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ANATOMIA DO CORAÇÃO 28/08/2019 Os órgãos circulatórios e as células sanguíneas possuem uma origem comum em aglomerados de células mesenquimais que aparecem primeiramente na parede do saco vitelino. O coração é o órgão central que, por contrações rítmicas, bombeia continuamente o sangue através dos vasos sanguíneos. No adulto, ele consiste em quatro câmaras: átrio direito, átrio esquerdo, ventrículo direito e ventrículo esquerdo. Os dois átrios são separados por um septo interno, assim como os dois ventrículos, mas o átrio e o ventrículo de cada um dos lados comunicam-se por meio de uma ampla abertura. O coração, portanto, é constituído por duas bombas combinadas em um único órgão. A bomba direita recebe o sangue desoxigenado (venoso) do corpo e o envia ao tronco pulmonar, que o conduz aos pulmões para reoxigenação. A bomba esquerda recebe o sangue oxigenado dos pulmões através das veias pulmonares e o lança na aorta, que o distribui ao corpo. O tamanho do coração varia consideravelmente entre as espécies e também entre os indivíduos; como regra geral ele é relativamente maior nas espécies e indivíduos menores. A construção, a forma e a posição geral do coração são similares em todos os mamíferos. Pericárdio e topografia do coração O coração é quase completamente envolvido pelo pericárdio, que se encaixa perfeitamente sobre ele. O pericárdio é essencialmente um saco seroso fechado que está tão profundamente invaginado pelo coração que seu lume é reduzido a uma mera fenda capilar. O espaço contem fluido seroso, normalmente em quantidade suficiente apenas para facilitar a movimentação da parede cardíaca contra sua cobertura. As camadas visceral e parietal do pericárdio são contínuas uma à outra em uma complicada reflexão que segue sobre o átrio e as raízes dos grandes vasos. A camada visceral é tão proximamente aderida à parede do coração que pode ser considerada um componente dela, o epicárdio. A camada parietal possui grossa cobertura externa fibrosa que se une à camada adventícia dos grandes vasos dorsalmente e se continua em um ligamento no ápice ventral do saco. Este geralmente se liga ao esterno (ligamento esternopericárdico), mas se fixa no diafragma (ligamento frenicopericardico) nas espécies em que o eixo cardíaco é mais obliquo. Embora o pericárdio se deforme para acomodar as mudanças de formato do coração durante o ciclo cardíaco, seu componente fibroso previne qualquer distensão significativa em curto prazo. O coração (dentro do pericárdio) está incluso no mediastino, a divisória que separa as cavidades pleurais direita e esquerda. É cônico e posicionado assimetricamente dentro do tórax, sendo que a maior parte permanece à esquerda do plano mediano. A base é dorsal e alcança aproximadamente o plano horizontal (dorsal) que divide a primeira costela; em algumas espécies (como no cão), ela é inclinada em graus variados, voltando-se craniodorsalmente. O ápice é posicionado perto do esterno, oposto à sexta cartilagem costal. Anatomia geral do coração A base do coração é formada pela parede arterial delgada claramente separada dos ventrículos por um sulco coronário circundante que contem os principais troncos de vasos coronários dentro de um revestimento de tecido adiposo. Os átrios direito e esquerdo combinam- se em uma formação contínua em forma de U que envolve a origem da aorta; a formação é interrompida cranialmente e à esquerda, onde cada átrio termina em um fundo cego livre, as aurículas, que se sobrepõem à origem do tronco pulmonar. Os ventrículos representam uma parte muito maior do coração, que também é muito mais firme devido à maior espessura das paredes. Embora não aparente externamente, um esqueleto fibroso separa a massa muscular atrial da ventricular. Átrio direito Essa câmara encontra-se essencialmente à direita, ainda que o fundo de saco auricular se estenda pela face cranial do tronco pulmonar e apareça do lado esquerdo. A maior parte forma uma câmara (seio venoso) na qual as principais veias desembocam. O interior do átrio é liso entre as entradas das veias, que não são bloqueadas por valvas. Em contraste, o interior da aurícula é irregular devido a presença de uma série de cristas (músculos pectinados) que se ramificam da crista terminal, a qual marca o limite entre a aurícula e o compartimento principal. Átrio esquerdo O átrio esquerdo, com forma geralmente similar, recebe as veias pulmonares, que desembocam, separadamente ou em grupo, em dois ou três locais: cranialmente à esquerda, cranialmente à direita e, em algumas espécies, caudalmente. Ventrículo direito Essa câmara, em forma de meia-lua na secção transversal, envolve as faces direita e cranial do ventrículo esquerdo. Ela é incompletamente dividida por um feixe muscular robusto (crista supraventricular) que se projeta do teto cranial para o óstio atrioventricular. A valva atrioventricular direita (tricúspide) é composta por três abas ou cúspides que se fixam ao anel fibroso que circunda a abertura. Cada cúspide é ligada por cordões fibrosos (cordas tendíneas) que descem