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O estudo das metodologias de ensino é parte integrante das matrizes curriculares dos cursos de formação de professores, por serem fundamentais para a interlocução entre a teoria e a prática por meio de temas, assuntos e questionamentos próprios do ato de ensinar. Desse modo, este livro busca articular esses dois polos no ensino de História e de Geografia na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. A metodologia para a aprendizagem da História e da Geografia estudada aqui almeja, de maneira interdisciplinar e afastada dos antigos esquemas de ensino dos Estudos Sociais, conduzir à compreensão da teoria, da prática e das intervenções contemporâneas na educação e, também, à autonomia na prática docente e na pesquisa. Nesse sentido, é preciso repensar a concepção da História e da Geografia; refletir sobre a aprendizagem, que perpassa a história dessas disciplinas; conhecer os conteúdos e as metodologias indicados pelas atuais propostas curriculares nacionais, além de compreender por que os denominados Estudos Sociais foram abandonados e como as Ciências Humanas contribuem na formação das crianças. karen fernanda bortoloti metodologia do ensino de história e geografia Código Logístico 59508 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6663-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 6 3 6 Metodologia do ensino de História e Geografia Karen Fernanda Bortoloti IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Triff/ Tatsiana Hendzel/Shutterstock Envato Elements CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B748m Bortoloti, Karen Fernanda Metodologia do ensino de história e geografia / Karen Fernanda Bortoloti. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 120 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6663-6 1. História - Estudo e ensino. 2. Geografia - Estudo e ensino. 3. Prática de ensino. I. Título. 20-64401 CDD: 900 CDU: 910.1+94 Karen Fernanda Bortoloti Vídeo Pós-doutoranda em Educação na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Araraquara. Mestra, bacharelada e licenciada em História pela Unesp. Especialista em Educação a Distância pelo Instituto de Ensino Superior COC. Pesquisadora e professora no ensino superior nas áreas de história da educação e ensino de História. Atua como produtora de conteúdos e materiais instrucionais para graduação e pós-graduação a distância. É gestora responsável pela estruturação e avaliação de cursos, e avaliadora no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 A História e a Geografia na escola 9 1.1 A História e a Geografia como disciplinas escolares 10 1.2 Aprendizagem em História e Geografia 16 1.3 História e Geografia na educação infantil 23 1.4 História e Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental 25 2 História e Geografia nas atuais propostas curriculares 33 2.1 Parâmetros Curriculares Nacionais 33 2.2 Referencial Curricular Nacional para a educação infantil 38 2.3 Base Nacional Comum Curricular 40 2.4 Planejamento e análise de livros didáticos 42 2.5 Análise e produção de materiais pedagógicos 48 3 Tempo e espaço 54 3.1 O tempo e o espaço didáticos 55 3.2 Conceitos temporais 59 3.3 Conceitos espaciais 64 4 Metodologias de ensino de História 70 4.1 O uso de fontes no ensino da História 71 4.2 Lugares de memória 75 4.3 As possibilidades da história oral 79 4.4 Patrimônio histórico, artístico e cultural 82 5 Metodologias de ensino de Geografia 86 5.1 O lugar e a paisagem 87 5.2 Geografia e cartografia 90 5.3 A cidade, o bairro e a rua 94 5.4 O local e o cotidiano 96 6 Avaliação em História e Geografia 101 6.1 Avaliação: modalidades e funções 102 6.2 Avaliação em História 106 6.3 Avaliação em Geografia 110 Gabarito 115 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! O estudo das metodologias de ensino é parte integrante das matrizes curriculares dos cursos de formação de professores, por serem fundamentais para a interlocução entre a teoria e a prática por meio de temas, assuntos e questionamentos próprios do ato de ensinar. Desse modo, este livro busca articular esses dois polos no ensino de História e de Geografia na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Para tanto, precisamos repensar a concepção da História e da Geografia; refletir sobre a aprendizagem, que perpassa a história dessas disciplinas; conhecer os conteúdos e as metodologias indicados pelas atuais propostas curriculares nacionais; e compreender por que os denominados Estudos Sociais foram abandonados e como as Ciências Humanas contribuem na formação das crianças. À vista disso, no primeiro capítulo, vamos entender a História e a Geografia como disciplinas escolares e qual é a relevância delas na educação infantil e no ensino fundamental. Em seguida, discutiremos a História e a Geografia com base nas atuais propostas curriculares, a maneira como os conteúdos são transpostos para os livros didáticos e como o professor pode complementar o que é apresentado nesses materiais, adequando-os às necessidades de seus alunos. No capítulo seguinte, analisaremos os conceitos de tempo e espaço, fundamentais para a aprendizagem da História e da Geografia. A partir do quarto capítulo, apresentaremos especificamente algumas metodologias para o ensino de História com base na relação entre história local, memória e patrimônio. Da mesma forma, no quinto capítulo, conheceremos as possibilidades de trabalho no ensino de Geografia. Tanto para a História quanto para a Geografia, nosso olhar estará voltado para as contribuições e propostas da BNCC. Finalmente, no último capítulo, discutiremos a avaliação na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, nas disciplinas de História e Geografia, para entendermos o sentido orientador do processo avaliativo. A metodologia para a aprendizagem da História e da Geografia que estudaremos aqui almeja, de maneira interdisciplinar e afastada dos antigos esquemas de ensino dos Estudos Sociais, conduzir à compreensão da teoria, da prática e das intervenções contemporâneas na educação e, também, à autonomia na prática docente e na pesquisa. Bons estudos! APRESENTAÇÃO A História e a Geografia na escola 9 1 A História e a Geografia na escola Você sabia que a história e a geografia, antes mesmo de se tornarem campos de pesquisa e comporem a área das ciências sociais, têm origem na educação escolar? Apesar de serem muito antigos, os estudos de caráter geográfico ou histórico somente se sistematizaram em disciplina, com status científico e acadêmico, após sua institucionalização na escola. Essas disciplinas, cujas origens remontam a antiguidade, foram, em diferentes momentosda história da educação, renegadas e, até mesmo, substituídas. Porém, independentemente dos embates e percalços, a história e a geografia se consolidaram como campos relevantes em todos os níveis da pesquisa e do ensino. Atualmente, é clara a luta contra o paradigma que transformou a História e a Geografia em disciplinas desprestigiadas, que valo- rizavam apenas a memorização de datas, números, heróis, siglas, capitais; enfim, um enfadonho distanciamento entre texto e con- texto. Essa ruptura ocorreu apenas com a atuação dos professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, que são, hoje, os verdadeiros responsáveis por essa transformação, já expressa nos documentos curriculares nacionais. Neste primeiro capítulo, o meu convite a você, futuro professor, está justamente no desvelar da trajetória dessas disciplinas e da sua relevância para os primeiros anos escolares. Abandone os ranços positivistas, factuais e episódicos que traz em sua memória e vamos, juntos, desvendar a História e a Geografia como disciplinas escolares. 