Pressupostos Intrínsecos ....................................................................................................... 63 
7.3.1.1 A questão da citação .................................................................................................................. 63 
7.3.1.2 Querela nullitatis ........................................................................................................................ 63 
7.3.1.3 Pressupostos extrínsecos ........................................................................................................... 64 
7.3.2 Pressupostos subjetivos ........................................................................................................ 64 
7.3.2.1 Capacidade processual ............................................................................................................... 65 
7.3.2.2 Capacidade postulatória............................................................................................................. 68 
8 LITISCONSÓRCIO .......................................................................................................................... 69 
8.1 ATIVO, PASSIVO OU MISTO ............................................................................................................... 69 
8.2 INICIAL OU ULTERIOR (SUPERVENIENTE) .............................................................................................. 69 
8.3 LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO OU SIMPLES (COMUM) ................................................................................ 69 
8.3.1 Regime de tratamento dos litisconsortes ............................................................................. 71 
8.4 LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO E FACULTATIVO ...................................................................................... 72 
8.5 LITISCONSÓRCIO POR COMUNHÃO, CONEXÃO E AFINIDADE ..................................................................... 73 
8.6 LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO IMPRÓPRIO (OU RECUSÁVEL) ................................................................... 73 
8.7 LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO ATIVO...................................................................................................74 
8.8 LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO E COISA JULGADA ....................................................................................... 74 
8.9 POSSÍVEIS COMBINAÇÕES DE LITISCONSÓRCIO ...................................................................................... 75 
8.10 QUESTÕES FINAIS SOBRE LITISCONSÓRCIO ........................................................................................... 75 
8.11 INTERVENÇÃO IUSSU IUDICIS ............................................................................................................. 75 
8.12 INTERVENÇÃO LITISCONSORCIAL VOLUNTÁRIA ...................................................................................... 76 
8.13 LITISCONSÓRCIO SUCESSIVO, EVENTUAL E ALTERNATIVO ......................................................................... 76 
9 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ...................................................................................................... 77 
9.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 77 
9.1.1 Conceitos fundamentais ....................................................................................................... 77 
9.1.2 Fundamentos da intervenção de terceiros ........................................................................... 77 
9.1.3 Classificação das intervenções de terceiro ........................................................................... 78 
9.1.4 Efeitos das intervenções de terceiro ..................................................................................... 78 
9.1.5 Controle pelo magistrado ..................................................................................................... 79 
9.1.6 Cabimento das intervenções de terceiro .............................................................................. 79 
9.1.6.1 O amicus curiae .......................................................................................................................... 80 
9.2 ASSISTÊNCIA ................................................................................................................................. 80 
9.3 INTERVENÇÕES ESPECIAIS DOS ENTES PÚBLICOS .................................................................................... 82 
9.4 OPOSIÇÃO .................................................................................................................................... 83 
9.4.1 Oposição interventiva e oposição autônoma ....................................................................... 83 
9.5 ALIENAÇÃO DA COISA LITIGIOSA ........................................................................................................ 84 
9.6 INTERVENÇÕES PROVOCADAS ........................................................................................................... 85 
9.7 DENUNCIAÇÃO DA LIDE ................................................................................................................... 85 
9.7.1 Situação processual do denunciado ...................................................................................... 86 
9.7.2 Condenação do denunciado a ressarcir diretamente o adversário do denunciante ............. 86 
4 
 
9.7.3 Denunciação da lide nos casos de evicção ............................................................................ 87 
9.7.4 Denunciações sucessivas e denunciação per saltum ............................................................ 88 
9.7.5 Denunciação da lide genérica ............................................................................................... 89 
9.8 CHAMAMENTO AO PROCESSO ........................................................................................................... 90 
9.9 NOMEAÇÃO À AUTORIA ................................................................................................................... 92 
10 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................... 94 
10.1 REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL ........................................................................................................ 94 
10.1.1 Forma ............................................................................................................................... 94 
10.1.2 Assinatura de quem possui capacidade postulatória ....................................................... 94 
10.1.3 Endereçamento ................................................................................................................ 95 
10.1.4 Qualificação das partes .................................................................................................... 95 
10.1.5 Causa de pedir .................................................................................................................. 95 
10.1.6 Pedido ............................................................................................................................... 95 
10.1.7 Requerimento de produção de provas ............................................................................. 96 
10.1.8 Requerimento de citação ................................................................................................. 96 
10.1.9 Documentos indispensáveis à propositura da ação ......................................................... 96 
10.1.10 Valor da causa .................................................................................................................. 96 
10.2 EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL ............................................................................................................ 97 
10.3 ALTERAÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL ........................................................................................................ 98 
10.4 ADITAMENTO DA PETIÇÃO INICIAL ..................................................................................................... 98 
10.5 INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL .................................................................................................. 98 
10.5.1 Indeferimento com exame de mérito ............................................................................... 99 
10.5.2 Indeferimento sem exame de mérito ............................................................................. 100 
10.5.2.1 Inépcia ...................................................................................................................................... 100 
10.5.2.2 Ilegitimidade “ad causam” ....................................................................................................... 101 
10.5.2.3 Falta de interesse de agir ......................................................................................................... 101 
10.5.2.4 Erro na escolha do procedimento ............................................................................................ 101 
10.6 PEDIDO ...................................................................................................................................... 102 
10.6.1 Cumulação de pedidos ................................................................................................... 103 
11 RESPOSTA DO RÉU ..................................................................................................................... 106 
11.1 TEORIA GERAL DA EXCEÇÃO ............................................................................................................ 106 
11.1.1 Exceções substanciais ..................................................................................................... 106 
11.1.2 Classificação das defesas ............................................................................................... 108 
11.2 CONTESTAÇÃO ............................................................................................................................ 109 
11.2.1 Regras fundamentais da contestação............................................................................ 110 
11.3 REVELIA ..................................................................................................................................... 111 
11.3.1 Classificação da revelia .................................................................................................. 111 
11.3.2 Regras de proteção ao revel ........................................................................................... 112 
11.4 EXCEÇÕES INSTRUMENTAIS ............................................................................................................ 113 
11.4.1 Prazo das exceções instrumentais .................................................................................. 113 
11.5 RECONVENÇÃO ............................................................................................................................ 115 
11.5.1 Distinção entre reconvenção e pedido contraposto ....................................................... 116 
11.5.2 Reconvenção e procedimento especial .......................................................................... 116 
11.5.3 Requisitos da reconvenção ............................................................................................. 117 
12 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO ............ 119 
12.1 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES ......................................................................................................... 119 
12.1.1 Ação declaratória incidental .......................................................................................... 119 
5 
 
