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DANIEL DINSLAKEN 2ª EDIÇÃO MANU AL DO CERV EJEIR O CASE IRO UM G UIA C OMPL ETO PARA INICI ANTE S INTRODUÇÃO MENSAGEM FINAL GLOSSÁRIO CERVEJEIRO SOBRE O AUTOR PRIMEIROS PASSOS EQUIPAMENTOS INGREDIENTES RECEITA LIMPEZA E SANITIZAÇÃO BRASSAGEM FERMENTAÇÃO MATURAÇÃO CARBONATAÇÃO E ENVAZE 5 6 8 12 24 26 30 41 46 48 52 53 4 4 De acordo com a legislação brasileira, “Cerveja é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto cervejeiro oriundo do malte de cevada e água potável, por ação da levedura, com adição de lúpulo”. Dessa forma, nosso processo de produção consiste basicamente em preparar o mosto cervejeiro com adição de lúpulo e inocular as leveduras para que realizem o processo de fermentação. Depois é só engarrafar!! Olhando assim o processo parece bastante simples, e de fato é. Se tivermos uma solução rica em açúcares oriundos da cevada e introduzirmos leveduras cervejeiras nesse meio, o resultado será cerveja!! Entretanto, não queremos simplesmente fazer cerveja. Queremos fazer boas cervejas. E nesse caso, existem alguns processos que requerem bastante atenção do cervejeiro, bem como algumas técnicas e equipamentos indispensáveis para se atingir a qualidade pretendida. O processo de produção pode parecer simples, mas tem alguns detalhes que devem ser levados em consideração para garantir o sucesso nas produções. Para isso é fundamental a busca pelo conhecimento, e se há alguns anos isso já foi um problema para os cervejeiros caseiros aqui no Brasil, não hoje em dia não há do que reclamar, pois temos acesso a muita informação, seja através de cursos e ou conteúdos gratuitos disponibilizados na internet. Mas apesar de ter muita informação de qualidade disponível por aí, faltava um material de referência, com linguagem simples e objetiva, que descrevesse o passo a passo do processo de produção artesanal de cervejas e que, acima de tudo, servisse de estímulo para novos adeptos ingressarem nesse mundo maravilhoso da cerveja artesanal. Pensando nisso, e sabendo que muitos cervejeiros têm bastante dificuldade no começo, resolvi escrever este livro, que na verdade é um resumo do meu treinamento online básico, o Programa Cervejeiro Express, onde você terá acesso aos conhecimentos básicos necessários para iniciar sua produção artesanal de cerveja. De forma simples e direta abordaremos cada etapa do processo, também vamos apresentar informações sobre os equipamentos e ingredientes necessários para a produção, além de trazer dicas importantes para o seu sucesso como cervejeiro caseiro. Então vamos lá... 5 Antes de começar a descrever o processo de produção artesanal de cervejas queria contar para você quem sou eu e porque resolvi escrever esse livro. Era um sábado ensolarado e eu estava degustando a primeira cerveja 100% grão que eu fazia, uma witbier que eu desenvolvi a receita e apliquei o processo de produção tal qual eu havia pesquisado na internet. As lembranças dos sabores das diversas cervejas especiais que eu vinha tomando nos últimos anos e o sonho antigo de fazer a minha própria cerveja cederam lugar a um sabor amargo e muito adstringente... em verdade, a cerveja que eu acabara de preparar estava intragável. De primeira bateu aquela decepção e uma sensação de que aquilo ali não era para mim. Mas eu queria muito fazer uma boa cerveja, então não desisti. Percebi que precisava estudar mais. Estudei um pouco mais as publicações que tinham na internet e comprei um livro que ilustrava o processo, o que me deixou um pouco mais confiante para preparar uma nova cerveja. Investi em novos acessórios para aprimorar a minha produção e parti para a próxima receita, uma IPA. Eu estava empolgado, sentia que tinha mais controle sobre o processo e tudo pareceu correr bem. Mas durante a fermentação senti um cheiro azedo saindo do fermentador, abri para ver e a cerveja estava contaminada. Se a primeira estava intragável, essa foi literalmente pelo ralo! Aquele pensamento de que esse negócio de fazer cerveja não era para mim voltou a me assombrar. Mas como você deve ter percebido, eu não desisti. E nesse momento ficou claro para mim que fazer cerveja é relativamente simples, mas não é fácil. Desse dia em diante minha concepção mudou totalmente, investi bastante tempo e dinheiro... comprei vários livros, passei a estudar diariamente sobre o processo, fiz vários cursos (investi um bom dinheiro) e conheci alguns cervejeiros experientes que me deram dicas valiosas. Com o investimento constante em conhecimento, na prática e no relacionamento com outros cervejeiros a qualidade das minhas cervejas foi ficando cada vez maior. E hoje posso dizer que sou um cervejeiro realizado, apesar de ter muita cerveja que pretendo testar ainda. Depois de já ter recebido alguns prêmios de nível nacional e recebido reconhecimento internacional sei que posso me considerar um cervejeiro de sucesso. Mas o que mais me motiva é ver o sucesso dos meus alunos, seja recebendo prêmios em concursos, ou simplesmente por estarem realizando o sonho de fazer a sua primeira cerveja. Se você é um apaixonado por cerveja, assim como eu, e ainda não realizou o sonho de fazer a sua própria cerveja, ou se você é um cervejeiro iniciante, cheio de dúvidas ainda sobre o processo de produção de cervejas, este livro foi escrito especialmente para você, espero que goste... Cheers, DANIEL DINSLAKEN 6 PRIMEIROS PASSOS 7 É legal você ter um checklist para verificar os equipamentos e ingredientes que você vai usar. No próximo capitulo você vai encontrar um checklist de equipamentos que eu preparei para você; Programe o seu dia de brassagem com antecedência e no dia, comece a produção o mais cedo possível. A brassagem é um processo demorado e muitas vezes leva mais tempo que o previsto. Se possível chame alguém para te ajudar na hora de produzir, é mais divertido e você pode dividir o trabalho e os custos. ANTES DE COMEÇAR É IMPORTANTE OBSERVAR ALGUMAS QUESTÕES CRUCIAIS: NESTE LIVRO VOU ABORDAR APENAS O MÉTODO ALL-GRAIN, MAIS COMPLEXO E UTILIZADO PELA MAIORIA DOS CERVEJEIROS CASEIROS NO BRASIL. ONDE VOCÊ VAI PRODUZIR? ONDE ENCONTRAR EQUIPAMENTOS E INSUMOS QUAL MÉTODO VAI UTILIZAR É importante você levar em consideração que o processo de produção de cerveja envolve o uso de alguns equipamentos indispensáveis e que normalmente esse processo resulta em certa sujeira e bagunça. Eu digo isso porque você não vai querer transformar seu hobby, o seu momento de lazer, em motivo de discussão com seus familiares. Para produzir a sua cerveja, você vai precisar de um fornecedor para comprar seus equipamentos e insumos cervejeiros. Aconselho que procure um fornecedor local, lá você poderá ver e tocar nos produtos e, certamente, poderá tirar várias dúvidas e aprender um pouco mais com o atendente. Muitas lojas disponibilizam kits de equipamentos cervejeiros prontos. Embora o preço seja um pouco mais elevado do que se pesquisar e comprar cada um dos equipamentos, é uma ótima alternativa para quem está começando, afinal são muitas coisas para aprender... você já vai perceber. Basicamente existem dois modos de produzir sua cerveja caseira: • Usando extrato de malte; • Método all-grain. Enquanto no método all-grain temos as etapas de moagem, brassagem, lavagem, fervura, resfriamento, fermentação, maturação e envase, as quais eu vou explicar detalhadamente cada uma em seguida, utilizando o extrato de malte a sua produção inicia na etapa de fervura, com a diluição do extrato em água. 8 EQUIPA_ MENTOS 9 NEM TODOS OS KITS CERVEJEIROS VENDIDOS NO MERCADO POSSUEM TODOS OS EQUIPAMENTOS INDISPENSÁVEIS, DE MODO QUE TALVEZ VOCÊ PRECISE COMPRAR ALGUNS EQUIPAMENTOS EXTRAS QUANDO FOR COMEÇAR A PRODUZIR. EQUIPAMENTOS A lista de equipamentos para a produção de cerveja artesanal pode ser bastante grande e tende sempre a aumentar conforme o cervejeiro vai adquirindo mais experiência e paixão pelohobby. Para facilitar, eu elaborei uma lista com os equipamentos em duas categorias: indispensáveis e opcionais. INDISPENSÁVEIS Como o nome diz, são os equipamentos essenciais a serem adquiridos para produzir uma cerveja de qualidade com o mínimo de controle sobre o processo. OPCIONAIS São aqueles os quais utilização não é obrigatória para a produção, mas trazem uma diferença significativa no resultado final (cerveja pronta). IMPORTANTE VEJA A SEGUIR A RELAÇÃO DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PELOS CERVEJEIROS CASEIROS EM SUAS PRODUÇÕES. 