dentro da cavidade ventricular para se inserirem em projeções das paredes (músculos papilares). Esse arranjo previne a eversão das cúspides para o átrio durante a contração ventricular (sístole). O lume do ventrículo é atravessado por uma fina faixa muscular (trabécula septomarginal) que segue do septo à parede externa. Isso fornece um atalho para um ramo do tecido condutor, garantindo assim uma contração mais simultânea de todas as partes do ventrículo. A abertura para o tronco pulmonar está fechada durante o relaxamento ventricular (diástole) pelo refluxo do sangue, forçando juntamente as três válvulas semilunares que surgem ao redor de sua margem e constituem a valva pulmonar. Ventrículo esquerdo Essa câmara possui uma secção circular e forma o ápice do coração como um todo. Exceto em direção ao ápice, sua parede é muito mais grossa do que a do ventrículo direito, o que está em conformidade com a maior quantidade de trabalho que deve executar. A valva atrioventricular direita (bicúspide ou mitral) que fecha o óstio ventricular geralmente possui apenas duas grandes cúspides, mas caso contrário é comparável à valva do lado direito. A saída para a aorta possui uma posição mais central dentro do coração. A valva da aorta, geralmente semelhante à valva do tronco pulmonar, apresenta orientação diferente de suas válvulas semilunares. Os espessamentos nodulares das margens livres das válvulas aórticas são claramente visíveis. Estrutura do coração A camada muscular média espessa da parede (miocárdio) é composta por músculo cardíaco, que é uma variedade de músculo estriado peculiar a esse órgão. É revestida externamente pelo pericárdio visceral (epicárdio) e internamente pelo endocárdio, uma fina camada de superfície lisa contínua ao revestimento dos vasos sanguíneos. As partes atriais e ventriculares do músculo são separadas por um esqueleto fibroso que é principalmente formado pela associação dos anéis que circundam os quatro orifícios do coração. O músculo atrial é realmente fino, a parede auricular pode ser translúcida entre as cristas pectinadas. É organizado em feixes superficiais e profundos. Foi postulado que os fascículos que circundam as várias aberturas venosas, tanto sistêmicas quanto pulmonares, atuam como valvas que se opõem ao refluxo de sangue para as veias durante a sístole atrial. O músculo ventricular, muito mais espesso, também está organizado em feixes superficiais e profundos. 60% do volume total de sangue do corpo humano passa pelo coração a cada minuto; em cães e equinos, esses valores correspondem a, respectivamente, 80% e 100%. Grande e pequena circulação A pequena circulação, ou circulação pulmonar, é a que o sangue sai do coração (pobre em oxigênio), vai até o pulmão, e retorna ao coração novamente (agora rico em oxigênio), realizandoa oxigenação do sangue venoso. O caminho percorrido pelo sangue é: ventrículo direito, artéria pulmonar, pulmões, veias pulmonares e átrio esquerdo. A grande circulação, ou circulação sistêmica, é a responsável por levar sangue rico em oxigênio aos demais órgãos e tecidos do corpo. Ela se inicia no coração (sangue rico em oxigênio), percorre o corpo, e retorna ao coração (sangue agora pobre em oxigênio). O caminho percorrido é: ventrículo esquerdo, aorta, corpo, veias cavas e átrio direito. Ritmo Cardíaco O ritmo inerente do coração é controlado por um marca-passo, um pequeno e ricamente inervado nodo sinoatrial de fibras cardíacas modificadas que fornece o tecido condutor. Esse nodo, que não é aparente a olho nu, localiza-se sob o epicárdio da parede do átrio direito, ventral à abertura da veia cava cranial. Em cada ciclo cardíaco, uma onda excitatória, que surge no nodo sinoatrial e se espalha por todo o músculo atrial, atinge o nodo atrioventricular. Em ungulados, o tecido especializado de condução está presente sob o endocárdio do átrio, principalmente sobre o músculo pectinado. Do nodo atrioventricular, o estímulo segue rapidamente por todo o miocárdio ventricular via fascículo atrioventricular, composto principalmente por fibras de Purkinje, fibras cardíacas modificadas que conduzem o impulso muito mais rapidamente do que as fibras comuns. O nodo atrioventricular é constituído por fibras nodais modificadas e fibras de Purkinje, e está localizado dentro do septo interatrial, cranial à abertura do seio coronário; é ricamente inervado. Cada ramo continua ventralmente próximo ao endocárdio e se ramifica para atingir todas as partes do músculo cardíaco; parte do ramo direito dirige-se para a parede externa por meio da trabécula septomarginal. Vasos e nervos cardíacos O suprimento sanguíneo do coração é conduzido pelas artérias coronárias que se originam de dois dos três seios sobre as válvulas semilunares no início da aorta. A artéria coronária esquerda é geralmente maior. Ela surge acima da válvula caudal esquerda e atinge o sulco coronário, passando entre a aurícula esquerda e o tronco pulmonar; e divide-se imediatamente. O ramo interventricular esquerdo (paraconal) segue o sulco de mesmo nome em direção ao ápice do coração. A artéria coronária