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Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO PROBLEMA 1 – ABERTURA: PUBERDADE E SEUS IMPACTOS MORFOFISIOLÓGICOS: A puberdade é o momento no qual os caracteres sexuais secundários surgem e a maturidade reprodutiva é alcançada (geralmente entre 8-13 anos para meninas e 9-14 para meninos). Sob o aspecto hormonal, esse período é marcado pelo ajuste da alça de feedback negativo de esteroides gonadais e aquisição de uma alça de feedback positivo de estrogênio para o controle do ciclo menstrual na mulher, de forma interdependente de gonadotrofinas e hormônios ovarianos. A adolescência, por sua vez, configura-se como o período da vida que sucede a infância, abrangendo indivíduos de 12 a 20 anos. Começa com a puberdade e caracteriza-se por uma série de mudanças corporais e psicológicas. FATORES DETERMINANTES DO INÍCIO DA PUBERDADE: O principal determinante para a deflagração da puberdade é genético (ex.: concordância de idade da menarca entre mãe e filha, filha e irmãs ou num mesmo grupo étnico), porém fatores extrínsecos são capazes de afetar tanto a idade de início quanto a progressão puberal, dentre os quais podem ser destacados o estado nutricional (mais precoce em crianças obesas e atrasada em indivíduos desnutridos), a saúde geral, a região geográfica (maior precocidade em áreas urbanas, de menor altitude e mais próximas à linha do Equador), a exposição à luz, a exposição à compostos químicos capazes de afetar o sistema endócrino e o estado psicológico. Gêmeas normais aos 12 anos de idade. A puberdade está claramente mais avançada na gêmea mais pesada (64,8 kg) que na mais magra (39,5 kg). Fotografias e dados de casos como esse serviram como base para a teoria de que existe uma relação entre gordura corporal, massa corporal e menarca Um dos supostos agentes exógenos capazes de desregular aspectos endócrino- hormonais e influenciar o início da fase puberal é o bisfenol, composto presente principalmente em plásticos. Em 2011, a ANVISA proibiu a presença desta substância nas mamadeiras, pelo risco que representa para as crianças, mas ela continua presente em latas de refrigerantes e outras embalagens. Esse composto tem ação estrogênica, que pode causar alterações neurocomportamentais e mudança na forma dos órgãos reprodutores, além de câncer de mama. Além dos agentes sintéticos, compostos naturais podem agir desregulando os níveis hormonais, sendo denominados fitoestrógenos. Sua ação é relativamente fraca quando comparada à do estrogênio endógeno, porém apresenta impactos se consumidos em excesso, estando presentes principalmente na soja (e derivados) e na semente de linhaça. ALTERAÇÕES MORFOFISIOLÓGICAS NA PUBERDADE: MARCOS DO DESENVOLVIMENTO PUBERAL: As mudanças típicas do período puberal ocorrem de forma ordenada num período de Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO tempo definido, sendo qualquer desvio considerado como anormal. Os estágios de Tanner (Marshall e Tanner) são utilizados para descrever o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários em ambos os sexos, dividindo- se em estágios: Desenvolvimento mamário feminino: o Estágio 1 de Tanner: pré-puberal, com ausência de tecido mamário palpável, papilas invertidas, planas ou elevadas e aréolas medindo menos de 2 cm de diâmetro; o Estágio 2 de Tanner: brotamento das mamas, com elevação visível e palpável do tecido mamário. Há um aumento das aréolas e a pele do local se torna mais fina. As papilas se desenvolvem em grau variado, formando uma pequena saliência; o Estágio 3 de Tanner: o crescimento e a elevação de toda a mama continuam, e é evidente uma segunda saliência correspondente à papila; o Estágio 4 de Tanner: há aumento da glândula mamária e elevação da aréola e da papila, com aumento de diâmetro e mudanças na textura da primeira; o Estágio 5 de Tanner: o contorno e tamanho da mama são de aspecto adulto. Na maioria das mulheres, a papila é mais pigmentada nesse estágio que no início do desenvolvimento, e as glândulas de Montgomery são visíveis ao redor da circunferência da aréola. O desenvolvimento mamário completo costuma levar 3 a três anos e meio, mas pode ocorrer em apenas 2 anos ou não progredir além do estágio 4 até a primeira gravidez. Desenvolvimento puberal feminino: o Estágio 1 de Tanner: não há pelos pubianos, porém pode ser observada uma penugem semelhante àquela que recobre o abdome; o Estágio 2 de Tanner: surgimento dos primeiros pelos pubianos, longos, finos e liso/pouco encaracolados, que se depositam junto aos grandes lábios ou na base do pênis; o Estágio 3 de Tanner: os pelos se estendem até a sínfise púbica, tornando-se mais grossos, encaracolados e escuros; o Estágio 4 de Tanner: os pelos já apresentam aspectos de textura e espessura iguais aos de um adulto, porém não atingem a face interna da coxa; o Estágio 5 de Tanner: a quantidade, distribuição, textura e espessura da pilosidade pubiana são iguais às do adulto, invadindo a face interna da coxa. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO Desenvolvimento genital masculino: o Estágio 1 de Tanner: pré-puberal, o tamanho e aspecto do pênis e do escroto são infantis; o Estágio 2 de Tanner: surgem os primeiros sinais de aumento testicular (2,5 a 3,2cm de comprimento) e peniano; o Estágio 3 de Tanner: crescimento peniano em comprimento e diâmetro, com aumento testicular (3,3 a 4cm de comprimento); o Estágio 4 de Tanner: crescimento peniano, principalmente em diâmetro, com desenvolvimento da glande, manutenção do crescimento escrotal (4 a 4,5cm), com aumento na pigmentação da pele do local; o Estágio 5 de Tanner: tamanho dos órgãos genitais compatíveis com os de um adulto. O comprimento médio do pênis flácido em homens adultos varia entre 8,6 e 10,5 cm desde a extremidade até a base. Há uma aceleração do crescimento durante a puberdade, evidente principalmente nos estágios 3 e 4 de Tanner. As meninas sofrem esse pico de crescimento antes da menarca, limitando seu crescimento posteriormente, ao passo que os meninos perpassam essas mudanças cerca de 2 anos mais tarde, resultando numa diferença de altura de 12 cm entre os sexos na fase adulta. O controle hormonal desse processo é complexo, com papéis importantes sendo atribuídos ao hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) e esteroides gonadais. O estrogênio é o principal estimulador do crescimento puberal tanto para meninos quanto para meninas. Várias alterações da composição corporal ocorrem durante o desenvolvimento puberal. Embora a massa corporal magra, a massa óssea e a gordura corporal sejam iguais em meninos e meninas pré-púberes, na maturidade, os homens têm 1,5 vez a massa corporal magra e quase 1,5 vez a massa óssea das mulheres, enquanto as mulheres têm o dobro da gordura corporal dos homens. As alterações do contorno corporal em meninas, com acúmulo de gordura nas coxas, quadris e nádegas, ocorrem durante o estirão de crescimento puberal. Nesse aspecto, a testosterona é um potente Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO esteroide anabólico, responsável pelas principais mudanças em meninos; enquanto, nas meninas, o estrogênio aumenta a gordura corporal total em uma distribuição característica nas coxas, nas nádegas e no abdome. O crescimento na adolescência é desproporcional, iniciando-se, primeiramente, pelas extremidades distais, o que dá ao adolescente um aspecto peculiar nessa fase. Após o crescimento dos pés e mãos, ocorre o crescimento das extremidades proximais e, por último, o do tronco, retomando, então, a harmonia e a proporcionalidade. Durante esse estirão de crescimentoos ossos longos crescem e as epífises se fecham, o que faz com que a idade óssea seja uma forma mais acurada de se verificar o estágio puberal que a idade cronológica. Outras alterações físicas reforçam o dimorfismo sexual na puberdade, como o alongamento excessivo das partes cartilaginosa e membranácea das pregas vocais em meninos. Acne, seborreia e odor corporal decorrem da estimulação de glândulas sebáceas e apócrinas por meio da maior secreção de esteroides gonadais e suprarrenais, sendo indicações do desenvolvimento puberal iminente. ALTERAÇÕES HORMONAIS NA ADOLESCÊNCIA: O EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-GONADAL: Chama-se eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HHG) a relação de interdependência na secreção de esteroides entre essas três regiões, regulada por meio de uma alça de feedback negativo (estímulo contrário ao que provocou desequilíbrio), fundamental para a manutenção de níveis hormonais no organismo e para o desenvolvimento da puberdade. A hipófise ou pituitária se localiza na sela turca do osso esfenoide e mantém ligação com o hipotálamo, estrutura situada na base do cérebro. Essa glândula apresenta origem embrionária dupla, ectodérmica (adenoipófise) e nervosa (neuro-hipófise). A porção de origem nervosa se desenvolve pelo crescimento do assoalho do diencéfalo em direção caudal e a porção ectodérmica da hipófise se desenvolve a partir de um trecho do ectoderma do teto da boca primitiva que cresce em direção cranial formando a bolsa de Rathke, que logo é separada por meio de uma constrição local. A neuro-hipófise, a porção de origem nervosa, consta de uma porção volumosa (pars nervosa) e do seu pedículo de fixação (infundíbulo) que se continua com o hipotálamo. A adenoipófise não tem conexão anatômica com o sistema nervoso, sendo subdividida em três porções: a primeira e mais volumosa é a pars distalis ou lobo anterior; a segunda é a porção cranial que abraça o infundíbulo, denominada pars tuberalis; a terceira, denominada pars intermedia, é uma região intermediária entre a neuro-hipófise e a pars distalis, separada desta última pela fissura restante da cavidade da bolsa de Rathke, compondo uma estrutura rudimentar no homem. Ao conjunto de pars nervosa e pars intermedia também se dá o nome de lobo posterior da hipófise. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO O suprimento sanguíneo hipofisial é imprescindível para a secreção hormonal da pars distalis, realizado por meio das artérias hipofisária superiores D/E (eminência mediana e infundíbulo) e inferiores D/E (neuro-hipófise e pedículo). No infundíbulo, as artérias hipofisárias superiores formam um plexo capilar primário fenestrado, reunidos para formar vênulas encaminhadas para a pars distalis, onde formam um grande plexo capilar primário. Há, portanto, dois sistemas venosos em cascata, o que caracteriza um sistema porta, denominado sistema porta hipofisário. O suprimento sanguíneo da pars distalis é feito, portanto, de sangue vindo principalmente do infundíbulo através do sistema porta- hipofisário e em escala muito menor de alguns ramos das artérias hipofisárias inferiores. Através desse sistema vascular vários neuro-hormônios produzidos no hipotálamo são levados diretamente do infundíbulo à pars distalis, controlando a função de suas células. O sangue venoso desse sistema sai por diversas veias hipofisárias. A hipófise e o hipotálamo manifestam interações importantes anatômica e fisiologicamente, principalmente no que diz respeito à secreção hormonal. O hipotálamo produz em seus diversos núcleos substâncias que serão levadas até a pars nervosa (vasopressina [ADH] e ocitocina) ou a eminência mediana (GnRH, dopamina, somatostatina, entre outros), agindo na estimulação ou inibição da produção de compostos pela pars distalis ou sobre outros locais do organismo. Um segundo mecanismo de controle para além da modulação hipotalâmica é representado pelos hormônios produzidos por várias glândulas endócrinas, os quais agem sobre a liberação de peptídeos da eminência mediana e sobre a função das próprias células da pars distalis. Dessa maneira, os níveis plasmáticos de hormônios de várias glândulas endócrinas controlam por retroalimentação negativa a sua própria secreção. Na pars distalis, cinco tipos de células secretoras produzem compostos que irão estimular a ação de outras glândulas, com maior destaque no contexto da puberdade para os hormônios gonadotróficos, FSH e LH, que irão estimular a secreção de estrogênio, progesterona e andrógenos, além de promover a formação de folículos ovarianos e a espermatogênese, situações importantes na maturação reprodutiva humana. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO AÇÃO DOS HORMÔNIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA PUBERDADE: Por volta da 10ª semana de gestação, o hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH) se faz presente no hipotálamo, e o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio foliculoestimulante (FSH) encontram-se na hipófise. A gonadotrofina (GH – hormônio do crescimento) encontra-se elevada em fetos de ambos os sexos, com FSH elevado no sexo feminino. Após o nascimento, a concentração desses hormônios diminui gradativamente, mantendo-se baixos até a pré-puberdade. Na fase pós-natal, o hormônio do crescimento (GH) estimula o crescimento por sua ação direta na diferenciação celular, na placa de crescimento e no hepatócito, onde aumenta a secreção de fator de crescimento semelhante a insulina (IGF-1). O IGF-1, secretado pelos hepatócitos, tem ação específica na expansão e hipertrofia da placa epifisária, e é transportado por uma proteína carreadora (IGFPB3), cuja função é aumentar o período de meia-vida das IGF. Além disso, os hormônios tireoidianos também são necessários para o crescimento desde a infância, pois estimulam a secreção de GH e formação de IGF-1, além de agir sobre a epífise óssea de forma direta. Entre o terceiro trimestre de gestação e o sexto mês de vida é observada uma ativação parcial do HHG, que confere algumas manifestações clínicas em meninas, como a acne neonatal, trofismo genital e telarca (desenvolvimento mamário), configurando a minipuberdade. A produção de androgênios/hormônios masculinos (desidroepiandrosterona (DHEA) e seu sulfato (DHEAS)) pelas glândulas adrenais, controlada pelo ACTH, é anterior à produção de esteroides gonadais, ocorrendo entre 6 e 8 anos de idade (adrenarca). É responsável por modificações no odor das secreções, aumento da oleosidade da pele e aparecimento e manutenção da pilificação axilar e púbica durante a puberdade, evidenciando a importância de secreções não gonadais para a puberdade. Em dado momento, os fatores chamados permissivos (neuropeptídios, leptina, insulina, IGF-1 e estímulos oriundos de centros cerebrais superiores) atuam sobre o sistema HHG, provocando aumento da frequência e amplitude da produção de GnRH pelos neurônios hipotalâmicos que, via sistema porta hipofisário, ativam receptores específicos localizados na adenoipófise, desencadeando aumento da produção de gonadotrofinas (FSH e LH). A liberação dessas substâncias estimula ovários e testículos a produzirem os esteroides sexuais que induzirão todo o processo de modificações corporais, capacitando o organismo para as funções reprodutivas. Aumentos de FSH e LH podem ser associados ao sono. Em meninos, os aumentos noturnos dos níveis de gonadotrofina são acompanhados por aumentos simultâneos dos níveis circulantes de testosterona; já nas meninas, os aumentos noturnos dos níveis circulantes de gonadotrofina são seguidos por aumento da secreção de estradiol no dia seguinte, atraso Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO este que pode ser explicadopelas outras etapas de síntese para a conversão de androgênios em estrogênio. Em relação aos hormônios sexuais e seu impacto na puberdade temos que: Testosterona: Os testículos secretam uma série de androgênios, incluindo a testosterona, di- hidrotestosterona e a androtestosterona, com a primeira mais abundante que os outros, mesmo que seja quase totalmente convertida, posteriormente, em di- hidrotestosterona. A testosterona é produzida pelas células de Leydig quando influenciadas pela presença de LH, localizadas no interstício dos túbulos seminíferos. Esses tipos celulares não são encontrados facilmente nos testículos durante a infância, mas são abundantes no recém-nascido durante os primeiros meses de vida e no homem adulto pós-puberdade, momentos nos quais a produção hormonal é aumentada. De forma geral, a testosterona é responsável pelos caracteres que diferenciam o corpo masculino, tendo sua produção estimulada pela gonadotropina coriônica placentária durante a gestação e até 10 semanas após o nascimento. Na puberdade, a testosterona favorece o aumento dos órgãos genitais, a disposição de pelos pelo corpo (região genital, tórax, face e ao longo da linha alba), a calvície (em casos de concentração hormonal excessiva), a mudança de voz (atrofia da mucosa laríngea), o aumento da espessura da pele e de secreções sebáceas (acne), o maior desenvolvimento muscular, a maior retenção de cálcio nos ossos e a aceleração do metabolismo basal. Hormônios ovarianos: Os dois tipos de hormônios ovarianos são os estrogênios e as progestinas, sendo que os mais importantes de cada categoria são o estradiol e a progesterona, respectivamente. O primeiro grupo age na formação e crescimento de células específicas no corpo, compondo assim os caracteres sexuais secundários femininos, ao passo que o último atua na preparação do útero para a gestação e das mamas para a produção e secreção de leite. Todos esses hormônios são esteroides sintetizados nos ovários tendo como base o colesterol circulante e a acetilcoenzima A (suas moléculas podem se arranjar num núcleo esteroide). Em relação ao processo de síntese desses compostos, inicialmente são produzidos somente progesterona e androgênios, que são convertidos antes que possam deixar as gônadas em estrogênios, fenômeno desencadeado pela enzima aromatase associada à ação do FSH, presente somente nas células granulosas ovarianas. Durante a fase lútea, é produzida mais progesterona do que é possível converter, explicando a elevação plasmática desse hormônio. As funções dos hormônios ovarianos para o desenvolvimento do corpo feminino são: o Estrogênios: São responsáveis por aumentar de tamanho as estruturas reprodutoras internas (destacando-se a alteração no epitélio vaginal, de cuboide para estratificado, e proliferação de estroma Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO endometrial no útero e de fímbrias nas trompas de Falópio) e a genitália externa, esta por meio de acúmulo de gordura no monte púbis e grandes lábios. Há também desenvolvimento mamário, não só por deposição de gordura como pelo aumento de ductos lactíferos. Esses hormônios aumentam o crescimento ósseo e estimulam o fechamento rápido das epífises, justificando o fim precoce dos estirões de crescimento. Em relação à pele, os estrogênios a tornam mais lisa e macia, além de favorecer sua vascularização, resultando assim em maior sangramento em cortes superficiais e temperatura mais elevada. o Progestinas: As progestinas promovem o aumento na secreção mucosa uterina e nas trompas de Falópio, visando preparar o corpo para a gravidez. Além disso, auxiliam no desenvolvimento das mamas ao estimular a proliferação de células alveolares e sua transformação em células