Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo Erros inatos do metabolismo Quando se fala em erros inatos do metabolismo são erros que já nascem com a pessoa, ou seja tem origem genética, sendo alguma alteração no DNA, genoma ou processo de expressão gênica do indivíduo, o que faz com determinadas rotas metabólicas sejam inibidas, seja pelos produtos ou subprodutos que são gerados para a rota funcionar. As rotas metabólicas funcionam em cascata. Ex.: glucagon faz a mediação da cascata de glicólise. São uma série de enzimas que vai ativando umas às outras, para que se consiga uma resposta no final de todo o processo, que é a mobilização de lipídios. Isso é metabolismo. Algumas pessoas podem apresentar alteração genética para alguma das enzimas envolvidas nesse processo, fazendo com que o processo seja prejudicado. Todo o mecanismo que envolve erros metabólicos que estão relacionados com alteração do material genético é chamado de erro inato do metabolismo, pois está no DNA. Atenção: não é só na síntese e degradação!! O EIM também abrange o erro no transporte e no armazenamento de moléculas. Ex.: o acúmulo de fenilalanina em uma célula, por conta de defeito no armazenamento, pode ser tóxico. Obs: nenhum tipo de fibrose cística é por conta de EIM. Imagem: exemplo de possibilidades de desenvolver erro inato. Essa primeira situação é NORMAL - em que se tem um substrato que é convertido em um produto por uma enzima. Quando se tem um defeito enzimático acontece que a enzima defeituosa não consegue fazer essa conversão normalmente (enzima truncada – com defeito, funciona pouco ou não funciona). Pode se ter uma conversão do substrato em um produto por outras reações não enzimáticas. Por exemplo, posso quebrar o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água e oxigênio (H2O e O2). Tem uma enzima que faz isso, como a catalase. Normalmente a catalase faz isso de forma rápida, porque as enzimas são catalisadores biológicos, ou seja, aceleram a velocidade das reações químicas. Mas, essa é uma reação que pode acontecer sem a necessidade da ação de uma enzima. E, por isso que na segunda situação, o produto está sendo formado mesmo com o defeito na enzima, só não irá acontecer da mesma forma. Não terá a mesma reação, com a mesma intensidade, ou mesma velocidade. O que acontece é que se acumula substrato que deveria ter sido convertido em produto, que talvez precise até mesmo de uma outra rota metabólica adiante, e acaba interrompendo outras vias que dependem desse produto. Mas, supondo que a substância que se acumula é o H2O2 (peróxido de hidrogênio – água oxigenada, no popular) é extremamente tóxico; no organismo, em excesso, pode provocar até dano ao material genético. Havendo defeito na enzima, não será metabolizado da mesma forma; pode até chegar a converter de maneira mais lenta, porém vai haver acúmulo dessa substância no organismo, gerando intoxicação. Ou pode cair numa rota alternativa, de outra enzima que trabalha com ele também, o utiliza como substrato e gera um produto alternativo, que pode ser interessante pra célula ou que cause intoxicação. Importante: é necessário entender bioquimicamente e biologicamente o erro inato, pra só depois conhecer os erros específicos. Imagem abaixo: temos quatro enzimas trabalhando juntas para gerar o produto final. E, se uma delas for defeituosa terá ausência do produto final, porque todas são importantes pra geração dele. As enzimas Cinases (ou quinase) uma vai fosforilando a outra, na cascata de fosforilação, na sinalização celular. Vai adicionando fosfato e mais fosfato e essa adição provoca a ativação da enzima. Se uma enzima dessas estiver ausente, quebra-se a cascata, não vai conseguir ser fosforilada e nem as outras subsequentes. Os erros inatos do metabolismo (EIM) são distúrbios de natureza genética que geralmente correspondem a um defeito enzimático capaz de acarretar a interrupção de uma via metabólica. Ocasionam, portanto, alguma falha de síntese (anabólicas), degradação (catabólicas), armazenamento ou transporte de moléculas no organismo. 