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373773284-Guia-Didatico-Filosofia-Da-Religiao

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FilosoFia da Religião
José André de Azevedo
www.unipar.br
UNIVERSIDADE PARANAENSE 
MANTENEDORA 
Associação Paranaense de Ensino e Cultura – APEC 
REITOR
Carlos Eduardo Garcia 
Vice-Reitora Executiva
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Diretorias Executivas de Gestão 
Administrativa 
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Diretora Executiva de Gestão da Educação a Distância 
Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato
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Universitária 
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Humanas, Linguística, Letras e Artes, Ciências Sociais 
Aplicadas e Educação 
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DEGEAD – DIRETORIA ExECUTIVA DE GESTãO DA EDUCAçãO 
A DISTâNCIA
Diretora Executiva de Gestão da Educação a Distância 
Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato
Coordenador dos Cursos Superiores de Licenciatura e de 
Graduação Plena (História, Letras, Pedagogia e Filosofia)
Heiji Tanaka
Coordenador dos Cursos Superiores de Tecnologia e Bacharelado do 
Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios (Gestão Comercial, Logística, Marketing, 
Processos Gerenciais e Administração)
Evandro Mendes de Aguiar
Coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia e Bacharelado do 
Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios (Gestão Financeira, 
Gestão Pública, Recursos Humanos e Ciências Contábeis)
Isabel Cristina Gozer
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UNIPAR 
A944f Azevedo, José André de. 
Filosofia da religião / José André de Azevedo. – 
Umuarama : Unipar, 2016.
113 f. 
ISBN: 978-85-8498-095-6
1. Filosofia da religião. 3. Ensino a distância - EAD. 
I.Universidade Paranaense. II. Título.
(21 ed.) CDD: 210
Assessoria pedagógica 
Daniele Silva Marques e Marcia Dias 
Diagramação e Capa 
Diego Ricardo Pinaffo, Fernando Truculo Evangelista e Renata Sguissardi
* Material de uso exclusivo da Universidade Paranaense – UNIPAR com todos os direitos da edição a ela reservados.
Sumário
Unidade i - FiLOSOFia e ReLiGiÃO .............................................15
definição de filosofia da religião ......................................................................16
Objeto da Filosofia da Religião ..........................................................................18
Pensamento filosófico e pensamento religioso ..........................................29
Unidade 2: O UniVeRSO ReLiGiOSO ...........................................37
Religião e sagrado ...................................................................................................38
elementos Básicos da Religião ..........................................................................43
deus como problema filosófico ........................................................................51
Crítica à Religião ......................................................................................................56
Karl Marx ....................................................................................................................58
Unidade 3: a ReLiGiÃO COMO ReSPOSTa ................................67
atitude religiosa determinada pelo sagrado ...............................................68
aspectos antropológicos da religião ...............................................................77
Constantes religiosas .............................................................................................82
FiloSoFia da religião
Unidade 4: aS GRandeS ReLiGiõeS ...........................................89
Pluralidade religiosa .............................................................................................90
Hinduísmo ..................................................................................................................90
Jainismo ......................................................................................................................93
Budismo ......................................................................................................................94
Confucionismo .........................................................................................................96
Taoísmo .......................................................................................................................97
Judaísmo .....................................................................................................................98
Cristianismo........................................................................................................105
Referências ................................................................................................113
apresentação
Diante dos novos desafios trazidos pelo mundo contemporâneo e o surgimento de um 
novo paradigma educacional frente às Tecnologias de Informação e Comunicação dis-
poníveis que favorecem a construção do conhecimento, a revolução educacional está 
entre os mais pungentes, levando as universidades a assumirem a sua missão como 
instituição formadora, com competência e comprometimento, optando por uma gestão 
mais aberta e flexível, democratizando o conhecimento científico e tecnológico, atra-
vés da Educação a Distância.
Sendo assim, a Universidade Paranaense - UNIPAR - atenta a este novo cenário e 
buscando formar profissionais cada vez mais preparados, autônomos, criativos, res-
ponsáveis, críticos e comprometidos com a formação de uma sociedade mais demo-
crática, vem oferecer-lhe o Ensino a Distância, como uma opção dinâmica e acessível 
estimulando o processo de autoaprendizagem.
Como parte deste processo e dos recursos didático-pedagógicos do programa da 
Educação a Distância oferecida por esta universidade, este Guia Didático tem como 
objetivo oferecer a você, acadêmico(a), meios para que, através do autoestudo, possa 
construir o conhecimento e, ao mesmo tempo, refletir sobre a importância dele em sua 
formação profissional.
Seja bem-vindo(a) ao Programa de Educação a Distância da UNIPAR.
Carlos Eduardo Garcia 
Reitor
Seja bem-vindo caro(a) acadêmico(a),
Os cursos e/ou programas da UNIPAR, ofertados na modalidade de educação a dis-
tância, são compostos de atividades de autoestudo, atividades de tutoria e atividades 
presenciais obrigatórias, os quais individualmente e no conjunto são planejados e or-
ganizados de forma a garantir a interatividade e o alcance dos objetivos pedagógicos 
estabelecidos em seus respectivos projetos.
As atividades de autoestudo, de caráter individual, compreendem o cumprimento das 
atividades propostas pelo professor e pelo tutor mediador, a partir de métodos e práti-
cas de ensino-aprendizagem que incorporem a mediação de recursos didáticos orga-
nizados em diferentes suportes de informação e comunicação.
As atividades de tutoria, também de caráter individual, compreendem atividades de 
comunicaçãopessoal entre você e o tutor mediador, que está apto a: esclarecer as 
dúvidas que, no decorrer deste estudo, venham a surgir; trocar informações sobre as-
suntos concernentes à disciplina; auxiliá-lo na execução das atividades propostas no 
material didático, conforme calendário estabelecido, enfim, acompanhá-lo e orientá-lo 
no que for necessário.
As atividades presenciais, de âmbito coletivo para toda a turma, destinam-se obriga-
toriamente à realização das avaliações oficiais e outras atividades, conforme dispuser 
o plano de ensino da disciplina.
Neste contexto, este Guia Didático foi produzido a partir do esforço coletivo de uma 
equipe de profissionais multidisciplinares totalmente integrados que se preocupa 
com a construção do seu conhecimento, independente da distância geográfica que 
você se encontra.
O Programa de Educação a Distância adotado pela UNIPAR prioriza a interatividade, 
e respeita a sua autonomia, assegurando que o conhecimento ora disponibilizado seja 
construído e apropriado de forma que, progressivamente, novos comportamentos, no-
vas atitudes e novos valores sejam desenvolvidos por você.
A interatividade será vivenciada principalmente no ambiente virtual de aprendizagem 
– AVA, nele serão disponibilizados os materiais de autoestudo e as atividades de tuto-
ria que possibilitarão o desenvolvimento de competências necessárias para que você 
se aproprie do conhecimento.
Recomendo que durante a realização de seu curso, você explore os textos sugeridos 
e as indicações de leituras, resolva às atividades propostas e participe dos fóruns de 
discussão, considerando que estas atividades são fundamentais para o sucesso da 
sua aprendizagem.
Bons estudos! e-@braços.
Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato 
Diretora Executiva de Gestão da Educação a Distância
introdução
Caro(a) acadêmico(a),
Este Guia Didático é composto de informações e exercícios de análise, interpretação 
e compreensão dos conteúdos programáticos da disciplina de Filosofia da Religião do 
Curso de Graduação em que você se encontra matriculado. 
O Guia Didático foi elaborado por um Professor Conteudista, embasado no plano de 
ensino da disciplina, conforme os critérios estabelecidos no Projeto Pedagógico do 
Curso. Abaixo, apresentamos, resumidamente, o currículo do Professor Conteudista 
responsável pela elaboração deste material:
Disciplina: Filosofia da Religião
Autor: José André de Azevedo
Graduado em Filosofia pela Faculdade Padre João Bagozzi (2009); Mestre em Filosofia 
pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.
Além do professor conteudista, existe uma equipe de professores e tutores mediado-
res devidamente preparados para acompanhá-lo e auxiliá-lo, de forma colaborativa, 
na construção do seu conhecimento.
Bons momentos de estudos!
Heiji Tanaka
Coordenador do Núcleo de Cursos nas áreas de Educação, 
Linguística, Letras e Artes e Ciências Humanas.
APRESENTAçãO
A Filosofia se refere à necessidade de o homem compreender-se a si mesmo, sua 
existência no mundo e a causa de sua existência no mundo. Em outras palavras: 
Filosofia é o perscrutar a compreensão de si, a existência do mundo e, por fim, a 
causa da existência no mundo. E justamente aqui se estabelece o discurso religioso 
e a tarefa assinalada à Filosofia da Religião: o discernimento racional da atitude reli-
giosa do ser humano, ou seja, o modo como compreendemos as questões voltadas 
ao sagrado e ao religioso.
Percebe-se que, ao falarmos de religião, ou melhor, ao estabelecermos um discurso 
filosófico sobre o fenômeno religioso, fazemo-lo a partir de um profundo realismo: re-
vela-se a religião coisa bem terrena, pois nasce, precisamente, das necessidades, bus-
cas, esperanças, angústias, anseios e ilusões mais enraizadas na condição humana.
A religião é uma resposta humana e um problema humano. E fique claro: o pensa-
mento filosófico percebe na religião uma produção cultural e, por mais elevado que se 
apresente um sistema religioso, sempre consiste em uma elaboração humana: é a vi-
são que determinado grupo de humanos possui acerca dos problemas fundamentais 
que lhes apresenta a existência.
Essa “elaboração humana”, nomeada “religião”, é uma compreensão da reali-
dade, uma resposta à própria vida, uma “porta de entrada” de análise da existên-
cia como outra qualquer, como aquela que a ciência nos fornece, como aquela 
que o senso comum nos possibilita ou como o pensamento filosófico nos arvora. 