direita surge acima da válvula cranial e atinge o sulco coronário após passar entre a aurícula direita e o tronco pulmonar. Ela segue um trajeto circunflexo que termina em direção à origem do sulco subsinuoso ou se curva e segue por esse sulco nas espécies em que a artéria coronária esquerda tem distribuição restrita. As anastomoses não são formadas entre os ramos principais das artérias coronárias, mas são numerosas entre os ramos menores. Mesmo assim, o fechamento repentino de um desses pequenos vasos usualmente pode não ser compensado, levando a um infarto local do músculo cardíaco. O sangue retorna ao coração principalmente por meio da veia cardíaca magna, que se abre separadamente no átrio direito via seio coronário. Anatomia funcional do coração A contração coordenada é essencial para um bombeamento eficiente; a contração assincrônica dos fascículos musculares (fibrilação) é ineficaz e rapidamente fatal quando envolve o músculo ventricular. O nodo sinoatrial é o marca-passo pelo qual a onda de excitação normalmente se espalha para todas as partes do músculo; ele possui a maior taxa de atividade espontânea quando desprovido de estímulos externos, mas em circunstâncias normais sua descarga é determinada pelo delicado equilíbrio entre a aceleração simpática e a desaceleração vagal. A onda de excitação que se espalha do nodo sinoatrial por meio do músculo atrial rapidamente atinge o nodo atrioventricular. Este não responde imediatamente, e o pequeno atraso permite a conclusão da contração atrial. O impulso então se espalha para o músculo ventricular pelo tecido condutor atrioventricular. Embora a contração ventricular seja quase sincrônica, a camada subendocárdica, que inclui os músculos papilares, ganha uma pequena vantagem. O fluxo sanguíneo está relacionado a essas atividades. O sangue entra no átrio ao mesmo tempo que a pressão dentro das veias excede a de dentro do coração. Muitos fatores de magnitude incerta e variável contribuem para a pressão sanguínea venosa. A força exercida contra a corrente é a soma das seguintes forças: pressão residual transferida ao sangue pela contração ventricular; força exercida pelos músculos, pela atividade visceral e pela pulsação arterial; e contração do diafragma (também chamada de bomba abdominal) expulsando o sangue da veia cava caudal e de suas grandes tributárias dentro do abdome. A força a favor da corrente oscila entre um efeito de aspiração negativa (fornecido pela expansão torácica e pelo relaxamento atrial) e uma pressão positiva desenvolvida na sístole atrial. Uma pressão lateral pode ser exercida pela contração da camada muscular das grandes veias. Muito sangue flui diretamente para dentro dos ventrículos através do óstio atrioventricular aberto, e apenas um efeito complementar é exercido pela contração atrial, que por sua vez coincide com o último estágio do relaxamento ventricular. Quando o átrio contrai, algum sangue pode refluir para as veias (apesar do suposto mecanismo de valvas); um pulso jugular, mais notado em bovinos, pode ser uma evidência visível desse fato. As valvas do tronco pulmonar e da aorta estão fechadas durante o relaxamento ventricular quando a pressão arterial excede aquela dentro dessas câmaras. A contração ventricular fecha as valvas atrioventriculares; a eversão das cúspides para dentro do átrio é prevenida pela contração oportuna dos músculos papilares. Conforme a contração se desenvolve, o sangue força as valvas arteriais a se abrirem, e as artérias condutoras são expandidas por essa repentina quantidade de sangue que entra. Os dois ventrículos não contraem identicamente. O lume ventricular direito é comprimido em uma ação de fole na qual a parede externa é direcionada ao septo. O ventrículo esquerdo mais cilíndrico contrai radialmente e em seu comprimento. O fechamento das valvas cardíacas produz distintos sons que são audíveis na auscultação. Suas características fornecem informações valiosas sobre a condição das valvas. Devido à excentricidade da condução dos sons por tecidos de diferentes densidades, as projeções das valvas cardíacas na parede torácica não correspondem necessariamente aos pontos (ponto máximo) onde os sons são mais claramente ouvidos. Como orientação geral, se as variações entre as espécies e raças bem como outros fatores não forem considerados, pode-se dizer que a valva do tronco pulmonar, da aorta e atrioventricular esquerda são mais bem auscultadas sobre a terceira, quarta e quinta costelas do lado esquerdo, e a valva atrioventricular direita é mais bem auscultada sobre a quarta costela do lado direito. As valvas arteriais são um pouco mais dorsais do que as valvas atrioventriculares, embora a inclinação do coração seja claramente relevante para esse detalhe. A percussão também é utilizada como meio de avaliação do tamanho do coração. A qualidade da macicez cardíaca contrasta com o alto estalido obtido quando a percussão é feita sobre os pulmões. O limite da área cardíaca não é precisamente definido pois a espessura do tecido pulmonar que cobre o coração varia em espessura próximo à incisura cardíaca.