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SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERENTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE LUCIMARA FERRAZ MARTINS VIDOTTI: PROFª PDE ROSELI DE CASSIA AFONSO: PROFESSORA IES A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA NA PRÁTICA DO PROFESSOR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES CADERNO PEDAGÓGICO JACAREZINHO 2008 LUCIMARA FERRAZ MARTINS VIDOTTI A PEDAGOGIA HISTÓRICO – CRÍTICA NA PRÁTICA DO PROFESSOR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Projeto apresentado à Secretaria de Estado da Educação – SEED como requisito parcial de participação no Programa de Desenvolvimento educacional – PDE na área de Gestão Escolar. Orientador: Profª Ms: Roseli de Cássia Afonso – Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Jacarezinho (UENP/FAFIJA) Parana JACAREZINHO PARANÁ 2008 A Pedagogia histórico-crítica na prática do professor: desafios e possibilidades. APRESENTAÇÃO A elaboração deste “Caderno Pedagógico”, faz parte das exigências do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, no item, “Produção Didática-Pedagógica. O programa teve início em 2007, onde instaurou uma nova política de Formação Continuada, a qual integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública Estadual de Ensino do Estado de Paraná, para alcançar o objetivo definido, qual seja o de contribuir com a melhoria da educação pública paranaense. Ao ser selecionada para ingressar no programa, na área de Gestão Escolar, em 2008, foi solicitado que desenvolvêssemos um projeto de pesquisa/intervenção sobre uma situação problema existente em nossa escola de atuação e que tivesse ligação com a área/disciplina de atuação do professor PDE. Como “Professora pedagoga”, o primeiro questionamento que levantamos foi: qual a função do pedagogo na escola? Saviani (1985, p.27) afirma que: “o pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural” e segundoTaques (2007, p. 4) “O papel do pedagogo é realizar a articulação entre a teoria e a prática pedagógica, dentro das condições concretas de ensino e aprendizagem, uma vez que, como responsável pela organização do trabalho pedagógico da escola como um todo, este profissional deve conhecer as possibilidades e as relações dos diversos contextos que constituem, sendo possível prever e prover, de forma sistemática, o currículo, os recursos e a distribuição do tempo e do espaço escolar, para que as atividades planejadas sejam realizadas, além de analisá-las quanto a sua efetividade para a promoção da aprendizagem”. Vejam que ao pedagogo cabe o domínio sistemático entre a teoria e a prática, bem como a organização do espaço pedagógico escolar. Diante do exposto partimos do objetivo de ampliar nossos conhecimentos acerca das teorias que descrevem as tendências que influenciaram a educação no Brasil e seus reflexos na prática pedagógica do professor com a finalidade de a partir deste estudo teórico obtermos uma visão crítica e objetiva para auxiliar os professores: na elaboração da proposta curricular, no plano de trabalho docente, no projeto político pedagógico e o gestor na organização do espaço escolar, visando a efetivação da gestão democrática, fundamentado em práticas sistemáticas da educação e não em práticas empiristas que fragmentam o processo educativo e acabam por deslocar a especificidade maior da educação, além de muitas vezes teorizarmos uma concepção de educação e praticarmos outra, justamente por termos uma visão difusa, sincrética dos fundamentos da educação. A aprendizagem do conhecimento supõe uma estrutura cognitiva já existente na qual se possa apoiar; caso este requisito não esteja dado, cabe ao professor provê-lo. SAVIANI ( 1991, p. 42) Diante desta fala, acredito que assim como o aluno necessita de uma estrutura cognitiva na qual se possa apoiar o educador também necessita desta estrutura cognitiva, e acredito que a mesma deva iniciar com a superação de uma prática empirista, difusa e sincrética, reflexo de uma formação tecnicista, fragmentada do curso de pedagogia, para uma prática teorizada cientificamente, sistematizada de forma metódica, e objetiva, visto que, a pedagogia caracteriza-se, pelo esforço teórico e sistematizado de pensar a ação educativa, em sentido amplo, e de pensar, ao mesmo tempo, num sentido mais restrito, os problemas que surgem da relação entre teoria e prática no processo ensino-aprendizagem e da própria relação pedagógica. Segundo CRRI (2004),O Paraná tem suas escolas em relativa anomia e confusão quanto à orientação social das concepções, conteúdos e métodos do trabalho educativo. Superar o empirismo de nossa prática, ou seja, compreender de forma sistemática o princípio educativo/pedagógico, para a elaboração consciente de uma determinada fundamentação teórica, enquanto base e orientação para o pensar e o agir do educador que se pretende crítico, é extremamente fundamental. A pergunta agora seria por onde começar? Para responder estes questionamentos, recorremos a SAVIANI (2008, p.4) que diz: “Toda pesquisa, a investigação histórica não é desinteressada. Consequentemente o que provoca o impulso investigativo é a necessidade de responder a alguma questão que nos interpela na realidade presente. Obviamente isso não ter a ver com o “presentismo” nem mesmo com o “pragmatismo”. Trata-se, antes, da própria consciência da historicidade humana, isto é, a percepção de que o presente se enraíza no passado e se projeta no futuro. Portanto, eu não posso compreender radicalmente o presente se não compreender as sua raízes, o que explica o estudo de sua gênese”. Assim como Saviani acredito que para uma melhor compreensão da realidade, temos que sair do imediatismo. O método, será o de caráter historiográfico, partindo da “tipologia das concepções pedagógicas”, correspondendo a uma classificação e periodização das mesmas. Buscaremos responder questões como: Qual concepção de educação enquanto atividade mediadora no seio da prática social como um todo, contribui para o movimento maior de transformação das relações sociais de dominação deve fundamentar nossa prática? Quais os motivos e necessidade de reformular as propostas de educação, ou seja, quais foram as principais críticas na época. Qual a necessidade de voltarmos para o Currículo Básico, depois dos PCNs? , Qual plano de estratégias pedagógicas melhor corresponde ao movimento para se conquistar a emancipação: “transmitir conteúdos comuns a todos” ou “enfatizar o universo cultural do aluno? Em suma: Como deve ser a produção e distribuição do conhecimento”, quais estratégias de ensino, técnicas e métodos correspondem melhor a formação do homem crítico? Os indicativos, portanto, apresentam como pressuposto qualitativos iniciar o processo com a síntese das principais tendências da educação até chegarmos as Diretrizes Curriculares Estaduais, que foram construídas com a participação dos profissionais da educação nas discussões a partir de 2004, e que fundamenta-se com base na “Pedagogia histórico-crítica”, pedagogia esta que nos esforçaremos em compreende-la de forma mais atenta, e ao mesmo tempo com o olhar sobre a prática a qual estamos inseridos que se realizará através de entrevistas, discussões e debates com os professores, sobre a necessidade de um embasamento teórico que fundamente a prática do educador que se quer crítico. Em suma a temática de nossa proposta pedagógica surgiu da necessidade de compreender o processo educativo de formaampla em suas múltiplas determinações. Porque acreditamos que a consciência da historicidade da educação é o que nos permitirá agir e modificar a nossa prática pedagógica de forma crítica e transformadora. Trata-se de um texto introdutório, que não tem a pretensão de esgotar ou sistematizar exaustivamente esses tópicos, mas sim de propor uma reflexão sobre a situação que temos, favorecendo uma discussão sobre a concepção de educação que mais corresponde à educação de qualidade para todos. O espaço eleito para este estudo foi o Colégio Estadual Padre Jerônimo Onuma – Ensino Médio, localizado no Município de São Sebastião da Amoreira. Núcleo Regional da Educação de Cornélio Procópio. Os professores selecionados são os do Curso Profissionalizante – Formação de Docentes para o 1º segmento do Ensino Fundamental. Escolhemos como título de nosso projeto: “A Pedagogia Histórico- crítica na prática do professor: desafios e possibilidades” e como problematização: “De que forma desenvolver uma prática na escola em que se trabalhe os saberes, por meio do processo ensino e aprendizagem, que promova quem aprende e quem ensine”? UNIDADE I Como a educação escolar foi e vem sendo pensada e organizada? Por traz de toda pedagogia existe uma filosofia norteando o trabalho escolar. O importante é saber dos reflexos das teorias na educação. Desde a chegada dos Padres Jesuítas no Brasil (1549) até hoje (2008), a educação escolar foi pensada, teorizada, organizada de formas divergentes, de acordo com o contexto histórico, social, econômico, político de cada época. Para compreender melhor vamos agrupar estas teorias, de acordo com a forma que concebiam a escola. Segundo Saviani (2007), as teorias educacionais podem