Buscar

O Evangelho de São João

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 124 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 124 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 124 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O evanpelho de 
SAO JOÃO 
, 
CADERNOS DE ESTUDO BIBLICO 
O evangelho de 
SÁOJOÁO 
Com introdução, comentários e notas de 
Scott Hahn e Curtis Mitch 
e questões para estudo de 
Dennis Walters 
Tradução de Giuliano Bonesso 
ECCLESIAE 
O evangelho de São João: Cadernos de estudo bíblico 
1 ªedição - julho de 2015 - CEDET 
Título original: Catholic Study Bible: The Gospel of John - © Ignatius Press. 
Os direitos desta edição pertencem ao 
CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico 
Rua Ângelo Vicentin, 70 CEP: 13084-060 - Campinas - SP 
Telefone: 19-3249-0580 
e-mail: livros@cedet.com.br 
Editor: 
Diogo Chiuso 
Editor-assistente: 
Thomaz Perroni 
Tradução: 
Giuliano Bonesso 
Revisão: 
Thomaz Perroni 
Editoração & Capa: 
Renan Santos 
Conselho Editorial: 
Adelice Godoy 
César Kyn d'Ávila 
Diogo Chiuso 
Silvio Grimaldo de Camargo 
� ECCLESIAE - www.ecclesiae.com.br 
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio 
ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio. 
ÍNDICE 
INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO • 7 
Inspiração e inerrân cia bíblica • 8 
Auto ridade bíblica • 9 
Os sen tidos da Sagrada Escritura • lo 
Critérios p a ra a in terp re tação da Bíblia • l 3 
Usa ndo este estudo • l 5 
Colo ca ndo tudo em p e rsp e c tiva • l 7 
Uma n o ta final • l 7 
INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE JOÃO • 19 
Auto ria • l 9 
Da ta • 20 
Destinatários e p ropósitos • 20 
Temática • 2 l 
ESQUEMA DO EVANGELHO DE JOÃO • 2 3 
O EVANGELHO DE JOÃO • 2 5 
Estudo da palavra: Palavra • 26 
Mapa: Bat i smo e t e n tação • 3 l 
Estudo da palavra: S i n a i s • 3 3 
Mapa: A reg ião d e J o ão B at i s t a • 3 9 
Ensaio sobre um tópico: A " ho ra" de Je sus• 43 
Estudo da palavra: C o m e r • 5 3 
Ensaio sobre um tópico: Quando Jesus ce l ebrou a Úl t ima Ce ia ? • 80 
Estudo da palavra: Advo gado • 8 5 
Estudo da palavra: G lo r i fi c a r • 9 2 
Mapa: D o m í n i o ro m a no so b a Pales t i n a n a é poca de Cr i s to • l oo 
Quadro: Os s e t e " Eu s o u" d e Je su s • 106 
QUESTÕES PARA ESTUDO • 107 
INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO 
vocÊ ESTÁ SE APROXIMANDO da "palavra de Deus". Esse é o título mais freqüente­
mente atribuído à Bíblia pelos cristãos e é uma expressão rica em significado. Esse é 
também o título atribuído à segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Deus Filho 
- Jesus Cristo, que se encarnou para a nossa salvação "e é chamado pelo nome de 
Palavra de Deus" (Ap 19, 13; cf. Jo 1, 14).1 
A palavra de Deus é a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus é Jesus. Essa associa­
ção sutil entre a palavra escrita de Deus e sua Palavra eterna é intencional e presente 
na tradição da Igreja desde a primeira geração de cristãos. "Toda a Escritura divina 
é um único livro, e este livro é Cristo, 'já que toda Escritura divina fala de Cristo, 
e toda Escritura divina se cumpre em Cristo'2" (CIC 134). Isto não significa que a 
Escritura é divina da mesma maneira que Jesus é divino. Ela é, antes, divinamente 
inspirada e, como tal, é única na história da literatura universal, assim como a En­
carnação da Palavra eterna é única na história da humanidade. 
Podemos dizer ainda que a palavra inspirada assemelha-se à Palavra encarnada 
em muitos e importantes aspectos. Jesus Cristo é a Palavra de Deus encarnada; em 
sua humanidade, Ele é como nós em todas as coisas, exceto no pecado. A Bíblia, 
enquanto obra escrita pelo homem, é como qualquer outro livro, exceto pelo fato de 
não conter erros. Tanto Cristo quanto a Sagrada Escritura nos são dados "para nossa 
salvação" ,3 diz o Concílio Vaticano II, e ambos nos fornecem a revelação definitiva 
de Deus. Portanto, nós não podemos conceber um sem o outro - a Bíblia sem Je­
sus, ou Jesus sem a Bíblia. Um é a chave interpretativa do outro. É por que Cristo 
é o sujeito e o assunto de toda a Escritura que São Jerônimo afirma que "ignorar as 
Escrituras é ignorar a Cristo"4 (CIC 133). 
Ao aproximarmo-nos da Bíblia, então, nós nos aproximamos de Jesus, a Palavra 
de Deus; e para que o encontremos de fato, devemos abordá-lo através de um estudo 
devoto e piedoso da palavra inspirada de Deus, a Sagrada Escritura. 
Jo l, 14: "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, 
cheio de amor e fidelidade". A tradução brasileira dos textos bíblicos utilizada ao longo de todo este estudo é a da Bíblia 
da CNBB (NE). 
2 Hugo de São Vítor, De arca Noe, 2, 8: PL 176, 642; cf. ibid., 2, 9: PL 176, 642-643. 
3 Dei Verbum, 11. 
4 Dei Verbum, 25; cf. S. Jerônimo, Commentarii in !saiam, Prologus: CCL 73, 1 (PL 24, 17). 
7 
Cadernos de estudo bíblico 
INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA BÍBLICA5 
A Igreja Católica faz afirmações admiráveis em relação à Bíblia. É essencial para 
nós, se quisermos ler a Escritura e aplicá-la à nossa vida do modo como a Igreja pre­
tende que o façamos, que reconheçamos essas afirmações e as admitamos. Não basta 
que simplesmente concordemos, acenando positivamente com a cabeça, quando 
lemos as palavras "inspiradà', "única" ou "inerrante". É preciso que saibamos o que 
a Igreja quer dizer com esses termos e, depois, nos é necessário tornar pessoal essa 
compreensão. Afinal de contas, a forma como cremos na Bíblia influenciará inevita­
velmente o modo como vamos lê-la. E o modo como lemos a Bíblia, por sua vez, é 
o que determina o que nós "tiramos" de suas páginas sagradas. 
Esses princípios são válidos independentemente do que estamos lendo - uma 
reportagem de jornal, um aviso de "procura-se", uma propaganda, um cheque, uma 
prescrição médica, uma nota de despejo . . . O modo como lemos essas coisas (ou até, 
se as lemos ou não) depende muito de nossas noções pré-conceituadas a respeito 
da autoridade e confiabilidade de suas fontes - e também do potencial que têm de 
afetar diretamente nossa vida. Em alguns casos, a má interpretação da autoridade 
de um documento pode levar a conseqüências terríveis; noutros casos, pode nos im­
pedir de desfrutar certas recompensas das quais temos o direito. No caso da Bíblia, 
tanto as conseqüências quanto as recompensas envolvidas têm valor definitivo. 
O que quer dizer a Igreja, então, ao endossar as palavras de São Paulo - "Toda 
Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3, 16)? Uma vez que, nessa passagem, o termo 
"inspirada" pode ser entendido como "soprada por Deus", segue-se então que Deus 
soprou sua palavra na Escritura assim como você e eu sopramos ar quando falamos. 
Isso significa que Deus é o autor primordial da Bíblia. Certamente Ele se serviu tam-
5 Na lingu�gem cotidiana, o termo "errante" costuma significar "andar a esmo", "andar sem rumo" ou "vaguear"; 
"inerrante", nesse sentido, se diria de algo que "anda com propósito", "com destino cerro". No entanto, o termo é 
empregado aqui no sentido estrito de "sem erros'', mesmo, ou "que não erra". Seria possível dizer "infalível", porém 
o autor faz uma clara distinção entre esses dois termos - "inerrante" e "infalível" - quando diz, mais à frente, que "o 
mistério da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade" . A distinção esclarece que o 
autor está se referindo à escrita da Bíblia como inerrante, enquanto que se refere à interpretaçâo do que foi escrito como 
infalível- dois adjetivos distintos para duas etapas distintas da relação com o texto sagrado: a escrita e a interpretação 
da escrita. Ambas são feitas pelo próprio Espírito Santo e, portanto, não podem falsear. 
Na Carta Encíclica Divino Afflante Spiritu, de setembro de 1943, o Papa Pio XII diz da doutrina da inerrância bíblica 
o seguinte: "O primeiro e maior cuidado de Leâo X!!! foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e dejêndê-la 
dos ataques contrários. Por isso em graves termos declarou que nâo há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo, falando 
de coisas físicas, 'se atém ao que aparece aos sentidos'. como escreveu o Angélico [Sta. Tomás de Aquino],exprimindo-se 'ou de 
modo metaforico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação 
ordinária mesmo pelos maiores sábios'. De fato, 'não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por 
eles falava - são palavras de Sto. Agostinho -, ensinar aos homens essas coisas - isto é, a íntima constituiçâo do mundo visível 
- que nada importam para a salvarão'. [ ... ] Nem pode ser taxado de erro o escritor sagrado, 'se aos copistas escaparam algumas 
inexatidões na transcrição dos códices' ou 'se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo'. Enfim, é absolutamente vedado 'coarctar 
a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou'. pois que a divina 
inspiração 'de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma necessidade com que Deus, suma verdade, 
não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja" (NE). 
8 
O evangelho de São joão 
bém de autores humanos para essa tarefa, mas não é que Ele simplesmente os assistiu 
enquanto escreviam, ou então aprovou posteriormente aquilo que tinham escrito. 
Deus Espírito Santo é essencialmente o autor da Escritura, enquanto que os escritores 
humanos o são instrumentalmente. Esses autores humanos escreveram francamente 
tudo aquilo - e somente aquilo - que Deus queria: é a palavra de Deus nas exatas 
palavras de Deus. Esse milagre da dupla-autoria se estende a toda a Escritura e a 
cada uma de suas partes, de modo que tudo o que os seus autores humanos afirmam, 
Deus também afirma através de suas palavras. 
O princípio da inerrância bíblica decorre logicamente do princípio de sua divina­
autoria. Afinal de contas, Deus não mente, e nem erra. Sendo a Bíblia divinamente 
inspirada, nela não pode haver erro algum quanto àquilo que seus autores, tanto o 
divino quanto os humanos, afirmam ser verdadeiro. Isso quer dizer que o mistério 
da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade 
- a saber, o de que é garantido que a Igreja sempre nos ensinará a verdade em tudo 
aquilo que disser respeito à fé e à moral. É claro que o manto da inerrância sempre 
cobrirá também o campo das questões de fé e moral, mas ele se estende para mais 
longe ainda, no sentido de nos assegurar de que todos os fatos e eventos da histó­
ria de nossa salvação estão apresentados de modo exato na Escritura. A inerrância 
bíblica é a nossa garantia de que as palavras e os feitos de Deus narrados na Bíblia 
são verdadeiros e lá estão unificados, declarando numa só voz as maravilhas de seu 
amor salvífico. 