No fundo, o crente e o ateu vivem sob a mesma realidade e se confrontam com 
os mesmos problemas radicais e com as mesmas interrogantes que fazemos 
cotidianamente.
Nesse sentido, o presente material pretende analisar as questões religiosas a partir 
do pensamento filosófico. Para tanto, quatro unidades se apresentam de maneira dis-
tinta, mas interligadas:
Unidade 1: Filosofia e Religião
Compreende as distinções e as relações entre os dois campos de saber: Filosofia e 
Religião, analisando o dado religioso a partir da perspectiva humana, ou seja, a reli-
gião, no âmbito filosófico, é uma resposta humana a um problema humano.
Unidade 2: O Universo Religioso
Identifica, relaciona e distingue os conceitos fundamentais presentes no Universo 
Religioso: Religião e Sagrado. Feito isso, analisa o modo como “Deus” se tornou um 
problema filosófico, de maneira específica a partir de Hegel, perpassando Feuerbach, 
Marx e Nietzsche.
Unidade 3: A Religião como Resposta
Compreende a religião como uma resposta humana a um problema humano, anali-
sando a atitude religiosa em sua vertente antropológica, isto é, como busca de sentido 
último para a existência humana e produtora de cultura.
Unidade 4: As Grandes Religiões
Estuda as principais tradições religiosas, percebendo a história das religiões como 
construção cultural, o que fornece substratos de compreensão de mundo.
Dessa maneira, esperamos que a reflexão e o questionamento do fenômeno religioso nos 
possibilite a construção de uma sociedade mais justa e, por isso mesmo, mais humana.
Unidade i - FiLOSOFia e ReLiGiÃO 
ObjetivOs a serem alcançadOs nesta unidade
Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser 
capaz de:
• Compreender as distinções e as relações entre os dois campos de saber: 
Filosofia e Religião.
• Analisar o dado religioso a partir da perspectiva humana, ou seja, a religião, 
no âmbito filosófico, é uma resposta humana a um problema humano.
• Identificar as principais características e temáticas da Filosofia da Religião.
• Perceber o objeto próprio de estudo da Filosofia da Religião.
• Apontar as principais preocupações da Filosofia da Religião.
• Estabelecer as diferenciações entre a Filosofia da Religião e as Ciências 
afins: Fenomenologia da Religião, Filosofia Religiosa, Teologia, História das 
Religiões, Sociologia da Religião e Psicologia da Religião.
Para que esses objetivos sejam alcançados, é de extrema importância que você de-
senvolva seus estudos com seriedade e dedicação, lendo as literaturas recomenda-
das e os capítulos dos livros didáticos que forem referenciados neste guia. 
Bons estudos!
16 FilosoFia da Religião
deFiniçÃO de FilOsOFia da reliGiÃO
A Filosofia se refere à necessidade de o homem compreender-se a si mesmo, sua 
existência no mundo e à causa de sua existência no mundo. Esses três assuntos 
básicos - também nomeados de problemas filosóficos - podem ser desdobrados em 
muitas outras questões correlativas:
• Compreensão de si mesmo: como entendemos a natureza humana, a alma, 
a razão, a liberdade, as emoções, o conhecimento humano, a sociedade hu-
mana, as normas e condutas, a educação, a cultura, etc.
• A existência no mundo: qual a nossa relação com a matéria, vida, universo, 
ecologia, sociedade, cultura, etc.
• Causa da existência no mundo: como compreender e se posicionar diante 
da existência do Absoluto, da natureza de Deus, diante da relação Deus-mun-
do, bem e mal, etc.
Assim, demodo geral, podemos afirmar que o pensamento filosófico se ocupa de três 
grandes questões: Eu, Mundo e Deus. Ao debruçar-se sobre o “Eu”, o olhar do huma-
no se volta para esse que, diante do “espanto” – como sugeria Aristóteles –, percebe 
o mundo e os modos como se efetua sua própria percepção. Na análise do “Mundo”, 
o filósofo busca compreender o ser do mundo que, cotidianamente, faz experiências 
e nele está imerso.
O problema de Deus é o último grande tema da Filosofia; diante da experiência da fini-
tude do mundo, dos transcendentais do Eu, o olhar se volta para a condição absoluta 
enquanto condição última. É nesse sentido que BOCHENSKI (1977, p. 109) afirma 
que, para o filósofo, “[...] Deus [...] não está no início de tudo como para os crentes. 
Se é que o filósofo chega a alcançar a Deus, isto só acontece depois de um longo 
peregrinar pelo reino do finito, através dos entes deste mundo”. 
Assim, percebe-se que, ao falarmos de religião, ou melhor, ao estabelecermos um discurso 
17FilosoFia da Religião
filosófico sobre o fenômeno religioso, fazemo-lo a partir de um profundo realismo: revela-
se a religião coisa bem terrena, pois nasce, precisamente, das necessidades, buscas, 
esperanças, angústias, anseios e ilusões mais enraizadas na condição humana.
A religião é uma resposta humana e um problema humano. E fique claro: o pensa-
mento filosófico percebe na religião uma produção cultural e, por mais elevado que 
se apresente um sistema religioso, sempre consiste em uma elaboração humana: é a 
visão que determinado grupo de humanos possui acerca dos problemas fundamentais 
que lhes apresenta a existência (Cf. QUEIRUGA, 1999, p. 33).
Essa “elaboração humana”, nomeada “religião”, é uma compreensão da realidade, 
uma resposta à própria vida, uma “porta de entrada” de análise da existência como 
outra qualquer, como aquela que a ciência nos fornece, como aquela que o senso co-
mum nos possibilita ou como o pensamento filosófico nos arvora. No fundo, o crente e 
o ateu vivem a mesma realidade e se confrontam com os mesmos problemas radicais 
e com as mesmas interrogantes que fazemos cotidianamente: “Quem sou? De onde 
vim? Para onde vou? O que devo fazer? Qual o sentido de tudo isso?”.
[...] o ateu e o crente vivem na mesma realidade e se confrontam com os mesmos proble-
mas radicais. Diferem unicamente na resposta que lhes dão. Um pensa a realidade em 
seu aspecto fáctico e em seu funcionamento empírico; ao passo que ao outro a realidade, 
com seu próprio modo de ser, indica-lhe que não se funda em última análise em si, mas 
numa presença criadora que a habita, sustenta e promove. (QUEIRUGA, 1999, p. 33).
Reitere-se: diante da realidade da existência possuímos várias dimensões de aborda-
gens, modos variados, às vezes complementares e por vezes excludentes de compreen-
dermos àquilo que nomeamos existência. A Filosofia e a Religião são um desses modos. 
Por sua vez, a Filosofia da Religião é um ramo da Filosofia que possui como objeto de 
estudo justamente a questão religiosa. Assim, três temáticas nos “saltam aos olhos”: 
objeto, relações com as ciências afins e método.
18 FilosoFia da Religião
ObjetO da FilOsOFia da reliGiÃO
A tarefa assinalada à Filosofia da Religião é o discernimento racional da atitude reli-
giosa do ser humano, ou seja, a preocupação do pensamento filosófico, no tocante 
à questão religiosa, não se arvora em compreender o “mistério” de Deus, mas ques-
tionar-se sobre Deus como um “problema” para o humano, isto é, o modo como com-
preendemos as questões voltadas ao sagrado e ao religioso. Ademais, o fato de que 
a religião seja obra do homem inteiro e não somente de uma de suas dimensões – a 
saber: o entendimento - obriga os pensadores a justificar racionalmente uma atitude 
existencial especial como a religiosa em todos os seus níveis. Em outras palavras: se 
a tarefa de toda Filosofia é interpretar o que há, resulta evidente que a religião, fato 
específico do ser humano, deva ser pensada. 
Para que possamos encontrar elementos - e não apenas “um” elemento - que cons-
tituem o objeto de reflexão desse ramo de saber – Filosofia da Religião –, e assim 
poder definir sua tarefa, elencamos alguns pensadores dessa problemática.
Kolakowski
Esse autor distingue a presença de duas concepções de Filosofia da Religião: a de 
vertente anglo-saxã e a de vertente germânica. A primeira interpreta a religião median-
te a análise da linguagem, incidindo, sobretudo, na compreensão racional das expe-
riências teológicas sem referência às vivenciais. A segunda, por sua vez, centra sua 
atenção no significado da religião através dos processos históricos e nas expressões 
que simbolizam o sentido e o destino último do homem. Em suma: essas “escolas” 
distinguem duas formas de pensar a Filosofia da Religião: elemento analítico (tradição 
germânica) e elemento discursivo (tradição anglo-saxã).
Kolakowski suspende ambos os procedimentos, afirmando que não lhe parece 
19FilosoFia da Religião
suficiente nenhum dos dois em si mesmos; assim, propõe analisar criticamente as 
formulações de fé, por um lado, e interpretar, por outro, as mediações hierofânicas e 
representações do Sagrado. Somente assim se pode entender o que seja a Filosofia 
da Religião: o estudo da percepção cognoscitiva do sentimento de pertença a uma 
ordem universal e da aceitação moral que isso comporta. O que Kolakowski propõe 
é a compreensão do Sagrado. Assim, Filosofia da Religião é o estudo e reflexão da-
quilo que compreendemos por Sagrado e daquilo que vivenciamos como sagrado.
Welte
Esse autor publica, em 1978, uma sugestiva obra com o título Filosofia da Religião. Nela 
apresenta sua compreensão de Filosofia da Religião: esclarecimento intelectual da es-
sência e forma de ser da religião, ou seja, o discernimento racional do que é a religião. 
