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Processo Civil Fredie Didier Jr. 1 INTRODUÇÃO AO PROCESSO CONTEMPORÂNEO .......................................................................... 7 1.1 CONCEITO DE PROCESSO ................................................................................................................... 7 1.2 PROCESSO E TEORIA DO DIREITO ......................................................................................................... 7 1.3 PROCESSO E CONSTITUIÇÃO ............................................................................................................... 9 1.4 PROCESSO E DIREITO MATERIAL ......................................................................................................... 11 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS ............................................................................. 12 2.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................................................................................................ 12 2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ......................................................................................................... 14 2.3 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ................................................................................................... 15 2.4 PUBLICIDADE ................................................................................................................................. 15 2.5 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS .................................................................................................................... 16 2.5.1 Princípio da Efetividade ........................................................................................................ 16 2.5.2 Princípio da Adequação ........................................................................................................ 16 2.5.3 Princípio da boa-fé processual .............................................................................................. 17 3 PRECLUSÃO ................................................................................................................................. 18 3.1 CLASSIFICAÇÃO .............................................................................................................................. 18 3.2 PRECLUSÃO EM QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA .................................................................................... 18 4 JURISDIÇÃO ................................................................................................................................. 20 4.1 CONCEITO .................................................................................................................................... 20 4.2 EQUIVALENTES JURISDICIONAIS ......................................................................................................... 22 4.3 ARBITRAGEM ................................................................................................................................ 22 4.4 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO............................................................................................................... 24 4.4.1 Princípio da Investidura ........................................................................................................ 24 4.4.2 Princípio da inevitabilidade da jurisdição ............................................................................. 24 4.4.3 Princípio da indelegabilidade ................................................................................................ 24 4.4.4 Princípio da territorialidade .................................................................................................. 25 4.4.4.1 Extraterritorialidade ................................................................................................................... 25 4.4.5 Princípio da inafastabilidade ................................................................................................ 25 4.4.6 Princípio do juiz natural ........................................................................................................ 26 4.5 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ................................................................................................................. 27 4.5.1 Características gerais ............................................................................................................ 27 4.5.2 Questões polêmicas sobre a jurisdição voluntária................................................................ 28 5 COMPETÊNCIA ............................................................................................................................. 29 5.1 CONCEITO .................................................................................................................................... 29 5.2 PRINCÍPIOS ................................................................................................................................... 29 5.3 REGRA FUNDAMENTAL DA COMPETÊNCIA............................................................................................ 29 5.4 FOROS CONCORRENTES ................................................................................................................... 29 5.5 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA ....................................................................................................... 30 5.5.1 Perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdictionis) ......................................................... 31 5.6 CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ..................................................................................................... 32 5.6.1 Efeitos do reconhecimento da incompetência ...................................................................... 33 2 5.6.2 Questões relevantes sobre competência .............................................................................. 33 5.7 CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA .................................................................................. 34 5.7.1 Competência objetiva ........................................................................................................... 34 5.7.2 Competência funcional ......................................................................................................... 35 5.7.3 Competência territorial ......................................................................................................... 35 5.7.3.1 Regras gerais de competência territorial ................................................................................... 36 5.8 COMPETÊNCIA DOS JUÍZES FEDERAIS .................................................................................................. 36 5.8.1 Em razão da pessoa .............................................................................................................. 36 5.8.2 Em razão da função .............................................................................................................. 39 5.8.3 Em razão da matéria ............................................................................................................ 39 5.9 JUIZ ESTADUAL INVESTIDO DE JURISDIÇÃO FEDERAL ............................................................................... 40 5.10 COMPETÊNCIA DO TRF ................................................................................................................... 41 5.11 CONEXÃO E CONTINÊNCIA ................................................................................................................ 42 5.11.1 Efeitos ............................................................................................................................... 43 5.11.2 Prevenção ......................................................................................................................... 43 5.11.3 Conceito de conexão e continência .................................................................................. 44 5.12CONFLITO DE COMPETÊNCIA ............................................................................................................. 45 5.13 OUTRAS REGRAS DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ............................................................................ 46 6 TEORIA DA AÇÃO ......................................................................................................................... 47 6.1 ACEPÇÕES DA PALAVRA AÇÃO ........................................................................................................... 47 6.1.1 Demanda .............................................................................................................................. 47 6.2 ELEMENTOS DA AÇÃO ..................................................................................................................... 48 6.2.1 Pedido ................................................................................................................................... 48 6.2.2 Partes .................................................................................................................................... 48 6.2.3 Causa de pedir ...................................................................................................................... 49 6.2.3.1 Causa de pedir próxima e causa de pedir remota ...................................................................... 50 6.2.3.2 Teoria da substanciação da causa de pedir ................................................................................ 50 6.2.3.3 Teoria da individualização da causa de pedir ............................................................................. 