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Hipersensibilidade e TRANSPLANTE INTRODUÇÃO O sistema imune é vital para a sobrevivência porque nosso ambiente transborda de micróbios potencialmente mortais e o sistema imune nos protege dos patógenos infecciosos. É previsível que as imunodeficiências tornem os indivíduos presa fácil das infecções. Embora normalmente nos defendamos contra infecções, um sistema imune hiperativo pode causar doenças potencialmente fatais. Exemplos dos distúrbios causados pelas respostas imunes incluem as reações de hipersensibilidade. - A rejeição de transplantes envolve várias das reações imunológicas que estão por trás das doenças inflamatórias imunomediadas. Uma grande barreira ao transplante é o processo de rejeição, no qual o sistema imune do receptor reconhece o enxerto como sendo estranho e o ataca. 1-Mecanismos das Reações de Hipersensibilidade ● Hipersensibilidade Imediata (Tipo I) ● Hipersensibilidade Mediada por Anticorpos (Tipo II) ● Hipersensibilidade Mediada por Imunocomplexos (Tipo III) ● Hipersensibilidade Mediada por Células T (Tipo IV) Diz-se que os indivíduos que foram previamente expostos a um antígeno estão sensibilizados. Algumas vezes, exposições repetidas ao mesmo antígeno desencadeiam uma reação patológica; tais reações são descritas como hipersensibilidade, implicando uma resposta excessiva ao antígeno. Há várias características gerais importantes dos distúrbios por hipersensibilidade. Antígenos exógenos e endógenos podem desencadear reações de hipersensibilidade. O homem vive em um ambiente com abundantes substâncias capazes de desencadear respostas imunes. Antígenos exógenos incluem aqueles da poeira, pólens, alimentos, drogas, micróbios, substâncias químicas e alguns derivados do sangue usados na prática clínica. As respostas imunes contra tais antígenos exógenos podem assumir várias formas, que vão dos desconfortos irritantes, mas triviais, como o prurido na pele, a doenças potencialmente fatais, como a asma brônquica e a anafilaxia. Reações imunes prejudiciais também podem ser provocadas por antígenos do tecido endógeno. As respostas imunes contra antígenos da própria pessoa, ou autólogos, causam o importante grupo de doenças autoimunes ● O desenvolvimento de doenças por hipersensibilidade (distúrbios alérgicos e autoimunes) costuma associar-se à herança de genes de suscetibilidade em particular. Os genes HLA e muitos não HLA têm sido implicados em diferentes doenças ● Um princípio geral que tem emergido é que a hipersensibilidade reflete um desequilíbrio entre os mecanismos efetores de respostas imunes e os mecanismos de controle que servem normalmente para limitar tais respostas. As doenças por hipersensibilidade podem ser classificadas com base no mecanismo imunológico que medeia a doença. Esta classificação é valiosa para distinguir a maneira pela qual a resposta imune causa lesão tecidual e doença, e as manifestações patológicas e clínicas acompanhantes. CLASSIFICAÇÃO → Múltiplos mecanismos podem operar em qualquer doença por hipersensibilidade. Hipersensibilidade imediata (hipersensibi. do tipo I) A resposta imune é mediada por células TH2, anticorpos IgE e mastócitos e resulta na liberação de mediadores que atuam sobre os vasos e o músculo liso e de citocinas pró inflamatórias que recrutam células inflamatórias. - A hipersensibilidade imediata, ou tipo I, é uma reação imunológica rápida que ocorre em minutos após a combinação de um antígeno com um anticorpo ligado a mastócitos em indivíduos previamente sensibilizados ao antígeno. Estas reações costumam ser chamadas de alergia, e os antígenos que as desencadeiam são alérgenos. A hipersensibilidade imediata pode ocorrer como distúrbio sistêmico ou como reação local. - A reação sistêmica geralmente vem após a injeção de um antígeno em um indivíduo