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SEMIOLOGIA VASCULAR: Palpação aorta abdominal: A posição do paciente para se palpar a aorta abdominal é o decúbito dorsal, fazendo-se leve flexão das coxas sobre a bacia. O médico situa-se à direita do paciente e, com sua mão direita, procura a aorta no espaço compreendido entre o apêndice xifóide e a cicatriz umbilical (abaixo do umbigo aorta já se bifurcou), pressionando-a contra a coluna vertebral. A mão esquerda deve apoiar-se sobre a direita para ajudar na compressão. A palpação da aorta abdominal é difícil nos pacientes obesos e musculosos. Síndrome isquêmica aguda: A síndrome isquêmica aguda surge em consequência da interrupção brusca de sangue para um segmento do organismo. A etiologia é variável, destacando-se a embolia, a trombose, os traumatismos, a dissecção aórtica (aneurisma dissecante) e a ligadura inadvertida de uma artéria. O quadro clínico da isquemia aguda dos membros é caracterizado por dor, alteração da cor e da temperatura da pele, contratura muscular, bolhas e ausência de pulsos periféricos distalmente à oclusão arterial. A dor pode ser de instalação súbita ou insidiosa, e comumente é precedida da sensação de formigamento e dormência. Com a evolução do processo isquêmico, instala-se uma dor constritiva de forte intensidade que se acompanha de incapacidade funcional. Quando a dor é muito intensa, o paciente pode apresentar sudorese profusa e choque neurogênico. A dor é de menor intensidade ou ausente quando a oclusão ocorre em leito arterial previamente comprometido, com circulação colateral presente. A pele adquire, de início, uma palidez intensa. A palidez surge vários centímetros abaixo do nível da oclusão. Com o evoluir do processo isquêmico, se não ocorrer irrigação por intermédio de colaterais, a pele vai tornando-se cianótica, difusamente, ou em placas. A cianose é indicativa de isquemia acentuada, sem grandes possibilidades de recuperação, podendo ocorrer necrose. A diminuição da temperatura da pele é um sinal característico da redução do fluxo arterial. Em geral, tal como a palidez, a frialdade instala-se alguns centímetros abaixo do nível da oclusão e sua intensidade é maior nas partes mais distais do membro. Quando a isquemia é acentuada, os músculos sofrem uma contratura intensa, chamada contratura isquêmica de Volkmann, além de ficarem muito dolorosos à palpação e à mobilização. As bolhas ou flictenas surgem na isquemia grave; em geral, nas áreas cianóticas. Os pulsos periféricos desaparecem distalmente à oclusão. Proximalmente o pulso pode estar diminuído, em razão do espasmo arterial. A palpação dos pulsos deve ser feita atentamente, pois, às vezes, tem-se a sensação de palpar um pulso, quando na verdade o que se está percebendo é a transmissão da onda de um pulso proximal. Síndrome isquêmica crônica: A síndrome isquêmica crônica é de aparecimento insidioso, por diminuição progressiva da irrigação sanguínea, o que pode ser mais bem evidenciado pela manobra de isquemia provocada. É ocasionada pela diminuição da luz de uma artéria, fato que pode ocorrer em inúmeras afecções, destacando-se a aterosclerose, as arterites, as fístulas arteriovenosas, a compressão extrínseca por costela cervical e por tumores. Na síndrome isquêmica crônica dos membros inferiores, a sintomatologia depende do grau de comprometimento da artéria, da localização da lesão e do grau de desenvolvimento da circulação colateral. Nas oclusões da aorta terminal, o paciente relata dor tipo claudicação, localizada nas nádegas e nas coxas, impotência sexual e hipotrofia dos músculos das coxas e das pernas. Quando a oclusão se propaga distalmente, comprometendo a circulação colateral, o paciente pode apresentar queda de pelos, úlceras periungueais, onicogrifose, gangrena de pododáctilos e dor em repouso. As lesões arteriais mais distais podem provocar claudicação da perna ou apenas do pé. Na isquemia grave, ocorre dor em repouso, e, em geral, a extremidade adquire uma coloração vermelho-cianótica. É frequente o aparecimento de áreas necróticas, bastando para isso um pequeno traumatismo ou a diminuição da temperatura ambiental. O diagnóstico de estenose ou oclusão é suspeitado clinicamente pela diminuição ou desaparecimento dos pulsos da região afetada. Manobra da isquemia provocada para avaliação do fluxo arterial