50 6.3 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES............................................................................................................... 51 6.3.1 Ações reais e ações pessoais ................................................................................................. 51 6.3.2 Ação reipersecutória ............................................................................................................. 51 6.3.3 Ações mobiliárias e imobiliárias ........................................................................................... 51 6.3.4 Ações de conhecimento, cautelar e de execução.................................................................. 51 6.3.5 Ações necessárias ................................................................................................................. 51 6.3.6 Ação dúplice.......................................................................................................................... 51 6.3.7 Ações condenatória, mandamental, executiva em sentido amplo, constitutiva e meramente declaratória ....................................................................................................................................... 52 6.3.7.1 Direito a uma prestação ............................................................................................................. 52 6.3.7.2 Direitos potestativos .................................................................................................................. 54 6.3.7.3 Questões relevantes ................................................................................................................... 55 6.3.7.4 Ação meramente declaratória ................................................................................................... 55 6.4 CONDIÇÕES DA AÇÃO ...................................................................................................................... 56 6.4.1 Introdução ............................................................................................................................ 56 6.4.2 Teoria da asserção ................................................................................................................ 57 6.4.3 Condições da ação em espécie ............................................................................................. 57 6.4.3.1 Possibilidade jurídica do pedido ................................................................................................. 57 6.4.3.2 Interesse de agir ......................................................................................................................... 58 6.4.3.3 Legitimidade “ad causam” ......................................................................................................... 58 6.4.3.4 Legitimidade exclusiva e concorrente ........................................................................................ 59 6.4.3.5 Legitimação ordinária e extraordinária ...................................................................................... 59 3 6.4.3.6 Legitimidade exclusiva autônoma e subordinada ...................................................................... 60 7 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ..................................................................................................... 61 7.1 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA .......................................................................................................... 61 7.1.1 Capacidade de ser parte ....................................................................................................... 61 7.1.2 Demanda .............................................................................................................................. 62 7.1.3 Existência de órgão jurisdicional .......................................................................................... 62 7.2 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE ............................................................................................................ 62 7.3 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS DE VALIDADE ............................................................................................. 63 7.3.1 Pressupostos Intrínsecos ....................................................................................................... 63 7.3.1.1 A questão da citação .................................................................................................................. 63 7.3.1.2 Querela nullitatis ........................................................................................................................ 63 7.3.1.3 Pressupostos extrínsecos ........................................................................................................... 64 7.3.2 Pressupostos subjetivos ........................................................................................................ 64 7.3.2.1 Capacidade processual ............................................................................................................... 65 7.3.2.2 Capacidade postulatória............................................................................................................. 68 8 LITISCONSÓRCIO .......................................................................................................................... 69 8.1 ATIVO, PASSIVO OU MISTO ............................................................................................................... 69 8.2 INICIAL OU ULTERIOR (SUPERVENIENTE) .............................................................................................. 69 8.3 LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO OU SIMPLES (COMUM) ................................................................................ 69 8.3.1 Regime de tratamento dos litisconsortes ............................................................................. 71 8.4 LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO E FACULTATIVO ...................................................................................... 72 8.5 LITISCONSÓRCIO POR COMUNHÃO, CONEXÃO E AFINIDADE ..................................................................... 73 8.6 LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO IMPRÓPRIO (OU RECUSÁVEL) ................................................................... 73 8.7 LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO ATIVO...................................................................................................74 8.8 LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO E COISA JULGADA ....................................................................................... 74 8.9 POSSÍVEIS COMBINAÇÕES DE LITISCONSÓRCIO ...................................................................................... 75 8.10 QUESTÕES FINAIS SOBRE LITISCONSÓRCIO ........................................................................................... 75 8.11 INTERVENÇÃO IUSSU IUDICIS ............................................................................................................. 75 8.12 INTERVENÇÃO LITISCONSORCIAL VOLUNTÁRIA ...................................................................................... 76 8.13 LITISCONSÓRCIO SUCESSIVO, EVENTUAL E ALTERNATIVO ......................................................................... 76 9 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ...................................................................................................... 77 9.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 77 9.1.1 Conceitos fundamentais ....................................................................................................... 77 9.1.2 Fundamentos da intervenção de terceiros ........................................................................... 77 9.1.3 Classificação das intervenções de terceiro ........................................................................... 78 9.1.4 Efeitos das intervenções de terceiro ..................................................................................... 78 9.1.5 Controle pelo magistrado ..................................................................................................... 79 9.1.6 Cabimento das intervenções de terceiro .............................................................................. 79 9.1.6.1 O amicus curiae .......................................................................................................................... 80 9.2 ASSISTÊNCIA ................................................................................................................................. 80 9.3 INTERVENÇÕES ESPECIAIS DOS ENTES PÚBLICOS .................................................................................... 82 9.4 OPOSIÇÃO .................................................................................................................................... 83 9.4.1 Oposição interventiva e oposição autônoma ....................................................................... 83 9.5 ALIENAÇÃO DA COISA LITIGIOSA ........................................................................................................ 84 9.6 INTERVENÇÕES PROVOCADAS ........................................................................................................... 85 9.7 DENUNCIAÇÃO DA LIDE ................................................................................................................... 85 9.7.1 Situação processual do denunciado ...................................................................................... 86 9.7.2 Condenação do denunciado a ressarcir diretamente o adversário do denunciante ............. 86 4 9.7.3 Denunciação da lide nos casos de evicção ............................................................................ 