Pressupõe, para isso, o fato religioso como dado empírico e penetra na luz da razão para 
determinar seu sentido e legitimidade frente ao possível sem-sentido e incoerência que 
possam se apresentar. Assim, a tarefa do filósofo da religião é refletir sobre o objeto da re-
ligião dado previamente ao pensamento; a reflexão filosófica deve recair primordialmente 
sobre a dimensão propriamente religiosa, ou seja, antes de analisar as modalidades reli-
giosas, deve-se analisar o caráter existencial da religião: a relação do homem com Deus.
rahner
A intenção de Rahner é estabelecer as bases antropológicas de uma possível revelação 
sobrenatural de Deus. Para isso, estuda a abertura constitutiva do ser humano ao transcen-
dente, mostrando sua capacidade como ouvinte da Palavra (nome de uma de suas obras). 
É a justificação racional do Homo Capax Dei da teologia clássica, argumento medieval que 
sugere o fato de que o homem é, por si mesmo, capacitado para uma abertura ao Sagrado. 
Há, segundo o pensador alemão, uma abertura positiva a uma possível revelação de Deus.
20 FilosoFia da Religião
Argumenta Rahner que há uma luminosidade do ser, em cuja transparência Deus (Ser 
por excelência) se faz presente ao homem (ser finito), aberto à realidade como tal. 
Dessa maneira, Rahner transforma a Filosofia da Religião em um modo de justificar 
racionalmente a manifestação de Deus na história humana. Em outros termos: a reli-
gião, entendida como consciência de dependência de Deus, responde às exigências 
da razão e cumpre fielmente as leis formais do entendimento porque a abertura trans-
cendental é a condição de possibilidade do que há de ser o humano.
Esclarecer essa possibilidade humana é competência da Filosofia da Religião; ana-
lisar a estrutura humana para descobrir os elementos constitutivos que permitem ao 
homem compreender a Deus é o que cabe a esse campo filosófico.
torres Queiruga
Esse pensador espanhol assinala assim o conceito de Filosofia da Religião: 
A Filosofia da Religião consiste no afrontamento do fato religioso por uma filosofia 
consciente de sua autonomia, porémaberta à positividade histórica e ao diálogo com 
a reflexão teológica sobre o mesmo fato. (apud LUCAS, 1999, p. 65).
Para Queiruga, devemos, em primeiro lugar, esclarecer os termos Filosofia e Religião de 
maneira atualizada, distinguindo-os da Teologia Natural, centrando-se na religião como 
existencial humano. Após, fixarmo-nos em Deus como objeto do fato religioso e referen-
cial imprescindível para determinar a falsidade ou verdade do próprio fato religioso. Nesse 
ponto, o autor é enfático: o problema de Deus deve ser afrontado pela Filosofia da Religião 
tanto para descobri-lo como fundamento ou como ilusão (Cf. LUCAS, 1999, p. 229-230).
O terceiro passo para conceituarmos a Filosofia da Religião é analisar a religião como 
lugar do encontro da Filosofia com a Teologia. Para isso, necessário se faz estender 
a razão filosófica a todo o âmbito de vida consciente e relativizar a razão teológica; 
21FilosoFia da Religião
devemos ver o homem em sua totalidade de compreensão da própria realidade. É 
nesse diálogo franco e aberto desses ramos de conhecimento que, de certa maneira, 
se toca o inefável e no qual deve ser analisada a questão da Filosofia da Religião.
Somente agora, após os passos dados, podemos nos voltar, nos dizeres de Husserl, 
“às coisas mesmas”, ou seja, somente nesse sentido pode a religião ser analisada 
como fenômeno, como concreta manifestação histórica. Note-se que é a reflexão filo-
sófica que confere objetividade à questão religiosa.
Seguindo esses passos, o autor nos assinala uma dupla tarefa da Filosofia da Religião: 
reflexão sobre o fenômeno religioso e o diálogo com a concepção teológica do mesmo.
FilOsOFia da reliGiÃO: sentidO neGativO e sentidO aFirmativO
Após as opiniões diversas dos autores, necessário se faz enunciar o que não é a Filo-
sofia da Religião (sentido negativo) e o que é (sentido afirmativo).
Aspecto Negativo: a Filosofia da Religião não se postula em uma religião natural ou 
religião racional que, posteriormente, seja plenificada com a revelação sobrenatural ou 
iluminação divina. A Filosofia da Religião se limita a dar razão de um fato especificamen-
te humano presente na história, obra do humano em sua tensão com o desconhecido 
e o misterioso. Por isso não falamos de uma “religião filosófica” e nem de uma “filosofia 
religiosa”, mas de indagações, com métodos próprios e intencionalidade específica.
Aspecto Positivo: essa reflexão sobre um fato especificamente humano, que conju-
ga duas extremidades - o sujeito humano e o objeto divino -, deve remeter o primeiro 
a perceber alguma manifestação na história. Para isso, deve haver algumas possibi-
lidades de apreensão dessas manifestações. Assim, é competência da Filosofia da 
Religião analisar e demonstrar a abertura constitutiva do homem a uma realidade 
ontológica superior e determinar a possibilidade de manifestação de tal realidade. 
22 FilosoFia da Religião
Determinar esses extremos é competência da Filosofia da Religião.
Portanto, tudo demonstra que o filósofo deve referir-se à religião como o faz o cientista, o 
artista e o historiador: no aspecto religioso, o filósofo da religião encontra seu material de 
reflexão, que não é suspensão de juízo, mas discriminação racional e ponderação crítica.
FilOsOFia da reliGiÃO e ciências aFins
Esperamos, pois, que as explanações anteriores tenham aclarado o universo concei-
tual de Filosofia da Religião. Entretanto, diante das ciências afins – Fenomenologia 
Religiosa, Filosofia Religiosa, Teologia, História das Religiões, Sociologia da Religião 
e Psicologia da Religião – ainda alguns esclarecimentos se fazem necessários.
Fenomenologia da religião
Tanto a Filosofia da Religião como a Fenomenologia da Religião analisam o mesmo 
objeto; porém o ponto de partida da análise é diferente. A Fenomenologia da Religião 
busca compreender o sentido religioso a partir das ciências positivas e da reflexão 
filosófica; por sua vez, a Filosofia da Religião é a reflexão sobre os resultados da 
fenomenologia com vistas a descobrir sua coerência racional e antropológica. A Fe-
nomenologia da Religião aponta o sentido do fato religioso; a Filosofia da Religião o 
avalia e o julga à luz da razão.
Filosofia Religiosa
Talvez essa seja a distinção que maior atenção exige de nós; muitos analisam as duas 
realidades como apenas uma. Ainda que o ponto de referência seja o mesmo (Deus, o ser 
transcendente que polariza a tensão do homem), a relação com esse objeto é diferente.
23FilosoFia da Religião
A Filosofia Religiosa se centra no objeto como realidade transcendente admitida, isto 
é, o seu foco está “em Deus”. Por sua vez, a Filosofia da Religião analisa a atitude do 
homem para com esse Ser. A Filosofia Religiosa, de certa maneira, é uma apologética 
para as categorias religiosas de compreensão de mundo; a Filosofia da Religião, por 
outro lado, busca a coerência antropológica da vivência religiosa.
Resumindo: a Filosofia da Religião é crítica da religião como dimensão essencial do 
ser humano, enquanto que a Filosofia Religiosa deve ser entendida como preparação 
racional para a fé, aquilo que os medievais nomeavam preambulum fidei.
teologia
A intencionalidade com que se aborda o dado religioso é distinta no filósofo e no te-
ólogo. Ambos interpretam a mesma experiência, porém com critérios e finalidades 
diferentes. A Filosofia analisa e interpreta o fato religioso com um critério nascido das 
exigências da razão. A Teologia, por sua parte, opera desde o interior da fé, ou seja, 
necessita do pressuposto da fé para compreender sua mensagem e compatibilizá-la 
com os postulados da razão, aquilo que Santo Anselmo designou como Fidens quae-
rens intellectum (a fé que busca sua inteligibilidade).
A reflexão teológica não se trata de apenas um pensamento subjetivo de uma fé sub-
jetiva; possui estatuto epistemológico próprio, cujo ponto de partida é a presença de 
seu objeto proporcionado pela fé mesma: Deus. A Filosofia da Religião não possui a 
Deus como objeto, mas ao homem, que se experimenta dependente de uma realidade 
superior que o transcende.
Não podemos negar que entre as duas disciplinas há uma enorme aproximação e que 
exige um diálogo profundo, ao ponto de que se o filósofo é crente, encontra sérias dificul-
dades no momento de distinguir Filosofia da Religião e Teologia (Cf. LUCAS, 1999, p. 69).
24 FilosoFia da Religião
História das religiões
Estuda a religião em perspectiva histórica, ou seja, tem por objeto a gênese, o desen-
volvimento e o cumprimento dos fatos no tempo e no espaço. Como parte da história 
geral do homem, a História das Religiões proporciona um abundante material para o 
conhecimento dessa faceta específica do ser humano.
De modo geral, quatro são os objetivos principais da História das Religiões: 
• Investigação dos fatos religiosos de um determinado tempo e lugar;
• Coordenação interna desses fatos;
• Demarcação desses fatos no contexto correspondente;
• Análise da gênese e processo evolutivo do conjunto. 
No fundo, trata-se de aplicar a um fato histórico peculiar, o religioso, analisar a história 
pelas “lentes” religiosas.
sociologia da religião
O conteúdo próprio da Sociologia da Religião é o estudo do aspecto interpessoal e 
comunitário dos fenômenos religiosos. Aqui cabe uma distinção entre Sociologia da 
Religião e Sociologia Religiosa. A Sociologia da Religião estuda os condicionamen-
tos sociais dos fatos religiosos e sua interdependência do sistema sociopolítico e 
cultural, ou seja, o fato religioso é analisado dentro do contexto social; a Sociologia 
Religiosa, por sua vez, se ocupa das formas religiosas da vida social, analisando 
sua problemática, fixando-se principalmente no comportamento religioso da coletivi-
dade. A Sociologia da Religião parte do todo (sociedade) para compreender a parte 
(religião); já a Sociologia Religiosa possui como objeto de estudo a cultura religiosa.