10 Metodologia do ensino de História e Geografia 1.1 A História e a Geografia como disciplinas escolaresVídeo Antes de falarmos de quais são as melhores formas de ensi- nar História, Geografia, Ciências Naturais ou outra disciplina escolar, é preciso entender a institucionalização da educação, ou seja, quan- do a educação passou a fazer parte de uma instituição, e os conheci- mentos agrupados no que se conhece hoje por disciplina. Como indica Bittencourt (2004, p. 40), é “fundamental conhecer a história das disci- plinas para identificar os pressupostos que possibilitam entender os liames e as diferenças entre uma disciplina escolar e as ciências de re- ferência, uma vez que cada disciplina possui uma história”. Durante o período histórico que ficou conhecido como Renascimento Cultural (1300–1600) – por reavivar o antropocentrismo greco-romano em detrimento do teocentrismo medieval –, aconteceu uma mudança significativa na história da educação, graças aos ideais antropológicos (dos quais a educação se tornou expressão) e às novas exigências didá- ticas que foram postas em circulação. Ao contrário do que ocorreu durante todo o período anterior, os adultos começaram a ver as crianças com outros olhos, em virtude da elaboração de concepções analíticas e de teorias sobre o desenvolvi- mento infantil, bem como do fortalecimento de espaços sociais para o ensino. Assim, assistiu-se, verdadeiramente, à separação do mundo da infância do mundo adulto com o surgimento de expressões para designar esse período da vida humana (BOTO, 2002; ARIÈS, 1981). Essa nova concepção e a separação entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças, como afirma Petitat (1994), estão na base da pedagogia moderna, uma vez que influenciaram a educação e a orga- nização do sistema educacional, materializado na estruturação dos pri- meiros colégios. Dessa forma, o interesse pela educação foi expresso, sobretudo, pela proliferação de colégios e de manuais para alunos e professores. Educar tornou-se uma exigência devido à nova concepção de ser humano. Os novos espaços de ensino, aliados aos processos de racionaliza- ção em curso no período, impulsionaram transformações relacionadas ao espaço, traduzidas em prédios com dependências especializadas de Para saber mais a respeito da forma como determinados saberes se tornaram propriamente escolares, leia o artigo História das disciplinas escolares e história da educação: algumas refle- xões, de Marcílio Souza Júnior e Ana Maria de Oliveira Galvão, publicado na revista Educação e Pesquisa, em 2005. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/ep/v31n3/a05v31n3.pdf. Acesso em: 4 maio 2020. Saiba mais http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a05v31n3 http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a05v31n3 A História e a Geografia na escola 11 acordo com a função, o tempo, as novas estruturas de poder e a sele- ção de elementos socioculturais (VEIGA, 2007). De acordo com o nível de conhecimento, os alunos começaram a ser divididos em classes. Houve, então, uma nova organização do tem- po, chamada de tempo escolar: os dias foram divididos em horários, ta- refas foram estabelecidas e os meses foram sistematizados de acordo com os conteúdos a serem ensinados em determinado período, o qual antecederia a realização dos exames (PETITAT, 1994). Com a contrarreforma católica e a expansão da Companhia de Jesus no campo educacional, os religiosos, visando assegurar uma uniformi- zação das práticas educativas desenvolvidas nos colégios espalhados pelo mundo todo, elaboraram, em 1599, a Ratio Studiorum, que regu- lava com grande detalhe o modelo de ensino praticado pela Ordem (HANSEN, 2001). Tratava-se de um detalhado manual que indicava, in- clusive, o que hoje chamamos de sequência didática. No século XVII, a Didática Magna, de Comenius, indicou um método que, por meio da disposição formal dos estudos, deveria servir para ensinar a todas as crianças agradavelmente. A metodologia foi aplicada em instituições organizadas por etapas e por uma série de manuais apropriados aos conteúdos, especialmente gramática, dialética, retó- rica, ética, física e matemática. Comenius foi, sem dúvida, inovador ao propor a sistematização dos conhecimentos e ao elaborar um manual ilustrado para facilitar a aprendizagem. Segundo Hamilton (2001), a obra do pedagogo refletiu uma transformação social muito mais am- pla: a reconfiguração da política e a ascensão do Estado Moderno. É contra a emergência paralela da escolarização moderna e do Estado Moderno que a obra deve ser avaliada. Apesar desse desenvolvimento e das transformações concretizadas pelo desenvolvimento do pensamento científico, até o fim do século XIX, o termo disciplina e a expressão disciplina escolar indicavam apenas a vigilância e a repressão. Em 1870, houve uma aproximação do signifi- cado da palavra com o verbo disciplinar, que indica ginástica intelectual, no sentido de disciplinar a inteligência das crianças (CHERVEL, 1990). O uso do termo, no sentido de “matéria de ensino suscetível de ser- vir de exercício intelectual”, firmou-se após as primeiras décadas do século XX, “quando a evolução da sociedade e dos espíritos permite” 12 Metodologia do ensino de História e Geografia contrapor à disciplina escolar uma disciplina científica (CHERVEL, 1990, p. 180). A delimitação e a definição da entidade epistemológica relati- vamente autônoma, que hoje denominamos disciplina, ocorreu a partir de 1910, como resultado direto de um processo de disputa entre co- nhecimentos que deveriam fazer parte do currículo escolar, ou seja, aqueles que articulassem objetivos instrucionais, gerais e específicos. Assim concebidas, as disciplinas escolares surgiram do interesse de grupos e de instituições, como os agrupamentos profissionais, científi- cos e religiosos (FORQUIN, 1992). Apesar dos interesses que interferiram, e ainda interferem, na constituição das disciplinas escolares, é sempre bom frisar que cada uma delas deve cooperar para uma formação intelectual e cultural que desenvolva espírito crítico e capacidades diversas de comparação, de- dução, criatividade, argumentação lógica, entre outros. O historiador francês Henri Moniot (apud BITTENCOURT, 2004), ao investigar a disciplina escolar de História, afirma que seu ensino, no fim do século XIX, assegurou a existência da história universitária. Na práti- ca, o ensino de História antecedeu à disciplinarização acadêmica. A divi- são da História em períodos, organizada com o objetivo de sistematizar os estudos escolares, acabou por definir a separação das cátedras, ou disciplinas universitárias, assim como as especialidades dos historiado- res em campos de pesquisa. Entretanto, você já parou para pensar por que ensinamos História nos anos iniciais? Como ensinar essa disciplina que está cercada de mitos e desinteresse, que por muitos anos foi associada à memoriza- ção de nomes de grandes personagense de datas tidas como signifi- cativas? Essa História, chamada atualmente de história tradicional, tem sido, gradativamente, substituída por uma mais crítica e reflexiva, a de- nominada história nova. A história tradicional, geralmente, apresentava a história como resultado exclusivo da ação heroica de príncipes, generais, reis, ban- queiros e presidentes, enfim, os “heróis”, cujas imagens, muitas ve- zes, foram construídas pela própria história. Esse tipo de história, por exemplo, apresentava a Independência do Brasil como ação apenas de D. Pedro, sem levar em conta que, na realidade, foi um processo inicia- do em 1808, com a chegada da família real ao Brasil. A História e a Geografia na escola 13 Hoje em dia, além de ampliar seu campo de investigação, a História tem buscado caminhos para desfazer, nos estudantes, os preconceitos alimentados durantes anos pelo ensino da história tradicional. Dian- te disso, é importante frisar que os professores de História têm como uma de suas tarefas desenvolver uma prática de ensino rica em con- teúdos, socialmente responsável e, principalmente, de acordo com o perfil dos estudantes e com os novos tempos. No Brasil, a disciplina acadêmica e a disciplina escolar foram es- truturadas simultaneamente, buscando a formação da nacionalidade. Contudo, fatores como a cientificização da disciplina acadêmica, a in- fluência das teorias psicológicas, a criação de cursos de licenciaturas e bacharelados e de institutos de ensino acabaram distanciando uma da outra. Para alguns autores, essa separação, não apenas em nosso país, ocorreu especialmente em virtude da especialização e cientificização do conhecimento produzido na academia, que desconsiderou, ou até menosprezou, o ensino da História. Segundo Schmidt (2012), essa cisão contribuiu para constituição de um código disciplinar da História com características específicas em cada momento da sociedade brasileira, mas que, de modo geral, em- purrou as questões do ensino-aprendizagem da História para fora da área de atuação da teoria da história, ou seja, para fora do âmbito do historiador. Assim, “a construção do código disciplinar da História no Brasil tem como marco institucional fundador o Regulamento de 1838 do Colégio D. Pedro II, que exigiu a inclusão da História como conteúdo no currí- culo” (SCHMIDT, 2012, p. 78). O principal objetivo era a preparação dos agentes responsáveis por formar a nação, arquitetando um passado habilitado a homogeneizar e unificar as ações humanas na constituição de uma cultura nacional. As transformações geradas pela Revolução de 1930 concretizaram a institucionalização de projetos de reformas educacionais. Diante desse cenário, entre 1931 e 1971, ocorreu a consolidação do código disciplinar da História (SCHMIDT, 2012). Nesse período, afora as diver- sas discussões e legislações, a educação, incluindo a disciplina escolar de História, foi influenciada pela valorização dos aspectos metodoló- gicos do ensino. 