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1 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 Cirrose Definição • Transformação da arquitetura normal do fígado por fibrose. A fibrose pode se organizar em nódulos e micronódulos, porém o que importa é que toda a arquitetura normal do fígado vai sendo desorganizada e substituída por fibrose, causando uma série de consequências. • Resultado final da agressão hepática prolongada: Agressão → regeneração → fibrose. Essa transformação não é da noite para o dia, não é uma agressão súbita/aguda, ou seja, é um paciente que tem uma agressão ao longo de anos. Existem inúmeras causas para cirrose, como: hepatites crônicas (B e C), doença hepática alcoólica, esteato-hepatite, hemocromatose, hepatite autoimune, doença de Wilson (doença do metabolismo do cobre), outras doenças autoimunes (colangite esclerosante primária, colangite biliar primária), doenças genéticas (deficiência de alfa- 1-antitripsina), chás, entre outros. Qualquer agressão inflamatória, desde que seja crônica e prolongada o suficiente pode levar a deposição de fibrose. O fígado tem uma grande capacidade de regeneração. Logo, se sofrer agressão, no dia seguinte, irá se regenerar também. Porém, esse processo de regeneração, caso a agressão seja prolongada, chega a um ponto sem retorno. Assim, o processo de regeneração não acontece mais de forma correta, tendo como consequência a indução da formação de fibrose no fígado. Fisiopatologia Normal liver: hepatócitos normais e sinusoides (vasos entre os hepatócitos). Existe um espaço, entre o sinusoide e os hepatócitos, chamado de espaço de Disse. Existem algumas células, também, que participam da fisiologia normal: A célula de Kupffer (processo imunológico) e a célula estrelada (célula de Ito). A célula de Kupffer participa de processo imunológico e detoxificação, ficando dentro do sinusoide. Já a célula estrelada fica dentro do espaço de Disse, sendo depósito de vitamina A e depositando matriz extracelular. As células de Kupffer e estrelada possuem uma “comunicação”, que é importante para manter a homeostase e permitir a correta vasodilatação do sinusoide. O sinusoide hepático possui fenestras, sendo um vaso com furos, o que é importante para que o sangue tenha contato com os hepatócitos. Liver injury: A célula estrelada, com o processo de agressão prolongada do fígado, torna-se ativada. O processo de ativação da célula estrelada é fundamental no processo de geração da fibrose e consequente cirrose. Ao se ativar, a célula de Ito adquire a capacidade de virar um miofibroblasto, começando a exercer uma força tênsil na célula endotelial no sinusoide hepático, começando a puxá-lo e empurrar uma célula endotelial contra a outra, o que fará o sinusoide perder a fenestra. Como segundo problema, a célula ativada começa a depositar colágeno de matriz extracelular que forma fibrila. A matriz celular que ela depositava antes era uma MEC saudável, que não formava fibrila, porém, agora ela deposita um colágeno que forma fibrila, ou seja, um colágeno que forma fibrose. Outro fator importante é a ativação concomitante da célula de Kupffer. Antes, as três células (endotelial do sinusoide, Kupffer e célula de Ito) tinham uma “conversa” bastante saudável, chegando a conclusão de que o sinusoide hepático deveria se manter aberto para permitir a passagem de sangue. Porém, agora, são fatores de vasoconstrição que são produzidos, ou seja, além da fibrose vai haver vasoconstrição. E mais, serão produzidos também fatores de inflamação. O hepatócito está tendo inflamação, porque já há inclusive um processo inflamatório. A exemplo de uma hepatite B, C, esteato-hepatite, ou seja, há uma hepatite instaurada e agindo, porque isso tudo é um produto de uma hepatite e o hepatócito está sofrendo lesão. 