nos membros inferiores. Esta manobra é realizada em três tempos: ◗ 1o tempo: com o paciente em decúbito dorsal, o médico observa a coloração das regiões plantares. ◗ 2o tempo: solicita-se ao paciente que eleve os membros inferiores até um ângulo de 90°, mantendo-os nesta posição durante 1 min com a ajuda das mãos do médico colocadas na face posterior das coxas; em seguida, observa-se a coloração das regiões plantares. Em condições normais, não há alteração da coloração ou, se houver, será discreta. Havendo isquemia, aparece palidez da região plantar do membro comprometido. Nos casos duvidosos, solicita-se ao paciente executar extensão e flexão dos pés durante 3 min, em uma frequência de 30 movimentos por minuto. Se houver isquemia, a palidez plantar torna-se mais nítida ◗ 3o tempo: os membros voltam à posição inicial e observa-se o tempo necessário para o retorno da coloração normal. Em pessoas normais, isso ocorre em 5 a 12 s, se não houver isquemia. Aliás, quando há isquemia, a região plantar adquire um tom vermelho-arroxeado, fenômeno que se denomina “hiperemia reativa”. Dor isquêmica: A dor das doenças arteriais pode manifestar-se como formigamento, queimação, constrição, aperto, cãibras, sensação de peso ou fadiga. A dor mais característica de enfermidade arterial isquêmica crônica é a claudicação intermitente, a qual surge durante a realização de um exercício (caminhar ou correr, por exemplo) e intensifica-se a tal ponto que obriga o paciente a interromper o que está fazendo. Com a interrupção do exercício a dor desaparece rapidamente, permitindo-lhe retomar a atividade por período mais ou menos igual ao anterior, após o que a dor reaparece, fazendo-o parar outra vez, e assim sucessivamente.). De início, a claudicação intermitente só surge quando o paciente faz longas caminhadas; mas, com a progressão da doença, a distância que ele consegue caminhar vai diminuindo, e, depois de algum tempo, não consegue andar sem dor nem dentro de casa. A dor isquêmica é causada pelo acúmulo de catabólitos ácidos (ácido láctico) e produtos da degradação dos tecidos que estimulam as terminações nervosas. Este sintoma é tão importante que sua análise correta permite avaliar o grau de comprometimento da artéria e a evolução da doença. Quando a isquemia se agrava, ocorre outro tipo de dor que não depende da realização de exercício, sendo inclusive mais intensa quando o paciente se deita; daí receber o nome de dor de repouso. É necessário, entretanto, reconhecer, antes de tudo, se a dor é, de fato, de origem isquêmica, ou se é provocada por insuficiência venosa ou se é uma dor neuropática. A piora da dor na posição deitada é decorrência da diminuição do fluxo de sangue para os membros inferiores, queé um pouco maior na posição de pé, em virtude da ação da gravidade. Por isso, o paciente com este tipo de dor prefere dormir com o membro comprometido pendente, na tentativa de obter algum alívio; em contrapartida, em geral a dor não desaparece porque esta posição acaba provocando edema do membro afetado (edema postural), agravando ainda mais a isquemia. Aí então o paciente senta-se, coloca o pé sobre a cama e passa a afagar com delicadeza a área comprometida, cuidando para que nada, além da sua mão, a toque, pois até o roçar do lençol intensifica a dor, tornando-a intolerável. A dor de repouso é um sintoma de extrema gravidade, pois traduz isquemia intensa com risco de gangrena, possível de ocorrer à simples diminuição da temperatura ambiente. Artérias - modificação da temperatura da pele: A temperatura da pele depende, basicamente, da magnitude do fluxo sanguíneo. Nas doenças arteriais obstrutivas, a redução do aporte de sangue provoca frialdade da pele. Nos casos agudos, a interrupção abrupta do fluxo sanguíneo determina tão nítida alteração da temperatura da pele que a topografia da frialdade serve para se avaliar o nível da obstrução, o grau do vasoespasmo e a magnitude da circulação colateral preexistente. Nas obstruções crônicas, em virtude da instalação gradativa da oclusão, existe tempo para a formação de uma circulação colateral que vai suprir parcialmente as necessidades metabólicas dos tecidos, havendo, então, menor queda da temperatura da pele. A frialdade da pele torna-se mais evidente quando cai a temperatura ambiente, pois o frio, poderoso agente vasoconstritor, vai