10 EQUIPAMENTO CATEGORIA PARA QUE SERVE? Arrolhador Indispensável Tampar as garrafas Balança Indispensável Pesar maltes, lúpulos e adjuntos Balde fermentador Indispensável Fermentação Borrifador Indispensável Sanitização Panela de mosturação Indispensável Brassagem Densímetro/Proveta Indispensável Medir densidade do mosto Fogareiro Indispensável Aquecer/ferver água Garrafas Indispensável Envase Fundo falso/Bazooka *Indispensável Filtrar mosto antes de transferir para panela de fervura. * No caso de você usar o BIAB, não é obrigatório usar o fundo falso ou a bazooka. Jarra de plástico Indispensável Para auxiliar na filtragem (sparge). Se utilizar bomba de recirculação é des- necessária. Mangueira Indispensável Transferência do mosto para panela de fervura e recirculação Moedor Indispensável Moer grãos (alguns fornecedores en- tregam os grãos já moídos) Pá cervejeira Indispensável Mexer panela mosturação e fervura Panela de fervura Indispensável Ferver o mosto 11 Resfriador (Chiller) Indispensável Resfriar o mosto Tampinhas/rolhas Indispensável Tampar garrafas Termômetro Indispensável Medir temperatura Válvula airlock Indispensável Fermentação Balança de precisão Opcional Pesar lúpulos, adjuntos e sais com maior precisão Balde de maturação Opcional Para maturar a cerveja Coador (Chinois) Opcional Coar o mosto antes de passar para o balde fermentador Erlenmayer Opcional Starter de levedura Escumadeira Opcional Lavagem do mosto (sparge) Filtro partículas + carvão Opcional Filtrar a água cervejeira Geladeira/Controlador de temperatura Opcional Controlar temperatura de fermenta- ção Hop bag Opcional Para fazer Dry hopping Manômetro para garrafas Opcional Medir pressão da cerveja nas garrafas Agitador magnético Opcional Oxigenação durante o starter de leve- dura Bomba de recirculação Opcional Recircular o mosto Cilindro CO2 Opcional Carbonatação forçada Cilindro O2 Opcional Oxigenação do mosto Keg/Postmix Opcional Envase Medidor de pH Opcional Medir pH do mosto Pedra difusora Opcional Oxigenação do mosto Refratômetro Opcional Medir concentração de açúcar no mosto Saco para grãos (bag) Opcional Utilizado na produção pelo método BIAB (Brewing in a bag) 12 INGREDI_ ENTES 13 INGREDIENTES Para produzir sua cerveja você precisa apenas de quatro elementos: • água, • malte, • lúpulo, • levedura. Existem ainda alguns adjuntos cervejeiros que podem ser utilizados no processo, gerando características bastante peculiares na sua cerveja. Mas vou focar nesses quatro elementos. Vou falar aqui, de forma resumida, sobre cada um deles antes de começar a destrinchar o processo de produção da cerveja. ÁGUA Talvez você não saiba, mas de 90% a 95% da composição de uma cerveja é água, portanto, suas características influenciam bastante no resultado final do produto. A composição de sais minerais dissolvidos na água é de extrema importância para o refinamento de uma receita de cerveja. Por exemplo, enquanto uma água dura (rica em sais minerais) é excelente para produzir uma IPA, uma Pilsner tcheca requer uma água mole (baixa concentração de sais). Antigamente, a composição das águas cervejeiras era fator-chave na qualidade e fama de algumas cervejas ao redor do mundo. Nos dias atuais, com o conhecimento da química da água e da facilidade em se “preparar” a água com as características desejadas para o perfil da cerveja, pode ser feita a mesma cerveja em qualquer lugar do mundo. Para o cervejeiro caseiro, as características principais a se observar na sua água são dureza e alcalinidade residual, parâmetros esses que vão definir o perfil da água e determinar o ajuste de sais minerais necessários para o refinamento de suas receitas. Entretanto, para o cervejeiro iniciante não aconselho despender muita atenção a esse ponto, uma vez que se trata de uma característica de refinamento na produção de cervejas e existem diversos outros pontos no processo que vão precisar de mais atenção nesse momento. Outro ponto importante é o tratamento da água cervejeira usando cloro (no caso de cervejeiros que utilizam água da rede pública de distribuição). O cloro tem uma influência extremamente negativa no perfil sensorial da cerveja, resultando em sabor e aroma bastante desagradáveis. Aqui a dica é utilizar um filtro de carvão ativado para eliminar o cloro da água antes de utilizá-la na produção da cerveja. 14 MALTE O malte é a principal fonte de açúcares fermentáveis para a produção de cerveja. Para se obter o malte, os grãos de cevada passam pelo processo de malteação. Nesse processo o malteiro vai ativar o processo de germinação da cevada, no qual são produzidas as enzimas necessárias para a quebra do amido e das proteínas. Na sequência o malte é seco com ar quente para cessar o processo de germinação, dando origem aos maltes base. O malte ainda pode ser aquecido em forno ou tambores de torrefação, por diferentes períodos de tempo e temperatura, dando origem aos maltes especiais (caramelo, torrado e cristal). Além do malte de cevada existem outros tipos de maltes, como os maltes de trigo, centeio e sorgo e de adjuntos cervejeiros, como os flocos de milho, de aveia, de arroz e de trigo, candy sugar, mel, melaço, entre outros. TIPOS DE MALTES De forma bem resumida, os maltes base irão fornecer os açúcares fermentáveis para a produção da cerveja, enquanto os maltes especiais vão conferir cor, sabor e aroma. Na Tabela a seguir apresento uma relação dos principais tipos de maltes utilizados na produção de cerveja, com suas respectivas cores, utilização máxima e atividade enzimática (eficiência na quebra do amido e proteínas),bem como a indicação de uso de cada um. TIPO DE MALTE UTILIZAÇÃO COR (EBC) ATIVIDADE ENZIMÁTICA MAX % MALTES BASE Pilsen (2 fileiras) Malte base para todas as cervejas 1,8-4,4 Muito boa a excelente 100 Pilsen (6 fileiras) Malte base com maior poder diastático que o anterior, indicado para cervejas com muitos adjuntos 3-5 Excelente 100 Vienna Malte indicado para o estilo Vienna, mas pode ser usado para cervejas âmbar em geral, para dar cor e sabor 6-8 Boa 100 Pale Ale Indicado para os estilos Pale Ale, Indian Pale Ale e Barley Wine 4-8 Muito boa 100 Mild Ale Altamente recomendado para todas as Ales inglesas 7-11 Suficiente 100 MALTES DE COR Munich Indicado para cervejas do estilo alemão, como Dunkel, Marzen e Altbier 12-25 Suficiente 100 Âmbar Malte característico para Brown Ales 40-60 Ruim 30 15 Melanoidina Utilizado para realçar a complexidade de maltes de vários tipos de cerveja 30-66 Mínima 30 Marrom Utilizado em todos os tipos de cerveja escura 100-130 Nenhuma 80 MALTES TORRADOS Chocolate Confere cor e aroma em cervejas escu-ras, como Porter e Stout 200-400 Nenhuma 20 Preto Confere cor e aroma em cervejas escu-ras, como Porter e Stout 690-1250 Nenhuma 10 MALTES CARAMELO/CRISTAL Carapils Adiciona corpo e sabor à cerveja sem adicionar cor 3,5-5 Nenhuma 15 Cara Hell/ Cara Blond Adiciona corpo e sabor em cervejas do estilo Pale Ale e IPA 8-12 Nenhuma 15 Caramunich/ Crystal Acentua o sabor e aroma em lagers e ales com cor entre dourado e marrom 30-60 Nenhuma 15 Carared/ Cara Ruby Adiciona corpo e intensifica o sabor de malte em diversos estilos de cerveja 16-23 Nenhuma 15 Caraaroma/ Special B Confere cor e sabor intensos de cara- melo 115-150 Nenhuma 15OUTROS MALTES ESPECIAIS Acidificado Utilizado para baixar o pH da mostura ou para preparar estilos ácidos 3-5 Muito boa 20 Defumado Confere aroma e sabor defumado à cerveja 2-4 Muito boa 100 TRIGO E OUTROS CEREAIS NÃO MALTADOS Malte de Centeio Utilizado para acrescentar sabor de centeio e notas picantes à cerveja 10 Muito boa 50 Malte de Trigo Utilizado no preparo de cervejas de trigo alemãs e americanas (American Wheat) 3-4 Suficiente 100 Trigo não maltado Indicado para ajudar na retenção de espuma e dar sabor as Ales 4 Nenhuma 40 Cevada torrada Confere sabor torrado e amendoado e cor vermelho-castanho intenso, carac- terísticos das Red Ales 1000 Nenhuma 10 Aveia em Flocos Utilize para aumentar o corpo e a complexidade do sabor numa Oatmeal Stout 2 Nenhuma 10 Fonte: Greg Hughes - cerveja feita em casa e Randy Mosher - Mastering Homebrewer 16 COR DE MALTE A cor do malte, assim como a cor da cerveja pronta, é determinada através de escalas de cores padronizadas. Os dois sistemas atualmente utilizados são o European Brewing Convention (EBC) e o Standard Reference Method (SRM). Fonte: Randy Mosher - Mastering Homebrewer Fazer pequenas infusões com diferentes tipos de maltes especiais para começar a entender as características de cada malte e como eles irão contribuir para o resultado final da sua cerveja. COR SRM 2 4 AMARELO PALHA MARROM MUITO ESCURO MARROM ESCURO MARROMMARROM CLARO COBRECOBRE CLARO ÂMBARDOURADOAMARELO PRETO PRETO OPACO 40 79 35 69 29 57 24 47 20 39 17 33 13 26 10 20 6 12 4 8 3 6 10 138EBC COR 17 LÚPULO O lúpulo (Humulus lupulus) é uma trepadeira que atinge entre 5 e 7 metros de altura e produz uma flor em forma de cone, que é usado na fabricação da cerveja. Apenas as plantas femininas são usadas. E o que interessa para o cervejeiro são apenas as glândulas de Lupulina, onde estão localizados os óleos essenciais e os alfa/beta ácidos. Os óleos essenciais são responsáveis pelo aroma de lúpulo presente nas cervejas (ex.: Mirceno, Humuleno, Cohumuleno), enquanto o amargor é definido principalmente pelos índices de alfa e beta ácidos. Apesar de tratar-se de uma única espécie, existem diversas variedades de lúpulo, cada uma com características bem definidas, com diferentes intensidades de amargor e perfis de aromas. O lúpulo é componente fundamental do sabor e aroma da cerveja, além de auxiliar na estabilização da espuma e na conservação da cerveja, devido a sua propriedade bacteriostática, em outras palavras, limita a ação de microorganismos indesejáveis. A escolha do lúpulo certo para a sua cerveja é fundamental, então conhecer um pouquinho sobre as suas características é tarefa obrigatória para todo cervejeiro. Enquanto cervejas belgas, que raramente tem o lúpulo como protagonista, caem bem com a variedade Styrian Goldings, as cervejas alemãs pedem aromas herbáceos, condimentados e florais, encontrados em lúpulos como Saaz, Tettnang e Hallertau. Já as cervejas inglesas destacam-se pelos aromas terrosos e amadeirados, presentes nas variedades Fuggle e Northern Brewer, por exemplo, enquanto a escola americana destaca-se pelos aromas cítricos, frutados e resinosos, com destaque para variedades como Cascade, Amarillo, Citra e Centennial. NA TABELA A SEGUIR PREPAREI UMA LISTA COM AS PRINCIPAIS VARIEDADES DE LÚPULO UTILIZADAS NA PRODUÇÃO DE CERVEJA COM SUAS CARACTERÍSTICAS, ORIGEM, PERCENTUAL DE ALFA ÁCIDO E INDICAÇÃO DE USO. VARIEDADE PAÍS DEORIGEM TIPO ALFA ÁCIDO (%) CARACTERÍSTICA USO Admiral Inglaterra Amargor 13,5-16,5 Resinoso, neutro Ales americanas e inglesas Ahtanum EUA Amargor/Aroma 5,7-6,3 Floral e cítrico Versões americanas das bitters inglesas Amarillo EUA Amargor/Aroma 8-11 Floral e cítrico intenso Pale ales, ipas e bel- gian ipas Aurora Eslovênia Amargor/Aroma 7-9,5 Picante e gramíneo Pale belgas e lagers Bobek República Tcheca Amargor/Aroma 3,5-7 Picante terroso Pale belgas e lagers Bramling cross