A garantia da inerrância bíblica não quer dizer, no entanto, que a Bíblia é uma 
enciclopédia universal, que serve a todos os propósitos e cobre todos os campos 
de estudo. A Bíblia não é, por exemplo, um compêndio das ciências empíricas - e 
não deve ser tratada como tal. Quando os autores bíblicos relatam fatos de ordem 
natural, podemos ter a certeza de que estão falando de modo puramente descritivo 
e "fenomenológico", de acordo com a maneira como as coisas se apresentaram aos 
seus sentidos. 
AUTORIDADE BÍBLICA 
Implícito nessas doutrinas6 está o desejo de Deus de se fazer conhecido por todo 
o mundo e de estabelecer uma relação de amor com cada homem, mulher e criança 
que Ele criou. Deus nos deu a Escritura não apenas para nos informar ou nos moti­
var; mais do que tudo, Ele quer nos salvar. É este o principal propósito que perpassa 
cada página da Bíblia - e cada palavra sua, na verdade. 
No intuito de se revelar, Deus usa aquilo que os teólogos chamam de "acomoda-
6 As doutrinas da inspiração, da inerrância e da dupla-autoria da Bíblia (NE). 
9 
Cadernos de estudo bíblico 
ção". À5 vezes Ele se inclina para se comunicar conosco por "condescendência" - ou 
seja, Ele fala à maneira dos homens, como se Ele tivesse as mesmas paixões e fraque­
zas que nós temos (por exemplo, quando Deus diz que "se arrependeu" de ter feito 
o homem sobre a terra, em Gn 6, 6). Noutras vezes, Ele se comunica conosco por 
"elevação" - ou seja, dotando as palavras humanas de um poder divino (por exem­
plo, através dos profetas). Os inúmeros exemplos de acomodação divina na Bíblia 
são a expressão do modo sábio e paternal de proceder de Deus. Com efeito, um pai 
sensitivo fala com seus filhos tanto por condescendência, usando um palavreado in­
fantil, ou por elevação, trazendo o entendimento do filho a um nível mais maduro. 
A palavra de Deus é, portanto, salvífica, paternal e pessoal. Justamente porque fala 
diretamente conosco, nós nunca devemos ser indiferentes ao seu conteúdo; afinal de 
contas, a palavra de Deus é, ao mesmo tempo, objeto, causa e sustento da nossa fé. 
Ela é, na verdade, um teste para a nossa fé, uma vez que nós só vemos na Escritura 
aquilo que nossa fé nos faz ver. Se nosso modo de crer é o mesmo da Igreja, vemos na 
Escritura a revelação salvífica e inerrante de Deus, feita por Ele mesmo. Se cremos de 
modo distinto, vemos um livro totalmente distinto. 
Esse teste é válido e aplicável não só aos fiéis leigos, como também aos teólogos 
da Igreja e até aos seus membros da mais alta hierarquia - inclusive para o seu Ma­
gistério. Recentemente, o Concílio Vaticano II enfatizou que a Escritura deve ser 
"como que a alma da sagrada teologia''. 7 O Papa Emérito Bento XVI, ainda enquan­
to Cardeal Ratzinger, ecoou esse ensinamento com as próprias palavras, insistindo 
que "os teólogos normativos são os autores da Sagrada Escritura" (grifo nosso). Ele nos 
lembra que a Escritura e o ensinamento dogmático da Igreja estão entrelaçados de 
forma tão firme ao ponto de serem inseparáveis: "O dogma é, por definição, nada 
mais que a interpretação da Escritura". Os dogmas já definidos de nossa fé, portan­
to, guardam em si a interpretação infalível da Igreja daquilo que está na Escritura, e 
a teologia é uma reflexão posterior sobre eles. 
OS SENTIDOS DA SAGRADA ESCRITURA 
Como a Bíblia é, ao mesmo tempo, de autoria divina e humana, é necessário, 
para lê-la coerentemente, que dominemos um tipo de leitura distinto daquele ao 
qual estamos acostumados. Primeiramente, temos que lê-la de acordo com seu sen­
tido literal, ou seja, do mesmo modo como lemos qualquer outro escrito humano. 
Neste estágio inicial, devemos nos empenhar na descoberta do significado originário 
que tinham as palavras e expressões usadas pelos escritores bíblicos à época em que 
primeiramente foram escritas e recebidas por seus contemporâneos. Isso quer dizer, 
entre outras coisas, que não devemos interpretar tudo que lemos "literalmente", 
7 Dei Verbum, 24. 
IO 
O evangelho de São joão 
como se a Escritura nunca falasse de forma figurada ou simbólica (porque freqüen­
temente fala!). Pelo contrário: a lemos de acordo com as regras de escrita que go­
vernam seus diferentes gêneros literários, que variam dependendo do que estamos 
lendo - se é uma narrativa, um poema, uma carta, uma parábola ou uma visão 
apocalíptica. A Igreja nos exorta a ler os livros sagrados dessa maneira a fim de nos 
fazer compreender, com segurança, o que os autores bíblicos estavam se esforçando 
para explicar ao povo de Deus a cada texto. 
O sentido literal, no entanto, não é o único da Escritura; nós interpretamos 
suas sagradas páginas também de acordo com seus sentidos espirituais. Dessa for­
ma, buscamos compreender o que o Espírito Santo está tentando nos dizer para 
além daquilo que afirmaram conscientemente os escritores humanos. Enquanto 
que o sentido literal da Escritura descreve realidades históricas - fatos, ensinamen­
tos, eventos -, os sentidos espirituais desvelam os profundos mistérios abrigados 
através das realidades históricas. Os sentidos espirituais são para o literal o que a 
alma é a para o corpo. Você é capaz de distingui-los; porém, se tentar separá-los, a 
conseqüência imediata é fatal. São Paulo foi o primeiro a insistir nisso e já alertava 
para as conseqüências: "Deus[ ... ] nos tornou capazes de sermos ministros de uma 
aliança nova, não aliança da letra, mas do espírito; pois a letra mata, e o Espírito é 
que dá a vidà' (2Co 3, 5-6). 
A tradição católica reconhece três sentidos espirituais que se erguem sobre o alicer­
ce do sentido literal da Escritura (cf. CIC 115): 
Alegórico. O primeiro é o alegórico, que revela o significado espiritual e profético da 
história da Bíblia. As interpretações alegóricas expõem como as personagens, os eventos 
e as leis da Escritura podem apontar para além deles mesmos, em direção ou a grandes 
mistérios ainda por vir (como no caso do Antigo Testamento) , ou aos frutos de mistérios 
já revelados (como no Novo Testamento) . Os cristãos freqüentemente lêem o Antigo 
Testamento dessa forma para descobrir de que modo o mistério da Nova Aliança do 
Cristo já estava contido no da Antiga - e também de que modo a Antiga Aliança foi 
manifestada plena e finalmente na Nova. A compreensão alegórica é também latente no 
Novo Testamento, especialmente no relato da vida e da obra de Jesus nos evangelhos. 
Sendo Cristo a cabeça da Igreja e a fonte de sua vida espiritual, tudo aquilo que foi reali­
zado por Ele enquanto viveu no mundo antecipa aquilo que Ele continua realizando em 
seus membros através da Graça. O sentido alegórico fortalece a virtude da fé. 
Moral. O segundo sentido espiritual da Escritura é o moral, ou tropológico, que revela 
como as ações do povo de Deus, no Antigo Testamento, e a vida de Jesus, no Novo, nos 
incitam a criar hábitos virtuosos em nossa própria vida. Nesse sentido, da Escritura se 
tiram alertas contra vícios e pecados, assim como nela se encontra a inspiração para se 
II 
Cadernos de estudo bíblico 
perseguir a pureza e a santidade. O sentido moral fortalece a virtude da caridade . 
Anagógico. O terceiro sentido espiritual é o anagógico , que ascende-nos à glória celes­
te: mostra-nos como um incontável número de eventos contidos na Bíblia prefiguram 
nossa união final com Deus na eternidade; revela-nos como as coisas visíveis na terra são 
imagens das coisas invisíveis do céu. O sentido anagógico leva-nos a contemplar nosso 
destino e, portanto, é próprio para o fortalecimento da virtude da esperança. 
Junto do sentido literal, esses sentidos espirituais extraem a totalidade daquilo 
que Deus quer nos dizer através de sua Palavra e, portanto, abarcam o que a antiga 
tradição chamava de "sentido total" da Sagrada Escritura. 
Tudo isso significa que os feitos e eventos narrados na Bíblia são dotados de um 
sentido que vai além do que é imediatamente aparente ao leitor. Em essência, esse 
sentido é Jesus Cristo e a salvação que, morrendo, Ele nos concedeu. Isso é correto 
sobretudo nos livros do Novo Testamento, que explicitamente proclamam Jesus; 
porém é também verdadeiro para o Antigo Testamento, que fala de Jesus de um 
modo mais camuflado e simbólico. Os autores humanos do Antigo Testamento nos 
revelaram tudo que lhes era possível revelar, mas eles não podiam, à distância em 
que estavam, ver claramente que forma tomariam os eventos futuros. Só o Espírito 
Santo, autor divino da Bíblia, podia predizer a obra salvífica do Cristo (e assim o 
fez), da primeira página do livro do Gênesis adiante. 
O Novo Testamento, portanto, não aboliu o Antigo. Ao contrário, o Novo cum­
priu o Antigo e, assim o fazendo, levantou o véu que mantinha escondida a face da 
noiva do Senhor. Uma vez removido o véu, vemos de súbito o mundo da Antiga 
Aliança cheio de esplendor. Água, fogo, nuvens, jardins, árvores, montanhas, pom­
bas, cordeiros - todas essas coisas são detalhes memoráveis na história e na poesia 
do povo de Israel. Mas agora, vistas à luz de Jesus Cristo, são muito mais que isso. 
Para o cristão que sabe ver, a água simboliza o poder salvífico do batismo; o fogo é 
o Espírito Santo; o cordeiro imaculado, o próprio Cristo crucificado; Jerusalém, a 
cidade da glória celestial. 
Essa leitura espiritual da Escritura não é novidade alguma. De fato, logo os pri­
meiros cristãos já liam a Bíblia dessa maneira. São Paulo descreve Adão como sendo 
um "tipo" que prefigurava Jesus Cristo (Rm 5, 14).8 Um "tipo" é algo, ou alguém, ou 
um lugar ou um evento - reais - do Antigo Testamento que prenuncia algo maior 
do Novo Testamento. É desse termo que vem a palavra "tipologia", referente ao es-
8 Rm 5, 14: "Ora, a morte reinou de Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não haviam pecado, cometendo uma 
transgressão igual à de Adão, o qual é figura daquele que devia vir" (grifo adicionado). As traduções deste trecho (não só as 
brasileiras) preferem o termo figura à palavra tipo, que aparece em algumas traduções inglesas. O termo latino encontrado 
na Vulgata é forma. Aqui, mantém-se o termo tipo pela associação imediata que se faz com o conceito de tipologia (NE). 
12 
O evangelho de São joão 
tudo de como o Antigo Testamento prefigura Cristo (CIC 128-130). Em outro tre­
cho, São Paulo retira significados mais profundos da história dos filhos de Abraão, 
declarando: "Isto foi dito em alegoria" (Gl 4, 24).9 Ele não está sugerindo que esses 
eventos distantes nunca aconteceram de fato; ele está dizendo que os eventos não só 
aconteceram mesmo como também significam algo maior ainda por vir. 