14 Metodologia do ensino de História e Geografia De 1971 a 1984, ocorreu o que Schmidt (2012) aponta como crise do código disciplinar da História no Brasil, provocada, fundamental- mente, pela gradativa consolidação do ensino de Estudos Sociais em substituição à História e à Geografia. “A imposição dos Estudos Sociais foi acompanhada de um grande movimento de resistência e luta pela volta do ensino de História nas escolas brasileiras, configurando um novo momento na construção do código disciplinar da História” (SCHMIDT, 2012, p. 86). A partir de 1984, com a redemocratização, assistimos a reconstru- ção do código disciplinar da História, que perdura até hoje. Com a saída da disciplina de Estudos Sociais, a disciplina de História foi retomada e novas concepções de ensino foram estruturadas. A proposta dos Parâmetros Curriculares de História pode ser considerada como marco mais representativo dessa fase (SCHMIDT, 2012). Seguindo o mesmo percurso das demais disciplinas escolares, com a sistematização da ciência e do conhecimento científico, a comparti- mentação do saber e da ciência e o surgimento das ciências, a geo- grafia persegue seu status de ciência e busca métodos, metodologias, categorias e objeto próprios. Portanto, é após a segunda metade do século XIX que a geografia surge como ciência autônoma. Desde esse momento e diante do avanço das relações capitalistas em escala inter- nacional, ocorreu uma eclosão da produção geográfica, que passou a interessar aos Estados que necessitavam conhecer as bases materiais sobre as quais atuavam. De acordo com Moraes (2007), outras razões que sistematizaram a Geografia como campo do saber foram: o avanço das técnicas de localização cartográfica; a contraposição ao pensamen- to religioso para explicar fenômenos – fato que orientou a produção filosófica do século XVIII, em especial a dos filósofos iluministas –; a economia política, que também demandava o conhecimento das carac- terísticas do território; e o evolucionismo. Apesar de surgir há mais de dois séculos e de “concorrer” recen- temente com outras correntes de pensamento geográfico, a presença e a influência da geografia tradicional ainda são vistas nas geografias acadêmica e escolar. As acentuadas transformações filosóficas, sociais, culturais, políti- cas, econômicas e científicas do século XX, em especial no pós-guerra, atingiram o mundo todo e possibilitaram o surgimento de movimentos A História e a Geografia na escola 15 filosóficos de renovação do pensamento e da prática geográfica. Para Moraes (2007), o arcabouço teórico-metodológico da Geografia não explicava mais os fenômenos espaciais. A ciência geográfica encontrava-se em crise, visto que as transformações estavam ocorren- do, também, na esfera do espaço geográfico. A geografia pragmática (quantitativa ou teorética) e a geografia radi- cal (crítica ou marxista) são as principais correntes que surgem dentro desse movimento de renovação, no contexto da Guerra Fria. A geografia pragmática, desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos, propõe uma renovação metodológica na geografia tradicional. Fundamentada na matemática e na revolução da informática e utilizan- do modelos matemáticos e computacionais, essa corrente propõe uma superação da geografia com base no trabalho de campo, na observação, na descrição dos atributos visíveis do espaço (paisagem) e na indução. É nesse contexto de desenvolvimento conservador da geografia pragmática em relação à geografia tradicional que surge a geografia radical, ou crítica. Esta surge como uma crítica a ambas as correntes: a que estava em crise e a que estava surgindo. Se a geografia pragmática surge para dar sustentação ao Estado ca- pitalista, a geografia crítica surge para fazer a sua crítica e buscar uma mudança radical na realidade social. Os geógrafos críticos são “os que assumem o conteúdo político do conhecimento científico, propondo uma geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que pensam a análise geográfica como um instrumento de liberta- ção dos homens” (MORAES, 2007, p. 119). Yves Lacoste, David Harvey, Pierre George e Milton Santos são nomes que merecem destaque na fundamentação teórica dessa corrente filosófica da geografia. Uma outra corrente que também merece ser considerada é a geo- grafia cultural, que teve origem na década de 1930, nos Estados Unidos, com os estudos de Carl Sauer. Essa concepção do pensamento geográ- fico vem ganhando destaque nas últimas décadas ao propor estudos das “paisagens culturais” para a compreensão das contribuições das culturas, das identidades e das ideologias na produção dos territórios e dos lugares. Além disso, a Geografia Cultural estuda como os territórios e os lugares contribuem para a formação de sistemas culturais, ideo- lógicos e de identidades. No Brasil, as maiores contribuições estão nos trabalhos de Roberto Lobato Corrêa. 16 Metodologia do ensino de História e Geografia De fato, pode-se considerar, na atualidade,a existência de mo- vimentos de renovação da geografia segundo diferentes vertentes filosóficas, embora a geografia tradicional ainda não tenha sido to- talmente substituída e esteja presente, inclusive, na Geografia esco- lar – o que fica evidente em avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Pesquisas acadêmicas recentes têm demonstrado que, quanto à Geografia escolar, as séries iniciais são as que mais estão inovando em relação às práticas e aos discursos. Por incrível que pareça, na maioria das vezes, a prática da Geografia escolar não é realizada por geógrafos, mas, sim, por pedagogos. Como visto, a História e a Geografia como disciplinas escolares surgiram no mesmo momento que suas irmãs acadêmicas. Todavia, o desenvolvimento ocorreu separadamente e com uma crescente des- valorização do processo de didatização. Felizmente, isso tem mudado desde os meados do século XX. 1.2 Aprendizagem em História e Geografia Vídeo Você já se perguntou por que, até hoje, quando conversamos com algumas pessoas sobre suas experiências com o estudo da História e da Geografia, primeiramente, vem à tona a memorização de datas, no- mes e intermináveis questionários? Isso ocorre porque, até bem pouco tempo, havia a preponderância de um método de ensino voltado para a memorização. Aprender História e Geografia significava, unicamente, saber de cor nomes, fatos e suas datas, repetindo o que estava escri- to no livro ou anotado no caderno, o famoso “ponto”. De acordo com Bittencourt (2004, p. 25), “a memorização era a tônica do processo de aprendizagem e a principal capacidade exigida dos alunos para o su- cesso escolar”, que, em grande parte, repreendia qualquer forma de reflexão ou questionamento. Os Estudos Sociais, disciplina que por muito tempo substituiu a História e a Geografia, eram apresentados por meio de textos se- guidos de perguntas e respostas, que deveriam ser memorizadas e reproduzidas pelos alunos de maneira oral ou escrita. O sistema de avaliação, dessa forma, exigia que o aluno apenas memorizasse os conteúdos ou “pontos”. Recomendamos a leitura do livro Ensino de História: fundamentos e métodos, especialmente da seção que traz questionamen- tos sobre a transposição didática. BITTENCOURT, C. M. São Paulo: Cortez, 2018. Livro A História e a Geografia na escola 17 As críticas a essa metodologia de ensino surgiram no século XIX e se fortaleceram no século XX, com as propostas ativas de ensino e com autores como John Dewey, Maria Montessori e Francisco Ferrer y Guardia (BITTENCOURT, 2004). Antes de falarmos dos desafios de fazer dos educandos sujeitos ati- vos no processo de ensino-aprendizagem por meio de uma mudança nas metodologias aplicadas nas escolas, precisamos entender a aprendi- zagem em Geografia e História. Vamos, então, analisar o que os estudos mais recentes acerca do tema têm apontado e verificar como a meto- dologia pode facilitar a construção do conhecimento pelos estudantes. Para o ensino de Geografia, o processo de ensino-aprendizagem se dá por meio da elaboração intelectual, da comunicabilidade so- cial estabelecida pelo saber institucionalizado e das capacidades crítico-analítica, política e participativa desses sujeitos no mundo, que os levam a compreender sua existência geográfica. Nesse movimen- to, convém que a Geografia escolar valorize a subjetividade do sujei- to na (re)produção do espaço vivido, pois permite a comunicabilidade geográfica dos elementos constitutivos do tempo/espaço vivido. A Geografia deve mediar, pedagogicamente, as inter-relações entre os meios físicos e humanos, conforme o cotidiano dos alunos. Para que isso ocorra, é imperativo que os professores conheçam a teorização para a leitura