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Análise da Tirinha Pagando o pato (2)

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Francyélle Ribeiro da Silva 
Sabemos que o gênero tirinha possui um grande prestígio na mídia impressa, o que o torna mais facilmente acessível à massa popular. Destinado aos leitores em geral, constitui um importante veículo de leitura presente atualmente nos mais diversos jornais, internet, livros didáticos, dentre outros suportes. Esse gênero atrai a atenção dos leitores por seu caráter humorístico e também pelo modo como se organiza o texto que o compõe. Sendo assim, o gênero textual tirinha é um texto desenhado, escrito ou não, geralmente em uma apresentação consecutiva e horizontal, composto de quatro ou cinco quadrinhos. Os desenhos e os textos escritos revelam aspectos como: expressão corporal, sequências dialogais, pausas, hesitações, etc. Além disso, apresenta “uma linguagem que aguça a mente do leitor, já que, muitas vezes, o sentido do texto depende das escolhas linguísticas feitas pelo autor, o que leva o leitor a um ato de percepção e de esforço intelectual” (NETO, 2012, p. 545). 
Na tirinha acima intitulada Pagando o pato da autora Cecília Vicente de Azevedo Alves Pinto, publicada por ela em 2006 em seu livro também intitulado de Pagando o pato, temos o retrato de uma cena em que a personagem Galinha conversa com o personagem Filhote, e o personagem Galo, por não estar presente do contexto da conversa dos dois primeiros personagens, acaba interpretando a fala da Galinha de maneira equivocada. 
Enquanto estratégia discursiva, no primeiro quadrinho da tirinha para apresentar a situação inicial, podemos verificar que a autora optou pelo uso da onomatopeia, que é muito utilizada nas histórias em quadrinhos e tirinhas, porque reproduz na escrita os sons que existem ao nosso redor. O uso da onomatopeia Ai associada a linguagem não verbal representada pelos desenhos de estrelas é de suma importância para o entendimento do quadro seguinte, em que a Galinha se aproxima do Filhote dizendo que deu uma bruta topada. Sendo assim, pela linguagem não verbal do segundo quadro mais a leitura do primeiro, podemos inferir que ela bateu a cabeça em algo, e a frase da personagem só se completa no terceiro quadrinho quando ela diz “agora estou com esse belo galo na cabeça”. A linguagem não verbal associada ao conhecimento de mundo do leitor pode levá-lo a esta interpretação já que pelo tamanho dos desenhos das personagens podemos inferir que tratasse de uma mãe galinha e seu filhote, e que os desenhos acima da cabeça dela são recursos que simbolizam dor, portanto ela deve ter batido a cabeça em alguma coisa. O fato de serem um casal e seu filhote é uma informação que pode ser recuperada pelo contexto intratextual. Esse contexto refere-se à coerência dentro do texto, incluindo as relações semânticas que auxiliam na produção dos sentidos. 
No segundo e terceiro quadros, há o conflito da tirinha e o encaminhamento para o desfecho, que se encerra com uma surpresa, o não esperado, no último quadro. 
No quarto quadrinho, o Galo apresenta uma atitude de ciúmes em relação à frase da Galinha. Podemos perceber que isso só acontece porque ele não estava presente no contexto do segundo quadro e que, portanto, ele entende as palavras belo galo não como expressão do senso comum usada para quando batemos a cabeça e esta fica inchada, mas sim como um possível rival. Assim, as mesmas expressões são interpretadas de formas diferentes, no terceiro quadro a expressão “belo galo” pode ser parafraseada como “enorme carroço na cabeça” e como “galo bonito na mente” no quarto quadro, o que sugere um sentimento de ciúme por parte do Galo. O duplo sentido, nesse caso, é gerado porque o Galo e a Galinha associam a expressão "esse belo galo" a referentes muito diferentes, e é isto que gera o humor da tirinha. Além disso, há a exploração do recurso negrito na grafia das palavras, e este serve para enfatizar a piada. O uso do negrito, presente na fala do Galo, indica-nos uma alteração no tom da voz da personagem, o que demonstra certo grau de impaciência e ciúmes deste. 
 Isso mostra que para se entender o “humor que as tiras produzem, é necessário que, além dos conhecimentos de mundo, tenhamos habilidades linguísticas para compreender o sentido do texto a partir dos recursos que a linguagem oferece”, já que os efeitos de humor se configuram a partir da intercompreensão recíproca entre imagem e palavra (NETO, 2012, p. 550). 
Com relação aos aspectos possíveis para o trabalho com esse gênero em sala de aula, pode-se destacar o trabalho no 9º ano com a polissemia, com o intuito de fazer o aluno observar que uma mesma palavra pode apresentar múltiplos sentidos quando inserida em diferentes contextos. Além disso, pode-se trabalhar o efeito de humor estabelecido na tirinha e a linguagem não verbal que colabora para o efeito de sentido do texto. 
Em suma, cabe salientar que, com relação ao trabalho com tirinhas, estas podem “ser uma ferramenta de trabalho bastante significativa para o aprendizado da língua portuguesa, basta que o professor não se detenha ao estudo apenas da metalinguagem, mas à função social do gênero e à reflexão sobre os recursos linguísticos a serviço desse gênero” (NETO, 2012, p. 547). 
Referência Bibliográfica
NETO, José Teixeira. Escolhas linguísticas na construção do humor em tirinhas: uma proposta para o ensino da língua materna. In: CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA , 2012, Rio de Janeiro. Anais ... Cadernos do XVI CNLF, p. 544 – 552.

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