ser divididas em dois grupos. A pergunta aqui seria: porque agrupar algumas teorias da educação num mesmo grupo? A resposta a essa questão seria,( p.3 e 15) porque para as pedagogias: “tradicional, nova e tecnicista” a educação é um instrumento de equalização social, portanto de superação das mazelas sociais. A Marginalidade é vista como um problema social e a educação, que dispõe de autonomia em relação à sociedade, estaria, por esta razão capacitada a intervir eficazmente na sociedade, corrigindo as injustiças, transformando-a, em suma, promovendo a equalização social. Exatamente, pelo motivo acima são consideradas “não-críticas”, consideram, pois, apenas a ação da educação sobre a sociedade, porque desconhecem as determinações sociais do fenômeno educativo. E concebem a sociedade como essencialmente harmoniosa, tendendo a organização de seus membros. A marginalidade é pois, um fenômeno acidental que afeta individualmente a um número maior ou menor de seus membros o que, no entanto, constitui um desvio, uma distorção que não só pode como deve ser corrigido. A educação emerge aí, como um instrumento de correção dessas distorções. Constitui, pois uma força homogeneizadora que tem por função reforçar os laços sociais, promover a coesão e garantir a integração de todos os indivíduos no corpo social. Como se vê, no que diz respeito as relações entre educação e sociedade, concebe a educação com uma ampla margem de autonomia em face a sociedade, garantindo a construção de uma sociedade igualitária.Saviani (1985, p 8) Porém é necessário ficar claro aqui que apesar de estarem num mesmo grupo, estas teorias da educação (Tradicional, Nova e Tecnicista) tem propostas, métodos, formas de ensinar e avaliar, diferentes, e no decorrer deste caderno vamos apresentar de forma sucinta a proposta de ensino de cada uma delas. Em relação ao poder da escola dado pelas concepções de educação de cunho liberal, não-críticas (tradicional, nova, tecnicista) em (1971 e 1975) os franceses: Passeron, Althusser, Establet e Baudelot, afirmam justamente o contrário, acusam a escola de, além de não promover a equalização social, reproduzir as desigualdades sociais, vejam algumas situações do cotidiano escolar que vivenciamos e que muitas vezes confirmam as afirmações destes estudiosos. Para exemplificar, vamos ao questionamento: qual classe social possui mais benefícios e oportunidades de emprego, tratamento diferenciado e muitas vezes privilégios em serviços públicos, serviços particulares, no comércio, ou seja, que está no comando da sociedade? A resposta nos vem rápido: quem tem mais capital “dinheiro”. Agora o contrário: quais grupos sociais são discriminados na sociedade, tem menos privilégios, menos oportunidades? A resposta seria: indígenas, negros, mulheres e aqueles que de alguma forma se diferencia do grupo. E a escola, como age, nesta situação? Segundo os franceses, reforçando as diferenças sociais. Como? Vamos a alguns exemplos: quando a professora de alfabetização, prepara suas aulas “padrão”, sem se preocupar com aqueles alunos das classes minoritárias da sociedade, que muitas vezes chegam à primeira série, com sua cultura de vida, seus hábitos, costumes, valores, conhecimentos populares, porém, muitas vezes sem as estruturas cognitivas, para o conhecimento sistematizado elaboradas, por vários motivos: pais analfabetos, famílias desestruturadas, entre outros. E essas crianças chegam à escola com, baixo vocabulário, sem coordenação motora, hábitos e costumes muito diferentes da cultura hegemônica. E os professores iniciam o ensino direto da escrita e da leitura ignorando que o conhecimento acontece por etapas, e estas etapas são dependentes, e o aluno só reproduz aquilo que está na sua mente, ou seja, só representa o que passou antes pela percepção, pois, a representação é elemento intermediário entre a percepção sensível e o conhecimento abstrato. E o professor, além de não trabalhar com estes alunos, aprimorando seus modos, não valoriza o que ele traz de bom, sua cultura, é desprezada pelo professor, que só valoriza o saber letrado, valorizando a todo momento, muitas vezes sem perceber, o aluno que chega na escola com as estruturas cognitivas para a alfabetização prontas, e até mesmo, já alfabetizados. Veja, o exemplo do primeiro grupo de alunos são frutos das classes sociais mais carentes, transformar a sociedade através da educação, significaria, se engajar na luta árdua de educar estes alunos, e prepara-los para se tornarem sujeitos capazes de atuarem de forma crítica na sociedade. No entanto, segundo as pesquisas realizadas, são os alunos vindo das classes minoritárias que fracassam na escola, ou seja, os mesmos que fracassam na sociedade. É devido esta constatação que os franceses afirmam em suas teorias que a escola não transforma, ela reproduz as desigualdades sociais. Na última etapa da educação básica, a reprodução da desigualdade social, se efetiva quando os alunos que lá ingressam e que por algum motivo esteja com a aprendizagem defasada, seja por trabalho, mudança, saúde, e a escola não oferece um plano de recuperação e reforço escolar que venha de alguma forma proporcionar a chance de que permaneça na instituição com construção de uma aprendizagem que seja capaz de torna-lo um cidadão crítico e atuante na sociedade. Outro exemplo de nossa realidade, vem da seguinte situação: alguns alunos matriculam-se no início do ano letivo, mais na época de safras (laranja, café) no Paraná, São Paulo, vão para as colheitas, retornando dois a três meses depois. A grande maioria desses alunos não levam transferência, pois sabem que não encontraram escolas para prosseguir os estudos. Os que retornam para a escola, estão defasados e desestimulados, muitos perdem o interesse e evadem.Os que permanecem, muitas vezes reprovam no final do ano, os que são aprovados, apropriaram de um mínimo de conhecimento. Nos educadores muitas vezes não nos damos conta que, transformar a sociedade através da educação é não desistir destes alunos, é não medir esforços para que tenham as mesmas chances que os da classe privilegiada. Vejam que, quando a escola valoriza só a cultura padrão, e não provê a estrutura cognitiva necessária para o conhecimento, quando deixamos de assumir uma responsabilidade coletiva pelos alunos, reproduzimos as injustiças sociais. A teoria elaborada pelos franceses denominada “crítico- reprodutivistas”, mexeu com o cenário da educação. Porém, estas teorias da educação são consideradas pessimistas, pois apenas fazem a crítica e não apresentam propostas de superação da marginalidade social. E como a concepção tradicional da educação acredita que se dá o conhecimento? Segundo Saviani (2008, p. 58), a concepção de educação tradicional caracteriza-se por uma visão essencialista de homem, isto é, o homem é concebido como constituído por uma essência universal e imutável. À educação cumpre moldar a existência particular e real de cada educando à essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Analisando a forma como esta concepção concebe o ser humano, como construído por uma essência imutável, e a educação cumpri apenas moldar essa essência, isso diminui o papel da educação e do educador, e a importância do currículo, pois a questão de aprender ou não já está determinada geneticamente. Digamos que esta é uma das divergências com a pedagogia crítica, que acredita que o bom professor e o bom ensino superam tanto a questão da essência como a questão da existência enfatizada pela Escola Nova. Ainda quanto a concepção de educação, segundo Marta Darsie (1999), a tendência tradicional da educação, é subsidiada pela concepção, Inatista ou Racionalista, defende que o ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética, em que as variáveis biológicas e à situação imediata é que explicam a conduta do sujeito. Esta teoria aborda o conceito de estruturas mentais, enquanto totalidade organizadas, numa extrema oposição ao behaviorismo, no qual o professor, renuncia àquilo que seria a característica fundamental da ação docente: a intervenção no processo de aprendizagem do aluno, concebendo o ser humano como dotado de um “saber de nascença”, no nascimento já esta determinado quem será ou não inteligente (BECKER, 1993). Esta concepção acredita que uns nasçam para aprender, e aprendem facilmente; outros não nasçam para o estudo e, se fracassam, o fracasso é só deles (DARSIE, 1999). O fracasso é visto como mais comum entre as camadas sociais desfavorecidas, porque lhes falta bagagem genética adequada e as interações socioculturais são excluídas na formação das estruturas comportamentais e cognitivas da pessoa. Nessa perspectiva, o entendimento é o de que a educação pouco ou quase nada altera as determinações inatas, subestimando a capacidade intelectual do indivíduo, na medida em que seu sucesso ou fracasso depende quase exclusivamente de seu talento, aptidão, dom ou maturidade. Portanto não atribuem valor a educação e ao papel interveniente e mediador do professor. Consequentemente, o desempenho dos alunos na escola deixa de ser responsabilidade do sistema educacional, limitando o papel da educação em detrimento ao desenvolvimento individual (REGO,2002). Vejam