87 9.7.4 Denunciações sucessivas e denunciação per saltum ............................................................ 88 9.7.5 Denunciação da lide genérica ............................................................................................... 89 9.8 CHAMAMENTO AO PROCESSO ........................................................................................................... 90 9.9 NOMEAÇÃO À AUTORIA ................................................................................................................... 92 10 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................... 94 10.1 REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL ........................................................................................................ 94 10.1.1 Forma ............................................................................................................................... 94 10.1.2 Assinatura de quem possui capacidade postulatória ....................................................... 94 10.1.3 Endereçamento ................................................................................................................ 95 10.1.4 Qualificação das partes .................................................................................................... 95 10.1.5 Causa de pedir .................................................................................................................. 95 10.1.6 Pedido ............................................................................................................................... 95 10.1.7 Requerimento de produção de provas ............................................................................. 96 10.1.8 Requerimento de citação ................................................................................................. 96 10.1.9 Documentos indispensáveis à propositura da ação ......................................................... 96 10.1.10 Valor da causa .................................................................................................................. 96 10.2 EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL ............................................................................................................ 97 10.3 ALTERAÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL ........................................................................................................ 98 10.4 ADITAMENTO DA PETIÇÃO INICIAL ..................................................................................................... 98 10.5 INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL .................................................................................................. 98 10.5.1 Indeferimento com exame de mérito ............................................................................... 99 10.5.2 Indeferimento sem exame de mérito ............................................................................. 100 10.5.2.1 Inépcia ...................................................................................................................................... 100 10.5.2.2 Ilegitimidade “ad causam” ....................................................................................................... 101 10.5.2.3 Falta de interesse de agir ......................................................................................................... 101 10.5.2.4 Erro na escolha do procedimento ............................................................................................ 101 10.6 PEDIDO ...................................................................................................................................... 102 10.6.1 Cumulação de pedidos ................................................................................................... 103 11 RESPOSTA DO RÉU ..................................................................................................................... 106 11.1 TEORIA GERAL DA EXCEÇÃO ............................................................................................................ 106 11.1.1 Exceções substanciais ..................................................................................................... 106 11.1.2 Classificação das defesas ............................................................................................... 108 11.2 CONTESTAÇÃO ............................................................................................................................ 109 11.2.1 Regras fundamentais da contestação............................................................................ 110 11.3 REVELIA ..................................................................................................................................... 111 11.3.1 Classificação da revelia .................................................................................................. 111 11.3.2 Regras de proteção ao revel ........................................................................................... 112 11.4 EXCEÇÕES INSTRUMENTAIS ............................................................................................................ 113 11.4.1 Prazo das exceções instrumentais .................................................................................. 113 11.5 RECONVENÇÃO ............................................................................................................................ 115 11.5.1 Distinção entre reconvenção e pedido contraposto ....................................................... 116 11.5.2 Reconvenção e procedimento especial .......................................................................... 116 11.5.3 Requisitos da reconvenção ............................................................................................. 117 12 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO ............ 119 12.1 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES ......................................................................................................... 119 12.1.1 Ação declaratória incidental .......................................................................................... 119 5 12.1.1.1 Questão principal e questão incidental .................................................................................... 119 12.1.1.2 Questão preliminar e questão prejudicial ................................................................................ 120 12.1.1.3 A ação declaratória incidental .................................................................................................. 121 12.2 JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO............................................................................. 122 12.2.1 Extinção do processo sem exame do mérito .................................................................. 122 12.2.2 Extinção do processo com resolução do mérito por prescrição e decadência ................ 126 12.2.3 Extinção do processo com resolução do mérito em razão da autocomposição ............. 126 12.2.4 Julgamento antecipado da lide ...................................................................................... 127 12.2.5 Designação de audiência preliminar .............................................................................. 127 12.2.6 Despacho saneador ........................................................................................................ 128 12.2.7 Decisão parcial ............................................................................................................... 129 13 TEORIA GERAL DA PROVA ......................................................................................................... 130 13.1 CONCEITO DE PROVA .................................................................................................................... 130 13.2 PROVA E CONTRADITÓRIO .............................................................................................................. 131 13.3 PROCEDIMENTO PROBATÓRIO ........................................................................................................ 131 13.4 PODER INSTRUTÓRIO DO JUIZ ......................................................................................................... 131 13.5 PROVA E VERDADE ....................................................................................................................... 132 13.6 SISTEMAS DE VALORAÇÃO DA PROVA ................................................................................................ 133 13.6.1 Indícios ........................................................................................................................... 134 13.7 OBJETO DA PROVA ....................................................................................................................... 134 13.8 PRESUNÇÕES LEGAIS ..................................................................................................................... 136 13.9 ÔNUS DA PROVA .......................................................................................................................... 136 14 TEORIA DA DECISÃO .................................................................................................................. 138 14.1 CONCEITO DE SENTENÇA ................................................................................................................ 138 14.2 DECISÕES DE MÉRITO E DECISÕES DE ADMISSIBILIDADE ........................................................................ 138 14.3 ELEMENTOS DA DECISÃO JUDICIAL ................................................................................................... 138 14.3.1 Relatório ......................................................................................................................... 