atuar na circulação colateral, reduzindo-a. Artérias - alterações tróficas: As alterações tróficas compreendem atrofia da pele, diminuição do tecido subcutâneo, queda de pelos, alterações ungueais (atrofia, unhas quebradiças ou hiperqueratósicas), calosidades, lesões ulceradas de difícil cicatrização, edema, sufusões hemorrágicas, bolhas e gangrena. A maior parte das alterações tróficas ocorre nas arteriopatias crônicas. Nas oclusões agudas costumam surgir apenas bolhas, edema e gangrena. A pele atrófica torna-se brilhante e lisa, rompendo-se com pequenos traumatismos. Tal alteração é comum nas extremidades e nos cotos de amputação. A atrofia da pele costuma estar associada à diminuição do tecido subcutâneo, queda de pelos e a alterações ungueais. As calosidades aparecem nos pontos de apoio, geralmente na cabeça do primeiro e quinto metatarsianos, nas polpas dos pododáctilos e nos calcanhares. São muito dolorosas e podem ulcerar-se. As úlceras podem ser minúsculas ou extensas, dependendo do grau de comprometimento arterial. Localizam-se de preferência nas bordas dos pés, polpas digitais, regiões periungueais, calcanhar e regiões maleolares. Surgem espontaneamente ou após traumatismos, compressão, longa permanência no leito ou enfaixamento com atadura ou gesso. São muito dolorosas. O fundo contém material necrótico e são de difícil cicatrização. Uma das características das úlceras isquêmicas é serem mais dolorosas no decúbito horizontal do que com os membros pendentes, em virtude da ausência da ação da gravidade sobre a circulação arterial naquela posição. Por este mesmo motivo, a dor é mais intensa à noite. Nos diabéticos e nos hansenianos, as ulcerações localizam-se de preferência nas polpas digitais e nas áreas de pressão da planta dos pés. Têm contornos nítidos, bordas circulares e hiperqueratósicas. Em geral são indolores. Podem conter secreção purulenta. Este tipo de úlcera recebe o nome de mal perfurante plantar. Na hipertensão arterial de longa duração e na anemia falciforme pode-se encontrar uma ulceração que se localiza preferencialmente na face lateral da perna, em seu terço inferior. É superficial, tem contorno regular, fundo necrótico e é muito dolorosa. É provocada por obstrução de arteríolas da pele (arterioloesclerose e microembolias). As lesões bolhosas que aparecem nas oclusões arteriais agudas traduzem grave comprometimento da circulação. As bolhas têm vários tamanhos e surgem em áreas cianóticas. Assemelham-se às produzidas por queimadura e indicam avançado grau de isquemia. Artérias - edema: O edema que se observa nas doenças arteriais isquêmicas decorre de vários fatores, tais como aumento da permeabilidade capilar em razão da isquemia; tendência dos pacientes a manterem os pés pendentes para aliviar a dor, o que dificulta o retorno venoso; processo inflamatório nas artérias e, às vezes, presença de trombose venosa associada. Veias - dor: A queixa mais comum dos pacientes que têm varizes dos membros inferiores é uma dor de intensidade leve a moderada referida como peso nas pernas, queimação, ardência, cansaço, cãibras, dolorimento, fincada ou ferroada. Dor intensa, associada a edema e cianose, levanta a suspeita de trombose venosa profunda. O mecanismo provável da dor da estase venosa é a dilatação da parede das veias. Suas características dependem das condições psíquicas do paciente, da profissão, das atividades físicas, do tipo de varizes, do horário do dia e do grau de insuficiência venosa. Nas microvarizes a dor costuma ser em queimação ou ardência; outras vezes adquire a sensação de peso e cansaço. As microvarizes podem ser assintomáticas, mas são muito valorizadas pelo aspecto estético. As varizes médias e as calibrosas provocam sensação de peso, cansaço, formigamento e queimação nos pés. A dor é tanto mais intensa quanto maior a insuficiência venosa. Permanecer de pé agrava o padecimento do paciente. Nas mulheres a dor costuma ser mais frequente no período pré-menstrual e durante a menstruação. A dor da insuficiência venosa é mais intensa no período vespertino, ao final de uma jornada de trabalho, ou após longos períodos na posição de pé. Quando a insuficiência é muito grave, a dor pode estar presente desde o momento em que o paciente se levanta da cama. Nesses casos, a sensação de intumescimento das veias e peso nas pernas e nos pés