De acordo com a Sociologia da Religião,as implicações sociais da religião assim po-
dem ser enumeradas: 
25FilosoFia da Religião
• O conceito de religião está em dependência com a ideia de sociedade.
• Há pluralidade de funções na comunidade social segundo o conceito religioso 
que se tem.
• As variações dessas funções sociais ocorrem ao redor dos avatares históricos 
e das situações sociais.
Psicologia da religião
Esta disciplina, centrada nos condicionamentos psíquicos do comportamento religio-
so, estuda os resultados do encontro do homem com o Sagrado no nível da consciên-
cia; indaga os comportamentos psicológicos da atitude religiosa.
métOdO da FilOsOFia da reliGiÃO
Analisados o conceito e as relações da Filosofia da Religião com as ciências afins, 
necessário, por se tratar de uma epistemologia, enunciar o método da Filosofia da Re-
ligião. Assim, apresentaremos um rápido panorama das etapas históricas da Filosofia 
da Religião indicando os seus métodos respectivos.
Ainda que a Filosofia da Religião seja tão antiga quanto a própria Filosofia - visto que 
no processo de “espanto” diante da existência aparece sempre a questão da ultimida-
de e do absoluto -, sua sistematização e, consequentemente, seu caráter metódico se 
dão somente a partir de Hegel (1770-1831). Entretanto, é possível apresentar cinco 
etapas principais com seus respectivos métodos sobre a reflexão em torno do dado 
religioso. Tal quadro histórico é realizado por Duméry (Cf. DUMÉRY, 1958, p. 77 apud 
LUCAS, 1999, p. 74).
26 FilosoFia da Religião
etapa medieval: método da confrontação
Os filósofos desta época são teólogos que professam a fé cristã em uma cultura pro-
fundamente marcada pelas concepções cristãs. Refletem necessariamente sobre as 
verdades que creem e procuram reconciliar as duas fontes de conhecimento - fé e 
razão - mediante uma profunda confrontação; havendo conflito, a questão seria resol-
vida sempre pela vertente da fé, baseada na autoridade da Palavra e do próprio Deus 
Revelado por Jesus Cristo. Assim, sem renunciar à racionalidade da verdade religio-
sa, fixam o motivo de sua adesão não tanto na capacidade intelectiva do homem, mas 
no poder e veracidade de Deus.
Esse método demonstra que não se cumprem os requisitos de uma autêntica Filosofia 
da Religião; reconhece-se uma dupla forma de conhecimento de Deus, porém não se 
faz uma crítica racional da atitude religiosa como tal porque não se estuda o fato religioso 
como tal, mas se busca um “mergulho” no mistério de Deus. No fundo, a Filosofia está a 
serviço da Teologia, apresentando-se como ancilla Theologiae (serva da Teologia).
etapa naturalista: método da explicação
Estamos no contexto pós-revolução científica e, partindo do pressuposto de que a 
razão é a única fonte de conhecimento verdadeiro, os pensadores dessa época colo-
cam à margem qualquer outro procedimento de aproximação da verdade porque não 
existe outra ordem de realidade que a natural. Empregam o método analítico median-
te o qual chegam ao centro das coisas através da via da decomposição e da síntese; 
reduzem os fatos a seus elementos ou componentes simples, reunindo-os depois em 
uma nova síntese que expressa sua verdade.
Em todo esse processo, o sujeito é uma mera caixa de ressonância do objeto observa-
do e dissecado; limita-se a registrar o que contemplou. A verificabilidade experimental 
27FilosoFia da Religião
é o critério de verdade. O transcendente e, por conseguinte, o dado religioso não diz 
respeito ou são “dissolvidos” na realidade.
etapa moderna: método da antecipação Formal
Se a etapa anterior colocava o acento no empírico da religião, essa etapa pretende 
fazê-lo na pura racionalidade. Os pensadores desse período pretendem ajustar a reli-
gião e seus postulados à razão especulativa a priori.
A definição dessas condições e a posterior análise crítica constituem o método deno-
minado antecipação formal, proposto por Kant e seus continuadores. Aqui temos uma 
espécie de esboço da Filosofia da Religião, visto que suas intenções se estabelecem 
em entender o dado religioso desde os princípios da razão tal como ela o entende.
Devemos destacar Hegel, que, em sua análise dialética da História, “introduz” Deus 
no mundo. Para o pensador alemão, a religião é o processo de ascensão desde o 
estado de finitude à causa originária, ao Espírito Absoluto. Desse modo, o mundo e a 
história não são mais do que manifestação e realização do divino, que se contempla 
como sua verdade e norma.
Em resumo: o humano, consciente de sua finitude ontológica, descobre, frente a si, o 
Infinito e se põe fora de si ao encontro desse Infinito. A religião, então, é a encarnação 
da vida de Deus na consciência humana. Entendendo a religião dessa maneira, Hegel 
propõe os passos de seu método de análise:
• Determinar o conceito de religião, a saber: consciência do Absoluto.
• Estudo das religiões positivas desde suas formas mais elementares até o cris-
tianismo.
• Compreensão crítica do cristianismo como religião “consumada”, a qual ade-
qua perfeitamente o conceito de religião.
28 FilosoFia da Religião
etapa contemporânea: método da compreensão
A partir da Fenomenologia de Husserl (1859-1938), que apregoava a ideia de que 
“devemos voltar às coisas mesmas”, ou seja, devemos captar a realidade em sua 
presença à consciência, prescindindo de juízos e valorações, a Filosofia da Religião 
ganha espaço, terreno e um método: o Método da Compreensão.
O Método da Compreensão apresenta três momentos:
Redução Eidética: a partir de manifestações externas ou dados empíricos, se preten-
de captar o sentido ou essência do fato observado e “entregue” ao poder intencional 
da consciência. A consciência não se limita, então, em apenas descrever o dado, mas 
transcende a si mesma às coisas, convertendo o dado em objeto e descobrindo seu 
sentido específico. No tocante à religião, o observador supera os aspectos empíricos 
e adentra em seu interior, determinando sua estrutura, capta seu significado ou rela-
ção de dependência a respeito de um ser superior. Em outras palavras: a consciência 
se apropria do que é a atitude religiosa.
Redução Fenomenológica: também chamada de epoché, esta segunda redução 
suspende todo juízo de valor objetivo sobre o fato, pondo entre parêntese a objeti-
vidade extramental do dado e limita-se a registrar a correspondência do objeto na 
consciência do sujeito. Pela epoché não se afirma nem se nega a existência do objeto 
da religião (Deus); somente se analisa a vivência religiosa sem pronunciar-se pelo 
caráter sobrenatural de seu objeto.
Redução Constitutiva: compreende a atitude do homem através de seus atos 
e intencionalidade dos mesmos. Vê o modo como o sujeito humano se refere à 
29FilosoFia da Religião
transcendência. Esta é a característica da religião manifestada em atos peculiares 
(culto, rito, moral, códigos, etc.).
Percebemos, então, um interessante caminho de análise da religião: observamo-la 
como um fenômeno (aquilo que está diante de nós); não se faz juízo de valor, pois 
o que está em jogo é o sujeito e não o objeto; por fim, analisa-se como o sujeito que 
busca o objeto (Deus) vivencia suas relações religiosas (dado religioso). 
Assim, o conhecimento compreensivo do fato religioso compreende dois elementos 
necessários: a essência própria da religião e os princípios fundamentais da Filosofia. 
Para determinar a racionalidade da religião – tarefa da Filosofia da Religião -, deve-
mos julgar seus conteúdos a partir dos seguintes princípios:
Especificidade do Religioso: na determinação do religioso entram as estruturas 
constitutivas do ser humano que o fazem crer. Esse passo é descritivo, visto que 
apresenta a religião como consciência de dependência de um ser ontologicamente 
superior, com o qual o homem se relaciona pessoalmente. Apoiado nessa condição 
natural do homem, o filósofo tratará de justificar a tendência ao Absoluto transcenden-
te como dimensão essencial do ser humano.
PrincípiosFilosóficos Fundamentais: Esse é o momento específico da Filosofia da 
Religião; consiste em passar pelo crivo da razão os resultados do momento anterior, 
ou seja, o primeiro momento descreve as estruturas da religião e, somente após, há a 
análise da razoabilidade das estruturas descritas.
PensamentO FilOsÓFicO e PensamentO reliGiOsO
De antemão, reiteramos: o pensamento filosófico e o pensamento religioso são “por-
tas de entrada” de compreensão da tensão que o homem sente diante do Absoluto. 
Assim, as duas possibilidades de compreensão da existência se apresentam como 
distintas, mas podendo ser complementares.
30 FilosoFia da Religião
Na realidade, não existe conflito real entre razão e fé; Filosofia e Religião podem e 
devem coexistir pacificamente. De um lado, a razão e a Filosofia têm consciência de 
seus limites. A Filosofia busca respostas últimas, mas não as tem; o ser, a realidade, 
é, no fundo, um mistério. Abre-se, então, espaço para a fé e a Revelação. A fé e a 
experiência religiosa, para a autêntica Filosofia, se tornam justamente o mistério que 
se revela para além das capacidades e possibilidades humanas.
A Filosofia, por definição, é um sistema totalitário: busca as razões últimas das coisas. 
A Filosofia é totalitária, mas na ordem natural. Ela engloba, pois, o estudo da regra 
suprema da atividade humana natural. As razões que ela busca são, nesse domínio, 
últimas e absolutas. As conclusões certas da filosofia conservam sempre o seu valor, 
mesmo na hipótese da elevação do homem à vida da graça, precisamente por não 
destruir a graça e a natureza. Essas conclusões não são de maneira nenhuma provi-
sórias: são verdadeiras e de uma verdade absoluta. Mas a atividade humana tem os 
seus limites. A filosofia não resolve todos os problemas; nem mesmo chega a formu-
lá-los todos. Pode tomar consciência das suas fronteiras: embora atingindo de certo 
modo as razões supremas, pode procurar delimitar regiões misteriosas que escapam 
ao nosso conhecimento; e mesmo mais, que devem escapar-lhes por ser a natureza 
radicalmente incapaz de alcançá-las... A filosofia, traçando os seus próprios limites, 
deixa lugar aberto a uma revelação superior. (RAEYMAEKER, 1973, p. 34-35).
