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DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA: A DAOP tem como características a oclusão ou semioclusão de um ou mais segmentos de artérias que nutrem os membros inferiores. Como as ilíacas e seus ramos e a própria aorta abdominal participam da perfusão dos membros inferiores, placas ateroscleróticas nestes sítios também podem determinar o surgimento da DAOP. REVISÃO ANATOMIA: Após passagem pelo ligamento inguinal, a artéria ilíaca externa passa a ser denominada artéria femoral comum; esta, depois de um curto trajeto, se bifurca em artéria femoral profunda (que tem um trajeto posterior) e artéria femoral superficial. A artéria femoral superficial segue seu trajeto na coxa, se dirigindo para a região posterior e, após a entrada no hiato adutor (aproximadamente 8 cm acima do joelho), passa a se chamar artéria poplítea. A artéria poplítea dá origem a dois ramos: artéria tibial anterior e o tronco tibiofibular, um vaso de trajeto curto que logo se bifurca em artérias tibial posterior e fibular. Sendo assim, os três ramos responsáveis pela vascularização da perna (artérias tibial anterior, tibial posterior e fibular) se originam a partir da artéria poplítea. Estes três vasos seguem seu trajeto na perna e vão dar origem às artérias que irrigam o pé na altura do tornozelo: a artéria tibial anterior dá origem à artéria dorsal do pé e a artéria tibial posterior tem como ramo terminal as artérias plantares medial e lateral. FATORES DE RISCO: São aqueles descritos para aterosclerose, e incluem: ● Tabagismo. ● Hipercolesterolemia. ● Hiperhomocisteinemia. ● Hipertensão arterial sistêmica. ● Diabetes mellitus. ● Sedentarismo/obesidade. Na avaliação de pacientes com DAP é importante termos conhecimento de alguns fatos importantes: As lesões ateroscleróticas segmentares causam estenose em diversos sítios vasculares. Os principais incluem: ➔ Artérias poplíteas e femorais (80 a 90% dos casos). ➔ Artérias tibiais e fibulares (40 a 50% dos casos). ➔ Aorta abdominal e artérias ilíacas (30% dos pacientes sintomáticos). Os locais de ramificação arterial são os mais envolvidos, seguindo o padrão habitual da doença aterosclerótica. O comprometimento distal é mais encontrado em diabéticos e em pacientes muito idosos. QUADRO CLÍNICO: Muitos pacientes são assintomáticos (>50%)!!! Todavia, quando as manifestações aparecem, costumam ser típicas. A oclusão vascular mantém ainda uma perfusão adequada do músculo em repouso. Quando ocorre atividade física, temos um desequilíbrio entre a demanda metabólica do músculo (que aumentou) e a perfusão do mesmo (que não pode aumentar mais devido à lesão oclusiva arterial). O clássico sintoma é a claudicação intermitente, referida como uma sensação de dor, cãibra, formigamento ou fadiga no grupamento muscular envolvido – essas manifestações ocorrem durante alguns minutos de caminhada e melhoram após cerca de dois a cinco minutos de repouso. Independente do segmento arterial acometido pela placa aterosclerótica, a claudicação é sempre referida na panturrilha, uma vez ser este grupamento muscular o que mais gasta energia durante a atividade física do membro inferior. Em oclusões de artérias mais proximais, as manifestações não ficarão restritas apenas às panturrilhas... Oclusões proximais à origem da femoral profunda ocasionam dor também na coxa. Dor em região glútea indica envolvimento proximal à artéria hipogástrica (também conhecida como ilíaca interna) e é frequentemente acompanhada de impotência em homens. Síndrome de Leriche: ocorre em homens, sendo descrita como claudicação da panturrilha, coxa e musculatura das nádegas associada à impotência. Os pulsos femorais usualmente não são palpáveis. A doença aterosclerótica aortoilíaca bilateral ocasiona esta condição. A dor é descrita como profunda e incômoda e pode estar associada à fraqueza do quadril ou coxa quando o paciente caminha. Em pacientes do sexo masculino, outro diagnóstico (e não síndrome de Leriche) deve ser considerado quando não há impotência na história clínica. Isquemia crítica: em pacientes com doença aterosclerótica difusa do membro inferior, podemos encontrar isquemia crítica. Dor isquêmica em repouso associada ou não a úlceras isquêmicas são as principais manifestações