12.1.1.1 Questão principal e questão incidental .................................................................................... 119 
12.1.1.2 Questão preliminar e questão prejudicial ................................................................................ 120 
12.1.1.3 A ação declaratória incidental .................................................................................................. 121 
12.2 JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO............................................................................. 122 
12.2.1 Extinção do processo sem exame do mérito .................................................................. 122 
12.2.2 Extinção do processo com resolução do mérito por prescrição e decadência ................ 126 
12.2.3 Extinção do processo com resolução do mérito em razão da autocomposição ............. 126 
12.2.4 Julgamento antecipado da lide ...................................................................................... 127 
12.2.5 Designação de audiência preliminar .............................................................................. 127 
12.2.6 Despacho saneador ........................................................................................................ 128 
12.2.7 Decisão parcial ............................................................................................................... 129 
13 TEORIA GERAL DA PROVA ......................................................................................................... 130 
13.1 CONCEITO DE PROVA .................................................................................................................... 130 
13.2 PROVA E CONTRADITÓRIO .............................................................................................................. 131 
13.3 PROCEDIMENTO PROBATÓRIO ........................................................................................................ 131 
13.4 PODER INSTRUTÓRIO DO JUIZ ......................................................................................................... 131 
13.5 PROVA E VERDADE ....................................................................................................................... 132 
13.6 SISTEMAS DE VALORAÇÃO DA PROVA ................................................................................................ 133 
13.6.1 Indícios ........................................................................................................................... 134 
13.7 OBJETO DA PROVA ....................................................................................................................... 134 
13.8 PRESUNÇÕES LEGAIS ..................................................................................................................... 136 
13.9 ÔNUS DA PROVA .......................................................................................................................... 136 
14 TEORIA DA DECISÃO .................................................................................................................. 138 
14.1 CONCEITO DE SENTENÇA ................................................................................................................ 138 
14.2 DECISÕES DE MÉRITO E DECISÕES DE ADMISSIBILIDADE ........................................................................ 138 
14.3 ELEMENTOS DA DECISÃO JUDICIAL ................................................................................................... 138 
14.3.1 Relatório ......................................................................................................................... 138 
14.3.2 Fundamentação ............................................................................................................. 138 
14.3.2.1 Ratio decidendi e obiter dictum ............................................................................................... 141 
14.3.3 Dispositivo ...................................................................................................................... 141 
14.4 DECISÃO E FATO SUPERVENIENTE .................................................................................................... 142 
14.5 REQUISITOS DA DECISÃO JUDICIAL ................................................................................................... 142 
14.5.1 Congruência externa ...................................................................................................... 142 
14.5.2 Congruência interna ....................................................................................................... 143 
14.6 EFEITOS DA DECISÃO ..................................................................................................................... 145 
14.6.1 Efeitos principais ............................................................................................................ 145 
14.6.2 Efeito reflexo da sentença .............................................................................................. 145 
14.6.3 Efeito anexo .................................................................................................................... 145 
14.6.4 Efeito probatório ............................................................................................................ 145 
15 COISA JULGADA ......................................................................................................................... 146 
15.1 CONCEITO .................................................................................................................................. 146 
15.2 PRESSUPOSTOS DA COISA JULGADA .................................................................................................. 146 
15.3 EFEITOS DA COISA JULGADA ............................................................................................................ 147 
15.4 LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA ............................................................................................ 148 
15.5 REGIMES DE PRODUÇÃO DA COISA JULGADA ...................................................................................... 148 
15.6 INSTRUMENTOS DE REVISÃO DA COISA JULGADA ................................................................................. 14915.6.1 Relativização da coisa julgada ....................................................................................... 150 
6 
 
16 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA ......................................................................................................... 151 
16.1 TERMINOLOGIA ........................................................................................................................... 151 
16.1.1 Liminar x tutela antecipada............................................................................................ 151 
16.1.2 Tutela antecipada x julgamento antecipado da lide ...................................................... 152 
16.2 TUTELA ANTECIPADA ..................................................................................................................... 152 
16.3 HISTÓRICO .................................................................................................................................. 153 
16.4 O ATUAL SISTEMA DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA .................................................................................. 154 
16.5 ANÁLISE DO ART. 273 ................................................................................................................... 154 
16.5.1 Legitimidade para requerer a tutela antecipada ........................................................... 154 
16.5.2 Execução da tutela antecipada ...................................................................................... 155 
16.5.3 Pressupostos da tutela antecipada ................................................................................ 155 
16.6 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA NOS CASOS DE INCONTROVÉRSIA PARCIAL DA DEMANDA .................................... 156 
16.7 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONTRA O PODER PÚBLICO ......................................................................... 156 
 
 
7 
 
1 INTRODUÇÃO AO PROCESSO CONTEMPORÂNEO 
 
1.1 CONCEITO DE PROCESSO 
A palavra processo pode ser aprendida em três acepções: 
1. Processo como método de criação de normas. Toda norma se cria após um processo. 
A norma é resultado de um processo de elaboração. As leis, por exemplo, resultam de 
um processo legislativo. Normas administrativas resultam de um processo 
administrativo. A sentença resulta de um processo jurisdicional. Há ainda o processo 
negocial, que é o processo de criação de normas particulares. O nosso estudo é do 
processo jurisdicional civil. 
 
2. Processo como procedimento. Processo como um conjunto de atos organizados para 
a prolação de um ato final. Processo aqui é o procedimento, a organização de vários 
atos concatenados e sucessivos. Essa é a acepção estrita de processo. Processo aqui é 
um ato jurídico complexo. 
 
 
3. Processo como relação jurídica. Processo é o nome que se dá ao conjunto das 
relações jurídicas formadas entre os diversos sujeitos processuais. É uma metonímia. 
Toma-se um conjunto de relações como se fosse uma só. Relação jurídica travada 
entre os diversos sujeitos do processo. 
 
Atualmente, os três vetores (vertentes) metodológicos de compreensão do direito 
processual civil são: 
i. Perceber a relação entre Teoria do Direito e o Processo. O que a Teoria do Direito 
contribui para o Processo Civil Contemporâneo. 
ii. Perceber as relações entre o Direito Constitucional e o Processo. 
iii. Perceber a relação entre direito material e Processo. 
 
1.2 PROCESSO E TEORIA DO DIREITO 
 A teoria do direito em duas partes. Teoria das fontes e hermenêutica jurídica. São dois 
aspectos da teoria do direito que passaram por profundas transformações nos últimos anos. É 
preciso ver de que maneira o processo se relaciona com essas transformações. 
 Três aspectos da teoria das fontes imprescindíveis para a compreensão do processo 
hoje. 
1) Força normativa dos princípios. Princípio hoje é norma. Não se pode mais ignorar essa 
circunstância. Não se pode mais tratar os princípios como se fosse meras recomendações, 
8 
 