138 14.3.2 Fundamentação ............................................................................................................. 138 14.3.2.1 Ratio decidendi e obiter dictum ............................................................................................... 141 14.3.3 Dispositivo ...................................................................................................................... 141 14.4 DECISÃO E FATO SUPERVENIENTE .................................................................................................... 142 14.5 REQUISITOS DA DECISÃO JUDICIAL ................................................................................................... 142 14.5.1 Congruência externa ...................................................................................................... 142 14.5.2 Congruência interna ....................................................................................................... 143 14.6 EFEITOS DA DECISÃO ..................................................................................................................... 145 14.6.1 Efeitos principais ............................................................................................................ 145 14.6.2 Efeito reflexo da sentença .............................................................................................. 145 14.6.3 Efeito anexo .................................................................................................................... 145 14.6.4 Efeito probatório ............................................................................................................ 145 15 COISA JULGADA ......................................................................................................................... 146 15.1 CONCEITO .................................................................................................................................. 146 15.2 PRESSUPOSTOS DA COISA JULGADA .................................................................................................. 146 15.3 EFEITOS DA COISA JULGADA ............................................................................................................ 147 15.4 LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA ............................................................................................ 148 15.5 REGIMES DE PRODUÇÃO DA COISA JULGADA ...................................................................................... 148 15.6 INSTRUMENTOS DE REVISÃO DA COISA JULGADA ................................................................................. 14915.6.1 Relativização da coisa julgada ....................................................................................... 150 6 16 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA ......................................................................................................... 151 16.1 TERMINOLOGIA ........................................................................................................................... 151 16.1.1 Liminar x tutela antecipada............................................................................................ 151 16.1.2 Tutela antecipada x julgamento antecipado da lide ...................................................... 152 16.2 TUTELA ANTECIPADA ..................................................................................................................... 152 16.3 HISTÓRICO .................................................................................................................................. 153 16.4 O ATUAL SISTEMA DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA .................................................................................. 154 16.5 ANÁLISE DO ART. 273 ................................................................................................................... 154 16.5.1 Legitimidade para requerer a tutela antecipada ........................................................... 154 16.5.2 Execução da tutela antecipada ...................................................................................... 155 16.5.3 Pressupostos da tutela antecipada ................................................................................ 155 16.6 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA NOS CASOS DE INCONTROVÉRSIA PARCIAL DA DEMANDA .................................... 156 16.7 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONTRA O PODER PÚBLICO ......................................................................... 156 7 1 INTRODUÇÃO AO PROCESSO CONTEMPORÂNEO 1.1 CONCEITO DE PROCESSO A palavra processo pode ser aprendida em três acepções: 1. Processo como método de criação de normas. Toda norma se cria após um processo. A norma é resultado de um processo de elaboração. As leis, por exemplo, resultam de um processo legislativo. Normas administrativas resultam de um processo administrativo. A sentença resulta de um processo jurisdicional. Há ainda o processo negocial, que é o processo de criação de normas particulares. O nosso estudo é do processo jurisdicional civil. 2. Processo como procedimento. Processo como um conjunto de atos organizados para a prolação de um ato final. Processo aqui é o procedimento, a organização de vários atos concatenados e sucessivos. Essa é a acepção estrita de processo. Processo aqui é um ato jurídico complexo. 3. Processo como relação jurídica. Processo é o nome que se dá ao conjunto das relações jurídicas formadas entre os diversos sujeitos processuais. É uma metonímia. Toma-se um conjunto de relações como se fosse uma só. Relação jurídica travada entre os diversos sujeitos do processo. Atualmente, os três vetores (vertentes) metodológicos de compreensão do direito processual civil são: i. Perceber a relação entre Teoria do Direito e o Processo. O que a Teoria do Direito contribui para o Processo Civil Contemporâneo. ii. Perceber as relações entre o Direito Constitucional e o Processo. iii. Perceber a relação entre direito material e Processo. 1.2 PROCESSO E TEORIA DO DIREITO A teoria do direito em duas partes. Teoria das fontes e hermenêutica jurídica. São dois aspectos da teoria do direito que passaram por profundas transformações nos últimos anos. É preciso ver de que maneira o processo se relaciona com essas transformações. Três aspectos da teoria das fontes imprescindíveis para a compreensão do processo hoje. 1) Força normativa dos princípios. Princípio hoje é norma. Não se pode mais ignorar essa circunstância. Não se pode mais tratar os princípios como se fosse meras recomendações, 8 estratégias, programas. De um princípio extrai-se conseqüências jurídicas. Princípio é uma norma que se encontra em qualquer nível do direito. Encontra-se princípio tanto na Constituição, como nas leis. A Constituição não é só princípios. A Constituição apresenta princípios e regras, ela não é principiológica. A Constituição por sinal apresenta muito mais regras do que princípios. Nem sempre o princípio é superior à regra. Em um conflito entre princípio e regra (do mesmo nível) costuma prevalecer a regra, pois esta dá solução específica para o problema. Mas, evidentemente, em um conflito entre princípio constitucional e regra legal prevalece o princípio, devido a princípio da supremacia da Constituição. Em níveis diversos prevalece a norma hierarquicamente superior. O problema da força normativa dos princípios é a banalização dos mesmos. Princípio é norma, mas tem um método próprio a ser aplicado. Ver artigo “Teoria da Katchanga” no material de apoio. Recomenda-se a leitura do livro Teoria dos Princípios de Humberto Ávila, Editora Malheiros. Vide artigo 126 do CPC. Princípios Gerais de Direitos são utilizados como última técnica de preenchimento de lacunas, com base nesse artigo. Esse artigo está completamente superado, uma vez que princípio é norma. Princípio é norma e não uma técnica para superar lacuna. 2) Papel normativo da jurisprudência. Jurisprudência é norma geral. É norma que se aplica a inúmeras situações. Negar normatividade às decisões do Tribunal é ingenuidade. É uma norma geral construída pela atividade jurisdicional, portanto, uma norma geral construída a partir de um caso concreto. Não dá para entender o direito contemporâneo considerando a jurisprudência apenas como fonte auxiliar do direito. O ordenamento é construído pelo poder legislativo e, a partir dos problemas do legislativo, a jurisprudência também constrói o ordenamento jurídico. Posteriormente será estudada a teoria dos precedentes judiciais. 