diminui quando ele começa a andar. Ao contrário da dor da insuficiência arterial, a da insuficiência venosa melhora com a deambulação e pode tornar-se mais intensa com a interrupção da marcha. Também, diferentemente da dor isquêmica, ela melhora com o repouso no leito com os pés elevados. Contudo, nem sempre é assim, pois alguns doentes, paradoxalmente, relatam piora, com sensação de queimação, quando se deitam. Nesses casos, o paciente não consegue ficar quieto, procurando colocar as pernas nas partes mais frias da cama (síndrome das pernas inquietas). Veias - edema: O edema da insuficiência venosa crônica costuma surgir no período vespertino e desaparece com o repouso ???, sendo mais intenso nas pessoas que permanecem muito tempo sentadas e com os pés pendentes. Tal fato torna-se bem evidente ao final de viagens longas. O edema é mole e depressível, localizando-se de preferência nas regiões perimaleolares, mas pode alcançar o terço proximal das pernas na insuficiência venosa mais grave. Na síndrome pós-trombótica, quando o edema torna-se permanente, há aumento global do volume do pé,da perna e até da coxa, sem que aparentem estar edemaciados. Pode ser uni ou bilateral, predominando no lado em que o retorno do sangue estiver mais prejudicado, diferentemente do edema da insuficiência cardíaca, da hipoproteinemia e das nefropatias, que apresenta intensidade igual nas duas pernas. Seu mecanismo de formação é o aumento da pressão hidrostática no interior das veias, das vênulas e dos capilares venosos, fenômeno que ocasiona a saída de líquido para o espaço intersticial. À medida que o edema se torna crônico, acumulam-se substâncias proteicas no interstício do tecido celular subcutâneo. Tais substâncias desencadeiam repetidas reações inflamatórias da pele e do tecido subcutâneo, vermelhidão da pele, aumento da temperatura e dor na região correspondente. Tal quadro é denominado celulite subaguda ou crônica. Veias - alterações tróficas: As principais alterações tróficas das venopatias são hiperpigmentação, eczema, úlceras e dermatofibrose. Na insuficiência venosa de longa duração podem surgir manchas acastanhadas na pele, esparsas ou confluentes, situadas no terço inferior da perna, predominantemente na região perimaleolar interna. Em alguns casos, a hiperpigmentação atinge toda a circunferência da perna. A hiperpigmentação é devida ao acúmulo de hemossiderina na camada basal da derme, a qual provém das hemácias que migram para o interstício e ali são fagocitadas pelos macrófagos. O eczema varicoso ou dermatite de estase pode apresentar-se sob a forma aguda ou crônica. Nos casos crônicos, são frequentes as reagudizações. Na forma aguda observam-se pequenas vesículas que secretam um líquido seroso, que pode ser abundante. Acompanha-se de prurido, mais intenso no período vespertino e noturno, admitindo-se que sua causa seja a liberação de histamina das células destruídas pela anoxia secundária à insuficiência venosa. A úlcera é uma complicação frequente da insuficiência venosa grave, devida a varizes ou trombose venosa profunda (síndrome pós-trombótica). Tais ulcerações podem surgir em consequência de mínimos traumatismos, como o ato de coçar em áreas correspondentes à flebite superficial ou nos locais de ruptura de varizes. A localização principal dessas úlceras é na região maleolar interna, mas podem surgir em outras áreas. Em casos avançados atingem toda a circunferência do terço inferior da perna. (As úlceras situadas acima do terço médio da perna geralmente têm outra etiologia que não a insuficiência venosa crônica.) As úlceras são rasas, têm bordas nítidas, apresentando uma secreção serosa ou seropurulenta. São menos dolorosas do que a úlcera isquêmica. A dor é maior quando a perna está pendente, melhorando com sua elevação, exatamente o contrário do que ocorre com a úlcera isquêmica. Nos pacientes com insuficiência venosa crônica os repetidos surtos de celulite e a cicatrização de ulcerações acabam determinando uma fibrose acentuada do tecido subcutâneo e da pele (dermatofibrose), com diminuição da espessura da perna, que adquire o aspecto de “gargalo de garrafa”. A fibrose leva à ancilose da articulação tibiotársica, prejudicando mais ainda o retorno venoso, por interferir no mecanismo da bomba venosa periférica.
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