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1 Letícia Marques Reumatologia- P8 Fibromialgia INTRODUÇÃO • Síndrome dolorosa crônica (>3 meses), caracterizada por dor musculoesquelética generalizada e fadiga • Geralmente, tem início com uma dor locorregional que se torna, com o decorrer do tempo, generalizada • De etiologia não autoimune e não inflamatória • Fisiopatologia: ✓ Síndrome de sensibilização central, que leva a uma resposta anormal do SNC aos estímulos periféricos, decorrente de uma hiperexcitabilidade neuronal → dor amplificada ✓ Estímulos periféricos → reestruturação do sistema nociceptivo → dor se perpetua mesmo na ausência de dor periférica ✓ No córtex sensorial primário, há uma maior conectividade dos neurônios, levando a uma hipervigilância e a uma catastrofização. Além disso, há aumento do glutamato que diminui o limiar de dor, levando a uma hiperalgesia (dor desproporcional) e alodínia (dor a um estímulo não doloroso) ✓ A amigdala é responsável pelo grau de alerta a estímulos externos e integra o sistema nociceptivo ao “circuito cerebral das emoções”. O glutamato aumenta a resposta emocional desses pacientes ✓ A sensibilização central tem início na infância e adolescência – forte fator genético (50% genético e 50% ambiental) • Fatores ambientas: EBV, parvovírus, brucelose, Doença de Lyme, trauma físico, estressores psicológicos • Fatores de risco modificáveis: sono, obesidade, sedentarismo e insatisfação com o trabalho ou com a vida • Mais frequente em mulheres de idade entre 35-60 anos • Parente de 1º grau tem 8x mais risco de desenvolver a fibromialgia • Comum em pessoas com dor periférica: AR, espondiloartrites, síndrome da hipermobilidade QUADRO CLÍNICO • Dor: ✓ Difusa ou multifocal, crônica, alterando a intensidade (moderada-forte) e de caráter migratório ✓ Regiões axiais e periféricas bilateralmente ✓ Pode ser acompanhada de disestesia ou parestesia (formigamento, queimação e dormência, peso, pontada) ✓ Sensação subjetiva de edema ✓ Sem evidências de doença sistêmica ✓ A dor e o cansaço perduram o dia todo e, normalmente, pioram após exercícios ✓ Há desconforto ao toque ou com roupas apertadas ✓ Pode ser acompanhada de sintomas originados no SNC: fadiga, distúrbio do sono, da memória e do humor Mecanismo da dor: • Associação com diversas desordens: ✓ Doenças psiquiátricas: depressão, ansiedade, TEPT, TOC ✓ Alteração de memória e cognição ✓ Síndrome têmporo-madibular (DTM) ✓ Enxaqueca ou cefaleia tensional ✓ Lombalgia idiopática ✓ SII, doença celíaca, DII, dismotilidade esofágica ✓ Síndrome das pernas inquietas ✓ Queixas vestibulares ✓ Alergias, rinite e sensibilidade química ✓ Hipotensão ✓ Dor torácica não cardíaca e dispneia ✓ Doenças reumatológicas: AR, LES, ES, osteoartrite, artrite psoriática ✓ Síndrome uretral e cistite intersticial ✓ Dor pélvica crônica e dismenorreia • Sensibilidade geral aumentada: claridade, sons altos, odores, sintomas viscerais DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Síndrome da dor miofascial: a dor é mais localizada (pontos de gatilho que doem localmente ao serem apertados) • Síndrome da fadiga crônica • Miopatias inflamatórias • Doenças neurológicas e neuromusculares • Tireoideopatias • Doenças sistêmicas EXAMES PARA DOR DIFUSA Solicitar: • Hemograma • PCR e VHS • Ureia e creatinina • TGO, TGP, FA, GGT • TSH • Cálcio total, PTH e fósforo • CPK, LDH e aldolase • Cortisol basal • Ácido fólico, Vit B 12, Vit D • Eletroforese de proteínas • Sorologias DIAGNÓSTICO • O paciente, na maioria das vezes, apresenta exame físico normal, à exceção da dor difusa à palpação digital • Importante o exame articular que, normalmente, não apresenta alterações • Índice de dor generalizada- IDG (0-19): Última semana: ✓ Mandíbula, ombro, braço, antebraço, quadril, coxa, perna, cervical, tórax, abdome, dorso e lombar • Escala de severidade dos sintomas- ESS (0-12): Última semana: ✓ Fadiga, dificuldade de memória e sono não reparador ✓ Ausente (0), leve (1), moderado (2), grave (3) Últimos 6 meses: ✓ Dor ou cólicas em baixo abdome, depressão e cefaleia ✓ Ausente (0), presente (1) IDG + ESS → Escala de Severidade da Fibromialgia (0-31) • Diagnóstico: ✓ ESF ≥ 13, sendo IDG ≥ 7 e ESS ≥ 5 ou IDG entre 3-6 e ESS ≥ 9 ✓ Dor generalizada: dor em pelo menos 4 das 5 regiões. Mandíbula, tórax e dor abdominal não estão incluídos ✓ Sintomas por pelo menos 3 meses TRATAMENTO • Educação, exercício, tratamento psicológico e farmacológico • Amitriptilina: ✓ Primeira escolha, pois melhora a dor, o sono e a fadiga ✓ Dose de 10 a 50 mg/dia ✓ Iniciar com 25mg a noite – retorno com 1 mês ✓ EA: constipação, boca seca, ganho de peso, tontura e sonolência (devem melhorar em até uma semana após o início) ✓ Não usar em pacientes obesos • Fluoxetina: ✓ O ideal é não utilizar em monoterapia, pois não aliviam as dores, apenas os demais sintomas ✓ Se só houver essa opção, se o paciente for obeso ou não tiver condições de comprar demais medicações, pode fazer o teste terapêutico (disponível no SUS) ✓ Retorno com 1 mês e, se não funcionar, associar ou trocar por outra medicação ✓ Normalmente, é associado a amitriptilina, principalmente se o paciente tiver sintomas depressivos OBS: amitriptilina e fluoxetina estão disponíveis no SUS • Ciclobenzaprina: ✓ É um miorrelaxante ✓ Usado em pacientes que possuem dores esporádicas ou em quadros leves a moderados (usar por 1 mês e reavaliar) ✓ 10-40 mg/dia ✓ Causa muita sonolência, iniciar com a menor dose (10 mg), à noite, quando estiver com dor ou de forma crônica ✓ Alívio da dor, fadiga e do sono • Duloxetina: ✓ Pacientes com depressão associada ✓ 60-120 mg/dia de manhã ✓ EA: cefaleia, náuseas, sonolência, perda de apetite, constipação (devem melhorar em até uma semana após o início) ✓ Duloxetina + pregabalina: distúrbios graves do sono • Pregabalina: ✓ 150-300 mg/dia ✓ Melhora a dor, fadiga e o sono ✓ Melhor em pacientes com distúrbio do sono grave ✓ EA: ganho de peso, edema, boca seca, alteração da cognição • Tramadol: ✓ Associado a paracetamol ou dipirona ✓ Não são muito utilizados • Distúrbio do sono: associar Zolpidem 5-10 mg • Outros opioides, corticoides e AINES não tem efeito terapêutico
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