sensibilizado. Algumas vezes, em minutos, o paciente entra num estado de choque, que pode ser fatal. - As reações locais são diversas e variam, dependendo da porta de entrada do alérgeno. MANIFESTAÇÕES Podem assumir a forma de edemas cutâneos localizados (alergia de pele, urticária), secreção nasal e conjuntival (rinite e conjuntivite alérgicas), febre do feno, asma brônquica ou gastroenterite alérgica (alergia alimentar). DUAS FASES - BEM DEFINIDAS 1- A reação imediata ou inicial caracteriza-se por vasodilatação, vazamento vascular e, dependendo da localização, espasmo muscular ou secreções glandulares. - Evidentes em cinco a 30 minutos depois da exposição a um alérgeno e tendem a desaparecer em 60 minutos. 2- A fase tardia em duas a 24 horas sem exposição adicional ao antígeno e que pode durar vários dias. Esta reação de fase tardia se caracteriza por infiltração de tecidos com eosinófilos, neutrófilos, basófilos, monócitos e linfócitos T CD4+ , bem como por destruição tecidual, tipicamente sob a forma de lesão celular epitelial da mucosa. CÉLULAS ENVOLVIDAS A maioria das reações de hipersensibilidade imediata é mediada por ativação dependente de anticorpo IgE dos mastócitos e outros leucócitos. Como os mastócitos são o centro do desenvolvimento de hipersensibilidade imediata, primeiramente uma revisão sobre ● MASTÓCITOS Os mastócitos são células derivadas da medula óssea e amplamente distribuídas nos tecidos. São abundantes perto dos vasos e nervos e em tecidos subepiteliais, o que explica por que as reações de hipersensibilidade imediata costumam ocorrer nestes locais. Os mastócitos têm grânulos ligados à membrana citoplasmática que contêm vários mediadores biologicamente ativos. Os grânulos também contêm proteoglicanos ácidos que se ligam a corantes básicos, como o azul de toluidina. Os mastócitos (e basófilos) são ativados por ligação cruzada de receptores Fc de alta afinidade na IgE; além disso, os mastócitos também podem ser desencadeados por vários outros estímulos, como os componentes do complemento C5a e C3a (chamados anafilatoxinas porque desencadeiam reações que simulam a anafilaxia), ambos os quais atuam por ligação a receptores na membrana dos mastócitos. Outros ativadores dos mastócitos incluem algumas quimiocinas (p. ex., IL-8), drogas como a codeína e a morfina, adenosina, melitina (presente no veneno de abelhas) e estímulos físicos (p. ex., calor, frio, luz do sol). ● BASÓFILOS Os basófilos são semelhantes aos mastócitos em muitos aspectos, inclusive na presença de receptores Fc IgE da superfície celular, bem como pelos grânulos citoplasmáticos. Diferentemente dos mastócitos, contudo, os basófilos não estão normalmente presentes nos tecidos, mas circulam no sangue em número extremamente pequeno. (A maioria das reações alérgicas ocorre nos tecidos, e o papel dos basófilos, nestas reações, ainda não ficou bem estabelecido como o dos mastócitos.) Semelhantemente a outros granulócitos, os basófilos podem ser recrutados para locais inflamatórios. ● Células TH2 Desempenham um papel central na iniciação e propagação das reações de hipersensibilidade imediata, estimulando a produção de IgE e promovendo a inflamação. Células dendríticas apresentam o antígeno aos linfócitos T. Que irão se diferenciar em TH2. Em resposta ao antígeno e a outros estímulos, inclusive citocinas, como a IL-4 produzida no local, os linfócitos T diferenciam-se em células TH2. As células TH2 recém-produzidas elaboram algumas citocinas após encontro subsequente com o antígeno; como já foi mencionado, a assinatura das citocinas deste subgrupo são IL-4, IL-5 e IL-13. - IL-4 atua sobre os linfócitos B, estimulando mudança de classe para IgE, e promove o desenvolvimento de células TH2 adicionais. - A IL-5 está envolvida no desenvolvimento e ativação de eosinófilos, que, são efetores