secretoras. Nas fases iniciais da puberdade há, além da elevação das taxas de esteroides gonadais, um aumento na frequência e amplitude de secreção de GH (duas a dez vezes maior), o que intensifica a produção de IGF-1 pelo fígado. Esse hormônio também atua em outros órgãos, como musculatura cardíaca, diafragma, adipócitos e sistema hematopoético, o que é essencial para adequar esses órgãos às novas necessidades impostas pelo crescimento. Em ambos os sexos, os hormônios sexuais, com destaque para os estrógenos, são imprescindíveis para a aceleração do crescimento por meio de sua ação em receptores da placa epifisária. GAMETOGÊNESE: Corresponde à formação de células germinativas masculinas e femininas, denominada como espermatogênese e ovogênese, respectivamente. O número de cromossomos nesses gametas é reduzido à metade, fenômeno que ocorre por meio da meiose, tipo reducional de divisão celular. A história da formação do gameta masculino e feminino é diferente, mas a sequência é a mesma. A diferença entre os dois sexos reside no ritmo de eventos durante a meiose. MEIOSE (R!): A meiose é composta por duas divisões celulares meióticas que têm por objetivo a formação de células haploides (n= 23) originadas de matrizes diploides. Na primeira etapa (meiose I, também chamada de fase reducional), o número de cromossomos passa de diploide para haploide, com pareamento de cromossomos homólogos durante a prófase e separação na anáfase, originando células (espermatócito ou oócito secundário) com duas cromátides- irmãs pertencentes aos tipos iniciais, carregando metade de suas informações genéticas. A segunda divisão mitótica ocorre logo após a primeira sem uma intérfase (etapa de Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO replicação de DNA). Cada uma das cromátides-irmãs se divide, com cada uma de suas partes sendo levada de forma aleatória a um dos polos do fuso, constituindo uma nova célula, mantendo assim o caráter haploide dos cromossomos. A meiose é um processo que garante constância no número de cromossomos gerados e também a recombinação genética por meio do crossing over (“embaralhamento” das cromátides). ESPERMATOGÊNESE: As espermatogônias permanecem nos túbulos seminíferos dos testículos desde o período tardio do desenvolvimento fetal até a puberdade, momento no qual elas passam a aumentar em número e sofrem mudanças gradativas, transformando-se em espermatócitos primários. Esses tipos celulares passam por um processo reducional (primeira divisão mitótica), formando assim os espermatócitos secundários haploides, que possuem aproximadamente a metade do tamanho dos tipos celulares primários. Os espermatócitos secundários passam pela segunda divisão meiótica para gerar quatro espermátides, gradualmente transformadas em espermatozoides adultos durante a espermiogênese, momento no qual o núcleo celular se condensa, o acrossoma é formado, o citoplasma é majoritariamente eliminado e a cauda se desenvolve. Ao fim dessa etapa, os espermatozoides penetram a luz dos túbulos seminíferos, dirigindo-se ao epidídimo, ducto longo e espiralado na borda inferior do testículo, conectado aos canais deferentes (transporte de espermatozoides para a uretra), onde são armazenados e se tornam funcionalmente maduros, ganhando capacidade de movimentação. Os espermatozoides maduros podem ser armazenados no epidídimo, porém a maior quantidade se deposita nos canais deferentes, mantendo sua fertilidade por cera de um mês. Todo o processo de espermatogênese leva cerca de 2 meses para ser completado, continuando ao longo de toda a vida reprodutiva do homem. As células de Sertoli, que revestem os túbulos seminíferos, dão suporte e nutrição para as células germinativas, auxiliando na regulação da espermatogênese. No momento da ejaculação, os espermatozoides maduros apresentam-se Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANOcomo células de movimentação livre compostas por cabeça e cauda (a junção dessas estruturas chama-se pescoço), sendo a primeira responsável pela maior parte da massa desse gameta e por abrigar seu núcleo. Os dois terços mais anteriores dessa estrutura são recobertos pelo acrossoma, organela semelhante a um capuz enzimático que facilita a penetração na corona radiata e na zona pelúcida do ovócito durante a fecundação. A cauda do espermatozoide permite a sua motilidade, favorecendo sua migração até a ampola da tuba uterina. Essa estrutura é formada por três partes, a peça intermediária, a peça principal e a peça terminal, sendo que é na região intermediária que se localizam as mitocôndrias, produtoras da energia necessária ao movimento em chicote realizado pela célula. OVOGÊNESE: A ovogênese representa o processo de transformação de ovogônias em ovócitos maduros, iniciado antes do nascimento e completo após a puberdade, tendo seu fim somente com a menopausa, cessação permanente da menstruação. Antes do nascimento, as ovogônias, proliferadas via mitose, crescem para tornarem-se ovócitos primários. Esses tipos celulares são circundados por uma capa de tecido epitelial folicular achatado, constituindo assim um folículo primordial. À medida que o ovócito cresce durante a puberdade, o caráter de seu revestimento muda, passando a ser colunar, resultando num folículo primário, logo envolvido numa camada de material glicoproteico amorfo repleta de fenestras, chamada zona pelúcida. A divisão meiótica se inicia antes do nascimento, porém só se conclui na adolescência, fenômeno explicado pela secreção de substâncias inibidoras da maturação do ovócito pelas células foliculares, agindo ao estacionar o progresso da replicação. Com início na puberdade, ocorre o amadurecimento mensal de um folículo (a menos que sejam usados contraceptivos orais). A duração prolongada da primeira divisão meiótica pode ser parcialmente responsável pela alta frequência de erros meióticos que ocorrem com o aumento da idade materna. Além disso, as células suprimidas são vulneráveis a interações com agentes ambientais como a radiação. De forma contrastante ao desenvolvimento de gametas masculinos, após o nascimento não há a geração de mais ovócitos primários, que apenas mantêm-se em repouso nos folículos ovarianos até a puberdade. Com a maturação folicular, o ovócito primário aumenta de tamanho e completa a primeira fase da meiose, de modo a formar o ovócito secundário e o primeiro corpo polar, estruturas nas quais o citoplasma é dividido desigualmente (o ovócito recebe muito mais que o primeiro corpo polar). O corpo polar é uma célula pequena, não funcional, que logo degenera. Na ovulação, o núcleo do ovócito secundário inicia a segunda divisão meiótica, mas progride apenas até a metáfase, quando a divisão é interrompida. Se um espermatozoide penetra o ovócito secundário, a segunda divisão meiótica é completada e a maior parte do citoplasma é novamente mantida em uma célula, o ovócito fecundado. A outra célula, o segundo corpo polar, é uma célula com as mesmas características da anterior, e que também é degradada rapidamente. Assim que o segundo corpo polar é extrudido, a maturação do ovócito se termina. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO Dos dois milhões de ovócitos primários presentes nos ovários de uma menina recém-nascida, somente 40 mil permanecem até a puberdade, número que se reduz ainda mais, com apenas 400 transformados em ovócitos secundários e expelidos na ovulação. A quantidade de células que se tornam de fato maduras é extremamente baixa, se existente. CICLOS REPRODUTIVOS FEMININOS: As mulheres passam por ciclos reprodutivos mensais que envolvem atividade do hipotálamo do cérebro, da glândula hipófise, dos ovários, do útero, das tubas uterinas, da vagina e das glândulas mamárias. Esses ciclos mensais preparam o sistema reprodutivo para a gravidez. CICLO OVARIANO: O GnRH estimula a produção de FSH e LH, hormônios que produzem mudanças cíclicas nos ovários (ciclo ovariano), como o desenvolvimento dos folículos, a ovulação e a formação do corpo lúteo. Durante cada ciclo, o FSH promove o crescimento de vários foliados primordiais entre cinco e 12 folículos primários, porém apenas um único folículo primário se desenvolve até se tornar folículo maduro e se rompe na superfície do ovário, liberando seu ovócito. Desenvolvimento folicular: Com o aumento de tamanho do folículo primário, o tecido conjuntivo adjacente se organiza e forma uma cápsula, a teca folicular. A teca logo se diferencia em duas camadas, uma interna vascularizada e glandular (teca interna) e uma camada conjuntiva, semelhante a uma cápsula (teca externa). Acredita-se que as células tecais produzam um fator de angiogênese que promove o crescimento dos vasos sanguíneos da teca interna, que fornecem suporte nutritivo para o desenvolvimento folicular. As células foliculares dividem-se ativamente, produzindo uma camada estratificada em torno do ovócito. O folículo ovariano logo se torna oval e o ovócito assume posição excêntrica. Subsequentemente, surgem em torno das células foliculares espaços preenchidos por fluido, que coalescem para formar uma única e grande cavidade, o antro, que contém o fluido folicular. Depois que o antro se forma, o folículo ovariano é denominado folículo vesicular ou folículo secundário. O ovócito primário é empurrado para um lado do folículo, onde fica envolvido por um acúmulo de células foliculares, o cumulus ooforus, que se projeta para dentro do antro. O folículo continua a crescer até que alcança a maturidade e produz um intumescimento na superfície do ovário. O desenvolvimento inicial dos folículos ovarianos é induzido pelo FSH, mas os estágios finais de maturação requerem também o LH. Os folículos em crescimento produzem estrogênio por meio da atividade das células tecais internas. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO Ovulação: Na metade do ciclo, sob influência do FSH e LH, o folículo ovariano sofre um surto de crescimento, criando uma saliência no ovário, onde surge o estigma, ponto avascular. Precedendo a ovulação, o ovócito secundário e algumas células do cumulus ooforus destacam-se do interior do folículo distendido. A ovulação é disparada por um aumento na produção de LH, induzido pela elevação nas concentrações plasmáticas de estrogênio. Esse evento ocorre cerca de 12 a 24 horas após o pico de LH. O estigma se expande em volume, criando uma vesícula que, ao se romper, expõe o ovócito secundário junto ao líquido folicular. Esse rompimento seria causado pela pressão intrafolicular e pelas contrações do músculo liso que envolve a teca externa. O ovócito secundário expelido é envolvido pela zona pelúcida e por uma ou mais camadas de células foliculares, as quais se arranjam radialmente, conhecidas como corona radiata, formando o complexo cumulus-ovócito. A onda de LH também parece induzir o término da primeira divisão meiótica do ovócito primário. Portanto, folículos ovarianos maduros contêm ovócitos secundários. Corpo lúteo: Logo após a ovulação, as paredes do folículo ovariano e da teca folicular sofrem colapso e se tornam enrugadas. Sob a influência do LH, elas se desenvolvem em uma estrutura glandular, o corpo lúteo, que secreta progesterona e alguma quantidade de estrogênio, fazendo as glândulas endometriais secretarem e prepararem o endométrio para a implantação do blastocisto. Se o ovócito não é fecundado, o corpo lúteo involui e degenera 10 a 12 dias após a ovulação, quando é chamado de corpo lúteo da menstruação. Posteriormente, o corpo lúteo é transformado em uma cicatrizbranca no ovário, o corpo albicans. Os ciclos ovarianos normalmente persistem por toda a vida reprodutiva da mulher e terminam na menopausa, a suspensão permanente da menstruação, que geralmente ocorre entre 48 e 55 anos de idade. CICLO MENSTRUAL: O ciclo menstrual (endometrial) é o período durante o qual o ovócito amadurece, é ovulado e entra na tuba uterina. Os hormônios produzidos pelos folículos ovarianos e pelo corpo lúteo (estrogênio e progesterona) causam mudanças cíclicas no endométrio (age como espelho das mudanças ovarianas). Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO O ciclo menstrual médio é de 28 dias, sendo o primeiro dia do ciclo designado como o dia no qual se inicia o fluxo menstrual, porém sua duração pode variar entre 23 e 35 dias, diferenças motivadas pela extensão da fase proliferativa do ciclo. Esse processo divide-se em 3 fases principais: Fase menstrual: A camada funcional da parede uterina desintegra-se e é expelida com o fluxo, que normalmente dura de 4 a 5 dias. O sangue descartado pela vagina está misturado a pequenos fragmentos de tecido endometrial. Após a menstruação, o endométrio erodido torna-se delgado. Fase proliferativa: A fase proliferativa (folicular, estrogênica), que dura em torno de 9 dias, coincide com o crescimento dos folículos ovarianos e é controlada pelo estrogênio secretado por esses folículos. Ocorre um aumento de duas a três vezes na espessura do endométrio e no seu conteúdo de água durante essa fase de reparo e proliferação. No início dessa fase, o epitélio superficial reconstrói-se e recobre o endométrio. As glândulas aumentam em número e em comprimento, e as artérias espiraladas se alongam. Fase lútea: A fase lútea (secretora, progestacional), com duração de aproximadamente 13 dias, coincide com a formação, o crescimento e o funcionamento do corpo lúteo. A progesterona produzida pelo corpo lúteo estimula o epitélio glandular a secretar um material rico em glicogênio. As glândulas tornam-se amplas, tortuosas e saculares, e o endométrio espessa-se por causa da influência da progesterona e do estrogênio do corpo lúteo e também pelo aumento de fluido no tecido conjuntivo. As anastomoses arteriovenosas surgem nesse estágio, sendo bastante importantes para a vascularização e nutrição local. Se a fecundação não ocorre, o endométrio entra em sua fase isquêmica, onde há contração das artérias espiraladas. Além das alterações vasculares, a queda hormonal resulta na parada de secreção glandular, em perda de fluido intersticial e em acentuada retração do endométrio. Ao fim da fase isquêmica, as artérias espiraladas contraem- se por períodos maiores. Isso acarreta estase venosa e necrose isquêmica (morte) nos tecidos superficiais. Finalmente, segue- se a ruptura da parede dos vasos lesados e o sangue penetra o tecido conjuntivo adjacente. Formam-se, então, pequenos lagos de sangue que se rompem na superfície endometrial, resultando em sangramento para a luz uterina e através da vagina, criando o fluxo menstrual. Se há a fecundação, os ciclos menstruais cessam e o endométrio assume sua fase gravídica, permitindo a implantação do blastocisto. Após 6-10 semanas do parto os ciclos ovarianos e menstruais retornam, em casos de mulheres que não amamentam seu bebê. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO COMPARAÇÃO ENTRE GAMETAS: O ovócito é uma célula grande se comparada ao espermatozoide, ao passo que esse último apresenta elevada mobilidade. O gameta feminino é revestido pela corona radiata (células foliculares + zona pelúcida), além de possuir em seu interior grânulos de vitelo que auxiliam na nutrição do zigoto em seu processo replicativo na primeira semana de gestação. Em relação a constituição cromossômica desses tipos celulares, duas configurações normais são possíveis para o espermatozoide (23 X e 23 Y), enquanto apenas uma existe para os ovócitos secundários (23 X). IMPACTOS COMPORTAMEN TAIS DA ADOLESCÊNCIA: A adolescência pode ser compreendida ou definida segundo diversos pontos de vista: para a antropologia, é a etapa sociocultural de passagem para a vida adulta, contendo rituais específicos, ao passo que, para o direito, é a fase que sucede a infância, porém ainda inserida na menoridade. É na adolescência que se instalam as estruturas definitivas da personalidade adulta, com os últimos conflitos antes de se alcançar a maioridade, baseados principalmente na descoberta de uma identidade própria e na necessidade de autonomia. Sob a ótica da saúde entende-se adolescência como uma fase de desenvolvimento humano, situada entre a infância e a idade adulta e delimitada cronologicamente, pela Organização Mundial da Saúde, dos 10 aos 20 anos de idade. Essa demarcação etária justifica-se como referência para programas de atenção à saúde, porém não se aplica, do ponto de vista individual, como parâmetro único para a definição de entrada ou saída desse período do desenvolvimento. Nas famílias de classes média e alta, é comum identificar-se um prolongamento da adolescência, enquanto nas menos favorecidas, a inclusão escolar fica limitada pela necessidade de incorporação do adolescente ao mercado de trabalho, frequentemente em condições desfavoráveis. A adolescência apresenta características complexas e limites imprecisos, refletindo a dinamicidade dos ambientes socioculturais no qual o jovem está inserido. É também nesse período que o ser humano passa a compreender o quanto as interações com seus pares são importantes de forma biológica, afetiva e social para a vida. Mesmo reconhecendo que na adolescência o critério cronológico perde importância, para que se possa compreender a evolução do processo é interessante analisar o desenvolvimento dividido por idade: adolescência inicial (dos 10 aos 13 anos), adolescência média (dos 14 aos 16 anos) e adolescência final (dos 17 aos 20 anos). A adolescência inicial é um período marcado pelo rápido crescimento e pela entrada na puberdade. A adolescência média caracteriza-se pelo desenvolvimento intelectual e pela maior valorização do grupo, e na adolescência tardia consolidam-se as etapas anteriores e o adolescente se prepara para assumir o mundo adulto. Na última fase, Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO se todas as transformações tiverem ocorrido conforme previsto nas fases inicial e média, incluindo a presença de suporte familiar e do grupo de iguais, o adolescente estará pronto para as responsabilidades da idade adulta. Sob a óptica do desenvolvimento cognitivo, na adolescência adquire-se capacidade de abstração, raciocínio hipotético, pensamento criativo, formulação de ideias próprias e opiniões pessoais, constituindo assim sua individualidade. O desenvolvimento psicossocial do adolescente pode ser visto como um exercício de aprendizagem acerca de si mesmo, que lhe possibilita alcançar, além da identidade (conhecimento de si mesmo), intimidade (capacidade para relacionar-se de forma madura, tanto emocional como sexual), integridade (aptidão para assumir atitudes e comportamentos socialmente responsáveis) e independência. O fator tempo tem extrema importância para que todas essas intensas e várias mudanças possam ser absorvidas. Nesse momento evolutivo, não será apenas o jovem que passará por transformações estruturais, a família também deverá alterar sua estrutura interna e seus padrões de relacionamento entre os membros. Frente à busca de uma nova identidade, o adolescente deve vivenciar o luto por três grandes perdas: perda do corpo infantil (o adolescente passa por período de adaptação até a aceitação das modificações corporais), perda