O Novo Testamento, depois, descreve o Tabernáculo da antiga Israel como sendo 
a "imitação e sombra das realidades celestes" (Hb 8, 5) e a Lei Mosaica como "uma 
sombra dos bens futuros" (Hb 10, 1). São Pedro, por sua vez, nota que Noé e sua 
família foram "salvos por meio da águà' que, de certo modo, "representava" o sacra­
mento do Batismo, "que agora salva vocês" (IPd 3, 20-10). É interessante saber que 
a palavra grega que aí foi traduzida para "representavà' é originalmente um termo 
que denota o cumprimento ou contrapartida de um antigo "tipo". 
Não é preciso, no entanto, que busquemos justificar a leitura espiritual da Bíblia 
considerando apenas os discípulos. Afinal de contas, o próprio Jesus lia o Antigo 
Testamento assim. Ele se referia a Jonas (Mt 12, 39), a Salomão (Mt 12, 42), ao 
Templo Oo 2, 19) e à serpente de bronze Qo 3, 14) como "sinais" que apontavam 
para ele mesmo. Vemos no evangelho de Lucas, quando Cristo conversa com os 
discípulos no caminho para Emaús, que "começando por Moisés e continuando por 
todos os Profetas, Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura 
que falavam a respeito dele" (Lc 24, 27). Foi precisamente essa interpretação espiri­
tual do Antigo Testamento que causou um profundo impacto nesses viajantes, antes 
tão desencorajados, e deixou seus corações "ardendo" dentro deles (Lc 24, 32). 
CRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 
Nós também devemos aprender a discernir o "sentido total" da Escritura e o 
modo como nele estão incluídos o sentido literal e os espirituais. Contudo, isso não 
significa que devemos "exagerar na interpretação", buscando significados na Bíblia 
que não estão de fato nela. A exegese espiritual não é um vôo irrestrito da imagina­
ção. Pelo contrário, é uma ciência sagrada que procede de acordo com certos prin­
cípios e permanece sob a responsabilidade da sagrada tradição, o Magistério, e da 
ampla comunidade de intérpretes bíblicos (tanto os vivos quanto os morros). 
Na busca do sentido total de um texto, sempre devemos evitar a forte tendência de 
"espiritualizá-lo demais", de modo que a verdade literal da Bíblia seja minimizada ou 
até negada. Santo Tomás de Aquino, muito ciente desse problema, asseverou: "Todos 
9 Gl 4, 24: "Simbolicamente isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças [ ... ]" (grifo adicionado). 
Novamente há divergências terminológicas: as traduções ora utilizam o termo simbolicamente, ora o termo alegoria. O termo 
latino encontrado na Vulgata é allegoriam. A tradução brasileira aqui escolhida, especificamente para este caso, é a da Bíblia 
de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002; assim, mantém-se o termo alegoria no sentido de concordar com a uniformidade 
terminológica dorestante da introdução (NE). 
Cadernos de �studo bíblico 
os sentidos da Sagrada Escritura devem estar fundados no literal" (cf. CIC 116).1º 
Por outro lado, jamais devemos confinar o significado de um texto em seu sentido 
literal, indicado pelo seu autor humano, como se o divino Autor não intencionasse 
que aquela passagem fosse lida à luz da vinda do Cristo. 
Felizmente, a Igreja nos deu diretrizes de estudo da Sagrada Escritura. O caráter 
único e a autoria divina da Bíblia nos clamam a lê-la "com o espírito" .11 O Concílio 
Vaticano II delineou de forma prática esse conselho direcionando-nos a ler a Escri­
tura de acordo com três critérios específicos: 
1 . Devemos "prestar muita atenção 'ao conteúdo e à unidade da Escritura inteirà" (CIC 1 12) ; 
2. Devemos "ler a Escritura dentro 'da Tradição viva da Igreja inteirà" (CIC 1 1 3) ; 
3 . Devemos "estar atento[s] 'à analogia da fé'" (CIC 1 1 4 ; cf. Rrn 1 2 , 6) . 
Esses critérios nos protegem de muitos perigos que iludem alguns leitores da 
Bíblia, do mais novo estudante ao mais prestigiado erudito. Ler a Escritura fora de 
contexto é uma tremenda armadilha, provavelmente a mais difícil de escapar. Num 
desenho animado memorável dos anos 50, um jovem garoto, debruçado sobre as 
páginas da Bíblia, dizia à sua irmã: "Não me perturbe agora; estou tentando achar 
um versículo da Escritura que fundamente meus preconceitos". Não há dúvida de 
que um texto bíblico, privado de seu contexto original, pode ser manipulado a dizer 
algo completamente diferente daquilo que seu autor realmente intencionava. 
Os critérios da Igreja nos guiam justamente porque definem em que consistem 
os "contextos" autênticos de cada passagem bíblica. O primeiro critério dirige-nos 
ao contexto literário de cada verso, no que se inclui não apenas as palavras e pará­
grafos que o compõem e o circundam, mas também todo o corpo de escritos do 
autor bíblico em questão e, ainda, toda a extensão dos escritos da Bíblia. O contexto 
literário completo de qualquer parte da Escritura inclui todo e qualquer texto desde o 
Gênesis até o Apocalipse - já que a Bíblia é um livro unificado, não uma coleção de 
livros separados. Quando a Igreja canonizou o livro do Apocalipse, por exemplo, ela 
reconheceu que ele seria incompreensível se lido separadamente do contexto mais 
amplo de toda a Bíblia. 
O segundo critério posiciona firmemente a Bíblia no contexto de uma comuni­
dade que valoriza sua "tradição vivà'. Tal comunidade é o Povo de Deus através dos 
séculos. Os cristãos viveram sua fé por bem mais que um milênio antes da invenção 
da imprensa. Por séculos, só alguns fiéis possuíam cópias dos evangelhos e, aliás, só 
poucas pessoas sabiam ler. Ainda assim, eles absorveram o evangelho - através dos 
1 O Sra. Tomá.< de Aquino, Summa lheowgica i, 1, 1 O, ad 1. 
11 Dei Verbum, 12. 
O evangelho de São joão 
sermões dos bispos e clérigos, através de oração e meditação, através da arte cristã, 
através das celebrações litúrgicas e através da tradição oral. Essas eram as expressões 
de uma "tradição viva", de uma cultura de viva fé que se estende da antiga Israel à 
Igreja contemporânea. Para os primeiros cristãos, o evangelho não podia ser enten­
dido à parte dessa tradição. Assim também é conosco. A reverência pela tradição 
da Igreja é o que nos protege de qualquer tipo de provincianismo cultural ou cro­
nológico, como alguns modismos acadêmicos que surgem, arrebatam uma geração 
inteira de intérpretes e logo são rejeitados pela próxima geração. 
O terceiro critério coloca a Escritura dentro do quadro da fé. Se cremos que a 
Escritura é divinamente inspirada, temos de crer também que ela é internamente 
consistente e coerente com todas as doutrinas nas quais os cristãos crêem. É impor­
tante relembrar que os dogmas da Igreja (como o da Presença Real, o do papado, 
o da Imaculada Conceição) não foram adicionados à Escritura; eles são, de fato, a 
interpretação infalível da Escritura feita pela Igreja. 
USANDO ESTE ESTUDO 
Este estudo foi projetado para conduzir o leitor pela Escritura dentro das di­
retrizes da Igreja - fidelidade ao cânon, à tradição e ao credo. Os princípios in­
terpretativos usados pela Igreja, portanto, é que deram forma unificada às partes 
componentes deste livro, de modo a fazer com que o estudo do leitor seja eficaz e 
recompensador tanto quanto possível. 
Introduções. Nós fizemos uma introdução ao texto bíblico que, na forma de ensaio, 
abarca as questões sobre sua autoria, a data de sua composição, seus objetivos e propó­
sitos originais e seus temas mais recorrentes . Esse conjunto de informações históricas 
ajuda o leitor a compreender e a se aproximar do texto nos seus próprios termos. 
Comentários. Os comentários feitos em toda página ajudam o estudante a ler a Escritu­
ra com conhecimento. De forma alguma eles esgotam os significados do texto sagrado, 
mas sempre providenciam um material informativo básico que auxilia o leitor a encon­
trar o sentido do que lê. Freqüentemente, esses comentários servem para deixar explícito 
aquilo que os escritores sagrados tomavam por implícito. Eles também trazem um gran­
de número de informações históricas, culturais, geográficas e teológicas pertinentes à 
narrativa inspirada - informações que podem ajudar o leitor a suprimir a distância entre 
o mundo bíblico e o seu próprio. 
Notas e referências . Junto do texto bíblico e de seus comentários, em cada página são 
listadas numerosas notas que fazem referência a outras passagens da Escritura relaciona­
das àquela que o leitor está estudando. Essas notas de acompanhamento são essenciais 
para todo e qualquer estudo sério. São também um ótimo meio de se ver como o con-
1 5 
Cadernos de estudo bíblico 
teúdo da Escritura "se encaixa" numa unidade providencial . Junto às notas e referências 
bíblicas, os comentários também apontam a determinados parágrafos do Catecismo da 
Igreja Católica (CIC) . Eles não são "provas doutrinais" e sim um auxílio para que a inter­
pretação da Bíblia por parte do estudante esteja de acordo com o pensamento da Igreja. 
Os parágrafos do Catecismo mencionados ou tratam diretamente de algum texto bíblico 
ou tratam, então, de um tema mais amplo da doutrina que lança uma luz essencial ao 
texto bíblico relacionado. 
Ensaios sobre tópicos, Estudos de palavras e Quadros. Esses recursos trazem ao leitor 
um entendimento mais profundo a respeito de determinados detalhes . Os ensaios sobre 
tópicos abordam grandes temas no sentido de explicá-los de modo mais minucioso e 
teológico do que o que se usa nos comentários gerais, relacionando-os com freqüência 
às doutrinas da Igreja. Os comentários, inclusive, são ocasionalmente complementados 
de um estudo de palavras que coloca o leitor em contato com as antigas linguagens da 
Escritura. Isso deveria ajudar o estudante a ;ipreciar e a entender melhor a terminologia 
que foi inspirada e que percorre todos os textos sagrados. Também neste livro estão in­
cluídos vários quadros que resumem muitas informações bíblicas "num piscar de olhos" . 
Ícone - Os seguintes ícones , intercalados ao longo dos comentários, correspondem cada 
qual a um dos três critérios de interpretação bíblica promulgados pela Igreja. Pequenas 
bolas pretas ( • ) indicam a que passagem (ou a que passagens) cada ícone se aplica. 
ITI Os comentários marcados pelo ícone do livro relacionam-se ao primeiro critério 
UU interpretativo, o do "conteúdo e unidade" da Escritura, a fim de que se torne ex­
plícito o modo como determinada passagem do Antigo Testamento ilumina os mistérios 
do Novo. Muitas das informações contidas nesses comentários explicam o contexto ori­
ginal das citações e indicam a maneira e o motivo pelo qual aquele trecho tem ligação 
direta com Cristo e com a Igreja. Por esses comentários, o leitor é capaz de desenvolver 
sua sensibilidade à beleza e à unidade do plano salvífico de Deus, que perpassa ambos os 
Testamentos. 
� Os comentários marcados pelo ícone da pomba relacionam-se ao segundo critério.. interpretativo e examinam as passagens em questão à luz da "tradição viva" da 
Igreja. Como o mesmo Espírito Santo foi quem inspirou os sentidos espirituais da Escri­
tura e é quem guia agora o Magistério que a interpreta, as informações contidas nesses 
comentários seguem essas duas vias da interpretação. Por um lado, referem-se aos ensi­
namentos doutrinais da Igreja da maneira como são apresentados por vários papas e 
concílios ecumênicos; por outro lado , eles expõem (e parafraseiam) as interpretações 
espirituais de vários Padres Antigos, Doutores da Igreja e santos. 