estratégias, programas. De um princípio extrai-se conseqüências jurídicas. Princípio é uma 
norma que se encontra em qualquer nível do direito. Encontra-se princípio tanto na 
Constituição, como nas leis. 
A Constituição não é só princípios. A Constituição apresenta princípios e regras, ela não é 
principiológica. A Constituição por sinal apresenta muito mais regras do que princípios. Nem 
sempre o princípio é superior à regra. Em um conflito entre princípio e regra (do mesmo nível) 
costuma prevalecer a regra, pois esta dá solução específica para o problema. Mas, 
evidentemente, em um conflito entre princípio constitucional e regra legal prevalece o 
princípio, devido a princípio da supremacia da Constituição. Em níveis diversos prevalece a 
norma hierarquicamente superior. O problema da força normativa dos princípios é a 
banalização dos mesmos. Princípio é norma, mas tem um método próprio a ser aplicado. Ver 
artigo “Teoria da Katchanga” no material de apoio. Recomenda-se a leitura do livro Teoria dos 
Princípios de Humberto Ávila, Editora Malheiros. 
Vide artigo 126 do CPC. Princípios Gerais de Direitos são utilizados como última técnica de 
preenchimento de lacunas, com base nesse artigo. Esse artigo está completamente superado, 
uma vez que princípio é norma. Princípio é norma e não uma técnica para superar lacuna. 
2) Papel normativo da jurisprudência. Jurisprudência é norma geral. É norma que se aplica a 
inúmeras situações. Negar normatividade às decisões do Tribunal é ingenuidade. É uma norma 
geral construída pela atividade jurisdicional, portanto, uma norma geral construída a partir de 
um caso concreto. Não dá para entender o direito contemporâneo considerando a 
jurisprudência apenas como fonte auxiliar do direito. O ordenamento é construído pelo poder 
legislativo e, a partir dos problemas do legislativo, a jurisprudência também constrói o 
ordenamento jurídico. Posteriormente será estudada a teoria dos precedentes judiciais. 
3) Mudança de Técnica Legislativa. Existe a técnica legislativa chamada casuística. O legislador 
lista uma série de casos passíveis de acontecer e dá respostas a esses casos. A legislação 
casuística, embora útil, não prevê todas as situações cotidianas. O legislador, portanto, mudou 
essa técnica legislativa. Para dar ao sistema mais mobilidade agregou à técnica casuística a 
técnica das cláusulas gerais. Uma cláusula geral é um texto normativo aberto na hipótese 
normativa e no consequente normativo. Todo texto normativo tem uma hipótese e tem um 
consequente. 
Uma cláusula geral apresenta um texto indeterminado. Ex. A propriedade deve cumprir a sua 
função social. Não se sabe o que é função social e o texto não dá uma definição de 
consequência normativa. É uma cláusula geral, um texto aberto. A CF, o CC, o CPC estão 
repletos de cláusulas gerais. O projeto de Novo CPC multiplica as cláusulas gerais processuais. 
O juiz que acaba definindo as hipóteses e as consequências das cláusulas gerais. As cláusulas 
gerais dão muita mobilidade e consequentemente muita insegurança ao sistema. Exemplos de 
cláusulas gerais processuais: artigo 14, II (cláusula da boa fé processual), parágrafo 5º do artigo 
461 (cláusula de efetivação das decisões), artigo 1109 do CPC (cláusula de adequação do 
procedimento de jurisdição voluntária). O próprio “devido processo legal” é uma cláusula 
geral. Cláusula geral não é norma, mas sim texto normativo. De uma cláusula geral extraem-se 
normas. Não confundir cláusula geral com princípios. Há princípios que não decorrem de texto 
nenhum. Não confundir texto com norma. Norma é gênero, princípio e regras são espécies. As 
9 
 
cláusulas gerais processuais são uma característica marcante, hoje, no nosso ordenamento 
jurídico. 
 
 Leitura importante: Judith Martins-Costa, “O direito privado como sistema em 
construção”: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/383/4/r139-01.pdf 
 
Três aspectos da hermenêutica jurídica imprescindíveispara a compreensão do processo hoje. 
1) Mudança entre texto e norma. Norma é o que resulta da interpretação de um texto. 
Interpreta-se um texto para dele extrair uma norma. A norma é o produto da interpretação. 
Processo Legal serve tanto para designar a norma, como o texto. O princípio da boa fé é 
extraído da cláusula geral da boa fé que é texto. O texto é a base da interpretação, norma é o 
que eu extraio do texto. Costuma-se extrair o princípio de uma cláusula geral - texto. 
Distinguir, portanto texto de norma, norma é o produto de interpretação de um texto, de um 
texto pode-se extrair várias normas. Há textos escritos com conceitos indeterminados, é o caso 
das cláusulas gerais. Interpretam-se textos para deles se extraírem-se normas (regras ou 
princípios). Existe norma sem texto? Há normas que não decorrem de texto nenhum, ex. 
princípio da segurança jurídica. E há textos que não geram norma alguma: preâmbulo da 
Constituição: “sob a proteção de Deus”. 
2) Interpretação como atividade criativa. Quem interpreta cria. A interpretação é uma 
atividade criativa. O grande desafio é conter os abusos na interpretação. A tarefa do jurista é 
tentar racionalizar a interpretação, mas toda interpretação é criadora. O desafio é conter o 
arbítrio na interpretação. 
3) Desenvolvimento das máximas da proporcionalidade e da razoabilidade. Transformaram-
se em máximas indispensáveis na hermenêutica jurídica. Não é qualquer interpretação que se 
admite. A interpretação não pode ser irrazoável. Mudou-se o conteúdo ético da interpretação 
jurídica. 
 
1.3 PROCESSO E CONSTITUIÇÃO 
A Constituição tem uma grande importância na contemporaneidade. 
Houve grandes mudanças no Direito Constitucional: 
1) Reconhecimento da força normativa da Constituição. Constituição é norma. 
2) Desenvolvimento impressionante da jurisdição constitucional. O Controle de 
Constitucionalidade se ampliou consideravelmente, o controle de constitucionalidade se 
difundiu e entrou na mentalidade do aplicador do direito. A força normativa da Constituição 
fez com que se desse muita importância no controle de constitucionalidade. O Recurso 
10 
 
Extraordinário se transformou e ele é um modelo de controle de constitucionalidade. A 
mentalidade sobre recurso extraordinário mudou. 
3) O desenvolvimento da teoria dos direitos fundamentais. Os direitos fundamentais 
passaram a estabelecer um patrimônio jurídico mínimo de uma sociedade. Os direitos 
fundamentais são frutos de conquistas históricas. A teoria dos direitos fundamentais se 
desenvolveu nos últimos 50 anos. 
Os direitos fundamentais passaram a ser encarados de duas maneiras (dimensões): (a) a 
chamada dimensão objetiva dos direitos fundamentais. Direitos fundamentais são normas que 
impõe um padrão ético mínimo ao direito. O direito deve ser construído com base nas normas 
de direitos fundamentais. As normas infraconstitucionais devem observar as normas de 
direitos fundamentais. Existem várias normas fundamentais de processo. Há normas 
fundamentais para cada ramo do direito. (b) dimensão subjetiva: direitos fundamentais são 
acima de tudo direitos. Há um direito fundamental que é individual. Os direitos fundamentais 
são direitos (com “d” minúsculo), ou seja, direitos que cada um de nós temos (direito à vida, à 
liberdade, à propriedade, ao contraditório, à herança, etc); O processo tem que estar 
organizado e preparado para dar proteção ao direito fundamental de uma pessoa. 
 Relação processo e direitos fundamentais: de um lado o direito processual tem que estar 
em conformidade com as normas de direitos fundamentais. Um direito processual que vede o 
contraditório é inconstitucional. Além disso, é preciso que o processo esteja adequado, 
preparado para bem tutelar os direitos fundamentais em sua dimensão subjetiva. É preciso 
que o processo concretamente seja adequado a assegurar direitos fundamentais, não basta 
apenas que a norma processual seja adequada com a norma constitucional que prevê direitos 
fundamentais. 
Ao conjunto das grandes nove transformações mencionadas deu-se o nome de 
neoconstitucionalismo. Neoconstitucionalismo é a atual fase da ciência jurídica que se 
notabiliza por diversas transformações do pensamento jurídico dentre as quais as 
mencionadas anteriormente (3 da teoria das fontes, 3 da hermenêutica jurídica e 3 mudanças 
do direito constitucional). O professor prefere chamar o neoconstitucionalismo de 
neopositivismo porque é uma ciência jurídica renovada e não apenas uma renovação no 
Direito Constitucional. Alguns autores usam também a denominação pós positivismo. O 
professor recomendou dois textos de leitura obrigatória: Humberto Ávila: sobre 
neoconstitucionalismo (direitodoestado.com.br). Daniel Sarmento: também sobre 
neoconstitucionalismo. 
Costuma-se dizer que a ciência do processo passou por três fases: 1) Sincretismo ou praxismo: 
fase que vai até o final do século XIX e que se caracteriza pela falta de distinção entre processo 
e direito material e os estudos sobre processo eram estudos sobre a prática jurídica. Não havia 
ciência do processo propriamente dita. É a pré-história processual. 
2) Fase da autonomia, fase científica ou fase do processualismo. Caracteriza-se pela 
construção da ciência do processo. Deu-se certidão de nascimento à ciência do processo. Essa 
fase vai do final do século XIX até meados do século XX. Nessa fase houve uma separação 
muito forte entre processo e direito material. Essa foio a fase de afirmação. 
11 
 