Inglaterra Aroma 5-7 Picante, cassis Pale ale inglesas, old ale e barley wine Cascade EUA Amargor/Aroma 4,5-7 Floral, grapefruit American pale ale Centennial EUA Amargor/Aroma 9,5-11,5 Floral, frutado (similar cascade) Amargor e aroma para diversos estilos de cervejas americanas, como as ipas Challenger Inglaterra Amargor/Aroma 5-9 Picante, cedro, chá- -verde Ales inglesas 18 Chinook EUA Amargor/Aroma 11-14 Grapefruit, resinoso, pinho Ipas e imperial ipas Citra EUA Aroma 11-13 Manga, maracujá, frutas tropicais Ipas Cluster EUA Amargor 5,5-8,5 Picante, amora American pilsner Columbus EUA Amargor/Aroma 14-16 Pimenta-do-reino, pinho, alcaçuz Belgian ipa, imperial ipa e saison Crystal EUA Aroma 3-5,5 Tangerina, cítrico German pils e kölsch East kent golding Inglaterra Aroma 4-7 Picante, condimenta- do, terroso Pale ale, strong ale e barley wine First gold Inglaterra Amargor/Aroma 6,5-8,5 Picante, laranja, geleia Pale ale inglesas e bitters Fuggle Inglaterra Amargor/Aroma 3-6 Terroso, notas de gra- ma e menta Cervejas escuras inglesas Galaxy Austrália Amargor/Aroma 11-16 Maracujá, pêssego Pale lagers e ipas Galena EUA Amargor 12-14 Picante, notas de cassis Grande variedade de cervejas americanas Golding EUA Aroma 4-6 Picante, notas de mel, terroso Adiciona um sabor inglês as pale ales e ipas americanas Green bullet Nova Zelândia Amargor 11-14 Floral, frutado-resi- noso Amargor em cervejas belgas Hallertauer mittelfrüh Alemanha Aroma 5-7 Herbal com um toque amadeirado e com notas de menta Clássico para german pilsners Hallertauer tradition Alemanha Aroma 5-7 Lúpulo nobre, um pouco menos refinado que o mittelfrüh Lagers da escola alemã Hersbrucker Alemanha Aroma 2-5 Picante, um pouco mais frutado que hal- lertauer Usado em diveros estilos de lagers e ales continentais Liberty EUA Aroma 3,5-5 Floral e frutado, aba- caxi Adequado para aroma da maioria dos estilos lager Magnum Alemanha/EUA Amargor 11-16 Neutro, pouco aroma Amargor para lagers, onde um amargor su- per limpo é desejado Mosaic EUA Aroma 11,5-13,5 Complexo, com frutas tropicais, cítrico, pinho e terroso Ipas e pale ales Motueka Nova Zelândia Aroma 6,5-8,5 Super limpo, cítrico, combina bem com saaz Saison, witbiers e fruit biers Nelson sauvin Nova Zelândia Amargor/Aroma 11-13 Super frutado, um pouco como vinho branco sauvignon e notas de groselha Single hop, saison e strong golden ale Nortern brewer Alemanha Amargor/Aroma 7,5-10 Picante, resinoso, notas herbáceas California common, belgas escuras Nugget EUA Amargor 12-14,5 Delicado, pera, pês- sego Amargor para cervejas do estilo americano Pacific gem Nova Zelândia Amargor 13-15 Amora, carvalho, pinho Experimente em cer- vejas envelhecidas 19 Pacific jade Nova Zelândia Amargor/Aroma 12-14 Pimenta-preta e cítrico Saison e hefeweizen Palisade EUA Amargor/Aroma 5,5-9,5 Flora e frutado, mix de características inglesas e alemãs Amargor e aroma para versões criativas de lagers Perle Alemanha Amargor/aAroma 6-10 Mais picante que hallertau, notas florais e frutadas Cervejas de trigo (weiss) Pilgrim Inglaterra Amargor/Aroma 7-11 Picante, cedro e mel Saison e witbier Pioneer Inglaterra Amargor/Aroma 8-10 Amargor limpo e agra- dável, notas cítricas no aroma Adicione complexida- de em ales inglesas Progress Inglaterra Aroma 4-7 Características ingle- sas, como fuggle, mas um pouco mais doce Aroma para uma am- pla variedade de ales inglesas Saaz República Tcheca Aroma 2-8 Picante, terroso, floral O clássico lúpulo picante/herbal para cervejas alemãs Saphir Alemanha Aroma 2-4,5 Floral e frutado Single hop, kölsch e cervejas de trigo Savinski (styrian) golding Eslovênia Aroma 3-6 Limão-siciliano, ter- roso Ales belgas e inglesas Simcoe EUA Amargor/Aroma 12-14 Aroma único de da- masco, notas de pinho e cítrico Single hop, belgas e ipas Sorachi ace EUA Amargor/Aroma 10-16 Aroma cítrico único com um toque de endro Single hop,saison e outros estilos belgas Summit EUA Amargor 16-19 Descrito como um toque de cebola e alho junto com cítrico e picante Amargor para ampla variedade de ales Tettnanger Alemanha Aroma 3-6 Limpo, picante leve Ótimo em cervejas de trigo e um componen- te clássico em muitas american lagers Wakatu Nova Zelândia Amargor 6,5-8,5 Pinho e laranja, com notas florais e bauni- lha Ótimo para ipas e estilos similares Warrior EUA Amargor 15-17 Amargor muito limpo, sem destaque no aroma Bastante versátil para amargor Willamette EUA Amargor/Aroma 4-6 Notas de cassis, pican- te e floral Adiciona caracte- rísticas inglesas em qualquer cerveja Zeus EUA Amargor/Aroma 14-16 Pimenta-do-reino, pinho, alcaçuz Belgian ipa, imperial ipa e saison Para um amargor mais agradável e melhor estabilidade de espuma, prefira lúpulos com baixo índice de Cohumulono (<30%). 20 LEVEDURA A levedura é usada para produzir cerveja há pelo menos 5.000 anos, mas somente a partir do ano 1857 ficou comprovada a importância da levedura na fermentação, através das pesquisas do químico e microbiologista Louis Pasteur. As leveduras são seres unicelulares, pertencentes ao reino dos fungos, que apresentam uma característica bastante peculiar que interessa aos cervejeiros: a fermentação alcoólica na ausência de oxigênio. Embora existam centenas de espécies de leveduras na natureza, apenas uma é utilizada na fabricação de cervejas, Saccharomyces cerevisiae. Entretanto, ao longo da história da cerveja foram cultivadas dezenas de cepas (variedades) de leveduras, com características de fermentação totalmente diferentes. De modo geral, podemos classificar as variações cervejeiras de Saccharomyces em dois tipos funcionais: Alta fermentação: classificadas assim por se elevarem à superfície da cerveja no final da fermentação formando uma película flutuante, e também pelo fato de fermentarem em temperaturas mais altas (16-24ºC). São conhecidas como leveduras do tipo Ale. Baixa fermentação: Também chamadas de leveduras do tipo Lager. Diferente do tipo anterior, essas leveduras se depositam no fundo do fermentador ao final do processo de fermentação e atuam em uma faixa de temperatura mais baixa (9-15ºC). E a fermentação espontânea? Talvez você nunca tenha ouvido falar, mas é um processo clássico muito comum na Bélgica mesmo nos dias atuais, onde a fermentação acontece espontaneamente em tambores abertos, a partir de leveduras e bactérias presentes no ambiente. Enquanto os processos de fermentação citados acima levam uma a duas semanas, aqui a fermentação pode demorar até 2 anos para terminar. Como é de se imaginar, estilos diferentes de cerveja requerem cepas diferentes de leveduras. Essas cepas estão disponíveis para os cervejeiros caseiros de duas formas, seca (liofilisada) e líquida (fresca). As primeiras têm prazo de validade longo e são mais fáceis de usar, mas as opções são mais limitadas. Já as leveduras na forma líquida têm prazo de validade curto e geralmente precisam de um starter antes de serem inoculadas no mosto cervejeiro. Para os iniciantes recomendo sempre utilizar fermento seco, para não precisar fazer starter. Nesse caso você só precisará fazer a hidratação do fermento, que é um processo bem mais simples. COMO HIDRATAR O FERMENTO Tire o fermento da geladeira e deixe ele atingir a temperatura ambiente. Caso não use água mineral, ferva a água a ser utilizada na hidratação em um recipiente sanitizado (de preferência um erlenmeyer). Em média, são utilizados 10ml de água para cada grama do fermento a ser reidratado. Deixe a água resfriar até atingir a temperatura indicada pelo fabricante do fermento para hidratação. Quando a água estiver na temperatura ideal, jogue suavemente o fermento no recipiente, evitando que se formem “montinhos”. Aguarde 15 minutos. Misture suavemente o fermento. Aguarde mais 15 minutos. Durante esse tempo, você pode mexer a mistura a intervalos de aproximadamente 5 minutos para que ela fique homogênea. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 21 A SEGUIR APRESENTO UM QUADRO COMPARATIVO COM ALGUMAS DAS PRINCIPAIS LEVEDURAS SECAS E LÍQUIDAS MAIS UTILIZADAS DE ACORDO COM O ESTILO DE CERVEJA PREPARADO. ESTILO DA CERVEJA EXEMPLO COMERCIAL LEVEDURA LÍQUIDA LEVEDURA SECA WYEAST WHITE LABS BIO4 FERMENTIS LALLEMAND Premium American Lager Heineken 2035 American lager 840 American lager American lager 002 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Dortmunder Export DAB Export 2124 Bohemian lager 830 German lager German lager 004 Fermentis S23 Diamond / Nottingham Bohemian Pilsner Pilsner Urquell 2001 Urquell 800 Pilsner Pilsner Ur- quell 001 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham German Pilsner Bitburger 2007 Pilsen lager 840 American lager American lager 002 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Vienna Lager Brooklyn lager 2124 Bohemian lager 830 German lager German lager 004 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Oktoberfest/Märzen Paulaner Oktoberfest 2206 Bavarian lager 820 Oktoberfest German lager 004 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Helles Bock Ayinger/ Maibock 2487 Hella bock 833 German bock Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Dopplebock Paulaner Salvator 2124 Bohemian lager 830 German lager German lager 004 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Eisbock Niagara Eisbock 2308 Munich lager 838 Southern German lager Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Munich Dunkel Ayinger Altbairisch Dunkel 2278 Czech pils 800 Pilsner Pilsner Ur- quell 001 Fermentis 34/70 Diamond / Nottingham Extra Special Bitter (ESB) Fullers ESB 1187 Ringwood ale 005 English ale London ESB 030 Fermentis S04 BRY-97 / Nottingham 22 Pale ale Sierra Neva- da Pale Ale 1187 Ringwood ale 005 English ale London ESB 030 Fermentis US-05 Nottingham English IPA Brooklyn East India Pale Ale 1187 Ringwood ale 005 English ale London ESB 030 Fermentis