Os comentários marcados pelo ícone das chaves relacionam-se ao terceiro crité­
rio interpretativo, o da "analogia da fé" . Neles é possível decifrar como um mis-
r 6 
O evangelho de São joão 
tério da fé "desvendà' e explica outro. Esse tipo de comparação entre alguns pontos da 
fé cristã evidencia a coerência e unidade dos dogmas definidos, ou seja, da interpretação 
infalível da Escritura feita pela Igreja. 
COLOCANDO TUDO EM PERSPECTIVA 
Talvez tenhamos deixado por último o mais importante aspecto de todo este 
estudo: a vida interior individual do leitor. O que tiramos ou deixamos de tirar da 
Bíblia depende muito do modo como a abordamos. Se não mantivermos uma vida 
de oração consistente e disciplinada, jamais teremos a reverência, a profunda humil­
dade ou a graça necessária para ver a Escritura como ela de fato é. 
Você está se aproximando da "palavra de Deus". Mas, por milhares de anos - des­
de muito antes de tecer-lhe no ventre de sua mãe -, a Palavra de Deus se aproxima 
de você. 
UMA NOTA FINAL 
O livro que tem nas mãos é apenas uma pequena parte de um trabalho muito 
maior que ainda está em andamento. Guias de estudo como este estão sendo prepa­
rados para todos os livros da Bíblia e serão publicados gradualmente, à medida que 
forem sendo finalizados. Nosso maior objetivo é publicar um grande estudo bíblico 
que, num único volume, inclua o texto completo da Escritura junto de todos os 
comentários, quadros, notas, mapas e os outros recursos encontrados nas páginas 
seguintes. Enquanto isso não acontece, cada livro será publicado individualmente, 
na esperança de que o povo de Deus possa já se beneficiar deste trabalho antes mes­
mo que esteja completo. 
Aqui incluímos ainda uma longa lista de questões de estudo, ao final, para deixar 
este formato o mais útil possível, não apenas para o estudo individual, mas também 
para discussões em grupo. As questões foram projetadas para fazer o estudante tanto 
compreender quanto meditar a Bíblia, aplicando-a à própria vida. Rogamos a Deus 
para que faça bom uso dos seus e dos nossos esforços para renovar a face da terra! 
1 7 
INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE JOÃO 
AUTORIA 
Distinto dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, o evangelho de João não é 
exatamente anônimo. O autor discretamente se identifica como "o discípulo que 
Jesus mais amavà' (21, 20. 24) e afirma seu testemunho do ministério e da vida de 
Jesus Cristo (1, 14; 19, 35); entretanto, nunca é revelado o nome desse discípulo, que 
aparece em várias passagens desse evangelho (13, 23; 19, 26; 20, 2). 
A soma das evidências tanto na tradição como nos próprios textos sugere que o 
discípulo em questão é o próprio apóstolo João, um dos filhos de Zebedeu (Mt 4, 
21); várias considerações contribuem para essa conclusão. 
1 . O Discípulo Amado é claramente um Israelita, de conhecimento apurado dos costu­
mes e instituições bíblicas e da geografia palestina. 
2. O Discípulo Amado é um dos doze que estavam com Jesus na Santa Ceia ( 1 3 , 23 ; Me 
1 4, 1 7-25) e também com os apóstolos após sua Ressurreição. 
3. O adjetivo "amado" nos dá a entender que ele faz parte do círculo dos apóstolos mais 
próximos de Jesus: Pedro, Tiago e João. Apenas esses três, dos Doze Apóstolos, foram 
renomeados por Jesus na tradição do evangelho (Me 3, 1 6-17) e escolhidos para acom­
panhá-lo nos momentos mais essenciais de seu ministério (Me 5, 37; 9, 2; 1 4 , 33 ;) . Já 
que Pedro é claramente discriminado do Discípulo Amado (20, 2; 2 1 , 20) e Tiago foi 
martirizado muito cedo para ser considerado autor desse evangelho (At 1 2, 2) , João 
continua como o candidato mais provável. 
4 . A proximidade entre Pedro e o Discípulo Amado neste evangelho (20, 1 -9) se espelha 
à proximidade entre Pedro e João descrita por Lucas em seu evangelho (Lc 22 , 8; At 3 , 
1 ; 8 , 1 4) . 
5 . S ó uma testemunha ocular disporia de tamanha propriedade n a descrição dos deta­
lhes : ele escreve que as talhas de pedra foram repletas "até a borda" em Caná (2, 7) , que 
os pães multiplicados eram de "cevada" (6, 9) , e que o aroma do perfume usado para 
ungir Jesus "encheu" toda a casa ( 1 2, 3) . 
6. Quanto às evidências externas,Jrineu ( 1 80 d.C.) , Clemente de Alexandria (200 d.C.) 
e outros dos primeiros escritores cristãos testemunham unânimes que o apóstolo João é 
o Discípulo Amado que escreveu o quarto evangelho, provavelmente na cidade de Éfeso, 
na Ásia Menor. 
1 9 
Cadernos de estudo bíblico 
Embora a autoria de João seja contestada por muitos hoje em dia, nenhuma outra 
tentativa de identificar quem foi o Discípulo Amado alinha as evidências de modo 
tão claro e convincente quanto a tradicional. 
DATA 
Inúmeros estudiosos dos séculos XIX e XX afirmaram que o evangelho de João 
foi escrito no século II, por volta de 150 d.C., e até mais tarde, dependendo do 
estudo. Mas há evidências concretas que provam o contrário. Por exemplo, um frag­
mento do evangelho de João descoberto no Egito em 1935 foi datado de 120 d.C. 
ou mais cedo. O evangelho original pode ter sido escrito no mínimo numa data pró­
xima, mas provavelmente muito antes, considerando o tempo necessário para que 
o livro ganhasse popularidade e circulasse da Ásia Menor até a África. Outro exem­
plo está em escritos de Inácio de Antioquia, que parece aludir aos ensinamentos 
contidos no quarto evangelho numa série de cartas datadas de 107 d.C.. Esse fato 
torna possível que o evangelho de João tenha sido escrito em 100 d.C., pelo menos. 
Se foi escrito numa data anterior é uma questão a se debater. Alguns demonstraram 
que João escreveu seu evangelho aproximadamente no meio do primeiro século, até 
mesmo antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C.. Curiosamente, nada do con­
teúdo deste evangelho prescinde uma data posterior a essa, e a casual declaração em 
Jo 5, 2 de que "há'' (tempo presente) uma piscina próxima ao Portão das Ovelhas, 
em Jerusalém, concorre para a antiguidade dos escritos. Parece improvável que João 
tivesse descrito essa piscina como se estivesse intacta se, de fato, ela estivesse sob 
uma pilha de escombros. Por esse fato, é viável considerar que João tenha escrito seu 
evangelho por volta dos anos 60, muito embora a maioria dos estudiosos propenda 
para os anos 90. 
DESTINATÁRIOS E PROPÓSITOS 
O evangelho de João provavelmente foi escrito para judeus e cristãos judeus ao 
longo da região mediterrânea. Isto se deduz do nítido caráter judaico do livro e de 
suas numerosas alusões a símbolos bíblicos e litúrgicos associados a Israel (1, 1. 29. 
45. 51; 2, 21; 3, 14; 4, 10, etc.). Sua representação positiva dos samaritanos, descen­
dentes distantes dos israelitas, sugere que esse povo também fazia parte do "público­
alvo" de João (4, 39-42). Apesar de ter sido comum interpretar o evangelho de João 
no contexto da cultura grega, novos estudos - desde a descoberta dos Manuscritos 
do Mar Morto - trazem a atenção dos estudiosos de volta para o panorama judeu. 
Podemos dizer que há controvérsias na identificação dos destinatários do evangelho 
de João, mas o mesmo não se pode dizer do propósito de sua obra. João abertamente 
nos diz: "Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o 
Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome" (20, 31). 
Um segundo propósito, embora não declarado, parece ser o de preencher algumas 
lacunas deixadas por Mateus, Marcos e Lucas. Enquanto osevangelhos sinóticos se 
20 
O evangelho de São joão 
concentram no ministério de Jesus na Galiléia e mencionam apenas uma viagem a 
Jerusalém, João relata uma série de viagens de Jesus a Jerusalém e menciona apenas 
breves viagens para o norte - Galiléia e Samaria (1, 43; 4, 3-4; 11, 54; 21, 1). Pelos 
sinóticos Jesus começou seu ministério após o aprisionamento de João Batista, mas o 
quarto evangelho mostra que o ministério de Jesus já acontecia bem antes da prisão de 
João Batista (3, 24). Na passagem da Santa Ceia, João não narra, como nos sinóticos, 
as palavras e ações de Jesus na eucaristia, mas escolhe retomar em seu lugar o discur­
so do Pão da Vida, passagem em que Jesus promete pela primeira vez entregar-se ao 
mundo como alimento sacramental (6, 35-58). Por essas diferenças, muitos estudio­
sos, antigos e modernos, suspeitam que João conhecesse um ou mais dos evangelhos 
sinóticos. Se assim foi, é provável que ele quisesse dar aos leitores outras informações 
sobre a vida e os ensinamentos de Jesus que complementassem os outros evangelhos. 
TEMÁTICA 
O quarto evangelho é um livro magnífico por sua beleza e pela maestria com que 
foi concebido. A riqueza de suas expressões e imagens o elevou ao patamar dos mais 
célebres trabalhos da história do cristianismo. Por ser dedicado à acepção da iden­
tidade celestial e da missão de Jesus, o evangelho de João ficou conhecido como o 
"espiritual" na Igreja antiga. Talvez o tema mais importante em João, que em muitos 
aspectos é a chave mestra que descerra o evangelho como um todo, é o da revelação 
de Deus como família. Os termos familiares aparecem em quase todos os capítulos 
e explicam a vida interior de Deus e a nossa relação com Ele pela divina geração. 
A "divina Famílià' de Deus, revelada pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo é o mais 
excelso mistério do quarto evangelho. O Pai inicia a revelação ao enviar seu próprio 
Filho, Jesus Cristo, ao mundo como homem (1, 14; 16, 28). Por Ele aprendemos 
que o Pai ama o Filho (3, 35) alimenta-o com o cumprimento de sua vontade (4, 
34) e confia a ele as responsabilidades de julgar e dar a vida ao mundo (5, 22, 27). 
A divina unidade do Pai e do Filho não se assemelha a nada conhecido na Terra (1 O, 
40; 14, 11). Cristo, por sua vez, nos revela o coração do Pai (1, 18; 14, 9) ao imitar 
as ações do Pai (5, 19-21; 10, 25), dizer as palavras do Pai (8, 28; 12, 49) e retri­
buir o amor ao Pai(14, 31). A essência da divina filiação de Jesus é expressa por sua 
vida dedicada a agradar e honrar o Pai (8, 29. 49). Também o Espírito é enviado ao 
mundo pelo Pai e pelo Filho (14, 26; 15, 26). Sua missão é continuar o ministério 
de Jesus, sempre ensinado a verdade (14, 26), anunciando o que há de vir (16, 13) e 
preenchendo com sua presença o coração e a vida de quem crê ( 14, 17). 
