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Vitória Barbosa Turma XIII – 2020.1 SEMIOLOGIA DA SUPRARRENAL ➢ As suprarrenais são glândulas localizadas no polo supe- rior dos rins, na porção retroperitoneal, a nível da 12ª vértebra ➢ Essa glândula é composta por dois tecidos embriologia- camente distintos: córtex (epitelial) e medula (neural) • Córtex: responsável por secretar mineralocorticoides (aldosterona), glicocorticoides (cortisol) e androgêni- os (hormônios sexuais) • Medula: responsável por secretar as catecolaminas (dopamina, norepinefrina e epinefrina) ➢ A síntese dos hormônios do córtex da suprarrenal será regulada por dois circuitos endócrino de feedback: eixo HHS e SRAA. Já a síntese das catecolaminas será regulada a partir de situações de estresse (ex: hipovolemia, hiperglicemia) ➢ No que se refere as doenças da suprarrenal, estas estão diretamente relacionadas com a hiperprodução hormonal ou com o déficit hormonal ➢ A hiperprodução hormonal cortical pode provocar: • Síndrome de Cushing: cortisol • Hiperaldoteronismo: aldosterona • Síndrome virilizante: androgênio ➢ Já a hiperprodução hormonal medular pode provocar quadros de feocromocitoma HIPERPRODUÇÃO HORMONAL CORTICAL SÍNDROME DE CUSHING ➢ Caracterizada pelo aumento dos níveis de cortisol (hipercorticolismo), provocada principalmente por um tumor na glândula ou pela hiperplasia bilateral ➢ É considerada uma doença primária ➢ A causa mais comum da SC é a iatrogênica, que resulta do uso prolongado de glicocorticoide por via oral, parenteral, intranasal ou cutânea, ocasionando a supressão do ACTH e atrofia adrenocortical bilateral ➢ A SC endógena é mais raro e causa a perda do mecanismo de retroalimentação normal do HHS e do ritmo circadiano de secreção do cortisol ➢ Sinais e sintomas: • Obesidade centrípeta • Membros finos • Giba dorsal • Fácies pletórica e em “lua cheia” • Estrias vinhosas largas • Hirsurtismo/ Hipertricose • Acne • Hipertensão • Hematomas e equimoses • Oligo ou amenorreia • Impotência • Hipotrofia muscular e astenia • Alterações do psiquismo • Tolerância à glicose reduzida • Hiperpigmentação cutaneomucosa ➢ Diagnóstico: tem de ser realizada após se afastar, pela anamnese detalhada, o uso de glicocorticoides exógenos. É realizado pelo menos 2 testes com alta sensibilidade como cortisol salivar, cortisol urinário livre e teste de supressão com baixas doses de dexametasona ➢ Achados laboratoriais: elevados níveis de cortisol e baixos níveis de ACTH ➢ Exame de imagem: TC de abdome/ suprarrenais HIPERALDOSTERONISMO ➢ Caracterizada pelo aumento dos níveis de aldosterona ocasionado principalmente pela presença de tumores produtores de aldosterona ou hiperplasia bilateral idiopática ➢ Sinais e sintomas: • Supressão da renina • Paciente apresenta HAS (devido ao aumento da volemia) de difícil controle • Astenia e fraqueza musculas • Retenção de sódio • Excreção aumentada de potássio • Alcalose metabólica • Casos mais graves: doença cerebrovascular ➢ Diagnóstico: relação aldosterona/ atividade plasmática de renina ➢ Achados laboratoriais: elevados níveis de aldosterona (hiperaldosteronismo) e baixos níveis de renina (hiporeni- nêmico) e potássio (hipocalemia) ➢ Exame de imagem: TC das suprarrenais SÍNDROME VIRILIZANTE ➢ Também conhecida como hiperplasia adrenal congênita ➢ Caracterizada pelo aumento dos níveis de hormônios androgênicos ocasionado principalmente por uma deficiência