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Deficiência Visual APRESENTAÇÃO Mais de 35 milhões de brasileiros têm dificuldade para enxergar. Esses números fazem da deficiência visual a deficiência mais comum em solo brasileiro. A classificação educacional é dividida em pessoas com baixa visão e pessoas com cegueira, segundo a Organização Mundial da Saúde. As pessoas com baixa visão são aquelas que têm dificuldade para desempenhar tarefas visuais, mesmo com a prescrição de lentes corretivas, mas que podem aprimorar sua capacidade de realizar tais tarefas com a utilização de estratégias visuais compensatórias e modificações ambientais. Já a pessoa cega é aquela cuja percepção de luz, embora possa auxiliá-la em seus movimentos e orientações, é insuficiente para a aquisição de conhecimento por meios visuais, necessitando utilizar o sistema Braille em seu processo de ensino-aprendizagem. Os deficientes visuais têm direito de frequentar a escola e de se desenvolver em todos os aspectos, mas, para isso, precisam ser estimulados. As aulas de educação física são um excelente momento para isso, pois é por meio desta que eles vão desenvolver fatores motores, sociais e afetivos, tendo ganhos significativos para a vida diária. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer o conceito e os diferentes graus de deficiência visual, além de como programar atividades físicas inclusivas para os portadores dessa deficiência. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar os conceitos de deficiência visual.• Reconhecer os diferentes graus de deficiência visual.• Programar atividades físicas inclusivas para pessoas com deficiência visual.• DESAFIO Um dos fatores fundamentais para o processo de inclusão é a empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Apesar de reconhecermos a deficiência, muitas vezes não temos a dimensão da dificuldade que essas pessoas enfrentam. Sendo assim, qual seria a sua proposta para envolver a turma com o novo aluno? INFOGRÁFICO O sistema Braille é um elemento primordial na educação de cegos. Este foi desenvolvido por Louis Braille e permite que seja desenvolvida a leitura e a escrita tátil, além da aprendizagem matemática e musical. Confira no Infográfico a seguir como funciona esse sistema. CONTEÚDO DO LIVRO A inclusão de deficientes visuais é um tema importante para qualquer país. No que se refere ao Brasil, pode-se dizer que o marco inicial da inclusão dos cegos se deu a partir da criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, por Dom Pedro II. No capítulo Deficiência visual, do Livro Educação física adaptada, você vai acompanhar os conceitos e as causas da deficiência visual, assim como os seus diferentes graus de classificação, além de estratégias e atividades para a educação física escolar nessa área. EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA Juliano Vieira da Silva Deficiência visual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar os conceitos de deficiência visual. Reconhecer os diferentes graus de deficiência visual. Programar atividades físicas inclusivas para pessoas com deficiência visual. Introdução A educação para cegos, no Brasil, começou no século XIX, com a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos. Nos mais de 150 anos que se passa- ram desde então, vemos que esse tipo de educação é um processo ainda em discussão e que apresenta muitas dificuldades no contexto brasileiro. A partir da Declaração de Salamanca, em 1994, os deficientes visuais passaram a integrar escolas regulares e, com isso, os educadores passaram a buscar a melhor forma de atingir esse público. A Educação Física, nesse contexto, é vital e salutar para os deficientes visuais, que precisam participar de suas aulas tanto pelo aspecto motor quanto pelo cognitivo e pelo social. Neste capítulo, você vai compreender os conceitos de deficiência visual, bem como reconhecer os seus diferentes graus e, ainda, programar atividades físicas inclusivas para pessoas com esse tipo de deficiência. O que é deficiência visual? Dentre todas as defi ciências, a visual é a mais recorrente no Brasil. No último Censo Demográfi co, realizado em 2010, mais de 35,7 milhões dos entrevistados responderam ter algum grau de difi culdade para enxergar mesmo usando lente ou óculos. Desse total, mais de 6 milhões afi rmaram ter grande difi culdade para enxergar e mais de 500 mil são pessoas que não enxergam de