US-05 BRY-97 American IPA Stone IPA 1272 American ale II 060 Ame- rican ale blend American ale 025 Fermentis US-05 BRY-97 / Nottingham Black IPA Hi5 2 Cabeças 1187 Ringwood ale 005 English ale London ESB 030 Fermentis US-05 BRY-97 / Nottingham Irish Red ale Way Beer Irish Red Ale 1084 Irish ale 004 Irish ale Irish ale 032 Fermentis S33 BRY-97 / Nottingham Belgian Blonde Ale Leffe Blond 1388 Belgian strong 570 Belgian golden ale Belgian ale 066 Fermentis S33 BRY-97 / Nottingham Belgian Dubbel Westmalle Dubbel 3944 Belgian witbier 400 Belgian wit ale Trappist ale 065 Fermentis S33 Abbaye / Nottingham Belgian Tripel St. Bernar- dus Tripel 3944 Belgian witbier 400 Belgian wit ale Trappist ale 065 Fermentis S33 Abbaye Mild Moorhouses Black Cat 1318 London ale III 013 London ale London ESB 030 Fermentis US-05 Nottingham / Windsor English Barley Wine Fuller's Gol- den Pride 1028 London ale 013 London ale London ESB 030 Fermentis S33 Nottingham American Barley Wine Sierra Neva- da Bigfoot 1056 American ale 001 Califor- nia ale American ale 025 Fermentis S33 BRY-97 / Nottingham Dry Stout Guinness Draught Stout 1084 Irish ale 004 Irish ale Irish ale 032 Fermentis US-05 BRY-97 / Nottingham Brown Porter Fuller's Lon- don Porter 1028 London ale 013 London ale American ale 025 Fermentis US-05 Nottingham / Windsor Weizenbock Schneider Aventinus 3056 Bavarian wheat 380 He- feweizen IV Hefewei- zen 055 Fermentis WB06 Munich / Munich Classic Witbier Hoegaarden Wit 3944 Belgian witbier 400 Belgian wit ale Belgian Wit 067 Fermentis WB06 Munich Dunkelweizen Ayinger Ur-Weisse 3056 Bavarian wheat 380 He- feweizen IV Hefewei- zen 055 Fermentis WB06 Munich / Munich Classic Kölsch Eisenbanh Kölsch 2565 Kölsch 029 Ger- man ale Fermentis US-05 BRY-97 / Nottingham Californian Common Anchor Steam 2112 California ale 810 SanFrancisco lager Fermentis US-05 Diamond / Nottingham Saison Saison Du- pont Vieille Provision 3711 French saison 565 Belgian saison I Saison ale 064 -- Belle Saison 23 OUTROS INGREDIENTES Até agora eu falei dos ingredientes básicos e indis- pensáveis para a produção de cervejas. Porém não podíamos deixar de citar que existem outros adjun- tos, tais como ervas, flores, frutos e especiarias, que também podem ser usados e conferir características marcantes na sua cerveja. VEJA ALGUNS EXEMPLOS: FRUTAS: também são muito utilizadas, com destaque para cerejas, framboesas, pêssegos e moran- gos. Utilizadas para gerar uma segunda fermentação, como nas clássicas cervejas belgas dos estilos Lambic. Também pode ser utilizado o suco des- sas frutas, como no caso das Fruit Beers. AÇÚCAR: É o aditivo mais comum, po- dendo ser simplesmente uma estratégia para aumentar o teor alcoólico sem alterar muito o corpo da cerveja, mas também para criar sabores especiais, utilizando por exemplo açúcar mascavo, rapadura, mel, mela- ço, entre outros. ESPECIARIAS: Alguns estilos de cerveja exi- gem a utilização de frutas e especiarias, como no caso das Witbiers, em que se adicionam casca de laranja e sementes de coentro. Folhas de limão, de ca- pim-limão, pimentas e diversas outras especiarias podem ser combinadas para preparar uma Witbier única. NESSE PONTO VALE A CRIATIVIDADE DO CERVEJEIRO, MAS SEMPRE ACONSELHO A ESTUDAR BASTANTE O INGREDIENTE A SER ADICIONADO ANTES E, DE PREFERÊNCIA, JÁ TER O DOMÍNIO DA RECEITA QUANDO FOR COMEÇAR OS TESTES. Para avaliar os resultados dos diferentes adjuntos na composição da cerveja, ou mesmo para ajustar a concentração ideal, é aconselhável separar a leva produzida em várias bateladas, com 5 ou 10 litros cada, para economizar tempo e dinheiro até ajustar a receita. 24 RECEITA 25 RECEITA Agora que você já tem uma noção dos equipamentos e ingredientes necessários para iniciar sua produção, vamos precisar de uma receita. Aqui a coisa funciona exatamente como nas famosas receitas culinárias, a diferença é que o perfil do equipamento a ser utilizado também é muito importante. Basicamente uma receita de cerveja terá uma lista de ingredientes e detalhamento dos processos a serem executados. Vale destacar ainda que Quantidades, Tempos e Temperaturas são fatores chave no controle da produção. Como você ainda está no início, não há motivos para se preocupar com a elaboração de receitas, até porque é necessária certa experiência com os processos e domínio dos ingredientes para executar essa tarefa. Para ter uma ideia, ensino isso para os meus alunos apenas no penúltimo módulo do Programa Eu Cervejeiro, ou seja, somente após ter certeza que todo o processo já está dominado. Então o seu primeiro passo será seguir uma receita pronta, utilizar os ingredientes e processos descritos na receita e fazer a sua primeira cerveja. Para isso vou deixar aqui a receita da Session Pale Ale Concerveja, a receita que os alunos do Programa Cervejeiro Express aprendem a fazer na sua primeira brassagem. Na sequência você poderá começar a dar o seu toque especial nas suas cervejas, ou seja, você pode pegar essa e outras receitas prontas, e depois de testada, pode fazer pequenas alterações, deixando ela com a sua cara. E depois, com mais experiência, você estará apto a preparar a sua receita do zero. ACESSE O LINK ABAIXO PARA FAZER O DOWNLOAD DA RECEITA DA SESSION PALE ALE CONCERVEJA https://concerveja.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Receita_Session_Pale_Ale_CEx.pdf https://concerveja.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Receita_Session_Pale_Ale_CEx.pdf 26 LIMPEZA E SANITI_ ZAÇÃO 27 LIMPEZA E SANITIZAÇÃO Embora o processo de produção de cerveja possa parecer um pouco complexo, afinal são vários detalhes a serem levados em conta para se ter uma boa cerveja, raras vezes o cervejeiro comete erros capazes de arruinar a sua produção, ou seja, no final sempre temos cerveja, mesmo que não fique tão boa quanto o esperado... e olha que isso acontece bastante! Mas existe uma etapa que, quando não é bem executada, resulta em ver toda sua cerveja jogada literalmente pelo ralo. Posso apostar que 9 entre 10 desses casos são devidos a contaminações, resultantes de falhas nas etapas de limpeza e sanitização dos equipamentos. Apesar de todo cervejeiro saber da importância da limpeza correta e minuciosa dos equipamentos e do local antes, durante e após iniciar a produção, é comum encontrar cervejeiros iniciantes que não estão muito familiarizados com os termos citados e não sabem que existe diferença entre eles. Então vamos esclarecer essa diferença. LIMPAR Remover toda a sujeira, resíduos orgânicos e inorgânicos visíveis. SANITIZAR Reduzir os microorganismos a níveis muito baixos, de modo a não apresentar potencial de contaminação após iniciada a fermentação do mosto. ESTERILIZAR Exterminar todas as formas de vida, especialmente microrganismos, seja por meios físicos ou químicos. SE VOCÊ QUISER VER O VÍDEO QUE EU GRAVEI SOBRE A SANITIZAÇÃO, ACESSA AGORA ESSE LINK https://www.youtube.com/watch?v=Q-PJpeIj81A 28 LIMPEZA ESTERILIZAÇÃO SANITIZAÇÃO Limpar é o primeiro passo fundamental para higienização da sua produção, sendo imprescindível fazê-la antes da sanitização, pois, apesar dos agentes sanitizantes serem capazes de limpar, depósitos de resíduos podem abrigar e proteger os microrganismos da ação destes agentes. Na limpeza são utilizados normalmente água, detergente e esponjas/escovas para remover a sujeira e resíduos depositados nos cantos, buracos e fendas. Todos equipamentos usados na produção devem passar por essa etapa, mesmo aqueles da etapa quente (até o fim da fervura). O processo mais agressivo é a esterilização, pois a proposta é acabar com todos os microrganismos presentes naquele equipamento. Muitos cervejeiros falam em esterilizar seus equipamentos quando na verdade estão falando em sanitizá-los, pois a esterilização normalmente é realizada através do uso de autoclave ou aquecimento a altas temperaturas e pressão, não sendo muito realista no contexto de cervejeiro caseiro. John Palmer afirma que “a maioria dos produtos químicos que os cervejeiros caseiros usam, vão limpar e sanitizar os equipamentos, mas não esterilizar. Entretanto ao invés de focar na esterilização, que não é realmente necessária, os cervejeiros caseiros podem ficar satisfeitos se conseguirem uma redução consistente dos microrganismos a patamares insignificantes. A sanitização consiste na redução significativa na presença de organismos contaminantes presentes nos equipamentos. Embora esses contaminantes não sejam totalmente exterminados (para isso é necessário o processo de esterilização), quando inoculamos as leveduras elas consomem rapidamente o oxigênio e nutrientes disponíveis, não dando condições para os demais organismos ali presentes em baixas quantidades se multiplicarem a ponto de contaminar a cerveja. Existem 3 principais sanitizantes utilizados na produção de cerveja (Álcool 70%, Iodophor e Ácido Peracético), ficando a critério do cervejeiro a escolha de um ou de outro. Cada um tem seus prós e contras, aconselho utilizar cada um deles e avaliar com qual você se adapta melhor. 