geográfica no seu processo educativo. A mobi- lização dos conhecimentos geográficos que se originam da apreensão do espaço é de suma importância para a Geografia escolar, já que a aprendizagem geográfica acontece por meio das relações que os alu- nos estabelecem entre o seu espaço e a sociedade e os conteúdos curri- culares desenvolvidos na escola. Para Brosseau (1997; 1998) e Jonnaert (2001), essa concepção de aprendizagem aproxima-se da construção dos conhecimentos do tipo socioconstrutivista, cuja aprendizagem, em suma, é decorrência da adaptação do estudante a um meio de contra- dições, incoerências, dificuldades e desequilíbrios. As informações e os conhecimentos provenientes do senso comum, derivados das representações sociais do espaço, seriam para o pro- fessor a ponte entre os conhecimentos elaborados pelo aluno, no seu meio, e os conhecimentos geográficos a elaborar na escola e na socie- dade. O confronto e a comparação desses conhecimentos em relação 18 Metodologia do ensino de História e Geografia àqueles dos seus pares e ao conhecimento geográfico escolar constitui uma das principais chaves para a aprendizagem. Essa ponte, segundo Oliveira (2008), seria consolidada por meio do desenvolvimento da chamada geografia reflexiva, capaz de analisar a apreensão do espaço pelos indivíduos, como a elaboração de sua pró- pria significação simbólica associada ao espaço vivido. Mesmo com divergências nas fundamentações teórico-metodológi- cas, os estudos sobre o ensino de Geografia tendem a defender um en- sino-aprendizagem que valorize “processos específicos de raciocínio ou de pensamento amparados na própria Geografia” (STRAFORINI, 2018, p. 177). Nessa perspectiva, o papel da Educação e, dentro dessa, o do ensino de Geografia é trazer à tona as condições necessárias para a evidenciação das contradições da sociedade a partir do espaço, para que no seu entendimento e esclarecimento possa surgir um inconformismo com o presente e, a partir daí, uma outra possibilidade para a condição da existência humana. (STRAFORINI, 2004, p. 56) Logo, é preciso elaborar e desenvolver novos métodos de enten- dimentos geográficos afastados daqueles da geografia meramente descritiva e determinista, pressupondo uma aprendizagem geográfica verdadeira, que atenda à natureza sociogeográfica do aluno. Esses mé- todos permitirão desenvolver uma posição democrática que valorize o ponto de vista dos sujeitos considerados como atores sociogeográficos, ou seja, aqueles sujeitos que fazem prova de uma convicção pessoal, de uma certeza que lhe permita identificar, conhecer e julgar suas próprias realidades sociais e seu meio de vida. (OLIVEIRA, 2008, p. 85) Sem dúvida, o uso das representações elaboradas pelos alunos e a possibilidade de confronto e comparação com os saberes geo- gráficos escolares, no exercício pedagógico, implicam articulação de seus aspectos ao tempo-espaço vivido, objeto da geografia reflexiva (OLIVEIRA, 2008). O teor das representações sociais do espaço vivido pelos alunos, interligado à Geografia escolar como referencial geográfico, permitirá ao professor preparar melhor as estratégias didáticas. O conteúdo da aprendizagem pode ser tratado por meio da identificação de um proble- ma e de um pensamento geográfico, o que instigará questionamentos A História e a Geografia na escola 19 e debates a respeito do espaço vivido, argumentações e confrontamen- tos com outros tempos e espaços. Com relação à História, observamos que, nas últimas décadas, o seu ensino tem passado por um processo significativo de releitura dos es- quemas teórico-metodológicos que, por muito tempo, orientaram as teorias e as práticas historiográficas. Nesse sentido, percebemos que houve uma ampliação do campo da história, marcada pela busca de novos problemas, novas abordagens e novos objetos. Nesse período, intensificaram-se, também, os debates acerca do co- nhecimento histórico, dando início a um diálogo aberto entre espaços e formas de produção. Isso ocorreu por intermédio de trocas de experiên- cias cada vez mais frequentes na academia e no ensino, favorecendo a apresentação de perspectivas que vêm constituindo as dimensões do en- sino da Históriadentro da realidade educacional internacional e nacional. Desde o final do século XX, verificamos, então, uma crescente preo- cupação por parte dos pesquisadores do ensino de História com a prá- tica da sala de aula, especialmente no que se refere à formação do professor de História e à construção do conhecimento pelos alunos. Ao contrário do que ocorria até então, os estudos passaram a consi- derar a escola como lugar de produção de cultura, e não apenas como transmissora e difusora de conhecimentos prontos; e o professor de História e os alunos passaram a ser considerados criadores de inter- pretações de mundo no ensino de História (RIBEIRO, 2015). O cotidiano escolar não é mais tido como idealização, mas, sim, como um lugar passível de análise considerando a valorização da ação dos sujeitos. No Brasil, como continuidade às reformulações educacionais inicia- das com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), observamos, em relação às proposições teórico-metodológicas para o ensino de História, o fortalecimento da crítica ao modelo que pressupunha o conteúdo como fim em si mesmo. Da mesma forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) parecem ter proposições de- rivadas principalmente de Piaget, que são marcadas por teorias da psi- cologia da aprendizagem. Nos últimos anos, essa perspectiva “psicologizante” tem sido muito rebatida pela abordagem da educação histórica, que tem por base a obra do historiador alemão Jörn Rüsen. O referido historiador tem se 20 Metodologia do ensino de História e Geografia dedicado à reflexão sobre a didática da história há algumas décadas. No Brasil e em Portugal, tal perspectiva vem sendo institucionalizada e difundida, em especial, a partir do início do século XXI (SCHMIDT; BARCA; GARCIA, 2010). Para Rüsen, a consciência histórica, principal elemento de sua teo- ria, “é uma categoria geral que não apenas tem relação com o aprendi- zado e o ensino de história, mas cobre todas as formas de pensamento histórico; através dela se experiencia o passado e se o interpreta como história” (RÜSEN, 2010, p. 36). Essa consciência pode ser entendida como resultado do encontro do pensamento histórico científico com o pensamento histórico comum. Sua presença é identificada nos indiví- duos por meio da análise do cotidiano, com o objetivo de perceber as operações mentais que os fazem pensar historicamente. Essas opera- ções tornam-se evidentes apenas quando consegue-se apurar seu grau de importância na práxis de vida, ou seja, o sentido de sua ocorrência e os efeitos dela gerados (ALVES, 2014). Assim, notamos que a consciência histórica supera a distinção entre teoria e práxis, entre a ciência da história e a aplicação do conhecimento histórico fora da ciência. Ela procura a vinculação entre o pensamento e a vida, “na qual as operações da consciência histórica são reconhe- cidas como produtos da vida prática concreta” (RÜSEN, 2001, p. 55). Dessa maneira, “a consciência histórica dá estrutura ao conhecimento histórico como um meio de entender o tempo presente e antecipar o futuro” (RÜSEN, 2010, p. 36–38). Rüsen apresenta, por meio da consciência histórica, a complexidade do aprendizado histórico e a função social dele, que extrapola simples informações e memorizações, buscando discutir, primeiro, o sentido do aprendizado histórico para refletir sobre o ensino de História na escola (ALVES, 2014). Portanto, é relevante considerarmos que é preciso identificar e tra- balhar as ideias históricas que os estudantes trazem para o contex- to escolar, pois, caso contrário, a aprendizagem histórica pode não ser concretizada. Conforme aponta Schmidt (2019, p. 48), “tomar as protonarrativas 1 e ideias prévias dos estudantes como ponto de par- tida da aprendizagem parece ser um dado importante que vem sendo extraído das pesquisas”, visto que As protonarrativas são as ideias prévias dos sujeitos que norteiam suas concepções e ações na vida prática. São, por- tanto, elementos da consciência histórica. 