3) Instrumentalismo. Fase de amadurecimento. As preocupações com o processo passaram a 
ser sociais, de efetividade do processo, preocupação com o acesso à justiça, busca-se associar 
aqui o processo com o direito material. Quase todos os livros dizem que a evolução da ciência 
do processo termina aqui, portanto estaríamos aqui. O instrumentalismo não nega o 
processualismo, ele vai além do processualismo. O certo, no entanto, é que estamos vivendo 
uma 4ª fase da ciência do processo, que é exatamente a fase em que a ciência do processo 
recebe todas as transformações do neopositivismo. 
4) Se caracteriza pela influência do direito constitucional no processo, ainda não se tem um 
nome para esta fase, há um nome que tende a se desenvolver “Neoprocessualismo”. Livro 
chave desse pensamento é o volume I de Marinoni. O nome que mais agrada o professor é 
neoprocessualismo, ou seja, uma renovação da ciência do processo, que partem de todos os 
nove pressupostos mencionados. 
Um autor neoprocessualista no Brasil, portanto, é o Marinoni. 
No Rio Grande do Sul há muitos autores neoprocessualistas. Ocorre que lá eles adotaram 
outra terminologia. Adotam essa terminologia e fazem questão de difundi-la: “Fase do 
Formalismo-Valorativo”. O grande líder dessa concepção é Carlos Alberto Alvaro (sem acento) 
de Oliveira. Esse autor tem um texto chamado Formalismo-Valorativo. 
Neoprocessualismo é o estágio atual da ciência do processo que incorporou as principais 
transformações da ciência jurídica nos últimos 50 anos (9 transformações elencadas). 
 
Aula 02 – 11/02 
1.4 PROCESSO E DIREITO MATERIAL 
Todo processo discute um problema, e tem por objetivo a sua resolução. Esse problema 
de que cuida o processo é sempre um problema de direito material. É o direito material que dá 
sentido ao processo. Não existe tema de direito processual que não esteja relacionado ao 
direito material discutido no processo, processo e direito material guardam uma relação de 
simbiose ou complementaridade. É também chamada de relação circular (e não hierárquica): o 
processo serve ao direito material, ao tempo que é servido por ele (este lhe dá razão de ser). 
Essa forma de enxergar o processo denomina-se instrumentalidade: o processo é um 
instrumento de direito material e deve ser pensado à luz deste. 
 
12 
 
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS 
2.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL 
É o mais importante princípioprocessual. A expressão foi traduzida do inglês due process of 
Law (Law, em inglês, tem acepção mais ampla do que lei: refere-se a todo o direito). Por isso 
há autores que preferem a expressão “devido processo constitucional”, embora a expressão 
devido processo legal seja amplamente aceita. Há também quem prefira traduzir due process 
como “processo justo” ou “processo equitativo”. Essas expressões podem ser todas tomadas 
como sinônimos. 
Essa expressão existe há mais de oito séculos, embora seu conteúdo tenha variado com o 
tempo. No Brasil, o processo devido foi desmembrado em vários outros princípios expressos, 
como o contraditório, a ampla defesa, duração razoável do processo etc. Também dele 
decorrem vários princípios implícitos (que, por isso, demandam uma argumentação maior). 
Sua razão de ser é limitar o poder estatal, é uma cláusula anti-tirania. O poder só pode ser 
exercido se obedecer a um processo devido. Processo, nesse sentido, não se limita ao devido 
processo jurisdicional: abarca também o devido processo legislativo (voltado à produção de 
normas) e devido processo administrativo. 
Atualmente, fala-se também em devido processo privado. Por esse entendimento, até mesmo 
o poder privado deve ser exercido devidamente. Por exemplo, em casos de punição a 
membros de clubes, escolas, condomínios. O STF já decidiu no sentido que o devido processo 
legal é um direito fundamental que se aplica inclusive no âmbito privado (eficácia horizontal 
do direito fundamental). O art. 57 do CC consagra esse entendimento. 
Ao longo da história, o devido processo legal passou a ser compreendido em duas dimensões: 
1. Dimensão formal ou processual: conjunto de garantias processuais formais. 
 
2. Dimensão substancial ou material: o devido processo legal tem, para o direito 
brasileiro, uma feição peculiar (essa acepção é criação brasileira). O STF entende que o 
devido processo legal, em seu aspecto substancial, garante a razoabilidade e 
proporcionalidade dos atos normativos. Para o STF, proporcionalidade e razoabilidade 
são normas extraídas do DPL substancial, ou seja, o DPL é a base normativa 
constitucional desses princípios. 
Existem algumas críticas a esse entendimento do STF. A primeira, feita por Humberto 
Ávila, é que essa construção é inútil e desnecessária, já que razoabilidade e 
proporcionalidade poderiam ser extraídas de outras normas constitucionais, como a 
igualdade. Outra crítica afirma que há erro nesse entendimento: o devido processo 
legal substancial deveria ser compreendido como é nos EUA, onde surgiu. Lá, presta-se 
como meio de garantir direitos fundamentais implícitos (a crítica não procede, o §1º 
do art. 5º da CF já oferece essa garantia). 
 
13 
 
 Sobreprincípios são aqueles princípios dos quais se derivam outros princípios 
chamados subprincípios. A expressão não está relacionada à importância da norma. 
 
 Para Humberto Ávila (posição própria, francamente minoritária), existem regras, 
princípios e postulados. Postulados são normas dirigidas à aplicação de outras normas. 
 
Modelo constitucional do processo significa um modelo do processo de acordo com o 
devido processo legal garantido constitucionalmente. 
De todos os modelos mundiais de devido processo legal, dois se destacam: 
1. Modelo dispositivo de processo: o protagonismo do processo é dado às partes. A elas 
cabem impulsionar o processo e promover-lhe o andamento. O processo é visto como 
coisa das partes, o juiz é um espectador da luta das partes. É um modelo liberal de 
processo em que o Estado, na figura do juiz, não intervém. É característico dos países 
de common law. 
 
o Princípio dispositivo: regra que atribui à parte (e não ao juiz) aquela tarefa 
processual. 
 
o No processo penal utiliza-se a expressão processo acusatório. 
 