2 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo • As enzimas 1,2,3 e 4 atuam conjuntamente para gerar o produto final; • Na ausência de qualquer uma destas enzimas o defeito será o mesmo: falta do produto final. Aqui é uma situação diferente, que também caracteriza um erro inato. A enzima Y atua em rotas metabólicas que produzem produtos diferentes e, se não tiver a enzima Y todos os quatro produtos que ela ajuda a formar estarão ausentes, o que resulta numa mesma causa clínica. Por conta dessa enzima ausente você acaba não tendo 4 produtos diferentes. As rotas metabólicas dependem muitas vezes de várias enzimas, e muitas enzimas são responsáveis pela geração e fabricação de mais de um produto. Muitas vezes não diretamente. Indiretamente elas podem ajudar na produção desse elemento, que pode ser um elemento vital, um elemento importante pra célula, que não existindo ela, a célula pode haver perda de função ou prejuízo importante num tecido específico. Logo, tudo isso pode ser considerado como erro inato, pois é um erro de origem genética, fazendo com que a rota seja bloqueada pelo defeito na enzima. • A enzima Y atua em 4 rotas metabólicas, que produzem produtos diferentes; • Logo, na ausência da enzima Y todos os 4 produtos estarão ausentes, o que resulta numa mesma causa clínica. A patogênese dos EIMs pode ser devido ao aumento na concentração do substrato, diminuição da concentração de produtos ou aumento da concentração de uma via secundária. Ex. Galactosemina, o acúmulo de Galactitol leva a um tipo específico de catarata. Histórico Dr. Archibald Garrod: • 1904 – Ele estudava a alcaptonúria: ❖ Autossômica recessiva; ❖ É um erro inato do metabolismo da fenilalanina e tirosina: normalmente esses indivíduos terão um erro que está relacionado com a metabolização dos aminoácidos, fenilalanina e tirosina, que são aminoácidos naturais, que fazem parte dos 20 da nossa fisiologia; ❖ Essa doença pode ser chamada de ocronose; ❖ Característica de tornar a pele mais escura , por conta da deficiência desses dois aminoácidos. A urina também fica mais escura, se tiver muita exposição ao ar, isso acaba fazendo com que os indivíduos tenham essas sintomatologias. Imagem: Depósito de pigmentação ocronótica de coloração azul- enegrecida na pele das mãos. ❖ Normalmente esses indivíduos apresentarão uma certa rigidez nas regiões de cartilagem; ❖ Resulta da deficiência completa da enzima ácido homogentísico oxidase (HGO), que faz a metabolização desses aminoácidos; ❖ Mutação no gene 3q (3q21 – q23); ❖ Acúmulo do ácido em diversos órgãos e tecidos, com aumento de sua excreção urinária: urina com pH bem menor que o normal; ❖ ➔ 1909 – Descreveu outras doenças e introduziu o termo “Erros inatos do Metabolismo”. Mapa metabólico celular Para vermos a complexidade do mapa metabólico das nossas células. São rotas extremamente complexas no sentido de que muitas participam de várias delas, e consequentemente elas podem estar implicadas. Se estiverem ausentes, tem várias condições patológicas, fisiopatológicas associadas a erros inatos. No mapa metabólico celular conseguimos ver a complexidade de rotas convergentes, divergentes, rotas cíclicas, que acabam fazendo com que várias enzimas tenham participação importantes, que se correlacionem umas com as outras dentro desse mapa. • Produtos/substratos: ❖ Enzima. 