2 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM: A ativação da célula estrelada inicia uma deposição de fibrose, causando uma capilarização do sinusoide, com perda das fenestras e vasoconstrição deste. A lesão hepatocitária também está sinalizada e causa consequências bastante importantes. Sequência: • Ativação da célula estrelada; • Deposição de Fibrose; • Vasoconstrição; • Capilarização dos sinusoides; • Lesão hepatocitária. Este é um entendimento do micro, para que o raciocínio macro possa ser realizado, pois o paciente vai sair de um fígado normal para um fígado cirrótico, cheio de fibrose. A fibrose que é microscópica, que inicia no espaço de Disse, culmina nessas imagens acima. Nas imagens acima, temos inicialmente uma cirrose micronodular e depois uma cirrose macronodular. Fígado de histologia normal, em que no canto superior direito temos um espaço porta, com a tríade portal. É possível se visualizar os cordões de hepatócitos, com os sinusoides e a veia centro lobular. O sangue chega pelo espaço porta (através da veia porta e da artéria hepática) convergindo pelos sinusoides, banhando os hepatócitos, até chegar à veia centrolobular, convergindo novamente até ser drenado pelo fígado pelas veias hepáticas. O sangue que veio da veia porta e da artéria hepática se mistura nos sinusoides, deixando de ser um sangue venoso ou arterial, sendo um sangue misturado. Na imagem anterior, é visto um espaço porta com a tríade portal, mostrando o ramo da veia porta, da artéria hepática e do ducto biliar. Mostra também uma veia centrolobular. Acima temos representações de fígados cirróticos, apresentando nódulos de fibrose/cirrose, com desarranjo na arquitetura hepática. A partir dessas imagens é possível se raciocinar do porquê da dificuldade de passagem do fluxo sanguíneo. Isso acontece por dois motivos: • Barreira mecânica - fibrose; • Vasoconstricção: a ativação da célula estrelada, por conta da inflamação crônica que gerou a fibrose, também faz com que o sinusoide hepático sofra vasoconstricção. Independente da causa, o paciente tem cirrose. A cirrose tem algumas consequências principais, responsáveis por gerar as complicações que esse paciente terá. Lógico que existe morte hepatocelular, o hepatócito está morrendo, tem menos hepatócitos funcionando, e a inflamação sistêmica, além de matar hepatócito, impede que o hepatócito funcione corretamente, chegando menos sangue no hepatócito, gerando então uma insuficiência hepatocelular: paciente vai ter problema de metabolismo, de detoxificação, excreção. Esse paciente também desenvolverá hipertensão portal e inflamação sistêmica. Hoje sabemos que a inflamação sistêmica que acontece no paciente com cirrose, tem um papel fundamental para as consequências sistêmicas que estão acontecendo no paciente. • Insuficiência hepatocelular: se o hepatócito não está funcionando direito, o paciente pode fazer hipoglicemia. Se esse paciente não produz proteína, 3 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 pode fazer hipoalbuminemia e/ou distúrbio de coagulação. Se ele não detoxifica, pode fazer encefalopatia. Complicações As consequências da cirrose vão gerar as complicações: ❖ Eliminação de toxinas: já que o paciente não consegue eliminar as toxinas, tanto aquelas que o metabolismo produz quanto as que ingere, o paciente pode ter efeitos colaterais de medicações, pode ter encefalopatia hepática; ❖ Metabolismo intermediário: pode fazer hipoglicemia no jejum e hiperglicemia na fase pós prandial, porque ele não consegue sintetizar o glicogênio e não consegue quebrar esse glicogênio; ❖ Síntese proteica; ❖ Hiperestrogenismo: a insuficiência hepática pode gerar problemas de hormônios sexuais; ❖ Hipoandrogenismo; ❖ Ascite; ❖ Encefalopatia; ❖ Síndrome hepatorrenal; ❖ Síndromehepatopulmonar; ❖ Hipertensão pulmonar; ❖ Cardiomiopatia hepática. Sistema porta No fígado chegam dois vasos: uma artéria e uma veia. A artéria celíaca, que é a artéria hepática (ramo do tronco celíaco) recebe sangue ricamente oxigenado. A veia porta é formada pela veia mesentérica superior e da artéria esplênica (que recebe a veia mesentérica inferior). Quando somamos veia esplênica, veia mesentérica superior e veia mesentérica inferior, terão, basicamente, dos vasos que drenam quase todo TGI, e a veia porta recebe também vasos que drenam a parede do abdômen, também recebe a gástrica esquerda, que drena o esôfago abdominal, que drena o estômago... Drena todo TGI. Sistema circulatório hepático • Precisa ter alta complacência e baixa resistência: porque ele recebe 30% do débito cardíaco; • Veia porta: ❖ Grande volume de sangue; ❖ Passa mais de 1000-1200 ml/min; ❖ É responsável por pelo menos 50-70% do suprimento de O2 do fígado. ❖ Quando esse sangue chega no hepatócito, esse fluxo sanguíneo já convergiu no sinusóide. Esse sangue só vai separado em uma artéria e em uma veia até o espaço porta. Quando chega no sinusóide, o ramo da veia porta e o ramo da artéria hepática entregam o sangue no mesmo vaso, que é o sinusóide, o sangue se mistura. Quando chega no hepatócito, ele não sabe se aquele oxigênio veio de uma artéria ou de uma veia. • Artéria hepática: ❖ Sangue altamente oxigenado diretamente do tronco celíaco da aorta; • Fluxo converge nos sinusóides. Hipertensão portal • Aumento da resistência: ❖ Alterações estruturais - fibrose hepática; ❖ No normal, a célula estrelada, a célula de kupfer e a célula endotelial “conversam”, e chegam a conclusão que é melhor produzir mais vasodilatadores do que vasoconstrictores, fazendo com que o sinusóide fique mais aberto. Quando tem cirrose, essa balança entre vasodilatadores e vasoconstrictores dentro do fígado pesa mais para os vasoconstrictores intra-hepáticos, gerando uma vasoconstricção (patológica) no fígado. Não confundir a vasoconstricção intra-hepática com a vasodilatação esplâncnica (IMPORTANTE). Vasoconstricção intra-hepática: é patológica. Causada pela ativação da célula estrelada. É inflamatória; Vasodilatação esplâncnica: serve para tentar compensar. O corpo sente o aumento de resistência dentro do fígado e tenta corrigir isso. O corpo, sistemicamente produz vasodilatadores sistêmicos e esplâncnicos para tentar dilatar o fígado “na marra”, pois este deveria ter alta complacência e baixa resistência, só que agora 4 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 ele se tornou um órgão de alta resistência. Então, o corpo tenta diminuir a resistência do fígado produzindo vasodilatadores, como por exemplo, o óxido nítrico. O corpo não vai conseguir corrigir a vasoconstricção intra-hepática, porque tem cirrose e inflamação intra- hepática. Vai existir a vasodilatação na circulação esplâncnica, vasodilatando a veia porta, veia mesentérica superior, veia esplênica, veia mesentérica inferior e vasodilatação periférica. Na hora que o coração sentir que ocorreu uma vasodilatação esplâncnica e vasodilatação periférica, ele aumentará o débito cardíaco, aumentando o fluxo para veia porta e aumentando o fluxo para circulação esplâncnica, chamada de circulação hiperdinâmica. Situação da paralela: Fez-se a queixa de que a paralela engarrafa às 6 da tarde. O engarrafamento acontece por causa do viaduto para Lauro de Freitas que tem apenas duas pistas. A solução do prefeito é aumentar as pistas na paralela, ao invés de consertar o viaduto para Lauro de Freitas. Então, a paralela passa a ter 20 pistas, que antes tinha 10. Com 20 pistas na Paralela, aumentará o fluxo de carros vindo de Salvador. O problema é que a obstrução existente mais a frente não foi corrigida. Se aumenta o diâmetro