que a explicação da concepção tradicional da educação, sobre a construção do conhecimento é que o mesmo é pré-formado, ou seja, já nascemos com as estruturas do conhecimento e elas se atualizam à medida que nos desenvolvemos. Infelizmente já vivenciamos situações na escola que demonstram que muitos professores acreditam que quando o aluno não aprende é porque pertence a uma família muito pobre, os pais são analfabetos, não tem alimento suficiente ou adequado, e isso tudo diminuiu a possibilidade do mesmo aprender. Muitas vezes afirmamos tanto certas coisas na escola que acreditamos sem questionar, e quando o que pensamos é adoçado pelos nossos pares, fica mais inquestionável ainda nossas falsas convicções. Hoje já esta comprovado que aprender é uma condição humana, todos nós aprendemos, claro que exceto os que apresentam algum distúrbio mental, porém estamos aqui tratando dos ditos “normais”, até porque nem professores, nem pedagogos não estão preparados para apontar estes alunos, isso cabe a outras áreas do conhecimento. Quanto ao currículo sua organização era fundamentada num primeiro momento na vertente religiosa (catolicismo), depois passa a ser questionada e a orientação passa para uma fundamentação de currículo desvinculado dos valores religiosos para um ensino laico, que é secular em oposição a eclesiástico, vinculado agora as descobertas da ciência, ao mundo das idéias científicas. Na tendência tradicional a escola é regida, pois, no grande instrumento para converter os súditos em cidadãos, “redimindo os homens de seu duplo pecado histórico: a ignorância, miséria moral, e a opressão, miséria política” (Zanotti, 1972,pp. 22-23). O papel da escola é o de difundir a instrução, transmitir conhecimentos enciclopédicos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente, centrada no professor, o qual transmite, direciona, segundo uma graduação lógica, o acervo cultural aos alunos. A este cabe assimilar pacificamente os conhecimentos que lhes são transmitidos, para assumir seu lugar na sociedade. A avaliação tem ênfase na memorização, através de interrogatórios e provas, o aluno deve reproduzir na integra o que foi ensinado. O método Hebartiano ou científico: expositivo, organizado em cinco passos: preparação (velhas idéias relacionadas com as novas) apresentação (o novo conhecimento é colocado diante do aluno e a este cabe assimilar) assimilação ( identificar por comparação, o diferente entre os elementos já conhecidos) generalização ( o que é geral separa-se de aspectos particulares concretos: os aspectos gerais são unidos às idéias anteriormente adquiridas e ocorre a sistematização da aprendizagem) e aplicação (o aluno vai demonstrar se aprendeu ou não o conhecimento, coincide com as “lições de casa”.) exigem raciocínio indutivo (observação dos fatos), antimetafísico (contra o abstrato), é dado estímulo ao individualismo e a competição. (Saviani, 1997, p.8-10) O currículo valorizado na pedagogia tradicional era o difundido pela cultura clássica. Os princípios pedagógicos a partir dos quais esses conteúdos deveriam ser trabalhados pelo professor junto aos alunos integram a concepção que a Escola Nova, considera como pedagogia tradicional. Saviani recorre a Reis Filhos, (1995, p. 68) descreve da forma seguinte o método tradicional de ensinar: a) simplicidade, análise e progressividade – O ensino deve começar pelos elementos mais simples. O esforço pedagógico exige análise de matéria ensinada, de modo a decompô-la num certo número de elementos que serão individualmente fáceis de assimilar. O espírito do aluno, progressivamente, vai-se enriquecendo à medida que adquire os novos conhecimentos gradualmente dispostos. b) Formalismo – O ensino chega ao encadeamento de aspectos rigorosamente lógicos. O ensino esforça-se por ser dedutivo. c) Memorização – A decomposição do conteúdo do ensino em elementos facilita a memorização. A medida do conhecimento do aluno é dada pela sua capacidade de repetir o que foi ensinado pelo professor. d) Autoridade– A escola elabora um sistema de prêmios e castigos, de sanções apropriadas visando a garantir que a organização pedagógica se funde sempre na autoridade do professor. e) Emulação – A idéia de dever, a necessidade de aprovação e o sentimento do mérito são desenvolvidos para manter a atividade escolar, e completam, desse modo, o princípio de autoridade. f) Intuição – O ensino deve partir de uma percepção sensível. O princípio da intuição exige o oferecimento de dados sensíveis à observação e à percepção do aluno. Desenvolvem-se, então, todos os processos de ilustração com objetos, animais ou suas figuras. ( Saviani. 2008, p.172- 173) A crítica ao método da pedagogia tradicional é maior na questão da desvinculação com a prática social do aluno, por isso, muitas vezes é colocada como domesticadora, bancária, porque o conhecimento ia sendo despejado, de forma verbal pelo professor aos alunos sem questionamento, sem problematização, desligados dás múltiplas dimensões do conhecimento: social, histórica, política, filosófica, econômica, etc. PARA REFLETIR E RESPONDER APÓS LEITURA DO TEXTO: 1) Quanto a questão do poder da escola em corrigir as mazelas sociais, ou o de reproduzir as desigualdades sociais. Você concorda com qual posicionamento, o das teorias liberais (tradicional, nova e tecnicista) ou o defendido pelas teorias crítico-reprodutivista? Argumente sua resposta: 2) Qual a sua opinião em relação a forma que a pedagogia tradicional concebe a educação (inatista, racionalista)? Justifique sua resposta? UNIDADE II A Pedagogia da Escola Nova, algumas considerações em relação a pedagogia Tradicional e pedagogia Histórico-crítica. Esta forma de se conceber a educação (tradicional), passa a ser criticada e a partir de 1930 se estabelece um novo método de ensinar pelos pioneiros da educação Nova. Segundo a teoria da escola nova, Saviani (2007), a marginalidade deixa de ser vista predominantemente sob o ângulo da ignorância, mais do rejeitado. A partir das experiências levadas a efeito com crianças “anormais” é que se pretendeu generalizar procedimentos pedagógicos para o conjunto do sistema escolar. Nota-se uma certa biopsicologisação da sociedade, da educação e da escola. Eis a “grande descoberta”: os homens são essencialmente diferentes. O método da Pedagogia Nova (PN) compreende cinco passos: Atividade, problema, levantamento de dados, hipóteses explicativas, experimentação. Digamos que essa é uma das divergências entre a (PT) e a (PN). Compreende-se então, que essa maneira de entender a educação, por referência a Pedagogia Tradicional, tenha deslocado o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não diretivismo; da quantidade para a qualidade; da ciência da lógica para uma pedagogia inspirada na biologia e psicologia. Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender. Vejam que a principal divergência é a questão do centro do processo educativo que passa do professor para o aluno, pois o mesmo intervém na escolha dos seus objetivos, ou seja, professor leva em consideração a necessidade do aluno. A Pedagogia tradicional assim como a Pedagogia Histórico-crítica, valoriza os conteúdos clássicos (conteúdos universais, como produção histórico-social), porém, a PHC propõe uma integração entre conteúdo e realidade concreta, entende que o papel primordial da escola, é o de difundir conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das realidades sociais. Os conteúdos clássicos, são os que vieram a se constituir em patrimônio comum da humanidade, sendo permanentemente reavaliados à luz das realidades sociais nas quais vivem os alunos, isso implica que o professor cabe, de um lado, garantir a ligação dos conhecimentos universais com a experiência concreta dos alunos (continuidade) e, de outro lado, ajuda-los a ultrapassar os limites de sua experiência cotidiana (ruptura).O que Libâneo (2007) e Saviani (2008) querem dizer quando fazem as colocações acima. Que o professor deve iniciar o trabalho escolar pela prática social do aluno, do que o aluno sabe, portanto não importa por exemplo que sou professora da 3ª série do ensino fundamental, e dois ou cinco dos alunos ainda não estão alfabetizados, partir da prática social destes alunos supõe que devo prover e prever a estrutura cognitiva necessária para que meu aluno se desenvolva, então terei que alfabetizar estes alunos, porque sem proporcionar esta estrutura cognitiva esses alunos irão engrossar a lista dos que evadem, reprovam no sistema de ensino. Assim sendo, os métodos não partem de um saber espontâneo, mas se empenharão em relacionar a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor. Vejam que tanto a (PT) como a (PHC) valorizam os “conteúdos” universais, científicos porem a grande diferença entre as pedagogias esta no tratamento e no método trabalhado com os conteúdos. Enquanto a (PT) trabalha os conteúdos separados da experiência dos alunos e da realidade social, repassados como verdades absolutas. A (PHC) chama a atenção para que se trabalhe os conteúdos de forma contextualizada, e reconhece que é impossível o trabalho enciclopédico dos mesmos como quer a (PT), afirma que devemos fazer os recortes do conhecimento, selecionando