dos pais da infância (quese manifesta por meio de relações conflituosas com as figuras parentais), perda da identidade e do papel infantil (renúncia à dependência infantil e aceitação de responsabilidades que muitas vezes o adolescente desconhece). Esse tipo de comportamento cria uma entidade semipatológica de grande força, a síndrome da adolescência normal, demarcada por alterações de conduta, crises religiosas, distanciamento dos pais, tendência grupal, atitudes reivindicatórias e evolução sexual. SISTEMA LÍMBICO NA PUBERDADE: Durante a adolescência, além das mudanças corporais visualmente perceptíveis, ocorrem diversas alterações neurobiológicas, no córtex quanto na área subcortical. É interessante notar que a maturação cortical durante a adolescência não implica necessariamente em aumento de volume cerebral, mas sim numa maior habilidade de autocontrole e direcionamento de foco. Ocorre também uma intensa reorganização estrutural de regiões corticais, na qual dendritos e sinapses são refinados e se tornam mais estáveis, tornando o cérebro do adolescente extremamente neuroplástico. O sistema subcortical é altamente complexo e possui circuitarias neurais importantes que são mediadoras de uma grande quantidade de respostas psicofisiológicas, dentre elas as emoções, controladas pelo “sistema límbico” (corpo caloso, tálamo, amígdalas e hipocampo). Essa região sofre a ação dos hormônios sexuais secretados ao longo da puberdade, tornando heterogêneo o desenvolvimento neural entre os dois sexos. Este período de desenvolvimento neural representa para o adolescente, tanto uma fase de oportunidades para o desenvolvimento de novas habilidades, quanto um período de vulnerabilidades. Neste último caso, os comportamentos mais comuns nesse período são a impulsividade cognitiva, a labilidade emocional e a busca pelo perigo, explicada pela maior facilidade de ativação da região subcortical. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA: O processo de desenvolvimento da sexualidade está vinculado à definição da identidade sexual e manifesta-se por meio do autoerotismo e das práticas de genitalidade. Quando o indivíduo consegue aceitar a coexistência simultânea entre si da criança e do adulto, ele passa de maneira flutuante a aceitar as mudanças de seu corpo, emergindo uma nova identidade. Na etapa precoce da adolescência (10 a 14 anos), é grande a transformação biológica, em que o comportamento sexual depende das mudanças físicas. Os adolescentes têm dificuldade de conversar com adultos, principalmente com os pais. As fantasias sexuais e masturbação são frequentes. Na etapa média (14 a 17 anos), o desenvolvimento puberal está completo ou quase completo, marcado pela menarca na menina e pela semenarca no menino. O comportamento sexual costuma ser de natureza exploratória e egoísta, buscando tirar proveito das relações: encontros marcados, carícias e relações casuais acompanhadas de relações genitais ou extragenitais. O grande risco, nessa fase, é a negação das consequências do comportamento sexual. O relacionamento amoroso (namoro ou o “ficar” com alguém) geralmente se inicia aqui. Já há uma aceitação maior das transformações físicas, resultando em um corpo adulto com capacidade reprodutiva. A sexualidade contribui com a autoestima e faz parte da formação da identidade do indivíduo. É durante a adolescência que se define e se consolida a identidade sexual. Na etapa tardia (17 a 20 anos) a maturação física está completa, o comportamento sexual costuma ser mais expressivo e menos exploratório, e as relações, mais íntimas e compartilhadas. Predomina a escolha de par com relação de afeto, maior consciência dos riscos e necessidade de proteção. Nessa etapa, a identidade sexual já está definida e a maior estabilidade afetiva favorece a busca de um objeto amoroso único. Na adolescência, a vivência da sexualidade é como um caminho no qual a evolução e a maturidade vão determinar o itinerário. A preferência sexual com afeto é o posicionamento que demonstra postura mais integrada diante da sexualidade, escolha esta que se encontra subsidiada pelas vivências que cada adolescente enfrenta ao longo de sua vida e que são socialmente rotuladas de atitudes amadurecidas. FASES COMPORTAMENTAIS DO ATO SEXUAL: O comportamento sexual humano é uma característica definidora de suas interações, cujas bases neurais são ainda pouco compreendidas. As pesquisas sobre esse assunto foram dificultadas pela relutância popular em abordar abertamente temas relativos ao sexo. Ainda que lentamente, esse campo progrediu, gerando as seguintes teorias: Masters e Johnson (pesquisas iniciadas em 1954 e publicadas em 1970): A resposta sexual, seja do homem ou da mulher, é caracterizada por um ciclo de quatro fases. Esse é um modelo clássico e linear, elaborado a partir de dados obtidos em laboratório, onde a resposta sexual de casais era monitorada a partir do início definido pelo pesquisador. Segundo o modelo, em cada ciclo ocorrem as fases de Excitação, Prazer, Orgasmo, Resolução (EPOR), numa sequência temporal. Embora em homens e mulheres ocorram as mesmas fases, elas apresentam peculiaridades em cada um dos sexos. Os autores observaram que a resposta sexual do homem obedecia a um único padrão: excitação, platô, orgasmo, Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO resolução; enquanto, em relação à mulher, concluíram sobre a possibilidade de vários padrões de respostas que foram sintetizados em três tipos fundamentais: A) excitação, platô, multiorgasmos, resolução; B) experiência de excitação, platô, sem, no entanto, atingir o orgasmo, resolução e C) excitação crescente até o orgasmo e resolução imediata. Kaplan (pesquisa publicada em 1974): Acrescenta ao modelo proposto por Masters e Johnson o desejo sexual como outra fase da resposta sexual humana, motivada por observações de transtornos ligados à falta de ímpeto sexual. Inicialmente, o modelo proposto por ela seria trifásico, com Desejo, Excitação e Orgasmo (DEO), mas em 1979 ele foi modificado, tornando-se Desejo, Excitação, Orgasmo e Resolução (DEOR). Kaplan propôs um modelo psicossomático que considera os elementos que regulam a motivação sexual humana. Segundo a autora, no SNC estão os centros de regulação sexual que incluem estruturas límbicas e o hipotálamo. Estímulos fisiológicos e psicológicos, excitantes ou supressores da motivação sexual, agem sobre esses centros reguladores modulando o desejo sexual. Esse modelo pode ser visto como um acréscimo subjetivo ao esquema fisiológico, que expressa as mudanças objetivas causadas pelo ato sexual. ATO SEXUAL MASCULINO: A principal fonte de sinais sensoriais capazes de iniciar o ato sexual é a glande peniana, região densamente vascularizada e inervada capaz de transmitir a sensação sexual até o sistema nervoso central, partindo do nervo pudendo em direção ao plexo sacral e a porção sacral da medula. Esses impulsos podem ter o mesmo destino partindo de áreas adjacentes ao pênis, como o epitélio anal, saco escrotal e estruturas perianais. Esses estímulos podem surgir até mesmo de estruturas internas, tais como a uretra, próstata, bexiga, vesículas seminais, testículos e canais deferentes. O elemento psicológico é também um grande estimulador do ato sexual, visto que pensamentos conscientes ou sonhos já são suficientes para instigar a ejaculação. ESTÁGIOS DO ATO SEXUAL MASCULINO: A ereção peniana é o primeiro efeito do estímulo sexual masculino, em grau proporcional à estimulação realizada, seja ela física ou psicológica. Esse fenômeno é causado por impulsos nervosos parassimpáticos que passam da região sacral da medula até os nervospélvicos, liberando junto à ACh óxido nítrico ou peptídeo intestinal vasoativo, sendo que o primeiro auxilia a formação de monofosfato cíclico de guanosina (GMP). Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO O GMP cíclico relaxa as paredes das artérias do pênis e as malhas musculares no tecido erétil dos corpos cavernoso e esponjoso na haste peniana, permitindo maior fluxo sanguíneo na região que, associado à vasodilatação provocada pelo óxido nítrico, causa o enchimento do tecido erétil, manifestado por endurecimento e alongamento do pênis. Além de promover a ereção, as fibras e impulsos parassimpáticos promovem a secreção mucosa pelas glândulas bulbouretrais, fluindo pela uretra e auxiliando a lubrificação durante o ato sexual. O clímax para o ato sexual masculino consiste na emissão e ejaculação, ambos de responsabilidade simpática. Quando os estímulos se tornam muito intensos, os centros reflexos da medula enviam sinais elétricos que perpassam os plexos hipogástrico e pélvico até atingir a genitália. A emissão consiste na contração do canal deferente e da ampola, favorecendo o transporte dos espermatozoides até a uretra interna. Contrações prostáticas e nas vesículas seminais promovem a liberação de líquidos que junto com as secreções mucosas já liberadas formam o sêmen, substância que permite a movimentação dos gametas, além de empurrá-los para a frente. O enchimento uretral com esse líquido envia sinais sensoriais à parte sacral medula espinhal, criando a sensação de plenitude súbita nos órgãos genitais internos. Além disso, esses estímulos promovem a contração dos músculos isquiocavernoso e bulbocavernoso, comprimindo assim o tecido erétil peniano, causando aumento pressórico que culmina na ejaculação do sêmen. Todo esse movimento ainda causa espasmos na musculatura pélvica, projetando essa região no intuito de propelir os gametas para os recessos mais