3 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo Erros inatos do metabolismo estão associados com 10% das doenças genéticas. Existem alguns casos raros, como exemplo a doença que Archibald Garrod descobriu, onde nessecaso especificamente, o diagnóstico acaba sendo mais difícil. Hoje em dia já temos mecanismos para fazer um diagnóstico mais preciso dessas patologias. Diagnóstico Correlação genótipo (presença de mutações) – fenótipo (expressão clínica). Normalmente faz primeiro o genótipo, que a partir disso, podemos suspeitar de erro inato. Diante da suspeita, faremos a análise genética. São análises baseados na pesquisa e na busca de mutações pontuais, através de técnicas moleculares. Avaliar as mutações no DNA dos pacientes, e fazer uma exclusão/inclusão no diagnóstico de erro inato. = Intensidade da doença, sobrevida e resposta ao tratamento. Grupo X Características X Doenças DEFEITO DE SÍNTESE OU CATABOLISMO DE MOLÉCULAS COMPLEXAS: PROTEÍNAS, POLISSACARÍDEOS, MOLÉCULAS GRANDES • Características: Sinais e sintomas permanentes e progressivos. • Doenças: Doenças lisossomais e peroxissomais. DEFEITO NO METABOLISMO INTERMEDIÁRIO • Características: Tem elementos que são quebrados e gerados a partir de proteínas, lipídeos e carboidratos, provocando intoxicação nos pacientes. Intoxicação aguda e crônica; intervalo livre de sintomas; relação com ingestão alimentar. • Doenças: Aminoacidopatias; acidúrias orgâncias; defeitos do ciclo da uréia e intolerância aos açúcares. Ex: Intolerância a lactose (açúcar intermediário). O paciente não tem problemas com açúcares maiores como o amido, pois o problema é no metabolismo intermediário. DEFEITO NA PRODUÇÃO OU NA UTILIZAÇÃO DE ENERGIA • Características: Metabolismo intermediário de fígado, músculo ou cérebro. • Doenças: Doenças de depósito de glicogênio; defeitos de ß-oxidação de A.G; doenças mitocondriais e hiperlacticemias. Nós temos a produção de glicogênio no tecido hepático e quebra dele no músculo. Temos também a utilização de bastante ácido graxo, principalmente nos músculos. Podemos ter problemas no SNC, principalmente no cérebro, por conta da utilização de glicose para funcionamento dos tecidos. Os sintomas no grupo 1 são permanentes e progressivos porque essas moléculas são as que nós normalmente nos alimentamos. Nosso organismo muitas vezes produz essas próprias moléculas, a exemplo do glicogênio, justificando esses sinais e sintomas permanentes e progressivos. Já no grupo 2, nos alimentamos de moléculas que são grandes, mas que podem não ser quebradas. Só teremos os sintomas caso elas sejam quebradas. Aqui pode-se ter um certo controle através do ajuste da dieta desse paciente, fazendo com que esses açúcares, lipídios e proteínas não sejam produzidos através da quebra de compostos maiores. 4 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo QUANDO PENSAR EM ERRO INATO? Isso inicialmente clinicamente. Não temos uma fenotipagem ou uma pesquisa de mutação na nossa mão. A nossa missão é solicitar esses exames com base nas características abaixo: CARACTERÍSTICAS QUE SUGEREM EIM • RN: coma, hipotonia, irritabilidade, convulsões, acidose, hipoglicemia, distúrbio hidroeletrolítico, sepse, icterícia, vômitos ou diarreia. • Retardo no desenvolvimento neuromotor e/ou deficiência mental. • Regressão neurológica, com perda de habilidades anteriormente adquiridas (ex: estava andando e de repente começa a cair). • Hepato e/ou esplenomegalia, icterícia colestática e diarreia crônica. • Deficiência de crescimento e/ou alterações osteoarticulares. • Episódios recorrentes de hipoglicemia, acidose metabólica, desequilíbrio hidroeletrolítico. • Relato de irmão falecido precocemente, sem diagnóstico definido (fala um pouco da questão genética envolvida naquela patologia, não sendo necessariamente um erro inato). • Consanguinidade entre os pais. • Todas essas avaliações devem ser feitas combinadas, fazendo a suspeita de erro inato e buscando formas para diagnosticar isso. EXAMES PARA DIAGNOSTICAR ERROS INATOS DO METABOLISMO • Suspeita de EIM: ❖ Urina: Cheiro, aspecto (ex. acronose), substâncias redutoras, corpos cetônicos (sinais de acidose), pH, eletrólitos, ácido úrico. ➢ Indícios de possíveis erros inatos. ❖ Sangue: Hemograma completo, eletrólitos (comparar com os da urina - saber se há acúmulo), gasometria (pH, bicarbonato, pCO2...), glicose, lipidograma, coagulograma, transaminases, ác. úrico, CK, CK-MB, amônia, lactato. INVESTIGAÇÃO DE ERROS INATOS DO METABOLISMO Suspeita clínica → testes de triagem → Análises