e o fluxo da Paralela, mas não corrige o aumento de resistência lá na frente, irá aumentar a pressão, o engarrafamento na Paralela. Isso é o que acontece na hipertensão portal, é um ciclo vicioso. Os carros acabam procurando outro caminho, uma pista marginal, subir pelo canteiro. • Aumento do fluxo: • Inflamação: ❖ A inflamação sistêmica tem um papel muito importante para a vasodilatação esplâncnica (a professora apontou para este tópico do slide). O paciente com cirrose é sistemicamente inflamado, por dois motivos: Translocação bacteriana; Sem o aumento da resistência e do fluxo, provavelmente não aconteceria a translocação bacteriana. O paciente com hipertensão portal, com vasodilatação esplâncnica, provavelmente faz edema de alças intestinais por algum motivo que não é muito bem compreendido. Nesses pacientes, existe um aumento patológico de translocação bacteriana, ou seja, as bactérias de dentro do intestino conseguem atravessar a espessura da sua parede, ganhando a corrente sanguínea. Dessa forma, produtos tóxicos dessas bactérias e os próprios microrganismos geram inflamação. Produtos do próprio fígado. O fígado inflamado produz citocinas inflamatórias, produtos tóxicos da inflamação. Esses dois fatores fazem do cirrótico um paciente cronicamente inflamado. Essa inflamação crônica, possivelmente, tem papel fundamental na vasodilatação periférica, que contribui muito para circulação hiperdinâmica. Talvez, se não houvesse inflamação crônica, a vasodilatação periférica não seria tão acentuada. Por conta de motivos ainda não muito bem compreendidos, mas possivelmente por conta da hipertensão portal, de edema de alças intestinais e pela inflamação causada por produtos tóxicos que estão sendo produzidos no próprio fígado, o intestino não está funcionando corretamente, afinal de contas, é a veia porta que drena o intestino. Portanto, é possível que haja congestão da parede intestinal. Com essa disfunção intestinal, bactérias que estavam na luz do intestino conseguem atravessar a espessura da parede, caindo na corrente sanguínea, esse é o processo de translocação bacteriana. Ao cair na corrente sanguínea, essas bactérias e os produtos produzidos por elas geram inflamação sistêmica, que contribui para vasodilatação periférica, assim como os produtos tóxicos secretados pelos hepatócitos que estão morrendo. Translocação bacteriana: Existem duas teorias sobre porque ela ocorre; uma delas fala sobre o aumento da permeabilidade advindo da inflamação e a outra justifica a translocação pela congestão advinda da própria hipertensão portal. É possível que as duas coisas ocorram de forma simultânea. Causas • Causa mais comum – Cirrose hepática: A cirrose é a causa mais comum de hipertensão portal (várias causas e classificações). • Classificações: Hipertensão portal pré-hepática, hepática e pós-hepática. • Hepática: Sinusoidal, pré-sinusoidal, pós-sinusoidal. 5 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 A cirrose é uma hipertensão portal do tipo hepática sinusoidal, pois o problema está a nível de sinusoides. Imaginem agora que o paciente tem uma coagulopatia, uma trombofilia, e esse paciente faz uma trombose de veia porta. Então ele terá uma hipertensão portal instantânea, mas do tipo pré-hepática, porque está antes do fígado. Um indivíduo com um parasita, que bota ovos, vivendo em sua veia mesentérica. Os ovos deste parasita viajam pela veia mesentérica e, através dela, chegam até a veia porta, e daí, eles vão pelos ramos da veia porta até chegarem ao espaço porta. No entanto, ao chegar no espaço porta, o ovo é grande demais para passar para o sinusoide, ou seja, ele chega até antes do sinusoide e fica preso nesse espaço porta (dentro do fígado, mas antes do sinusoide). Ao ficar preso, esse ovo gera uma resposta