29 Talvez você esteja se perguntando se é necessário sanitizar todos os equipamentos utilizados... e a resposta é: Não! Apenas os equipamentos utilizados na fase fria do processo, ou seja, após o resfriamento, necessitam de sanitização. Já os equipamentos utilizados antes da etapa de fervura precisam apenas estar limpos, já que a fervura se encarregará de eliminar qualquer microorganismo presente no mosto. PROCESSO PRODUTO UTILIZAR EM QUANTIDADE OBSERVAÇÕES Limpeza Água, esponja, esco- vas, sabão, detergente Equipamentos em geral, co resíduos visíveis Variável de acordo com o equipamento a ser higienizado Não utilize materiais abra-sivos em plásticos (esponja com o lado verde, por exemplo), pois pode criar ranhuras que facilitam a instalação de microorga- nismos Ácido Acético (vina- gre) e sal Equipamentos em cobre Variável de acordo com o equipamento a ser higienizado Colocar Vinage suficiente para umidificar o sal e esfregar o cobre até recu- perar a cor natural Bicarbonato de Sódio Geladeira e fermentadores 15 gramas (1 colher de sopa) para 0.5 litros de água morna Lavar os equipamentos com essa mistura e deixar secar naturalmente Sanitização Ácido Peracético Equipamentos da fase fria. Ex.: fermentado- res, chinoy, termôme- tro, etc Varia conforme fabri- cante, sendo o mais comum a concentra- çnao entre 0.01% a 0.1%. As instruções na embalagem devem ser verificadas. Borrifar a solução diluída nos equipamentos a esperar secar por cerca de 10 minutos Produtos a base de iodo Ex.: Kalyclean, BTF, iodophor, etc Equipamentos da fase fria. Ex.: fermentado- res, chinoy, termôme- tro, etc Varia conforme fabri- cante, sendo o mais comum a concentra- çnao entre 0.4% a 1.0%. As instruções na embalagem devem ser verificadas. Borrifar a solução diluída nos equipamentos a esperar secar por cerca de 1 minuto Álcool 70% Equipamentos da fase fria. Ex.: fermentado- res, chinoy, termôme- tro, etc Variável de acordo com o equipamento a ser higienizado Aplicar na superfície e esperar secar CONFIRA A LISTA DOS PRINCIPAIS PRODUTOS UTILIZADOS NA LIMPEZA E SANITIZAÇÃO NA TABELA A SEGUIR, ACOMPANHADOS DAS INDICAÇÕES DE USO, DOSAGENS RECOMENDADAS E OUTRAS OBSERVAÇÕES. 30 BRASSAGEM 31 Como você viu no começo desse livro, a função do cervejeiro é transformar o amido e proteínas con- tidas no malte em uma solução de açúcares con- tendo lúpulo, chamada de mosto. E o processo de produção do mosto é chamado de brassagem. Então você pode interpretar dessa forma, a sua principal função dentro do processo de produção de cerveja é produzir o mosto. Tudo que vimos até agora foi apresentado de forma a servir de base para você entender o que precisa fazer durante essa etapa para que o mosto seja bem preparado e fique como definido na receita. Você precisa conhecer e dominar os seus equi- pamentos para trabalhar bem com eles, ter uma noção mínima sobre as características dos ingre- A função da moagem é quebrar os grãos do malte para expor seu endosperma, rico em amido, para atuação das enzimas durante a brassagem. O cervejeiro caseiro tem basicamente 2 opções: Comprar o malte já moído ou moer por conta pró- pria o seu malte. Lojas especializadas geralmente fazem esse tipo de serviço cobrando uma pequena taxa, permitin- do que você compre os maltes na medida da sua receita e retire-os já moídos na véspera da sua brassagem. Caso contrário você pode usar o seu próprio moi- nho, podendo ser de rolos, mais caro e eficiente, ou de discos, mais barato e acessível (principal op- ção do cervejeiro caseiro iniciante). A moagem ideal é aquela em que o endosperma é exposto e quebrado, mantendo uma quantidade considerável de cascas inteiras (que vão auxiliar na filtração do mosto). Muito pó fino e grãos inteiros não são desejáveis. dientes que está usando, ter uma receita em mãos (no futuro você vai aprender a elaborar as suas próprias receitas), e claro, também saber como fazer a limpeza e sanitização adequada dos seus equipamentos para não perder a sua leva. Com essa base você está pronto para aprender como funciona o processo de preparo do mosto, a brassagem, uma série de processos que pode ser dividida em 6 etapas: moagem, mosturação, clari- ficação, lavagem, fervura e resfriamento. Vamos ver na sequência os detalhes de cada uma delas, você vai entender qual a função de cada eta- pa dentro do processo de produção e o que você deve fazer em cada uma. MOAGEM Caso não queira cansar muito o braço nesta etapa, você pode otimizar o processo de moagem acoplando uma parafusadeira (ou furadeira) na manivela do moedor! 32 Agora é hora de adicionar o malte moído à água pré-aquecida para ativar as enzimas e converter o amido em açúcares menores, os chamados açúca- res fermentáveis. VOCÊ PODE FAZER A SUA MOSTURAÇÃO POR TRÊS DIFERENTES MÉTODOS: • Infusão simples, mantendo uma única temperatura de mosturação; • Rampas de temperatura, mosturação em diferentes faixas de temperatura com elevação gradual; • Decocção, elevação da temperatura através de fervu- ras de frações do mosto. Como a ideia aqui é simplificar, vou tratar apenas do primeiro método, que é o indicado para inician- tes, apesar de muito cervejeiros com anos de expe- riência utilizá-lo com frequência, pela praticidade e eficiência. Eu mesmo, faço infusão simples na grande maioria das minhas receitas. Na infusão simples a temperatura alvo (~67ºC) fica na faixa de atividade das duas principais enzi- mas que convertem o amido em açúcares fermen- táveis, a alfa amilase e a beta amilase. Em primeiro lugar vamos separar a água utilizada para a mosturação, numa proporção entre 2 e 3 litros de água para cada quilo de grão, sugiro 2,5L/ Kg. Exemplo: se sua receita leva 5kg de malte use 12,5 litros de água. MOSTURAÇÃO Sempre que o fogo estiver ligado mexa o mosto para evitar a caramelização ou até mesmo que os grãos do fundo da panela queimem, pois resultará em sabores desagradáveis na sua cerveja Após aquecer a água até cerca de 5ºC acima da temperatura alvo o malte moído pode ser adicio- nado à água e mantido nessa temperatura por pelo menos uma hora. A temperatura pode ser corrigida adicionando água quente à sua panela ou aquecendo direto sobre a chama do fogareiro (lembre-se de mexer a panela sempre que o fogo estiver ligado). Passado o tempo necessário para a conversão total do amido eleva-se a temperatura para 77ºC para ina- tivar as enzimas mantendo nessa temperatura por 5 minutos antes de passar para a próxima etapa. 33 TESTE DO IODO O teste do iodo vai te ajudar a saber se a etapa de mosturação terminou, ou seja, se no seu mosto ainda estão presentes as moléculas complexas que compõem o amido ou se estão presentes alí somente as moléculas menores, resultantes da quebra enzimática. O iodo quando misturado com amilose e ami- lopectina (moléculas complexas que formam o amido) reage alterando a sua cor de alaran- jado para tons de azul e preto. Dessa forma, o teste do iodo tem a importante função de ajudar na indicação da presença de amido no mosto cervejeiro, o que quer dizer que a mos- turação ainda não terminou. Do contrário, quando a coloração se mantém alaranjada ao misturar o seu mosto no iodo, indica que a conversão terminou, ou seja, seu mosto não tem mais açúcares comple- xos e você pode seguir para a próxima etapa do processo. Agora que você já entendeu a função do tes- te, resta saber como fazê-lo. E o teste é muito simples, para fazer você vai precisar de: • Uma placa de toque ou um pires branco, • Uma pipeta conta-gotas, • Tintura de iodo. Se não tiver a pipeta fique tranquilo, você pode usar a própria pá cervejeira para pingar o mosto sobre a solução de iodo, só cuidado para não colocar pedaços de casca do malte ou grãos inteiros, pois o resultado pode dar falso positivo. Para fazer o teste basta pingar umas gotas de tintura de iodo na placa de toque ou pires branco, e em seguida pingar algumas gotas do mosto e misturar... e pronto, é só isso!! AVALIANDO O RESULTADO DO TESTE: Cor da mistura azul ou preta indica a presença de amido > Continue a mosturação Cor da mistura não alera a cor Conversão completa> Siga para a próxima etapa! 34 Essa etapa consiste em recircular o mosto atra- vés da cama de grãos, filtrando as partículas só- lidas que estão em suspensão. Dessa forma, você estará clarificando o mosto, ou seja, deixando ele mais limpo e cristalino. Você pode fazer a recirculação de forma manual ou automatizada, mas independente dos equi- pamentos que você escolher, o esquema geral é sempre o seguinte:você retira o líquido pela par- te de baixo da panela e retorna para a panela pela parte de cima, sobre a cama de grãos. O objetivo da lavagem é aumentar a eficiencia do sistema na extração dos açúcares do malte. O pro- cedimento é simples, enquanto drenamos o mosto clarificado para a panela de fervura, a água de lava- gem é despejada sobre a cama de grãos na panela de mostura, arrastando os açúcares que ficaram retidos na cama de grãos durante a recirculação. Se por um lado a lavagem é de extrema impor- tância para aumentar a eficiência da brassagem, por outro é preciso cuidar para não lavar demais o bagaço, para não ter problemas com a densida- de do mosto e também com o possível arraste de taninos para sua cerveja. Dois pontos importantes aqui: drenar bem lentamente o mosto e deixar sempre uma camada de água sobre o bagaço para não formar canais preferencias de escoamento. A temperatura da água de lavagem deve estar en- tre 75 e 78ºC para garantir a máxima eficiência na extração dos açúcares e não arrastar os taninos CLARIFICAÇÃO (RECIRCULAÇÃO) LAVAGEM (SPARGE) Esse procedimento deve ser repetido até que o mosto saia claro e sem sedimen- tos pela torneira. Você per- ceberá que ele fica mais cristalino, enquanto o mos- to no início da clarificação sai bem turvo. Recomendo passar pelo menos uma vez o volu- me total do líquido através da cama de grãos. Se estiver utilizando uma jarra, é só dividir o vo- lume de mosto pelo volume da jarra que você tem o número de jarras que você deve retirar por baixo e despejar por cima. Utilizando bomba com mangueira, cerca de 30 minutos de recircu- lação devem ser suficientes. Lembrando que a inspeção visual é que define se o mosto já está devidamente clarificado. presentes na casca do malte, responsáveis por ge- rar adstringência na cerveja. O cálculo do volume de água de lavagem de grãos está diretamente relacionado com o volume de água utilizado na mosturação e com as perdas durante o processo. Quando tenho mais tempo gosto de ensinar para meus alunos como calcular o volume de água necessário para a brassagem e lavagem, mas por aqui podemos