Por outro lado, a verdadeira fé não exige a negação da razão. A Religião entende a 
razão como a capacidade superior conferida por Deus ao ser humano e que nesta 
capacidade consiste primariamente a sua dignidade.
A fé supõe, então, a pessoa humana com o pleno exercício de suas capacidades e 
potencialidades.
31FilosoFia da Religião
É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidên-
cia; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da 
mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada 
a fixar o olhar sobre a novidade e radicalidade do ser. À luz disso, creio justificado o 
meu apelo veemente e incisivo para que a fé e a filosofia recuperem aquela unidade 
profunda que as torna capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito 
da recíproca autonomia. Ao desassombro (parresia) da fé deve corresponder a audá-
cia da razão. (JOÃO PAULO II. 1998, p. 68).
PensamentO FilOsÓFicO e PensamentO reliGiOsO: distinçÃO
De modo didático, apontamos as seguintes distinções entre Filosofia e Religião:
Fundamentos:
• O fundamento da Filosofia é só e unicamente a razão, vista como instrumen-
to de compreensão da realidade, à qual possui e é um bem em si mesmo.
• Por sua vez, o fundamento da Religião se efetua na fé à Revelação, ou seja, 
há uma adesão livre e incondicional ao sobrenatural que se revela no natural.
Verdade
• A verdade filosófica se apresenta no âmbito da evidência da inteligência, ou 
seja, a verdade que a Filosofia apregoa e busca, é fruto e conclusão da inte-
ligência humana.
• A verdade religiosa é verdade porque revelada por Deus.
Autoridade
• A Filosofia prescinde de toda autoridade: a única autoridade no campo filosó-
fico é a evidência da razão.
• Na Religião tem fundamental importância a autoridade (no caso, a divina, reve-
lada, que se apresenta por meio do texto sagrado e das instituições sagradas).
32 FilosoFia da Religião
PensamentO FilOsÓFicO e PensamentO reliGiOsO: relações
Existe uma proximidade entre Filosofia e Religião: ambas se referem às questões 
do absoluto, ambas se referem ao fundamento da realidade, à causa última do ser, 
ao significado da vida do homem, seu fim e destino e ambas pretendem estabelecer 
normas ao agir humano. Nessa semelhança, os princípios são, no entanto, diferentes: 
razão e fé, respectivamente.
O relacionamento entre Filosofia e Religião, no decorrer da história, foi muito com-
plexo (o que veremos, de modo específico, na Unidade 02). Dessa complexidade de 
relacionamento resultaram diversas posições quanto ao assunto:
A Filosofia nega a Religião (ateísmo)
 Esta posição nega por completo o valor da Religião e até mesmo a vê negativamente. 
Exemplo: Positivismo, Feuerbach, marxismos, Freud, etc.
A Filosofia reduz a Religião (deísmo)
Esta posição admite um valor à religião, mas apenas a uma “religião racional” ou 
“natural”. Ela nega o valor do dogma, do culto, do revelado e adere somente o que 
“cabe na razão”, como, por exemplo, as ideias da existência de Deus, a imortalidade 
da alma, uma vida moral correta, etc. São representantes do deísmo: Giordano Bruno, 
Voltaire, Kant e outros.
A Religião nega a Filosofia (fideísmo)
Trata-se de uma atitude oposta às anteriores e atribui valor exclusivo à fé, negando, 
consequentemente, a razão. A razão humana é incapaz da verdade e do bem e a Fi-
losofia é inútil. São representantes dessa corrente: Tradicionalismo, Kierkegaard, etc.
33FILOSOFIA DA RELIGIÃO
A Filosofi a se harmoniza com a Religião (teísmo)
Essa posição concilia fé e razão. A razão é a mais alta capacidade humana, porém, 
pela e a partir da Revelação ao homem é expresso o mais pleno signifi cado da vida e 
do mundo. A fé não rebaixa a razão, mas, ao contrário, ilumina-a e lhe confere novas 
dimensões. Destacamos: Santo Agostinho, Santo Anselmo, Tomás de Aquino, Mauri-
ce Blondel e Gabriel Marcel.
atividades Para cOmPreensÃO dO cOnteÚdO
1) Percebe-se, no processo de compreensão de si mesmo, uma abertura do humano 
à dimensão religiosa. Tal abertura foi considerada, na tradição fi losófi ca, saudável 
e, igualmente, doentia. Realize uma pesquisa com seus membros familiares sobre 
o que eles pensam desses dois aspectos do fenômeno religioso.
2) A Filosofi a da Religião, por seu caráter epistemológico, apresenta três aspectos de 
compreensão: conteúdo, método e objetivo. Descreva cada um deles.
3) Como explicar para uma turma de educandos da segunda série do Ensino Médio 
que a religião é uma resposta humana a um problema humano? Que conceitos e 
metodologias você utilizaria?
4) Organize um quadro comparativo entre as distinções e relações do pensamento 
fi losófi co e do pensamento religioso.
5) Após as refl exões realizadas nessa Unidade, o que podemos elencar de comum 
entre o homem que crê e o ateu?
34 FILOSOFIA DA RELIGIÃO
reFlita
A. Imaginemos que você seja professor da disciplina de Filosofi a no Ensino Mé-
dio. Toda a comunidade escolar é surpreendida pela notícia da morte de um 
dos alunos. Consternados, o silêncio paira no ar. Filosofi camente falando, é o 
momento do “espanto aristotélico”, ou seja, a existência se apresenta diante 
de nós com toda sua força inquietante e questionadora. O assunto que estás 
abordando em sala de aula é justamente Filosofi a da Religião. Como trabalhar 
com os alunos a temática morte, no contexto da Filosofi a da Religião, sem 
proselitismos?
B. Percebe-se, em todo o processo religioso uma resposta às questões últimas 
do humano. Explique porque tais “questões últimas” são fundamentais em 
nosso ser no mundo e qual o papel da religião nesse sentido.
C. Como explicar para um “fanático religioso”, que a Filosofia da Religião nomeia 
por “fi deísta”, que tanto a Ciência, a Estética e a Religião são respostas hu-
manas a questionamentos humanos?
D. “Religião não se discute”: você concorda com essa afi rmação? Por quê?
35FILOSOFIA DA RELIGIÃO
livrOs recOmendadOs
LUCAS, Juan de Sahagún. Fenomenología y Filosofía de la religión. Madrid: BAC, 
1999.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofi a. 12. ed. São Paulo: Ática, 1995.
QUEIRUGA, Andrés Torres. Recuperar a Criação: Por uma religião humanizadora. 
São Paulo: Paulus, 1999.
36 FilosoFia da Religião
37FilosoFia da Religião
Unidade 2: O UniVeRSO ReLiGiOSO 
ObjetivOs a serem alcançadOs nesta unidade
Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser 
capaz de:
• Identificar, relacionar e distinguir os conceitos fundamentais presentes no Uni-
verso Religioso: Religião e Sagrado.
• Abordar as definições clássicas e modernas de Religião.
• Apontar os elementos básicos da Religião e o modo como o fenômeno reli-
gioso possibilita ao humano um novo limiar ontológico e, consequentemente, 
sentido de existência.
• Apontar as características da linguagem própria do Sagrado, a saber: o símbolo.
• Analisar o modo como “Deus” se tornou um problema filosófico, de maneira 
específica a partir de Hegel.
• Conhecer as considerações filosóficas de Hegel, Feuerbach, Marx e Nietzs-
che no tocante à questão religiosa.
38 FilosoFia da Religião
reliGiÃO e saGradO
Naquele tipo de conhecimento da realidade que denominamos senso comum, quan-
do nos referimos ao conceito religião, de modo imediato nos vem à mente a ideia da 
institucionalização das questões sagradas, ou seja, pensamos primeiramente na ins-
tituição religiosa. Essa realidade – a religião – remete-nos a um universo de compre-
ensões, que devem, para o estudo efetivo desse fenômeno, serem estudadas. Para 
tanto, esse capítulo se aterá nas definições e relações entre “Religião” e “Sagrado”.
Definições Clássicas e Modernas do termo Religião
Grosso modo podemos dizer que a Filosofia da Religião é a crítica racional do fato religio-
so. Ora, assim não cabem dúvidas de que é necessário um conhecimento prévio desse 
fato, desvelando a conduta que qualifica o homem como homo religiosus. Não se trata, 
entretanto, de uma tarefa muito fácil: um fenômeno complexo, com conotações diversas 
(sociológicas, culturais, psicológicas, econômicas, etc.), exige grande empenho e atenção. 
A tarefa é facilitada, porém, pelas definições clássicas e modernas que contamos ao longo 
dos tempos, as quais são o ponto de partida de toda reflexão filosófica sobre a religião.
Não há dúvidas de que uma das grandes dificuldades ao falarmos de religião seja um 
problema de linguagem; há uma imensa quantidade de definições de “religião” que 
proliferam por aí. Adotado pelo cristianismo, o termo “religião” se fez extensivo a todas 
as religiões históricas conhecidas. Sua etimologia remonta a Cícero e Lactâncio e é 
assumida por Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino.
Cícero afirma que a palavra “religião” deriva do latim relegere (releitura), no sentido de refle-
tir sobre algo que suscita admiração e desperta interesse. É uma atitude de reconhecimento 
da superioridade dos deuses e uma tentativa de “reler” o mundo a partir da ótica divina.
Lactâncio, ao contrário, relaciona “religião” com religare (religar), pondo em relevo o 
39FilosoFia da Religião
aspecto do compromisso com a divindade, de desejo de união com o Absoluto.