1 A História e a Geografia na escola 21 o pensamento histórico não se limita a uma interpretação par- celar e linear das fontes; alimenta-se de narrativas progressiva- mente construídas, criticadas e reconstruídas. Este caminho é percorrido por quem interpreta e por quem aprende, e é essen- cial para a construção de sínteses progressivamente contextuali- zadas. (BARCA, 2004, p. 15) Por isso, o desenvolvimento do pensamento histórico necessita ser contemplado no ensino de História desde os primeiros anos de escolarização. É indispensável expandir e aprimorar o pensar histori- camente, o que pode ser comprovado pelas formas como os sujeitos entendem o conhecimento histórico. A articulação na narrativa histó- rica deve permitir entender a relação que os alunos têm com as ideias e os conteúdos, cuja referência é a própria epistemologia da história (SCHMIDT; BRAGA, 2007). Segundo Cooper (2004), as crianças são capazes de elaborar supo- sições sobre a história por meio da imaginação histórica, que deve ser utilizada pelos professores no processo de ensino-aprendizagem da História. Sendo assim, é possível que as crianças aprendam História desde que “as tarefas, os tópicos e os contextos em que são apresenta- dos tenham significado para elas e que o desenvolvimento do raciocí- nio histórico processe-se com oscilações, e não de uma forma simplista em determinadas situações, e de uma forma mais elaborada em ou- tras” (CAINELLI, 2018, p. 98). Barca (2004) afirma que, considerando a perspectiva da educação histórica e o saber histórico como aquele que se edifica com base nos significados que cada sujeito confere às mensagens, por inferência de múltiplas fontes, é preciso trabalhar com um ensino de História que integre as variáveis sociais e culturais, como o sentimento de pertencer a determinado espaço histórico e a datação – por meio da explicação de anterioridade e posterioridade –, para que os alunos dominem os saberes históricos como pontos de referência. Dessa maneira, o que os alunos trazem para o ambiente esco- lar passa a ser relevante, ou seja, são valorizadas a cultura e as his- tórias presentes no cotidiano desses meninos e dessas meninas, e não apenas o conhecimento produzido na academia. Como enfatiza o historiador inglês Thompson, a história analisa a vida de todos os sujeitos, recuperando o sentido de experiências individuais e coletivas 22 Metodologia do ensino de História e Geografia (MIRAI et al., 2017). Portanto, o conteúdo selecionado em sala de aula também deve estabelecer relações com o cotidiano dos atores do pro- cesso de ensino-aprendizagem, bem como confrontar a experiência cultural destes com outras fontes de conhecimento histórico, em ou- tras temporalidades e espaços. Por sua vez, a vida social deve ser considerada em toda a sua com- plexidade, e isso se dá em um processo de desenvolvimento dinâmico. Diante disso, destacamos que é primordial que o ensino de História possibilite novas práticas na sala de aula, propiciando outras formas de assimilação e aprendizado dos conteúdos que contribuirão para a formação da consciência histórica. É preciso proporcionar ao aluno a oportunidade de apropriar-se do conhecimento e de se ver como su- jeito da história. Contudo, há de se considerar que não basta apenas rever os con- teúdos e as metodologias, despertar o senso crítico dos alunos, ou in- troduzir novas tecnologias e materiais didáticos. É necessário analisar o conhecimento histórico que está sendo inserido no espaço escolar e verificar como este contribuí para o desenvolvimento da capacidade de atribuir significados para a história e nortear o aluno de acordo com a própria experiência histórica (SCHMIDT, 2019). Corroborando a visão de Rüsen (2001), é exercitando a consciên- cia histórica que adquirimos, como indivíduos e como grupos sociais, a compreensão de nosso pertencimento a uma temporalidade.Diversos são os fatores envolvidos na elaboração da consciência histórica, como o imaginário (que nos ajuda a domar o mundo e nos fornece um lugar em sua organização espaço-temporal) e a memória do coletivo (que dá sentido à vida social, ao lugar do indivíduo na coletividade e da co- letividade no meio natural). A consciência histórica trata-se, pois, de uma forma de vivência histórica detectável para nossas sensibilidades, e, portanto, explorável de muitas formas no contexto escolar. Posto isso, a aprendizagem em História e Geografia está cada vez mais voltada para a episteme dessas ciências, sem, contudo, abando- nar o aparato da psicologia da educação, dando o mesmo peso para as duas perspectivas. A História e a Geografia na escola 23 1.3 História e Geografia na educação infantil Vídeo Em virtude da legislação, especialmente do RCNEI, sabemos da re- levância dos primeiros anos de escolarização que, até bem pouco tem- po, estavam mais relacionados ao assistencialismo do que à educação (KUHLMANN JR., 2007). Hoje, felizmente, a educação infantil compreende que a “criança é um ser histórico e social que tem direitos assegurados por lei. Direitos esses que, se respeitados, garantem a vivência da fantasia, do brincar, da liberdade, da educação, do lazer, da sua infância, enfim da vida” (CAMPOS; LIMA, 2010, p. 28). Nesse sentido, a História e a Geografia foram contempladas no currículo da educação infantil e dos anos ini- ciais do ensino fundamental devido à importância que assumem na formação da cidadania. Todavia, se não temos a definição de disciplina pelo RCNEI, como abordar esses conteúdos? Qual a relevância da História e da Geografia na educação infantil? Primeiramente, é importante destacar que a educação infantil foi pensada globalmente, e não de maneira fragmentada, por isso ela não está dividida em disciplinas. O próprio documento nos indica a relevân- cia desses saberes no início da escolarização, mais especificamente no eixo Natureza e Sociedade: propiciar experiências que possibilitem uma aproximação ao co- nhecimento das diversas formas de representação e explicação do mundo social e natural para que as crianças possam estabe- lecer progressivamente a diferenciação que existe entre mitos, lendas, explicações provenientes do “senso comum” e conheci- mentos científicos. (BRASIL, 1998, p. 167) Para a faixa etária de 0 a 3 anos, o Referencial não indica conteúdos específicos, orienta apenas que o cotidiano da criança seja o ponto de partida para o trabalho docente em relação à História e à Geografia. Para crianças de 4 a 5 anos, os conteúdos foram organizados da se- guinte maneira: organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar; lugares e paisagens; objetos e processos de transformação; seres vivos; e fenômenos da natureza (BRASIL, 1998). 24 Metodologia do ensino de História e Geografia Com base em um referencial histórico e geográfico, é possível de- senvolver várias abordagens socioculturais em cada um dos blocos. Ao trabalhar a localidade, a sua história e a relação do homem com a na- tureza, a criança terá bases sobre a vida social e a relação do sujeito com ele mesmo e com o meio ambiente. Esses dados são vitais para que a criança passe a reconhecer comportamentos no grupo, a notar o diferente, a apreender as diferenças e as semelhanças e a construir a sua identidade. Nesse sentido, o ensino de História e Geografia é relevante nas pri- meiras fases da vida, pois objetiva o desenvolvimento pleno e a com- preensão das formas mútuas de relacionamento entre humanos, suas ações e o ambiente. Conforme afirma Straforini (2001), a História e a Geografia, fundamentalmente, devem proporcionar ao aluno a cons- trução de conceitos que o permitam “compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade, ou ainda, preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o presente. Mas esse presente não pode ser visto como algo parado, estático, mas sim em constante movimento e rumo” (VASCONCELOS; CARVALHO, 2018, p. 343). Percebemos, portanto, quão importante são a História e a Geografia para a aprendizagem ao proporcionarem às crianças o conhecimento sobre os lugares em que vivem. Desse modo, é necessário que o pro- fessor tenha uma sólida formação para atuar de maneira significativa, diversificada e relevante. Assim, a aprendizagem histórica e geográfica se dará, efetivamente, nos primeiros anos de escolarização, quando as relações espaciais e temporais devem ser trabalhadas considerando o corpo da criança. Tendo isso em vista, o ensino de História e Geografia no decorrer da educação infantil deve proporcionar aos alunos a elaboração de conhe- cimentos referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relaciona- dos à temporalidade, ao território, ao espaço, à paisagem, à infância, ao brincar, ao ambiente e à sociedade. Consequentemente, os estudantes se tornarão sujeitos ativos e construtores do seu próprio conhecimen- to desde os primeiros momentos dentro do ambiente escolar (VIDAL; GOMES; BERBAT, 2014). Além disso, a fim de permitir que a História e a Geografia ofereçam a vivência na aprendizagem, a escola e os professores devem inserir em suas aulas conteúdos que envolvam as disciplinas, aproximando-os A História e a Geografia na escola 25 do cotidiano das crianças, com inclusão do lúdico; afinal, o brincar na infância é básico para o desenvolvimento. As recomendações do RCNEI e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) corroboram com essa afirmativa