modo algum, sendo consideradas cegas. Dados mundiais divulgados pela Organização Mundial da Saúde revelam que há 39 milhões de pessoas cegas e outras 246 milhões com baixa visão. Estudos recentes da World Report on Disability (2010) e do Vision 2020 revelaram que até 2020 o número de pessoas com deficiência visual pode dobrar no mundo. Esse levantamento ainda aponta que, a cada 5 segundos, 1 pessoa se torna deficiente visual (FUNDAÇÃO..., 2018). No que se refere ao Brasil, pode-se dizer que o marco inicial da inclusão dos cegos se deu a partir da criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, por Dom Pedro II, devido à forte influência de José Alvares de Azevedo, um cego brasileiro que havia sido aluno do Instituto de Jovens Cegos em Paris e trouxe essa ideia ao Brasil, colocando-a em prática ao educar a filha de um médico da família imperial. O Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant (IBC) (Figura 1) em 1891. Além de ser uma referência no atendimento a deficientes visuais, o Instituto oferece cursos de formação relacionados à área para profissionais da saúde e da educação. Também oferece consultas oftalmológicas, serviços de reabilitação e produção de materiais pedagógicos para a área da deficiência visual. Figura 1. Instituto Benjamin Constant. Fonte: Pereira (2013, documento on-line). Deficiência visual2 Apesar de o IBC ser uma inspiração para a criação de mais escolas para deficientes visuais no Brasil, o atendimento, nessa e em outras instituições, nem sempre foi o adequado. Por muito tempo, os cegos foram excluídos das escolas regulares ou segregados, podendo frequentar apenas as classes especiais. Apenas nos anos 1950, em São Paulo, de forma experimental, surgiu “[...] a primeira sala de recursos para deficientes visuais estudarem em classes comuns” (MASINI, 2013, p. 50 apud PIRES, 2014). Pires (2014) aponta que, nessa mesma década, em 1958, criou-se a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão, inspirada na campanha iniciada pelo IBC, posteriormente chamada de Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC), vinculada diretamente ao gabinete do ministro da Educação. Essa campanha visava fortalecer a formação de professores para trabalhar com os deficientes visuais. Esses movimentos educacionais ganham força e aliados importantes no campo social nos anos 1980, buscando, assim, a inclusão dos deficientes visuais tanto nas escolas quanto nas demais áreas. A inclusão efetiva dessas pessoas na escola passou a ser garantida apenas em 1994, a partir da promulgação da Declaração de Salamanca, na Espanha. Mas, afinal, você sabe o que é deficiência visual exatamente? Vamos, agora, ver alguns conceitos relativos a esse tema. Segundo Van Munster e Almeida (2008), há uma enorme variedade de definições que, frequentemente, geram dúvidas sobre o que é deficiência visual, sobre quando uma pessoa possui, ou não, essa deficiência. Conforme os mesmos autores, “[...] a deficiência visual é caracterizada pela perda parcial ou total da capacidade visual em ambos os olhos, levando o indivíduo a uma limitação em seu desempenho habitual” (VAN MUNSTER; ALMEIDA, 2008, p. 29). O Decreto 5.296/04 define que, no Brasil, uma pessoa é considerada de- ficiente visual quando se enquadra em uma das seguintes características: cegueira, na qual a acuidade visual — capacidade do olho de distinguir detalhes como forma, cores e tamanhos —, medidavia exame oftalmológico, é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; casos nos quais a somatória da medida do campo visual — o quanto o olho consegue perceber em extensão angular de um ambiente, também medido via exame oftalmológico —, em ambos os olhos, é igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores (BRASIL, 2004). 