2. Modelo inquisitivo de processo: é aquele em que há um protagonismo do juiz, que 
não só decide como é responsável por boa parte da condução do processo. Atribuem-
se ao juiz muitos poderes. É um modelo adotado historicamente pelos países de civil 
law, como a Alemanha, França e Itália. Por isso, é denominado modelo 
intervencionista ou social. 
a. Há quem sustente que tal modelo é autoritário e, por isso, incompatível com o 
devido processo legal e inconstitucional. 
b. Existe uma corrente, denominada garantismo processual, que prega que é 
preciso deixar ao juiz apenas a tarefa de julgar, na expectativa de eliminar do 
processo resquícios de autoritarismo. Essa corrente é mais forte no âmbito do 
processo penal, no processo civil permanece uma visão inquisitiva. 
 
 No processo civil brasileiro há muitas regras inquisitivas. Por isso se diz que o processo 
brasileiro é inquisitivo. No entanto, há nele várias manifestações do modelo 
dispositivo. 
 
Atualmente, fala-se em um terceiro modelo: 
3. Modelo cooperativo: todos os sujeitos do processo (juiz e partes) devem conduzir o 
processo em equilíbrio, em diálogo, sem qualquer assimetria entre eles. O juiz seria 
protagonista apenas na decisão. A lealdade seria a marca desse modelo, visto como 
14 
 
alguns doutrinadores (Fredie Didier, Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Daniel 
Mitidiero, Dierle Nunes, Hermes Zaneti) como o modelo ideal de acordo com regime 
democrático estabelecido pela Constituição (que traz também a solidariedade como 
fundamento). 
a. Nessa forma de entender, o princípio da cooperação seria um subprincípio do 
devido processo legal, do princípio democrático e da solidariedade. São 
consequências práticas desse princípio: 
i. O juiz tem o dever de esclarecimento, de dar decisões claras e de pedir 
esclarecimento se as partes se manifestarem de modo obscuro. 
ii. O juiz tem o dever de prevenção: o juiz, diante de uma falha 
processual das partes, tem o dever de apontar a falha e mostrar como 
corrigi-la. Para o STJ, não se admite inépcia da inicial antes de 
oportunizar à parte a possibilidade de retificá-la. 
iii. O juiz tem o dever de consulta: não pode decidir com base em questão 
a respeito da qual não houve oportunidade de a parte manifestar-se e 
convencê-lo da correção de seus argumentos. 
 
Aula 03 – 14/02 
 
Os princípios a seguir são explícitos (previstos expressamente na Constituição) e adjetivam o 
processo. Esse rol é meramente exemplificativo, não exaure todos os princípios. 
 
2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO 
Aspecto formal: direito à participação no processo (pelos sujeitos interessados). 
Aspecto substancial: a participação formalmente garantida deve ser apta a poder influenciar a 
decisão. É o que se costuma chamar de ampla defesa. 
contraditório = participação + poder de influência 
 
Exemplos decorrentes do contraditório: o direito de produzir provas em juízo (aspecto 
substancial); o dever de consulta do juiz às partes (aspecto substancial). 
 
 Liminar x contraditório: a possibilidade de haver decisões liminares é uma 
demonstração de mitigação do contraditório. Contudo, é uma mitigação legítima, pois 
se funda em urgência (o pronunciamento não pode aguardar a manifestação da outra 
parte sob pena de inutilidade) e é provisória (o contraditório é postergado, mas não 
eliminado). É uma medida que se propõe a prestigiar a efetividade do processo, sem 
mitigar totalmente o contraditório. 
15 
 
 
 Contraditório x princípio da congruência: violar o contraditório é violar o princípio da 
congruência, já que o juiz estaria decidindo com base naquilo sobre o que as partes 
ainda não se manifestaram. 
 
2.3 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO 
É o princípio processual explícito mais novo da CF. Está previsto no inciso LXXVIII do art. 
5º e foi acrescentado em 2004, o que não significa que antes deste marco não havia sua 
exigência. Esse princípio decorre logicamente do devido processo legal e havia sua previsão em 
tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. Ou seja, tal princípio não é novidade da 
EC 45 exceto quanto a sua previsão expressa.Sua previsão expressa é uma forma de reforçar 
seu conteúdo. 
O respeito ao devido processo legal importa em certa demora na condução do processo, 
já que demanda a existência de contraditório, produção de provas e recursos. O que se impõe 
é que a demora do processo seja apenas a necessária, sem postergações indevidas. A razoável 
duração do processo não significa, portanto, processo rápido (princípio da celeridade é uma 
expressão incorreta – a garantia constitucional não é a celeridade, mas a demora razoável). 
Os critérios para se aferir, caso a caso, a demora do processo são: 
a) Complexidade da causa; 
b) Comportamento das partes; 
c) Comportamento do juiz; 
d) Estrutura do órgão jurisdicional. 
 
Formas de punição da demora irrazoável: (a) responsabilização do Estado em caso de 
dano; (b) o órgão jurisdicional deixa de ascender por merecimento na carreira; (c) designação 
de outro juiz para julgar a causa (perda de competência e redistribuição, através da 
representação administrativa do art. 198 do CPC). 
Também o processo administrativo se submete à imposição de razoável duração. 
 
2.4 PUBLICIDADE 
O processo devido é processo público. A publicidade é um direito fundamental que possui 
duas funções: proteger as partes de julgamentos secretos e arbitrários e permitir o controle 
público das decisões. Deste modo, pode-se falar em publicidade interna (voltada às partes) e 
publicidade externa (voltada a terceiros). 
A CF permite restrições à publicidade processual. No entanto, tais restrições valem apenas 
para a publicidade externa. Não se pode restringir à parte o acesso ao processo (publicidade 
interna). As restrições à publicidade externa têm lugar nos casos em que se deve velar pela 
preservação da intimidade das partes ou do interesse público. 
16 
 
 QUESTÃO POLÊMICA. STF e as transmissões televisivas dos julgamentos: “O STF e o 
populismo judicial”, de Virgílio Afonso da Silva e Conrado Hubnere; e “A justiça na TV”, 
de Gustavo Binebojm. Disponíveis no material de apoio 3. 
 
2.5 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS 
São aqueles que não têm previsão expressa, mas decorrem logicamente do devido processo 
legal e são tão importantes quanto os expressos. 
 
2.5.1 Princípio da Efetividade 
Processo efetivo é aquele que consegue concretizar, realizar o direito que foi reconhecido. 
Hoje, falar em direito fundamental à efetividade é falar em direito fundamental à execução, 
titularizado pelo credor (Marinoni trata do tema). 
Esse direito, que começou a ser debatido e valorizado recentemente, opõe-se às garantias das 
quais dispõe o devedor, (decorrentes da dignidade), que sempre foram objeto de maiores 
preocupações normativas e doutrinárias. No choque entre esses direitos fundamentais, deve-
se fazer uma ponderação entre os valores envolvidos. 
 