ao propor que os docentes trabalhem com a oralidade e a iconografia como formas de introduzir a criança na leitura das diferentes fontes de informação e de conheci- mento, objetivando o desenvolvimento paulatino da autonomia inte- lectual. Dessa forma, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e socio- cultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. (BRASIL, 2018, p. 43) Como destacam Silva e Cabó (2014), ainda na educação infantil, a criança deve entender qual espaço ocupa, o que e como irá aprender nesse lugar. Desse modo, cabe ao docente promover atividades lúdicas e diversificadas, com as devidas fundamentações pedagógicas, para o desenvolvimento de noções de História e Geografia. Para refletir sobre o currículo na educação infantil e compreender mais a respeito da importância da organização curricular nessa fase da escolari- zação, leia o artigo O currículo na educação infantil: o que propõem as novas diretrizes nacionais?, de Zilma de Moraes Ramos de Oliveira. Acesso em: 4 maio. 2020. http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7153-2-1-curriculo-educacao-infantil-zilma-moraes/file Artigo 1.4 História e Geografia nos anos iniciais do ensino fundamentalVídeo Assim como na educação infantil, o ensino de História e Geografia é recente nos anos iniciais do ensino fundamental, pois até 1990 essas disciplinas estavam agrupadas em estudos sociais. Apenas com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (n. 9.394/1996) e com os Parâmetros Curriculares Nacionais, essas disciplinas volta- ram ao currículo. http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7153-2-1-curriculo-educacao-infantil-zilma-moraes/file 26 Metodologia do ensino de História e Geografia As propostas curriculares elaboradas no fim dos anos 1980 e no início dos anos 1990 expressam, claramente, a ruptura dos modos de pensar e ensinar. Isso só foi possível porque as discussões ocorridas a entre 1970 e 1980, que faziam parte do processo de revalorização da História e da Geografia como áreas específicas do conhecimento, possibilitaram a reno- vação de metodologias, temas e problemas (FONSECA, 2012). Mudanças foramocasionadas pela reordenação da educação básica e pelas pesquisas relacionadas ao ensino-aprendizagem nos primeiros anos da educação básica (que consideram aspectos expressivos de di- versas ciências). Diante desse cenário, percebemos que a História e a Geografia, antes entendidas como disciplinas meramente descritivas, hoje são tidas como aquelas que, dentre outros pontos, analisam o ser humano em suas inter-relações com outros homens e as consequên- cias das ações dos indivíduos sobre a natureza (FONSECA, 2012). Estudiosos, ligados não apenas à área da educação, pesquisam so- bre os conteúdos e o ensino de História e Geografia e obtêm resultados que chamam a atenção para os novos problemas do cotidiano escolar e para a forma como o ensino, especificamente dessas duas disciplinas, tem se transformado ao longo das últimas décadas. Além disso, essas pesquisas têm apontado para o fato, já indicado pelos PCN no fim dos anos 1990, de que a História e a Geografia nos anos iniciais podem ser abordadas de maneira mais articulada e integrada, preparando os alunos para o aprofundamento de conteúdos que ocorrerá nas etapas seguintes. Como destaca Bezerra (2003, p. 37), os objetivos da educação básica não se restringem a assimilação maior ou menor de conteúdos prefixados, mas se comprome- tem a articular conhecimento, competências e valores, com a fi- nalidade de capacitar os alunos a utilizarem-se das informações para a transformação de sua própria personalidade, assim como para atuar de maneira efetiva na transformação da sociedade. Sabendo da capacidade de compreensão das crianças, outro ponto relevante para a inserção dessas disciplinas desde os primeiros anos de escolarização está no pressuposto metodológico de que cada in- divíduo já traz ideias a respeito de diferentes conteúdos, construídas com base em sua própria vivência e trajetória. Vale ressaltar que essa preocupação não existia no ensino tradicional. Ocorreu, então, a emergência de propostas curriculares que esqua- drinhavam uma fundamentação pedagógica pautada no construtivismo A História e a Geografia na escola 27 e em suas variantes, que consideravam o aluno um sujeito ativo no processo de aprendizagem. Para tanto, valorizavam o que as crianças traziam sobre os objetos de estudo, tanto históricos quanto geográfi- cos, seja por meio das histórias pessoais, do espaço em que (con)vivem, seja por meios de comunicação (BITTENCOURT, 2004). Nesse sentido, nos anos iniciais do ensino fundamental, a criança deverá desenvolver, em continuidade ao trabalho desenvolvido na educação infantil, várias de suas habilidades, competências e conhe- cimentos. Sendo assim, é preciso que as disciplinas, e não apenas a História e a Geografia, trabalhem conteúdos que sejam significativos, para que a criança possa utilizá-los de alguma forma em sua vivência. O ensino de História e Geografia deve, assim, articular conhecimento, as competências e os valores com a finalidade de habilitar os estudan- tes a compreender e intervir na sociedade. Em outros termos, nos anos iniciais, essas disciplinas buscam elimi- nar as abordagens tradicionais, tal como se dava nos Estudos Sociais, que tendia ao esvaziamento dos conceitos básicos da História e da Geografia. Tanto uma quanto a outra são fundamentais para a constru- ção de conceitos imprescindíveis ao exercício de uma cidadania plena (LASTÓRIA; MELLO, 2008). Os professores dos anos iniciais passaram a questionar o que en- sinar nessas disciplinas para que os objetivos sejam satisfatoriamente atingidos. As indagações eram: como ensinar História e Geografia para as crianças em um mundo tão rico em informações imediatas? O que propor para favorecer aprendizagens essenciais que auxiliem os alunos em sua formação de cidadãos autônomos, críticos, participativos, para que possam atuar na sociedade com competência e responsabilidade? Os PCN e a BNCC propõem o trabalho por eixos temáticos, os quais facilitariam a inserção de noções e conceitos básicos para a História e a Geografia no processo de alfabetização, sendo progressivamente tra- balhados ao longo de todo o ensino fundamental e médio. Nos docu- mentos, destacam-se os conceitos de cultura, de organização social e do trabalho e as noções de tempo/espaço (BITTENCOURT, 2004). O professor precisa sempre conduzir o conhecimento de maneira gradativa e processual, fazendo com que o estudante comece a dar importância, em primeiro lugar, para sua própria história e para o local 28 Metodologia do ensino de História e Geografia em que vive, despertando a consciência por meio do conhecimento, da discussão e da crítica. É necessário, portanto, introduzir uma metodologia de trabalho que permita desen- cadear um processo em que vão aprendendo a construir o co- nhecimento, a pesquisar, a formular perguntas e não se limitem tão-somente a responder as perguntas feitas pelo professor, nos moldes da memorização de viés tradicional, cujos objetivos prin- cipais consistiam na realização de avaliações nas quais o aluno deveria falar ou colocar no papel aquilo que havia decorado. (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 27) Em uma perspectiva interdisciplinar, ensinar a criança tendo como base seu próprio cotidiano tem sido a forma adotada por docentes desses anos. Com essa prática-reflexão mais próxima da realidade co- tidiana, a criança pode compreender as disciplinas como uma constru- ção de pertencimento, de identidade e de memória, favorecendo seu crescimento intelectual. O meio em que a criança está inserida deve articular-se com a histó- ria do cotidiano. Logo, o ensino da História e da Geografia deve partir das ações de pessoas comuns em espaços geograficamente próximos, colocando todos na condição de sujeitos e tirando a atenção das ações de indivíduos privilegiados social e economicamente. Os saberes es- colares objetivam, então, estabelecer articulações constantes entre o local, o nacional e o geral, utilizando, para tanto, diferentes fontes para a aquisição desses saberes. Para que esses objetivos sejam satisfatoriamente alcançados, os professores devem considerar que é necessário adotar um ensino produtivo em oposição a uma forma tradicional de ensino, que deno- minamos reprodutivo, o qual impossibilita a concretização das atuais propostas curriculares para o ensino fundamental. Dito isso, devemos ponderar que, nos primeiros anos da educação básica, a História e a Geografia ofereçam meios para que os alunos elaborem uma opinião a respeito de onde vivem, compreendam as aproximações e os distanciamentos que incidem entre os seres huma- nos e a natureza e entendam o seu