Recolhendo essas etimologias, Santo Tomás de Aquino entende “religião” como 
ordo ad Deum, ou seja, a relação do homem com Deus no sentido de dependência, 
de observação, de adesão, de “ordenamento para Deus” (Cf. Summa Theologica 
II-II, q. 81, a1c).
Contudo, sabemos que a palavra “religião” comporta mais do que um significado eti-
mológico, visto que esses nascem de contextos histórico-culturais. Isso nos obriga, de 
certa maneira, a seguir um itinerário histórico para a compreensão além da estrita eti-
mologia (o que será realizado na Unidade 4, a qual abordará a história e os contextos 
das grandes religiões). Assim, devemos admitir que não se torna fácil encontrar nos 
distintos credos religiosos termos correspondentes a religio. Na Bíblia se fala funda-
mentalmente de “temor, amor e fidelidade”. A literatura sapiencial chinesa identifica 
religião com “sabedoria”; os livros sagrados da Índia a reduzem ao dharma, ordem fixa 
do mundo ou conduta reta do homem. A antiga tradição árabe emprega o termo diu, 
que significa dívida para com a divindade.
Independentemente disso, em todos os credos aparece a alusão clara à dependência 
do homem ao Absoluto, um respeito que comporta compromisso, um temor e fideli-
dade a que a cultura greco-romana nomeou de religio. Isso levou Malinowski (1884-
1942) a afirmar que não há nenhum povo que não possua manifestações religiosas.
À medida que progridem as ciências positivas da religião, seu conceito se aclara no-
tavelmente, revestindo as expressões etimológicas com verdadeiras definições, ou 
seja, passa-se de um sentimento de dependência para conceituações de sistemas 
doutrinais. Algumas dessas definições se principiam em especial importância:
A. Kant: “A Religião é o conhecimento de todos os nossos deveres como man-
datos divinos” (apud LUCAS, 1999, p. 92).
40 FilosoFia da Religião
B. Hegel: “A Religião é ela mesma o que é em e para si; ela é, por conseguinte, 
a esfera do espírito em que o conteúdo especulativo em geral se manifesta na 
consciência” (apud LUCAS, 1999, p. 92).
C. Schleiermacher: “Não é nem pensamento nem ação senão contemplação 
intuitiva e sentimento. Tomar cada coisa particular como parte do todo. Cada 
coisa limitada como uma representação do Infinito, isto é religião”. (apud LU-
CAS, 1999, p. 92).
D. Van der Leeuw: “O homo religiosus se põe em caminho até a Onipotência, 
até a total compreensão, ao último sentido... Desejaria compreender a vida 
para dominá-la. Por isso, sempre busca novas superioridades. Até que final-
mente se ache junto ao limite e perceba que nunca alcançará a última supe-
rioridade senão que essa o alcançará a ele de modo ininteligente e misterioso. 
O limite da potência humana e o princípio da divina formam juntos o objetivo 
buscado e encontrado em todo o tempo na religião, quer dizer, a salvação.” 
(apud LUCAS, 1999, p. 92).
E. Rudolf Otto: “Somente ali onde o numem é vivido como presente ou onde se 
sente algo de caráter numinoso ou onde o ânimo se volta até ele, quer dizer, 
somente pela categoria do nouminoso pode engendrar-se no ânimo do senti-
mento de criatura, como sentimento concomitante” (apud LUCAS, 1999, p. 93).
F. Max Muller: “Uma disposição espiritual ou um dom natural que, independen-
temente da razão e dos sentidos, faz os homens capazes de perceberem o 
Infinito. Sem esta percepção do divino, não haveria religião possível nem se-
quer o menor culto a um ídolo ou fetiche. E, se prestarmos atenção, podemos 
perceber em todas as religiões um gemido do espírito, uma luta por captar o 
inapreensível, por expressar o inexpressável, um ardente desejo de infinito, 
um amor a Deus”. (apud LUCAS, 1999, p. 93).
G. Durkheim: “Uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas re-
lativas a coisas sagradas, quer dizer, separadas, proibidas; crenças e práticas 
41FilosoFia da Religião
que unem na mesma comunidade moral, chamada Igreja, a todos os que ade-
rem a ela”. (apud LUCAS, 1999, p. 93).
Teríamos, ainda, uma série de definições; entretanto, em todas elas aparece um duplo 
elemento constitutivo: subjetivo e objetivo. O subjetivo está representado pela atitude 
humana de dependência; o objetivo se refere a um ser superior do qual se depende 
(Deus). Essa consciência de dependência se manifesta através de fatos peculiares e 
irredutíveis: crenças, ritos, oferendas, orações, sacrifícios, etc.
A religião não é outra coisa senão a tentativa do homem em descobrirem poderes supra-
mundanos sua última fundamentação e, desta maneira, alcançar a salvação. Mediante a 
religião quer colocar-se em harmonia com essa última realidade que somente se entre-
ga a uma insinuação misteriosa e nisso se contenta implicitamente o conhecimento do 
modo de ser pessoal do divino. Este modo inclui o fato de dirigir-se o homem a ele com 
rogos, louvores e pedidos, com arrependimento e com todas as ações e sentimentos que 
derivam do comércio com os homens. (BRUNNER apud LUCAS, 1999, p. 93-94).
Retornando ao aspecto etimológico, de modo específico no termo religio como rele-
gere, percebemos que a religião confere ao humano um sentido de existência, como 
ilustra o testemunho pessoal de Leloup na extensa, mas interessante narrativa:
42 FilosoFia da Religião
Ora, aconteceu que numa noite não en-
contrei mais minha mochila, devem tê-la 
tirado de mim em um segundo, enquanto 
eu cochilava. Isso para mim foi um sofri-
mento real; eu me havia identificado tanto 
com aqueles pedaços de frases que sem 
eles minha vida não tinha mais sentido. 
Não chorava pelos meus documentos de 
identidade; chorava pelos meus poemas, 
chorava também pela miséria, pela injus-
tiça... como um pobre pode roubar outro 
pobre? Não havia um tostão em minha 
mochila, lá só estava o meu tesouro, o bri-
lho de duas ou três palavras que, quando 
ficam juntas, produzem um efeito de mú-
sica ou sentido. Nessa noite, com obsti-
nação e desespero, pensei ter procurado 
minha mochila em todas as latas de lixo 
da cidade e, cerca de cinco horas da ma-
nhã, encontrei-me esgotado, em um bar 
de pescadores perto de Criée, cais de Ri-
ve-Neuve. Desabei em um canto, a cabe-
ça entre os braços, a soluçar como uma 
criança. Quando me acalmei, um garçom 
veio trazer-me um chocolate quente e 
dois croissants. Disse-lhe que não tinha 
pedido nada e que não tinha dinheiro. Ele 
respondeu-me que uma senhora tinha 
pagado. “Quem?”, perguntei. “Ah! Ela já 
saiu”. Um chocolate quente e dois crois-
sants: creio que ali fiz minha primeira co-
munhão. Minhas lágrimas não eram mais 
as mesmas, eu sentia fundir em mim algo 
de infinitamente duro e, pela primeira vez, 
senti o que queria dizer “ter um coração”. 
A palavra Amor e a palavra Deus forma-
vam uma outra palavra, um outro nome 
para o Amor, um outro nome para Deus, 
mas eram as mesmas palavras unidas e 
inseparáveis. Não gosto nem de choco-
late quente nem de croissants, mas não 
eram mais eles, era a presença real de 
um ser que é Amor... Saberá um dia, essa 
desconhecida, que naquela manhã ela 
fez sair um condenado de seu inferno? 
Depois de ter beijado a xícara branca, 
ele saiu pelo porto; e ele, que nunca dan-
çava, pôs-se a rodopiar como um pas-
sarinho, sentia-se no céu....e cantava, e 
chorava: “Foi a boa Mãe, foi a boa Mãe!”. 
Ele não tinha mais nada, realmente mais 
nada e, no entanto, sabia que nunca mais 
lhe faltaria qualquer coisa. Estava tão fe-
liz, que se pôs de joelhos sobre o cais e 
pouco lhe importava se o tomassem por 
louco. Aqueles que passavam perto dele, 
ele os via cheios de luz, adorava-os a to-
dos, mesmo os barcos, os peixes mortos, 
as gaivotas que vinham... ele só via a luz, 
doce e ligeiramente dourada. Saberá um 
dia, essa desconhecida, o poder de um 
ato de compaixão, as consequências de 
um simples gesto de amor gratuito e anô-
nimo? Quando falo de graça, não penso 
em um capítulo importante da teologia. 
Tenho na boca um gosto de chocola-
te quente e na mão a maciez um pouco 
gordurosa de um croissant. Depois dessa 
experiência onde se misturam o infinito e 
o irrisório, não fui mais o mesmo. Decidi 
deixar Marselha e partir para a Índia. Não 
era mais um errante. Sem muito compre-
ender, havia recebido a comunhão; de 
repente havia recebido um santo sacra-
mento e de vagabundo tornei-me um pe-
regrino. (LELOUP, 2003, p. 51-52).
43FilosoFia da Religião
elementOs básicOs da reliGiÃO
Por elementos básicos da religião devemos entender os seus componentes, os quais 
podem ser agrupados em:
A. Religioso Primário (componente racional e interno): reconhecimento interior 
do Sagrado e da dependência do humano com relação a ele. Aqui estamos no 
âmbito da religiosidade subjetiva.
B. Religioso Secundário (componente afetivo e externo): manifestações externas 
e objetivas, pessoais e coletivas, derivadas do reconhecimento da existência 
e dependência do Sagrado. Aqui estamos no âmbito da religiosidade objetiva.
Com Karl Rahner (1904-1984), podemos afirmar que uma religião é religião na medida 
em que pretende realmente ligar existencialmente o homem com Deus e isso através 
de mediações históricas, pessoais ou institucionais (Cf. LUCAS, 1999, p. 95). Trata-
se, então, a religião de um horizonte de abertura, de transcendência, que engloba e 
supera todas as suas mediações. Este horizonte denomina-se Sagrado.