importantes da hipersensibilidade do tipo I. - A IL-13 aumenta a produção de IgE e atua sobre as células epiteliais, estimulando a secreção de muco Células TH2 (bem como os mastócitos e células epiteliais) produzem quimiocinas que atraem mais células TH2, bem como outros leucócitos, para o local da reação. Os mastócitos expressam um receptor de alta afinidade, chamado Fcε RI, específicopara a porção Fc da IgE e, portanto, ligam-se avidamente aos anticorpos IgE. Quando um mastócito armado com anticorpos IgE é exposto ao alérgeno específico, ocorre uma série de reações, levando finalmente à liberação de um arsenal de poderosos mediadores responsáveis pela expressão clínica das reações de hipersensibilidade imediata. primeira etapa O antígeno (alérgeno) liga-se aos anticorpos IgE previamente fixados aos mastócitos. Antígenos multivalentes ligam-se diretamente e de forma cruzada a anticorpos IgE adjacentes e aos receptores Fc da IgE subjacentes. A ligação dos receptores Fcε ativa as vias de transdução de sinais da parte citoplasmática dos receptores. Estes sinais levam à degranulação dos mastócitos com a descarga de mediadores pré-formados (primários) que estão armazenados nos grânulos e à síntese nova e liberação de mediadores secundários, inclusive produtos lipídicos e citocinas. Estes mediadores são responsáveis pelos sintomas iniciais, algumas vezes explosivos, da hipersensibilidade imediata e também colocam em ação os eventos que levam à reação de fase tardia. Mediadores Pré-formados- PRIMÁRIOS (FASE IMEDIATA) Os mediadores contidos nos grânulos dos mastócitos são os primeiros a ser liberados e podem ser divididos em três categorias: ● Aminas vasoativas. A amina mais importante derivada dos mastócitos é a histamina. Ela causa intensa contração dos músculos lisos, aumento da permeabilidade vascular e aumento da secreção de muco pelas glândulas nasais, brônquicas e gástricas. ● Enzimas. Estão contidas na matriz dos grânulos e incluem proteases neutras (quimase, triptase) e várias hidrolases ácidas. As enzimas causam lesão tecidual e levam à geração de cininas e componentes ativados do complemento (p. ex., C3a), atuando sobre suas proteínas precursoras. ● Proteoglicanos. Incluem a heparina, anticoagulante bem conhecido, e o sulfato de condroitina. Os proteoglicanos servem para acondicionar e armazenar as aminas nos grânulos. Mediadores Lipídicos. -SECUNDÁRIOS (FASE TARDIA) Os principais mediadores lipídicos são sintetizados por reações sequenciais nas membranas dos mastócitos e que levam à ativação da fosfolipase A2, uma enzima que atua sobre os fosfolipídios da membrana, produzindo ácido araquidônico. Este é o composto parental do qual são derivados leucotrienos e prostaglandinas pelas vias 5-lipoxigenase e ciclo-oxigenase. Derivados do ác. aracdônico: ● Leucotrienos. Os leucotrienos C4 e D4 são os mais potentes agentes vasoativos e espasmogênicos conhecidos. Em uma base molar, são milhares de vezes mais ativos do que a histamina para aumentar a permeabilidade vascular e causar contração dos músculos lisos brônquicos. O leucotrieno B4 é altamente quimiotático para neutrófilos, eosinófilos e monócitos. ● Prostaglandina D2. Este é o mediador mais abundante produzido nos mastócitos pela via ciclo-oxigenase. Causa intenso broncoespasmo, bem como aumento da secreção de muco. Fator ativador de plaquetas (PAF). ● O PAF é produzido por algumas populações de mastócitos. Causa agregação plaquetária, liberação de histamina, broncoespasmo, aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação. Além disso, é quimiotático para neutrófilos e eosinófilos e, em altas concentrações, ativa as células inflamatórias, fazendo que degranulem. Embora a produção de PAF também seja desencadeada pela ativação de fosfolipase A2, não é um produto do metabolismo do ácido araquidônico. CITOCINAS- SECUNDÁRIO (FASE TARDIA) Os mastócitos são fonte de muitas citocinas, as quais podem desempenhar um papel importante em vários estágios das reações de hipersensibilidade imediata. As citocinas incluem: TNF, IL-1 e quimiocinas, que promovem recrutamento de leucócitos (típico da reação de fase tardia); IL-4, que amplifica a resposta TH2; e numerosas outras. As células inflamatórias recrutadas por TNF e quimiocinas derivados dos mastócitos são fontes adicionais de citocinas e fatores liberadores de histamina que causam maior degranulação de mastócitos. EOSINÓFILOS Entre as células recrutadas na reação de fase tardia, os eosinófilos são particularmente importantes. São recrutados para locais de reações de hipersensibilidade imediata pelas quimiocinas, como a eotaxina e outras, que possam ser produzidas por células epiteliais, células TH2 e mastócitos. - IL-5 é a mais potente citocina ativadora de eosinófilos conhecida. Os eosinófilos liberam enzimas proteolíticas, bem como duas proteínas em particular, as quais são tóxicas para as células epiteliais. Os eosinófilos ativados e outros leucócitos também produzem leucotrienos C4 e PAF e ativam diretamente os mastócitos para liberarem mediadores. Deste modo, as células recrutadas amplificam e sustentam a resposta inflamatória sem exposição adicional ao antígeno desencadeante. Agora se acredita que esta reação de fase tardia seja uma causa importante de sintomas em alguns distúrbios de hipersensibilidade tipo I, como a asma alérgica. Portanto, o tratamento destas doenças exige o uso de anti-inflamatórios de amplo espectro, como os esteróides. SUSCETIBILIDADE A suscetibilidade a reações de hipersensibilidade imediata é geneticamente determinada. O termo atopia refere-se a uma pré-disposição a desenvolver reações de hipersensibilidade imediata localizada a vários alérgenos inalados e ingeridos. Os indivíduos atópicos tendem a ter níveis séricos mais altos de IgE e mais células TH2 produtoras de IL-4, em comparação à população geral. São encontrados antecedentes familiares positivos de alergia em 50% dos atópicos. Os genes candidatos foram mapeados em 5q31, onde se localizam os genes que codificam as citocinas IL-3, IL-4, IL-5, IL-9, IL-13 e GM-CSF. Anafilaxia Sistêmica A anafilaxia sistêmica caracteriza-se por choque vascular, edema generalizado e dificuldade para respirar. Pode ocorrer em indivíduos sensibilizados em estabelecimentos hospitalares depois da administração de proteínas estranhas (p. ex., anti soros), hormônios, enzimas, polissacarídeos e drogas (como o antimicrobiano penicilina) ou no ambiente da comunidade após a exposição a alérgenos alimentares (p. ex., amendoins, frutos do mar) ou toxinas de insetos (p. ex., as do veneno de abelha). Em minutos após a exposição, aparecem prurido, urticária e eritema da pele, seguidos logo depois por uma contração extraordinária dos bronquíolos respiratórios e angústia respiratória. Seguem, ainda, vômitos, cólicas abdominais, diarreia e obstrução laríngea, e o paciente pode entrar em choque e até morrer antes de uma hora. mediados por anticorpos (hipersensibi. tipo II) Os anticorpos secretados IgG e IgM participam diretamente da lesão das células, promovendo sua fagocitose ou lise, e da lesão dos tecidos, induzindo inflamação. Os anticorpos também podem interferir com funções celulares e causar doença sem lesão tecidual. Este tipo de hipersensibilidade é causado por anticorpos que reagem com antígenos presentes nas superfícies celulares ou na matriz extracelular. Os determinantes antigênicos podem ser intrínsecos à membrana celular ou à matriz ou podem assumir a forma de um antígeno exógeno, como um metabólito de droga, que é adsorvido a uma superfície celular ou matriz. Em qualquer caso, a reação de hipersensibilidade resulta da ligação de anticorpos a antígenos da superfície