usar um regrinha básica (que não é 100% confiável mas funciona) descrita por John Palmer, que recomenda utilizar uma vez e meia o volume de água utilizado na mosturação (1,5 x VH2O Mosturação) para água de lavagem de grãos. Por exemplo, se você usar 10 litros de água para fazer sua mosturação, na lavagem de grãos você utilizará 15 litros de água. Via de regra, com essa proporção você não terá problemas durante a sua lavagem de grãos. • VOCÊ PODE USAR UMA JARRA E UMA ESCUMADEIRA PARA RETIRAR O LÍQUIDO QUE SAI DA TORNEIRA POR BAIXO E DESPEJAR POR CIMA DA PANELA; • PODE TER UMA BOMBA COM MANGUEIRA QUE FAÇA ESSE SERVIÇO PARA VOCÊ; • PODE USAR UM “CHUVEIRINHO” QUE DISPERSE O LÍQUIDO DE FORMA HOMOGÊNEA PARA NÃO DANIFICAR A CAMA DE GRÃOS, E POR AÍ VAI… 35 O ideal é monitorar a densidade do mosto na pa- nela de fervura, com densímetro ou refratômetro até atingir a densidade alvo (pré-fervura, con- forme indicado na receita). No início a densidade do mosto na panela de fervura vai estar bastante elevada, mas conforme o mosto for diluído com a água da lavagem, a densidade vai diminuindo. Também deve-se monitorar a densidade que sai da panela de mostura durante a lavagem, interrom- pendo o processo quando a densidade baixar de 1.010, para não arrastar taninos. Para fazer as medições de densidade do mosto você vai precisar de um densímetro (ou refratômetro). Esse equipamento é calibrado para mostrar a densidade do líquido amostrado em comparação com água em temperatura ambiente (20°C). Se estiver medindo a densidade em outra temperatura você deve corrigir a leitura de acordo com a temperatura do mosto. CONFIRA NESSE ARTIGO DO BLOG CONCERVEJA COMO FAZER A LEITURA DE FORMA ADEQUADA E A CORREÇÃO DA LEITURA DO DENSÍMETRO COMO USAR O DENSÍMETRO CORRETAMENTE PANELA COM ÁGUA DE LAVAGEM ÁGUA DE LAVAGEM DOS GRÃOS PONTO DE MEDIÇÃO DE DENSIDADE PANELA DE MOSTURA PANELA DE FERVURA https://concerveja.com.br/2016/08/04/densimetro/ https://concerveja.com.br/2016/08/04/densimetro/ 36 A fervura serve para esterilizar o mosto, eliminan- do eventuais microorganismos contaminantes, eliminar substâncias que podem conferir sabo- res e aromas desagradáveis a cerveja, devido à evaporação, além de ser responsável por conferir o amargor à cerveja, através da isomerização dos alfa ácidos do lúpulo. A fase de fervura dura normalmente 60 minutos, dependendo da receita que você seguir. No início da fervura é comum a formação de espuma sobre o mosto. São proteínas que coagulam com o ca- lor. Embora não seja obrigatório, aconselho reti- rar pelo menos o excesso utilizando uma peneira ou coador. Como a fervura deve ser intensa, você pode acabar exagerando um pouco no fogo, fazendo com que o mosto suba e transborde (boil over). Por isso é importante ficar de olho nos primeiros minutos da fervura, se notar que isso está para acontecer, di- minua um pouco o fogo. FERVURA Quando a fervura estiver estabilizada é hora de adicionar os lúpulos, de acordo com as recomen- dações da receita escolhida. Lúpulos de amargor são adicionados no início da fervura enquanto os lúpulos de aroma são adicio- nados ao final. Algumas receitas incluem uma adi- ção no meio da fervura, para um incremento de sabor à cerveja. Não tampe a panela durante a fervura, pois com a tampa, além de facilitar o boil-over, o dimetil sulfeto (DMS) fica aprisionado e pode resultar em cheiro de milho cozido na sua cerveja. 37 Após a fervura, o mosto precisa ser resfriado o sufi- ciente para permitir a sobrevivência das leveduras que serão inoculadas, pois elas não resistem a al- tas temperaturas (em média acima de 35°C). Mas antes de começar o resfriamento, você pre- cisa separar o trub, um aglutinado de proteínas e outras impurezas que não devem seguir para o fermentador. A separação do trub pelo cervejeiro caseiro é feita através da realização do Whirlpool. Com a sua colher cervejeira sanitizada faça movi- mentos circulares formando um redemoinho ao centro, carreando os sólidos do trub para o centro da panela formando um cone. Terminado o exercício, espere mais 10 minutos e então comece a resfriar o mosto. O tempo de res- friamento do mosto varia de acordo com o equipa- mento que você está utilizando, temperatura do local que você está produzindo e volume da sua produção. Mas a regra é a seguinte, quanto mais rápido o resfriamento, até atingir a temperatura de fermentação, melhor! RESFRIAMENTO Se você conseguir resfriar o mosto em até 20 mi- nutos é excelente. Conseguindo resfriar o mosto em até 40 minutos é aceitável. E se levar mais de 50 minutos começa a ser preocupante e eu acon- selho você rever o seu processo para diminuir o tempo gasto para resfriar mosto. EXISTEM PELO MENOS TRÊS MOTIVOS PARA VOCÊ RESFRIAR O MOSTO RÁPIDO, FAZENDO ISSO VOCÊ ESTARÁ DIMINUINDO O RISCO DE CONTAMINAÇÃO DO MOSTO, EVITANDO A FORMAÇÃO DE COMPOSTOS INDESEJADOS PARA A CERVEJA E EVITANDO PROBLEMAS DE TURBIDEZ NA CERVEJA PRONTA TAMBÉM. ENTÃO APÓS ATINGIR A TEMPERATURA DE FERMENTAÇÃO, É HORA DE INOCULAR O FERMENTO PARA COMEÇAR A FERMENTAÇÃO. TEMPO PARA RESFRIAR O MOSTO ATÉ 26ºC EXCELENTE EXCELENTE BOM 0MIN 15MIN 20MIN 25MIN 30MIN 40MIN 50MIN ACEITÁVEL ACEITÁVEL PREOCUPANTE 38 MÉTODOS DE RESFRIAMENTO DO MOSTO Existem 4 métodos de resfriamento do mosto, que apresentam diferenças principalmente quanto ao custo e eficiência de cada um. Confira a descrição de cada um, acompanhada das vantagens e des- vantagens de cada método. Esse método é simples e fácil de fazer, implica em colocar a sua panela com mosto quente em um recipiente com gelo e água, para resfriar o mosto através da troca de calor entre a superfície de con- tato da panela e a mistura de água e gelo. • É uma opção simples e fácil de fazer; • O custo é o mais baixo dentre as 4 opções. • Mais eficiente em relaçãoao método de imer- são na água com gelo, principalmente em pa- nelas com volumes maiores; • Bom custo benefício. • Inviável para levas de mais de 20 litros; • Risco presente de contaminação, caso respin- gue água dentro do seu mosto quente; • Necessidade de remoção da água para poder co- locar mais gelo, quando ele começar a derreter. • Mais caro que o método de imersão na água com gelo; • Necessidade de higienizar (limpar e sanitizar), imergindo o chiller limpo durante os últimos 10 minutos da fervura; Consiste em um tubo, que pode ser de alumínio, cobre ou inox, que é imerso diretamente no mosto quente. Por dentro desse tubo passa água fria, que vai trocando calor com o mosto quente na medida em que vai percorrendo o chiller. A água sai quente e o mosto vai resfriando. IMERSÃO EM ÁGUA COM GELO CHILLER DE IMERSÃO PRÓS CONTRAS PRÓS CONTRAS 39 É um tubo (de inox, cobre ou alumínio) com di- âmetro menor que passa por dentro de outro tubo (mangueira), com diâmetro maior. O mosto quente passa por dentro do tubo interno enquan- to a água fria passa pelo tubo externo, no sentido contrário, sem contato da água com o mosto. • É um método muito bom para resfriar o mos- to, geralmente mais eficaz que o chiller de imersão e o banho de gelo. • Ótima eficiência no resfriamento; • Fácil utilização e sanitização; • Ocupa menos espaço. • Preço mais elevado que o chiller de imersão; • Mais difícil de limpar e sanitizar que o chiller de imersão; • Não dá para ver dentro do tubo menor se exis- te alguma sujeira. • Preço mais elevado em comparação aos de- mais; • Difícil de higienizar (limpar e sanitizar); • Não dá para ver se dentro do chiller existe al- guma sujeira A mecânica de funcionamento do chiller de placas é similar à do chiller de contra fluxo. No lugar dos tubos, ele tem placas internas, por onde a água e mosto percorrem caminhos distintos, em sentidos opostos, trocando calor e resfriando o mosto. CHILLER DE CONTRA-FLUXO CHILLER DE PLACAS Independente do equipamento que você decidir utilizar, a sacada aqui para você resfriar o mosto mais rapidamente é você usar um pré-chiller. PRÓS PRÓS CONTRAS CONTRAS 40 MAS O QUE SERIA O PRÉ-CHILLER? É um chiller de imersão dentro de um recipiente cheio de uma mistura de água e gelo, então antes de começar a resfriar o mosto, a água que vai trocar o calor com o seu mosto, passará por esse pré- -chiller que está imerso na bacia com a mistura gelada. Dessa forma, ao invés dessa água estar em 10°C, 20°C ou 25°C (dependendo de onde você está fazendo a sua cerveja), você vai jogar a tempe- ratura dela lá para baixo (em torno de 0°C). Isto vai aumentar consideravelmente a eficiência da sua troca, reduzindo o tempo gasto nessa etapa. ÁGUA GELADA (OºC) ÁGUA DA TORNEIRA MISTURA QUENTE MISTURA GELADA ÁGUA QUENTE 41 FERMEN_ TAÇÃO 42 CONTROLAR A TEMPERATURA DE FERMENTAÇÃO Aqui a mágica acontece... as leveduras inoculadas no mosto resfriado irão transformar os açúcares em dióxido de carbono (CO2) e álcool, além de outros subprodutos, e o resultado disso é a CERVEJA! O fato de serem as leveduras as responsáveis por esta etapa do processo, não quer dizer que O primeiro, mais básico e mais importante de todos é o controle da temperatura de fermentação! Você precisa ter uma geladeira e um termostato para que se, por exemplo, a sua receita indique que aquela sua cepa de levedura tem um perfil de fermentação ideal em 18°C, você consiga manter a fermentação em 18°C durante a fermentação. Ou ainda se você tem um perfil de fermentação que no segundo dia você aumenta de 18°C para 19°C, no quarto dia de 19°C para 20°C… Enfim, o que você tiver previsto no seu plano de fermentação. Na maioria dos casos, você não pode simples- mente deixar a levedura a temperatura ambiente, pois dependendo de onde você estiver fermen- tando, você pode ter uma variação muito brusca de temperatura ao longo do dia. Por exemplo: no começo da manhã ou madrugada, a temperatura pode estar na casa dos 15°C e durante o meio dia a temperatura pode chegar aos 30°C. Não tenha dúvidas que isso vai estressar as leveduras, e todo o estresse de levedura é transformado em off flavors que você vai sentir na sua cerveja. Tudo que a levedura faz que não é o seu natural, como se fosse considerar como as condições normais de “temperatura e pressão” da cepa de levedura, vai refletir em off flavors, principalmente ésteres e álcoois superiores. o cervejeiro não vai ter trabalho. Pelo contrário, o resultado final, se a cerveja vai ficar boa ou não, depende das condições de trabalho que o cervejeiro vai dar às leveduras. Então vejamos que condições adequadas são essas que o cervejeiro precisa se ater para fazer uma boa cerveja. 