aqueles conteúdos considerados clássicos, que sua transmissão-assimilação seja através do método dialético que supõe totalidade, historicidade e contradição tornando- os vivos, concretos, indissociáveis da vida dos alunos. A (PT) valoriza a quantidade de conteúdos, que vão sendo depositados na cabeça do aluno de forma autoritária inibidora da participação do aluno, sem a preocupação de vincula-los com a vida deste. Como não tem a preocupação de partir do conhecimento trazido pelo aluno, ofertando o mesmo caminho para todos, privilegia, as camadas mais favorecidas. A (PHC) acredita que o currículo escolar deve ser organizado em cima de conteúdos comuns, diferentemente das concepções pós-modernista que enfatiza que o currículo deve ser organizado enfatizando o universo cultural do aluno. Como a (PHC) defende seu ponto de vista em relação ao currículo? O conhecimento das necessidades não passa necessariamente pelo interesse mediato dos estudantes e nem pela sua experiência vivida. Esta é uma forte razão para que se tente superar a visão imediatista quanto aos conteúdos pedagógicos. Muito mais do que limites para a liberdade, conteúdos fundamentais sempre são potenciadores da liberdade que é, acima de tudo, conhecimento de necessidade. Ao considerar a socialização do saber existente como um passo necessário para a democratização social, e a metodologia como algo estreitamente vinculado ao conteúdo do ensino, amplia-se o entendimento do significado de relações democráticas na situação do ensino. O trabalho pedagógico comprometido com o ponto de vista dos interesses dominados não pode firmar-se numa concepção espontaneísta. Isso significa tomar o senso comum existente como uma verdade revelada, e não levar em conta seu caráter de conhecimento desagregado, incoerente, contraditório e recheado de elementos produzidos através da sensação imediata das coisas.(Gramsci, 1978,p.142). Essa análise de Gramsci acerca da concepção escolanovista em relação aos conteúdos escolares e seu método de ensino, caberia também a concepção multicultural de educação que dá ênfase ao universo cultural do aluno, segundo os materialista histórico o currículo deve ser estruturado no conhecimento científico e transmitido de forma intencional de geração a geração. Saviani, insiste que o verdadeiro ponto de partida de uma Pedagogia histórico-crítica é a prática social e não a preparação dos alunos (PT) ou a atividade de acordo com o interesse do aluno (PN). A prática social, como ponto de partida metodológico, é realidade comum a alunos e professores; ademais, a prática social possibilita a identificação dos principais problemas comuns a um determinado contexto. Para o educador progressista a ação pedagógica começa no momento da problematização, quando se torna evidente a relação escola-sociedade com as questões da prática social (que precisam ser resolvidas) e os conhecimentos científicos e tecnológicos (que devem ser acionados). Para tanto haverá necessidade de apropriação dos instrumentos teóricos e práticos indispensáveis ao equacionamento e possível solução das questões postas pela prática social. A instrumentalização é, justamente, o momento em que o aluno incorpora as ferramentas culturais básicas necessárias para a leitura, compreensão e transformação da realidade existente. Sem a incorporação dos instrumentos culturais, historicamente construídos pela humanidade, seria impossível fazer avançar a prática social existente, ponto de chegada do processo educativo. Quando se realiza a efetiva incorporação dos instrumentos culturais, o aluno atinge uma visai sintética (e não sincrética) da realidade, sendo capaz de atuar no sentido da transformação da realidade econômica, social, política e cultural. Por tudo isso Saviani considera o momento catártico o ponto culminante do processo educativo, quando o aluno transita da síncrese (“visão caótica do todo”)à síntese (“uma rica totalidade de determinações numerosas”) pela mediação da ánalise (“as abstrações e determinações mais simples”). Essa visão dialética do processo educativo constitui, segundo Saviani, “uma orientação segura tanto para o processo de descoberta de novos conhecimentos (método científico) como para o processo de transmissão/assimilação de conhecimentos (os métodos de ensino)”; nesse nível de atuação ultrapassa-se a distinção entre métodos novos e tradicionais e se está além de Hebart, Bacon e Diwey.SAVIANI(1993,pp. 72-82). A diferença entre escola nova diretiva e não-diretiva Saviani (2008, p. 213), observa, em seguida, que essas duas modalidades de concepções têm origem a bases diferentes, podendo levar a posição divergentes, mas, de certo modo, completam-se, de qualquer modo, não se opõem por natureza. Mas voltam a marcar a distinção entre ambas: A educação ou escola nova, na sua primeira acepção (Bovet, ED. Claparede AD. Ferrière, e entre os americanos J. Dewey), orientam-se pelos seguintes princípios fundamentais: 1) maior liberdade para a criança, a que se pretende proporcionar condições mais favoráveis ao seu desenvolvimento natural, pela atividade livre e espontânea; 2) o princípio de atividade (métodos ativos, escola ativa), ligado ao da liberdade e inspirado no pensamento de que as crianças é “um ente essencialmente ativo, cujas as faculdades se desenvolvem pelo exercício”; e 3) o respeito da originalidade pessoal de cada criança e, em conseqüência, a “individualização” do ensino, sob o fundamento de que a cada um é devida a educação que lhe convém (a “escola sob medida” de que fala Claparède). Mas a infância não é apenas um “desenvolvimento”, como observa P. Fauconnet, é também uma “iniciação”. É necessário que a criança vá penetrando pouco a pouco em uma civilização que ela encontra já feita. “Esta penetração é laboriosa. De certo modo, toda a iniciação é uma violência feita à natureza da criança ou do adolescente”. A educação nova, na sua segunda acepção, é exatamente na iniciação e não no desenvolvimento que põe o acento, procurando não só compreender as necessidades do indivíduo através das comunidades senão também organizar a escola como uma comunidade de vida (a Gemeins Chaftschule, de Paulsen), e orientá-la segundo os princípios de solidariedade e de cooperação e com sacrifício parcial do indivíduo, para o bem coletivo. Os ideais individualistas, da escola liberta e ativa, que propõe a libertação da criança, pelo esforço conjugado do método científico e da compreensão intuitiva, tendem-se levados às últimas conseqüências, a chocar-se com os idéias sociais e, conforme os casos, socialistas, da escola do trabalho e da sociedade (Schulgemeinde), organizadas para desenvolver, na criança, suas tendências cooperadoras, e conduzi-la à cultura e aos deveres dos adultos {idem,pp.679-680}. Aí a escola do trabalho é a escola cujo professor estimula a atividade livre da criança que, motivada pelo seu próprio interesse, desenvolve seu trabalho com prazer. (Azevedo, 1958, p. 74). O documento do manifesto da educação entre outras acepções trata dos “fundamentos filosóficos e sociais da educação”, começando pelas “finalidades da educação”. Esclarece-se, aqui, que toda educação se guia sempre por uma “concepção de vida”, a qual, por sua vez, é determinada pela estrutura da sociedade. Assim o mestre orienta-se, sempre por um ideal ao qual se devem conformar os educandos. Se uns consideram este ideal abstrato e absoluto, outros os tomam como concreto e relativo. No entanto, a história nos ensina que “o conteúdo real desse ideal variou sempre de acordo com a estrutura e as tendências sociais da época, extraindo-se a sua vitalidade, como a sua força inspiradora da própria natureza da realidade social” (idem, p. 411). Com esse entendimento, o texto passa a considerar que a Educação Nova se constitui como “uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida” (idem, ibidem). Em lugar dessa concepção tradicional, que servia a interesses de classe, a nova concepção vem fundar-se no “caráter biológico” que permite a cada indivíduo se educar, conforme é de seu direito, “até onde o permitam as suas aptidões naturais, independente de razões de ordem econômica e social” (idem, ibidem). Assim procedendo, a educação Nova assume sua verdadeira feição social, formando “a hierarquia democrática” pela “hierarquia das capacidades”, construída a partir de todos os grupos sociais, cujos os membros seriam contemplados com as mesmas oportunidades educacionais. Se a escola tradicional mantinha o indivíduo na sua autonomia isolada e estéril, a nova educação, embora pragmaticamente voltada para os indivíduos e não para as classes, findando- se sobre o princípio da vinculação da escola com o meio social, forma para a cooperação e solidariedade entre os homens. O trabalho, a solidariedade social e a cooperação, em que repousa a ampla utilidade das experiências; a consciência social que nos leva a compreender as necessidades do individuo através das da comunidade, e o espírito de justiça, de renúncia e de disciplina, não são, aliás, grandes “valores permanentes” que elevam a alma, enobrecem o coração e fortificam a vontade, dando expressão e valor à vida humana? {idem, p. 412}. Conclui-se, portanto que a Educação Nova