3) Mudança de Técnica Legislativa. Existe a técnica legislativa chamada casuística. O legislador lista uma série de casos passíveis de acontecer e dá respostas a esses casos. A legislação casuística, embora útil, não prevê todas as situações cotidianas. O legislador, portanto, mudou essa técnica legislativa. Para dar ao sistema mais mobilidade agregou à técnica casuística a técnica das cláusulas gerais. Uma cláusula geral é um texto normativo aberto na hipótese normativa e no consequente normativo. Todo texto normativo tem uma hipótese e tem um consequente. Uma cláusula geral apresenta um texto indeterminado. Ex. A propriedade deve cumprir a sua função social. Não se sabe o que é função social e o texto não dá uma definição de consequência normativa. É uma cláusula geral, um texto aberto. A CF, o CC, o CPC estão repletos de cláusulas gerais. O projeto de Novo CPC multiplica as cláusulas gerais processuais. O juiz que acaba definindo as hipóteses e as consequências das cláusulas gerais. As cláusulas gerais dão muita mobilidade e consequentemente muita insegurança ao sistema. Exemplos de cláusulas gerais processuais: artigo 14, II (cláusula da boa fé processual), parágrafo 5º do artigo 461 (cláusula de efetivação das decisões), artigo 1109 do CPC (cláusula de adequação do procedimento de jurisdição voluntária). O próprio “devido processo legal” é uma cláusula geral. Cláusula geral não é norma, mas sim texto normativo. De uma cláusula geral extraem-se normas. Não confundir cláusula geral com princípios. Há princípios que não decorrem de texto nenhum. Não confundir texto com norma. Norma é gênero, princípio e regras são espécies. As 9 cláusulas gerais processuais são uma característica marcante, hoje, no nosso ordenamento jurídico. Leitura importante: Judith Martins-Costa, “O direito privado como sistema em construção”: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/383/4/r139-01.pdf Três aspectos da hermenêutica jurídica imprescindíveispara a compreensão do processo hoje. 1) Mudança entre texto e norma. Norma é o que resulta da interpretação de um texto. Interpreta-se um texto para dele extrair uma norma. A norma é o produto da interpretação. Processo Legal serve tanto para designar a norma, como o texto. O princípio da boa fé é extraído da cláusula geral da boa fé que é texto. O texto é a base da interpretação, norma é o que eu extraio do texto. Costuma-se extrair o princípio de uma cláusula geral - texto. Distinguir, portanto texto de norma, norma é o produto de interpretação de um texto, de um texto pode-se extrair várias normas. Há textos escritos com conceitos indeterminados, é o caso das cláusulas gerais. Interpretam-se textos para deles se extraírem-se normas (regras ou princípios). Existe norma sem texto? Há normas que não decorrem de texto nenhum, ex. princípio da segurança jurídica. E há textos que não geram norma alguma: preâmbulo da Constituição: “sob a proteção de Deus”. 2) Interpretação como atividade criativa. Quem interpreta cria. A interpretação é uma atividade criativa. O grande desafio é conter os abusos na interpretação. A tarefa do jurista é tentar racionalizar a interpretação, mas toda interpretação é criadora. O desafio é conter o arbítrio na interpretação. 3) Desenvolvimento das máximas da proporcionalidade e da razoabilidade. Transformaram- se em máximas indispensáveis na hermenêutica jurídica. Não é qualquer interpretação que se admite. A interpretação não pode ser irrazoável. Mudou-se o conteúdo ético da interpretação jurídica. 1.3 PROCESSO E CONSTITUIÇÃO A Constituição tem uma grande importância na contemporaneidade. Houve grandes mudanças no Direito Constitucional: 1) Reconhecimento da força normativa da Constituição. Constituição é norma. 2) Desenvolvimento impressionante da jurisdição constitucional. O Controle de Constitucionalidade se ampliou consideravelmente, o controle de constitucionalidade se difundiu e entrou na mentalidade do aplicador do direito. A força normativa da Constituição fez com que se desse muita importância no controle de constitucionalidade. O Recurso 10 Extraordinário se transformou e ele é um modelo de controle de constitucionalidade. A mentalidade sobre recurso extraordinário mudou. 3) O desenvolvimento da teoria dos direitos fundamentais. Os direitos fundamentais passaram a estabelecer um patrimônio jurídico mínimo de uma sociedade. Os direitos fundamentais são frutos de conquistas históricas. A teoria dos direitos fundamentais se desenvolveu nos últimos 50 anos. Os direitos fundamentais passaram a ser encarados de duas maneiras (dimensões): (a) a chamada dimensão objetiva dos direitos fundamentais. Direitos fundamentais são normas que impõe um padrão ético mínimo ao direito. O direito deve ser construído com base nas normas de direitos fundamentais. As normas infraconstitucionais devem observar as normas de direitos fundamentais. Existem várias normas fundamentais de processo. Há normas fundamentais para cada ramo do direito. (b) dimensão subjetiva: direitos fundamentais são acima de tudo direitos. Há um direito fundamental que é individual. Os direitos fundamentais são direitos (com “d” minúsculo), ou seja, direitos que cada um de nós temos (direito à vida, à liberdade, à propriedade, ao contraditório, à herança, etc); O processo tem que estar organizado e preparado para dar proteção ao direito fundamental de uma pessoa. Relação processo e direitos fundamentais: de um lado o direito processual tem que estar em conformidade com as normas de direitos fundamentais. Um direito processual que vede o contraditório é inconstitucional. Além disso, é preciso que o processo esteja adequado, preparado para bem tutelar os direitos fundamentais em sua dimensão subjetiva. É preciso que o processo concretamente seja adequado a assegurar direitos fundamentais, não basta apenas que a norma processual seja adequada com a norma constitucional que prevê direitos fundamentais. Ao conjunto das grandes nove transformações mencionadas deu-se o nome de neoconstitucionalismo. Neoconstitucionalismo é a atual fase da ciência jurídica que se notabiliza por diversas transformações do pensamento jurídico dentre as quais as mencionadas anteriormente (3 da teoria das fontes, 3 da hermenêutica jurídica e 3 mudanças do direito constitucional). O professor prefere chamar o neoconstitucionalismo de neopositivismo porque é uma ciência jurídica renovada e não apenas uma renovação no Direito Constitucional. Alguns autores usam também a denominação pós positivismo. O professor recomendou dois textos de leitura obrigatória: Humberto Ávila: sobre neoconstitucionalismo (direitodoestado.com.br). Daniel Sarmento: também sobre neoconstitucionalismo. Costuma-se dizer que a ciência do processo passou por três fases: 1) Sincretismo ou praxismo: fase que vai até o final do século XIX e que se caracteriza pela falta de distinção entre processo e direito material e os estudos sobre processo eram estudos sobre a prática jurídica. Não havia ciência do processo propriamente dita. É a pré-história processual. 2) Fase da autonomia, fase científica ou fase do processualismo. Caracteriza-se pela construção da ciência do processo. Deu-se certidão de nascimento à ciência do processo. Essa fase vai do final do século XIX até meados do século XX. Nessa fase houve uma separação muito forte entre processo e direito material. Essa foio a fase de afirmação. 11 3) Instrumentalismo. Fase de amadurecimento. As preocupações com o processo passaram a ser sociais, de efetividade do processo, preocupação com o acesso à justiça, busca-se associar aqui o processo com o direito material. Quase todos os livros dizem que a evolução da ciência do processo termina aqui, portanto estaríamos aqui. O instrumentalismo não nega o processualismo, ele vai além do processualismo. O certo, no entanto, é que estamos vivendo uma 4ª fase da ciência do processo, que é exatamente a fase em que a ciência do processo recebe todas as transformações do neopositivismo. 4) Se caracteriza pela influência do direito constitucional no processo, ainda não se tem um nome para esta fase, há um nome que tende a se desenvolver “Neoprocessualismo”. Livro chave desse pensamento é o volume I de Marinoni. O nome que mais agrada o professor é neoprocessualismo, ou seja, uma renovação da ciência do processo, que partem de todos os nove pressupostos mencionados. Um autor neoprocessualista no Brasil, portanto, é o Marinoni. No Rio Grande do Sul há muitos autores neoprocessualistas. Ocorre que lá eles adotaram outra terminologia. Adotam essa terminologia e fazem questão de difundi-la: “Fase do Formalismo-Valorativo”. O grande líder dessa concepção é Carlos Alberto Alvaro (sem acento) de Oliveira. Esse autor tem um texto chamado Formalismo-Valorativo. Neoprocessualismo é o estágio atual da ciência do processo que incorporou as principais transformações da ciência jurídica nos últimos 50 anos (9 transformações elencadas). Aula 02 – 11/02 1.4 PROCESSO E DIREITO MATERIAL Todo processo discute um problema, e tem por objetivo a sua resolução. Esse problema de que cuida o processo é sempre um problema de direito material. É o direito material que dá sentido ao processo. Não existe tema de direito processual que não esteja relacionado ao direito material discutido no processo, processo e direito material guardam uma relação de simbiose ou complementaridade. É também chamada de relação circular (e não hierárquica): o processo serve ao direito material, ao tempo que é servido por ele (este lhe dá razão de ser). Essa forma de enxergar o processo denomina-se instrumentalidade: o processo é um instrumento de direito material e deve ser pensado à luz deste. 12 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS 2.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL É o mais importante princípioprocessual. A expressão foi traduzida do inglês due process of Law (Law, em inglês, tem acepção mais ampla do que lei: refere-se a todo o direito). Por isso há autores que preferem a expressão “devido processo constitucional”, embora a expressão devido processo legal seja amplamente aceita. Há também quem prefira traduzir due process como “processo justo” ou “processo equitativo”. Essas expressões podem ser todas tomadas como sinônimos. Essa expressão existe há mais de oito séculos, embora seu conteúdo tenha variado com o tempo. No Brasil, o processo devido foi desmembrado em vários outros princípios expressos, como o contraditório, a ampla defesa, duração razoável do processo etc. Também dele decorrem vários princípios implícitos (que, por isso, demandam uma argumentação maior). Sua razão de ser é limitar o poder estatal, é uma cláusula anti-tirania. O poder só pode ser exercido se obedecer a um processo devido. Processo, nesse sentido, não se limita ao devido processo jurisdicional: abarca também o devido processo legislativo (voltado à produção de normas) e devido processo administrativo. Atualmente, fala-se também em devido processo privado. Por esse entendimento, até mesmo o poder privado deve ser exercido devidamente. Por exemplo, em casos de punição a membros de clubes, escolas, condomínios. O STF já decidiu no sentido que o devido processo legal é um direito fundamental que se aplica inclusive no âmbito privado (eficácia horizontal do direito fundamental). O art. 57 do CC consagra esse entendimento. Ao longo da história, o devido processo legal passou a ser compreendido em duas dimensões: 1. Dimensão formal ou processual: conjunto de garantias processuais formais. 