qualitativas → análises quantitativas → ensaios enzimáticos → Análises moleculares → Diagnóstico. Basicamente o roteiro é o acima demonstrado para a investigação. Quando falamos de aspecto e cheiro estamos falando de análise qualitativa, já quando falamos em concentração de LDL é uma análise quantitativa. Ensaios enzimáticos (ver enzimas nos sangue). Análises moleculares (associados com o diagnóstico genético). • Padrões de herança: Autossômica recessiva; autossômica dominante; ligada ao X; herança mitocondrial. Podemos ter diferentes padrões de herança como descritos nos tópicos acima. AUTOSSÔMICA RECESSIVA Imagens: somente para lembrar que a herança cromossômica recessiva está no cromossomo que não é o sexual, assim precisa-se dos 2 alelos alterados par o indivíduo ser afetado. Ex: aa. AUTOSSÔMICA DOMINANTE Imagem: temos outra demonstração do cruzamento de um heterozigoto com um homozigoto recessivo. Mostrando os indivíduos afetados (Aa). HERANÇA LIGADA AO X Quando a herança é ligada ao X, esses 2 indivíduos que receberam o X da mãe são os afetados. Os outros 2 indivíduos que não são afetados receberam o X normal da mãe. Doenças metabólicas hereditárias Substâncias utilizadas como substrato para a produção e armazenamento de energia. Os açucares são metabolizados em 3 monossacarídeos: galactose, frutose e glicose. A começar com grupo de patologias que está associado ao metabolismo de açúcares. Existem açucares que não 5 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo são metabolizados pela célula, moléculas grandes, que são quebrados em açucares menores. Estes são absorvidos e metabolizados pelas nossas células. GALACTOSEMIA Causada pela incapacidade de metabolizar a galactose -1-fosfato em glicose-1-fosfato. Dieta livre de galactose previne complicações da doença. Pode ser causada pela deficiência de uma das 3 enzimas: ❖ Galactose-1-fosfato-Uridiltransferase (GALT) ❖ Galactoquinase (GALK) ❖ UDP- Galactose-4-epimerase (GALE). A maioria dos açucares podem ser convertidos em glicose. E é a nossa principal fonte energética. Às vezes, várias enzimas estão envolvidas numa mesma rota. E tem 3 enzimas envolvidas nessa mesma rota. Defeitos nessas enzimas podem provocar a galactosemia. Galactosemia por deficiência de G Galactose-1- fosfato-Uridiltransferase (GALT) é a principal galactosemia. É a clássica, afetando a maior parte dos indivíduos, com prevalência 1:47.000 indivíduos nascidos. O gene da GALT está localizado em 9p13=160 mutações; Existe uma doença metabólica que pode provocar algumas patologias e complicações para os indivíduos em diversos sistemas e tecidos. Geralmente os indivíduos vão apresentar quadros de; ❖ Convulsão, irritabilidade, letargia; ❖ Má alimentação ou ganho de peso; ❖ Pele e olhos amarelados; ❖ Ascite; ❖ Hipoglicemia; ❖ Hepatomegalia. • Galactosemia por deficiência de Galactoquinase (GALK), mais rara. • Gene da GALK localiza—se no segmento 17q24=23 mutações. Não tem frequência definida. • Por ser mais rara, não tem uma prevalência definida. • Sintomas semelhantes aos da galactosemia clássica. FRUTOSEMIA Causada pela deficiência de 2 enzimas: • Frutose 1,6 – difosfato aldolase; • Frutose 1,6 – difosfatase. ❖ Herdadas de modo autossômico recessivo; ❖ Frutosemia causada por deficiência da frutose 1,6– difosfato aldolase; ❖ Gene localizado em 9q22.3=25 mutações. • Disfunção hepática e cirrose – quadro crônico quando alta ingestão de frutose; • Indivíduos que apresentam essa patologia precisam fazer uma dieta sem frutas. ❖ Frutose causa por deficiência de frutose 1,6 difosfatase; ❖ Alterações no gene localizado em 9q22=12 mutações. ❖ Sintomas para se suspeitar de erro inato: apneia, convulsões, irritabilidade, vômitos. DEFEITO NO METABOLISMO DOS METAIS – DOENÇA DE WILSON – GRUPO 2 ➢ Doença de Wilson está relacionada com o metabolismo de metais. ➢ Os indivíduos apresentam problemas na metabolização do cobre. O cobre se acumula, atingindo níveis tóxicos para esses indivíduos, levando a quadros graves, movimentos mal coordenados. Além disso, vai se observar: inchaço, fadiga, muita dor abdominal e dificuldades de locomoção. 