profundos da vagina. O conjunto dos períodos de emissão e ejaculação são denominados de orgasmo masculino. No final, a excitação sexual desaparece quase completamente entre 1 e 2 minutos e a ereção cessa, período chamado resolução. ATO SEXUAL FEMININO: Da mesma forma que no ato masculino, o desempenho bem-sucedido do ato sexual feminino depende tanto de estimulação local quanto psicológica. Ter pensamentos sexuais auxilia no aumento do desejo sexual, porém a concentração hormonal também pode contribuir para o aumento da libido, principalmente no período de ovulação, quando há picos de estrogênio circulante. A estimulação sexual local feminina assemelha-se àquela observada para o sexo masculino, porque a massagem da vulva, vagina e de outras regiões perianais podem criar sensações prazerosas. A glande do clitóris é especialmente sensível ao início dessas estimulações. O tráfego nos impulsos de sensações sexuais segue o mesmo percurso que no sexo masculino, percorrendo o nervo pudendo, o plexo sacro e ascendendo pela medula até o cérebro, com participação significativa de arcos reflexos locais. Ao redor do clitóris existe tecido erétil muito semelhante ao do pênis, cujo controle nervoso se dá por fibras parassimpáticas, secretando os mesmos agentes vasoativos masculinos. O resultado desses processos é a contração do introito, que auxilia o homem durante o processo ejaculatório. Esses sinais também perpassam para as glândulas de Bartholin, estimulando a secreção de muco nos grandes lábios, promovendo assim lubrificação para o ato sexual (é válido salientar que a maior parte das secreções lubrificantes são de origem Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO feminina, sejam elas advindas dessas glândulas ou do epitélio vaginal). Todo esse processo favorece sensações massageadoras que culminam no clímax para ambos os sexos. No momento em que a estimulação local atinge sua intensidade máxima e, principalmente, quando essas sensações regionais são favorecidas por sinais de condicionamento psíquico oriundos do cérebro, são desencadeados reflexos que levam ao orgasmo/clímax feminino, processo análogo à emissão/ejaculação masculina, o que pode facilitar a fertilização do óvulo. Essa condição cria uma tensão muscular generalizada pelo corpo, dando lugar, após o clímax, a uma sensação de satisfação e relaxamento, marcando a resolução do ato sexual. PREVENÇÃO DE COMPORTAMENTOS DE RISCO DURANTE O AMADURECIMENTO SEXUAL: A puberdade traz consigo diversos comportamentos impulsivos e de experimentação que podem ter amplo impacto negativo sobre a saúde do jovem, principalmente no que diz respeito ao início da vida sexual. Nesse contexto, cabe aos profissionais da equipe multiprofissional de saúde desenvolver medidas de promoção de saúde voltadas para esse grupo etário, fazendo uso principalmente de cenários intrínsecos à UBS, inseridos no contexto diário do adolescente. Esses programas têm como temas estruturantes preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente a participação juvenil, equidade de gênero, direitos sexuais e direitos reprodutivos, projeto de vida, cultura de paz, ética e cidadania e igualdade racial e étnica, complementam o conjunto de oportunidades e facilidades com o objetivo de favorecer o desenvolvimento físico, o mental, moral, o espiritual e o social dos jovens púberes. A atuação do Programa Saúde na Escola (PSE) é de fundamental importância para o acesso dos adolescentes à saúde, pois são nessas dinâmicas que médicos, enfermeiros e outros profissionais podem adentrar a realidade juvenil. As informações e as ações educativas, fornecidas dentro do espaço da consulta e nos grupos, devem ser adequadas a cada subfaixa etária, considerando também os diferentes cenários culturais, religiosos, escolares e econômicos. Na promoção de ações voltadas para a educação em sexualidade é necessário considerar as diferentes formas de vivência da sexualidade, incluindo as experimentações iniciais eróticas e autoeróticas como fatores relevantes na atenção à saúde sexual e à saúde reprodutiva de adolescentes, orientando-os para o autocuidado e respeito mútuo na construção de relações afetivas e sexuais mais solidárias abordando, reflexivamente, as experimentações de adolescentes nessas relações, incluindo a abordagem da orientação sexual, identidade sexual e identidade de gênero, assim como as questões culturais construídas nas relações de gênero. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO Nesse aspecto, de forma a orientar sobre o planejamento reprodutivo, é necessário personalizar o acolhimento aos jovens, dispensar preservativos em locais de fácil acesso nas UBS e elaborar fluxos e protocolos de atendimento capazes de atender o adolescente, considerando sua fase de desenvolvimento. Um exemplo dessa postura é o esclarecimento sobre todos os métodos contraceptivos disponíveis, inclusive os naturais, para que eles possam fazer escolhas livres e bem informadas, incluindo o respeito às concepções religiosas. Em relação aos aspectos da conduta adotada pela saúde pública em relação à sexualidade na adolescência, os temas abordados são planejamento familiar (acolhimento com respeito, orientação sobre contracepção, autoconhecimento, interação entre contraceptivos e substâncias ilícitas, soropositividade e vida sexual, etc.), doenças sexualmente transmissíveis, Aids e hepatites virais (redução de danos, realização de teste rápido, aumento da cobertura vacinal para hepatite B, etc.), acompanhamento durante a realização de teste rápido de gravidez, e detecção, denúncia e orientação sobre violência e abuso sexual. PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA: A FECUNDAÇÃO HUMANA: TRANSPORTE DOS GAMETAS: O ovócito secundário é expelido do folículoovariano com o fluido folicular circundante. Durante o processo de ovulação, as extremidades da tuba uterina aproximam-se do ovário e suas fímbrias fazem um movimento de varredura na região, captando o ovócito para o infundíbulo tubário. A peristalse, movimento ritmado de contração e relaxamento da parede das tubas uterinas, faz com que o ovócito seja encaminhado para a região da ampola, em direção ao útero. Os espermatozoides são transportados do epidídimo à uretra por várias contrações peristálticas da cobertura muscular espessa dos ductos deferentes. Além disso, as glândulas sexuais acessórias (próstata, vesículas seminais e glândulas bulbouretrais) produzem secreções que se misturam ao fluido contendo os gametas, fornecendo nutrição (frutose) e incentivando contrações uterinas (prostaglandinas). De 200 a 600 milhões de espermatozoides são depositados em torno do orifício externo do útero e no fórnice da vagina durante o intercurso sexual. Os gametas passam pelo canal cervical lentamente por meio do movimento de suas caudas. A vesiculase, enzima produzida pelas vesículas seminais, coagula uma pequena fração do sêmen ejaculado e compõe um tampão vaginal que impede o retorno de fluidos. Quando a ovulação ocorre, o muco cervical aumenta e se torna menos viscoso, promovendo o transporte dos espermatozoides. Essa passagem rumo ao útero e às tubas uterinas é auxiliada pelas contrações das paredes desses órgãos. O ejaculado (suspensão de espermatozoides e secreções de glândulas sexuais anexas) contém cerca de 3,5mL, podendo variar de 2 a 6mL. Os espermatozoides se movem numa velocidade média de 2 a 3mm/min, variando conforme o pH do meio no qual eles estão inseridos, mais lentamente na vagina (pH ácido) e rapidamente no útero (alcalino). O tempo de transporte dos gametas rumo ao local de fecundação é provavelmente curto, variando entre 5 e 45 minutos, porém somente 200 espermatozoides chegam a Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO esse estágio, com a maioria sendo absorvida e degradada pelo trato genital feminino. MATURAÇÃO DOS ESPERMATOZÓIDES: Os espermatozoides recentemente ejaculados são incapazes de fecundar ovócitos, precisando passar por um período de condicionamento, a capacitação, com duração de cerca de 7 horas. Nesse momento, são removidas uma cobertura glicoproteica e proteínas seminais do acrossoma, alterando assim os componentes de sua membrana, mas sem impactar em mudanças morfológicas. Essa fase ocorre normalmente no útero ou nas tubas uterinas, graças a substâncias secretadas nesses locais. Quando os espermatozoides capacitados entram em contato com a corona radiata que envolve o ovócito secundário, sofrem mudanças moleculares complexas que resultam no desenvolvimento de perfurações no acrossoma (reação acrossômica), causando fusões entre a membrana plasmática do gameta e o capuz enzimático, manifestadas como aberturas que permitem a liberação de compostos facilitadores da fecundação, como a hialuronidase e a acrosina. Os ovócitos não podem ser fecundados após 24 horas e se degeneram rapidamente depois. A maioria dos espermatozoides humanos não sobrevive por mais de 48 horas no trato genital feminino, porém pode ser armazenada temporariamente nos recessos vaginais, promovendo uma liberação gradual que favorece as chances de fertilização. Sêmen e ovócitos podem ser mantidos congelados por muitos anos para serem utilizados na reprodução assistida. A FECUNDAÇÃO: O local da fecundação normalmente é a ampola da tuba uterina, região mais dilatada dessa estrutura. Caso o ovócito não encontre o espermatozoide nesse ponto, ele passa lentamente para o útero, onde é degradado e reabsorvido (logo, constata-se que a fecundação pode ocorrer em outras áreas das Trompas de Falópio, porém nunca no