2. Dimensão substancial ou material: o devido processo legal tem, para o direito brasileiro, uma feição peculiar (essa acepção é criação brasileira). O STF entende que o devido processo legal, em seu aspecto substancial, garante a razoabilidade e proporcionalidade dos atos normativos. Para o STF, proporcionalidade e razoabilidade são normas extraídas do DPL substancial, ou seja, o DPL é a base normativa constitucional desses princípios. Existem algumas críticas a esse entendimento do STF. A primeira, feita por Humberto Ávila, é que essa construção é inútil e desnecessária, já que razoabilidade e proporcionalidade poderiam ser extraídas de outras normas constitucionais, como a igualdade. Outra crítica afirma que há erro nesse entendimento: o devido processo legal substancial deveria ser compreendido como é nos EUA, onde surgiu. Lá, presta-se como meio de garantir direitos fundamentais implícitos (a crítica não procede, o §1º do art. 5º da CF já oferece essa garantia). 13 Sobreprincípios são aqueles princípios dos quais se derivam outros princípios chamados subprincípios. A expressão não está relacionada à importância da norma. Para Humberto Ávila (posição própria, francamente minoritária), existem regras, princípios e postulados. Postulados são normas dirigidas à aplicação de outras normas. Modelo constitucional do processo significa um modelo do processo de acordo com o devido processo legal garantido constitucionalmente. De todos os modelos mundiais de devido processo legal, dois se destacam: 1. Modelo dispositivo de processo: o protagonismo do processo é dado às partes. A elas cabem impulsionar o processo e promover-lhe o andamento. O processo é visto como coisa das partes, o juiz é um espectador da luta das partes. É um modelo liberal de processo em que o Estado, na figura do juiz, não intervém. É característico dos países de common law. o Princípio dispositivo: regra que atribui à parte (e não ao juiz) aquela tarefa processual. o No processo penal utiliza-se a expressão processo acusatório. 2. Modelo inquisitivo de processo: é aquele em que há um protagonismo do juiz, que não só decide como é responsável por boa parte da condução do processo. Atribuem- se ao juiz muitos poderes. É um modelo adotado historicamente pelos países de civil law, como a Alemanha, França e Itália. Por isso, é denominado modelo intervencionista ou social. a. Há quem sustente que tal modelo é autoritário e, por isso, incompatível com o devido processo legal e inconstitucional. b. Existe uma corrente, denominada garantismo processual, que prega que é preciso deixar ao juiz apenas a tarefa de julgar, na expectativa de eliminar do processo resquícios de autoritarismo. Essa corrente é mais forte no âmbito do processo penal, no processo civil permanece uma visão inquisitiva. No processo civil brasileiro há muitas regras inquisitivas. Por isso se diz que o processo brasileiro é inquisitivo. No entanto, há nele várias manifestações do modelo dispositivo. Atualmente, fala-se em um terceiro modelo: 3. Modelo cooperativo: todos os sujeitos do processo (juiz e partes) devem conduzir o processo em equilíbrio, em diálogo, sem qualquer assimetria entre eles. O juiz seria protagonista apenas na decisão. A lealdade seria a marca desse modelo, visto como 14 alguns doutrinadores (Fredie Didier, Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Daniel Mitidiero, Dierle Nunes, Hermes Zaneti) como o modelo ideal de acordo com regime democrático estabelecido pela Constituição (que traz também a solidariedade como fundamento). a. Nessa forma de entender, o princípio da cooperação seria um subprincípio do devido processo legal, do princípio democrático e da solidariedade. São consequências práticas desse princípio: i. O juiz tem o dever de esclarecimento, de dar decisões claras e de pedir esclarecimento se as partes se manifestarem de modo obscuro. ii. O juiz tem o dever de prevenção: o juiz, diante de uma falha processual das partes, tem o dever de apontar a falha e mostrar como corrigi-la. Para o STJ, não se admite inépcia da inicial antes de oportunizar à parte a possibilidade de retificá-la. iii. O juiz tem o dever de consulta: não pode decidir com base em questão a respeito da qual não houve oportunidade de a parte manifestar-se e convencê-lo da correção de seus argumentos. Aula 03 – 14/02 Os princípios a seguir são explícitos (previstos expressamente na Constituição) e adjetivam o processo. Esse rol é meramente exemplificativo, não exaure todos os princípios. 2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO Aspecto formal: direito à participação no processo (pelos sujeitos interessados). Aspecto substancial: a participação formalmente garantida deve ser apta a poder influenciar a decisão. É o que se costuma chamar de ampla defesa. contraditório = participação + poder de influência Exemplos decorrentes do contraditório: o direito de produzir provas em juízo (aspecto substancial); o dever de consulta do juiz às partes (aspecto substancial). Liminar x contraditório: a possibilidade de haver decisões liminares é uma demonstração de mitigação do contraditório. Contudo, é uma mitigação legítima, pois se funda em urgência (o pronunciamento não pode aguardar a manifestação da outra parte sob pena de inutilidade) e é provisória (o contraditório é postergado, mas não eliminado). É uma medida que se propõe a prestigiar a efetividade do processo, sem mitigar totalmente o contraditório. 15 Contraditório x princípio da congruência: violar o contraditório é violar o princípio da congruência, já que o juiz estaria decidindo com base naquilo sobre o que as partes ainda não se manifestaram. 2.3 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO É o princípio processual explícito mais novo da CF. Está previsto no inciso LXXVIII do art. 5º e foi acrescentado em 2004, o que não significa que antes deste marco não havia sua exigência. Esse princípio decorre logicamente do devido processo legal e havia sua previsão em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. Ou seja, tal princípio não é novidade da EC 45 exceto quanto a sua previsão expressa.Sua previsão expressa é uma forma de reforçar seu conteúdo. O respeito ao devido processo legal importa em certa demora na condução do processo, já que demanda a existência de contraditório, produção de provas e recursos. O que se impõe é que a demora do processo seja apenas a necessária, sem postergações indevidas. A razoável duração do processo não significa, portanto, processo rápido (princípio da celeridade é uma expressão incorreta – a garantia constitucional não é a celeridade, mas a demora razoável). Os critérios para se aferir, caso a caso, a demora do processo são: a) Complexidade da causa; b) Comportamento das partes; c) Comportamento do juiz; d) Estrutura do órgão jurisdicional. Formas de punição da demora irrazoável: (a) responsabilização do Estado em caso de dano; (b) o órgão jurisdicional deixa de ascender por merecimento na carreira; (c) designação de outro juiz para julgar a causa (perda de competência e redistribuição, através da representação administrativa do art. 198 do CPC). Também o processo administrativo se submete à imposição de razoável duração. 2.4 PUBLICIDADE O processo devido é processo público. A publicidade é um direito fundamental que possui duas funções: proteger as partes de julgamentos secretos e arbitrários e permitir o controle público das decisões. Deste modo, pode-se falar em publicidade interna (voltada às partes) e publicidade externa (voltada a terceiros). A CF permite restrições à publicidade processual. No entanto, tais restrições valem apenas para a publicidade externa. Não se pode restringir à parte o acesso ao processo (publicidade interna). As restrições à publicidade externa têm lugar nos casos em que se deve velar pela preservação da intimidade das partes ou do interesse público. 16 QUESTÃO POLÊMICA. STF e as transmissões televisivas dos julgamentos: “O STF e o populismo judicial”, de Virgílio Afonso da Silva e Conrado Hubnere; e “A justiça na TV”, de Gustavo Binebojm. Disponíveis no material de apoio 3. 2.5 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS São aqueles que não têm previsão expressa, mas decorrem logicamente do devido processo legal e são tão importantes quanto os expressos. 2.5.1 Princípio da Efetividade Processo efetivo é aquele que consegue concretizar, realizar o direito que foi reconhecido. Hoje, falar em direito fundamental à efetividade é falar em direito fundamental à execução, titularizado pelo credor (Marinoni trata do tema). Esse direito, que começou a ser debatido e valorizado recentemente, opõe-se às garantias das quais dispõe o devedor, (decorrentes da dignidade), que sempre foram objeto de maiores preocupações normativas e doutrinárias. No choque entre esses direitos fundamentais, deve- se fazer uma ponderação entre os valores envolvidos. 2.5.2 Princípio da Adequação A doutrina agasalha três critérios para aferir a adequação do processo: a) Adequação objetiva: o processo deve ser adequado ao seu objeto, ou seja, àquilo que pretende tutelar. Um exemplo da sua aplicação é a criação de procedimentos especiais para melhor resguardar determinados interesses. b) Adequação subjetiva: o processo deve ser adequado aos sujeitos que vão se valer do processo. Ex: regras especiais que garantem trâmite mais rápido em processos envolvendo idosos; prazos diferenciados para a Fazenda Pública. c) Adequação teleológica: o processo deve ser adequado aos seus fins. A adequação deve ser feita pelo legislador, através da criação de regras adequadas ao atendimento desses critérios. Atualmente, fala-se também numa adequação jurisdicional do processo. Não basta a criação de regras processuais abstratamente adequadas. É preciso que o juiz possa fazer a adequação do processo às peculiaridades do caso concreto. O tema é polêmico. 