celular normal ou alterada. Os mecanismos dependentes de anticorpos que causam lesão tecidual e doença estão ilustrados na figura e descritos a seguir. Clinicamente, ocorre destruição de células mediada por anticorpos e fagocitose nas seguintes situações: ● reações transfusionais ● doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose fetal) ● anemia hemolítica autoimune, agranulocitose e trombocitopenia ● Reações a drogas Quando anticorpos se depositam em tecidos fixados, como as membranas basais e a matriz extracelular, a lesão resultante deve-se à inflamação. Os anticorpos depositados ativam o complemento, gerando subprodutos, inclusive agente quimiotáticos (principalmente C5a), que direcionam a migração de leucócitospolimorfonucleares e monócitos e de anafilatoxinas (C3a e C5a), que aumentam a permeabilidade vascular . Os leucócitos são ativados pelo envolvimento de seus receptores C3b e Fc. Isto resulta na liberação ou geração de várias substâncias pró-inflamatórias, incluindo as prostaglandinas, peptídeos vasodilatadores e substâncias quimiotáticas. A ativação dos leucócitos leva à produção de outras substâncias que lesam os tecidos, como enzimas lisossômicas, incluindo proteases capazes de digerir a membrana basal, colágeno, elastina e cartilagem, além de espécies reativas de oxigênio. A inflamação mediada por anticorpo é o mecanismo responsável por lesão tecidual em algumas formas de glomerulonefrite, rejeição vascular em enxertos de órgãos e outros distúrbios. Disfunção Celular Em alguns casos, anticorpos direcionados contra receptores da superfície celular comprometem ou desregulam a função sem causar lesão celular ou inflamação (Fig. 4C). Por exemplo, na miastenia graves, anticorpos reativos com receptores de acetilcolina nas placas motoras dos músculos esqueléticos bloqueiam a transmissão neuromuscular e, portanto, causam fraqueza muscular. O inverso (ou seja, estimulação da função celular mediada por anticorpos) é a base da doença de Graves. Neste distúrbio, anticorpos contra o receptor do hormônio tireoestimulante, nas células epiteliais da tireoide, estimulam as células, resultando em hipertireoidismo. mediados por imunocomplexos (hipersensibi. tipo III) Anticorpos IgG e IgM ligam-se a antígenos, geralmente, na circulação, e os complexos antígeno-anticorpo depositam-se nos tecidos e induzem inflamação. Os leucócitos que são recrutados (neutrófilos e monócitos) produzem lesão tecidual por liberação de enzimas lisossômicas e geração de radicais livres tóxicos. Complexos antígeno-anticorpo produzem lesão tecidual principalmente por desencadearem inflamação nos locais de deposição. A reação patológica é iniciada quando o antígeno se combina com anticorpo dentro da circulação (imunocomplexos circulantes), e estes são depositados tipicamente nas paredes dos vasos. Algumas vezes, os complexos são formados em pontos extravasculares, onde o antígeno pode ter sido “plantado” previamente (os chamados imunocomplexos in situ). Os antígenos que formam imunocomplexos podem ser exógenos, como uma proteína estranha injetada ou produzida por um micróbio infeccioso, ou endógenos, se o indivíduo produzir anticorpo contra autocomponentes (autoimunidade). As doenças mediadas por imunocomplexos podem ser sistêmicas, se os imunocomplexos forem formados na circulação e depositados em muitos órgãos, ou localizadas em órgãos em particular, como o rim (glomerulonefrite), articulações (artrite) ou pequenos vasos da pele se os complexos forem depositados ou formados nesses tecidos Formação de Imunocomplexos A introdução de um antígeno protéico desencadeia uma resposta imune que resulta na formação de anticorpos, tipicamente cerca de uma semana depois da injeção da proteína. Estes anticorpos são secretados no sangue, onde reagem com o antígeno ainda presente na circulação