inflamatória no espaço porta, gerandoum granuloma, que eventualmente se transformará em fibrose, obstruindo o espaço porta e, consequentemente, provocando aumento de pressão nesse local, o que se transforma em hipertensão portal. Nesse caso, é uma hipertensão portal dentro do fígado e antes do sinusoide, ou seja, intra-hepática pré- sinusoidal. Lembrando que não é um ovo, são milhares de ovos. Isso é o que ocorre na Esquistossomose. No caso de um paciente com trombofilia, mas que tenha feito trombose das veias hepáticas, ou seja, das veias que drenam o fígado, a denominada Síndrome de Budd- Chiari. Por uma questão de congestão (meio que vai engarrafando), a trombose das veias que drenam o fígado acaba se transmitindo, de forma retrógrada, para veia porta. É uma hipertensão portal pós- hepática. Existe também a obstrução das veias centro lobulares, é um fenômeno raro, mas é uma hipertensão portal intra-hepática pós-sinusoidal. A veia cava está à frente do fígado apenas por motivo esquemático. Existem diversos tipos de H.portal. A síndrome de Budd-Chiari, se for um paciente com trombofilia hereditária, pode ser genética. Uma insuficiência cardíaca direita ou uma pericardite restritiva podem causar hipertensão portal pós- hepática. Cirrose causa uma hipertensão portal intra- hepática sinusoidal. Portanto, existem diversas etiologias para a hipertensão portal. Lembrar: Hipertensão portal intra-hepática pós- sinusoidal: Afeta a veia centro lobular. A síndrome de obstrução sinusoidal, que é bem rara, acontece com pacientes que usam alguns remédios que podem afetar essa veia, como por exemplo, alguns medicamentos para pacientes que fazem transplante de medula óssea. Evolução clínica É muito comum analisarmos a cirrose naqueles pacientes com ascite, encefalopatia, icterícia, ou seja, em pacientes descompensados. A cirrose, na verdade, evolui durante anos em uma fase compensada, ou seja, é aquele paciente sem sintomas aparentes, que tem uma boa qualidade de vida, às vezes nem o próprio paciente sabe que tem cirrose. FASE COMPENSADA • Sem sintomas aparentes; • Boa qualidade de vida. Na fase compensada, talvez haja alteração à USG de abdômen, o fígado não estará normal, ou, em um exame de sangue, talvez o paciente já apresente alteração no TP, alguma alteração discreta da albumina, mas o paciente não tem sintomas. *Achados ultrassonográficos da fase compensada da cirrose: Redução de volume hepático, borda romba (o paciente perde a borda fina do fígado), alterações ecotexturais (o fígado fica com textura heterogênea), aumento de um lobo (a depender da causa, por exemplo, cirrose por álcool pode provocar aumento do lobo esquerdo), muitas vezes é possível ver fibrose, principalmente a fibrose periportal, a depender da causa. São alterações realmente muito características de hepatopatia crônica. FASE DESCOMPENSADA • Sintomas mais comuns: ❖ Ascite, hemorragias, encefalopatia, icterícia; • Complicações: ❖ Lesão renal aguda (pode ou não preencher os critérios para síndrome hepatorrenal), síndrome hepatorrenal, síndrome hepatopulmonar, hipertensão portopulmonar, cardiomiopatia cirrótica. 6 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 • ATENÇÃO: Mesmo na fase compensada da cirrose, o paciente pode apresentar os famosos estigmas de insuficiência hepática/hepatopatia crônica. O paciente pode apresentar ginecomastia, eritema palmar, telangiectasia, redução da pilificação, ou seja, redução da pilificação de caráter sexual secundário (redução da pilificação em tórax, em axilas, em pernas) por conta do hiperestrogenismo e hipoandrogenismo, que é muito mais fácil de ser visto em homens do que em mulheres. Agora a icterícia, a ascite e a encefalopatia são observadas apenas na fase descompensada. Vasos colaterais: o sangue sempre vai procurar uma