desenvolvimento no decorrer dos tempos. Desse modo, eles poderão aprender o que somos hoje e que o lugar que ocupamos é resultado de um processo. A História e a Geografia na escola 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos primeiros anos de escolarização, a História e a Geografia devem contribuir para a formação de todos os sujeitos, os quais enfrentam uma realidade contraditória, recebem diversas informações e convivem com transformações cada vez mais céleres. Por meio dessas disciplinas, o alu- no, indivíduo do presente, precisa ter condições de refletir sobre os acon- tecimentos, relacionando fatos de ordem política, econômica e cultural. Para que isso ocorra, é necessário um trabalho pedagógico fundamenta- do em uma proposta que desenvolva as capacidades dos alunos, a auto- nomia e a compreensão. Dessa forma, devemos abdicar à ideia do aluno como receptáculo de conteúdos que rapidamente serão esquecidos. O aluno não deve memo- rizar uma grande quantidade de informações, mas, sim, ser capaz de bus- cá-las, quando for necessário, e de aplicá-las em seu dia a dia, bem como utilizar os conteúdos em outros contextos, para a solução de problemas e discussão de alternativas. Em suma, o ensino de História e de Geografia pode e deve colaborar para a libertação do indivíduo do tempo presente e da imobilidade diante dos acontecimentos. Assim, ele pode entenderque cidadania não é uma série de direitos outorgados, mas é conquistada por meio de constantes lutas. ATIVIDADES 1. Leia atentamente o poema de Bertolt Brecht e discorra sobre como o posicionamento do poeta pode contribuir para uma nova abordagem do ensino de História. Perguntas de um trabalhador que lê Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia várias vezes destruída Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta? A grande Roma está cheia de arcos do triunfo Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio 30 Metodologia do ensino de História e Geografia tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida os que se afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar a tragou. O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro? Filipe da Espanha chorou, quando sua armada naufragou. Ninguém mais chorou? Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele? Cada página uma vitória. Quem cozinhava o banquete? A cada dez anos um grande Homem. Quem pagava a conta? Tantas histórias. Tantas questões. (BRECHT, 1986) 2. Reflita a respeito da contribuição do estudo da Geografia para a organização do espaço e para a atuação do sujeito nele. 3. “Ensiná-los a pensar, mais do que somente a memorizar; ensiná-los a questionar o mundo, mais do que a aceitá-lo passivamente; ensiná-los a criticar a ciência, mais do que somente sabê-la de cor; ensiná-los a fazer ciência, mais do que recebê-la pronta” (RONCA; TERZI, 1995, p. 51). Comente a afirmação a partir do atual posicionamento do ensino de História nos anos iniciais do ensino fundamental. REFERÊNCIAS ALVES, R. C. A aula de História como lugar do ensino, da pesquisa e da extensão. Espaço Pedagógico, Passo Fundo, v. 21, n. 2, p. 274-287, jul./dez. 2014. Disponível em: http://seer. upf.br/index.php/rep/article/view/4301. Acesso em: 4 maio. 2020. ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981. BARCA, I. 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Essa movimentação, atrelada aos processos de transformação da educação mundial e à aprovação de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), culminou com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de possibilitar a escolarização por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Diante desse cenário, como o ensino de História e Geografia vêm sendo abordado nos documentos oficiais? Como essas transforma- ções curriculares impactam a seleção de materiais didáticos? Qual o papel do professor na seleção dos conteúdos e na escolha dos materiais adequados para o processo de ensino-aprendizagem? Vamos, juntos, refletir sobre essas questões e entender a História e a Geografia nas atuais propostas curriculares? 2.1 Parâmetros Curriculares Nacionais Vídeo Antes de abordarmos o tratamento dispensado ao ensino de História e de Geografia nos Parâmetros Curriculares Nacionais, é importante rememorarmos que, assim como no Referencial Curricu- lar Nacional para a Educação Infantil, o documento tem origem na 34 Metodologia do ensino de História e Geografia Lei n. 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), mais conhecida como LDB, que estabelece as diretrizes e bases da educa- ção nacional. O artigo 26 da LDB, que versa sobre a educação básica, alterado pela Lei n. 12.796, de 2013, indica que: os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser comple- mentada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 1996). O parágrafo primeiro aponta que os currículos “devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o co- nhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil” (BRASIL, 1996), sendo esses últimos conheci- mentos pertencentes ao campo da História e da Geografia. Dessa for- ma, a legislação sugere uma proposta interdisciplinar, visto que o estudo desses temas parte da realidade do aluno, e não de uma única disciplina. A lei ainda estabelece, no artigo 24, parágrafo 4º, que “o ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes cultu- ras e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente de ma- trizes indígena, africana e europeia” (BRASIL,1996). Vale ressaltar que, apesar de citar apenas a disciplina de História, a Geografia também pode trabalhar com esse conteúdo. Nessa perspectiva, as Leis n. 10.639/2003 e n. 11645/2008 foram criadas para determinar o ensino obrigatório da história das culturas afrodescendente e indígena nas escolas. Como continuidade das reformulações educacionais iniciadas com a LDB e de acordo com uma tendência mundial de reorganização curricu- lar, em 1997, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais, sob uma orientação internacional oriunda de pressupostos da psicolo- gia da aprendizagem. Em um movimento de constitucionalização do currículo nacional (CURY,1998), o documento estabeleceu os objetivos das disciplinas escolares e sugeriu conteúdos e metodologias de ensino. Assim, em diálogo com as especificidades regionais e locais e em consonância com o artigo 26 da LDB, o ensino poderia ser nacionalmente unifica- do. Entretanto, cabe destacar que, por não apresentarem um modelo curricular único, os PCN não são engessados e respeitam as diversi- Você sabe por que foi usado o termo parâmetro? Segundo o Dicionário Aurélio, parâmetro “é todo elemento cuja variação de valor, modifica a solução dum problema sem lhe modificar a natureza” (FERREIRA, 2004, p. 1.491). Portanto, os PCN são, para o ensino, orientações que não alteram os objetivos propostos na legislação. Saiba mais História e Geografia nas atuais propostas curriculares 35 dades socioculturais e a autonomia das equipes pedagógicas e dos docentes (BRASIL, 1997). Nos anos iniciais do ensino fundamental, a coleção de PCN é compos- ta de dez volumes: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais; Língua Portuguesa; Matemática; Ciências Naturais; História e Geografia; Arte; Educação Física; Apresentação dos Temas Transversais e Ética; Meio Ambiente e Saúde; e Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Observe que, com exceção de História e Geografia, todas as disciplinas que compõem o currículo do ensino fundamental possuem um volume específico. Apesar de terem os conteúdos abordados separadamente dentro do fascículo, essa opção reflete as marcas do passado recente, no qual essas disciplinas foram reu- nidas e substituídas pelos Estudos Sociais, mas, por outro, reforça a relação inerente entre seus conteúdos. Devido à sua estrutura, os PCN procuram contrabalançar referen- ciais teórico-metodológicos para o professor e ser uma espécie de guia, elaborado de maneira didática e clara, para facilitar a compreensão e, logo, a sua implementação. Eles explicam elementos importantes para um método de ensino, no sentido de ilustrar a função da escola, nomeadamente do ensino fundamental, bem como o papel de cada componente curricular para que os objetivos apresentados pelo docu- mento possam ser atingidos. A proposta de História para os anos iniciais destaca três conceitos fundamentais: fato histórico, sujeito histórico e tempo histórico; apon- tando o nível de aprofundamento do conhecimento histórico entre o acadêmico e o escolar. Para o ensino de Geografia, são enfatizadas a interpretação e a problematização dos fenômenos espaço-temporais, com vistas a propiciar ao educando conhecer e desenvolver o espírito investigativo, bem como estabelecer sua comunicação corporal, afetiva e social com os elementos do espaço geográfico. Assim, desde os primeiros anos, o ensino dessas disciplinas procura desenvolver e ampliar a capacidade de observar, analisar, interpretar e raciocinar criticamente o espaço e o tempo. O enfoque globalizado de conteúdos, portanto, pode levar o aluno a ser capaz de responder aos problemas de maneira comprometida consigo mesmo e com a so- ciedade, ou seja, como sujeito capaz de promover transformações que contribuam para um mundo melhor (BRASIL, 1997). 