O sagrado
Segundo Marilena Chauí (1995, p. 297), o Sagrado é uma experiência da presença 
de uma potência e de uma força sobrenatural que habita algum ser, é a experiência 
simbólica da diferença entre os seres e é justamente a sacralidade que introduz uma 
ruptura entre o natural e o sobrenatural.
É o Sagrado que opera o encantamento do mundo, é ele que separa e distingue; é 
a separação por excelência (aqui convém lembrar que a palavra sagrado – do latim 
sacrum – significa separado, fora do normal, transcendente, além).
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Assim como o conceito de religião se torna difícil enunciar, a expressão Sagrado se 
torna um termo suscetível de dois sentidos: como nível ontológico superior ou como o 
separado, segregado; sem menosprezar o segundo sentido, em nosso estudo toma-
remos como base de compreensão o primeiro.
realidade e estrutura do sagrado
Sagrado e religioso não são sinônimos; expressam realidades distintas, mesmo que 
sejam realidades que se distingam do profano. Por Sagrado se entende, como já afir-
mamos acima, uma realidade ou marco ontológico diferenciado, um nível abrangente, 
enquanto que o religioso significa uma conduta peculiar do ser humano ou forma con-
creta de assumir a existência em uma perspectiva nova. O Sagrado é essa realidade 
que determina, de certa maneira, uma atitude religiosa.
A definição do que seja Sagrado é um enorme desafio. Inacessível à compreensão 
conceitual, somente podemos descrevê-lo a partir da reação que produz na consciên-
cia humana. Talvez a via de compreensão do Sagrado seja a apofática, isto é, a via 
negativa: dele – o Sagrado – sabemos mais o que não é do que aquilo que é.
Diante disso, surge a imperiosa questão: Seria o Sagrado uma realidade superior, um 
âmbito ou estado? É um Ser ou uma ordem? Todos os grandes pesquisadores das ci-
ências religiosas e filósofos da religião são unânimes em afirmar que o Sagrado aponta 
uma realidade ontológica superior mais do que um âmbito ou estado; essa realidade 
– Sagrado – cria em torno de si um mundo ou marco no qual se enquadram determina-
das realidades, que se revestem de uma nova dimensão ou caráter em virtude de sua 
relação com ela. Nesse sentido, devemos dizer que o Sagrado representa substancial-
mente uma realidade suprema sem paradigmas com as coisas mundanas, as quais, por 
sua vez, podem, igualmente, se tornarem sagradas devido a uma configuração ao Ser 
Sagrado. Surge, assim, aquilo que denominamos “universo do Sagrado”, reconhecido 
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na história das religiões como o conjunto de objetos, tempos, lugares, instituições e pes-
soas configuradas como tais. Nessa perspectiva, argumenta Mircea Eliade:
Em qualquer contexto histórico no qual esteja submergido, o homo religiosus crê sem-
pre que existe uma realidade absoluta, o sagrado, que transcende este mundo, porém 
se manifesta nele e, por esse fato, o santifica e o torna real. (apud LUCAS, 1999, p. 98).
Essa realidade, para Eliade, é algo invulnerável e estático, subtraído ao devir, divino, 
primordial e absoluto, ontologicamente superior, no qual o humano procura inserir-
se mediantecertas seções que se transformam em cerimônias. Todas as religiões 
são conscientes disso e gravitam em torno a essa realidade insondável e indefinível, 
misteriosa e sublime; por isso, “[...] o que podemos dizer em primeiro lugar acerca 
do objeto da religião é que é o outro, o estranho” (Leeuw apud LUCAS, 1999, p. 99).
Em síntese: o domínio do profano abarca o âmbito comum da realidade em que o 
homem exerce suas atividades. O Sagrado, ao contrário, representa o outro, o estra-
nho e o proibido; aquele ante o qual o humano experimenta sua pequenez e se sente 
desarmado. Porém, é fonte de poder e de eficácia. E isso suscita sentimentos ambi-
valentes: estremecimento e pavor, admiração e atração, temor e amor; o Sagrado é, 
concomitantemente, tremens et fascinans (tremendo e fascinante).
elementos e características do sagrado
Os elementos e características do Sagrado, desse Totalmente-Outro, somente são 
dados a conhecer através de certas mediações e manifestações, que nomeamos por 
hierofanias (do grego: hagiós = santo; fanein = manifestação). Elenquemos três as-
pectos fundamentais que configuram o Sagrado, de acordo com o eixo apresentado 
por Eliade (Cf. LUCAS, 1999, p. 100): novo limiar ontológico, plenitude do ser e reali-
dade misteriosa.
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• Novo limiar ontológico: As expressões do Sagrado – hierofanias – compor-
tam conotações de superioridade inegável, fornecendo uma “ruptura de nível 
ontológico”, um novo limiar de compreensão da realidade. Nesse momento, o 
sujeito religioso descobre que há uma presença, uma força que transborda e 
que, de certa maneira, submete.
É o caso das kratofanias, das forças inauditas, ou das manifestações urânicas, que 
dão a conhecer um Ser supremo, criador e onipotente. Todas elas são ontofanias que 
canalizam o absoluto, a invulnerabilidade e a perenidade, pelas quais essa singular 
realidade se subtrai ao devir e destruição e mostra sua transcendência ontológica.
Essa nova realidade, que se apresenta diante do ser religioso e que lhe oferece o as-
pecto de inacessibilidade e inefabilidade, exige um esforço de transcendência pessoal 
para colocar-se em contato com ela. Daqui o reconhecimento da própria indignidade 
e até a aniquilação para dirigir-se a ela e travar um diálogo construtivo e salvador, um 
diálogo que estabeleça a possibilidade de criar uma nova realidade para o ser.
• Plenitude do ser e realidade por excelência: Diante desse Outro, que apre-
senta ao humano uma nova realidade, percebe-se no Sagrado a plenitude 
do ser e a realidade por excelência; daqui seu valor infinito e sua capacidade 
criadora. O humano, mergulhado no devir da existência, quer ser saturado 
da plenitude do Sagrado. Porém, o Sagrado não é objeto e não se reduz a 
si mesmo. Sua plenitude faz com que desempenhe a função de fundamento 
e princípio originante, que suscite no homem o desejo de incorporação para 
participar de si mesmo.
Descoberta essa realidade, o homem percebe novamente sua finitude e indigência 
e sente a gratuidade desse Ser que lhe sustenta no cotidiano, experimenta sua vida 
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como doação de um ser extraordinário, que lhe suscita, ao mesmo tempo, amor e 
temor, atração e repulsa, distanciamento e entrega. Sobre isso testemunha Lucas 
(1999, p. 103): “Em uma palavra: na presença do Sagrado o homem rompe sua indi-
ferença e adota uma postura de abertura ao que lhe transcende”.
• Realidade misteriosa: Essa realidade, porém, não pode expressar-se em 
categorias mentais nem dar-se a conhecer em termos descritivos. É algo ine-
fável e misterioso que exige outro tipo de linguagem: a do mistério.
O caráter misterioso do Sagrado radica em sua superioridade ontológica e, por isso, re-
sulta inútil encapsulá-lo no marco de nossas categorias e expressá-lo em termos da lin-
guagem cotidiana. Sua descrição somente é possível se nos atemos às impressões que 
produz sua irrupção na vida do homem, ao impacto que causa na consciência. Sobre isso 
nos afirma Santo Agostinho: “Si comprehendis, non est Deus – Se o compreendesses, 
não seria Deus” (Sermão 52: PL, 38,360 apud BENTO XVI. Deus caritas est, 2005, p. 69).
Essa realidade estranha relativiza a realidade na ordem do ser e do conhecer. Não 
tendo nenhum paradigma com a realidade que conhecemos, não se encaixa no marco 
do saber científico e filosófico e escapa inclusive ao domínio mental do homem. Tudo 
quanto se pode dizer do Sagrado é inverificável e supera o cálculo racional e compre-
ensão filosófica, sem que isso signifique incognoscibilidade; sua ordem de discurso é 
outra, assim como ele é Outro. Sendo o Totalmente-Outro, é inobjetivável e inexprimí-
vel em conceitos que o representem.
Mas, apesar de tudo, não se deve dizer [o conhecimento do Sagrado] que seja irracio-
nal, visto que, mesmo se situando acima do pensamento discursivo, cai dentro de ou-
tras áreas do conhecimento humano. Assim como a arte e a poesia, a intuição religiosa, 
longe de opor-se à inteligência, tem nela sua fonte de onde brota o comportamento 
peculiar que comporta. Trata-se de um conhecimento pré-reflexivo que se aclara no 
contato com a experiência. (LUCAS, 1999, p. 104).
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Aqui radica o específico da comunicação com o Sagrado: o mundo simbólico.
• O Sagrado e o símbolo, sua linguagem própria: A linguagem simbólica, 
que não é ilusória e irreal, é o meio adequado para compreender a atitude 
religiosa determinada pelo Sagrado.
O símbolo é uma realidade humana de ordem externa e visível, que, sendo distinta da 
própria pessoa e da realidade simbolizada, exerce sobre ambos uma função mediadora 
e comunicadora ao remeter-nos ao simbolizado, ao representá-lo para nós de modo 
imediato e ao desvelar-nos o seu mistério mantendo a alteridade, em virtude da seme-
lhança ou dessemelhança, da participação e da diferença entre o símbolo e o simboli-
zado. (BORÓBIO, 1990, p 326).
O símbolo não tem só uma função comunicativa, mas também uma função representativa 
ao manifestar seu significado e ao participar, em certo sentido, do mesmo. Entre o símbolo e 
o que ele representa existe uma conexão interna que desemboca numa unidade essencial:
• O símbolo relaciona os significantes, o que enfatiza a sua referência a um 
significado ulterior.
