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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia Professora Ma. Maria Helena Azevedo Ferreira Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Renato Valença Correia Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Dudatt Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio de Azevedo Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA UNIFATECIE - CENTRO UNIVERSITÁRIO EAD. Núcleo de Educação a Distância; FERREIRA, Maria Helena Azevedo. Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia. Maria. Helena Azevedo Ferreira. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 115 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. Professora Ma. Maria Helena Azevedo Ferreira • Mestra em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). • Licenciada em História pela Universidade Estadual de Maringá. Desenvolveu pesquisa em História das Ideias e Crenças. Já atuou na área da educação como professora orientadora em cursos lato-sensu da Unicesumar. Possui experiência em faculdades públicas e privadas no âmbito da educação a distância. AUTORA Muito obrigada e bom estudo! APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo (a)! Prezado (a) aluno (a), esta disciplina é dedicada a você, professor e professora em formação para lhe fornecer instrumentos teóricos e práticos acerca do ensino de História e Geografia na Educação Infantil, com suas ressalvas, e também no Ensino Fundamental - séries iniciais. É nosso intuito mostrar como tais disciplinas são fundamentais na formação social dos educandos. Para isso, a nossa discussão começa na Unidade I, tratando da historicidade das disciplinas de História e Geografia no Brasil, a fim de mostrar para você como o ensino veio se transformando desde a implantação destas disciplinas. Além disso, nos voltamos para algumas noções básicas para o ensino de História e Geografia, inclusive apresentaremos propostas práticas de atividades. Já na Unidade II, nos dedicaremos a discutir as balizas teóricas sobre as quais se assentam a História e Geografia. Assim, será fundamental conhecer as principais correntes teóricas que construíram e constroem de diferentes maneiras o conhecimento em sua área de estudo. Estas reflexões serão importantes para que você entenda que qualquer abordagem de ensino está ancorada em uma dada perspectiva. Considerando que o ensino de História e Geografia perpassa por diretrizes legais que regem suas diretrizes no ensino básico, é fundamental pensarmos nos parâmetros curriculares, os conteúdos e os objetivos de cada área. Será neste sentido que a Unidade III será abordada, com o objetivo de apresentar a você os principais aspectos legais que incidem sobre o ensino neste país. Na unidade que fecha a disciplina, serão elencadas diferentes linguagens e fontes que podem servir de apoio para lecionar História e Geografia. Faremos também apontamentos gerais sobre planejamento, avaliação e projetos interdisciplinares. Para, por fim, falar sobre alguma tendências atuais de ensino. Esperamos que esta disciplina possa agregar em sua formação! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE II ................................................................................................... 31 Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia UNIDADE III .................................................................................................. 60 Referencial Curricular e os Parâmetros Curriculares Nacionais (Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental) UNIDADE IV .................................................................................................. 88 Diferentes Fontes e Linguagens no Ensino de História e Geografia 6 Plano de Estudo: • O ensino da Geografia, da História e dos Estudos Sociais na história da educação brasileira. • Noções Básicas para a construção do conhecimento histórico e geográfico • Experiências e propostas metodológicas para o ensino de Geografia e História. Objetivos de Aprendizagem: • Contextualizar o ensino de História e Geografia no panorama brasileiro. • Apresentar as bases teóricas e metodológicas do ensino de História e Geografia. • Propor atividades práticas em sala de aula. UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 7UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental INTRODUÇÃO Você já parou para se perguntar qual a importância do ensino de história e geografia na formação dos indivíduos? Longe da premissa que acredita que decorar datas, nomes de pessoas importantes ou saber todos os estados e capitais brasileiras são os objetivos centrais de tais disciplinas, gostaria de convidar você para repensar alguns pressupostos que sempre estiveram no imaginário popular. É verdade que nem sempre essas disciplinas se constituíram da mesma forma e foram ensinadas da mesma maneira no decorrer da história brasileira. Entre a manipulação destas por interesses políticos específicos, principalmente pela formação de indivíduos aptos a atender certas demandas, as duas disciplinas foram ora aproximadas, ora afastadas. Assim, é a constituição histórica das disciplinas que veremos no primeiro tópico da Unidade I. Na segunda parte de nossa unidade, você poderá ter noções básicas para o ensino de História e Geografia. Para isso, partimos de definições básicas destas disciplinas, apontando para seus objetos, limites e possibilidades. Abordaremos também a importância de tais disciplinas para a prática educativa. Hoje, entende-se que noções como de tempo, espaço, são categorias chaves para as disciplinas de História e Geografia. Mas como fazer com que crianças em processo de formação de suas identidades, em um turbulento desenvolver do conhecimento de si, estejam a par de conceitos tão abstratos? Como trazer isso ao nível da prática, articulado com a teoria? Veremos isso nos tópicos 3 de nossa Unidade. E, por fim, podemos pensar juntos, em possibilidades metodológicas, ou seja, em atividade práticas que podem ser aplicadas em sala de aula. Bons estudos! 8UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 1 O ENSINO DA GEOGRAFIA, DA HISTÓRIA E DOS ESTUDOS SOCIAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 1.1. O ensino de História e Geografia no Brasil pós independência Atualmente, as disciplinas de História e Geografia constituem-se como campos distintos e autônomos do conhecimento, ou seja, cada disciplina possui objetos, conteúdos e metodologias distintas e isso também é resultado da constituição de cada no âmbito do ensino. Para que você entenda melhor as particularidades do desenvolvimento histórico do ensino de cada disciplina, vamosfazer alguns apontamentos sobre o ensino de História, bem como faremos uma abordagem histórica sobre o ensino de Geografia, mas sem deixar de lado suas interconexões. A disciplina de história sempre esteve nos currículos escolares do Brasil, mas é no século XIX, especialmente nas últimas três décadas do século, que ela alcança certa notoriedade. Essa importância, veio no contexto da preocupação em formar uma “identidade nacional”, aspecto fundamental se pensarmos que o Brasil a pouco havia se tornado um país independente (BITTENCOURT, 2004). É importante dizer, entretanto, que a chamada educação primária – na qual o ensino de história ficava restrito à última etapa de ensino – era limitada a grandes centros urbanos, para uma camada privilegiada da população. Além disso, noção de patriotismo andava de mãos dadas como ensino da história religiosa e, consequentemente, o que vemos neste período é a articulação da moral cívica com a moral religiosa (BITTENCOURT, 2004). 9UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Com a abolição de escravidão em 1888, a chegada de imigrantes europeus e a crescente urbanização, o ensino de História passou a ter novos problemas e direcionamentos: Para a maioria dos educadores que concordavam com a escolarização das classes populares, a História a ser ensinada, desde o primeiro ano escolar, aos trabalhadores livres que emergiam em substituição aos escravos deveria inculcar determinados valores para a preservação da ordem, da obediência à hierarquia, de modo que a Nação pudesse chegar ao progresso, modernizando-se segundo o modelo dos países europeus (BITTENCOURT, 2004, p. 64). Ocorreu, portanto, a intenção de homogeneização cultural brasileira, desconsiderando a diversidade étnica e racial do país em prol do projeto de patriotismo. Neste sentido, não apenas a História do Brasil, mas também a Geografia brasileira, a Língua Portuguesa e a Educação Moral e Cívica, passaram a ser eixos de uma educação voltada para a formação do indivíduo. Neste mesmo período, o ensino de Geografia – com implantação inicial no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro – se mostrava também voltada para a construção de um nacionalismo patriótico (ARAÚJO, 2012). A Geografia, juntamente com a História, era disciplina obrigatória e no século XIX no que diz respeito ao ensino, se guiavam pela memorização dos conteúdos. Assim, aprender história, por exemplo, “significava saber nomes e fatos com suas datas, repetindo exatamente o que estava escrito no livro ou copiando nos cadernos.” (BITTENCOURT, 2004, p.67). Ainda no século XIX, passagem para o século XX, a Geografia tradicional – que trataremos na Unidade II – encontrava lugar no ensino tradicional, marcada para transmissão acrítica e mnemônica1 da realidade natural e suas relações com o ser humano (STRAFORINI, 2001). A memorização, como característica comum para as disciplinas de História e Geografia, especialmente a História, aparece como uma nova forma de comunicação trazida pela instituição escolar. Isso acontece em oposição a uma sociedade extremamente marcada pela oralidade, pelas histórias narradas para as crianças, pelos sermões dos padres na Igreja e pelas culturas como a indígena e a africana (BITTENCOURT, 2004) 1.2. Os Estudos Sociais: impactos da ditadura militar no ensino Foi apenas na década de 1930 que começaram a surgir as primeiras propostas para o surgimento dos Estudos Sociais nas escolas estadunidenses. Inspirados pela psicologia 1 Referente à memorização. 10UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental cognitiva, entendia-se que a apreensão da realidade deveria ser oferecida de modo progressivo à criança, levando em conta a proximidade, por isso os estudo do familiar, do local e do escolar. Cabe dizer, assim, que disciplina tinha como propósito substituir História, Geografia e o Civismo na chamada educação primária (BITTENCOURT, 2004). Aqui no Brasil, os Estudos Sociais só se tornaram obrigatórios em todo o sistema de ensino no período da ditadura militar, mais especificamente no contexto de reforma educacional de 1971, por intermédio da Lei 5.692/71. É de suma importância dizer que a disciplina, cumpria um papel relevante no direcionamento moral para os estudantes por parte do Estado: Considerando o momento histórico de vivência em mundo difícil e conturbado, os Estudos Sociais já não se poderiam limitar a desenvolver um espírito patriótico e nacionalista de feição ufanista, mas deveriam criar meios de frear as inquietudes de uma geração em um mundo submetido a um ritmo acelerado de transformações de seus valores tradicionais, tais como família, as condições de trabalho e a ética (BITTENCOURT, 2004, p. 74). Neste ponto da discussão, caro (a) estudante, gostaria que refletisse sobre como o Estado brasileiro, sob a égide do regime autoritário, entre 1964 e 1985, se preocupou especialmente com o ensino das humanidades na educação básica. Selva Guimarães Fonseca (2015) infere que isso não diz respeito apenas a uma mudança curricular, mas atendeu ao ideário de Segurança Nacional e também a um projeto de desenvolvimento econômico. SAIBA MAIS A Lei 5.692 de 1971, promulgada durante o governo de Médici, trouxe mudanças significativas para a estrutura do ensino no Brasil. Ela não apenas denomina o período de escolaridade obrigatória como 1º grau – o que conhecemos hoje como ensino fundamental, como também torna obrigatório o ensino profissionalizante no 2º grau atual ensino médio, mas também foi especialmente prejudicial para o ensino das humanidades, que tiveram sua carga horária diminuída (GUIMARÃES, 2015). Saiba mais em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fra- cassou-na-ditadura Acesso em: 28/08/19. 11UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental A influência do regime militar sobre o ensino das humanidades também abrangeu a formação de professores, através do incentivo as licenciaturas curtas autorizadas pelo Decreto-Lei nº 547 de 1969. Neste contexto, as licenciaturas curtas, como foi o caso de Estudos Sociais, tinham objetivo de formar um grande contingente de professores. Os docentes formados em Estudos Sociais estavam habilitados para lecionar nas disciplinas de História, Geografia, Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica (EMC) (GUIMARÃES, 2015). É fato que houve muita resistência por parte de professores de História e Geografia quanto a inserção da disciplina de Estudos Sociais, bem como resistência a formação de professores destinados exclusivamente para este fim. Como demonstra Guimarães (2015), diante da resistência e mobilização dos docentes e alunos dos cursos de História e Geografia, o governo recuou: Houve uma revisão do artigo 5º da resolução 8/71 da portaria 790/76, explicitando a possibilidade de introduzir História, Geografia e OSPB a partir da 5ª série, como disciplinas autônomas, e também de os licenciados em História e Geografia ministrarem aulas de Estudos Sociais no 1º grau (GUIMARÃES, 2015, p. 26) Ainda assim, é importante entender que as disciplinas humanas eram de “interesse nacional”, tendo em vista seu papel para o cidadão que se desejava formar. Um exemplo disso, foi a implementação, com o Ato Institucional nº 5, da disciplina de Educação Moral e Cívica, planejadas pela Comissão Nacional de Moral e Civismo, ligadas diretamente ao Presidente da República. A disciplina trabalhava conceitos como “[...] nação, pátria, integração nacional, tradição, lei, trabalho e heróis [nacionais]” (GUIMARÃES, 2015, p. 27). Assim, muitas vezes esses temas acabavam por reverberar no ensinode História, que ainda sofriam forte influência do currículo fixado pelo Conselho Federal de Educação. Não era muito diferente na disciplina de Geografia, utilizada para: [...] inculcar a idéia de que a forma Estado-Nação é natural e eterna, apagar da memória coletiva as formas anteriores de organização espacial da(s) sociedade(s), tais como as cidades-estados, os feudos etc; [era preciso] enaltecer “nosso” Estado-Nação ou país, destacando sua potencialidade, sua originalidade, o futuro glorioso que o esperava (VISENTINI, 1992, p.17-18 apud STRAFORINI, 2001, p. 34). As atividade cívicas, extracurriculares e consideradas um apoio à prática educativa de História e Geografia, também foram marcantes neste período. Havia o culto aos heróis 12UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental e símbolos nacionais (como o hino e a bandeira). Isso aconteceu ao ponto de “[...] se confundir com o ensino de História do Brasil, especialmente de 1ª a 4ª séries, aprofundando uma prática tradicional na escola brasileira.” (GUIMARÃES, 2015, p. 27-28). O ensino de História e Geografia, portanto, seja no ensino básico ou em nível superior, foi alvo das políticas governamentais que reconheceram estes elementos como fundamentais para a formação do cidadão. Com base nesta perspectiva, são implantados os Estudos Sociais, disciplina formatada e pensada para substituir História e Geografia, e também as disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, com o objetivo de incutir valores fundamentais para a manutenção do regime. 1.3. A abertura democrática e tendências atuais Pressionado pelos movimentos sociais e o novo contexto que se anunciava, o regime militar dava sinais de corrosão no início da década de 1980. As lutas pelas eleições diretas, bem como o crescente diálogo entre as universidades e as unidades de ensino básico, promoveram de norte a sul do país mudanças curriculares que começaram a delinear novos caminhos para a educação. Em consequência disso, a década de 1980 pode ser considerada um “repensar” da educação, momento de profundas reflexões (GUIMARÃES, 2015). No alvorecer de uma nova Constituição, alguns valores fundamentais do ensino começaram a ser questionadas, tais como: “a política educacional, os currículos, a gestão, a escola, o ensino e aprendizagem, os professores, alunos, os pressupostos [...]” (GUIMARÃES, 2015, p.33). Este repensar da educação, salientado pela autora, permitiu que na década de 1990, em um contexto de mundo globalizado, alinhado com a agenda neoliberal, surgissem novas políticas públicas, como a nova LDB, essenciais para compreensão das mudanças de paradigmas no ensino de História e Geografia. Dentre essas mudanças estão a substituição progressiva da disciplina de Estudos Sociais por História e Geografia, em especial nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. O que reverberou na extinção gradual dos cursos de licenciatura curta em Estudos Sociais. Vemos também a extinção legal das disciplinas de Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política do Brasil (OSBP) em 1995. E também a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) em 1997 (GUIMARÃES, 2015). 13UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental A influência de organismos internacionais e interesses empresariais deram a tônica na formulação dos currículos de História e Geografia e demais disciplinas. Neste sentido, entender tais disciplinas como autônomas e conferir delimitações temáticas, teóricas e metodológicas específicas, parecia – na ótica governamental articulada com as novos interesses do mundo globalizado – enxergar demandas de mercado específicas para a História e Geografia (MIRANDA, 2015). Além disso, os currículos de História e Geografia na educação básica foram impactados, já no começo do século XXI, por tendências relevantes, que buscaram incluir cada vez mais vozes nas temáticas abordadas e impulsionaram a busca por novas alternativas teórico-metodológicas. Um destes impactos foi a implementação da lei 10.639 de 2003, que alterou o artigo 26 da LDB, acrescido, anos mais tarde da lei 11.645 de 2008, que altera a de 2003. A lei 10. 