busca organizar a escola como um meio propriamente social para tirá-la das abstrações e impregná-lada vida em todas as suas manifestações. Dessa forma, propiciando a vivência das virtudes e verdades morais, estará contribuindo para harmonizar os interesses individuais com os coletivos. (Saviani, 2008, p.244) O programa de ensino, na escola tradicional era sistematizado, estruturado, ou seja, imexível, de caráter formal. Isso tirava qualquer autonomia do professor, pois tinha que cumprir a risca o programa. Na escola nova o programa é sistematizado em áreas funcionais, porém, o professor tem uma certa autonomia, por isso tem a situação do opcional, porque partem do interesse do aluno,ou seja, o aluno intervém no processo, fugindo de uma certa da formalidade rígida. Muito contrário na Escola Tradicional (ET) onde o interesse do aluno não era considerado. Outra divergência era na distinção entre atividades escolares e extra-escolares que na (ET) estas últimas, não eram uma continuidade da dinâmica da aula e não considerada como dia letivo. Já na Escola Nova (EN) as atividades extra-escolares animavam as escolares e eram valorizadas. Na (ET) o ensino se realizava mediante exercícios escolares especializados, não havia interesse pela interdisciplinaridade. Na (EN) o ensino se realizava mediante coordenação e generalização. O predomínio na (ET) é a competição, na (EN) o importante é a cooperação, ou seja, o importante é participar e cooperar. Segundo Manacorda, os dois aspectos que “disputam o grande e variado movimento da renovação pedagógica, na Europa e na América” (Manacorda, 1989,p.305), são a presença do trabalho no processo de instituição técnico- profissional e a descoberta da psicologia infantil. Em relação a concepção de educação, segundo Darsie, podemos aproximar as pedagogias escolanovistas e a Pedagogia histórico-crítica: Segundo Marta Darsie (1999) a pedagogia Histórico-crítica, bem como a pedagogia Nova são subsidiadas pela concepção epistemológica denominada de interacionista, construtivismo ou de dialética, define que o sujeito constrói o conhecimento na interação com o meio físico e social, e essa construção vai depender tanto das condições do indivíduo como das condições do meio (DARSIE, 1999), sendo uma síntese do empirismo (ambientalista) e do racionalismo (inatista). A idéia central desta concepção, é a de que o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos, nem de uma ampla programação inata, pró-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas, as quais são resultados da relação sujeito x objeto, formando um todo único (GIUSTA, 1985). Para Becker (1993), é possível aproximar autores como Piaget, Paulo Freire, Freud, Vygotsky, Wallon, Luria, Baktin e Freinet, porque todos eles têm um ponto comum: a ação do sujeito, tratada frequentemente como prática ou práxis, colocada no cerne do processo de aprendizagem. Isso quer dizer que a concepção de educação das tendências: histórico- crítica, nova, libertária, libertadora possui pontos em comum. Vejam que para a (PT) a questão do aprender ou não está determinado pela genética do aluno, partindo deste princípio o papel do professor como mediador da aprendizagem fica irrelevante. Nesta questão, a (PHC) diferencia-se da (PT) que enfatiza o inato e coloca o professor como centro do processo educativo e da (PN) que coloca o professor como mero facilitador, a (PHC) valoriza o papel do professor como mediador da construção do conhecimento pelo aluno. Neste ponto, segundo SAVIANI (1985), afirma que a (PHC) supera a (PT) e a (PN) pois, não nega nem a essência e nem a existência, ou seja, reconhece que a questão genética do ser, assim como sua relação com o meio, são determinantes e influenciam no processo educativo, porém acrescenta que um bom professor e um bom ensino podem superar o aspecto biopsicológico da aprendizagem. VALE (s/d, p. 217) diz que Saviani*, chama a atenção na questão que ao valorizar os componentes biológicos no processo de desenvolvimento minimiza, o papel da escola e da aprendizagem, mesmo quando Piaget (construtivismo) abre espaço para o social, fica a impressão de que a sua teoria do desenvolvimento mental coloca acento nas condições internas do sujeito cogniscente. Nesse contexto biopsicológico cabe à aprendizagem um papel secundário destinado a seguir os rumos ditados pelo desenvolvimento; ademais o construtivismo (centrado numa visão positivista de ciência) tem uma concepção de natureza humana que, no limite, não incorpora a historicidade na cultura humana, desconhecendo que o ser humano é, em suma “síntese de múltiplas determinações”, produto, enfim, de relações sociais. Em contrapartida, a Pedagogia histórico-crítica é muito mais condizente com a teoria de aprendizagem e desenvolvimento elaborado por Vygotsky que lembra que a aprendizagem tem um papel relevante no desenvolvimento (e aqui ele vai além de Piaget), Vygotsky afirma que “o processo de desenvolvimento não coincide com o da aprendizagem, que cria a área de desenvolvimento potencial”. (1991,p.17) Em suma, para Vygotsky, o bom ensino é aquele que intencionalmente se adianta ao desenvolvimento. (1991, p.14) Neste ponto Saviani deixa claro que a (PHC) se norteia pela concepção de Vygotsky e aqui está uma das grandes diferenças entre a (PHC) e a (PN), que defende a espontaneidade do aluno, através da atividade, colocando sempre o aspecto biopsicológico do ser humano. A pedagogia nova segundo Saviani (2007), revelou-se ineficaz em face a questão da marginalidade. Como a escola nova não se generalizou, atendia apenas uma parte das classes sociais, surgiam tentativas de desenvolver uma espécie de “Escola Nova Popular” EX: Libertária de Frenet e Libertadora de Paulo Freire. As bases psicobiológicas da educação,, considerando o conceito e os fundamentos da Educação Nova que reconfiguram o processo educativo. Com base no desenvolvimento científico que veio libertar a educação do empirismo, a nova doutrina já não concebe o educando como sendo modelado do exterior, como o fazia a escola tradicional. Entende ao contrário, que a educação é uma atividade complexa que se dá de “dentro para fora”, transferindo “para a criança e para o respeito de sua personalidade o eixo da escola e o centro da gravidade do problema da educação” (idem, p.416). Contra as tendências à passividade, ao intelectualismo e verbalismo da escola tradicional, a nova concepção estimula a atividade espontânea, tendo em vista a satisfação das necessidades de cada criança individualmente considerada, buscando adaptar a ação educativa “às necessidades psicobiológicas do momento” (idem, ibidem). Não é pois, pela predominância dos trabalhos manuais que a escola Nova se distingue da tradicional. Sua marca distintiva é a “presença, em todas as suas atividades, do fator psicobiológico do interesse, que é a primeira condição de uma atividade espontânea e o estímulo constante ao educando (criança, adolescente ou jovem) a buscar todos os recursos ao seu alcance” (idem, ibidem). Para cumprir essas novas funções, a escola deverá ser transformada em sua forma de organização. Deverá deixar de ser um aparelho formal, desligado do meio social, e transformar-se num organismo vivo, constituindo-se como uma comunidade em miniatura, de modo que coloque as crianças em contato direto com o ambiente que as rodeia. Reorganizando com base no trabalho, essa nova escola procurará, por meio do trabalho em grupos, estimular o próprio esforço doaluno “para faze-lo penetrar na corrente do progresso material e espiritual da sociedade de que proveio e em que vai viver e lutar” (idem, p.417). Para os representantes da Escola Nova, entendem que “toda aprendizagem é auto-atividade e que didática é, simplesmente, a arte de dirigir a aprendizagem e conseguir o esforço voluntário” (Lima, 1976, p. 9). Uma didática que é ativa por ser marcadamente operatória.