A "família humanà' também tem papel importante no quarto evangelho. De 
fato, a mensagem do coração de Jesus é que os filhos dos homens são convidados a 
serem filhos de Deus (1, 12). Essa nova vida começa com um renascimento espiri­
tual pelo batismo (3, 5) e se mantém enquanto o Pai nos nutre com o alimento divi­
no (6, 32. 51; 7, 37-39), nos educa na verdade(8, 31-32; 16, 13) e nos protege dos 
perigos espirituais (17, 15).Cristo nos dá o modelo perfeito dessa filiação (13, 15), 
2 1 
Cadernos de estudo bíblico 
mostrando como louvar o Pai (4, 23-26), como cumprir seus mandamentos (15, 
10) e como amar nossos parentes espirituais (13, 34). Nós não ficamos órfãos (14, 
18) depois que o Cristo retornou ao Pai (20, 17) porque ele permanece dentro de 
nós e está em nós (14, 17-18. 23). Nossa completa união com a Trindade aguarda 
apenas a chegada de Jesus Cristo, que retornará na glória para conduzir os filhos de 
Deus para a casa de seu Pai Celestial (14, 2-3) . 
• 
22 
ESQUEMA DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO 
1. Prólogo (1, 1-15) 
1. Cristo, a Palavra eterna (1, 1-13) 
2. Cristo, a Palavra encarnada (1, 14-18) 
II. O Livro dos Sinais (1, 19-12, 50) 
1. O testemunho de João Batista e a convocação dos discípulos ( 1, 19-51) 
2. Os primeiros milagres do Ministério de Jesus (2, 1-4, 54) 
3. Cura no sábado (5, 1-47) 
4. O Pão da Vida (6, 1-71) 
5. A Festa das Tendas e os filhos de Abraão (7, 1-8, 59) 
6. A Luz do Mundo (9, 1-41) 
7. O Bom Pastor (10, 1-42) 
8. A Ressurreição de Lázaro (11,1-57) 
9. Entrada triunfal e rejeição de Jesus (12, 1-50) 
III. O Livro da Glória (13, 1-20, 31) 
1. O lava-pés (13, 1-30) 
2. O sermão da Última Ceia (13, 31-16, 33) 
3. A narrativa da Paixão (18, 1-18, 42) 
4. Ressurreição e aparições (20, 1-31) 
rv. Epílogo da Ressurreição (21, 1-25) 
1. A aparição final e o último milagre de Jesus (21, 1-14) 
2. Jesus questiona e ordena Pedro (21, 15-23) 
3. A Ascenção de Jesus e a propagação do evangelho (21, 24-25) 
O EVANGELHO DE 
,,,,, ,,,,, 
SAO JOAO 1 A Palavra se fez homem - 'No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, 
e a Palavra era Deus. 2No começo ela estava voltada para Deus. 3Tudo foi feito por meio dela, e, 
de tudo o que existe, i:iada foi feito sem ela. 4Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 
5Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la. 6Apareceu um homem enviado 
por Deus, que se chamava João. 7Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que 
todos acreditassem por meio dele. 8Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz.9A luz verdadeira, 
aquela que ilumina todo homem, estava chegando ao mundo. 10A Palavra estava no mundo, o mundo 
foi feito por meio dela, mas o mundo não a conheceu. "Ela veio para a sua casa, mas os seus não a 
receberam. 12Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que a receberam, 
isto é, àqueles que acreditam no seu nome. 13Estes não nasceram do sangue, nem do impulso da carne, 
nem do desejo do homem, mas nasceram de Deus. 14E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E 
nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade. 15João dava 
testemunho dele, proclamando: "Este é aquele, a respeito de quem eu falei: aquele homem que vem 
depois de mim passou na minha frente, porque existia antes de mim." 16Porque da sua plenitude todos 
nós recebemos, e um amor que corresponde ao seu amor. 17Porque a Lei foi dada por Moisés, mas o 
amor e a fidelidade vieram através de Jesus Cristo. 18Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus 
foi o Filho único, que está junto ao Pai .
. 
1, l:Gen l, I; ljo l, l;Ap 19, 13;Jo 17,5.·l,3:CI l, 16; 1Cor8,6;Hb l,2.·l,4:Jo5,26; 11.25; 14,6. l,5:Jo9,5; 12,46.· l,6:Mc 
l,4;Mr3, l;Lc3,2-3;Jo l, 19-23.· l,9: ljo2,8. l, 12:Gl3,26;Jo3, 18; 1Jo5, 13.•l,13:Jo3,5; IPd l,23;Tgl, 18; ljo3,9. · 1,14: 
Rm I, 3; GI 4, 4; Fp 2, 7; ITm 3, 16; Hb 2, 14; ljo 4, 2. · 1, 15: Jo I, 30. · 1, 16: CI 1, 19; 2, 9; Ef 1, 23; Rm 5. 21. 
COMENTÁRIOS 
1, 1-18: O prólogo, que funciona como 
uma abertura musical, introduz os principais 
temas do evangelho a serem desenvolvidos nos 
capítulos subsequentes: luz ( 1 , 4 ) , vida ( 1 , 4) , 
escuridão ( 1 , 5) , testemunho ( 1 , 7) , destino 
( 1 , 1 2) , glória ( 1 , 1 4) , verdade ( 1 , 1 7) . Essa 
rede de imagens e idéias é estruturada em vol­
ta de Jesus a Palavra, retratado como Criador 
e Redentor de todas as coisas . São encontradas 
passagens poéticas similares em Cl 1 , 1 5-20 e : 
Hb 1 , 1 -4 . 
• Esse verso de abertura em João é uma alusão 
direta ao verso de abertura da Bíblia. Como 
em Gn 1 , o evangelista dá atenção a 1 uz, tre­
vas , vida e a Palavra que fez tudo existir ( 1 , 
1 -5 ) . Está implícito que o universo , uma vez 
criado pela Palavra de Deus, está agora sendo 
renovado pela mesma Palavra de Deus encar­
nada, que é Jesus Cristo ( 1 , 1 4 ; Ap 2 1 , 1 -5 ; 
Catecismo da Igreja Católica [abrev. : CIC] 
24 1 -249) . 
"Estava junto de Deus": Distingue a 
Palavra do Pai . Eles não são a mesma pessoa, lJJ 1, 1: "No começo" - João situa a embora partilhem da mesma natureza na fa­
origem da Palavra na eternidade,onde mília da eterna divindade ( 1 7, 25-26; CIC 
Deus Filho estava com Deus Pai antes que o . 254-256) . 
mundo existisse ( 1 7, 5) . "Era Deus": Ou, "era divinà' . Essa é a 
primeira e mais clara afirmação no quarto 
Cadernos de estudo bíblico 
ESTUDO DA PALAVRA: PALAVRA ÚO 1 , 1) 
Logos (grego): "palavrà', "verbo", "afirmação"ou 
"fàlà'. O termo tem 330 ocorrências no NT. Este 
conceito em João tem como pano de fundo re­
ferências bíblicas e filosóficas. (1) Os filósofos da 
antiguidade grega associavam a Palavra à ordem e 
beleza do universo, ou à expressão compreensível 
da inteligência de Deus, que tudo sustenta e go­
verna. (2) Na tradição bíblica, a Palavra é a mag­
nânima e absoluta fala que criou todas as coisas 
no início dos tempos (Gn 1, 3; SI 33, 6; Sb 9, 1) . 
(3) Outra tradição bíblica relaciona a Palavra de 
Deus à Sabedoria de Deus, descrita como eterna 
companheira de Javé (Pr 8, 23; Eclo 24, 9) , artesã 
que trabalhou em conjunto com Deus na criação 
(Pr 8, 30; Sb 7, 22), e a eterna fonte de vida para o 
mundo (Pr 8, 35) . João, ao que parece, aliou essas 
tradições para dizer algo novo: a Palavra de Deus 
não é só um princípio abstrato ou uma potência 
audível, mas uma Pessoa Divina: Deus o Filho 
(Ap 19, 13) . Essa Palavra eterna, que era media­
dora da criação, agora se torna mediadora da sal­
vação através de sua Encarnação Qo l , 14; 3, 17) . 
evangelho da divindade de Jesus (5 , 1 8 ; 1 0, 
30-33 ; 20, 28; CIC 242) . 
1 , 4: "vida" - A vida terrena é um pre­
sente de Deus dado e sustentado por sua Pa­
lavra eterna (Hb 1 , 3) . Em última análise, a 
vida natural e biológica prescinde algo além 
de si mesma, que é a mesma vida sobrenatural 
e divina que Jesus concede em abundância aos 
filhos de Deus ( 1 0 , 10 ; 2Pd 1 , 4; CIC 1 997) . 
Essa nova vida começa para nós quando nos 
entregamos a Cristo na fé (3, 1 6; 20, 3 1 ) , e 
Cristo se entrega a nós pelos sacramentos da 
Igreja (3, 5 ; 6, 53) . 
1 , 5: "luz [ . . . ] trevas" - Símbolo da luta 
entre o bem e o mal ( lJo 2, 8- 1 1 ) . O próprio 
Jesus é a verdadeira luz ( 1 , 9) que afasta a mor­
te, o engano e o diabo ( lJo 3, 8) . Outras anti­
nomias no evangelho incluem carne e espírito 
(3, 6) , verdade e mentira (8, 44-45) , Céu e 
Terra (3, 3 1 ) , e vida e morte (5 , 24) . 
1 , 6: "João" - João Batista, que cumpriu 
uma missão divina a Israel ( 1 , 3 1 ) mas não era 
o Cristo ( 1 , 20) . A ênfase dada à subordinação 
de João Batista a Jesus percorre todo o quarto 
evangelho, o que sugere ser um dos propósi­
tos do evangelista converter um grupo remi­
niscente de seguidores de João que ainda não 
havia aceitado Jesus (3, 25-30; 5, 36; 1 0 , 4 1 ) . 
Encontramos suporte para essa conclusão em 
At 1 9 , 1 -7, onde vemos que muitos seguido­
res de João Batista viviam em Éfeso--mesma 
cidade que a tradição aponta como local de 
início da circulação do quarto evangelho. Ver 
introdução: Autoria. 
1 , 10: "o mundo" - Um dos muitos 
conceitos em João com múltiplos significa­
dos. O mundo pode se referir ( 1 ) ao universo 
criado por Deus, (2) à humanidade decaída 
em necessidade de redenção (3) e ao que é do­
mínio do diabo, que se opõe a Deus e odeia a 
verdade ( 1 5 , 1 8-20) . 
1 , 1 1 : "mas os seus não a receberam'' 
- O ministério de Jesus era freqüentemente 
questionado e rejeitado (8, 56-59; 1 0 , 3 1 ; Lc 
4, 28-30) . 
1 , 12: "crêem em seu nome" - Ou seja, 
acreditam que Jesus é o Messias de Israel e o 
eterno Filho de Deus (20, 3 1 ; lJo 5, 1 , 1 3) . 
O s nomes são inseparáveis das pessoas con­
cretas no pensamento semítico. Por exemplo, 
o próprio Senhor é invocado quando seu 
nome é dito em adoração (Gn 4, 26; 1 2 , 8) , 
ou quando se faz uma aliança pelo juramento 
em Seu nome (Gn 2 1 , 23; 24, 3) . 
"filhos de Deus" - Pela graça da gera­
ção divina somos preenchidos de vida divina 
e renascemos como filhos do Pai ( l Jo 3, 1 ,9) . 