comunicação com a circulação sistêmica que está sobre pressão baixa para fugir do aumento da pressão do sistema porta e com isso ocorre o surgimento dos vasos colaterais ̈ cabeça de medusa¨, pois a circulação portal também drena a parede do abdômen e lembrar que na parede do abdômen existem anastomoses portossistêmicas, nessa tentativa de fugir do sistema porta que está sobre alta pressão e ir para a cava é que vai surgir os vasos colaterais. Varizes de esôfago ou do TGI: são outras manifestações bem famosas da hipertensão portal. Caso ocorra o rompimento dessas varizes, o sangramento pode ser tão volumoso que pode acabar levando o paciente a óbito. Ascite: deve ter em torno de uns 20l; a ascite não ocorre devido a hipoalbuminemia no cirrótico; Mecanismo da ascite: a ascite é um ciclo vicioso ¨quanto mais ascite mais ascite¨; 1) o aumento de pressão portal e a inflamação causam vasodilatação; 2) a vasodilatação e a hipertensão portal causam redução do volume circulante efetivo; 3) essa redução do volume circulante efetivo causa redução do fluxo sanguíneo para o rim; 4) a redução do fluxo no rim, ativa o SRAA que vai reter agua e sódio, o que vai aumentar ainda mais a pressão portal; 5) causa ainda mais vasodilatação e com isso será formando um ciclo vicioso porque a vasodilatação e a hipertensão diminui o sangue circulante efetivo; todo esse mecanismo vai aumentar a pressão hidrostática. • Junto desse mecanismo terá a redução da albumina: mas é o fato da retenção hídrica, retenção de sódio que irá causar a ascite. • Essa é a mesma fisiopatologia da síndrome hepatorrenal: pois a inflamação terá um papel no rim; o rim está em sofrimento e, por isso, a síndrome hepatorrenal é uma síndrome isquêmica. Então, junto com a inflamação, esse mecanismo de isquemia vai gerar lesão renal. • Se tem ascite não necessariamente tem síndrome hepatorrenal, mas o paciente só faz a síndrome hepatorrenal depois da ascite, pois a ascite e a síndrome hepatorrenal fazem parte do mesmo quadro complicado. Encefalopatia hepática: ocorre por dois mecanismos: 1) insuficiência hepatocelular 2) hipertensão portal. Pois se o sangue está em desvio do fígado e foi direto para a circulação sistêmica, não teve a filtração do fígado. Então, esse sangue pode ter ido cheio de amônia e, sem ter tido passagem pelo fígado, essa amônia vai direto para SNC. Obs.: essa foto é Asterix. 7 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Cirrose e hipertensão portal – Aula 11 • SINDROME HEPATOPULMONAR: ela ocorre devido a vasodilatação no pulmão, é um shunt, e o capilar pulmonar está dilatado. Com isso, as hemácias que estão passando terão contato com a membrana alvéolo capilar e receberão o oxigênio, mas as hemácias que estão passando pelo meio não conseguem ter contato e passam pelo pulmão sem receber oxigênio. Então, o sangue não será oxigenado e o paciente terá hipóxia. • Cardiomiopatia cirrótica: inflamação sistêmica, vai causar uma cardiomiopatia com remodelamento tanta sistólica quanto diastólica. Índices prognósticos CLASSIFICAÇÃO DE CHILD-PUGH • Índices de prognósticos - classificação de Child- Pugh: ele é muito usado para avaliar o prognóstico do paciente com cirrose a cada consulta; tem que saber quais os parâmetros que existem como: encefalopatia, ascite, albumina , bilirrubina e TP e ver quão grave está cada coisa e ver o quão grave esse paciente é. BEATA (Bilirrubina, encefalopatia, albumina, TP, ascite) e classifica em A,B OU C. • Escore de MELD: será usada a creatinina, o RNI, NA, e bilirrubina; esse escore é bom para prognóstico e lista de transplante hepático do paciente crônico. Essa ordem não é por ordem de chegada e sim pelo escore de MELD; quanto mais grave, mas ele vai na frente nessa fila.
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