6 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo É muito comum apresentar um anel escuro na região da íris que são os anéis de Kayser-Fleischer. Visto em olhos claros e escuros. Várias apresentações dos anéis de Kayser-Fleischer DEFEITOS RELACIONADOS A AMINOÁCIDOS Causa: mal funcionamento de uma enzima envolvida na conversão de um AA ou na via metabólica desse aa. Ex: Fenilcetonúria – exemplo clássico. Gera um quadro de hiperfenilalaninemia, ou seja, acúmulo do aa fenilalanina até níveis tóxicos para o organismo do indivíduo. A hiperfenilalaninemias é definida como altos níveis de fenilalanina plasmática maiores que 2mg/dL. Deficiência da fenilalanina hidroxilase (PAH) – Responsável pela conversão da fenilalanina em tirosina. A enzima PAH converte um aminoácido em outro. O gene da PAH – 12q 24.1 • Fenilcetonúria (PKU): 1º doença metabólica associada ao retardo mental; • Causa: Incapacidade de metabolizar a fenilalanina, podendo provocar microcefalia, hipopigmentação da pele, cabelos e olhos, irritabilidade, epilepsia ... • Os ácidos orgânicos são convertidos em diversos compostos que atuam em diversas vias metabólicas. • Bloqueio das vias metabólicas –> Acúmulo de radicais ácidos. • Diagnóstico → Pesquisa de ácidos orgânicos urinários. Existem algumas doenças que são associadas a ácidos; tem algumas acidoses inatas que podem ser também consideradas erros inatos do metabolismo. Esses ácidos normalmente são excretados através da urina e, quando há acúmulo desses radicais ácidos, eles são excretados de maneira excessiva na urina. Dessa forma, o diagnóstico é feito através da pesquisa desses ácidos orgânicos urinários. Uma dessas doenças é a Acidúria Metilmalônica. ACIDÚRIA METIMALÔNICA (MMA) • Deficiência da metilmalonil-CoA mutase ou de seu cofator, a vitamina B12 (Adenosilcobalamina). • Propionato surge a partir da degradação de aa (isoleucina, valina, metionina e treonina) ou por ácidos graxos e fermentação de bactérias do intestino. Esses indivíduos terão dificuldade de converter esses ácidos, gerando seu acúmulo e, consequentemente, quadros clínicos graves, como o da imagem, apresentando uma série de lesões do tecido epitelial por conta da acidúria. Normalmente, são quadros bastante graves, que levam o paciente ao internamento, apresentando sintomas progressivos, que normalmente serão controlados com alguns medicamentos. São indivíduos que apresentam uma série de sintomas relacionados ao metabolismo, mas também irão apresentar sintomas relacionados às consequências do metabolismo, como sintomas neurológicos, isquemia cerebral. Importante lembrar que são pacientes com níveis diferentes de agravamento da doença a depender do tipo de defeito genético que apresentam, se afeta a enzima ou o seu cofator (vitamina B12), tendo uma sintomatologia muito variada, ou seja, são sintomas bem distintos dependendo da etiologia. O problema metabólico da MMA está nessa rota; há defeito na conversão da Metilmalonil CoA em Succinil CoA, que está associada com o metabolismo, ciclo de Krebs e ciclo de Cori. Um defeito na Metilmalonil CoA Mutase (MMA) ou no seu cofator (Vitamina B12) pode inibir essa conversão, causando o acúmulo da Metilmalonil CoA. Tratamento: Infusão endovenosa de glicose e bicarbonato, administração de carnitina, suspensão de ingesta proteica, etc. Diagnóstico pré-natal: é possível através da medição de metilmalonato no líquido amniótico e urina materna no 2° trimestre e por estudos de atividade funcional 7 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo da mutase e metabolismo da cobalamina em células do líquido amniótico em cultura. O diagnóstico pré-natal genético molecular também é possível quando as mutações segregantes na família são conhecidas. A ingesta proteica faz com que o paciente tenha uma acidúria mais acentuada, por isso é necessário suspendê-la, já que é uma