3Deficiência visual Van Munster e Almeida (2008) ressaltam que a simples utilização de óculos ou lentes de contato não é suficiente para caracterizar a deficiência visual, pois essas correções podem garantir ao indivíduo a condição visual ideal. Na mesma linha, Ampudia (2011) afirma que pessoas com miopia, astigma- tismo ou hipermetropia não são deficientes visuais, pois essas características podem ser corrigidas com uso de lente ou cirurgia. Diehl (2006) afirma que, para que uma pessoa seja considerada deficiente visual, além de apresentar comprometimento em relação à acuidade visual, também deverá ter seu campo de visão restrito. Van Munster e Almeida (2008) apontam que as diferentes causas da defi- ciência visual podem ser congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas (ao longo da vida). Gil (2000) destaca as principais causas dos defeitos de visão: retinopatia da prematuridade causada pela imaturidade da retina em decorrência de parto prematuro ou de excesso de oxigênio na incubadora; catarata congênita em consequência de rubéola ou de outras infecções na gestação — consiste na alteração da transparência da lente (Figura 2); glaucoma congênito, que pode ser hereditário ou causado por infecções; atrofia óptica; degenerações retinianas e alterações visuais corticais; diabetes; descolamento da retina; traumatismos oculares. Figura 2. Comparação entre olho normal e olho com catarata Fonte: Há Saúde (2016, documento on-line). Nesta seção, você conferiu o conceito de deficiência visual, um breve histórico da educação de cegos no Brasil e as causas das lesões visuais. Na sequência, você acompanhará as classificações desse tipo de deficiência. Deficiência visual4 Diferentes graus de deficiência visual Van Munster e Almeida (2008) apontam que, embora haja algumas classi- fi cações relativas à área de defi ciência visual, no campo da aprendizagem, costuma-se utilizar duas formas para classifi car os defi cientes visuais: a clas- sifi cação educacional e a classifi cação esportiva. A classificação educacional é dividida em pessoas com baixa visão e pessoas com cegueira, segundo a Organização Mundial da Saúde, em publicações feitas pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). A CID foi criada pela Organização Mundial de Saúde e é um referencial no campo médico para diagnósticos relativos a pessoas com deficiência. A seguir, confira as características de cada uma das classificações educacionais: Baixa visão Corn apud Van Munster e Almeida (2008) defi nem as pessoas com baixa visão como aquelas que têm difi culdade para desempenhar tarefas visuais, mesmo com a prescrição de lentas corretivas, mas que podem aprimorar sua capacidade de realizar tais tarefas com a utilização de estratégias visuais compensatórias e modifi cações ambientais. Gil (2000) sublinha que, na baixa visão, as pessoas possuem um rebaixamento signifi cativo da acuidade visual, no campo visual, na sensibilidade de contrastes e de limitação de outras capacidades. Segundo Coicev (2018, documento on-line): [...] baixa visão se aplica aos casos em que, com a melhor correção, [o indi- víduo] tenha ainda no máximo 30% da visão normal, mesmo com o uso de lentes convencionais, ou após tratamento clínico e/ou cirúrgico, utilizando recursos visuais especiais para leitura e escrita. Outra característica é que pessoas com essa dificuldade apresentam pro- blemas na visão central. 5Deficiência visual Gil (2000) aponta que uma pessoa com baixa visão tem dificuldade para enxergar com clareza suficiente, para contar os dedos da mão a uma distância de três metros, à luz do dia — ou seja, apresenta apenas resíduos de visão. A autora aponta que, nos tempos atuais, tem havido uma modificação no pensamento referente a essas pessoas: Até recentemente, não se levava em conta a existência de resíduos visuais; a pessoa era tratada como se fosse cega, aprendendo a ler e escrever em braile, movimentar-se com auxílio de bengala, etc. Hoje em dia, oftalmologistas, te- rapeutas e educadores trabalham no sentido de aproveitar esse potencial visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer (GIL, 2000, p. 6). A partir disso, inúmeros recursos e técnicas foram criados e propostos para se trabalhar esse resíduo visual existente na busca pela melhora da qualidade de vida dessa pessoa. Entre esses recursos, Van Munster e Almeida (2008) destacam os auxílios ópticos e os auxílios não ópticos. Como exemplo de auxílios ópticos, temos diferentes tipos de óculos, lupas (Figura 3) e telescópios. Os auxílios não ópticos podem ser, por exemplo, a ampliação de livros e cadernos com pautas mais grossas. Também se destaca o avanço da tecnologia, como no caso da informática, com a criação de programas que favorecem a visualização e a leitura. Figura 3. Lupas auxiliam pessoas com baixa visão. Fonte: Feng Yu/Shutterstock.com. Deficiência visual6 Gil (2000) ainda aponta que as pessoas com baixa visão apenas distinguem vultos, a claridade ou objetos a pouca distância, pois a visão se apresenta embaçada, diminuída e restrita. Cegueira A pessoa cega é