da 21-hidroxilase ou pela presença de um tumor de androgênios ➢ Trazem consequência para crianças e mulheres adultas, uma vez que, nos homens adultos a contribuição das suprarrenais para a produção de testosterona é pouco expressiva ➢ Quadro clínico: • Infância: puberdade precoce periférica com características isossexuais no sexo masculino e heterossexuais no femi- nino. Nos meninos ocorre aumento do pênis e preservação do volume testicular e nas meninas há aumento do clitóris sem desenvolvimento. Além disso, esses indivíduos apresentam fechamento epifisário antecipado o que resulta em baixa estatura • Mulheres adultas: presença de acne, hirsutismo, alopecia androgenética, irregularidade menstrual, infertilidade clitoromegalia, voz grossa HIPERPRODUÇÃO HORMONAL MEDULAR FEOCROMOCITOMA ➢ Corresponde a um tumor de células cromafins ➢ Acomete principalmente indivíduos na faixa etária 30-40 anos ➢ O paciente irá apresentar excesso de catecolaminas (resposta ao estresse/ compressão ocasionada pelo tumor) ➢ As manifestações surgem em crise, com sintomas abruptos e de curta duração ➢ Quadro clínico: • Presença de efeitos adrenérgicos • Resposta de “luta ou fuga” • Paciente em alerta • Piloereção, sudorese, dilatação brônquica • Taquicardia • Aumento da glicogenólise e lipólise • Hiperglicemia • Aumento da PA devido a resistência vascular (crises de HAS) • Cefaleia ➢ Achados laboratoriais: aumento dos níveis das catecolaminas e pelas metanefrinas (mais utilizado) ➢ Exame de imagem: TC e RM de abdome HIPOPRODUÇÃO DA ADRENAL ➢ Corresponde ao déficit hormonal ocasionada pela destruição do córtex adrenal a qual irá atingir de forma global (mineralocorticodes, glicocorticoides e androgênios) ➢ Mais frequente em mulheres (pois a sua causa está geralmente relacionada a doenças autoimunes) na faixa etária dos 30-50 anos ➢ Causas: • Adrenalite autoimune (isolada ou por síndrome poliglandular) • Adrenalite infecciosa (tuberculose, HIV, fungos) • Doenças infiltrativas não infecciosa • Hemorragia suprarrenal bilateral • Drogas • Adrenalectomia bilateral ➢ ISP ou doença de Addison: caracterizada pela destruição do córtex da suprarrenal. Além da deficiência de cortisol, costuma ocorrer também deficiência de aldosterona ➢ Insuficiência da suprarrenal secundária: caracterizada pela alteração na produção/secreção de ACTH e/ou CRH ➢ Insuficiência adrenal crônica: entre as principais manifestações clínicas estão a astenia, fraqueza, anorexia e perda de peso, distúrbios gastrintestinais, como náuseas e vômitos, hiperpigmentação da pele e das mucosas. Em mulheres pode ocorrer diminuição da libido e pilificação pubiana axilar ➢ Insuficiência suprarrenal aguda: conhecida como crise suprarrenal, trata-se de uma emergência endócrina potencial- mente fatal. A apresentação clínica inclui início rápido de hipotensão e taquicardia, podendo evoluir para choque refratário e consequentemente levar a falência de múltiplos órgãos. Apresenta sintomas inespecíficos como anorexia, náuseas, vômitos, dor e distensão abdominal, fraqueza, apatia, cianose e palidez ➢ Diagnóstico: dosagem de cortisol e ACTH plasmáticos basais matinais e testes de estímulo ➢ Achados laboratoriais: hiponatremia/hiperpotassemia, acidose metabólica, hipoglicemia, anemia, linfocitose e eosinofilia, redução dos níveis cortisol, aldosterona e DHEA e aumento do ACTH e da renina ➢ Exame de imagem: TC de abdome que irá mostrar caso haja presença