doença relacionada ao acúmulo de ácidos. É algo muito difícil e muito específico de diagnosticar, dá para fazer, mas normalmente não é feito, já que nos exames pré-natais não invasivos é muito difícil encontrar alguma alteração morfológica relacionada a essa patologia; as manifestações morfológicas ocorrem depois do nascimento. Pode ser feito quando já existem casos na família; então se solicita os testes para avaliar a urina materna e o líquido amniótico. Para essa patologia, são descritas mutações em 2 cromossomos - 4 e 6. Deficiência de enzimas lisossômicas – acúmulo do substrato não degradado. Existem ainda outros 3 grupos de patologias interessantes (mucopolissacaridoses, mucolipdoses e esfigolipdoses) que também estão relacionados aos erros inatos de metabolismo, deficiência de enzimas lisossômicas que geram acúmulo do substrato não degradado. Mucopolissacaridoses • Deficiência lisossômica que degradam os glicosaminoglicanos (GAGs). • Mutações gênicas resultam em excesso de mucopolissacarídeos incompletamente metabolizados com acúmulo dos mesmos em ossos e tecido conjuntivo. Apresentam-se na urina. • Por conta disso, esses indivíduos terão uma série de problemas relacionados a esses tecidos, tanto aos ossos quanto ao tecido conjuntivo. Tabela de classificação das mucopolissacaridoses (MPS) Mostra se é autossômica recessiva, qual o padrão de herança, qual a enzima que está envolvida em cada uma dessas patologias e qual o açúcar/composto que é motivo do acúmulo e, consequentemente, do erro inato. Aqui serão faladas as mais importantes. SÍNDROME DE HURLER (MPS I) Deficiência da enzima alfa-L-iduronidase – 4p16.3 = 70 mutações. • Aumento da clavícula e das costelas; • Encurtamento significativo da estatura; • Encurtamento do pescoço; • Mãos grossas e em forma de garra; • Achatamento da ponte nasal; • Narinas amplas. São características associadas ao osso, a cartilagem, a estrutura, ao tecido conjuntivo, que normalmente são afetadas nas mucopolissacaridoses. Os pacientes apresentam muitos problemas de crescimento, de articulação. • O diagnóstico pré-natal já é possível pelo exame bioquímico de fibroblastos do líquido amniótico. • Após sexto mês de vida, alterações faciais, turvação da córnea e hérnias umbilicais e inguinais. É necessário que seja feito o somatório dessas características, já que as hérnias são comuns em outros indivíduos que não tem essa síndrome. • A suspeita pode aparecer porque uma das coisas que são avaliadas é a ossificação nasal (o achatamento da ponte nasal) já na USG; então, ao detectar alguma anormalidade, poderá ser feita a amniocentese para verificação. Indivíduo com a síndrome de Hurler. É possível observar fácies típicas. Outro indivíduo afetado, com narinas amplas, dificuldade de fechar a boca. 8 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo 1. Hérnia umbilical desenvolvida; 2. Indivíduos com dificuldadede crescimento, narinas amplas, baixa estatura; 3. Hérnia umbilical (circulada): indivíduo com síndrome de Hurner, com 12 anos de idade. Dificuldade de crescimento, inclusive com alterações morfológicas que dizem respeito à coluna vertebral, devido aos muitos problemas do tecido ósseo. Indivíduo com baixa estatura por síndrome de Hurler aos 16 anos de idade; mãos e dedos grossos. 22 anos, hérnias umbilicais grandes. Problemas de articulação, de extensão máxima do cotovelo, não conseguem estender muito bem. O cotovelo é conectado por uma espécie de membrana que pode ser removida cirurgicamente para aumentar a capacidade de extensão do braço desses indivíduos. 1 - Caso brando de córnea opacificada. 