aquela cuja percepção de luz, embora possa auxiliá-la em seus movimentos e orientações, é insufi ciente para a aquisição de conhecimento por meios visuais, necessitando utilizar o sistema braille em seu processo de ensino-aprendizagem (BARRAGA apud VAN MUNSTER; ALMEIDA, 2008, p. 37). Já para Coicev (2018, documento on-line), “[...] cegueira é a ausência total de visão, até a perda da capacidade de indicar projeção de luz, utilizando o sistema braille como principal recurso para leitura e escrita”. Para Diehl (2006, p. 62), “[...] cegueira é ausência ou perda da visão em ambos os olhos, ou um campo visual inferior a 0,1 graus no melhor olho, mesmo após a correção, não excedendo a 20 graus no maior meridiano do melhor olho, mesmo com o uso de lentes para a correção”. A cegueira, assim como a baixa visão, pode ser congênita ou adquirida, e isso pode resultar em diferenças ao longo da vida: O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda memórias visuais, consegue se lembrar das imagens, luzes e cores que conhe- ceu, e isso é muito útil para a sua readaptação. Quem nasce sem a capacidade da visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória visual ou possuir lembranças visuais (GIL, 2000, p. 8). O impacto da cegueira, tanto do ponto de vista individual quanto do psico- lógico, varia muito entre os indivíduos, segundo a mesma autora. Essa variação ocorre conforme a idade, a dinâmica em que a pessoa vive, a família e a própria personalidade. Gil (2000) ainda aponta que, além da visão, essa pessoa pode ter perdas emocionais, de atividade profissional, de comunicação e de habilidades básicas (como a locomoção e a realização das atividades diárias). Sobre a orientação e a mobilidade, a pessoa cega utiliza outros sentidos, como o tato, o olfato e a audição, assim como equipamentos como a bengala ou os cães-guias. 7Deficiência visual Apesar de serem bastante indicados como condutores de pessoas cegas, os cães-guias apresentam número reduzido no Brasil. Para as 6 milhões pessoas com deficiência visual, há apenas 160 cães-guia no país. Acesse o link a seguir e confira como se dá o treinamento desses cachorros para desempenhar essa função importante. https://goo.gl/4g8TD4 Sobre a aprendizagem dessas pessoas, Van Munster e Almeida (2008)afirmam que ela ocorre baseada no sistema braille, que, diferentemente da língua de sinais para surdos, é uma língua universal. O método desenvolvido por Louis Braille permite a leitura e a escrita tátil a partir da combinação de unidades denominadas células Braille. Entende-se por células Braille o agrupamento de seis pontos em relevo, dispostos três a três em alinhamento vertical adjacente, em uma superfície aproximada de 3 x 5 mm, que podem ser simultaneamente percebidos pela polpa sensível do dedo. Cada ponto da célula Braille é identificado por uma referência numérica, cuja combinação permite obter 63 sinais gráficos diferentes, aos quais foram atribuídas significações fonéticas, matemáticas e musicais, para proporcionar às pessoas cegas o acesso direto à leitura e à escrita de diferentes idiomas, da ciência e da música (VAN MUNSTER; ALMEIDA ,2008, p.37-39). Van Munster e Almeida (2008) apontam que, além dessa classificação educacional, há ainda a classificação esportiva, que tem o objetivo de evitar desigualdades durante a competição. Como o nome sugere, ela é utilizada em competições e reconhecida pelas federações. Os competidores são divididos em B1, B2 e B3 (VAN MUNSTER; ALMEIDA, 2008). A letra “b” refere-se à palavra blind, cuja tradução significa cego, em português. B1: vai desde a inexistência de percepção luminosa, mas com incapa- cidade para reconhecer a forma de uma mão a qualquer distância ou direção; B2: desde a capacidade de reconhecer a forma de uma mão até acuidade visual entre 2/60 metros ou campo visual inferior a 5º; B3: acuidade visual entre 2/60 metros e 6/60 metros ou um campo visual entre 5º e 20º. Deficiência visual8 Os atletas são classificados (Figura 4) pela International Blind Sport As- sociation (2005) a partir de seu melhor olho. Figura 4. Atletas cegos são divididos em categorias. Fonte: Udesc (2012, documento on-line). Nesta seção, você viu os graus de classificação das deficiências visuais, que são divididas em educacionais e esportivas, e as características que cada pessoa com essas deficiências apresenta. A seguir, apresentaremos exemplos de atividades físicas para