e formam complexos de antígenoanticorpo. Deposição de imunocomplexoS Na fase seguinte, os complexos antígeno-anticorpo circulantes são depositados em vários tecidos. Ainda não são bem compreendidos os fatores que determinam se a formação de imunocomplexos levará à deposição tecidual e à doença, mas as principais influências parecem ser as características dos complexos e as alterações vasculares locais. Em geral, os complexos que são de tamanho médio, formados com discreto excesso de antígeno, são os mais patogênicos. Lesão Tecidual Causada por Imunocomplexos. Uma vez depositados os complexos nos tecidos, eles iniciam uma reação inflamatória aguda (a terceira fase). Durante esta fase (aproximadamente 10 dias depois da administração do antígeno), aparecem as características clínicas, como febre, urticária, dores articulares (artralgias), aumento dos linfonodos e proteinúria. Onde quer que os complexos se depositem, a lesão tecidual é semelhante. A lesão inflamatória resultante é denominada vasculite se ocorrer nos vasos, glomerulonefrite se ocorrer nos glomérulos renais, artrite se ocorrer nas articulações e assim por diante, Morfologia A principal manifestação morfológica da lesão por imunocomplexos é a vasculite necrosante aguda, com necrose da parede do vaso e intenso infiltrado de neutrófilos. O tecido necrótico e os depósitos de imunocomplexos, complemento e proteínas plasmáticas produzem um depósito eosinofílico difuso que obscurece os detalhes celulares subjacentes, um aspecto denominado necrose fibrinóide. Mediados por células (hipersensibilidade tipo IV) Linfócitos T sensibilizados (células TH1 e TH17 e LTCs) são a causa da lesão celular e tecidual. As células TH2 induzem lesões que fazem parte das reações de hipersensibilidade imediata e não são consideradas uma forma de hipersensibilidade tipo IV. O tipo de hipersensibilidade mediado por células é iniciado por linfócitos T ativados por antígeno (sensibilizados), incluindo linfócitos T CD4+ e CD8+ (Fig. 7). A hipersensibilidade mediada por linfócitos T CD4+ induzidos por antígenos ambientais e próprios pode ser causa de doença inflamatória crônica. Agora se sabe que muitas doenças autoimunes são causadas por reações inflamatórias impulsionadas por linfócitos T CD4+ Em algumas destas doenças autoimunes mediadas por linfócitos T, as células CD8+ também podem estar envolvidas. De fato, em certas formas de reações mediadas por linfócitos T, especialmente aquelas que vêm após infecções virais, as células CD8+ podem ser as células efetoras dominantes. As reações inflamatórias causadas por linfócitos T CD4+ foram inicialmente caracterizadas com base em hipersensibilidade do tipo tardio (HTT) a antígenos administrados exogenamente. Os mesmos eventos imunológicos são responsáveis por reações inflamatórias crônicas contra tecidos próprios. Em razão do papel central do sistema imune adaptativo em tal inflamação, algumas vezes é denominada inflamação imune. Células TH1 e TH17 contribuem para as doenças específicas de órgãos nas quais a inflamação é um aspecto proeminente da patologia. A reação inflamatória associada às células TH1 é dominada por macrófagos ativados, e a desencadeada por células TH17 tem um componente maior de neutrófilos. 2-Mec. de Reconhecimento e Rejeição de Aloenxertos ● Reações Mediadas por Linfócitos T ● Reações Mediadas por Anticorpos A rejeição é um processo complexo em que a imunidade celular e os anticorpos circulantes desempenham seus papéis; além disso, as contribuições destes dois mecanismos costumam ser refletidas nas características histológicas dos órgãos rejeitados. Reações Mediadas por Linfócitos T O papel crítico dos linfócitos T na rejeição de transplantes tem sido documentado no homem e em animais de experimentação. A rejeição de enxertos mediada por linfócitos T é chamada rejeição