(SAVIANI, 2008, p. 314) Vejam que na pedagogia tradicional o professor não podia relacionar-se com os alunos, mas cabia-lhe transmitir o conhecimento de forma verbalista e fazer o aluno aprender. Nas concepções escolanovistas a grosso modo a educação foi mais considerada como processo do que conteúdo. Considerar como processo custa dinheiro e o governo não conseguiu arcar com isso, e este modelo não conseguiu se generalizar. As tendências escolanovistas como podemos concluir apresenta uma pedagogia voltada para o socialismo, para a integração, tem como princípio: autonomia, responsabilidade, iniciativa e atividade. E como conteúdos: o trabalho em grupo e exercícios estimuladores da criatividade. Tem como atividades, cooperação entre os professores e alunos, participação dos alunos. PARA REFLETIR E RESPONDER APÓS LEITURA DO TEXTO: 1) Uma das grandes descobertas a partir da teoria da Escola Nova é que “os homens são essencialmente diferentes”, então funda-se no caráter biológico, que permite a cada indivíduo se educar, até onde o permitam as suas aptidões naturais, independente das razões de ordem econômica e social. Diante do exposto, de que forma planejar as aulas respeitando as diferenças em suas múltiplas determinações para promover a todos dentro de suas potencialidades? UNIDADE III As teorias críticas, alguns pontos comparativos 2° grupo: encontram-se as teorias denominada: “progressistas” e consideradas “críticas”: Críticas} a) Libertadora b) Libertária c )Histórico-crítica d) pós-modernista e Crítico-reprodutivistas} a) Teoria do sistema de ensino como violência simbólica b) Teoria da escola como aparelho ideológico do Estado c) teoria da escola dualista As pedagogias (libertária, libertadora e histórico-crítica) diferentemente do primeiro grupo que acreditam na autonomia da escola para diminuir as desigualdades sociais, acreditam que a educação pode ser um fator de transformação, juntamente com as demais instituições sociais, mas não de forma direta e imediata. Ela transforma de forma mediatizada. Isto é, o processo de transformação que se dá pela educação refere-se não ao processo de transformação ao nível das condições materiais da estrutura social em que vivemos, mas ao nível de transformação das consciências. Saviani pressupõe a educação comprometida com a elevação da consciência das massas ( Oliveira, 1974, p. 118 - 119). Ao contrário do grupo das tendências liberais não-críticas que consideram apenas a ação da educação sobre a sociedade, as teorias de cunho progressistas reconhecem as determinações sociais do fenômeno educativo, ou seja, sabe que a escola, os educadores recebem influência da sociedade, e por isso, não possuem ampla margem de autonomia em face a sociedade, por isso não são ingênuas e sabem que precisam do apoio das demais instituições sociais e através do esforço coletivo de todas as esferas sociais, professores altamente preparados e bem remunerados, escolas bem equipadas, chegarmos a emancipação do homem através da escola Já para o grupo das teorias denominadas como crítico-reprodutivistas, entendem ser a educação um instrumento de discriminação social, um fator de marginalização e não vê saída, sendo pessimistas em relação a escola. No final da década de 1950 e início dos anos de 1960, intensifica-se o processo de mobilização popular, agitando-se, em conseqüência, a questão da cultura e educação popular (FAVERO, 1983). Em termos de educação popular, os movimentos mais significativos são os movimentos da Educação de Base (MEB) e o Movimento Paulo Freire de Educação de Adultos, cujo ideário da pedagógico mantém muitos pontos em comum com o ideário da pedagogia nova. Se o movimento escolanovista se inspira fortemente no pragmatismo, o MEB e o movimento Paulo Freire buscam inspiração predominantemente no personalismo cristão e na fenomenologia existencial. Entretanto, pragmatismo e personalismo, assim como existencialismo e fenomenologia, são diferentes correntes filosóficas que expressam diferentes manifestações da concepção humanista moderna, situando-se, pois, em seu interior. É lícito portanto, afirmar que sob a égide da concepção humanista moderna de filosofia da educação acabou por surgir também uma espécie de “Escola Nova Popular”, como um outro aspecto do processo mais amplo de renovação da pedagogia católica que manteve afinidades com a corrente denominada “teologia da libertação”. Os ideais libertários difundiram-se no Brasil na forma de correntes anarquistas e anarcossindicalistas. A educação ocupava posição central no ideário libertário e expressava-se num duplo e concomitante movimento: a crítica à educação burguesa e a formulação da própria concepção pedagógica que se materializava na criação de escolas como instrumento de sujeição dos trabalhadores por parte do Estado, da igreja e dos partidos. Uma das divergências entre as pedagogias Libertadora e Libertária com a (PHC), segundo Saviani (2008, p.317), é que as pedagogias Libertária (LT) e Libertadora (LD), encontravam-se associadas à instrução elementar que se buscava generalizar para toda a população de cada país, mediante a implantação de escolar primárias. Coincidia portanto, com o conceito de instrução pública. Esse era o caminho para erradicar o analfabetismo. Foi com esse entendimento que se desencadeou a mobilização pela implantação e expansão das escolar primárias, assim como a campanha de alfabetização de adultos. A mobilização que torna vulto na primeira metade dos anos de 1960 assume outra significação. Em seu centro emerge a preocupação com a participação política das massas a partir da tomada de consciência da realidade brasileira. E a educação passa a ser vista como instrumento de conscientização. A expressão “educação popular” assume, então, o sentido de uma educação do povo, pelo povo, para o povo, visando a controlá-lo, manipulá-lo, ajustá-lo à ordem existente. (SAVIANI, 2008 , p. 317) Pretende-se desenvolver uma educação genuinamente brasileira visando a conscientização das massas por meio da alfabetização centrada na própria cultura do povo. É neste ponto diverge da (PHC) que valoriza os conteúdos clássicos universais e não em conteúdos relativistas multiculturais. A prática que se buscou implementar visava aproximar a intelectualidade da população, travando um diálogo em que a disposição do intelectual era a de aprender com o povo, despindo-se de todo espírito assistencialista (GERMANO, 1989). Freire descreve o método de alfabetização evidenciando sua matriz pedagógica, suas fases e execução prática. A matriz pedagógica traduziu-se como um “método ativo”, dialogal, crítico e criticizador”, que propiciasse a “modificação do conteúdo pragmático da educação” com base “no uso de técnicas como a da Redução e da Codificação” (idem, p. 107). A elaboração e execução do método comportavam cinco fases: 1. Levantamento do universovocabular dos grupos com quem se trabalhará; 2. escolha das palavras, selecionadas do universo vocabular pesquisado; 3. criação de situação existenciais típicas do grupo com quem vai se trabalhar; 4. Elaboração de fichas roteiro, que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho; 5. Feitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas correspondentes aos vocábulos geradores (pp.112-115). Para a execução do método, Paulo Freire idealizou os círculos de cultura, em lugar de escola, nos quais, em lugar de professores, atuariam os coordenadores de debates que, em lugar de aula discursiva, exercitariam o diálogo com os participantes do grupo, substitutos dos alunos, com sua tradição de passividade; em lugar dos pontos e programas alienados que os professores normalmente trabalhavam com seus alunos, os coordenadores de grupo trabalhariam com os participantes do grupo uma “programação compacta, reduzida e codificada em unidade de aprendizado” (p.103, nota 2). O trabalho pedagógico nos círculos de cultura iniciava-se pela projeção, com o uso de slides ou cartazes, da situação contendo a primeira palavra geradora, Após amplo debate sobre as várias implicações da situação analisada, chegava-se, mediante o processo de decodificação propiciada pela análise, à visualização da palavra geradora. Esta, projetada em novos slides ou cartazes, aparecia, primeiro, isolada do objeto, mas por inteiro; depois separada em sílabas e, daí, mostrava-se as famílias fonêmicas, cuja ficha foi designada de “ficha da descoberta”. Para ilustrar o procedimento, o autor lança mão da palavra “tijolo”. No primeiro passo, essa palavra é apresentada numa situação do trabalho em construção. Discutida essa situação, visualiza- se a palavra, que depois é apresentada sem o objeto: Tijolo. Numa nova projeção, ela aparece desmembrada em suas sílabas ti-jo-lo. Daí se chega às famílias fonêmicas: ta-te-ti-to-tu; la-le-li-lo-lu. Finalmente, chega-se à projeção da “ficha da descoberta” contendo as três famílias fonêmicas em conjunto. Pelos pontos arrolados fica claro que o horizonte da concepção pedagógica freireana era a sociedade industrial impulsionada economicamente pelo capitalismo de mercado, sob a forma política da democracia liberal em consonância com a visão nacional-desenvolvimentista. Conforme Vanilda Paiva, trata-se de uma “síntese pedagógica existencial- culturalista” que articula as idéias filosóficas do personalismo cristão com as análises sociopolíticas do isebianismo (PAIVA, 1980,pp.28-118). Em síntese e à guisa de uma apreciação geral, cabe considerar que a fama de Paulo Freire se encontra fortemente associada ao método de alfabetização de adultos por ele criado. Entretanto já em seu primeiros escritos se encontra uma clara concepção de homem, sociedade e educação que está na base do método e sem a qual este não pode ser adequadamente compreendida. A referida concepção expressa-se na “teoria do trânsito”, exposta no primeiro capítulo do livro Educação com prática de liberdade. Seu ponto de partida é o entendimento do homem como um ser de relações que se afirma como sujeito de sua existência construída historicamente em comunhão com os outros homens, o que o define como um ser dialogal e crítico. Mas essa “vocação ontológica de ser sujeito” esbarra numa realidade social que a contradiz, já que as forças dominantes interessa manter a maioria dos homens em situação de alienação e dominação (SAVIANI, 2008, p.335). À luz dessa concepção, Freire interpretava a sociedade brasileira dos anos de 1960 como em processo de trânsito de uma sociedade fechada para uma sociedade aberta. E no interior desse processo ele situava o dilema da educação: estar a serviço da alienação e da domesticação ou da conscientização e da libertação. Para Paulo Freire a educação surgia como um instrumento de crucial importância para promover a passagem da consciência popular do nível transitivo-ingênuo para o nível transitivo-crítico, evitando-se a sua queda na consciência fanática. É em vista desse objetivo que foi criado um método de alfabetização ativo, dialogal, crítico e “criticizador”. Esse método, no entanto, é apenas um aspecto de uma proposta pedagógica mais ampla enraizada na tradição mais autêntica do existencialismo cristão, em diálogo com algumas contribuições do marxismo (SAVIANI, 2008, p. 335). Com efeito, mais do que classificá-lo como escolanovista, destaca-se aí o seu empenho em colocar os avanços pedagógicos preconizados pelos movimentos progressistas a serviço da educação dos trabalhadores e não apenas de reduzidos grupos de elite. (SAVIANI, 2008, p. 335). Saviani (2008, p. 389) em relação as concepções de educação diz que, considerando que, com predominância da escola tradicional, a vara foi entortada para o lado das matérias, a escola Nova, exercitando a “teoria da curvatura da vara”, buscou curvar a vara para o lado da criança Portanto, na década de 1960 assistimos no Brasil ao auge do declínio da pedagogia nova (SAVIANI, 2008, p.340) Em nosso entendimento, um dos pontos positivos na concepção da educação nova é a valorização com o aspecto sociológico do homem, sua integração com o meio, colocando o ser humano a frente dos problemas sociais. Isso nos leva a refletir que a escola, além do aspecto educacional, inerente sua principal função deve enfatizar o aspecto social do homem. PARA REFLETIR E RESPONDER APÓS LEITURA DO TEXTO: 1) O que diferencia o grupo das tendências liberais com o grupo das tendências progressistas? 2) Com qual grupo você concorda e por quê? UNIDADE IV O Retrocesso para uma pedagogia não-crítica da educação A concepção pedagógica tecnicista se deu com o golpe militar em 31 de março, consumado em 1º de abriu com o propósito de ajustar a ideologia política ao modelo econômico. Segundo Marta Darsie (1999), a pedagogia tecnicista é subsidiada pela concepção Ambientalista ou Empirista que postula que todo conhecimento provém da experiência e considera o sujeito como uma “tabula rasa”. O conhecimento é formado a partir do registro dos fatos e se reduz a uma simples cópia da realidade. Nessa concepção, as características individuais são determinadas por fatores externos ao indivíduo em que o desenvolvimento e a aprendizagem se confundem e ocorrem simultaneamente. Essa maneira de conceber o conhecimento influenciou amplamente teorias psicológicas e pedagógicas que se traduzem em concepções de ensino e aprendizagem também empiristas. De acordo com as idéias de Becker (1993), a prática pedagógica fundamentada na concepção ambientalista ou empirista, mostra um professor que fala e o aluno que escuta; o professor dita e o aluno copia; o professor decide o que fazer e o aluno executa; o professor ensina e o aluno aprende. Este professor acredita no mito da transmissão do conhecimento. O método científico da PT é embasado nos princípios da tecnologia educacional: objetivos instrucionais, operacionalizados em comportamento observável e mensurável, procedimentos instrucionais; ênfase nos meios, na instrução programada, nas técnicas de microensino, nos recursos audivisuais. Enquanto na pedagogia nova os meios são dispostos em função da relação professor – aluno, na pedagogia tecnicista a situação inverte-se. Na pedagogia tecnicista dir-se-ia que é o processo que define o que professores e alunos devem fazer e, assim também, quando e como farão. (Saviani, 2007, p.13) Neste período difundiram-se, idéias relacionadas à organizaçãoracional do trabalho (taylorismo, fordismo), ao enfoque sistêmico e ao controle de comportamento (behaviorismo) que indicam ações observáveis e não atos de consciência. No campo educacional, configuram uma orientação pedagógica que podemos sintetizar na expressão “pedagogia tecnicista”. (SAVIANI, 2008, p.371) A ênfase nesta tendência da educação é traduzida nos elementos dispostos pela teoria do capital humano; na educação como formação de recursos humanos para o desenvolvimento econômico dentro dos parâmetros da ordem capitalista; na função de sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho atribuída ao primeiro grau de ensino; no papel do ensino médio de formar, mediante habilitações profissionais, a mão-de-obra técnica requerida pelo mercado de trabalho; na diversificação do ensino superior, introduzindo- se os cursos de curta duração voltados para o atendimento das demandas de profissionais qualificados; no destaque conferido à utilização dos meios de comunicação de massa e novas tecnologias como recursos pedagógicos; na valorização do planejamento como caminho para racionalização dos investimentos e aumento de sua produtividade; na proposta de sua criação de um amplo programa de alfabetização centrado nas ações de comunidades locais. (SAVIANI, 2008, p. 345) Pedagogicamente, a perspectiva que orientava essa nova tendência educacional, definida como tecnicista, evidenciada na ênfase nos métodos e técnicas de ensino, na projeção de filmes didáticos confeccionados nos Estados unidos e na valorização dos recursos audiovisuais que as bolsistas deveriam aprender não apenas a utilizar, mas também a produzir.(p. 346) Ao assumir o enfoque sistêmico e adotar os princípios gerais da eficiência, racionalidade e produtividade com os corolários do “máximo resultado com o mínimo dispêndio” e “não duplicidade de meios para o mesmo fim”; e ao tomar esses mesmos princípios gerais como premissas para a organização curricular baseada nos princípios específicos de integração, flexibilidade, continuidade-terminalidade, racionalização-concentração, estava-se claramente no âmbito da pedagogia tecnicista. O depoimento de Magda soares, que integrou o GT da Lei nº 5.692/71 e, posteriormente, fez a autocrítica da produção então realizada, é de uma clareza meridiana. No memorial escrito em 1981 para o concurso de professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais, transformado em livro em 1991, podemos ver como descreve sua adesão à nova orientação pedagógica: Vejo-me (não, vejo-a, a outra que fui) aderir a uma tecnologia de ensino determinista, baseada em predição e controle (objetivos comportamentais, testes de múltipla-escolha, instrução programada e outros procedimentos de ensino de inspiração behaviorista); vejo-me (vejo-a) lutando por maior “eficiência” e maior “produtividade” do ensino e do sistema educacional {SOARES,1991, p.80}. A concepção pedagógica tecnicista segundo Saviani (1991,pp. 82-83 e 2006,pp.12-15), com base no pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, advoga a reordenaçaõ do processo educativo de maneira que o torne objetivo e operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril, pretende- se a objetivação do trabalho pedagógico. Se no artesanato o trabalho era objetivo, isto é, os instrumentos de trabalho eram dispostos em função do trabalhador e este dispunha deles segundo seus desígnios, na produção fabril essa relação é invertida. Aqui, é o trabalhador que se deve adaptar ao processo de trabalho, já que este foi objetivado e organizado na forma parcelada. Nessas condições, o trabalhador ocupa seu posto na linha de montagem e executa determinada parcela do trabalho necessário para produzir determinados objetos. O produto é, pois uma decorrência da forma como é organizado o processo. O concurso das ações de diferentes sujeitos produz assim um resultado com o qual nenhum dos sujeito se identifica e que, ao contrário, lhes é estranho. À semelhança do que foi anteriormente descrito, a pedagogia tecnicista buscou planejar a educação de modo que a dotasse de uma organização racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Para tanto, era mister operacionalizar os objetivos e, pelo menos em certos aspectos, mecanizar o processo. Daí a proliferação de propostas pedagógicas tais como enfoque sistêmico, o microensino, o telensino, a instrução programada, as máquinas de ensinar etc. Daí também o parcelamento do trabalho pedagógico com a especialização de funções, postulando-se a introdução no sistema de ensino de técnicos dos mais diferentes matizes. Daí, enfim, a padronização do sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados aos quais devem se ajustar as diferentes modalidades de disciplinas e práticas pedagógicas. Se na pedagogia tradicional a iniciativa cabia ao professor, que era, ao mesmo tempo, o sujeito do processo, o elemento decisivo e decisório; e se na pedagogia nova a iniciativa se desloca para o aluno , situando-se o nervo de ação educativa na relação professor-aluno, portanto, relação interpessoal, intersubjetiva; na pedagogia tecnicista o elemento principal passa ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posição secundária, relegados que são à condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam, imparciais. A organização do processo converte-se na garantia da eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e maximizando os efeitos de sua intervenção. Cumpre