2.5.2 Princípio da Adequação 
A doutrina agasalha três critérios para aferir a adequação do processo: 
a) Adequação objetiva: o processo deve ser adequado ao seu objeto, ou seja, àquilo que 
pretende tutelar. Um exemplo da sua aplicação é a criação de procedimentos especiais 
para melhor resguardar determinados interesses. 
 
b) Adequação subjetiva: o processo deve ser adequado aos sujeitos que vão se valer do 
processo. Ex: regras especiais que garantem trâmite mais rápido em processos 
envolvendo idosos; prazos diferenciados para a Fazenda Pública. 
 
c) Adequação teleológica: o processo deve ser adequado aos seus fins. 
 
A adequação deve ser feita pelo legislador, através da criação de regras adequadas ao 
atendimento desses critérios. 
Atualmente, fala-se também numa adequação jurisdicional do processo. Não basta a criação 
de regras processuais abstratamente adequadas. É preciso que o juiz possa fazer a adequação 
do processo às peculiaridades do caso concreto. O tema é polêmico. 
 
17 
 
2.5.3 Princípio da boa-fé processual 
É também princípio constitucional implícito decorrente do devido processo legal (o STF já 
entendeu nesse sentido). A boa-fé se divide em boa-fé fato (boa intenção, acreditar estar 
agindo licitamente – é um estado de consciência) e boa-fé norma (boa-fé como norma de 
conduta). 
A boa-fé como norma de conduta impõe comportamentos eticamente desejados, leais, 
probos. Não está relacionada com um estado de consciência, é antes uma imposição legal 
(sendo por isso chamada também de boa-fé objetiva). O princípio processual da boa-fé é 
sinônimo de boa-fé objetiva. Anteriormente era chamado de lealdade processual, mas esta é 
apenas um aspecto da boa-fé. 
Em nível infraconstitucional, o princípio da boa-fé processual é explícito, previsto no art. 14, II 
do CPC. 
Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: 
II - proceder com lealdade e boa-fé; 
 
Esse princípio se impõe a todos aqueles que participam do processo, inclusive o juiz. É uma 
cláusula geral, aberta, que não estabelece previamente os comportamentos tidos como 
inadequados nem comina sanções a priori. Como toda cláusula geral, é uma construção 
histórica: é a experiência que vai demonstrar seu conteúdo. 
Ao longo da história foram muitas as concretizações deste princípio. As principais são: 
a. vedação de comportamentos dolosos (são ilícitos os comportamentos animados por 
má-fé); 
b. dever de cooperação; 
c. vedação ao abuso de direito; 
d. tornar ilícitos comportamentos contraditórios (nemo potest venire contra factum 
proprium), que significa comportar-se de modo a induzir o outro a acreditar na 
coerência deste comportamento, gerando uma expectativa legítima não cumprida – 
singularmente considerados, são comportamentos lícitos, mas praticados 
concomitantemente se tornam ilícitos (ex: oferecer um bem em penhora e alegar 
posteriormente sua impenhorabilidade); 
 
 
Ver em civil os deveres anexos da boa-fé (são semelhantes aos deveres de cooperação). 
 
 
18 
 
3 PRECLUSÃO 
Preclusão é a perda de um poder jurídico processual (um direito processual da parte ou uma 
competência jurisdicional). A preclusão pode atingir tanto as partes quanto o juiz. 
Não existe processo sem preclusão, já que é esta que garantem a movimentação do processo 
no sentido de sua resolução. O processo é uma sequência de atos, e a preclusão do ato 
antecedente abre caminho para a realização ato subsequente, de forma a organizar e 
racionalizar o procedimento. Deste modo, a preclusão é uma técnica que faz valer alguns 
princípios, como a segurança jurídica, a duração razoável do processo e a boa-fé. 
 
3.1 CLASSIFICAÇÃO 
A preclusão pode ser classificada de acordo com o fato que a gera: 
a) Preclusão temporal: perda de um poder processual em razão da perda do prazo para 
exercitá-lo. 
 
b) Preclusão consumativa: perda do direito em razão do seu exercício. 
 
c) Preclusão lógica: perda de um direito processual em razão da prática de um ato 
anterior com ele incompatível, ou seja, decorre de comportamento contraditório. Ex: a 
aceitação gera a preclusão lógica do direito de recorrer. 
 
Há também doutrinadores que sustentam a existência de uma quarta modalidade de 
preclusão: 
d) Preclusão sanção (ou por ato ilícito): é uma pena pela prática de determinados ilícitos 
processuais. Ex: perda da competência do juiz que excedeu seus prazos (art. 198); 
perda do direito de falar nos autos no caso de atentado. 
 
 
OBS1: Preclusão para o juiz não é sinônimo de preclusão pro iudicato (preclusão que reputa 
decidida uma questão, mesmo sem ter sido julgada). 
 
OBS2: Preclusão não se confunde com decadência e prescrição (tais institutos se relacionam 
com os direitos materiais). 
 
 
3.2 PRECLUSÃO EM QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA 
19 
 
Questões de ordem pública são aquelas que o juiz pode conhecer de ofício (ex: falta de 
pressupostos processuais, ausência de condições da ação etc.). 
Enquanto o processo estiver pendente, não há preclusão para o exame das questões de ordem 
pública. Terminado o processo, apenaspor ação rescisória é que poderão ser examinadas. 
Findo o prazo da rescisória, não podem mais ser examinadas. 
 
 A expressão a qualquer tempo diz respeito a esse lapso entre o início do processo e o 
seu fim, isto é, não quer dizer que o exame perdura eternamente. 
 
Há preclusão para o reexame das questões de ordem pública? 
Se o juiz já examinou e decidiu uma questão de ordem pública, pode voltar a examiná-la? A 
maior parte da doutrina entende que sim, o juiz pode reexaminar essas questões a qualquer 
tempo. O professor adota uma postura minoritária (mas adotada por doutrinadores de peso 
como José Carlos Barbosa Moreira), que entendem que estas questões estão sujeitas a 
preclusão após serem decididas. 
20 
 
Aula 04 – 15/02 
4 JURISDIÇÃO 
4.1 CONCEITO 
Jurisdição é o poder atribuído a terceiro imparcial (1) para, mediante um 
processo (2), reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente 
deduzidas (3), de modo imperativo (4) e criativo (5), em decisão insuscetível de 
controle externo (6) e apta a tornar-se indiscutível pela coisa julgada (7). 
(1) A jurisdição é atribuída sempre a alguém estranho à lide (aspecto objetivo) e que não 
guarda com esta qualquer outro interesse (aspecto subjetivo). A qualidade de terceiro à causa 
(aspecto objetivo) é também chamada de impartialidade (de parte). 
Esses atributos não se confundem com a neutralidade. O juiz não é neutro, já que todo ser 
humano tem seus valores, compreensões, experiências. A neutralidade é um mito já superado, 
o que se exige do juiz é imparcialidade: as partes devem ser tratadas em pé de igualdade. 
Em razão de ser atribuída a terceiro, considera-se a jurisdição um exemplo de 
heterocomposição, que significa dizer que a composição do problema é realizada por alguém 
estranho a este. 
Chiovenda afirmava que a característica da jurisdição é ser uma atividade substitutiva, ou seja, 
há substitutividade, consistente no fato de que o juiz substitui-se às partes para a resolução do 
problema. Na jurisdição o Estado impõe a sua vontade para solver o problema, substituindo a 
vontade das partes. 
Essa substitutividade, embora seja uma característica da jurisdição, não é exclusividade dela. 
Outros tribunais, de natureza administrativa (Tribunais de Contas, CADE etc.), também 
exercem atividade substitutiva. Apesar disso, não se pode considerar que esses tribunais 
exerçam jurisdição, por lhes faltarem outros caracteres exclusivos da jurisdição. 
 