Essa transformação exige fé e acontece no Ba­
tismo (3, 5-8; GI 3 , 26-27; CIC 2780-82) . 
llJ 1 , 13:"não de sangue [ • . • ] carne [ . . • ] 
homem" - Três meios ou fatores 
O evangelho de São joão 
que resultam no nascimento natural para o . AT (Êx 34, 6; SI 25, 1 O; 89, 1 ; Pr 20, 28 ; CIC 
mundo, ou seja, as mulheres, o impulso se- 2 1 4) . 
xual, o s homens. João está enfatizando que o "Sua glória'' _ o esplendor da presença 
nascimento natural não nos estabelece numa , de Deus como foi visto na nuvem que cobriu 
relação sobrenatural com Deus. o santuário no deserto (Êx 40, 34-35) e de­
• Encontramos uma reunião similar de idéias 
em Sb 7, 1 -2, onde se diz que a existência 
humana depende do sangue da gestação pré­
natal , doprazer da relação conjugal, e do sê­
mem do homem. 
rTI 1, 14: "a Palavra se fez carne" 12 -
� Afirma o mistério da Encarnação. 
Significa que Cristo, que é completamente di­
vino, eterno, e da mesma natureza que o Pai, 
desceu do Céu para a terra e, como homem, 
entrou na história. A palavra "carne" significa 
tudo que é natural , terreno, e humano (3, 6; 
6, 63; lJo 4, 2; CIC 423, 456-463) . 
"e habitou entre nós" - Em grego signi-
fi J " b 1 " "C ca que esus ta ernacu ou ou rez sua mo-
pois o Templo de Jerusalém ( l Rs 8 , 1 0- 1 1 ) . 
A glória de Cristo oculta em sua humanidade 
se torna visível só quando ele a manifesta em 
seus milagres (2 , 1 1 ; 1 1 , 40; CIC 697) . 
1 , 15 : "passou na minha frente [ . . . ] exis­
tia antes de mim'' - Embora seu ministério 
venha depois do de João,a antecedência de Je­
susse deve a sua preexistência. Sua vida com o 
Pai antecede a própria criação do mundo ( 1 , 
1 ; 8 , 58 ; 1 7, 5) . 
1 , 16: "graça sobre graça'' 1 3 - Ou "graça 
no lugar de graça'' . O versículo seguinte ex­
plica que as graças da Antiga Aliança foram 
suplantadas pelas bênçãos da Nova ( 1 , 1 7; 
CIC 504) . 
1 , 18: "Ninguém jamais viu a Deus" -
• O evangelista está relacionando a encarna- Deus é puro espírito e portanto invisível aos 
ção de Jesus à construção do santuário no de- , olhos humanos (4, 24; lTm 6, 1 6) . Mesmo 
seno, no AT (Êx 2 5 , 8-9) . O santuário , que assim, a face do Pai pode ser vista na face do 
já f�i a expressá� arqu'.tetônica da p
,
r�sença de Cristo, que é a imagem visível do Deus invi-
Jave em Israel , e uma imagem profeuca de Je- , l ( l 4 9 . Cl l 1 5) A 'd 
rada'' em meio a nós (Ap 2 1 :3) . 
sus habitando em nosso meio como homem. sive ' ' ' · penas na eterm a-
Do mesmo modo, como a Sabedoria de Deus de conseguiremos ver Deus completamente 
foi tabernaculada em Israel na Torá de Moi- ( l Cor 1 3 , 1 2; CIC 1 5 1 ) . 
sés (Eclo 24, 8) , Jesus é a personificação da "o Filho único" - Uma variação textual 
Sabedoria divina na carne ( l Cor 1 , 24) . Ver o lê "Deus, 0 Unigênito" , 0 que aponta direta-
esrudo da palavra: Palavra. d d d d J d 
"amor e fidelidade" - Equivalente à 
"compaixão e piedade" de Deus celebrada no 
12 Tradução da Vulgata Latina. Em algumas passagens 
deste estudo, a tradução utilizada para a versão em 
português ( versão da CNBB) não se adequa ao conteúdo 
dos comentários. Para maior fidelidade ao estudo 
utilizamos outras traduções, que serão discriminadas em 
mente para a ivin a e e Jesus. A eitura a 
tradução usada para este estudo pode ( 1 ) se 
referir à geração eterna de Cristo dentro da 
Trindade ou (2) significar "querido" ou "pre­
cioso" , como era Isaac ao seu pai, Abraão (Hb 
1 1 , 1 7; CIC 444) . 
notas - NT. 1 3 Tradução d a Ave Maria - NT. 
27 
Cadernos de estudo bíblico 
O testemunho de João Batista - 190 testemunho de João foi assim. As autoridades dos judeus envia­
ram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntarem a João: "Quem é você?" 2ºJoão confessou e não 
negou. Ele confessou: "Eu não sou o Messias." 21Eles perguntaram: "Então, quem é você? Elias?" João 
disse: "Não sou." Eles perguntaram: "Você é o Profeta?" Ele respondeu: "Não." Então perguntaram: 
22"Quem é você? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. Quem você diz que 
é?" 23João declarou:"Eu sou uma voz gritando no deserto: 'Aplainem o caminho do Senhor', como 
disse o profeta Isaías." 240s que tinham sido enviados eram da parte dos fariseus. 25E eles continuaram 
perguntando: "Então, por que é que você batiza, se não é o Messias, nem Elias, nem o Profeta?" 26João 
respondeu: "Eu batiw com água, mas no meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem, 27e que 
vem depois de mim. Eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele." 28lsso aconte­
ceu em Betânia, na outra margem dq Jordão, onde João estava batizando. 
l, 26--27: Me 1 . 7--'l; Mr 3. 1 1 ; U: 3. 16. • l, 28: Jo 3, 26; 10, 40. 
1 , 19: "judeus" - Em João esse termo 
tem um matiz geográfico e pode algumas ve­
zes ser traduzido por "judeiênses" . Apresenta 
conotações negativas porque Jesus encontra 
grande resistência na Judéia (4, 43-44) dos 
líderes "judeiênses" de Jerusalém que orques­
traram sua morte ( 1 1 , 47-53; 1 9 , 1 2- 1 6) . O 
termo não é um epíteto depreciativo dirigido 
a todo o povo judeu, afinal, Jesus era judeu, 
sua mãe, seus discípulos e boa parte dos pri­
meiros cristãos também. (CIC 597) . Ver nota 
em 4, 47. 
1, 20: "o Cristo" - Ou seja, o Messias 
( 1 , 4 1 ) . Ver Estudo da palavra: Cristo , no es­
tudo bíblico sobre o evangelho de Marcos, 
em Me 14 . 
rTI 1 , 21 : "Elias?" - Israel esperava o UU retorno do profeta Elias . 
• Malaquias previu que Elias faria os últimos 
preparativos para a chegada do Senhor mes­
siânico de Israel (Eclo 48, 1 O; MI 4, 5 ) . João 
não é Elias reencarnado, mas cumpre sua 
missão no espírito (Lc 1 , 1 7; CIC 7 1 8 ; ver 
nota no nosso estudo bíblico sobre o evange­
lho de Marcos, em Me 9, 1 1 ) . 
"O Profeta?" - Israel esperava a chegada 
de um profeta à semelhança de Moisés . 
• O fato de as autoridades questionarem se 
João era o profeta e não simplesmente um 
profeta sugere que eles estão pensando na 
figura semelhante a Moisés predita em Dt 
1 8 , 1 5- 1 9 . João não é o profeta messiânico; 
é Jesus que cumpre seu papel como o novo 
Moisés (4, 20-26; 6, 14 ; 7, 40) . 
1 ,23: "eu sou a vo-i' - Uma citação de Is 
40, 3 . Ver nota no nosso estudo bíblico sobre 
o evangelho de Lucas, em Lc 3 , 4-6. 
1, 24: "os fariseus" - Influentes líderes 
de um movimento de renovação judaica na 
Palestina do NT. Eles são oponentes ferozes 
de Jesus e de sua mensagem (7, 45-53) . Ver 
Ensaio sobre um tópico: Quem são os fariseus? , 
e nota no nosso estudo bíblico sobre o evan­
gelho de Marcos, em Me 2 . 
1 , 26: "eu batizo com água''- O batis­
mo com água de João é apenas um sinal do 
Batismo sacramental de Jesus. O primeiro 
revelou nossa necessidade de limpeza e reno­
vação. O segundo atua naquele com uma in­
fusão de graça e vida nova do Espírito (Ar 2, 
38 ; Tr 3, 5; CIC 720, 1 262) . 
1 , 28: "Betânià'- Região desconhecida 
ao leste do rio Jordão ( 1 0, 40) . É distinta da 
região "judeiênse" de Betânia próxima a Jeru­
salém ( 1 1 , 1 8) . 
2 8 
O evangelho de São joão 
O Cordeiro de Deus - 29No dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: "Eis o 
Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. 30Este é aquele de quem eu falei: 'Depois de 
mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim' . 31Eu também não o 
conhecia. Mas vim batizar com água, a fim de que ele se manifeste a Israel." 32E João testemunhou: "Eu 
vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. 33Eu também não o conhecia. Aquele 
que íne enviou para batizar com água, foi ele quem me disse: 'Aquele sobre quem você vir o Espírito 
descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo'. 34E eu vi, e dou testemunho de que este é o 
Filho de Deus." 
1, 26-27: Me 1 , 7-8; Mt 3, 1 1 ; Lc 3 , 1 6. · 1, 28: Jo 3, 26; 1 0, 40. • 1, 29: Jo I , 36; Is 53, 7; At 8 , 
32; lPd 1 , 1 9; Ap5 , 6 ; 1Jo 3, 5 . · l , 30: Jo l , 1 5 . l , 32: Me 1 , 1 0; Mt 3, 16 ; Lc 3, 22. 
1 
lJJ 1, 29: "Cordeiro de Deus" - Mos- 1 teus (emMt 3, 1 5) e Marcos (em l , 1 0) . tra a dimensão sacrificial da missão de "repousar" 1 4 _ Essa expressão grega é 
Jesus . 
• Essa dimensão já tinha sido prefigurada nos 
cordeiros pascais do Êxodo, cujo sangue foi 
usado como marca para a divina proteção de 
Israel e a carne consumida numa refeição li­
túrgica (Êx 12, 1 -27) , e profetizada por Isaías , 
que representou na imagem de um cordeiro 
inocente morto pelos pecados dos outros, o 
próprio Messias Sofredor (Is 5 3 , 7- 1 2 ; CIC 
608) . Ver notas em Jo 1 2 , 32 e 1 9 , 36. 
muito recorrente em João (também traduzida 
por "habitar" ou "subsistir") e se refere à liga­
ção ininterrupta entre o Pai e o Filho ( 1 4, 1 0; 
1 5 , 1 O) e à habitação da Trindade naquele que 
crê (6, 56; 1 4, 1 7; 1 5 , 4-7) . 
1, 35: "dois discípulos" - Um deles é 
identificado como ''André" ( 1 , 40) , e o outro 
é provavelmente o próprio evangelista. Ver in­
trodução: Autoria. 
1, 39: "quatro horas da tarde" - Ou a 
1, 32: "o Espírito descer do céu, nona hora, na medida de tempo dos judeus 
como uma pomba'' - O Batismo de Je- antigos. 
sus, que o revela
. 
ao povo de
. 