útero). Sinais químicos atrativos, secretados pelo ovócito e pelas células foliculares circundantes, guiam os espermatozoides capacitados (quimiotaxia dos espermatozoides) para o gameta feminino. A fecundação consiste numa complexa sequência de eventos moleculares coordenados discorridos em torno de 24 horas que se deflagra por meio do contato entre o espermatozoide e o ovócito e acaba com a combinação entre cromossomos de origem materna e paterna durante a metáfase da primeira clivagem mitótica do zigoto, embrião unicelular, fazendo com que qualquer interferência nesse processo possibilite a morte dessa célula. FASES DA FECUNDAÇÃO: O processo anteriormente descrito desenvolve-se segundo as seguintes etapas ordenadas: Passagem do espermatozoide através da corona radiata: A hialuronidase, enzima liberada no acrossoma dos espermatozoides, permite a dispersão das células foliculares da corona radiata que circunda o ovócito e da zona pelúcida, sendo auxiliada por substâncias produzidas pela mucosa tubária. Além disso, o próprio movimento da cauda do gameta masculino favorece sua penetração nesse envoltório. Penetração na zona pelúcida: A passagem pela zona pelúcida é um momento importante para o início da fecundação, promovida por meio das enzimas esterases, acrosina (proteolítica, de Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO maior destaque) e neuroaminidases, que impedem a lise total dessa membrana, formando um caminho que permita a chegada do espermatozoide ao ovócito. No momento que o gameta rompe essa barreira ocorre uma reação zonal que modifica suas propriedades, impedindo a passagem de outros espermatozoides. Essa reação é fruto da ação de enzimas lisossômicas liberadas pelos grânulos corticais localizados abaixo da membrana plasmática do ovócito. Fusão das membranas plasmáticas entre ovócito e espermatozoide: As membranas de ambos os gametas se fundem e se rompem. A cabeça e a cauda do espermatozoide permeiam o citoplasma do ovócito, porém sua membrana plasmática fica para trás. Término da segunda divisão meiótica e formação do pronúcleo feminino: Com a penetração pelo espermatozoide, o ovócito é estimulado a terminar a segunda parte de sua meiose, formando o ovócito maduro e o segundo corpo polar. Os cromossomos maternos se descondensam e o núcleo do ovócito torna-se o pronúcleo feminino. Formação do pronúcleo masculino: Dentro do citoplasma do ovócito, o núcleo do espermatozoide aumenta para formar o pronúcleo masculino, e sua cauda se degenera. Morfologicamente, os pronúcieos masculino e feminino são indistinguíveis. Durante o crescimento dos pronúcieos, eles replicam seu DNA-1 n (haploide), 2 c (com duas cromátides). O ovócito contendo dois pronúcieos haploides é chamado de oótide. Formação do zigoto: Logo que os pronúcieos se fundem em uma agregação de cromossomos única e diploide, a oótide torna-se um zigoto. Os cromossomos no zigoto arranjam-se em um fuso de clivagem, na preparação para a divisão do zigoto. Um fator inicial de gravidez, uma proteína imunossupressora, é secretada pelas células trofoblásticas e surge no soro materno dentro de 24 a 48 horas após a fecundação, compondo a base dos testes de gravidez durante os primeiros 10 dias de desenvolvimento. O zigoto é geneticamente único pois contém metade dos cromossomos de origem materna e a outra, paterna, formando uma nova combinação gênica. Esse mecanismo forma a base da herança biparental e da variação da espécie humana. O sexo cromossômico do embrião é determinado na fecundação pelo tipo de espermatozoide (X ou Y) que fertiliza o ovócito, uma vez que esse gameta já apresenta o cromossomo X. CLIVAGEM DO ZIGOTO: A clivagem, conjunto de divisões mitóticas sucessivas do zigoto (ainda revestido pela zona pelúcida), ocorre cerca de 30 horas após a fecundação, quando esse tipo celular passapelas tubas uterinas em direção ao útero. Essas divisões sucessivas criam células embrionárias (blastômeros) cada vez menores. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO Após o estágio de nove células, os blastômeros mudam sua forma e se juntam firmemente uns com os outros para formar uma bola compacta de células. Esse fenômeno (compactação) provavelmente é auxiliado por glicoproteínas de adesão de superfície celular. A compactação permite uma maior interação célula com célula e é imprescindível para a segregação de células internas que formam a massa celular interna ou embrioblasto do blastocisto. Quando já existem de 12 a 32 blastômeros, o ser humano em desenvolvimento é chamado de mórula (aparência semelhante a uma amora com suas projeções esféricas). As células internas da mórula (chamadas de massa celular interna) estão circundadas por uma camada de células que formam a camada celular externa. A mórula se forma cerca de 3 dias após a fecundação e alcança o útero. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS: Anticoncepção refere-se ao ato de utilizar métodos e técnicas com o objetivo de impedir a fecundação, sendo um recurso de planejamento familiar para a constituição de prole planejada e programada, de forma consciente. Embora possam ser classificados de diversas maneiras, os dois principais grupos são de métodos reversíveis e métodos definitivos. Os métodos reversíveis são comportamentais, de barreira, dispositivos intrauterinos, hormonais e os de emergência, ao passo que os métodos definitivos são os cirúrgicos, esterilização cirúrgica feminina e esterilização cirúrgica masculina. O manejo das situações que envolvem a contracepção faz necessária a aplicação de critérios importantes, a saber: Eficácia do método contraceptivo: Refere-se à capacidade de proteção desse método contra a gravidez não desejada/não programada, expressa pela taxa de falhas inerente ao mecanismo num período de tempo (geralmente um ano). Para calcular esse fator é empregado o índice de Pearl, calculado da seguinte forma: Segurança: Determinada pelo potencial de causar riscos à saúde de quem utiliza o método em questão. Sua avaliação se dá por meio dos efeitos indesejáveis e possíveis complicações. Quanto maior a segurança do método, menor será sua probabilidade de comprometer a saúde do usuário. Escolha do método: O principal critério para a eleição do método contraceptivo é a opção feita pelo usuário, que deve ser sempre privilegiada. Entretanto, o mecanismo escolhido nem sempre poderá ser utilizado, fazendo com que o médico desenvolva ferramentas adequadas para avaliar se o paciente apresenta alguma contraindicação clínica para tal. Se existirem, o médico deve colocar os demais métodos possíveis à disposição da pessoa interessada, explicando-lhe as suas características, modo de uso, riscos e benefícios, bem como a eficácia, fornecendo ao usuário condições de fazer nova opção e se comprometer com ela. Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO Vale salientar que os resultados (eficácia, uso correto, ausência de efeitos indesejáveis) observados para qualquer instrumento de contracepção são diretamente relacionados com o grau de adesão após a eleição do melhor método. Critérios de elegibilidade de um método anticoncepcional: São definidos por meio de um conjunto de características apresentadas pelo candidato à adoção de certo método, indicando se essa pessoa pode ou não o utilizar. Quatro categorias formas estabelecidas pela OMS: o Categoria 1: o método pode ser utilizado sem qualquer restrição; o Categoria 2: o uso do método discutido pode apresentar algum risco, normalmente menor do que os benefícios decorrentes de seu uso. Em outras palavras, o método pode ser usado com cautela e precauções maiores, especialmente acompanhamento clínico mais rigoroso; o Categoria 3: o uso do método pode estar associado a um risco, geralmente considerado superior aos benefícios decorrentes de seu uso. O método não é o mais apropriado para aquela pessoa, podendo ser usado, contudo, no caso de não haver outra opção disponível, ou em que a pessoa não aceita qualquer outra alternativa, mas desde que seja bem alertada desse fato e que se submeta a uma vigilância médica muito rigorosa. As condições que levam à classificação nessa categoria eram denominadas anteriormente por contraindicações relativas; o Categoria 4: o uso do método em apreço determina um risco à saúde inaceitável, sendo contraindicado de forma absoluta. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS REVERSÍVEIS: MÉTODOS COMPORTAMENTAIS: Denominados também como métodos naturais de concepção, são os mecanismos baseados no reconhecimento do período fértil feminino. Compõem um conjunto de práticas que envolvem a abstinência sexual durante os dias nos quais há chances de ocorrer a fecundação ou no uso de técnicas nas quais o esperma não é depositado no canal vaginal. O período fértil contempla o tempo de viabilidade do espermatozoide (5 dias) e o tempo que o ovócito permanece vivo (24 horas), totalizando seis dias em cada ciclo menstrual. No entanto, não existe uma determinação precisa deste período, que é variável, de mulher para mulher e, mesmo numa mesma mulher, em cada um de seus ciclos. Por esse motivo, o casal necessita abster-se de fazer sexo por um período maior do que os seis dias férteis de cada ciclo. As vantagens que se destacam são a gratuidade, a ausência de malefícios à saúde, o autoconhecimento do corpo feminino e de sua fertilidade e a possibilidade de casais seguirem normas de sua religião ou filosofia cultural, além de não haver demora no retorno da fertilidade. Apesar de não possuírem efeitos colaterais, os métodos naturais não protegem o casal contra Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Algumas situações podem fazer com que seja mais difícil usar a abstenção periódica com a eficácia desejada. Dentre elas, destacam-se irregularidades no ciclo menstrual e o pós-parto ou amamentação, sendo recomendado o adiamento do início do uso desse método até que ocorram no mínimo três ciclos menstruais e os ciclos estejam regulares novamente, o que também vale para casos de abortamento. A eficácia depende dos casais em abster-se de relações sexuais com penetração vaginal nos dias férteis. Essas práticas podem ser divididas de forma didática conforme as formas distintas de percepção da fertilidade feminina, a saber: Métodos baseados no calendário: o Método dos dias fixos: Indicado para mulheres que apresentam ciclos de 26 a 32 dias. A pessoa interessada deve anotar no calendário (ex.: com um círculo) o primeiro dia da menstruação e os próximos sete dias, período no qual pode ter reações sexuais livremente. Os próximos 12 dias devem ser assinalados de forma diferente (ex.: com um X) não devendo praticar, durante esse intervalo, relações com penetração vaginal. Portanto, em cada ciclo, a mulher pode ter relações livremente nos dias marcados com círculo e os dias após o último marcado com X até a próxima menstruação. o Método rítmico do calendário (tabelinha ou Ogino-Knaus): Previamente ao início da utilização desse método, a mulher deve registrar o número de dias de cada ciclo menstrual durante, pelo menos, seis meses. O primeiro dia da menstruação é sempre o dia número um. O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação e termina no último dia antes da menstruação seguinte. A mulher subtrai 18 da duração do seu ciclo mais curto, estimando, assim, o primeiro dia de seu período fértil. Em seguida, ela subtrai 11 dias da duração do seu ciclo mais longo, que corresponde ao último dia de seuperíodo fértil. O casal deve evitar relações sexuais com penetração vaginal durante este período. A crítica a esse método se baseia no fato de que é realizada uma avaliação retrospectiva projetada para o futuro, sendo que a fisiologia feminina não responde a critérios matemáticos, além de que requer bastante disciplina e obediência por parte do casal ao período de abstinência. Métodos baseados em sintomas: o Método da ovulação (método de Billings ou do muco cervical): A fundamentação desse método consiste no processo de evolução do muco cervical ao longo do ciclo menstrual. Durante a fase estrogênica, ocorre secreção de muco cervical que, durante a ovulação, possui características que viabilizam a locomoção dos espermatozoides. Ocorrendo a ovulação, o corpo lúteo Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO secreta progesterona, inibindo a secreção cervical. Logo após o fluxo menstrual é o período conhecido como seco, que compreende do 1º ao 7º ou 10º dia do ciclo. É o período pré-ovulatório. Após essa etapa, aparece o muco cervical, marcando o início do período úmido. O muco cervical no início é escasso, opaco e viscoso, aumentando progressivamente em quantidade e tornando-se claro, transparente e elástico, como a clara de ovo crua. No dia que corresponde ao pico de estrogênio, o muco alcança o máximo dessas características, sendo conhecido como o dia ápice do muco e corresponde à máxima fertilidade. Para o uso deste método, a mulher precisa detectar a presença ou não de muco, examinando diariamente sua secreção cervical nos dedos, na calcinha ou lenço de papel ou pela sensação de umidade vaginal. Assim que sentir a presença de secreção, deve considerar-se fértil. Após perceber o dia do ápice do muco, deverá permanecer sem penetração vaginal por três dias. Do 4º dia após o ápice, até novamente perceber umidade vaginal, o casal pode manter relações sexuais vaginais. A ovulação pode, mesmo que raramente, ocorrer durante o fluxo menstrual, portanto, os casais devem evitar relações sexuais vaginais durante os dias de fluxo menstrual intenso, pois, nestes dias é difícil verificar as secreções cervicais. Durante o período livre para relações vaginais, o casal não deve tê-las por dois dias seguidos, pois, o sêmen prejudica a observação do muco. As críticas direcionadas a esse método baseiam-se no fato de que diversas mulheres não conseguem manipular seus genitais de forma a obter amostras de muco, além de que processos patológicos como vaginites podem interferir no aspecto dessas secreções. o Método dos dois dias: Esse método é apropriado para mulheres com ciclos menstruais de qualquer duração, independentemente de sua regularidade, porém requer grandes períodos de abstinência sexual. Sua fundamentação é a mesma que a do método de Billings, mas não requer observação das características da secreção vaginal, somente sua presença e o dia que se segue. A mulher deve considerar-se fértil ao perceber a presença de qualquer forma de muco até que permaneça por dois dias sem a secreção, momento a partir do qual pode ter relações livremente. o Método da temperatura basal: Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO São utilizadas variações da temperatura corporal de modo a identificar a ovulação, uma vez que a secreção de progesterona pelo corpo lúteo causa aumento de 0,2 a 0,5ºC na temperatura do corpo. Na maioria das mulheres isso ocorre no meio do ciclo menstrual. Para utilizar este método, a mulher precisa verificar sua temperatura diariamente, da mesma maneira, no mesmo horário pela manhã, antes de sair da cama ou ingerir alimentos. Após três dias da elevação da temperatura, o casal pode ter relações livremente. Portanto, o período de abstinência deverá ser desde o primeiro dia do ciclo menstrual até três dias após a elevação da temperatura basal. Esse método pode ser tanto utilizado sozinho como associado ao método do calendário e fazendo parte do sintotérmico, pois permite reduzir a abstinência pós-ovulatória. Os principais pontos criticados nesse método são a necessidade de disciplina para a consistência dos valores aferidos, dependência da medição adequada da temperatura e alta capacidade de interferência por agentes exógenos, como um processo gripal. Método sintotérmico (combina calendário e sintomas): A identificação do período fértil e não fértil é feita com a combinação dos métodos de temperatura basal e da ovulação, além da percepção de outros sinais e sintomas que indicam a ocorrência da ovulação, como ingurgitamento das mama, dor pélvica e mudanças de humor. A utilização deste método requer abstinência sexual desde o primeiro dia da menstruação até o quarto dia após o pico das secreções cervicais ou o terceiro dia inteiro após a elevação da temperatura. Ocorrendo um destes fatores, deverá esperar a ocorrência do segundo para que possa ter relação vaginal desprotegida. Método da lactância com amenorreia (LAM): O aleitamento materno foi reconhecido cientificamente como um método contraceptivo em 1988, no Consenso de Bellagio, e reavaliado em 1995, sendo considerado uma ferramenta adequada para utilização pelos programas de planejamento familiar. Na década de 1980, ao mesmo tempo em que o foi resgatado como método contraceptivo, seus inúmeros benefícios para a saúde da mulher e da criança foram comprovados e defendidos pela comunidade científica. Essa conduta, no entanto, sofre com o condicionamento social, recebendo diferentes significados em sociedades distintas, tornando necessária sua Júlia Figueirêdo – CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO compreensão como fenômeno biológico e social. Este método fundamenta-se na hiperprolactinemia existente em resposta ao estímulo da sucção durante a amamentação e, consequentemente, níveis de FSH e de LH insuficientes para estimular o desenvolvimento dos folículos ovarianos. Sabe-se que o estímulo para produção da prolactina é a sucção efetiva do bebê e, quanto maior a frequência e a duração das mamadas, maior é este estímulo. Nesse sentido, o uso de chupetas e de mamadeiras, a introdução de líquidos ou sólidos e longos intervalos entre as mamadas (intervalo noturno maior que seis horas, por exemplo) podem interferir diretamente na produção de leite, permitindo oscilações da liberação de prolactina, facilitando a possibilidade de ovulação. Há três critérios para a adoção desse método, que devem estar sempre presentes: O bebê deve ter até 6 meses de vida; A mãe deve estar em amenorreia; O aleitamento deve ser exclusivo (ou quase) dia e noite. É um método de alta eficácia, sendo o índice de falha de 0,5 a 2% em seis meses, havendo redução em caso de uso rotineiro. Todas as mulheres que estejam amamentado podem usar o LAM. São raras as condições que contraindicam o aleitamento, sendo as principais: doenças maternas como infecção pelos vírus HIV e HTLV, uso de drogas como quimioterápicos e drogas radioativas, e drogas ilícitas. Todas as intercorrências que afetam o momento de aleitamento devem ser sanadas de forma a manter a eficácia desse método contraceptivo, sejam elas relacionadas à nutriz ou ao bebê. Relações sem que haja ejaculação na vagina: Consiste na utilização de práticas sexuais diversas do coito vaginal, para que a ejaculação não seja intravaginal. A prática mais conhecida e difundida é o coito interrompido. O homem, ao pressentir a iminência da ejaculação, retira o pênis da vagina e ejacula fora desta, preferencialmente longe da região genital feminina. São necessários um grande autocontrole masculino e compreensão da mulher, que pode sentir frustração por isso. Há,
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