639/03 tornou obrigatório o ensino de cultura e história afro-brasileira e africana em todas as instituições de ensino básico, sejam elas públicas ou privadas, já lei 11.645/08 estende essa obrigatoriedade ao ensino de história e cultura indígena. Estas temáticas devem estar em todo currículo escolar “[...] em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileira.” (BRASIL, 2008, online). Caro estudante, é imprescindível lembrar que essas mudanças legais em nossa história recente só foram possíveis graças aos movimentos sociais de ativistas negros e indígenas. Ao longo de séculos de exclusão dos bancos escolares, via-se também a falta de protagonismo de negros e indígenas ao contar sua própria história, sendo contada apenas sob o ponto de vista do colonizador. Por isso, é de extrema importância que entenda o papel de tais forças na sociedade brasileira, imbuídas de tornar nosso sistema de ensino mais plural e condizente com a realidade. REFLITA Educação ou funciona como um instrumento que é usado para facilitar a integração das gerações na lógica atual do sistema e trazer conformidade com ele, ou ela se torna a “prática da liberdade”, o meio pelo qual homens e mulheres lidam de forma crítica com a realidade e descobrem como participar na transformação do seu mundo (Paulo Freire). Fonte: https://www.politize.com.br/paulo-freire/ Acesso em: 05/12/2019. 14UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 2 NOÇÕES BÁSICAS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO 2.1. Noções básicas para a construção do conhecimento histórico Para dialogarmos juntos sobre a construção do conhecimento histórico, é preciso nos lançarmos a perguntas básicas que envolvem essa construção. Primeiro, o que é História? O que estuda História? Por que ensinar História? E, finalmente, qual o papel da História para nossas vidas? A primeira vista parecem perguntas simples de serem respondidas, porém, uma boa definição, delineada por Marc Bloch (2001) é de que a história é a ciência dos homens no tempo. Essa definição evoca alguns limites e possibilidades da História, como veremos a seguir. A definição de Bloch (2001) sistematizadora da ideia de Ciência dos homens no tempo nos traz três horizontes. O primeiro é de que a História é uma ciência, por meio de uma linguagem estética que lhe é própria, analisa os “fatos humanos [que] são, por essência, fenômenos muito delicados, entre os quais muitos escapam à medida matemática” (BLOCH, 2001, p.54). Na sua prática científica, busca compreender o passado por meio de fontes históricas, sejam documentos, depoimento de pessoas, fotografias, jornais, monumentos, dentre outros, que se constituem matéria-prima para o historiador. A segunda perspectiva aponta para uma ciência dos homens e mulheres, ou seja, as transformações inerentes a ação do ser humano como cultura, sociedade, linguagem, religião, relação com o meio ambiente, religião, podem se constituir em campos da História. 15UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Isso acontece na medida em que há intervenção humana e a construção de relações ao longo do tempo. O terceiro horizonte, indissociavelmente ligado ao humano, é o tempo. Entende-se que o passado é apenas o que se passou, sendo assim, trabalhar com o tempo seria narrar os fatos tais como acontecerame que teriam ficado esquecidos. É uma visão, de fato, mutiladora do fazer historiográfico. O passado tem um contato constante com o presente, através do artifício da memória, capaz de nos articular como sociedade, politicamente e culturalmente. Assim, a narrativa sobre o passado se presentifica nas ações do cotidiano. Um dos objetivos da História que é entender como mulheres e homens viveram ao longo do tempo, permite ver que nós, como seres humanos, não somos estáticos. Fazer com que nos reconheçamos, reconheçamos o outro, traz a perspectiva comparativa, de forma plural e dinâmica. A História deve estimular o respeito a diferença, entendendo o passado e projetando o futuro que gostaríamos de viver. Por isso, o passado sempre é revisitado com novos olhares e interpretações (GUIMARÃES, 2015). Trocando em miúdos, a história serve para que o homem conheça a si mesmo – assim como suas afinidades e diferenças em relação a outros. Saber quem somos permite definir para onde vamos. Quem sou? Para onde vou? Perguntas como estas são uma constante na história da humanidade. Por mais sem sentido que pareçam, tais indagações traduzem a necessidade que temos de nos explicar, nos situar nos (re)conhecer como humanos e, em decorrência, como seres sociais (BOSCHI, 2007, p.12 apud GUIMARÃES, 2015, p. 40-41). Mas por que ensinar História? A História como disciplina, desde o século XIX, tem sofrido modificações em suas abordagens e isso reflete em como é ensinada. Sobre isso é necessário quebrar alguns paradigmas. Com base nos pressupostos de Guimarães (2015), podemos dizer que a História não é universal e nem linear, ela acontece de modos distintos em sociedades distintas, ou seja, ela é fragmentada por excelência. Além disso, precisamos nos afastar da ideia que ensinar História é fazer uma narrativa compromissada apenas com a transmissão de informação. A História deve permitir a troca de experiências, pois é a partir deste processo que estudante e professor constroem as suas narrativas. Portanto, a missão do (a) professor (a), ao lecionar a disciplina é, para Guimarães (2015), “salvar” a História e isso significa “[...] fazer crescer a consciência dos jovens por meio de um trabalho de reflexão e de reconstrução da experiência humana.” (GUIMARÃES, 2015, p. 52) 16UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 2.2. Noções básicas para a construção do conhecimento geográfico A Geografia, em sua definição básica, se refere ao reconhecimento da relação ser humano/natureza no espaço. A memorização dos nomes dos estados, cidades, países, clima, relevo, e outros campos são muitas vezes imputados ao ensino de Geografia, porém, em uma abordagem mais atualizada da disciplina entende-se que há um rompimento com a mera memorização e falta de construção de sentido para os alunos. A definição de que a Geografia é o conhecimento sobre a relação do ser humano no espaço, não é suficiente para categorizá-la pura e simplesmente. Para Yves Lacoste (1989): A geografia, enquanto descrição metodológica dos espaços, tanto sob os aspectos que se convencionou chamar “físicos”, como sob suas características econômicas, sociais, demográficas, políticas (para nos referirmos a um certo corte do saber), deve absolutamente ser recolocada, como prática e como poder, no quadro das funções que exerce o aparelho de Estado, para o controle e a organização dos homens que povoam seu território [...] (LACOSTE, 1989, p.10). A descrição acima nos fornece alguns indícios de como é amplo o campo da Geografia, e pela sua amplitude e aplicabilidade é um dos principais instrumentos de exercício de poder. Assim, a Geografia como ciência, é uma disciplina multifacetada, abordando desde os aspectos físicos – apoiando-se na geologia, física, matemática etc. – e humanos – dialogando a história, ciências sociais etc., contribuindo para a formação política e social (SANTOS; SOUZA, 2012). A partir desta descrição tem-se a ideia de que a Geografia faz um bom diálogo com a História, no entanto Geografia “é a ciência dos lugares e não dos homens, ela se interessa pelos acontecimentos históricos à medida que os acentuam e os esclarecem” (SANTOS, 2003, p.24). Portanto, apesar de haver um diálogo entre as duas disciplinas é necessário resguardar suas diferenças. Ao entender que a Geografia tem como escopo principal o espaço e a intervenção humana sobre este, a pergunta que resta é por que ensinar Geografia? Qual é o papel que esta exerce sobre a formação do aluno? A Geografia deve oferecer subsídios que instrumentalizem os educandos a realizarem uma leitura da realidade, levando-os a perceberem-se como agentes transformadores de um espaço em movimento. Para isso é necessário que ele possua conhecimentos, domine determinados conceitos e procedimentos básicos, com os quais a Geografia interage, como: território, lugar, paisagem, região, relações sociais, poder, política, Estado e trabalho, lembrando que o espaço geográfico deva ser o objeto central de estudo (SANTOS, 2003, p. 27). 17UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental O domínio dos conceitos que circundam a disciplina, recaem na prática educativa. Assim, para formar indivíduos reflexivos, é preciso valorizar a vivência concreta do aluno, a realidade local e o espaço em vive para que este possa “comparar, explicar, compreender e espacializar as múltiplas relações que diferentes sociedades em épocas variadas estabeleceram e estabelecem relação com a natureza na construção de seu espaço geográfico.” (BRASIL, 1997, p.39 apud SANTOS; SOUZA, 2012, p.22) Ao fornecer aos estudantes tais instrumentos, busca-se a integração do indivíduo à sociedade contemporânea. Articulado a isso, o conhecimento da natureza, das modificações do espaço, das novas tecnologias, fornece um panorama para que o aluno possa intervir e construir no meio em que vivem de forma responsável. Isso não exclui a formação do sujeito transformador da realidade social, de sua própria condição de vida, alinhado com os princípios democráticos (SANTOS, 2003). 18UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 3 EXPERIÊNCIAS E PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA 3.1. Entre teoria e prática: propostas para o ensino de História e Geografia Uma queixa muito comum entre professores e professoras do ensino básico, especialmente do ensino infantil e séries iniciais, é que a teoria do foi aprendido na faculdade se desvincula da prática. Esta postura é sintomática, quando pensamos no fazer educativo. Ela revela que professoras e professores se veem com poucos instrumentos para lidar com seus alunos, por motivações diversas, bem como infere a necessidade de trabalharmos a teoria a partir da vivência prática. Por isso, Pensemos, agora, em uma ideia que, de tão repetida, parece ter esvaziado seu sentido: “o professor que atua [...] [no nível] fundamental [...] não deve assumir-se como aplicador passivo das orientações geradas pela reflexão acadêmica”. Além disso, mesmo reconhecendo que essas orientações costumam ser valiosas e bem elaboradas, convém lembrar que sua aplicação na prática docente vai depender, sempre da compreensão que o professor tiver delas (MICELI, 2009, p. 41). Como então aplicarmos os conhecimentos históricos e geográficos aos estudantes, adequando estes conhecimentos aos seus níveis de formação cognitiva? Quanto à História e Geografia, existem encaminhamentos metodológicos específicos, por conta, conforme visto, das especificidades de cada área. Contudo, as apreensões sobre tempo e espaço podem ser trabalhadas de forma concomitante em sala de aula. 19UNIDADE I FundamentosTeóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Os planos curriculares que chegam até nós de forma horizontal trazem a necessidade de trabalhar conceitos como cidadania, respeito à diferença, percepção entre diferenças e semelhanças, que recaem na apreensão teórico-metodológica dos conceitos de tempo e espaço. É importante dizer que o (a) professor (a) não é o (a) único agente responsável pela construção do conhecimento, família e sociedade cumprem papel fundamental, pois também é da onde o (a) estudante retira suas experiências que serão fundamentais para o início do trabalho docente (MICELI, 2009). Sobre o ensino de História para crianças de três a oito anos, Cooper (2006) diz que as crianças já vêm com concepções fragmentadas sobre o passado e, por vezes, ao escalarem para os níveis mais avançados de ensino, acabam por entender que História ensinada no espaço formal tem pouco valor. Por isso, é importante empreender uma “aprendizagem ativa”, que as incentivem, mesmo que em nível elementar, constituir um pensamento histórico genuíno, pautado pela investigação. Para isso, a autora se mune das concepções de Piaget sobre como as crianças desenvolvem seu raciocínio: Segundo Piaget, o desenvolvimento do raciocínio se processa a partir de tentativas e erros intuitivas, por meio de habilidades de produzir uma premissa racional e sustentá-la com um argumento, em direção à habilidade, no nível formal, de considerar todas as variáveis em um argumento. Isso sugere que as crianças podem ser capazes de desenvolver argumentos sobre fontes históricas, se as ensinarmos como fazê-lo (COOPER, 2006, p. 176). Em seu processo de desenvolvimento, as crianças, com o auxílio do (a) professor (a), podem começar a distinguir entre o que é certo do que é provável (COOPER, 2006). Isso é fundamental para fornecer os primeiros passos para que as crianças iniciem na compreensão do pensar historicamente, refletir e criar a partir da observação da sua realidade. Ainda no que se refere à construção do pensar historicamente para crianças, voltado para investigação histórica, Cooper (2006) acredita que é importante começarmos conversando sobre o tempo com os estudantes. A partir de indagações simples sobre as mudanças nas próprias vidas, nas suas famílias, chegada de novos bebês e mudanças de casa. Ou mesmo medir a passagem do tempo, em dias, semanas, aniversários e estações do ano. Ainda a autora sugere que se dialogue sobre a vivência dos avós e bisavós. Tudo isso, para que as crianças comecem a perceber algo tão abstrato como o tempo, principal foco da História. Aprender sobre o tempo envolve as concepções de sucessão e duração, ou seja, 20UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental de entender a sequência dos fatos e a duração destes. Neste sentido, antes mesmo de ingressar na escola e nos anos subsequentes, a criança perpassa pelas seguintes noções temporais: as vividas, diretamente ligadas ao seu cotidiano, as percebidas, quando conseguem sequenciar os fatos que acontecem ao seu redor e as concebidas, quando consegue entender o tempo medido pelas convenções sociais (FERMIANO, 2014). O diálogo entre o (a) professor (a) e a criança mostra-se fundamental neste quesito. Santos e Souza (2012), com base nas ideias Vygotsky, deixam claro que a conversação das crianças com adultos ou colegas mais velhos é essencial na “formação e na organização do pensamento complexo e abstrato individual.” (SANTOS; SOUZA, 2012, p.39). Como já dissemos, é possível conhecer o passado por meio das fontes, que são os seus vestígios. Neste sentido, o trabalho do docente pode ser direcionado para as fontes visuais, como as pinturas, as fotografias etc., para as músicas – como canções populares da infância das avós e avôs. A apresentação das fontes sempre deve vir acompanhada das seguintes questões: quem as fez? Por que as fizeram? Como eram usadas na época em que foram feitas? (COOPER, 2006). A partir das indagações do (a) docente, as respostas são variadas e cabem no nível da imaginação das crianças. O papel do (a) professor (a) neste momento é perguntar “e se?” (COOPER, 2006). Em outras palavras, quando o (a) estudante inferir uma interpretação sobre o porquê, por exemplo, se utilizava determinado tipo de roupa em uma dada época, o (a) docente deve conduzir a criança a criar outras interpretações. SAIBA MAIS Sabe-se que trazer a ludicidade para o ensino de História e Geografia é um desafio para os (as) docentes, por outro lado, é importante reconhecer o papel que o brincar, o processo de construir, traz para o processo de aprendizagem da criança. Nestes novos tempos, o recurso lúdico aliado com as novas tecnologias pode ser um bom instrumento pedagógico. Por isso, recomendamos que você se veja os jogos como alternativa metodológica e, para isso, deixamos o site Jogos na Escola com diversas opções de jogos online que podem ser utilizados com os alunos. Acesse aqui: https://www.jogosdaescola.com.br/category/historia-e-geografia/ Acesso em: 16/09/19. 21UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Outras abordagens metodológicas podem ser abordadas para o ensino de História. Veja o quadro a seguir: Quadro 1: Abordagens Metodológicas para o Ensino de História Abordagem Metodológica Aplicação Contação de histórias O recurso de contação de histórias, mesmo que ficcionais, faz com que a criança relacione as mudanças e passagem do tempo da vida dos personagens com as mudanças em sua própria vida. Colocando o passado em ordem sequencial Através de fotografias e outros objetos que marcaram a vivência da criança, colocando os fatos da própria biografia em sequência cronológica, pode ajudar a criança a entender a dinâmica das mudanças. Ampliando o vocabulário A percepção do passado também pode vir por meio do conhecimento de novas palavras que fazem referência ao passado. Palavras como “lamparina”, “castelos” etc., ou mesmo palavras ainda utilizadas que tiveram seu significado alterado, que no passado representavam coisas diferentes. É importante sempre contextualizar essas palavras, principalmente por meio de recursos imagéticos. Conhecimento por meio da oralidade Conversar vários adultos sobre suas experiências, seu trabalho, os lugares nos quais já esteve, leva o aluno a pensar sobre as diferenças, as particularidades de cada indivíduo e construir noções sobre a sociedade em que vive. Construção de interpretações por meio de jogos Por meio de jogos de imaginação, as crianças podem interpretar personagens históricos e dar os primeiros passos rumo a construção de interpretações sobre aqueles personagens e situações. Fonte: Adaptado de Cooper (2006). Já falamos sobre a abordagem metodológica do ensino de História, mas e quanto à construção da noção de espaço, principal objeto da Geografia? Como a criança pode conceber este conceito? De fato, como recorda Santos e Souza (2012), a percepção sobre o espaço ocorre de maneira diferente nas crianças. Com base na teoria piagetiana dos estágios de desenvolvimento intelectual da criança, entende-se que ela primeiro adquire a noção do espaço vivido, depois o percebe e logo o concebe. O espaço vivido é aquele que a criança delimita por meio das brincadeiras, 22UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental aquele que aos poucos descobre e organiza de acordo com seus interesses. O importante categorizar dois tipos de apreensão do espaço: aquele que se dá por meio da percepção, no plano sensório motor, e aquele que se instaura no nível da representação, ou seja, da possibilidadeintelectual articulada com a linguagem. (SANTOS; SOUZA, 2012). Primeiro, no plano da percepção, a criança é capaz de organizar mentalmente o espaço pelas relações espaciais topológicas, representadas pela seguinte ordem: Fonte: Adaptado de Santos e Souza (2012, p.42). As crianças entre 4 e 7 anos possuem pensamento intuitivo, ou seja, sua percepção está na aparência do que está acontecendo, mas que não é necessariamente a realidade. Por exemplo, uma criança de aproximadamente cinco anos tem dificuldades em afirmar que dois desenhos são iguais, se um deles parecer maior que o outro, isso indica que a criança acredita que mudando a dimensão, outras características também são modificadas (SANTOS; SOUZA, 2012). Em consequência disso, a criança começa a deslocar o seu centro de referência do seu próprio corpo para outros referenciais (SANTOS; SOUZA, 2012). Assim, construir a noção de espaço, conceito central da Geografia, começa, sobretudo, em fornecer instrumentos para que o (a) aluno consiga primeiro viver o espaço, por meio da interação concreta – que pode se manifestar por meio do brincar, depois perceber as 23UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental concepções de vizinhança, de separação e de ordem, e por fim, estabelecer outros referenciais que envolvem elementos que estão para além de sua corporeidade. Você acabou de ver como teoria e prática são indissociáveis para o ensino de História e Geografia, especialmente quando falamos da aplicação dos conceitos de tempo e espaço para as crianças. Ainda pensando nisso, seguiremos nossa discussão apresentando algumas propostas de atividades. 