Israel ( 1 , 3 1 ) e 1 , 41 : "o Messias" _ "o ungido" em he­
prefigura os efeitos do bansmo sacramen- braico. "Cristo" é a tradução grega do termo 
tal (3, 1 - 1 3) . Ver nota nos nossos estu- ( 4, 25) . Ver Estudo sobre a palavra: Cristo, e 
dos bíblicos sobre os evangelhos de Ma- 1 
Os primeiros discípulos de Jesus - 35No dia seguinte, João aí estava de novo, com dois discípulos. 
36Vendo Jesus que ia passando, apontou: "Eis aí o Cordeiro de Deus." 370uvindo essas palavras, os dois 
discípulos seguiram a Jesus. 38Jesus virou-se para trás, e vendo que o seguiam, perguntou: "O que é que 
vocês estão procurando?" Eles disseram: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?" 39Jesus respon­
deu: "Venham, e vocês verão." Então eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com 
ele naquele mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas da tarde. 40André, irmão de Simão Pedro, 
era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram a Jesus. 41Ele encontrou primeiro o seu 
próprio irmão Simão, e lhe disse: "Nós encontramos o Messias (que quer dizer Cristo) ." 42Então André 
apresentou Simão a Jesus. Jesus olhou bem para Simão e disse: "Você é Simão, o filho de João. Você vai 
se chamar Cefas (que quer dizer Pedra)." 
1, 35: Lc 7, 18. • 1, 40-42: Mt 4, 1 8-22; Me 1 , 16-20; Lc 5, 2-1 1 . · 1, 41: Dn 9, 25; Jo 4, 25. · 1, 42:Jo 2 1 , 1 5-17; I Cor 1 5, 5; Mt 16, 1 8. 
1 4 Tradução d a Ave-Maria - NT. 
29 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus convoca Filipe e Natanael - 43No dia seguinte, Jesus decidiu partir para a Galiléia. Encontrou 
Filipe e disse: "Siga-me." 44Filipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro. 45Filipe se encontrou com 
Natanael e disse: "Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: é Jesus 
de Nazaré, o filho de José." 46Natanael disse: "De Nazaré pode sair coisa boa?" Filipe respondeu: "Ve­
nha, e você verá." 47Jesus viu Natanael aproximar-se e comentou: "Eis aí um israelita verdadeiro, sem 
falsidade." 48Natanael perguntou: "De onde me conheces?" Jesus respondeu: "Antes que Filipe chamasse 
você, eu o vi quando você estava debaixo da figueira." 49Natanael respondeu: "Rabi, tu és o Filho de 
Deus, tu és o rei de Israel!" 50Jesus disse: "Você está acreditando só porque eu lhe disse: 'Vi você debaixo 
da figueira'? No entanto, você verá coisas maiores do que essas." 5'E Jesus continuou: "Eu lhes garanto: 
vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem." 
1, 43: Me 10, 3; Jo 6, 5; 12, 2 1 ; 14, 8. • 1, 45: Lc 24, 27. • l , 46: Jo 7, 4 1 ; Mc 6, 2. • l, 49: 51 2, 7; Me 1 5, 32; Jo 12, 13. • 1, 51: Lc 3, 2 1 ; Gn 28, 12. 
nota no nosso estudo bíblico sobre o evange­
lho de Marcos, em Me 1 4. 
1 , 42: "Cefas" - Tradução do aramaico 
da palavra kepha, que significa "pedrà' . Com 
exceção de um registro no século V a. C . , esse 
nome só começou a ser comumenteusado de­
pois de Jesus renomear Simão. O nome "Pe­
dro" é o equivalente no grego. Ver Estudo da 
palavra: Pedro, no nosso estudo bíblico sobre 
o evangelho de Mateus, em Mt 1 6. 
1 , 44: "Betsaida"- Aldeia ao norte do 
mar da Galiléia. 
"Natanael" - Também chamado "Barto­
lomeu" nos evangelhos sinóticos. Ver Quadro: 
Os Doze Apóstolos,no nosso estudo bíblico 
sobre o evangelho de Marcos, em Me 3 . 
1 , 45: "Moisés [ . . . ] os profetas"- lntro­
duz o tema do cumprimento das escrituras, 
que segue por toda a narrativa do evangelho 
(2, 22; 5, 46; 7, 38; 1 0, 35 ; etc. ) . 
1 , 46: "Nazaré" -Aldeia pequena e isolada 
na Galiléia, de pouca importância para Israel. 
1, 47: "um irsaelita verdadeiro" - Ou 
seja, um descendente do patriarca Jacó, que foi 
renomeado "Israel" (Gn 32, 28) . Ironicamen­
te, o próprio Jacó era conhecido por sua sagaci­
dade, especialmente quando roubou a benção 
paternal dirigida a seu irmão (Gn 27, 35) . 
ITI 1'1"111 1 , 49: "Filho de Deus [ . . . ] rei 
UU a. de Israel" - Esses dois títu­
los eram profundamente ligados nos tempos 
da antiga Israel, onde o rei Davi e seus suces­
sores eram chamados de "filhos" de Javé (2Sm 
7, 1 4; SI 2, 7; 89, 26-27) . Distinto de seus 
antecessores na linhagem de Davi, Jesus é o 
Filho de Deus por Natureza e não por uma 
aliança de adoção divina ( 1 , 1 8 ; CIC 44 1 -42) . 
• Natanael fala com seu conhecimento do AT. 
( 1 ) Antes de ser "chamado", ele estava "debai­
xo da figueira" ( I , 48) . Isso relembra como "os 
companheiros" irão chamar uns aos outros 
para sentar debaixo de suas figueiras na era 
messiânica (Zc 3, 1 0) . O judaísmo relaciona 
essa passagem com a chegada do Germe Real, 
a figura messiânica mencionada por Zacarias 
(Zc 3, 8; 6, 1 1 - 1 3) e projetada em seu contem­
porâneo Zorobabel, que reconstruiu o Templo 
após o Exílio (Ag 1 , 14 ; Zc 4, 9) . (2)A men­
ção anterior à cidade natal de Jesus sugere uma 
conexão com Is 1 1 , 1 , que diz que de Davi 
sairá um "broto", termo (Heb. Nester) ligado 
à palavra "Nazard' ( 1 , 46) . Uma vez que esses 
oráculos convergiram na mente de Natanael, 
ele poderia considerar que Jesus é o "Germe" 
messiânico e portanto o Real Filho de Deus. 
• Alegoricamente, 15 a sombra da figueira é a 
sombra do pecado e da morte. Natanael é a 
1 5 Sto. Agostinho, Tract, o n John 7 , 2 1 . 
Igreja, que é conhecida antecipadamente pela 
misericórdia de Deus, purificada de toda a 
culpa e impureza, e convocada pelos apósto­
los a sair das trevas para viver na luz. 
fTI 1, 51: "subindo e descendo" - 1 
LJ.U Uma alusão ao sonho de Jacó em Gn 
28, 1 1 - 1 5 . 
• Jacó sonhou com uma escada que ia da terra 
ao Céu, permitindo aos anjos virem à terra e 
voltarem para o céu. Movido por essa expe­
riência, ele renomeou o local onde dormira 
"a casa de Deus" e "a porta do Céu" (Gn 28, 
O evangelho de São João 
1 7) . Jesus se põe no centro dessa visão, afir­
mando que ( 1 ) ele é o lugar onde o céu toca 
na terra; (2) ele é a verdadeira casa de Deus; 
e (3) ele é a ponte por onde os anjos passam 
para exercerem seu ministério. Ver notas em 
nosso estudo bíblico sobre a Carta aos He­
breus, em Hb 1 , 14 e em Jo, 2, 1 9 . 
O "Filho do Homem" - Alude à figu­
ra divina de Dn 7, 1 3 . Ver Ensaio sobre um 
tópico: Jesus, o Filho do Homem, em nosso 
estudo bíblico sobre o evangelho de Lucas, 
em Lc 1 7. 
MAPA: BATISMO E TEN !"AÇÃO 
Mar 
Mediterrâneo 
.1 
'�. · \ . � · 
� ?Local exa� questio,el 
O
/ - .. , 
., ... 
) : o.,... .................... ICla-.--
3 1 
·. 
tabara . t • -N-� Maqu��unte . 1 
":�·-,·�. 
Cadernos de estudo bíblico 
2As bodas de Caná - 1No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia, e a 
mãe de Jesus estava aí. 2Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto 
com seus discípulos.3Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho!" 4Jesus 
respondeu: "Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou." 5 A mãe de Jesus disse aos que 
estavam servindo: "Façam o que ele mandar." 6Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, 
que serviam para os ritos de purificação dos judeus. 7Jesus disse aos que serviam: "Encham de água esses 
potes." Eles encheram os potes até a boca. 8Depois Jesus disse: "Agora tirem e levem ao mestre-sala." 
Então levaram ao mestre-sala. 9Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os 
que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo 
10e disse: "Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. 
Você, porém, guardou o vinho bom até agora." 11Foi assim, em Caná da Galiléia, que Jesus começou 
seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele. 12Depois disso, Jesus desceu 
para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E aí ficaram apenas alguns dias. 
2, l : Jo 4, 46; 2 1 , 2. · 2, 3: Jo 1 9, 26; Mc 3, 3 1 . • 2, 4: Me 1 , 24; 5, 7; Jo 7, 6. 30; 8, 20. · 2, 6: Me 
7, 3; Jo 3, 25. • 2, 1 1 : Jo 2, 23; 3, 2; 4, 54; 6, 2. • 2, 12: Me 4, 1 3; Jo 7, 3; Mc 3, 3 l . 
COMENTÁRIOS 
� 2, 1: "no terceiro dia'' - Cronologi­a. camente, essa data se refere ao terceiro 
dia após o encontro de Jesus com Natanael ( 1 , 
43-5 1 ) . Teologicamente, há dois níveis de sig­
nificados: ( 1 ) &se terceiro dia é na verdade o 
sétimo dia da semana inicial do ministério de 
Jesus. O evangelista sugere isto quando traça a 
sucessão de dias em l , 29. 35 . 43 e 2, 1 , apon­
tando que a criação concluída em sete dias (Gn 
1 , 1-2, 3) está sendo transformada e renovada 
por Jesus (2Cor 5, 17 ; Ap 2 1 , 1-5) . (2) Jesus 
manifesta sua glória no terceiro dia em Caná 
(2, 1 1 ) , assim como também revela sua glória 
ao ascender no terceiro dia após sua ressurrei­
ção ( 1 Cor 1 5 , 4) . Ver Estudo da palavra: Sinais. 
"bodas em Caná'' - Casamentos judai­
cos, como este, a oito quilômetros ao norte 
de Nazaré, podiam ser celebrados por uma se­
mana ou mais (Jz 1 4, 1 2; Tb 1 1 , 1 9) . Curio­
samente, o jovem casal nunca é identificado, 
deixando o foco da narrativa em Jesus e em 
sua Mãe por todo o episódio (2, 1-1 1 ) . 
• A Tradição esclarece que Jesus santifica o 
laço do matrimônio por sua presença neste 
casamento em Caná (CIC 1 6 1 3) . 
r!l.i1 2, 3: "a mãe de Jesus" - Maria nun­
� ca é chamada por seu nome pessoal 
no quarto evangelho (2, 1 2; 1 9 , 25) . 
"não têm mais vinho" - Uma situação 
embaraçosa para o jovem casal. A preocupa­
ção de Maria com a situação pode sugerir que 
ela fosse parente de algum dos noivos. 