(2) A jurisdição só se realiza processualmente, só há jurisdição como resultado de um processo 
(ao menos no direito brasileiro). Não existe jurisdição instantânea. Para que uma questão seja 
resolvida, um processo deve preceder a essa solução. 
 
(3) A jurisdição é uma atividade que se realiza sempre diante de uma situação concreta, um 
problema. O órgão jurisdicional é chamado a apresentar solução a um problema 
concretamente apresentado (“não existe processo oco”). Carnelutti afirmava que a jurisdição 
atua sempre “por encomenda”. Mesmo nas situações que se discute leis em tese (ADIs), existe 
um problema concreto (nesse caso, a constitucionalidade da norma). O Judiciário não atua 
abstratamente, ao contrário do que ocorre com o Legislativo. 
21 
 
Essa situação concreta deduzida em juízo, em regra, é uma lide (há processos cujo problema 
apresentado não é uma lide, como na jurisdição voluntária – nesses casos há uma situação 
concreta, mas não litigiosa, a ser resolvida). A lide costuma ser caracterizada como um conflito 
de interesses caracterizado por uma pretensão resistida. 
Ao requerer a atuação jurisdicional, espera-se que esta aja para reconhecer, efetivar ou 
proteger um direito. 
 
(4) A jurisdição é ato de império, de poder. A decisão do juiz não é uma simples 
recomendação, mas uma ordem, uma prescrição. É uma manifestação de soberania. 
A jurisdição é monopólio do Estado. No entanto, pode, desde que outorgada pelo Estado, ser 
exercida também por particulares. Não há obstáculo teórico para que o Estado permita que 
particulares exerçam a jurisdição. No Brasil, reconhece-se a arbitragem como espécie de 
jurisdição privada, atribuindo-se a esta características próprias da atividade jurisdicional. Na 
Espanha, reconhece-se jurisdição inclusive a tribunais costumeiros. 
 
(5) Toda atividade jurisdicional é uma atividade criativa. Quem julga invariavelmente cria. O 
que se exige é que existam parâmetros objetivos para controlar essa criatividade. 
Em toda decisão judicial se encontra ao menos duas normas: 
1. Uma norma jurídica individualizada que regula o caso concreto que lhe foi 
apresentado. 
2. Uma norma jurídica geral apta a resolver casos semelhantes futuros. 
Ex: um indivíduo pleiteia judicialmente a inscrição em um concurso que lhe foi negada em 
razão da idade. O juiz decide, permitindo a inscrição (norma individual) e afirmando que tal 
restrição é ilegal (norma geral). Um terceiro pode ingressar em juízo apresentando situação 
semelhante e requerendo a mesma solução jurídica. Essa norma geral é o que se chama de 
jurisprudência (entendimento geral consolidado aplicado a situações semelhantes). Entender 
essa afirmação é fundamental para entender o sistema de precedentes no Brasil. 
 
(6) A jurisdição só é controlada por si mesma. Uma lei não pode afetar a coisa julgada, que 
também não pode ser controlada administrativamente. 
As atividades administrativa e legislativa podem ser controladas jurisdicionalmente. Já o 
contrário não é válido (o resultado da atividade jurisdicional não pode ser controlado 
legislativa ou administrativamente). É isso que faz com que a solução dada por tribunais 
administrativos não seja jurisdição. 
 
22 
 
(7) A coisa julgada é uma estabilidade típica e exclusiva da jurisdição, oponível até contra si 
mesma: nem a jurisdição pode rever suas decisões quando amparadas pela coisa julgada. 
 
 O Senado, ao julgar o Presidente, exerce jurisdição de forma atípica. 
 
4.2 EQUIVALENTES JURISDICIONAIS 
São as formas de solução de conflito não jurisdicionais. Existem quatro: 
1. Autotutela: solução egoística dos conflitos. Na autotutela, um dos conflitantes 
submete o outro e impõe, pela força, a solução do problema. Por sua natureza, deve 
ser entendida com forma excepcional de resolução de conflitos. Como regra, é 
proibida e tipificada como crime (exercício arbitrário das próprias razões, art. 345 do 
CP). Há casos em que a autotutela é lícita, como na legítima defesa, no direito de 
greve, na guerra, no desforço incontinente (reação do possuidor ao esbulho) e na 
autoexecutoriedade dos atos administrativos. 
 
2. Autocomposição: solução altruísta do conflito. Pela autocomposição, os próprios 
conflitantes resolvem o problema, mediante solução negocial e não imposta (é 
concretizada por um negócio jurídico). A autocomposição pode se dar por renúncia 
(uma parte abdica do seu direito) ou por transação (concessões recíprocas). Ao 
contrário da autotutela, a autocomposição é estimulada, através das alternative 
dispute resolutions (ADR) ou formas alternativas de resolução de conflitos. Pode ser 
judicial ou extrajudicial. É direito das partes levar a autocomposição extrajudicial à 
homologação pelo juiz, para transformá-la em título executivo (art. 57 da Lei 9.099/95 
e art. 475-N, V do CPC). 
 
3. Mediação: um terceiro (mediador) é convocado para auxiliar as partes na busca de 
uma solução negocial. O mediador não decide (não há heterocomposição), mas se 
presta a facilitar o diálogo e permitir que as partes cheguem a uma solução por 
autocomposição. 
 
4. Solução de conflito por tribunal administrativo: os tribunais administrativos tem um 
perfil muito semelhante ao dos tribunais jurisdicionais. No entanto, lhes falta o 
atributo da coisa julgada, de modo que suas decisões podem ser objeto de controle 
externo. 
 