36 Metodologia do ensino de História e Geografia Além disso, segundo os PCN, a História e a Geografia, nos anos ini- ciais, devem priorizar o conhecimento de que o homem é um ser cons- trutor e criativo, que elabora a sua construção com base em sua ação, seu trabalho sobre a natureza ao lado de outros homens, para garantir a sua sobrevivência. Tendo isso em vista, o ensino dessas disciplinas deve estar alinhado à metodologiaescolhida para fugir das práticas tradicio- nais que primavam pela exposição e memorização de conteúdos. É im- portante selecionar a mais pertinente para as necessidades dos alunos e seguir algumas recomendações na maneira de trabalhar, como estas: • lidar com conceitos referentes aos fenômenos concretos já co- nhecidos pela criança, isto é, tudo que ela sabe que existe; • considerar o aluno real como elemento ativo do seu próprio pro- cesso de construção do conhecimento; • utilizar-se da transposição didática para abordar conceitos científicos; • trabalhar com base na observação; • colocar o aluno em situações em que seja participante de sua aprendizagem, da construção de seus conhecimentos. Também é preciso levar em consideração os objetivos sugeridos pe- los PCN para os primeiros anos do ensino fundamental (Quadro 1), pois são eles que norteiam o trabalho do professor. Quadro 1 Objetivos para o primeiro ciclo Reconhecer algumas semelhanças e diferenças sociais, econômicas e culturais, de dimensão cotidiana, existentes no seu grupo de convívio escolar e na sua localidade. Conhecer e comparar a presença da natureza, expressa na paisagem local, com as manifestações da natureza presentes em outras paisagens. Comparar acontecimentos no tempo, tendo como referência anterioridade, posterioridade e simultaneidade. HISTÓRIA Reconhecer, na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridos, as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua coletividade, de seu grupo social. GEOGRAFIA (Continua) transposição didática: transposição dos conhecimentos acadêmicos, ciências eruditas de referência, para as disciplinas escolares; “vulgarização” do conhecimento produzido por um grupo de cientistas. Glossário História e Geografia nas atuais propostas curriculares 37 Caracterizar o modo de vida de uma coletividade indígena, que vive ou viveu na região, distinguindo suas dimensões econômicas, culturais, sociais, artísticas e religiosas. Conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utilizando, para tanto, alguns procedimentos básicos. Identificar diferenças culturais entre o modo de vida de sua coletividade e o de uma comu- nidade indígena estudada. Saber utilizar a observação e a descrição na lei- tura direta ou indireta da paisagem, sobretudo por meio de ilustrações e da linguagem oral. Estabelecer relações entre o presente e o passado. Reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localização, orientação e distância de modo a deslocar-se com autonomia e repre- sentar os lugares onde vivem e se relacionam. Identificar alguns documentos históricos e fontes de informações, discernindo algumas de suas funções. Reconhecer a importância de uma atitude res- ponsável de cuidado com o meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuida- dos que se deve ter na preservação e na manu- tenção da natureza. Reconhecer algumas permanências e transformações sociais, econômicas e culturais nas vivências cotidianas das famílias, da escola e da coletividade, no tempo, no mesmo espaço de convivência. Reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais se apropriam da natureza e a transformam, identificando suas determinações nas relações de trabalho, nos hábitos cotidianos, nas formas de se expressar e no lazer. HISTÓRIA GEOGRAFIA Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 1997, p. 39-40. Seguindo as recomendações e os objetivos estabelecidos pelo docu- mento, o professor poderá aprimorar seu trabalho, atender ao disposto nas orientações legais e fugir de uma metodologia tradicional de ensino. Para entender e refletir a respeito do impacto dos PCN na produção recente de propostas curriculares, leia o artigo Os PCN e a elaboração de propostas curriculares no Brasil, de Cláudia V. A. Galian, publicado no periódico Cader- nos de Pesquisa, em 2014. Acesso em: 15 jun. 2020. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742014000300009 Artigo https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742014000300009 38 Metodologia do ensino de História e Geografia 2.2 Referencial Curricular Nacional para a educação infantilVídeo Em continuidade à proposta dos PCN, no ano seguinte, 1998, foi lan- çado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. O RCNEI, apesar de todas as discussões ocorridas desde o início da década de 1990, foi finalizado com a preocupação em aproximar a educação infan- til do ensino fundamental, enfatizando a escolarização da criança. Esse documento está organizado em três volumes. O primeiro é in- trodutório, aborda o panorama de creches e pré-escolas no Brasil e apresenta a proposta curricular dessa fase da escolarização. O segundo volume, intitulado Identidade e Autonomia, aborda a formação pessoal e social da criança. O último, denominado Conhecimento de Mundo, indica os seis eixos de trabalho com as crianças para a construção de dife- rentes linguagens: Movimento; Música; Artes Visuais; Linguagem Oral e Escrita; Natureza e Sociedade; e Matemática. Entre os eixos indicados pelo Referencial, o que mais se identifica com o conhecimento histórico e geográfico é Natureza e Sociedade, que agrupa temas relacionados ao mundo natural e social, isto é, às áreas do conhecimento das Ciências Biológicas e Humanas, respectivamente. Com relação ao ensino de História e Geografia para a educação in- fantil, identificamos avanços especialmente relacionados às questões de gênero e à construção de mitos e estereótipos, cuja abordagem deve oferecer subsídios à criança para que ela possa refletir, e não replicar informações prontas, muitas vezes equivocadas, como acontecia antes com a realização das festas cívicas. O Referencial propõe, na verdade, que se extrapole antigos projetos desenvolvidos nessas áreas, como comemorações de datas cívicas, atividades voltadas ao calendário e a mapas, e exercícios de cópia, memorização e repetição. De acordo com o RCNEI, é preciso que as experiências na educa- ção infantil proporcionem uma aproximação das diferentes formas de representação e de esclarecimento do mundo social. Desse modo, as crianças podem compreender gradativamente a distinção que existe entre mitos, lendas, explicações derivadas do senso comum e conheci- mentos científicos (BRASIL, 1998). Nesse sentido, o Referencial indica o desenvolvimento das ativida- des nos seguintes blocos de conteúdo: História e Geografia nas atuais propostas curriculares 39 • Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar. • Os lugares e as paisagens. • Objetos e processos de transformação. • Os seres vivos. • Fenômenos da natureza. Entre os conteúdos indicados para o trabalho na educação infan- til, o eixo Conhecimento de Mundo é no qual melhor podem ser desen- volvidas as atividades referentes à História e à Geografia. Assim, para elucidar as principais orientações do Referencial para esse eixo, prepa- ramos o quadro a seguir. Quadro 2 Eixo Conhecimento de Mundo Faixa etária de 0 a 3 anos Faixa etária de 4 a 6 anos Principais objetivos Explorar o ambiente, para que possa se relacionar com os ou- tros e estabelecer contato com o meio, desenvolvendo curiosi- dade e interesse. • Interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo social e natu- ral, questionando e buscando soluções para entendê-lo. • Fazer algumas relações entre o modo de vida de seu grupo social e o de outros grupos. • Estabelecer algumas relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem. Critérios para escolha de conteúdos • Importância social e vínculo com as práticas sociais expressivas. • Possibilidade de construção de uma concepção de mundo integrada e relacional. • Possibilidade de incrementar o repertório de conhecimentos a respeito do mundo social. • Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar. • Os lugares
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