17 2.5.3 Princípio da boa-fé processual É também princípio constitucional implícito decorrente do devido processo legal (o STF já entendeu nesse sentido). A boa-fé se divide em boa-fé fato (boa intenção, acreditar estar agindo licitamente – é um estado de consciência) e boa-fé norma (boa-fé como norma de conduta). A boa-fé como norma de conduta impõe comportamentos eticamente desejados, leais, probos. Não está relacionada com um estado de consciência, é antes uma imposição legal (sendo por isso chamada também de boa-fé objetiva). O princípio processual da boa-fé é sinônimo de boa-fé objetiva. Anteriormente era chamado de lealdade processual, mas esta é apenas um aspecto da boa-fé. Em nível infraconstitucional, o princípio da boa-fé processual é explícito, previsto no art. 14, II do CPC. Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: II - proceder com lealdade e boa-fé; Esse princípio se impõe a todos aqueles que participam do processo, inclusive o juiz. É uma cláusula geral, aberta, que não estabelece previamente os comportamentos tidos como inadequados nem comina sanções a priori. Como toda cláusula geral, é uma construção histórica: é a experiência que vai demonstrar seu conteúdo. Ao longo da história foram muitas as concretizações deste princípio. As principais são: a. vedação de comportamentos dolosos (são ilícitos os comportamentos animados por má-fé); b. dever de cooperação; c. vedação ao abuso de direito; d. tornar ilícitos comportamentos contraditórios (nemo potest venire contra factum proprium), que significa comportar-se de modo a induzir o outro a acreditar na coerência deste comportamento, gerando uma expectativa legítima não cumprida – singularmente considerados, são comportamentos lícitos, mas praticados concomitantemente se tornam ilícitos (ex: oferecer um bem em penhora e alegar posteriormente sua impenhorabilidade); Ver em civil os deveres anexos da boa-fé (são semelhantes aos deveres de cooperação). 18 3 PRECLUSÃO Preclusão é a perda de um poder jurídico processual (um direito processual da parte ou uma competência jurisdicional). A preclusão pode atingir tanto as partes quanto o juiz. Não existe processo sem preclusão, já que é esta que garantem a movimentação do processo no sentido de sua resolução. O processo é uma sequência de atos, e a preclusão do ato antecedente abre caminho para a realização ato subsequente, de forma a organizar e racionalizar o procedimento. Deste modo, a preclusão é uma técnica que faz valer alguns princípios, como a segurança jurídica, a duração razoável do processo e a boa-fé. 3.1 CLASSIFICAÇÃO A preclusão pode ser classificada de acordo com o fato que a gera: a) Preclusão temporal: perda de um poder processual em razão da perda do prazo para exercitá-lo. b) Preclusão consumativa: perda do direito em razão do seu exercício. c) Preclusão lógica: perda de um direito processual em razão da prática de um ato anterior com ele incompatível, ou seja, decorre de comportamento contraditório. Ex: a aceitação gera a preclusão lógica do direito de recorrer. Há também doutrinadores que sustentam a existência de uma quarta modalidade de preclusão: d) Preclusão sanção (ou por ato ilícito): é uma pena pela prática de determinados ilícitos processuais. Ex: perda da competência do juiz que excedeu seus prazos (art. 198); perda do direito de falar nos autos no caso de atentado. OBS1: Preclusão para o juiz não é sinônimo de preclusão pro iudicato (preclusão que reputa decidida uma questão, mesmo sem ter sido julgada). OBS2: Preclusão não se confunde com decadência e prescrição (tais institutos se relacionam com os direitos materiais). 3.2 PRECLUSÃO EM QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA 19 Questões de ordem pública são aquelas que o juiz pode conhecer de ofício (ex: falta de pressupostos processuais, ausência de condições da ação etc.). Enquanto o processo estiver pendente, não há preclusão para o exame das questões de ordem pública. Terminado o processo, apenaspor ação rescisória é que poderão ser examinadas. Findo o prazo da rescisória, não podem mais ser examinadas. A expressão a qualquer tempo diz respeito a esse lapso entre o início do processo e o seu fim, isto é, não quer dizer que o exame perdura eternamente. Há preclusão para o reexame das questões de ordem pública? Se o juiz já examinou e decidiu uma questão de ordem pública, pode voltar a examiná-la? A maior parte da doutrina entende que sim, o juiz pode reexaminar essas questões a qualquer tempo. O professor adota uma postura minoritária (mas adotada por doutrinadores de peso como José Carlos Barbosa Moreira), que entendem que estas questões estão sujeitas a preclusão após serem decididas. 20 Aula 04 – 15/02 4 JURISDIÇÃO 4.1 CONCEITO Jurisdição é o poder atribuído a terceiro imparcial (1) para, mediante um processo (2), reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas (3), de modo imperativo (4) e criativo (5), em decisão insuscetível de controle externo (6) e apta a tornar-se indiscutível pela coisa julgada (7). (1) A jurisdição é atribuída sempre a alguém estranho à lide (aspecto objetivo) e que não guarda com esta qualquer outro interesse (aspecto subjetivo). A qualidade de terceiro à causa (aspecto objetivo) é também chamada de impartialidade (de parte). Esses atributos não se confundem com a neutralidade. O juiz não é neutro, já que todo ser humano tem seus valores, compreensões, experiências. A neutralidade é um mito já superado, o que se exige do juiz é imparcialidade: as partes devem ser tratadas em pé de igualdade. Em razão de ser atribuída a terceiro, considera-se a jurisdição um exemplo de heterocomposição, que significa dizer que a composição do problema é realizada por alguém estranho a este. Chiovenda afirmava que a característica da jurisdição é ser uma atividade substitutiva, ou seja, há substitutividade, consistente no fato de que o juiz substitui-se às partes para a resolução do problema. Na jurisdição o Estado impõe a sua vontade para solver o problema, substituindo a vontade das partes. Essa substitutividade, embora seja uma característica da jurisdição, não é exclusividade dela. Outros tribunais, de natureza administrativa (Tribunais de Contas, CADE etc.), também exercem atividade substitutiva. Apesar disso, não se pode considerar que esses tribunais exerçam jurisdição, por lhes faltarem outros caracteres exclusivos da jurisdição. (2) A jurisdição só se realiza processualmente, só há jurisdição como resultado de um processo (ao menos no direito brasileiro). Não existe jurisdição instantânea. Para que uma questão seja resolvida, um processo deve preceder a essa solução. (3) A jurisdição é uma atividade que se realiza sempre diante de uma situação concreta, um problema. O órgão jurisdicional é chamado a apresentar solução a um problema concretamente apresentado (“não existe processo oco”). Carnelutti afirmava que a jurisdição atua sempre “por encomenda”. Mesmo nas situações que se discute leis em tese (ADIs), existe um problema concreto (nesse caso, a constitucionalidade da norma). O Judiciário não atua abstratamente, ao contrário do que ocorre com o Legislativo. 21 Essa situação concreta deduzida em juízo, em regra, é uma lide (há processos cujo problema apresentado não é uma lide, como na jurisdição voluntária – nesses casos há uma situação concreta, mas não litigiosa, a ser resolvida). A lide costuma ser caracterizada como um conflito de interesses caracterizado por uma pretensão resistida. Ao requerer a atuação jurisdicional, espera-se que esta aja para reconhecer, efetivar ou proteger um direito. (4) A jurisdição é ato de império, de poder. A decisão do juiz não é uma simples recomendação, mas uma ordem, uma prescrição. É uma manifestação de soberania. A jurisdição é monopólio do Estado. No entanto, pode, desde que outorgada pelo Estado, ser exercida também por particulares. Não há obstáculo teórico para que o Estado permita que particulares exerçam a jurisdição. No Brasil, reconhece-se a arbitragem como espécie de jurisdição privada, atribuindo-se a esta características próprias da atividade jurisdicional. Na Espanha, reconhece-se jurisdição inclusive a tribunais costumeiros. (5) Toda atividade jurisdicional é uma atividade criativa. Quem julga invariavelmente cria. O que se exige é que existam parâmetros objetivos para controlar essa criatividade. Em toda decisão judicial se encontra ao menos duas normas: 1. Uma norma jurídica individualizada que regula o caso concreto que lhe foi apresentado. 2. Uma norma jurídica geral apta a resolver casos semelhantes futuros. Ex: um indivíduo pleiteia judicialmente a inscrição em um concurso que lhe foi negada em razão da idade. O juiz decide, permitindo a inscrição (norma individual) e afirmando que tal restrição é ilegal (norma geral). Um terceiro pode ingressar em juízo apresentando situação semelhante e requerendo a mesma solução jurídica. Essa norma geral é o que se chama de jurisprudência (entendimento geral consolidado aplicado a situações semelhantes). Entender essa afirmação é fundamental para entender o sistema de precedentes no Brasil. (6) A jurisdição só é controlada por si mesma. Uma lei não pode afetar a coisa julgada, que também não pode ser controlada administrativamente. As atividades administrativa e legislativa podem ser controladas jurisdicionalmente. Já o contrário não é válido (o resultado da atividade jurisdicional não pode ser controlado legislativa ou administrativamente). É isso que faz com que a solução dada por tribunais administrativos não seja jurisdição. 