• Introduz-nos numa ordem da qual o próprio símbolo faz parte, isto é, num sig-
nificado presente no próprio símbolo.
• Situa-se do lado do ato de comunicação: leva ao reconhecimento e ao pacto 
entre sujeitos.
• Realiza um trabalho a partir da deficiência ou negatividade “natural” e esse 
trabalho é constitutivo da linguagem, que supera a negatividade e permite a 
comunicação.
• Mantém uma relação interna com a ordem dos significantes: o símbolo é au-
totélico e intransitivo, é fim em si mesmo, pois não remete a uma ideia exterior 
a si próprio, mas a algo que só é dado pelo símbolo.
• É ato de enunciação, como se fosse a relação entre o produto e o produtor. O 
símbolo une a obra e o ato de produzi-la. É expressão viva, ato de enunciação 
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e comunicação. Existe na medida em que é posto, enquanto acontecimento.
• Tende a exercer uma função de expressão: expressa o que é dado a partir 
do símbolo.
• É ambivalente: postula reconhecimento, abertura e analogia.
Sendo o simbólico a linguagem do Sagrado, podemos enumerar suas principais ca-
racterísticas:
Dupla intencionalidade: através da qual se passa de um primeiro sentido imediato a um 
segundo sentido indicado, que nos leva a descobrir a plenitude significada. A dupla inten-
cionalidade supõe a união de dois significantes, através dos quais aparece a plenitude de 
sentido. A opacidade primeira do primeiro significante (primeira intencionalidade) aponta 
para uma desvelação ulterior pelo segundo significante (segunda intencionalidade).
Caráter analógico: o sentido literal primeiro está unido com o sentido simbólico seguido 
por um laço analógico. A analogia do símbolo assinala asemelhança e a diferença entre 
o sentido ou intencionalidade primeiros e o sentido ou intencionalidade segundos. O 
sentido primeiro nos faz superá-lo na direção de um sentido segundo, com o qual tem 
certa semelhança, mas não se identifica. Nunca podemos dominar plenamente, com a 
nossa inteligência, essa semelhança entre o primeiro e o segundo sentidos, pois sempre 
há uma desproporção de significantes, que só pode ser resgatada por analogia. O sím-
bolo é o movimento do sentido primeiro para o sentido segundo por meio de laço analó-
gico; é a passagem da primeira intencionalidade para a segunda em função do princípio 
analógico. A primeira intencionalidade, em seu reenvio a um sentido que a transcende, 
dá-nos analogicamente a intencionalidade segunda, pela qual nos aproximamos mais 
do sentido pleno. Mas esse sentido pleno não pode ser fixado com exatidão. O símbolo 
permanece “impenetrável”, insondável. Neste sentido, entende-se perfeitamente a de-
finição de que o símbolo é uma unidade de duas faces. A única relação ao signo é que 
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ele, em vez de unir um significante e um significado, une dois significantes, que indicam 
ou remetem a uma realidade significada, cada uma em seu nível.
Dimensão desveladora: o símbolo é desvelação, epifania, expressão de um sentido 
oculto, de uma realidade invisível, de uma experiência profunda através do visível 
significante. O campo do símbolo, ou melhor, do simbolizado pelo símbolo, não é o 
sensível, mas o não-sensível; não o visível, mas o não-visível, em todas as suas for-
mas: o inconsciente, o metafísico, o sobrenatural, o experimental. Dessa perspectiva, 
é possível dizer que o símbolo tem como função assumir as experiências mais funda-
mentais ou profundas do homem.
Função mediadora: o símbolo é mediação entre o dado e a realidade, entre a unidade e 
a pluralidade, entre a presença e a ausência e a mesmidade, entre a imanência e trans-
cendência, entre o visível e o invisível, entre nós e os outros, entre Deus e os homens. Os 
símbolos são mediações com relação a si mesmos, com os outros e com o transcendente.
Eficácia presentificadora: o símbolo não é uma realidade vazia, mas uma realidade 
plena daquilo que simboliza e a que remete por seu dinamismo analógico. Não tem 
sentido contrapor o simbólico ao real: ele é a realidade mais plena. E isso por duas ra-
zões: porque o símbolo não é algo independente e nem existe como algo separado do 
sujeito que o produz, o qual o transforma em minha realidade fundamental; e porque o 
símbolo contém já a própria realidade simbolizada, presentificando simbolicamente a 
própria coisa que figura. Nesse sentido, é possível afirmar que o símbolo é “autotélico” 
à medida que remete a algo que já está presente no próprio símbolo; mas também é 
preciso dizer que ele é “alterotélico”, na medida em que a realidade à qual remete é dis-
tinta e irredutível ao próprio símbolo e ao seu ato de enunciação, que tem como função 
tornar essa realidade presente e próxima precisamente naquilo que o supera. Nos sím-
bolos se exprime, aparece e se realiza a própria realidade simbolizada, mas de modo 
simbólico. A sua eficácia presentificadora consiste na faculdade de tornar presente de 
forma mais plena uma realidade que já neles se encontra de maneira mais imperfeita.
51FilosoFia da Religião
deus cOmO PrOblema FilOsÓFicO
Segundo Anzenbacher (2009, p. 333), o problema de Deus é o último grande tema 
da Filosofia. E isso pela seguinte esquematização: somos seres no mundo (Ontolo-
gia) e cotidianamente fazemos experiências e nos perguntamos por essas mesmas 
experiências (Transcendentais); em muitas dessas experiências nos deparamos com 
a condição absoluta enquanto condição última (Deus). Assim, Deus, como problema 
filosófico, situa-se em três contextos:
A Religião é um dado fundamentalmente humano: o fato de que o dado religioso 
sempre motivou pessoas é filosoficamente significativo. A religião, enquanto nível de 
sentido e pretensão de sentido da práxis humana exige uma reflexão do âmbito da 
Filosofia da Religião, ou seja, a religião é uma resposta humana a um problema hu-
mano e, por isso, merece ser analisada pela Filosofia (no caso, Filosofia da Religião).
O Absoluto como causa última: na História da Filosofia, a questão do Absoluto tem 
grande importância. Independentemente de uma religião determinada, há um proble-
ma filosófico de Deus que ocupa a Filosofia desde seus primórdios.
Crítica à Religião: a crítica à religião sempre esteve presente em diversos contextos 
da História da Filosofia.
O primeiro contexto será abordado na Unidade 02; o segundo não será aqui explana-
do, visto que na disciplina “Filosofia Medieval” analisaremos a questão de Deus a partir 
daquilo que a tradição denominou “Teodiceia Filosófica”. Interessa-nos, assim, perce-
ber o modo como os pensadores analisaram o fenômeno religioso (terceiro contexto).
A questão religiosa sempre esteve presente nas fases mais importantes da História da 
Filosofia. Segundo Marilena Chauí (Cf. 1995, p. 308-309), as primeiras críticas à religião, 
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no pensamento ocidental, vieram dos filósofos pré-socráticos, que criticaram o politeísmo 
e o antropomorfismo, afirmando que, do ponto de vista da razão, a pluralidade dos deuses 
é absurda, pois a essência da divindade é a plenitude infinita, não podendo haver senão 
uma potência divina. Sobre o antropomorfismo, defendiam a tese de que as qualidades 
da essência divina não podem confundir-se com as da natureza humana. Essas críticas 
foram retomadas e sistematizadas por Platão, Aristóteles e os Estóicos.
Na Idade Média, a questão “Deus” foi tema corrente, discutida pelos Padres da Igreja, 
por Santo Agostinho, Avicenas, Averróis, Maimônides, Santo Tomás, Ockham; nos 
primórdios da Idade Moderna, por Giordano Bruno, Campanella, Spinoza, Hobbes e 
Locke. “Mas foi, sobretudo a partir de Hume e de Kant que a questão religiosa se tor-
nou um dos pontos centrais da reflexão filosófica” (MONDIN, 1980, p. 219).
HeGel e a QuestÃO reliGiOsa
O filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), um dos expoentes do Idea-
lismo, no tocante à questão religiosa, contribuiu de maneira decisiva para a Filosofia 
da Religião. Para que possamos sintetizar seu pensamento sobre o dado religioso, 
dividiremos suas contribuições em dois momentos:
Hegel “jovem teólogo”
Contrapondo-se a Kant (1724-1804), que afirmava que não podemos conhecer “a 
coisa em si”, mas apenas seus fenômenos, Hegel afirma que tal conhecimento é 
possível, inclusive o conhecimento de Deus. A pergunta de Hegel, então, assim se 
estabelece: Em que espaço se dá esse conhecimento verdadeiro? 
O “Jovem Hegel” assim define: o cristão, pela fé, se aliena em Deus. Entretanto, 
devemos entender alienação aqui não no sentido sociológico, que se estabelecerá 
a partir de Marx, mas no sentido de que toda fé é alienação porque se trata de uma 
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saída de si mesmo em direção ao Outro, ao Sagrado. Deus não está em nós, mas 
fora de nós. Para que isso aconteça, há a necessidade de um conhecimento an-
terior que se antecipa em se dar a conhecer: Deus, que é infinito, se multiplica no 
finito. A alienação, então, somente acontece e é necessária porque Deus é quem 
se divide na multiplicidade, na finitude. A finitude é a multiplicação do infinito e no 
finito está o infinito. Dessa maneira, o homem religioso, se unifica com o infinito. 
Hegel, como todos sabemos, trabalha a partir de uma perspectiva dialética; nessa 
perspectiva não há uma oposição e separação simples, sendo a oposição a própria 
realidade. Para o pensador alemão, quem realiza essa unificação pela dialética é a 
própria religião ou fenômeno religioso. A religião, assim, permite que o ser humano se 
eleve até a unidade com o infinito; é a unidade do finito com o infinito. 
Por ser cristão, Hegel realiza uma leitura dialética da própria manifestação

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