encontradas. Esses casos requerem revascularização o mais rapidamente possível. A dor é ocasionada por neurite isquêmica, sendo agravada à noite quando o paciente coloca o membro em posição horizontal (como na hora de dormir, por exemplo), e melhorando com o membro inferior pendente no leito ou quando o paciente assume posição ortostática. A neuropatia periférica é o principal diagnóstico diferencial; em doentes com neuropatia periférica, a dor não melhora com alteração de posição do membro. Formigamento comumente acompanha a dor isquêmica. Contudo, alterações de sensibilidade, quando presentes, falam mais a favor de neuropatia. As úlceras isquêmicas ocorrem com maior frequência na porção distal dos pés, principalmente por sobre os pododáctilos. Geralmente há história de um trauma muito discreto. As feridas costumam ser extremamente dolorosas e não apresentam quaisquer sinais de cicatrização como tecido de granulação ou contração (úlceras secas). EXAME FÍSICO: O exame físico de pacientes com claudicação pode ser normal! ➔ Comumente há redução dos pulsos distais à obstrução com eventuais sopros audíveis sobre a lesão estenótica. ➔ Extremidades frias. ➔ Perda de pelos no local. ➔ Pele atrófica e brilhosa. ➔ Atrofia muscular. ➔ Unhas espessadas. ➔ Pele pálida ou cianótica. ➔ Úlceras ou alterações gangrenosas em pododáctilos. Na doença avançada, a elevação repetida das pernas e a flexão das panturrilhas produzem palidez plantar seguida de rubor (hiperemia reativa) quando o membro inferior é colocado em posição dependente. Os pacientes com isquemia grave podem ter edema periférico devido à permanência das pernas na posição inferior na maior parte do tempo. DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO: A história e o exame físico muitas vezes são o suficiente para estabelecer o diagnóstico de DAP. No entanto, uma avaliação precisa da gravidade da doença pode ser obtida por meio de métodos não invasivos. Mensuração do índice pressórico tornozelo-braço: consiste na relação entre a pressão sistólica no tornozelo (artéria tibial posterior ou dorsal do pé) e no membro superior (artéria braquial), sendo ambas aferidas por intermédio do Doppler ultrassom. Normalmente a pressão sistólica no nível do tornozelo é discretamente maior do que a encontrada no membro superior, e isso faz com que o valor normal do ITB seja de aproximadamente 1,11 + 0,10. Pacientes com claudicação usualmente têm valores de 0,5 a 0,9. Na presença de isquemia crítica, os níveis costumam ser iguais ou menores do que 0,4, enquanto valores inferiores a 0,13 já podem indicar necrose tecidual. * Não é um método bom para diabéticos ou renais crônicos, devido muita calcificação vascular, que interfere no exame. Duplex scan: combina técnica de USG B-mode, que usualmente cria uma imagem anatômica em escala de cinza, somado ao Doppler,que fornece imagens de estruturas em movimento (no caso as hemácias), que representam a velocidade do fluxo local. É o método de eleição para o diagnóstico de estenoses em enxertos vasculares nos membros, sendo também empregado para o diagnóstico de estenoses em artérias nativas. O ultrassom intravascular é um método mais sofisticado que vem sendo empregado; o exame permite uma análise mais detalhada em 360º da luz arterial. Contudo, o alto custo ainda é um fator limitante para seu uso Angio-TC: é um método que delineia com maior precisão do que a angiografia convencional, o diâmetro do vaso e seu grau de estenose. Contudo, a presença de insuficiência renal, calcificações vasculares e implantes metálicos limitam o emprego deste exame. Angio-RM: superior à angio-TC na visualização de vasos tibiais e fornece imagens com a mesma qualidade da angiografia convencional. Hoje em dia não é mais recomendada em doentes renais crônicos devido ao risco de dermopatia fibrosante nefrogênica. Arteriografia convencional: muitos autores ainda recomendam como método de escolha em pacientes candidatos à revascularização, seja ela feita por angioplastia ou cirurgia. O exame nos fornece detalhes anatômicos importantes da DAP. Renais crônicos, diabéticos, portadores de mieloma múltiplo e portadores de proteinúria requerem cuidados especiais para a prevenção de nefrotoxicidade induzida por contraste. Atualmente, com o advento tecnológico dos métodos de