notar que, embora a pedagogia nova também dê grande importância aos meios, há, porém, uma diferença fundamental: enquanto na pedagogia nova são os professores e alunos que decidem se utilizam ou não determinados meios, bem como quando e como o farão, na pedagogia tecnicista cabe ao processo definir o que professores e alunos devem fazer e, assim também, quando e como o farão. Portanto, embora a pedagogia tecnicista possa ser vista como uma radicalização da ênfase metodológica na pedagogia nova, há, entre essas duas concepções, uma diferença substantiva. Por conseguinte, respondendo à pergunta feita anteriormente, há uma diferença igualmente substantiva entre as concepções pedagógicas de Anísio Teixeira e de Valnir Chagas. No contexto teórico do tecnicismo pedagógico, a equalização social é identificada com o equilíbrio do sistema (no sentido do enfoque sistêmico). Considerando que o sistema comporta múltiplas funções às quais correspondem determinadas ocupações; que essas diferentes funções são interdependentes de tal modo que a ineficiência no desempenho de uma delas afeta as demais e, em conseqüência, todo o sistema, então, cabe à educação proporcionar um eficiente treinamento para a execução das múltiplas tarefas demandadas continuamente pelo sistema social. Nos termos indicados, a educação será concebida como um subsistema cujo funcionamento eficaz é essencial ao equilíbrio do sistema social de que faz parte. Sua base de sustentação teórica desloca-se para a psicologia behaviorosta, a engenharia comportamental, a ergonomia, informática, cibernética, que tem em comum a inspiração filosófica neopositivista e o método funcionalista. Do ponto de vista pedagógico, conclui-se que, para a pedagogia tradicional a questão central é aprender, e para apedagogia nova, aprender a aprender, para a pedagogia tecnicista é aprender a fazer. A essa teoria pedagógica correspondeu uma reorganização das escolas que passaram por um crescente processo de burocratização. Acreditava-se que o processo se racionalizava à medida que se agisse planificadamente. Para tanto, era mister baixar instruções minunciosas sobre como proceder com vistas a que os diferentes agentes cumprissem cada qual as tarefas específicas acometidas a cada um no amplo espectro em que se fragmentou o ato pedagógico. O controle seria feito basicamente pelo preenchimento de formulários. O magistério passou, então, a ser submetido a um pesado e sufocante ritual, com resultados visivelmente negativos. Na verdade, a pedagogia tecnicista, ao ensaiar transpor para a escola a forma de funcionamento do sistema fabril, perdeu de vista a especificidade da educação, ignorando que a articulação entre escola e processo produtivo se dá de modo indireto e por meio de complexas mediações. Além do mais, na prática educativa a orientação tecnicista cruzou com as condições tradicionais predominantes nas escolas como com a influência da pedagogia nova, que exerceu poderoso atrativo sobre os educadores. Nessas condições, a pedagogia tecnicista acabou por contribuir para aumentar o caos no campo educativo, gerando tal nível de descontinuidade, de heterogeneidade e de fragmentação que praticamente inviabiliza o trabalho pedagógico. Na mesma década de 1970, à predominância da tendência tecnicista, surgiram estudos empenhados em fazer a crítica da educação dominante, pondo em evidência as funções reais da política educacional que, entretanto, eram acobertadas pelo discurso político-pedagógico oficial. Este conjunto de estudos foram agrupados sob a denominação “tendência crítico-reprodutivista”. Tal denominação se justifica nos seguintes termos: trata-se de uma tendência crítica porque as teorias que a integram postulam não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais. Empenham-se, pois, em explicar a problemática educacional remetendo-a sempre a seus determinantes objetivos, isto é, à estrutura socioeconômica que condiciona a forma de manifestação do fenômeno educativo. Mas a reprodutividade porque suas análises chegam invariavelmente à conclusão que a função básica da educação é reproduzir as condições sociais vigentes (SAVIANI, 2008, p. 393). As principais referências desses estudos são a teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica”, “teoria da escola enquanto aparelho ideológico do Estado” e “teoria da escola dualista”. PARA REFLETIR E RESPONDER APÓS LEITURA DO TEXTO: 1) Quais foram ás conseqüências em aplicar na escola as mesma técnicas fabril inspirada nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade? 2) Porquê não apresentou bons resultados no processo educativo? 3) Qual a concepção de homem, almejada pela tendência tecnicista? UNIDADE V Conhecendo melhor as teorias “Crítico-reprodutivistas” Saviani (2008), partindo da teoria geral da violência simbólica, os autores Pierre Passeron e Jean-Claude Passeron (1975) concentram o foco na análise da ação pedagógica institucionalizada, isto é, o sistema escolar. Seu intento é explicar a Ação Pedagógica (AP) como imposição arbitrária da cultura (também arbitrária) dos grupos ou classes dominantes aos grupos ou classes dominados. Essa imposição, para exercer-se, implica necessariamente a Autoridade pedagógica (AuP) e realiza-se pelo Trabalho Pedagógica (TP). O TP que se institucionaliza no Sistema de Ensino (SE) como Trabalho Escolar (TE), ao reproduzir a cultura dominante, contribui para reproduzir a estrutura das relações de força sociais.( p.395) A “teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado” foi esboçada no texto de Althusser (s/d.). Ao analisar a reprodução das condições de produção que implica a reprodução das forças produtivas e das relações de produção existentes, Althusser distingue, no Estado, os aparelhos repressivos e os aparelhos ideológicos. Os primeiros funcionam massivamente pela violência e secundariamente pela ideologia. Inversamente, os segundos funcionam massivamente pela ideologia e secundariamente pela repressão (p.395). Considerando as diferentes modalidades de Aparelhos ideológicos de Estado (AIE) (religioso, escolar, familiar, jurídico, político, sindical, da informação, cultural), Althusser conclui que o aparelho ideológico de Estado escolar se converteu, no capitalismo, em aparelho ideológico dominante. Nessa condição, a escola tornou-se o instrumento mais acabado de reprodução das relações de reprodução capitalistas (p.395). A “teoria da escola dualista” foi elaborada por Christian Baudelot e Roger Establet (1971). Para essa teoria a função precípua da escola é a inculcação da ideologia burguesa, o que é feito de duas formas concomitantes: a inculcação explicita da ideologia burguesa e o recalcamento, a sujeição e o disfarce da ideologia proletária. A particularidade dessa teoria consiste no fato de que ela admite a existência da ideologia do proletariado. Mas considera que tal ideologia tem origem e existência fora da escola, nas massas operárias e em suas organizações. A escola é entendida, pois, como um aparelho ideológico da burguesia e a serviço de seus interesses (p.395). Inspirada nessas teorias, boa parte dos intelectuais voltados para a educação brasileira empenharam-se na denuncia sistemática da utilização da educação por parte dos setores dominantes, utilização esta exacerbada na vigência autoritária como um mecanismo de inculcação da ideologia dominante e reprodução da estrutura social capitalista. Portanto, o mérito da tendência crítico-reprodutivista foi dar sustentação teórica para a resistência ao autoritarismo, para a crítica à pedagógica tecnicista e para desmistificar a crença, bastante comum entre os educadores, na autonomia da educação em face das relações sociais. Principalmente na segunda metade dos anos de 1970, essa tendência balizou uma razoável quantidade de análises críticas da política educacional brasileira objetivadas em artigos, dissertações de mestrado e doutorado (p.395). A visão crítico-reprodutivista desempenhou, pois, um papel importante na década de 1970. Suas análises constituíram-se em armas teóricas utilizadas para fustigar a política educacional do regime militar, que era uma política de ajustamento da escola utilizada como instrumento de controle da sociedade visando a perpetuar as relações de dominação vigentes. Aquelas teorias foram assimiladas com essa finalidade de caráter prático-político (p. 397) É certo que estas teorias se concentravam na crítica à educação vigente, não apresentando alternativas, isto é, não propondo uma nova maneira de lidar com as escolas. Por isso, pode-se concluir que, a par do aguçamento do espírito crítico, elas teriam também provocado um sentimento de “sem-saída”, de falta de alternativas. Na medida em que o anseio pela busca de alternativas se foi intensificando, aprofundou-se também a percepção de que essas teorias eram insuficientes, continham limites. A esse respeito, cumpre notar que a crítica já vinha sendo formulada na própria origem, isto é, na França (p.397-398). No Brasil, partindo desses trabalhos, buscou-se aprofundar a crítica explicitando os limites dessas teorias, momento este em que Saviani (1985), cunhou a expressão “crítico-reprodutivista”
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