22 (7) A coisa julgada é uma estabilidade típica e exclusiva da jurisdição, oponível até contra si mesma: nem a jurisdição pode rever suas decisões quando amparadas pela coisa julgada. O Senado, ao julgar o Presidente, exerce jurisdição de forma atípica. 4.2 EQUIVALENTES JURISDICIONAIS São as formas de solução de conflito não jurisdicionais. Existem quatro: 1. Autotutela: solução egoística dos conflitos. Na autotutela, um dos conflitantes submete o outro e impõe, pela força, a solução do problema. Por sua natureza, deve ser entendida com forma excepcional de resolução de conflitos. Como regra, é proibida e tipificada como crime (exercício arbitrário das próprias razões, art. 345 do CP). Há casos em que a autotutela é lícita, como na legítima defesa, no direito de greve, na guerra, no desforço incontinente (reação do possuidor ao esbulho) e na autoexecutoriedade dos atos administrativos. 2. Autocomposição: solução altruísta do conflito. Pela autocomposição, os próprios conflitantes resolvem o problema, mediante solução negocial e não imposta (é concretizada por um negócio jurídico). A autocomposição pode se dar por renúncia (uma parte abdica do seu direito) ou por transação (concessões recíprocas). Ao contrário da autotutela, a autocomposição é estimulada, através das alternative dispute resolutions (ADR) ou formas alternativas de resolução de conflitos. Pode ser judicial ou extrajudicial. É direito das partes levar a autocomposição extrajudicial à homologação pelo juiz, para transformá-la em título executivo (art. 57 da Lei 9.099/95 e art. 475-N, V do CPC). 3. Mediação: um terceiro (mediador) é convocado para auxiliar as partes na busca de uma solução negocial. O mediador não decide (não há heterocomposição), mas se presta a facilitar o diálogo e permitir que as partes cheguem a uma solução por autocomposição. 4. Solução de conflito por tribunal administrativo: os tribunais administrativos tem um perfil muito semelhante ao dos tribunais jurisdicionais. No entanto, lhes falta o atributo da coisa julgada, de modo que suas decisões podem ser objeto de controle externo. 4.3 ARBITRAGEM Na arbitragem, um terceiro, escolhido pelas partes, é chamado pararesolver o conflito. Nesse ponto, a arbitragem se distancia da mediação: o árbitro é juiz (pela lei brasileira, juiz de fato e de direito), e resolve o conflito. 23 No Brasil, a arbitragem é voluntária, e pode ser utilizada por pessoas capazes. Até entes públicos podem se submeter à arbitragem. No caso de PPPs a previsão de arbitragem é expressa na lei. Por ser voluntária, uma cláusula que impõe a arbitragem em contrato de adesão é nula. Podem ser decididos por árbitro apenas os conflitos relacionados a direitos disponíveis. Esse requisito, no entanto, não é incompatível com pessoas jurídicas de direito público (pode tratar-se, por exemplo, de interesse negocial da pessoa jurídica, que não se confunde com o interesse público). A arbitragem é uma concretização do princípio da autonomia privada: o Estado outorga à parte a possibilidade de resolver seus conflitos de maneira particular e exercer sua liberdade de autorregulamento. O árbitro pode ser qualquer pessoa capaz, desde que constituído para tal. Em regra, constitui- se uma junta arbitral, composta por três árbitros que irão julgar a causa (uma parte indica um árbitro, a outra parte indica o outro e uma entidade escolhida pelas partes indica o terceiro). O árbitro só é juiz para aquela causa a que foi designado. Na arbitragem desenvolve-se também um processo, com petições, produção de provas etc., mas este se dá no âmbito privado, o que garante às partes a possibilidade de regulamentar os aspectos formais do processo (como prazos etc.). Esse processo, por imposição constitucional, se submete também ao devido processo legal. A decisão do árbitro é chamada de sentença arbitral. Não cabe recurso da decisão arbitral, exceto embargos de declaração. Vencido o prazo dos embargos, a decisão arbitral transita em julgado, não cabendo mais revisão judicial da decisão. Diante da decisão arbitral, ao Judiciário só cabe executá-la (a sentença arbitral é título executivo judicial, mas não pode ser executada pelo próprio árbitro) ou anulá-la (e não revê-la, redecidindo a questão) em caso de vício que importe na anulação da sentença. A ação para anular a decisão arbitral é ação rescisória da sentença arbitral, que pode ser proposta no prazo máximo de 90 dias. Vencido esse prazo, a sentença arbitral se torna inexpugnável. A sentença arbitral dispensa homologação judicial. Publicada, já adquire status de título executivo judicial. As hipóteses que permitem sua anulação estão previstas de maneira exaustiva nos arts. 32 e 33 da Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem). O judiciário não adentra no mérito da decisão arbitral. As partes podem inclusive escolher qual direito deve ser aplicado ao caso. Dois argumentos costumam ser defendidos para sustentar que a arbitragem não é jurisdição: a arbitragem não é atividade do Estado e não pode executar suas decisões. Apesar disso, a corrente majoritária entende que a arbitragem é sim jurisdição. Existem duas espécies de convenção de arbitragem: 1. Cláusula compromissória: convenção de arbitragem em que as partes decidem que casos futuros decorrentes daquele negócio serão resolvidos por árbitro. A cláusula compromissória é prévia e abstrata. É comum em contratos de sociedade e em 24 grandes transações comerciais. Pode ser cheia (completa, estabelecendo todas as diretrizes da arbitragem, como o árbitro etc.) ou vazia (apenas prevê a utilização da arbitragem, sem maiores detalhes). 2. Compromisso arbitral: é uma convenção que pressupõe um conflito já existente. Pode acontecer que uma das partes se recuse a cumprir suas obrigações arbitrais, como constituir um árbitro. Nesse caso, a manifestação da parte pode ser suprida judicialmente. A convenção de arbitragem pode ser também alegada em defesa, arguindo a incompetência do juiz para aquela causa. Caso a parte não se manifeste na defesa, presume-se a revogação tácita da convenção de arbitragem. A desistência da arbitragem, desde que manifestada por ambas as partes, é plenamente possível. 4.4 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 4.4.1 Princípio da Investidura A jurisdição somente pode ser exercida por quem tenha sido devida e previamente investido na função jurisdicional. 4.4.2 Princípio da inevitabilidade da jurisdição A jurisdição é inescapável, não é possível a alguém se furtar da sua incidência. Todos estão sujeitos às decisões jurisdicionais, querendo ou não. 4.4.3 Princípio da indelegabilidade Costuma-se defender que a jurisdição é indelegável, o que importa na impossibilidade de o órgão jurisdicional delegar suas funções a outro órgão. A rigor, apenas os poderes decisórios são indelegáveis. O juiz, no exercício da jurisdição, possui quatro espécies de poder: 1. Ordinatórios: poder de praticar atos de condução do processo. Pode ser delegado a servidores, por expressa autorização constitucional (art. 93, XIV da CF). 2. Instrutórios: poder de produzir provas. Os tribunais podem delegar poderes instrutórios a juízes de primeira instância. 3. Decisórios: poder de decidir a causa, dando-lhe decisão definitiva. 4. Executivos: poder de executar as decisões. Os tribunais podem delegar poderes executivos a juízes de primeira instância. 25 Aula 05 – 21/02 4.4.4 Princípio da territorialidade A jurisdição, manifestação da soberania estatal, se exerce sempre sobre um dado território. A palavra foro serve pra designar o território onde a jurisdição é exercida. Na Justiça Estadual, a divisão da jurisdição se dá em comarcas, que pode abranger apenas uma ou mais cidades. Há comarcas que se dividem em distritos, que podem abranger um ou vários bairros. A Justiça Federal se divide em seções judiciárias, que correspondem cada uma a um estado (a seção judiciária é sempre um estado da federação). A seção judiciária se divide em subseções, que podem abranger uma ou mais cidades. 4.4.4.1 Extraterritorialidade O art. 230 do CPC autoriza que o oficial de justiça de uma comarca se dirija a outra para realizar citações e intimações, desde que essa outra comarca seja fronteiriça (ou contígua – é incorreto falar em vizinha, já que para o direito vizinhança não abrange apenas a contiguidade) ou esteja na mesma região metropolitana. Ainda que estejam em estados distintos, é possível desde que haja contiguidade. Ressalte-se que nesses casos os poderes do oficial restringem-se à citação e intimação. Penhora e demais atos não estão abrangidos, e devem ser realizados por precatória. Já o art. 107 traz outro caso de extraterritorialidade. Tratando de imóveis que se estendem por mais de uma comarca, o juiz competente (no caso, por prevenção) exerce jurisdição sobre todo o imóvel, incluindo a porção pertencente à outra comarca. 4.4.5 Princípio da inafastabilidade Está consagrado no inciso XXXV do art. 5º da CF, que dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Esse dispositivo assegura a todos o direito de acesso à justiça, isto é, de levar, caso desejem, qualquer questão à apreciação do Poder Judiciário. Excepcionalmente, a jurisdição pode ser exercida por outro órgão, como no caso do crime de responsabilidade, julgado pelo Senado. Mesmo o mérito de atos administrativos discricionários pode ser controlado pelo Judiciário, através do controle do devido processo legal substantivo (razoabilidade, proporcionalidade, etc.). Na CF/69, havia a possibilidade de condicionar legalmente o acesso ao judiciário ao esgotamento da instância administrativa. Um exemplo dessa restrição estava na antiga lei do mandado de segurança. Essa restrição deixou de existir com a CF/88, que não permite mais o condicionamento da jurisdição pela lei. 26 No entanto, ainda existem leis, anteriores e posteriores à CF/88, que condicionam esse acesso. Inicialmente, essa restrição é aceita, de forma ponderada: questões que podem ser resolvidas administrativamente
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