3.2. Propostas de Atividades 3.2.1. Atividades para o ensino de Geografia Como já dissemos, a noção de espaço da criança ocorre primeiro do reconhecimento do próprio corpo, partindo depois para a representação simbólica por meio da linguagem. Neste sentido, algumas atividades podem auxiliar a criança neste processo. Proposta 1: Contorno das mãos Fonte:https://www.papodaprofessoradenise.com.br/conhecendo-o-proprio-corpo-com- -diversao/ • Entregue uma folha com um espaço delimitado • Peça que a criança olhe para a própria mão e a contorne no papel • Deixe que acrescentem os detalhes que desejarem. 24UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental É uma atividade que pode ser aplicada na Educação Infantil e estimula o conhecimento das formas corporais. Para Santos e Souza (2012) é uma forma de fornecer noções de mapeamento, assim, nos níveis mais avançados de ensino, o conceito de mapa já não será tão abstrato. Isso porque: A noção de espaço contido que o mapa caracteriza pode ser percebida de forma mais significativa com o mapeamento da mão, pois é mais simples perceber que a mão faz parte de um todo, que é o corpo, do que, por exemplo, que o bairro faz parte do espaço mundial (SANTOS; SOUZA, 2012, p. 73). Proposta 2: Mapeando o próprio corpo Fonte: Ivancheche apud Santos e Souza (2012, p.83) • Colocar papel em bobina pelo chão e distribuir as crianças aos pares • As crianças se revezam para fazer o contorno do corpo • Pedir para que as crianças identifiquem as partes do corpo. Esta atividade proposta por Santos e Souza (2012) pode ser aprimorada trabalhando também a lateralidade, pedindo que se a mão esquerda, o pé direito, o joelho esquerdo e assim por diante. Além disso, pode ser trabalhada de forma interdisciplinar, articulando Educação Física e Artes, por exemplo. A aplicação da atividade ajuda a criança a entender a noção de proporcionalidade, fundamental para que seja desenvolvida nos posteriores a linguagem cartográfica, que envolve a correta leitura de mapas. 25UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Proposta 3: O trajeto para a escola Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1126 • Solicitar antecipadamente que as crianças tragam recortes de revistas e jornais que possam representar o trajeto que fazem de casa para a escola, podem ser selecionadas imagens de prédios, casas, paisagens, parques, dentre outros. • Fornecer uma cartolina para cada criança para que elas possam representar a partir das colagens o trajeto que fazem de casa para escola de maneira livre. • Na segunda etapa, em uma folha sulfite solicitar à criança que desenhe o caminho para sua casa, incentivando que ela explique aos seus colegas. Representar simbolicamente o caminho para a casa é importante como fase inicial para a alfabetização cartográfica, importante para que mais tarde se desenvolva a capacidade de traçar rotas, localizar espacialmente e ler mapas. Isso porque ela estabelece três tipos de relações: (1) as topológicas (noções de junto e separado, de ordem, vizinhança, envolvimento e continuidade); (2) as projetivas (frente/atrás, direta/ esquerda, em cima/em baixo); (3) as euclidianas (lineares, das coordenadas retangulares e de graus) necessárias para a localização dos objetos no espa- ço tridimensional (BALISKI, 2016, p.197). 26UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 3.2.2. Atividades para o ensino de História Conforme já foi abordado, a criança para compreender a passagem do tempo, precisa de certo nível de concretude para assimilar questões como a sucessão, duração de eventos e perceber também que o passado também se materializa no presente, através de vestígios como documentos, objetos, músicas, dentre outros. Para deixar mais claro como isso pode ser desenvolvido com crianças da educação infantil e séries iniciais, propomos as atividades abaixo. Proposta 4: Conhecendo um objeto Fonte: http://meusbrinquedosantigos.blogspot.com/2010/08/piao.html • Traga um brinquedo antigo para a sala de aula e deixe que os alunos o manipulem durante algum tempo. • Depois inicie um diálogo perguntando: “Do que é feito o objeto?” “Para que serve?” “Quais são suas características?” “Foi feito a mão ou por uma máquina?” “Quem o fez? É possível saber disso?” e “Quando foi feito?”. • Os alunos alfabetizados podem fazer uma lista das características do objetos, os que ainda não são podem desenhá-lo. • Os alunos podem depois buscar informações junto as outras pessoas ou mesmo na internet e, com a mediação do (a) professor (a), conhecer mais sobre os usos e significados do objeto no passado. Esta atividade foi adaptada de Fermiano e Santos (2014) e é direcionada aos 1º e 2º anos das séries iniciais. A atividade tem como objetivo introduzir a noção de documentos históricos – lembrando que vestígios materiais também são fontes históricas – a partir da definição de suas características. 27UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Proposta 5: Aprendendo sobre o trabalho • Propor que os alunos entrevistem os pais ou responsáveis sobre as suas profissões, com as seguintes questões: 1. Qual a sua profissão? 2. O que faz em seu trabalho? 3. O que precisa saber que exercer sua profissão? 4. Como você recebe? Qual o seu salário aproximadamente? 5. Como é o lugar que trabalha? Como você vai até lá (carro, bicicleta, a pé)? • Depois da entrevista, para os alunos de 1º a 3º ano proponha um desenho sobre o que mais chamou atenção da criança sobre a profissão. • Já para os alunos do 3º ao 5º ano solicite que preencham as seguintes informações: Imagem 1: Atividade sobre o trabalho Fonte: Fermiano e Santos (2014) • Ainda com os alunos de 3º ao 5º ano comece um diálogo sobre as profissões elencadas, se elas existem a muito tempo ou se são recentes. A atividade em questão,adaptadas de Maria A. B. Fermiano e Valéria C. B. Cantelli, introduzem por meio da entrevista conceitos como trabalho, remuneração e produção (FERMIANO; SANTOS, 2014). O tema é importante por relacionar questões sociais relevantes como o trabalho e inserir a noção histórica deste em nossa sociedade. 28UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Proposta 6: A diversidade racial e as bonecas Abayomis Fonte:https://g37.com.br/c/divinopolis/projeto-mundere-realiza-roda-de-conversa-e-oficina-de-boneca-abayomi • Comece conversando com os alunos sobre a diversidade de pessoas que temos no Brasil, alguns negros, brancos e indígenas. • Em seguida pergunte se as crianças gostam ou têm bonecas em casa e se elas parecem com as pessoas que vemos no dia a dia. • Apresente a história da boneca Abayomi (se preferir passe o vídeo que conta a história da boneca https://www.youtube.com/watch?v=840YHprHHl8) • Antecipadamente, providencie retalhos de tecidos pretos e demais estampas para a confecção da boneca. (Você pode conferir um tutorial aqui: https://www. youtube.com/watch?v=iDSLwltlva0&t=) • Juntamente com os alunos produza as bonecas e sugira a oferecer de presente para amigos e familiares contando a sua história. A atividade vai ao encontro do que dispõe a lei 10.639/03 e promove uma oportunidade de introduzir questões relativas a história afro-brasileira. Essa atividade pode ser desenvolvida com alunos entre o 3º e 5 º ano do ensino fundamental. 29UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) estudante, no decorrer de nossa Unidade podemos ver como alguns dos paradigmas que rondam as disciplinas de História e Geografia para o ensino infantil e séries iniciais são articulados e como estes, por vezes precisam ser rompidos para que de fato se promova uma educação libertadora. A preocupação em pensar a história de ambas disciplinas no Brasil, residiu em entender que nossas demandas curriculares também estão sujeitas as influências de poder. Bem como, vimos que a História e Geografia foram objetos de preocupação durante o regime militar, dada a sua relevância para a construção de um ideário de nação. O fim do regime trouxe novas tendências e possibilidades para o ensino, trazendo um aspecto democrático e mais plural. Após compreendermos tais relações, fomos levados a responder questões basilares do ensino de História e Geografia. A História, sendo a ciência do tempo e a Geografia do espaço, são campos autônomos de conhecimento, com suas especificidades. Assim, compreendemos que, apesar de suas interconexões, são disciplinas distintas com objetos e métodos diferentes, mas que enriquecem a compreensão do ser humano sobre si mesmo. Isso nos levou a pensar em como trabalhar metodologicamente com as crianças, que possuem formas de apreensão de espaço e tempo diferente da dos adultos. Por isso, a necessidade do (a) professor (a) ter ciência das disposições teóricas, que possam dar embasamento para a sua prática diária. Com base nisso, a nível de exemplo, elencamos algumas atividades, nas quais você pode visualizar algumas apreensões práticas das disciplinas. 