pessoas com deficiência visual, bem como estratégias que podem ser utilizadas. Atividades físicas para pessoas com deficiência visual Sobre exercícios físicos para pessoas com defi ciência visuais, Van Munster e Almeida (2008) sublinham que a primeira atitude do professor é buscar uma aproximação ao aluno. Assim, o professor deve antecipar suas ações, verbalizando-as para não surpreender ou assustar o aluno, e, caso seja neces- sário, deve tocá-lo, avisá-lo. Os autores ainda apontam que é importante promover a interação de pes- soas cegas ou de baixa visão com pessoas sem deficiência. Até que os alunos tenham um razoável domínio corporal, as atividades podem ser feitas em filas, círculos ou colunas e, acima de tudo, o professor deve ser claro em suas explicações, podendo utilizar a percepção auditiva, tátil ou cinestésica 9Deficiência visual para que o aluno consiga perceber o movimento. Também é fundamental a presença do silêncio em atividades em que o som é um elemento importante para a execução da tarefa. No entanto, antes de apresentarmos esses exercícios, é necessário discutir as possíveis estratégias para lidar com esses alunos. Essas estratégias são adaptações e cuidados que o professor precisa ter na hora de se dirigir a esses discentes, já que, na criança cega ou com baixa visão, o processo de conhecimento se dá de forma diferente, pois essa criança utiliza outros sen- tidos — principalmente a audição e o tato —, de modo que o professor deve explorar bastante os sons, as formas e as texturas. Sobre as estratégias a utilizar com aluno de baixa visão, destaca-se: Evitar a incidência de claridade diretamente nos olhos da criança. Adaptar o trabalho de acordo com a condição visual do aluno. Ter clareza de que o aluno enxerga as palavras e ilustrações mostradas. Evitar iluminação excessiva em sala de aula. Observar a qualidade e nitidez do material utilizado pelo aluno: letras, nú- meros, traços, figuras, margens, desenhos com bom contraste figura/fundo. Explicar, com palavras, as tarefas a serem realizadas (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 20). Para os alunos com cegueira, são recomendadas as seguintes estratégias: Utilize materiais com diferentes texturas na elaboração de material didático e estimule todos os sentidos do seu aluno cego, através de diferentes atividades. Ao orientar ao seu aluno cego sobre que direções seguir, faça-o do modo mais claro possível. Diga “à direita”, “à esquerda”, “acima”, “abaixo”, “para frente” ou “para trás”, de acordo com o caminho que ele necessite percorrer ou voltar-se. Nunca use termos como “ali”, “lá” [...]. Nunca exclua o aluno cego de participar plenamente das atividades de campo e sociais, nem procure minimizar tal participação. A cegueira não se constitui em problema para tais atividades. Permita que o aluno decida como participar. Proporcione ao aluno cego a chance de ter sucesso ou de falhar, tal como outra pessoa que tem visão. Busque estratégias diferenciadas para o trabalho com seus alunos, viabilizando a imaginação, a criatividade e outros canais de percepção e expressão (tátil, auditiva, olfativa, gustativa, cinestésica e vestibular), além da reflexão, da manipulação e exploração dos objetos de conhecimento (SILVA, 2010 apud UNIVERSIDADE..., 2018, documento on-line). Nas aulas práticas, utilize a descrição do experimento realizado e, quando possível, possibilite a exploração tátil-olfativa do material utilizado, desde que não ofereça riscos à segurança do estudante (UNIVERSIDADE..., 2018, documento on-line). Deficiência visual10 Van Munster e Almeida destacam que ainda são necessárias adaptações ao meio físico no local da atividade (como demarcação da quadra, campos, piscinas), nos locais que cercam o espaço da atividade (como acessos e be- bedouros), de possíveis obstáculos. Também é preciso adaptar os recursos utilizados (usando cores chamativas, objetos brilhantes e guizos — quando não estiverem à disposição, pode-se utilizar sacolas plásticas). Agora, acompanhe algumas atividades que podem ser realizadas nas aulas de educação física com o objetivo de incluir a pessoa com deficiência visual, trabalhando aspectos motores, cognitivos e sociais e os sentidos (Figura 5). Além disso, para o aluno sem deficiência visual, a participação nessa atividade pode trazer-lhe a realidade da deficiência, desenvolver a empatia e o espírito de equipe: Adivinhe pelo tato Número de