celular e envolve destruição das células do enxerto por LTCs CD8+ e reações de hipersensibilidade tardia desencadeadas por linfócitos auxiliares CD4+ ativados. As principais diferenças antigênicas entre um doador e o receptor que resultam em rejeição dos transplantes são diferenças em alelos HLA altamente polimórficos. Os linfócitos T do receptor reconhecem antígenos do doador do enxerto (antígenos alogênicos ou aloantígenos) por duas vias chamadas direta e indireta. • Na via direta, os linfócitos T do receptor do transplante reconhecem moléculas MHC alogênicas (do doador) na superfície das APCs no enxerto. Acredita-se que as células dendríticas carregadas nos órgãos do doador são as APCs mais importantes para iniciar a resposta antienxerto porque não apenas expressam altos níveis de moléculas da classe I e II do MHC, mas também são dotadas de moléculas coestimuladoras (p. ex., B7-1 e B7-2). Os linfócitos T do hospedeiro encontram as células dendríticas do doador no interior do órgão enxertado ou depois que as células dendríticas migram para os linfonodos de drenagem.Os linfócitos T CD8+ reconhecem as moléculas classe I do MHC e diferenciam-se em LTCs ativos que podem matar as células do enxerto. Os linfócitos T auxiliares CD4+ reconhecem moléculas alogênicas da classe II e proliferam e diferenciam-se em células efetoras TH1 (e possivelmente TH17). Citocinas secretadas pelos linfócitos T CD4+ ativados desencadeiam uma reação de hipersensibilidade tardia no enxerto, resultando em aumento da permeabilidade vascular e acúmulo local de células mononucleares (linfócitos e macrófagos) e lesão do enxerto, causada pelos macrófagos ativados. O reconhecimento direto das moléculas alogênicas do MHC parece paradoxal às regras da restrição do MHC próprio: Se os linfócitos T normalmente ficam restritos a reconhecer peptídeos estranhos exibidos por moléculas do MHC próprio, por que estes linfócitos T devem reconhecer o MHC estranho? A provável explicação é que as moléculas alogênicas do MHC, com seus peptídeos ligados, assemelham-se ou simulam os complexos MHC próprio-peptídeo estranho que são reconhecidos por linfócitos T restritos ao MHC próprio. Deste modo, o reconhecimento de moléculas alogênicas do MHC é uma reação cruzada de linfócitos T selecionados para reconhecer o MHC próprio mais peptídeos estranhos. •Na via indireta do alorreconhecimento, os linfócitos T do receptor reconhecem antígenos do MHC do doador do enxerto depois que são apresentados pelas próprias APCs do receptor. Este processo envolve a captação e o processamento de moléculas do MHC e de outras moléculas estranhas do órgão enxertado pelas APCs do hospedeiro. Os peptídeos derivados do tecido doador são apresentados pelas próprias moléculas do MHC do hospedeiro, como qualquer outro peptídeo estranho. Deste modo, a via indireta é semelhante ao processamento fisiológico e apresentação de outros antígenos estranhos (p. ex., micróbios). A via indireta gera linfócitos T CD4+ que entram no enxerto e reconhecem os antígenos do enxerto exibidos por APCs do hospedeiro que também entraram no enxerto, e o resultado é um tipo de reação de hipersensibilidade tardia. No entanto, os LTCs CD8+ que podem ser gerados pela via indireta não podem reconhecer diretamente ou matar as células do enxerto porque estes LTCs reconhecem antígenos do enxerto apresentados pelas APCs do hospedeiro. Portanto, quando os linfócitos T reagem a um enxerto pela via indireta, o principal mecanismo de rejeição celular pode ser a produção de citocinas dos linfócitos T e hipersensibilidade tardia. Postula-se que a via direta seja a principal via na rejeição celular aguda, enquanto que a via indireta é mais importante na rejeição crônica. No entanto, está separação não é, de modo algum, absoluta.
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