• O Vaticano II atribui o título "Advogada" 
à Mãe de Jesus. 16 Significa que do mesmo 
modo que Maria intercedeu em Caná pela 
necessidade dos outros, ela continua a fazer 
intervenções celestes para as necessidades dos 
santos na terra (CIC 969) . 
lJJ 2, 4: "Mulher" - Por mais que isso 
pareça ofensivo aos padrões da etique­
ta moderna, chamar uma mulher de "mulher" 
era sinal de respeito e carinho na antiguidade 
(4, 2 1 ; 8, 1 0 ; 20, 1 3) . No entanto não há ne­
nhum outro exemplo de um filho chamando 
sua mãe dessa maneira nessa época. 
• Gn 3 é a imagem inversa do episódio em 
Caná. Como Eva incitou Adão a desafiar o 
1 6 Lumem Gentium, 62. 
3 2 
Senhor e levar a família humana ao pecado, 
também Maria incita Jesus, o novo Adão, a 
iniciar sua missão de salvação. A descrição 
de Maria alude a Gn 3, 1 5 , onde Javé fala de 
uma "mulher" cujo filho irá esmagar o diabo 
sob os pés (CIC 489, 494) . 
"que existe entre nós?" - Uma expres­
são hebraica traduzida para o grego (literal­
mente "o que para mim e o que para você?") . 
Normalmente pressupõe um conflito entre 
dois lados percebido por perspectivas dife­
rentes Qz 1 1 , 1 2; l Rs 1 7, 1 8 ; Me 5 , 7) , ou 
concordantes (2Cr 35 , 2 1 ) . Quando a expres­
são é usada em resposta a um pedido, quer ' 
explícito ou implícito, o locutor às vezes cede 1 
ao pedido do outro (2Rs 3 , 1 3) e às vezes i 
não(2Sm 1 6, 1 0) . Aqui o primeiro padrão é 1 
evidente: Jesus consente ao pedido de Maria l 
(2, 7-8) , e a própria Maria parece perfei- 1 
tamente confiante de que Jesus atenderia ao 1 
seu pedido (2, 5 ) . Jesus não teria iniciado seus i 
milagres em Caná e, no entanto, não recusa J os pedidos de sua Mãe. 
"Minha hora ainda não chegou" - Essa 
afirmação permite uma importante suposição. 
A declaração pareceria exagerada ao menos 
que o fornecimento do vinho estivesse rela­
cionado à anunciada "horà' de Jesus. Não a 
hora histórica de sua Paixão , mas a comemo­
ração dessa hora na liturgia eucarística, onde 
Cristo está presente, oculto no sinal visível do 
vinho (CIC 26 1 8) . Ver Ensaio sobre um tópico: 1 
A "horà' de Jesus, em Jo 4 . 1 
1 lJJ 2, 5: "Façam o que ele mandar" - i 
As palavras finas de Maria no NT, seu 1 
testamento espiritual para todos os discípulos 
O evangelho de São joão 
ESTUDO DA PALAVRA: SINAIS ÚO 2, I I) 
Semeion (gregp) : Um. sinal, ou milagre. &se ter­
mo é usado 17 vezes em João e 60 vezes no resto 
do NT. Os sinais riarrados no quarto evangelho 
se concentram principalmente nos capítulos 
1-12. Por essa característica, a primeira metade 
deste evangelho foi chamada "Livro dos Sinais" . 
Para o evangelista, os sinais de Jesus não são ape­
nas grandes obras, mas milagres que revelam a 
glória e o poder do próprio Deus através de Cris­
to. Os sinais de Jesus relem�ram os sinais opera­
dos por Moisés durante o Exodo, que também 
revelaram a glória de Javé (Num 14, 22) através 
do profeta (Êx 3, 12; 4; 28 - 3 1 ; Dt 34, 11) . O 
quarto evangelho se detém em sete sinais: (1) O 
milagre em Caná (2, 1-11), (2) a cura do filho 
do oficial (4, 46 - 54) , (3) a cura do paralítico 
(5, 1- 9), (4) a multiplicação dos pães (6, 1-14), 
(5) a cura do cego de nascença (9, 1- 41), (6) 
a ressurreição de Lázaro (11, 17- 44), e o mais 
importante de todos, (7) a Ressurreição de Jesus; 
o segundo sinal a ser anunciado no evangelho, 
mas o último a ser cumprido (20, 1-10) . Jesus, 
em outra passagem, chama este sinal de "sinal do 
profeta Jonas" (Mt 12, 39). 
durante os tempos de fome, Jesus também dá 
vinho em abundância na hora da necessidade. 
lJJ 2, 6: "seis potes de pedra" - Equi­
valente a 450 litros de água. 
• O propósito desses jarros de água é descri­
to em Nm 1 9 , 1 1- 1 2, que determina que 
qualquer israelita contaminado pelo contato 
com os mortos deve ser purificado com água 
no terceiro dia após o contato, e novamente 
no sétimo. Curiosamente, o milagre em Caná 
acontece no terceiro dia (2, 1 ) que, de acordo 
com a cronologia de João, também é o sétimo 
dia. Ver nota em Jo 2, 1 . 
• O primeiro sinal realizado por Jesus (água 
transformada em vinho) relembra o primeiro 
realizado por Moisés (a primeira praga, água 
em sangue, Êx 7, 1 9) .0 vinho é chamado de 
"sangue" da uva na poesia hebraica (49 , 1 1 ; de Jesus. . Dr 32, 1 4) . 
• A ordem de seguir Jesus ecoa com a ordem 1 2 9 " · " O · d d · J , G 4 l 5 5 A . , : o noivo - noivo o casamento. e segu1r ose em n , . ss1m como o 
patriarca continuou a dar pão em abundância 1 Jesus cumpre esse papel num patamar espiri-
3 3 
Cadernos de estudo bíblico 
Jesus expulsa os mercadores do Templo - 13A Páscoa dos judeus estava próxima, e Jesus subiu para 
Jerusalém. 14No Templo, Jesus encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas 
sentados. 15Então fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo junto com as ovelhas e os bois; 
esparramou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16E disse aos que vendiam pomb�s: "Tirem 
isso daqui! Não transformem a casa de meu Pai num mercado." 17Seus discípulos se lembraram do 
que diz a Escritura: "O zelo pela tua casa me consome." 18Então os dirigentes dos judeus perguntaram 
a Jesus: "Que sinal nos mostras para agires assim?" 19Jesus respondeu: "Destruam esse Templo, e em 
três dias eu o levantarei." 200s dirigentes dos judeus disseram: ''A construção desse Templo demorou 
quarenta e seis anos, e tu o levantarás em três dias?" 21 Mas o Templo de que Jesus falava era o seu 
corpo. 
22Quando ele ressuscitou, os discípulos se lembraram do que Jesus tinha dito e acreditaram na 
Escritura e na palavra de Jesus.23Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa. Vendo os sinais 
que ele fazia, muiros acreditaram no seu nome. 24Mas Jesus não confiava neles, pois conhecia a todos. 
25Ele não precisava de informações a respeito de ninguém, porque conhecia o homem por dentro. 
2, 13: Jo 6, 4; 1 1 , 55; De 16, 1-6; Lc 2, 4 1 . • 2, 14-16: Me 2 1 , 1 2-13; Me 1 1 , 1 5--17; Lcl9, 45--46. • 2, 16: Lc 2, 49. • 2, 17: SI 69, 9. • 2, 18: Me 1 1 , 
28; Me 2 1 , 23; Lc 20, 2. • 2, 19: Me 14, 58; Ae 6, 14 • 2, 21: 1Cor 6, 1 9; Jo 8, 57. • 2, 22: Jol2, 1 6; 14, 26. • 2, 25: Jo l , 47; 6, 61 ; 13, 1 1 ; Me 2, 8. 
tual (3, 29; Mt 25 , 1-13; CIC 796) 
2, 10: "o vinho bom'' - Um símbolo 
bíblico passível de várias associações: ( 1 ) A 
abundância de vinho é um sinal da era messiâ­
nica (Is 25 , 6; JI 3, 1 8 ; Am 9, 1 3) . (2) Significa 
os prazeres do amor conjugal (Ct 1 , 2; 4, 1 0 ; 
7, 9) . (3) A transformação da água em vinho 
antecipa a transubstanciação do vinho em 
sangue, quando Jesus se oferece ao mundo na 
liturgia eucarística (6, 53; l Cor 1 0, 1 6) . (4) 
O vinho da celebração matrimonial remonta 
ao banquete nupcial do Cordeiro de Deus no 
Céu (Ap 1 9, 7-9; CIC 1 335) . 
2, 12: "Carfanaum" - Uma aldeia na 
margem norte do mar da Galiléia, sede do 
ministério de Jesus na região (Mt 4, 1 3) . 
"seus irmãos" - Não propriamente ir­
mãos de Cristo, mas seus parentes próximos 
(CIC 500) . Ver nota no nosso estudo bíblico 
sobre o evangelho de Mateus, 12 , 46. 
2, 13:''A Páscoa'' - Celebrada na prima­
vera para comemorar a salvação de Israel da 
escravidão egípcia (Êx 1 2) . Três vezes a Pás­
coa é mencionada em João, indicando que o 
ministério de Jesus durou mais de dois anos 
(6, 4; 1 3 , 1 ) . Ver nota em Jo 6, 4 . 
"Jerusalém''- Cerca de dois terços da 
narrativa de João situam Jesus em Jerusalém. 
Os evangelhos sinóticos dão mais foco ao seu 
ministério na Galiléia. 
2, 14 - 22: A purificação do Templo é 
lembrada nos quatro evangelhos. A diferença 
é que João situa o acontecimento no início 
do ministério de Jesus, e os outros evange­
lhos o situam no fim de seu ministério. Duas 
explicações para esse fato são possíveis. ( 1 ) 
Todas as narrativas podem se referir ao mes­
mo acontecimento. Se assim for, João moveu 
o episódio para o início da narrativa com o 
intuito de ressaltar um fato importante. Tal 
como está, a purificação do Templo afirma o 
mesmo ponto teológico do episódio anterior, 
em Caná: JesuS:,t�µ uma Nova Aliança que 
substitui as instituições da Antiga. (2) Jesus 
pode ter purificado o Templo duas vezes. De 
fato, alguns dataram o episódio por volta de 
27 ou 28 d.C. em João, calculando "quarenta 
e seis anos" desde o início da restauração do 
Templo por Herodes, o Grande, em 1 9 ou 
3 4 
O evangelho de São joão 
20 a.C. (2, 20) . Essa data se encaixa melhor 1 2, 19: "Destruam esse Templo"- Jesus 
no período de início do ministério de Jesus. desafia seus opositores a destruírem, não o 
2, 14: "no Templo"- O Templo de Jeru- prédio sagrado, mas seu corpo (2, 2 1 -22) . 
salém era dividido em vários átrios . A parte Ironicamente, o segundo está destinado a 
mais externa, aberta aos peregrinos gentios , . substituir o primeiro : após sua Crucificação, 
era usada para a venda de animais sacrificiais o Templo de Jerusalém será posto no chão 
e câmbio de dinheiro para a moeda correta, 1 pela justiça divina ao passo que o Templo do 
necessária para pagar os tributos do Templo. corpo de Jesus se levantará da tumba em di­
Jesus fica irado ao ver que os mercadores vina glória (CIC 586, 994) . 
estavam roubando o povo de Israel com ai- 1 
tas taxas de câmbio e tirando dos gentios a 
oportunidade de orar e adorar (CIC 583-
84) . Ver nota no nosso estudo bíblico sobre 
o evangelho de Mateus, 1 7, 24. 
�

Mais conteúdos dessa disciplina