participantes: livre. Material: vendas e objetos como lápis, frutas, livro, brinquedos, etc. Descrição do jogo: os alunos deverão ser divididos em dois ou três grupos. Cada participante terá a oportunidade de sentir, com os olhos vendados, os objetos que serão dados pelo professor. O grupo que mais objetos acertar será o grupo vencedor (DIEHL, 2006). Fala que eu faço Número de participantes: livre. Material: vendas e bola com guizo. Descrição do jogo: os alunos formarão duplas, e um dos componentes da dupla estará com venda (um deles será o vidente). O professor fará uma espécie de ninho do tesouro em alguns cantos da quadra, utili- zando bolas com guizo. O colega vidente da dupla se separa e fica em um lugar próximo dos ninhos para auxiliar o outro colega a chegar ao ninho. As dicas poderão ser de forma simbólica. Exemplo: “10 passos de elefante para frente”, “20 passos de formiga para o lado direito”, etc. (DIEHL, 2006). Deve-se evitar que o colega vidente fique a uma distância muito longa do aluno com deficiência visual. O professor pode optar por dividir a turma em dois ou três grupos para jogar. Além disso, o professor deve orientar os alunos a que se movam de forma lenta e com os braços à frente do corpo, visando evitar acidentes e choques entre os alunos que estão vendados. 11Deficiência visual Nó no lenço Número de participantes: livre. Material:apitos e vários lenços ou fitas. Local: quadra ou sala. Formação dos alunos: colunas ou fileiras. Descrição do jogo: os alunos ficam sentados em seus lugares, em colunas ou fileiras com igual número de integrantes, representando as equipes. O último de cada coluna ou fileira estará segurando um lenço e o primeiro, um apito. Ao sinal dado, aqueles que têm o lenço na mão atam-no ao braço direito do colega da frente, fazendo um nó entre o cotovelo e o ombro; o aluno desata o nó do seu braço com a mão esquerda, ata-o no colega da frente e, assim, sucessivamente, até que o primeiro dê o sinal de que sua equipe terminou. Vence a equipe que apitar primeiro. Em situação de inclusão: o aluno não deficiente visual não poderá olhar quando for amarrar o lenço ou a fita nem quando for desamarrá-los, mantendo o rosto voltado para o outro lado (DIEHL, 2006). Passa a bola Números de participantes: livre. Material: bolas com guizo (caso não tenha bola com guizo, a bola poderá ser colocada dentro de sacolas plásticas). Descrição do jogo: são formadas duas ou mais colunas com o mesmo número de participantes. O primeiro integrante de cada coluna deverá estar com a bola, que deverá ser passada entre as pernas ao colega de trás até chegar ao último da coluna; esse irá devolver por cima da cabeça até chegar ao primeiro da coluna. Na mesma ordem, logo em seguida, deve passar a bola pelo lado direito, retornando pelo lado esquerdo. Vence a coluna que terminar a sequência em primeiro lugar, gritando o nome de sua equipe. Os alunos videntes auxiliarão os alunos cegos e com baixa visão a pegar a bola por meio de comunicação verbal (DIEHL, 2006). Deficiência visual12 Figura 5. Atividades lúdicas para integração dos alunos deficientes visuais. Fonte: Coelho (2013, documento on-line). Neste capítulo, vimos um pouco da trajetória da deficiência visual no Brasil e seus conceitos. As pessoas com essa deficiência têm algum impeditivo na visão que pode ter causas congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas (ao longo da vida). Além disso, foram apresentadas as classificações da deficiência visual, que, no nível educacional, é feita entre pessoas com baixa visão (dificuldades para desempenhar tarefas visuais, mesmo com prescrição de lentas correti- vas) e pessoas com cegueira (percepção de luz insuficiente). A classificação esportiva, por sua vez, divide-se em B1, B2 e B3 e serve para dar igualdade às competições. Por fim, você conheceu estratégias para ter um melhor aproveitamento da aula para o aluno com deficiência visual, como o uso de sons, formas, texturas e a necessidade de adaptações físicas e de recursos materiais, assim como atividades adaptadas para esses indivíduos. 13Deficiência visual AMPUDIA, R. O que é Deficiência Visual? 01 ago. 2011. Disponível em: <http://novaescola. org.br/conteudo/270/deficiencia-visual-inclusao>. Acesso em: 9 set. 2018. APTOMED. [Lupas]. 2018. Disponíve em: <http://www.aptomed.com.br/userfiles/image/ Picture5.jpg>. Acesso em: 9 set. 2018. BRASIL. Decreto n.