5 FATORES CHAVE PARA UMA BOA FERMENTAÇÃO 43 OXIGENAÇÃO DO MOSTO Tido como um dos maiores vilões no processo de deterioração das cervejas, nessa etapa, o oxigênio é fundamental. Se você conhece um pouco de bioquímica, ou lembra do que falei antes quando falamos das leveduras, pode estar se perguntando: mas as leveduras não fazem a fermentação alcoólica para produção da cerveja? Ou seja, convertem o açúcar em álcool na ausência de oxigênio? Sim, é isso mesmo. Entretanto, na primeira fase da fermentação ele é fundamental. Não vou entrar aqui no mérito dessa questão, mas a síntese de proteínas para preparação e construção das paredes celulares das células de leveduras que vão se multiplicar, para fazer a fermentação, precisa muito de oxigênio. Logo, baixa disponibilidade de oxigênio é sinônimo de leveduras que não terão o potencial de fermentação tão bom, que também reflete em estresse pela falta de leveduras pra conseguir atenuar o seu mosto. O que pode levar a ter uma fermentação mais arrastada e pode comprometer a cerveja. Existem três formas para fazer a oxigenação adequada do mosto nas produções caseiras: a primeira consiste em simplesmente transferir a cerveja para o balde fermentador com um certo desnível, despejando o mosto da torneira direto no balde fermentador, e depois chacoalhar vigorosamente o balde. Essa é a forma mais simples e barata, obviamente, indicada para quem está começando, desde que se trate de volumes pequenos de mosto (até 20 litros) e cervejas regulares (OG até 1,060). Os cervejeiros caseiros mais avançados utilizam pequenos compressores de ar (bombinhas de aquário) com filtro bacteriológico ou cilindros de oxigênio puro, hospitalar. 44 TAXA DE INÓCULO DE LEVEDURAS CORRETA GARANTIR NUTRIENTES SUFICIENTES PARA AS LEVEDURAS A taxa de inóculo é a quantidade de leveduras que você adiciona ao mosto. De acordo com volume e a densidade do mosto, você determina a sua taxa de inóculo (células/ml) e o número total de células de leveduras necessárias para atenuar o mosto. Também deve ser levado em consideração a quantidade de leveduras viáveis do seu vial de levedura líquida ou do seu pacote de levedura seca. As leveduras sempre têm uma data de fabricação e, a cada dia que passa, a viabilidade delas vai caindo, principalmente as leveduras líquidas que tem uma taxa de conservação menor, ou seja, tem um decaimento maior. Esse é talvez um dos erros mais comuns entre os cervejeiros artesanais, principalmente os iniciantes: Taxa de inóculo inadequada, abaixo do estimado. Eu digo isso pois existe um mito de que 1 pacote de levedura é suficiente para 20 litros de cerveja, independente da densidade. Mas se você for fazer, por exemplo, uma cerveja com densidade inicial (OG) um pouco maior e dependendo também da viabilidade, 1 pacote não será suficiente para os 20 litros, apesar de muitos cervejeiros acharem que é, pois, a atenuação, a fermentação, ainda que arrastada, vai acontecer, só que o resultado não é uma cerveja excelente. Minha dica para quem está iniciando é escolher cervejas Ale com OG baixa, até 1,055. Por isso disponibilizo aqui a receita da Session Pale Ale Concerveja, pois as chances de aparecerem defeitosdecorrentes da fermentação são menores. Quando você faz a sua brassagem, na etapa da mosturação você quebra proteínas, formando aminoácidos que vão servir de nutrientes para as leveduras. Em se tratando de cervejas leves, com densidade inicial na casa de 1.040 a 1.050, geralmente é suficiente (apesar de normalmente ter uma falta de zinco). Agora se você produzir uma cerveja com densidade mais elevada, a tendência é que esses aminoácidos não serão suficientes, sendo necessário introduzir nutrientes para as leveduras, pois os nutrientes que a cevada disponibiliza não serão o bastante para uma fermentação ótima. 45 RESPEITAR O TEMPO DE FERMENTAÇÃO AS 3 FASES DA FERMENTAÇÃO O cervejeiro tem que ter paciência. Não adianta colocar o mosto para fermentar e querer tirar a cerveja só porque já se passaram 7 dias ou o airlock parou de borbulhar. Você precisa medir a atenuação para saber que, de fato, acabou a fermentação, ou seja, que todos os açúcares fermentáveis foram consumidos pelas leveduras É muito importante ter paciência e calma pois nesse momento as leveduras consomem alguns dos subprodutos das etapas iniciais de fermentação, como diacetil, acetaldeído, etc., que vão estragar a sua cerveja se estiverem presentes na cerveja pronta. Entendidos os fatores chave para uma boa fermentação, posso falar um pouco sobre o processo em si, como que ele se desenvolve. Na verdade a bioquímica por trás do processo de fermentação alcoólica é bastante complexa, não vamos tentar elucidá-la nesse momento, meu papel aqui é ser o mais simples e objetivo possível, apenas para que você entenda como que ocorre esse processo e o que está acontecendo dentro do balde fermentador em cada fase. O processo de fermentação pode ser divido em três fases, nas quais a quantidade de células de levedura, a atividade celular, e também a quantidade de açúcares disponíveis e subprodutos da fermentação é bem diferente. A primeira fase, ou fase Lag, deve ser entendida como a fase de adaptação das leveduras àquele novo meio em que elas foram adicionadas. É um processo de preparação para iniciar a fermentação de fato. Ela pode levar até 15 horas, e você não verá nenhuma atividade, mas muita coisa está acontecendo alí dentro em nível celular. A segunda é a fase de crescimento exponencial. Leva esse nome porque o número de células au- menta rapidamente em função da multiplicação celular. Nessa etapa, que dura de 1 a 4 dias, ocor- re o consumo dos açúcares do mosto com a for- mação do álcool, gás carbônico e demais subpro- dutos da fermentação. É durante essa etapa que você verá a atividade do airlock, por conta da saí- da do CO2 de dentro do balde fermentador. Por fim temos a fase estacionária, que pode levar de 3 a 10 dias, na qual a multiplicação celular diminui e as leveduras passam a consumir os subprodutos gerados durante a fermentação, já que não há mais açúcar disponível. Na sequência as células começam a flocular e sedimentar no fundo do balde. 46 MATU_ RAÇÃO 47 Embora seja muitas vezes negligenciada por cervejeiros inexperientes ou impacientes, a maturação é muito importante para um refinamento da cerveja, é o tempo necessário para que ocorram alguns “ajustes” naturais no aspecto visual, nos aromas e nos sabores da cerveja. VEJA AS PRINCIPAIS RAZÕES PELAS QUAIS VOCÊ DEVE FAZER A MATURAÇÃO: • Diminuir a probabilidade de acidentes: quando não é feita a maturação, pode acontecer de a cerveja ser envasada ainda com densidade alta. Com isso, há perigo de explosão da garrafa quando é feito o priming; • Eliminar eventuais off flavors: depois da fermentação – ou da fermentação primária, como preferem alguns – ainda há leveduras em atividade (embora baixa) na cerveja. A atuação delas é fundamental para a reabsorção de compostos que geram falhas na cerveja, como a acetaldeído e o diacetil. • Aprimorar as características sensoriais da cerveja, dando um “acabamento” aos seus aromas e sabores; • Clarificar a cerveja, pela decantação de proteínas e leveduras; • Dar à cerveja um caráter envelhecido (muito apropriado para Barleywines e Lambics, por exemplo). Esta etapa consiste basicamente em deixar o fermento arredondar a cerveja e depois separar o fermento da cerveja antes do envase. Os tempos e faixas de temperatura variam de acordo com o estilo de cerveja que você está produzindo. Portanto, não podemos raciocinar como nas ciências exatas e estabelecer normas rígidas, uma quantidade precisa de dias, semanas ou meses para o processo. Duas semanas é pouco tempo? Oito meses não seria exagero? A resposta será sempre: depende! Como regra geral, a temperatura deve ser aumentada no final da fermentação, algo em torno de 5°C, para acelerar a atividade das leveduras, e depois abaixada para próximo de 0°C para clarificação. As cervejas Lagers precisam de mais tempo de maturação, assim como as cervejas com maior teor alcóolico e sabores mais complexos também. Por isso, o principal critério para determinar se uma cerveja está boa para consumo é o perfil sensorial. Ou seja, você prova a cerveja e verifica se ela já está do jeito que você planejou. Parece simples, mas pode ser uma dor de cabeça para quem ainda não tem o paladar treinado. Esse é o momento de fazer o Dry hopping, a adição de lúpulos frescos a frio na cerve- ja. Não há um consenso sobre a melhor temperatura e tempo de contato em que o lúpulo deve ficar em contato com a cerveja. As referências clássicas sugerem utilizar a técnica na faixa dos 16-20ºC, mas conheço cervejeiros que fazem a 6ºC, inclusive já testei, e os resultados foram muito bons. Quanto ao tempo de contato, as indicações variam de 3 a 14 dias. Mas os resultados obtidos vão variar muito dependendo da variedade do lúpulo e também do tempo e condições em que foi armazenado. Minha sugestão: quando transferir a cerveja para o balde de maturação adicione o lúpulo dentro de um saco de Voil, mantendo a temperatura a 16ºC por 4 dias. Após esse pe- ríodo, retire o lúpulo e diminua a temperatura para 0ºC. Deixe maturando por duas semanas (se for uma cerveja de trigo pode ser uma só) e pode seguir para o envase. QUER UM AROMA MARCANTE DE LÚPULO NA SUA CERVEJA? 