30UNIDADE I Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino de História e Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Brasil de fio a pavio. • Autor: Gilles Eduar. • Editora: Ática. • Sinopse: Ideal para o trabalho com as crianças, o livro traz três divertidos personagens (um jacaré, uma capivara e uma arara) em uma jornada pelos 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Cheio de ilustrações e com perguntas interativas, os alunos são convidados a conhecerem a fauna e flora do Brasil. É um interessante recurso para ser utilizado nas aulas de Geografia. FILME/VÍDEO • Título: Peixonauta, o caso do Indiozinho. • Ano: 2016. • Sinopse: O vídeo pode ser trabalhado no ensino infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Narra o encontro do Peixonauta e sua turma com o indiozinho, mostrando valores com o respeito, lendas, costumes e vocabulário indígena. O vídeo pode ser utilizado como ponto de partida para inserir a questão do índio em sala de aula. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=GnBzR68OIhA&t= https://www.youtube.com/watch?v=GnBzR68OIhA&t= 31 Plano de Estudo: • Diferentes abordagens historiográficas e da geografia • A História tradicional positivista, o materialismo histórico e a história nova • História regional, local e do cotidiano • O desenvolvimento dos conceitos de tempo, espaço, território, sociedade, trabalho Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar panoramas básicos das principais abordagens históricas • Analisar a importância da História regional e local. • Mostrar em linhas gerais a gênese da Geografia e das abordagens tradicional e crítica • Refletir sobre o desenvolvimento dos conceitos de tempo, espaço, território, trabalho e sociedade. UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 32UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia INTRODUÇÃO Você sabia que nenhum conhecimento transmitido aos alunos é escolhido por acaso? Os conteúdos, seja em uma aula de História ou Geografia, obedecem aos preceitos que se ligam a suas abordagens de origem. Se ligam, antes de mais nada, à interesses e épocas específicas que na constituição científica de cada disciplina entenderam quais temáticas, quais métodos e quais objetos de pesquisa seriam os mais importantes. Neste sentido, o (a) professor (a) deve assumir uma postura crítica com relação ao conteúdo que chega à suas mãos e começar a refletir a sobre a origem de certos pressupostos, isso você verá em linhas gerais no primeiro tópico. Já no segundo tópico, nos dedicaremos a pensar as abordagens historiográficas, ou seja, às formas de se escrever história. Passaremos da Escola Metódica, que prezava por uma visão não crítica da História no século XIX e pelo apego ao documento escrito. Depois veremos sobre o materialismo histórico, corrente nascente no século XIX, mas que marcou profundamente historiadores do século XX. Por fim, nos ateremos a Escola dos Annales e seu desdobramento na Nova História, entendendo este momento como de ampliação das formas de se pensar história, das suas fontes, dos recortes e das pessoas que merecem um lugar para chamar de seu na história. No terceiro tópico, faremos breve exposição da importância da História Regional e local como conteúdo relevante para a formação de um pensamento histórico. Em seguida, olharemos para a Geografia e para a sua amplitude. Em primeiro lugar, faremos um resgate histórico do pensamento geográfico, desde da chamada pré- história até a sua constituição como ciência no século XIX. A partir disso, poderemos enxergar as balizas da escola tradicional até a quebra de seus paradigmas com a Geografia Crítica. Por fim, refletiremos sobre conceitos fundamentais que fazem pontes entre as abordagens teóricas e o trabalho em sala de aula, tais como tempo, espaço, território, trabalho sociedade. Tratando-os como categoria-chaves para as áreas de História e Geografia e fundamentais para a formação do indivíduo. Bons Estudos! 33UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia 1 DIFERENTES ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS E DA GEOGRAFIA Há certo distanciamento das práticas pedagógicas com o que é produzido pela academia, no sentido de que a dinamicidade das reflexões teóricas tem dificuldades para sair dos muros das universidades e atingir os bancos escolares. Consequência disso é produção e reprodução de verdades prontas e acabadas de disciplinas que estão abertas a reconstruções e interpretações no que sepese especialmente a Geografia e a História. Cada disciplina possui temas, métodos, interesses de pesquisas diferentes em seu próprio campo de atuação. Não poderia ser diferente com a História e Geografia, pois estas sendo ciências humanas estão sujeitas a mudanças internas e externas em contato com a sociedade. Isso tem uma relação intrínseca com o desenvolvimento de ambas como ciência no decorrer da história e em diferentes contextos e como os pesquisadores pensaram as balizas epistemológicas. Ao falarmos de História devemos ter em mente que o conhecimento produzido sempre é “resultado de classe, gênero, nação e geração” (BURKE, 2003, p.18 apud GUIMARÃES, 2015, p. 42), ou seja, contexto daquele que produz a História, o historiador, incide em sua narrativa, portanto, a produção historiográfica se liga ao “lugar social” no qual se encontra aquele que narra determinada realidade. Michel de Certeau (1982, p.66) entende que “É em função deste lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas, se organizam". Dos diferentes lugares e momentos em que o historiador se encontra é onde também nascem as diferentes abordagens historiográficas. Para melhor exemplificar basta 34UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia pensarmos nas narrativas de “descobrimento” do Brasil, que construía a imagem do nativo como o “bom selvagem” e o europeu como aquele que trouxe a civilização e o progresso para estas terras, ou mesmo que os negros aceitaram passivamente a escravidão. Porém, já há algum tempo outros pontos de vista têm surgido, com sólida investigação documental que contestam tais visões. Por isso, com relação às abordagens historiográficas é seguro dizer, com base em Certeau (1982), que correspondem, para além do método, à tradição, aos costumes de uma época, as crenças de um povo e aos interesses de quem está a produzir História. Desde do século XIX, quando a História se constituiu como ciência, ela tem mostrado encaminhamentos metodológicos que vão desde o que chamamos de História Tradicional (ou dita positivista) até a Nova História, com novos temas, problemas e objetos. A busca por novas abordagens, não depende apenas da subjetividade de cada indivíduo, seja ele historiador ou geógrafo: Cada vez que as condições gerais de realização da vida sobre a terra se modificam, ou a interpretação de fatos particulares concernentes à existência do homem e das coisas conhece evolução importante, todas as disciplinas científicas ficam obrigadas a realinhar-se para poder exprimir, em termos de presente e não mais de passado, aquela parcela de realidade total que lhes cabe explicar (SANTOS, 2004, p. 18). A partir da citação acima podemos inferir que conferir um olhar diferenciado para aquele ou outro fato com o passar do tempo, no âmbito da ciência, é um processo natural que implica na multiplicidade de interpretações na História e na Geografia. Assim como na História, na Geografia vemos caminhos epistemológicos, ou seja, o repensar de estruturas de conhecimento que pareciam dadas, desde o seu surgimento como ciência no século XIX. Segundo Milton Santos (2004), a Geografia foi ligada em um primeiro momento a pretensões políticas de conhecimento e dominação do espaço, em uma perspectiva colonial. Já no século XX a disciplina se enveredou para o que se chama Geografia crítica, que toma para si as reflexões sobre as contradições e problemas sociais, rompendo com a dicotomia entre Geografia Física e Geografia Humana, buscando relacionar estes dois domínios na compreensão do espaço. Até este momento é importante entender que História e Geografia são disciplinas dinâmicas que estão sujeitas a diferentes abordagens, diferentes formas de enxergar um mesmo fenômeno da realidade humana. Por isso, enquanto professores (as) é preciso ter consciência que o conhecimento a ser compartilhado está sujeito a revisões e novas hipóteses, desde possuam suporte teórico-metodológico. Disso implica a necessidade de conhecermos mais detalhadamente algumas abordagens históricas e geográficas, a fim de estimulá-lo a entender a pluralidade de posturas. 35UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia É de suma importância entender que a narrativa desta História-ciência se pautava No primeiro plano, Karl Marx, no canto superior direito, Leopold Von Ranke e no canto inferior direito Jacques Le Goff. Fonte: http://epigrafeshistoricas.blogspot.com/2013/01/leopold-von-ranke-o-pai-da-historia.html Acesso em: 30/10/19 https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,jacques-le-goff-foi-decisivo-para-o-estudo-da-idade-media,1148193 Acesso em: 30/10/19 https://www.thevintagenews.com/2018/10/11/horace-greeley-helped-karl-marx/ Acesso em: 30/10/19 2 A HISTÓRIA TRADICIONAL POSITIVISTA, O MATERIALISMO HISTÓRICO E A HISTÓRIA NOVA 2.1 A Escola metódica “positivista” A chamada escola metódica teve origens no século XIX na Europa, na Alemanha especialmente com Leopold Von Ranke. Foi um momento que se passou a entender a História como uma ciência, ou seja, longe de concepções metafísicas da realidade, sejam elas advindas da religião ou da filosofia idealista, calcados na ideia de que nossos sentidos nos enganam. O século XIX também é conhecido por ser um momento de estruturação das ciências naturais, físicas e matemáticas, o que também vai influenciar na constituição desta corrente historiográfica (REIS, 1996). A negação da metafísica e a construção de interpretações que privilegiavam a causa e efeito dos eventos foram categorizadas como um “conhecimento positivo”. Este tipo de história se preocupava com o “irrepetível, singular, individual, com seu valor intrínseco, único” (REIS, 1996, p.6). Em outras palavras, o historiador deveria enxergar por meio da documentação, em documentos oficiais do Estado, o evento, suas conexões e suas tendências. 36UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia em documentos oficiais escritos, de chefes de Estado ou de grandes personalidades, assim, se voltava principalmente aos fenômenos políticos, administrativos, diplomáticos e religiosos. Diante disso, o historiador deveria manter a neutralidade, não construir hipóteses e problematizar, já que os fatos falariam por si (REIS, 1996). A seguir vemos um quadro que sintetiza alguns dos pilares desta abordagem: Quadro 1: Características da Escola Positivista Características da Escola Positivista O historiador apenas narra os fatos Não cabe ao historiador julgar, mas sim narrar a história tal como ela se apresenta. O historiador é neutro Seria possível ao historiador se livrar de todos os condicionamentos políticos, culturais e sociais do contexto em que está inserido. Assim, ele conseguiria prezar pela neutralidade. A História é objetiva Os documentos conferem a objetividade da disciplina. Cabe ao historiador apenas reunir os docu- mentos que falam por si. Os fatos estão dados nos documentos, cabendo ao historiador reuni-los. Toda reflexão teórica é nociva Os fatos devem ser colocados em ordem cronológica, não devendo o historiador se voltar para questões filosóficas, a fim de eliminar a subjetividade. A História-ciência poderia alcançar a verda- de Seguindo todas as recomendações anteriores a história pode chegar a uma verdade absoluta e objetiva. Fonte: Adaptado de Reis (1996). A escola metódica positivista teve expressão também na França, por meio das publicações da Revue Historique, revista científica considerada das mais relevantes para o movimento: A Revue Historique se declarava neutra, imparcial, devotada à ciência positiva, fechada às teorias políticas e filosóficas. Na prática, defendia a República, combatia a Igreja Católica e, apesar de copiar os alemães, era nacionalista. Os “positivistas” da Revue Historique passaram a controlar todas as instituiçõeshistóricas francesas: universidades, arquivos, bibliotecas, museus, que conheceram um crescimento considerável (REIS, 1996, p. 16). Houve também o incentivo do Estado francês que criou arquivos públicos e enviou historiadores para outras regiões para fins de pesquisa. Assim, a disciplina foi ganhando espaço no âmbito científico. Na figura de Fustel de Coulanges, por exemplo, historiador 37UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia francês, que sustentava que a História era uma “ciência pura”, vemos um apreço pelo texto, pela não reflexão crítica do historiador (REIS, 1996). De fato, foi uma corrente de pensamento que sofreu inúmeras críticas, principalmente pela Escola dos Annales – a qual veremos mais adiante. No fim do século XIX e começo do século XX a História se solidificava, ainda que tenha estabelecido critérios específicos trato com o documento, matéria-prima do historiador, com a fuga da subjetividade, Reis (1996) encontra ressalvas em categorizá-la prontamente como discurso “positivista”, pelo distanciamento de preceitos básicos desta corrente mais abrangente, assunto que não trataremos aqui pela sua extensão. SAIBA MAIS O Positivismo Na imagem ao lado você vê Auguste Comte (1798-1857), o fundador do positivismo. O positivismo, na verdade, não resume sua influência à História, é uma corrente filosófica ampla que impactou a ciência como um todo. Ele defendia, de grosso modo, que toda ciência da sociedade deveria se pautar por uma racionalidade matemática, aos princípios de progresso humano da compreensão, na investigação empírica e pela descoberta das leis gerais que poderiam nos guiar nesta compreensão (ISKANDAR; LEAL, 2002). Fonte: ISKANDAR, J. I.; LEAL, M. R. Sobre positivismo e educação. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.3, n.7, p. 89-94, 2002. Fonte da imagem: https://www.grupoescolar.com/pesquisa/augusto-comte.html Acesso em: 19/10/19 2.2 O Materialismo Histórico Uma das influências mais marcantes para a História e para as ciências humanas como um todo foi o materialismo histórico no século XIX, corrente que tem como fundador o alemão Karl Marx, com grande contribuição de Friedrich Engels, também alemão. Na verdade, o materialismo histórico é apenas um aspecto da ampla contribuição de Marx para pensar o constructo social e entender a complexidade das relações humanas, bem como estabelecer um pensamento crítico nas interpretações sobre a 38UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia a sociedade. Primeiramente, é preciso dizer que Marx e Engels eram materialistas, ou seja, todas as formas de pensamento, como as leis, as artes, as ciências, derivavam das formas que o ser humano encontrou para manipular a natureza e satisfazer suas necessidades: pela economia e pelas trocas econômicas. Marx e Engels (1998) chamam este “mundo material” de estrutura (ou infraestrutura) que determinam o que acontece no “mundo das ideias”, a superestrutura. A isso chamamos de interpretação dialética, em outras palavras de materialismo histórico dialético. Imagem 1: Relação dialética entre estrutura e superestrutura Fonte: http://grupoevolucao.com.br/livro/Filosofia4/socialismo_cientfico.html Acesso em 19/10/19 Entendemos o porquê se trata de uma relação dialética, mas e por que é histórica? Devemos ter mente que Marx e Engels procuravam explicações para as contradições sociais que viam em sua época, momento de intensos conflitos sociais, principalmente entre empregados e patrões (ZANIRATO, 2011). Então, como entender historicamente o processo que culminou na existência do capitalismo como um sistema de exploração? Para Marx e Engels (1998), a sociedade em seu processo evolutivo teria passado pelos modos de produção, que são diferentes formas de organização econômica ocorridas no decorrer do tempo que impactaram de modo significativo as relações de exploração, de apropriação da matéria-prima e dos meios de produção pela burguesia na modernidade. Os modos de produção, caracterizados por estágios diferentes que cada sociedade tem 39UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia de passar, podem não se manifestar de modo concomitante nas diversas nações, mas sua estrutura básica de ação obedece a certos denominadores comuns. Para Marx e Engels (1998), os modos de produção são: • Modo de produção tribal: A primeira forma de organização humana. Baseada economicamente na caça, na pesca e na agricultura. Nesse modo de produção não havia se desenvolvido a noção de propriedade privada, as relações entre os indivíduos eram de pequena escala, se restringiam as relações familiares e/ou tribais, desse modo a divisão do trabalho estava sujeita a esse cenário. • Modo de produção escravista: presente na Antiguidade avançou no quesito da propriedade privada, assim como na divisão de trabalho, no qual os escravos desempenhavam determinadas funções em contraposição a dos seus senhores. • Modo de produção feudal: além da noção de propriedade privada mais desenvolvida, os indivíduos estavam cada vez mais submetidos a sua classe, inerente a isso a oposição entre campo e cidade crescia, isso porque no campo existia uma vida social que girava em torno da produção agrária, baseado no trabalho dos servos, comandado pela nobreza e reis; já na cidade começava a nascer o comércio, sustentado pelos servos que fugiam do campo e incorporavam-se as corporações de ofício, que ficavam sob o comando dos mestres. Aos pouco, com a necessidade de expansão do comércio, o trabalho foi automatizado, os indivíduos que antes sabiam todas as etapas da produção, passam a exercer uma função específica. • Modo de produção capitalista: exercido pela grande indústria, atendendo um comércio de grande escala, desligou o homem de sua essência, fez do dinheiro um meio de subsistência. Assim, na relação que o mundo capitalista gerou, o homem está sujeito a uma força estranha, no qual ele é apropriado pelas forças que devia apropriar. A História seria, portanto, a demonstração da interminável contradição social, na qual a classe dominante, representada por poucos indivíduos exploravam a maioria, os dominados, evidenciando a luta de classes como motor principal das mudanças históricas. A burguesia teria se apropriado dos aparatos ideológicos do Estado, para efetuar a alienação sob o proletariado, que constitui a maior parte da população. A ideologia, a submissão a ela, constituiria um modo pelo os qual os indivíduos se apresentariam desligados uns dos outros, diluindo a concepção de sociedade (MARX; ENGELS, 1998). 40UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia Para subverter essa contradição, seria preciso que a classe operária, tendo consciência da necessidade em se apropriar dos meios de produção, estivesse alinhada universalmente. Isso quer dizer que, a sociedade em geral, ao passar pelos estágios históricos necessários, alcançaria inevitavelmente o capitalismo, que sendo insustentável faria com que a mudança das bases da sociedade fosse necessária. O proletariado, unindo forças na perspectiva global, seria sujeito em potencial para operar a revolução das bases sociais, destruindo as limitações que as classes impõem e assim seria possível ao ser humano exercer todo tipo de atividade (MARX; ENGELS, 1998). Na concepção de Marx e Engels (1998) essa revolução teria bases concretas na medida em que propõe uma realidade baseada na observação empírica do material. Neste sentido, a visão dos autores com relação ao passado, ganha ares de cientificidade e conformidade com relação ao projeto histórico. Mas dentro do quadro que identifica as contradições sociais, qual seria o papel do historiador que segue essa abordagem? Compreender as relações de produção, verificar como os homens se portam em situações dadas pela luta pelo controle dos meios de produção, nas diferentes etapas evolutivas[...] A História em Marx, tem um sentido de totalidade e universidade. É a História do gênero humano, e não a História deste ou daquele povo em particular. E essa História é determinada pelas relações de produção (ZANIRATO, 2011, p. 66). Dessa maneira, seria fundamental ao historiador identificar como o ser humano estabeleceu uma relação intrínseca com a natureza no decorrer do tempo para a sua subsistência e as implicações disso entre os indivíduos, na manipulação, na apropriação e distribuição do fruto do trabalho humano (ZANIRATO, 2011). O materialismo histórico, portanto, foi adotado por diversos historiadores que refletiram como a luta de classes, o conflito de interesses entre dominantes e dominados se instaurou em cada sociedade de acordo com o modelo de produção a que estava enquadrada. 2.3. Da Escola dos Annales à Nova História A Escola dos Annales foi um movimento historiográfico abrangente, com diversas fases, nomenclaturas e subdivisões complexas que tiveram grande impacto tanto na Europa como no Brasil. Mas que de fato teve origem com Marc Bloch e Lucien Febvre em 1929, que tendiam a ser contrários aos parâmetros apresentados até então da História Tradicional, sedimentada por valores elitistas, fortemente ligadas à História Política e História biográfica, 41UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia de exaltação de grandes eventos e líderes (ZANIRATO, 2011). Essa abordagem surge em momento de derrocada de diversas certezas e questionamento sobre o papel dos historiadores. Isso porque após a I Guerra Mundial, que perdurou de 1914 a 1918 com milhões de vítimas, a ideia de progresso indefinido da humanidade começou a ser sofrer abalos. Bem como, no plano econômico, a crise de 1929, mostrou que o sistema capitalista poderia não atender a necessidade de todos rumo a uma sociedade com menos sofrimento. Diante disso, o modelo de escrita da História deveria ser repensado em face a uma sociedade que via seus valores fundamentais serem desagregados (DOSSE, 1992). Marc Bloch e Lucien Febvre, da primeira geração dos Annales, faziam uma crítica ferrenha à Escola Metódica e defendiam a ampliação do campo do historiador. Cabia ao historiador fazer perguntas aos documentos, porque um texto por si só não diz nada. Essa perspectiva era dada porque ambos defendiam que era possível compreender o passado a partir de uma visão vinda do presente (ZANIRATO, 2011). Além disso, Bloch e Febvre advogavam por um alargamento dos objetos da história, pensando que todos os fatos humanos poderiam ser considerados históricos, no que tange os modos de agir e pensar dos indivíduos e das mentalidades coletivas. Para isso, se muniam de um diálogo com outras áreas das ciências humanas e ampliaram a noção de documento: A História, escreveu Febvre, se faz utilizando todo tipo de vestígio que proceda da atividade humana: linguagem, signos, formas da paisagem, sistemas de repartição da terra, braceletes, coleiras dos cavalos, espadas... Tudo o que pode significar algum indício da atividade humana (ZANIRATO, 2011, p. 85). Como já dissemos, essa corrente historiográfica possui o que podemos chamar de fases. Basicamente, podemos dividi-la em três gerações distintas: a primeira geração, representada por Bloch e Febvre; a segunda geração, que teve como principal exponente Fernand Braudel e a terceira geração (também chamada de Nova História) com nomes como de Jacques Le Goff, François Furet, George Duby, dentre outros (ZANIRATO, 2011). A seguir vemos as principais características de cada geração: 42UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia Quadro 2: Características das gerações da Escola dos Annales Geração Período Características 1ª Geração 1929-1956 1) Ruptura o positivismo 2) alargamento da noção de documento e sujeito histórico 3) aproximação com os campos econômicos e sociais 4) diálogo com as outras ciências humanas, em especial a sociologia 5) incentivo à “história-problema”, aquela que levanta problemáticas e hipóteses. 2ª Geração 1956-1968 1) Momento de consolidação dos Annales 2) Privilégio dos estudos econômicos e apagamento do campo político 3) Noção de história marcada pelas “temporalidades”, a saber: curta duração (aconteci-mento), média duração (conjunturas), longa duração (estruturas), sendo fundamental o entendimento desta última 4) Diálogo intenso com a Geografia, principalmente por parte de Braudel 5) Busca pela História total e global. 3ª Geração (Nova História) 1968 - 1) História dos marginalizados: mulheres, crianças, doentes etc. 2) Investigação das mentalidades e promoção da vertente cultural 3) Modificações dos recortes tradicionais e novos olhares para a política, economia, política, literatura etc. 4) Menos enfoque nas questões econômicas e destaque para o afetivo, o psíquico coletivo e o mental 5) Abandono do tempo linear e progressivo e adoção da história cíclica. Fonte: Adaptado de Dosse (1992) e Zanirato (2011). Assim como as demais abordagens historiográficas, a Escola dos Annales e seu desdobramento para a Nova História, sofreu críticas quanto a seu aspecto científico em face a sua capacidade representativa, de interpretação dos fatos, que supostamente a aproximariam da ficção (ZANIRATO, 2011). Caro (a) estudante, a discussão acima representa apenas uma fração das problemáticas que envolvem algumas das diferentes correntes historiográficas. De fato, a noção de que o conhecimento histórico não é algo dado e está sujeito a diversas interpretações, tradições e postulados, deve ser um pressuposto para o (a) professor (a), que deseja incorporar novos métodos e teorias em sua prática. 43UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia 3 A HISTÓRIA REGIONAL, LOCAL E DO COTIDIANO Em outros momentos destacamos a importância de trazer a História para a realidade local e cotidiana do aluno, isso efetivamente pode trazê-lo mais próximo a construção da noção de sujeito histórico. Bittencourt (2004) analisa que a História Regional é um campo que vem crescendo desde da década de 1970, principalmente no Brasil, país de grandes dimensões. Em diálogo com a Geografia, o conceito de região deixa ser aquele definido apenas por um conjunto de elementos naturais, como relevo, clima, vegetação e hidrografia e passa ser composto por como os seres humanos organizam o seu espaço. Isso se dá em virtude do esgotamento de versões mais abrangentes, de macroabordagens, que não se detém a um estudo minucioso das diferenças e multiplicidades do país. Há, portanto, em vistas do ensino da História nacional um contraponto com a história dedicada às regionalidades: A história regional passou a ser valorizada em virtude da possibilidade de fornecimento de explicações na configuração, transformação e representação social do espaço nacional, uma vez que a historiografia ressalta as semelhanças, enquanto a regional trata das diferenças e multiplicidades (BITTENCOURT, 2004, p. 161). A mais recente valorização da história local tem como pressupostos a resistência à globalização e hegemonia do imperialismo estadunidense, como como maneira de se auto afirmar, por essa razão a pesquisa e ensino da história regional, em especial na América Latina, tem sido tomada como de caráter estratégico, aplicado nas aulas de História e Geografia (BITTENCOURT, 2004). 44UNIDADE II Diferentes Abordagens Historiográficas e da Geografia Até um passado recente o Estado brasileiro prezava por um discurso de integralização com os países do cone sul da América Latina, como se pode ver no seminário regional ocorrido em Brasília em 1997, que deu origem ao compilado O Ensino de História e Geografia no Contexto do Mercosul. Que propôs o estudo étnico, o estudo das fronteiras, do passado colonial, das ditaduras militares na América Latina e da produção cultural sob o viés histórico (BITTENCOURT, 2004). Com relação à História
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