de infecção, hemorragia, doença infiltrativa ou neoplasia EXAMES COMPLEMENTARES DOSAGEM BASAL DE CORTISOL E SEUS METABÓLITOS ➢ Uma vez que o cortisol circula no plasma ligado a proteína e de maneira livre, é possível medir o cortisol total (plasmático) associado a proteínas carreadoras ou sua fração livre (urinária e salivar) não ligada a proteínas • Alguns medicamentos e doenças podem alterar a produção das proteínas carreadoras, sendo mais acurado medir sua porção livre ➢ TOME NOTA: o cortisol é um hormônio circadiano, logo, os seus níveis plasmáticos começam a se elevar nas fases tardias do sono, alcançam um pico ao despertar (5,0 a 15 μg/dl), caindo durante o dia (2,5 a 12,5 μg/dl) e alcançando seus níveis mais baixos à noite (2,0 a 5,0 μg/dl). Dessa forma, a profissão do paciente (trabalhadores noturnos, viagens longas com mudança de fuso horário) podem alterar diretamente os níveis de cortisol (rompimento dociclo dia/noite, sono/vigília) ➢ A dosagem urinária dos metabólitos 17-hidroexiesteroides reflete os níveis de seus percussores. Já a dosagem urinária dos 17-cetoesteroides reflete a secreção androgênica suprarrenal EXAMES PARA DETECÇÃO DE HIPERCORTICOLISMO ➢ Cortisol livre urinário: fornece a medida do cortisol sérico, driblando suas variações durantes o dia. São necessárias 2 a 3 dosagens consecutivas em urina de 24h. Valores que excedem em 4 vezes o limite superior do método são vistos quase que exclusivamente na SC ➢ Cortisol salivar: mensura a forma livre do cortisol, oferece vantagens adicionais uma vez que é coletado apenas uma vez, em casa, entre as 23h e 0h ➢ Teste de supressão com baixas doses de dexametasona: é capaz de avaliar a integridade do mecanismo de feedback, a qual se encontra perdida nos estados de hipercorticolismo. Consiste na administração de 1mg de dexametasona às 23h, determinando-se o cortisol no dia seguinte às 8h da manhã (a administração da dexametasona inibe a secreção noturna do ACTH, havendo então, redução matinal do cortisol nos indivíduos normais para níveis menores que 1,8 μg/dl) • Para eliminar possíveis falsos positivos, deve-se da preferência ao teste prolongado com 2mg de dexametasona, em vez do teste com 1mg (teste realizado em 48h) EXAMES PARA DETECÇÃO DO HIPOCORTICOLISMO ➢ Valores de cortisol total, medido às 8h, servirão para confirmar a hipótese diagnostica de IS se estiverem muito baixos (< 3 mg/dl) e para excluir hipóteses de estiverem elevados (> 19 mg/dl) ➢ Teste de estímulo ao cortisol: pode ser realizado com administração de ACTH sintético, de preferência se houver suspeita de insuficiência suprarrenal primaria, ou induzido por hipoglicemia, considerado padrão ouro na investigação de insuficiência secundária. A resposta é considerada normal quando ocorre pico de cortisol > 19 mg/dl ➢ Teste de tolerância à insulina, ou estímulo hiperglicêmico: responsável por avaliar todo o eixo. Após a administração de insulina são realizadas dosagens seriadas do cortisol plasmático e glicemia. Para validar o teste é necessário que ocorra a queda glicêmica para < 40 mg/dl e a resposta será considerada normal se ocorre pico de cortisol > 18 a 20 mg/dl AVALIAÇÃO DA HIPERSECREÇÃO DE MINERALOCORTICOIDES ➢ Os dados laboratoriais principais dessa condição são a dosagem da aldosterona e a atividade plasmática de renina ➢ Se houver hiperaldosteronismo primário ocorre supressão da atividade plasmática da renina ➢ Atenção para