º 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis n.º 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especi- fica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Brasília, DF, 2004. 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Orientações para atuação pedagógica junto a alunos com deficiência: intelectual, auditiva, visual, física. Natal: WP, 2010. 15Deficiência visual Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A educação física escolar tem um papel importante para o estímulo e o desenvolvimento de todos os alunos. Para os alunos com deficiência visual não é diferente: inúmeros fatores psicomotores devem ser trabalhados na busca da autonomia dessas crianças. Confira a Dica do Professor, na qual você vai ver quais desses fatores são trabalhados na educação infantil e no ensino fundamental. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Para que o aluno consiga ter um melhor desenvolvimento na aula, se faz necessária a utilização de estratégias específicas. No caso do aluno com baixa visão, qual estratégia o professor deve adotar? A) Sistema Braille. B) Uso de uma bengala. C) Uso de um cão-guia. D) Auxílios não ópticos e ópticos E) Uso apenas dos auxílios ópticos. 2) O principal meio de alfabetização, leitura e escrita para cegos é a utilização do sistema Braille. Sobre esse sistema, é correto afirmar que: A) ele permite a leitura, não a escrita. B) ele é formado por oito pontos em relevo. C) ele é um elemento importante nas aulas de educação física por ser um recurso para a cegueira e, por isso, é importante o professor saber o seu funcionamento. D) é um elemento importante e o professor deve trabalhar exclusivamente com ele. E) é um elemento importante, mas nas aulas de educação física é dispensável, pois são realizadas apenas práticas. 3) As pessoas com deficiência devem serincluídas igualmente nas aulas de educação física, participando ativamente das atividades propostas pelo professor. No entanto, o professor precisa adotar algumas adaptações. Entre as adaptações de recursos a seguir, qual delas é necessária? A) Utilizar a quadra sem demarcar. B) Verificar as formas de acesso. C) Utilizar guizos ou sacolas plásticas nas bolas. D) Usar o sistema Braille apenas em último recurso. E) Adaptar o bebedouro. As causas da deficiência visual podem ser congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas (ao longo da vida). 4) Entre as causas, uma das mais recorrentes é a catarata. No que esta consiste? A) Descolamento da retina. B) Atrofia óptica. C) Alteração na transparência da lente. D) Excesso de oxigênio na incubadora. E) Traumatismo ocular. 5) Além da classificação educacional (baixa visão ou cegueira), existe também a classificação esportiva, a qual é utilizada em competições. Sobre essa classificação, é correto dizer: A) A letra “b” refere-se à palavra blind, cuja tradução significa deficiente, em português. B) O atleta B1 vai desde a inexistência de percepção luminosa, mas com incapacidade para reconhecer a forma de uma mão a qualquer distância ou direção. C) O atleta B2 vai desde a capacidade de reconhecer a forma de uma mão até a acuidade visual 2/60 metros ou campo visual inferior a 10.o. D) O atleta B3 é o de acuidade visual entre 2/60 metros e 6/60 metros, ou um campo visual entre 15 e 20.o. E) São avaliados pelo seu pior olho. NA PRÁTICA A adaptação de recursos é fundamental para a construção da aprendizagem. Essas adaptações podem ser desde o sistema Braille até a criação de objetos do conhecimento com materiais alternativos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A inclusão do portador de deficiência visual nas aulas de educação física Neste link você verá um estudo no qual as autoras analisam como o aluno com deficiência visual pode ser incluído nas aulas de educação física, assim como as suas dificuldades. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O ensino da educação física para deficientes visuais Neste link você verá um estudo feito a partir de observações em um instituto para a reeducação de cegos, o qual propõe encaminhamentos pedagógicos para as aulas de educação física. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Olhar vivo Neste link você verá um documentário, o qual discute a acessibilidade na cidade de Belo Horizonte a partir do ponto de vista de um deficiente visual. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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