4.3 ARBITRAGEM 
Na arbitragem, um terceiro, escolhido pelas partes, é chamado pararesolver o conflito. Nesse 
ponto, a arbitragem se distancia da mediação: o árbitro é juiz (pela lei brasileira, juiz de fato e 
de direito), e resolve o conflito. 
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No Brasil, a arbitragem é voluntária, e pode ser utilizada por pessoas capazes. Até entes 
públicos podem se submeter à arbitragem. No caso de PPPs a previsão de arbitragem é 
expressa na lei. Por ser voluntária, uma cláusula que impõe a arbitragem em contrato de 
adesão é nula. 
Podem ser decididos por árbitro apenas os conflitos relacionados a direitos disponíveis. Esse 
requisito, no entanto, não é incompatível com pessoas jurídicas de direito público (pode 
tratar-se, por exemplo, de interesse negocial da pessoa jurídica, que não se confunde com o 
interesse público). 
A arbitragem é uma concretização do princípio da autonomia privada: o Estado outorga à 
parte a possibilidade de resolver seus conflitos de maneira particular e exercer sua liberdade 
de autorregulamento. 
O árbitro pode ser qualquer pessoa capaz, desde que constituído para tal. Em regra, constitui-
se uma junta arbitral, composta por três árbitros que irão julgar a causa (uma parte indica um 
árbitro, a outra parte indica o outro e uma entidade escolhida pelas partes indica o terceiro). O 
árbitro só é juiz para aquela causa a que foi designado. 
Na arbitragem desenvolve-se também um processo, com petições, produção de provas etc., 
mas este se dá no âmbito privado, o que garante às partes a possibilidade de regulamentar os 
aspectos formais do processo (como prazos etc.). Esse processo, por imposição constitucional, 
se submete também ao devido processo legal. 
A decisão do árbitro é chamada de sentença arbitral. Não cabe recurso da decisão arbitral, 
exceto embargos de declaração. Vencido o prazo dos embargos, a decisão arbitral transita em 
julgado, não cabendo mais revisão judicial da decisão. Diante da decisão arbitral, ao Judiciário 
só cabe executá-la (a sentença arbitral é título executivo judicial, mas não pode ser executada 
pelo próprio árbitro) ou anulá-la (e não revê-la, redecidindo a questão) em caso de vício que 
importe na anulação da sentença. A ação para anular a decisão arbitral é ação rescisória da 
sentença arbitral, que pode ser proposta no prazo máximo de 90 dias. Vencido esse prazo, a 
sentença arbitral se torna inexpugnável. 
A sentença arbitral dispensa homologação judicial. Publicada, já adquire status de título 
executivo judicial. As hipóteses que permitem sua anulação estão previstas de maneira 
exaustiva nos arts. 32 e 33 da Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem). O judiciário não adentra no 
mérito da decisão arbitral. As partes podem inclusive escolher qual direito deve ser aplicado 
ao caso. 
Dois argumentos costumam ser defendidos para sustentar que a arbitragem não é jurisdição: a 
arbitragem não é atividade do Estado e não pode executar suas decisões. Apesar disso, a 
corrente majoritária entende que a arbitragem é sim jurisdição. 
Existem duas espécies de convenção de arbitragem: 
1. Cláusula compromissória: convenção de arbitragem em que as partes decidem que 
casos futuros decorrentes daquele negócio serão resolvidos por árbitro. A cláusula 
compromissória é prévia e abstrata. É comum em contratos de sociedade e em 
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grandes transações comerciais. Pode ser cheia (completa, estabelecendo todas as 
diretrizes da arbitragem, como o árbitro etc.) ou vazia (apenas prevê a utilização da 
arbitragem, sem maiores detalhes). 
 
2. Compromisso arbitral: é uma convenção que pressupõe um conflito já existente. 
 
Pode acontecer que uma das partes se recuse a cumprir suas obrigações arbitrais, como 
constituir um árbitro. Nesse caso, a manifestação da parte pode ser suprida judicialmente. A 
convenção de arbitragem pode ser também alegada em defesa, arguindo a incompetência do 
juiz para aquela causa. Caso a parte não se manifeste na defesa, presume-se a revogação 
tácita da convenção de arbitragem. 
A desistência da arbitragem, desde que manifestada por ambas as partes, é plenamente 
possível. 
 
4.4 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 
4.4.1 Princípio da Investidura 
A jurisdição somente pode ser exercida por quem tenha sido devida e previamente investido 
na função jurisdicional. 
 
4.4.2 Princípio da inevitabilidade da jurisdição 
A jurisdição é inescapável, não é possível a alguém se furtar da sua incidência. Todos estão 
sujeitos às decisões jurisdicionais, querendo ou não. 
 
4.4.3 Princípio da indelegabilidade 
Costuma-se defender que a jurisdição é indelegável, o que importa na impossibilidade de o 
órgão jurisdicional delegar suas funções a outro órgão. A rigor, apenas os poderes decisórios 
são indelegáveis. 
O juiz, no exercício da jurisdição, possui quatro espécies de poder: 
1. Ordinatórios: poder de praticar atos de condução do processo. Pode ser delegado a 
servidores, por expressa autorização constitucional (art. 93, XIV da CF). 
2. Instrutórios: poder de produzir provas. Os tribunais podem delegar poderes 
instrutórios a juízes de primeira instância. 
3. Decisórios: poder de decidir a causa, dando-lhe decisão definitiva. 
4. Executivos: poder de executar as decisões. Os tribunais podem delegar poderes 
executivos a juízes de primeira instância. 
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Aula 05 – 21/02 
4.4.4 Princípio da territorialidade 
A jurisdição, manifestação da soberania estatal, se exerce sempre sobre um dado território. A 
palavra foro serve pra designar o território onde a jurisdição é exercida. 
Na Justiça Estadual, a divisão da jurisdição se dá em comarcas, que pode abranger apenas uma 
ou mais cidades. Há comarcas que se dividem em distritos, que podem abranger um ou vários 
bairros. 
A Justiça Federal se divide em seções judiciárias, que correspondem cada uma a um estado (a 
seção judiciária é sempre um estado da federação). A seção judiciária se divide em subseções, 
que podem abranger uma ou mais cidades. 
 
4.4.4.1 Extraterritorialidade 
O art. 230 do CPC autoriza que o oficial de justiça de uma comarca se dirija a outra para 
realizar citações e intimações, desde que essa outra comarca seja fronteiriça (ou contígua – é 
incorreto falar em vizinha, já que para o direito vizinhança não abrange apenas a contiguidade) 
ou esteja na mesma região metropolitana. Ainda que estejam em estados distintos, é possível 
desde que haja contiguidade. Ressalte-se que nesses casos os poderes do oficial restringem-se 
à citação e intimação. Penhora e demais atos não estão abrangidos, e devem ser realizados por 
precatória. 
Já o art. 107 traz outro caso de extraterritorialidade. Tratando de imóveis que se estendem por 
mais de uma comarca, o juiz competente (no caso, por prevenção) exerce jurisdição sobre 
todo o imóvel, incluindo a porção pertencente à outra comarca. 
 
4.4.5 Princípio da inafastabilidade 
Está consagrado no inciso XXXV do art. 5º da CF, que dispõe que “a lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Esse dispositivo assegura a todos o 
direito de acesso à justiça, isto é, de levar, caso desejem, qualquer questão à apreciação do 
Poder Judiciário. Excepcionalmente, a jurisdição pode ser exercida por outro órgão, como no 
caso do crime de responsabilidade, julgado pelo Senado. 
Mesmo o mérito de atos administrativos discricionários pode ser controlado pelo Judiciário, 
através do controle do devido processo legal substantivo (razoabilidade, proporcionalidade, 
etc.). 
Na CF/69, havia a possibilidade de condicionar legalmente o acesso ao judiciário ao 
esgotamento da instância administrativa. Um exemplo dessa restrição estava na antiga lei do 
mandado de segurança. Essa restrição deixou de existir com a CF/88, que não permite mais o 
condicionamento da jurisdição pela lei. 
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No entanto, ainda existem leis, anteriores e posteriores à CF/88, que condicionam esse acesso. 
Inicialmente, essa restrição é aceita, de forma ponderada: questões que podem ser resolvidas 
administrativamente

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