medicamentos que alterem a avaliação da atividade plasmática de renina e da aldosterona: betabloqueadores e os antagonistas do receptor da aldosterona (recomenda-se que esses medicamentos sejam suspensos por, pelo menos, 3 semanas antes da avaliação) AVALIAÇÃO DA HIPERSECREÇÃO DE CATECOLAMINAS ➢ Deve-se realizar a dosagem de dois dos seguintes testes, repetidos, ao menos, 2 vezes: • Dosagem de metanefrinas e/ou de catecolaminas em urina de 24h, sendo mais sensível a dosagem da primeira, e/ou medida de catecolaminas plasmáticas que apresenta altos indicies de resultado falso-positivos quando realizada isoladamente TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA ➢ É a modalidade primaria preferida para avaliação anatômica das glândulas suprarrenais, por ser um procedimento rápido e amplamente disponível, além de oferecer a mais alta resolução espacial RESSONÂNCIA MAGNÉTICA ➢ Representa um meio adicional na avaliação das lesões suprarrenais, em especial para o diagnóstico de adenomas, com a vantagem de não necessitar de contraste ➢ Os estudos por RM incluem imagens ponderadas em T1, para os detalhes anatômicos, e em T2. As técnicas com supressão de gordura, com base em diferentes taxas de frequência de ressonância dos prótons na gordura e na água, contribuem para a caracterização de massas pequenas e adenomas com alto conteúdo lipídico CINTIGRAFIA ➢ Pode ser útil quando é observado quadro clínico e laboratorial sugestivo de hiperfunção suprarrenal, mas não se consegue identificas a lesão por TC ou RM. Nesses casos – em geral, de tumores ectópicos – pode ser solicitada cintigrafia com radiotraçadores para a linhagem tumoral investigada O resultado de qualquer exame de imagem deve ser interpretado paralelamente às dosagens hormonais, às provas funcionais e aos exames bioquímicos CASO CLÍNICO ➢ Identificação: I.M.J, 25 anos, natural do Paraná, residente em São Paulo, solteiro, estudante ➢ QP: crise hipertensiva ➢ HMA: apresentou quadro clínico de dor precordial a pico hipertensivo no dia 21/10/17 após realizar atividade física extenuante. Na ocasião, buscou o hospital onde foi feita a hipótese diagnóstica inicial de emergência hipertensiva com síndrome coronariana aguda. Ficou internado em UTI – com necessidade de drogas endovenosas para controle pressórico RESUMO: paciente do sexo masculino, 25 anos, apresenta crise hipertensiva com dor precordial, hipótese diagnostica de emergência hipertensiva com síndrome coronariana aguda TOME NOTA: atenção para crise hipertensiva pois como se trata de paciente jovem a HAS não é essencial ➢ IS: discreta perda de peso, relato de episódios de palpitações, sudorese, cefaleia associada a atividade física e estresse há 2 anos ➢ Hábitos de vida: nega uso de drogas e anfetaminas ➢ Antecedentes pessoais: nega comorbidades ➢ Antecedentes familiares: negativa para HAS EXAME FÍSICO ➢ Peso: 65kg, altura: 180cm ➢ FC: 110, FR: 24 irpm ➢ AR: MVBD sem RA ➢ ABD: flácido, RHA+ sem massas ou VMG ➢ ACV: RCR em 2T sem sopros ➢ EXT: bem perfundidas, sem edemas ➢ NEURO: LOTE, pupilas iscoricas e fotoreagente LABORATÓRIO ➢ Metanefrina: 2,6 um/mg (0,05 a 1,2) ➢ Norepinefrina: 1628 (14-80) LISTA DE PROBLEMAS P1: crise hipertensiva P2: síndrome coronariana aguda P3: paroxismos sudorese, cefaleia e HAS SUSPEITA DIAGNÓSTICA: S1: feocromocitoma S2: Estenose de artéria renal DIAGNÓSTICO: feocromocitoma
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