2 – Caso mais grave de opacificação da córnea. São sintomas clássicos. Ressonância nuclear magnética mostrando hidrocefalia em criança com síndrome de Hurler. SÍNDROME DE HUNTER • Condição recessiva ligada ao cromossomo X; • Ocorre em 1:130.000 a 1: 150.000 nascidos vivos; • Em Israel, a prevalência é bem maior, estando a cada 1 entre 36.000 nascimentos. ❖ A questão étnica é importante para o surgimento dessa doença vide os casos em Israel. ❖ Características físicas semelhantes às observadas na síndrome de Hurler; ❖ Manifesta-se por volta dos 2 a 4 anos; ❖ Declínio no desenvolvimento observado, em geral, por volta dos 18 aos 36 meses; ❖ O comprometimento cognitivo pode ser progressivo; ❖ Hidrocefalia e perdas auditivas podem ocorrer de forma progressiva; ❖ Morte pode decorrer de problemas respiratórios ou insuficiência cardiovascular. ❖ Os pacientes terão basicamente as mesmas características dos pacientes com síndrome de Hurler, já que continua sendo uma mucopolissacaridose. Fácies típicas com narinas abertas. SÍNDROME DE SANFILIPO (MPS III) • Padrão de herança autossômica recessiva. 9 Beatriz Machado de Almeida Genética – Erros inatos do metabolismo • Caracteriza-se pela presença de severos prejuízos neurológicos. ❖ Demência progressiva; ❖ Comportamento agressivo; ❖ Hiperatividade; ❖ Crises convulsivas; ❖ Prejuízo auditivo e visual; ❖ Distúrbios do sono. • Alterações somáticas similares às observadas nas outras MPS costumam ser menos evidentes e surgem mais tardiamente. • Incidência (dos 4 tipos) é de 1:70.000 nascimentos. • Foram identificados 4 tipos dessa MPS com características clínicas similares, sendo o tipo A o mais severo. • Fácies típicas da síndrome de Sanfilipo. Patologias associadas Patologias associadas a erros inatos. DOENÇA DE GAUCHER • Deficiência: glicocerebrosidade; • Acúmulo: glicocerebrosídeo. • É um tipo de lipídeo que se acumula e acaba por ser tóxico para o indivíduo. DOENÇA DE NIEMANN-PICK • Deficiência: esfingomielinase; • Acúmulo: esfingomielina; • A esfingomielina é um tipo específico de lipídio, que está presente, inclusive, em algumas membranas de algumas células. DOENÇA DE GAUCHER • Herança ligada ao sexo no cromossomo X; • Doença de depósito lisossômico causada pela deficiência de enzima alfa-galactosidade; • Afeta 1 indivíduo em casa 40.000. O paciente normalmente irá apresentar fígado e baço desenvolvidos (hepatoesplenomegalia). DOENÇA DE NIEMANN-PICK • Doença causada pelo armazenamento lisossômico. • Origem autossômica recessiva (eventos mutacionais). • As quatro formas da doença de Niemann-Pick caracterizam-se por um acúmulo de Esfingomielina e de colesterol nos lisossomos das células, particularmente nas células de órgãos importantes, como o fígado e o baço. As três formas mais conhecidas da doença são os tipos A, B e C. • Os lisossomos não conseguem fazer a metabolização desses lipídeos, por isso há o acúmulo de Esfingomielina e colesterol. • Das três formas principais, a forma A é a mais comum. HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR • Patologia genética onde os indivíduos atingidos apresentam níveis de colesterol elevado desde o nascimento, tendo, por isso, um risco elevado para doenças cardiovasculares. • Causa: Mutação no gene receptor do LDL. • Erro inato do metabolismo de lipídios. Doença relacionada ao receptor de LDL nas células dos vasos e de alguns tecidos. Em geral, há uma mutação na proteína de forma que ela não consegue internalizar o LDL. O LDL fica até ligado a essa proteína (receptor), mas não consegue ser internalizado. Como não consegue internalizar a proteína receptora junto com o LDL, essa molécula fica presa na superfície, provocando um acúmulo de colesterol que, no caso de um vaso, por exemplo, esse acúmulo pode formar placas de gordura, ateromas, gerando aterosclerose. São indivíduos que não precisam consumir muito colesterol para formar ateromas, ter obstruções vasculares. O problema genético os impede de internalizar o colesterol por conta da mutação no receptor de LDL, consequentemente, gerando um acúmulo de colesterol, sendo considerado um erro inato do metabolismo. • Hipercolesterolemia familiar pode ser tratada com estatinas. O colesterol desses pacientes chega a 600 até 800 ou mais do que isso, é um colesterol bastante elevado. Precisa ser tratado com medicamento, não pode tratar apenas com dieta.
Compartilhar