imagem, tanto a angio-TC quanto a angiorressonância conseguem trazer dados tão relevantes para o planejamento cirúrgico quanto à arteriografia, com menor morbidade! TRATAMENTO CLÍNICO: ➔ Modificar hábitos de vida: cessar tabagismo, controlar HAS, DM, controlar alimentação, fazer exercício físico. ➔ Controle da dislipidemia: deve ser controlada com estatinas → manter LDL < 100 mg/dl, obrigatoriamente e LDL < 70 mg/dl, idealmente. ➔ Uso de antiplaquetários: tanto o AAS quanto o Clopidogrel podem ser empregados (o bloqueio duplo-plaquetário não oferece benefício adicional). Estudos atuais recomendam inicialmente o uso do AAS (na dose de 75 a 325 mg/dia), com o Clopidogrel sendo prescrito somente para os indivíduos que não podem utilizar o AAS. ➔ Uso de Cilostazol: é um inibidor da fosfodiesterase, com propriedades antiplaquetárias e vasodilatadoras. Aumenta a distância útil de marcha em até 40-60%, sendo frequentemente empregado; seu mecanismo de ação ainda não está definido. ➔ Uso de Pentoxifilina: parece reduzir a viscosidade sanguínea e aumentar a flexibilidade das hemácias, contudo, sua eficácia não tem sido comprovada em estudos clínicos. *A cessação do tabagismo reduz mortalidade de 54 para 18% em 10 anos. Cuidar, pois pacientes com DAP e hipertensos podem ter seus sintomas exacerbados ou iniciados após o controle da pressão arterial, provavelmente por diminuição da perfusão do membro isquêmico. *O exercício melhora a distância percorrida normalmente (distância útil de marcha) em até 150% → caminhada estimula a formação de novos vasos em membros inferiores. Vasodilatadores como a papaverina, bloqueadores dos canais de cálcio e bloqueadores alfa adrenérgicos não se mostraram eficazes na DAP e não devem ser prescritos. O mesmo se aplica a anticoagulantes, como a warfarina e a heparina. TRATAMENTO INTERVENCIONISTA: Está sempre indicado em pacientes com sintomas incapacitantes, intensos e progressivos e naqueles com isquemia em repouso (dor em repouso e/ou úlceras isquêmicas). Pacientes com ITB inicial < 0,5 apresentam probabilidade maior em desenvolver isquemia significativa do membro do que aqueles com ITB > 0,5. Nesse contexto, os sintomas de claudicação tendem a não responder à terapia medicamentosa, e o tratamento intervencionista deve ser considerado. Terapia endovascular: a Angioplastia Transluminal Percutânea (ATP), seguida ou não de colocação de stent, é um método não cirúrgico que pode ser indicado em alguns casos. Geralmente lesões pequenas e bem localizadas são as candidatas. Placas ateroscleróticas proximais também se beneficiam do procedimento. Lesões abaixo do joelho são usualmente candidatas a cirurgia. Cirurgia de revascularização: consiste no by-pass aortobifemoral empregando enxerto de Dacron. Outros procedimentos menos comumente empregados são o by-pass axilofemoral, o by-pass fêmoro-femoral e a endarterectomia aortoilíaca. A patência do enxerto em dez anos é de 80%. Amputação: necessária em 5% dos pacientes apresentando claudicação em 5 a 10 anos de acompanhamento, geralmente nos pacientes que não cessaram o tabagismo. Presença de múltiplos fatores de risco para doença aterosclerótica e claudicação após curta distância também aumentam risco de amputação. Em 5 a 10% dos pacientes que apresentam isquemia crítica em repouso a amputação é a terapia inicial. No restante dos casos, a cirurgia acaba sendo indicada quando a revascularização, por uma razão ou outra, não pode ser realizada. → A presença de infecção extensa é outro fator que geralmente indica o procedimento. OBSERVAÇÕES: A meia elástica deve ser evitada, pois reduz o fluxo sanguíneo para a pele!!! O Cilostazol é um inibidor da PDE3 e promove o acúmulo do AMP cíclico intracelular em muitas células, incluindo as plaquetas. Os aumentos no AMP cíclico mediados pelo cilostazol inibem a agregação plaquetária e promovem a vasodilatação. O fármaco é metabolizado pela CYP3A4 e tem interações medicamentosas importantes com outros fármacos metabolizados por esta via. O tratamento com Cilostazol melhora os sintomas da claudicação, mas não tem efeito sobre a mortalidade cardiovascular. Foi relatado que ele aumenta a taquicardia ventricular não sustentada; a cefaleia é o efeito colateral mais comum.
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