48 CARBONA_ TAÇÃO E ENVASE 49 O que temos no final da maturação já é a nossa cerveja, porém sem gás carbônico (CO2). O que faremos nessa etapa é transferir essa cerveja do balde de maturação para as garrafas ou barril. Na produção caseira, existem dois métodos de carbonatação, a refermentação na garrafa e a carbonatação forçada. Vamos focar aqui principalmente na refermentação, já que é o método utilizado por todo cervejeiro caseiro iniciante. A carbonatação forçada é o principal método utilizado pelos cervejeiros mais experientes, então vou só dar uma visão geral aqui. A carbonatação forçada é um método rápido e eficiente que consiste, basicamente, em injetar gás carbônico no barril em que está a cerveja. Devido à pressão interna, o gás se dissolve na cerveja, carbonatando-a. Para fazer a carbonatação forçada você precisa de uma série de equipamentos, como o barril/ keg/post mix (onde fica a armazenada a cerveja), o cilindro de CO2 (fonte do gás que será injetado no barril), o manômetro (para ajustar a pressão do gás), mangueiras, conectores e uma válvula extratora. Por se tratar de um método que depende da compra de alguns equipamentos mais caros e que exigem conhecimento mais avançado do cervejeiro, tanto para garantir um bom resultado na cerveja quanto para garantir sua própria segurança, a indicação é que você comece sua produções fazendo a refermentação na garrafa. CARBONATAÇÃO FORÇADA 50 Como o nome diz, nesse método é feita uma segunda fermentação dentro da garrafa. Como vimos anteriormente, para termos a fermentação é preciso leveduras e açúcares fermentáveis. Na cerveja maturada temos apenas as leveduras (parte delas ainda estão presentes na cerveja), já que os açúcares fermentáveisforam todos consumidos durante a fermentação primária. O que faremos então é adicionar uma nova fonte de açúcar a essa cerveja, na verdade uma calda de açúcar, chamada de priming, para que as leveduras realizem essa segunda fermentação. Ao misturar a solução de priming com a cerveja pronta deve-se proceder com o envase, enchendo as garrafas (já limpas e devidamente sanitizadas), tampando com a utilização de um arrolhador REFERMENTAÇÃO NA GARRAFA e armazenando em temperatura ambiente na ausência de luz. As leveduras irão consumir a fonte de açúcar (açúcar invertido, açúcar refinado, açúcar demerara, açúcar mascavo, mel ou melado) e gerar o gás carbônico necessário para carbonatar a cerveja. Após uma ou duas semanas as cervejas estarão prontas e dai é só colocar para gelar, chamar os amigos e se divertir degustando a sua própria cerveja!! A quantidade de açúcar a ser utilizada varia de acordo com o estilo da cerveja produzida, já que diferentes estilos requerem níveis de carbonatação diferentes. Veja no quadro a seguir os níveis de carbonatação de alguns estilos de cerveja. QUADRO DE CÁLCULO DE CARBONATAÇÃO PARA PRIMING Estilo de cerveja CO 2 vol CO2/L Açúcar (sacarose) g/L DME g/L Lager clara, Bock e Pale Ale 2.5 6.5 8.4 Amber lager 2.4 6.1 7.9 Lager Escura 2.6 6.9 8.9 IPA 2.0 4.5 5.8 Weiss, Saison e Sour 3.8 11.5 14.9 Bitter 1.5 2.5 3.2 Strong Ale 1.9 4.1 5.3 Brown Ale 1.7 3.5 4.5 Barleywine 1.8 3.7 4.8 Stout e Porter 2.0 4.5 5.8 51 A quantidade de açúcar calculada para o seu lote de cerveja a ser engarrafada é apresentada aqui em gramas por litro (g/l). Portanto, para saber a quantidade total de açúcar para preparar o seu priming basta multiplicar o valor indicado pelo volume de cerveja que você tem para envasar. Para preparar a solução de priming, basta você misturar em uma panela a quantidade de açúcar calculada com o dobro ou triplo de água (basta multiplicar o peso de açúcar por 3, você vai ter o peso de água necessário). Você pode também usar o açúcar invertido, ao invés de usar só a solução de água com açúcar. Para isso basta pingar algumas gotinhas de li- mão na sua solução de água e açúcar e pronto, você tem o açúcar invertido. O próximo passo é você homogeneizar essa mistura e colocar no fogo, deixando ferver por 5 minutos. Com a solução pronta e resfriada (alguns minutos fora do fogo é o suficiente), é hora de você transferir a sua cerveja do balde fer- mentador para outro balde sanitizado antes de começar o envase. Nesse novo balde, você despeja toda essa solução de açúcar (invertido ou não) na sua cerveja, homogenize a cerveja com a solução de açúcar e pronto, é só come- çar a engarrafar. COMO PREPARAR A SOLUÇÃO DE PRIMING A cada 5 ou 6 garrafas que você transferir, homogeneíze novamente essa mistura. 52 Este conteúdo que você acabou de ler é um resumo daquilo que apresento para os meus alunos no Programa Cervejeiro Express, e foi criado especial- mente para todo apaixonado por cerveja que deseja fazer a sua própria cer- veja, e também aqueles cervejeiros iniciantes que ainda tem muitas dúvidas sobre o processo. É muito gratificante para mim poder fazer parte da sua jornada como cerve- jeiro caseiro, e quem sabe até mesmo como cervejeiro profissional no futuro. Desde que resolvi me dedicar a difundir a cultura cervejeira no Brasil tenho me surpreendido a cada dia com a quantidade de novos adeptos e também com o empenho e dedicação dessas pessoas em obter o conhecimento neces- sário para fazer suas próprias cervejas e fazer cada vez cervejas melhores. E tenho certeza que você também é um desses! Quando comecei o empenho e dedicação não era muito diferente do que se vê agora, a diferença está na quantidade de informação disponível. Se há alguns anos a falta de conteúdo e cursos para entender e dominar o processo de pro- dução de cervejas era um problema, hoje em dia é o contrário, o problema é o excesso de informação. O conteúdo disponível hoje é muito vasto, o que muitas vezes se torna um problema, porque você não sabe no que precisa focar no começo, e o sucesso de qualquer coisa que você decida fazer na vida depende de foco. Este livro é um exemplo disso, ele reúne apenas as informações estritamente necessárias para você começar a sua produção, me empenhei para resumir ele ao máximo, sem deixar de passar as informações que são relevantes para o entendimento do processo de produção como um todo. Eu poderia agora indicar que você acessasse meu Blog para estudar um pouco mais, lá tem mais de 50 artigos sobre os mais diversos assuntos relacionados ao processo de produção, ou indicar que visitasse meu Canal do YouTube, para assistir algumas das mais de 365 sacadas que tem por lá. Mas se o seu objetivo é entender o básico, se é saber aquilo que você precisa saber para fazer a sua primeira cerveja, recomendo que você acesse esse link do Programa Cervejeiro Express e confira a oportunidade especial que criei para os leitores do Manual do Cervejeiro Caseiro. Me despeço por aqui, agradecendo a confiança em meu trabalho e na certeza de lhe encontrar em algum dos meus treinamento, e de ainda degustar uma cerveja sua. Grande Abraço DANIEL DINSLAKEN https://concerveja.com.br/blog-obrigado/ https://www.youtube.com/channel/UCoSR9UxY_89QZRV4JCguuhQ https://concerveja.com.br/oferta/mcc/cervejeiro-express/ 53 ABV – ALCOHOL BY VOLUME Volume de álcool por volume total de líquido (álc./vol.), expressa o teor alcoólico. AÇÚCAR INVERTIDO Açúcar fervido com água e algumas gotas de limão usado para fazer o priming, geralmente usa-se 1g de açúcar para 3ml de água. Exem- plo: 100g de açúcar em 300ml de água e ferver. ADJUNTO Qualquer cereal fermentável não maltado, que não a cevada, adicionado à cerveja para servir como fonte de açúcar fermentável para uso na produção de cerveja; tipicamente trigo, milho, arroz ou aveia. ADSTRINGÊNCIA Sensação de contração e repuxamento na boca, similar quando se come banana verde, provocada por algumas substâncias como o tanino. ALE Este termo pode se referir à: – um tipo de le- vedura que trabalha melhor em temperaturas mais elevadas (levedura de alta fermentação); - cerveja fermentada com esta levedura (tipo ale); No Reino Unido, durante a Idade Média, “Ale” era o nome genérico para cervejas. ALTA FERMENTAÇÃO Processo de fermentação que ocorre na super- fície do mosto a uma temperatura que varia de 15°C a 20°C, utilizando levedura Saccha- romyces cerevisiae. AMILASES Enzimas que converte o amido em açúcares. As principais enzimas são a alfa e beta amilase, também denominadas de enzimas diastásicas. AMINOÁCIDOS Unidade formadora de proteína, compreen- dendo um ácido orgânico e um grupo de ami- na (NH2). ANAERÓBICO Processo que não utiliza oxigênio ou que não preceda dele. AUTÓLISE É o processo pelo qual uma célula se autodes- trói espontaneamente. ATENUAÇÃO Grau de conversão dos açucares contidos no mosto em álcool e CO2, sendo a medida do quão completo foi a fermentação do mosto. BAIXA FERMENTAÇÃO Processo de fermentação que ocorre no fundo do recipiente de fermentação, a uma tempe- ratura que varia de 4°C a 9°C. Em inglês: Bot- tom fermetation ou Lager Fermentation. BAZOOKA Filtro de malha que atua engatado no registro de saída da panela, no fundo da panela cerve- jeira, para filtrar a água do mosto, não permi- tindo que o malte passe e que a água circule pelo sistema. 54 BOMBA ELÉTRICA Bomba utilizada para recirculação do mosto pelo sistema. BITTER Sabor amargo que, nas cervejas, é conferido principalmente pelo lúpulo. Esse nome tam- bém é dado às cervejas inglesas tradicionais, geralmente servidas sob pressão. BRIX A medida utilizada para especificar a massa de açucares dissolvida em um líquido CARBONATAÇÃO Característica natural da cerveja que lhe confe- re a efervescência, provocando a sensação de textura e aparência espumante. Esse efeito é produzido pela presença de dióxido de carbo- no (CO₂) resultante
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