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O sangue, principal meio de transporte do corpo humano, é formado pelos glóbulos sanguíneos (elementos celulares) e pelo plasma (parte líquida). Os glóbulos sanguíneos são os eritrócitos ou hemácias, as plaquetas (fragmentos do citoplasma dos megacfariócitos da medula óssea, fundamentais para a coagulação) e diversos tipos de leucócitos ou glóbulos brancos. O sangue após centrifugado se divide em plasma, leucócitos e hemácias (eritrócitos). O plasma transporta nutrientes e metabólitos dos locais de absorção ou síntese, distribuindo-os pelo organismo. Transporta, a inda, escór ias do metabolismo que são removidas do sangue pelos órgãos de excreção. É uma solução aquosa que contém componentes de pequeno e elevado peso molecular: proteínas plasmáticas, sais orgânicos, aminoácido, vitaminas, hormônios e glicose. As principais proteínas do plasma são as albuminas, as alfa, beta e gamaglobulinas, as lipoproteínas e as proteínas que participam da coagulação do sangue, como protrombina e fibrinogênio. Os eritrócitos, ou hemácias, são anucleados e contêm grande quantidade de hemoglobina, uma proteína transportadora de O2 e CO2. Por esta razão, a principal função das hemácias consiste no transporte da hemoglobina e, consequentemente, no oxigênio dos pulmões para os tecidos e de dióxido de carbono dos tecidos para os pulmões. Os eritrócitos humanos têm a forma de disco bicôncavo. A forma bicôncava dos eritrócitos normais proporciona grande superfície em relação ao volume, o que facilita as trocas de gases. J A concentração normal de eritrócitos no sangue é de a p r o x i m a d a m e n t e 4 a 5 , 4 m i l h õ e s p o r microlitro(mm3), na mulher, e de 4,6 a 6 milhões por microlitro no homem. Por serem ricos em hemoglobina, uma proteína básica, os eritrócitos são acidófilos, corando-se pela eosina. A forma bicôncava é mantida por proteínas estruturais do citoesqueleto e ligadas à membrana da hemácia, como, por exemplo, espectrina, anquirina, actina, proteína 4.1 e banda 3. Anormalidades ou deficiências dessas proteínas levam à formação de eritrócitos deformados. O Sangue APG S8: “Sangue ralo… ou em forma de foice.” JANDIELLY F. BRAGA 1º período de Medicina UniRedentor Os leucócitos são cé lu las que desempenham várias funções de defesa e constituem uma das primeiras barreiras contra a infecção. São incolores e de forma esférica quando em suspensão no sangue, sendo produzidos na medula óssea ou em tecidos linfoides. As formas das hemácias p o d e m v a r i a r m u i t o conforme as células sejam espremidas ao passarem pelos capilares, podendo a s s u m i r p r a t i c a m e n t e qualquer forma. Elas são flexíveis e, por isso, não se rompem. Plaquetas As plaquetas, também chamadas de trombócitos, são corpúsculos anucleados, em forma de disco, medindo cerca de 2 a 4 μm de diâmetro. Elas são formadas na medula óssea a partir dos megacariócitos, que são células extremamente grandes das séries hematopoiéticas na medula. Os megacfariócitos se fragmentam nas diminutas plaquetas na medula óssea ou, de modo especial, no momento em que se espremem pelos capilares para entrar no sangue. As bordas externas dos megacariócitos na medula se estendem através do endotélio para dentro do lúmen dos seios sanguíneos da medula, onde as extensões citoplasmáticas se fragmentam, formando plaquetas semelhantes a discos. As plaquetas são menores do que os eritrócitos, sem cor, e não possuem núcleo. Seu citoplasma contém mitocôndria, retículo endoplasmático liso e numerosas vesículas ligadas à membrana, chamadas de grânulos, que são preenchidos com uma variedade de citocinas e fatores de crescimento. Existem ao menos três tipos diferentes de grânulos. Um tipo de grânulo contém mais de 280 diferentes proteínas. Elas estão sempre presentes no sangue e sua vida útil comum é de cerca de 10 dias. As plaquetas promovem a coagulação do sangue e auxiliam a reparação da parede dos vasos sanguíneos, evitando perda de sangue. Possuem muitas características funcionais de células completas, apesar de não terem núcleos e nem poderem se reproduzir. No citoplasma das plaquetas, existem fatores ativos como (1) moléculas de actina e miosina que são proteínas contráteis semelhantes às encontradas nas células musculares, além de outra proteína contrátil, a trombostenina, que pode causar contração das plaquetas; (2) resíduos do retículo endoplasmático e do complexo de Golgi que sintet izam várias enzimas e especialmente armazenam grande quantidade de íons cálcio; (3) mitocôndrias e sistemas enzimáticos capazes de formar trifosfato de adenosina (ATP) e difosfato de adenosina (ADP); (4) sistemas enzimáticos que sintetizam prostaglandinas, ou por hormônios locais que causam várias reações vasculares e outras reações teciduais locais; (5) a proteína importante chamada fator estabilizador de fibrina, em relação à coagulação sanguínea; e (6) o fator de crescimento que faz com que as células do endotélio vascular, células da musculatura lisa vascular e fibroblastos se multipliquem e cresçam, produzindo crescimento celular que eventualmente ajuda a reparar as paredes vasculares lesadas. A membrana celular das plaquetas também é importante. Em sua superfície, existe camada de glicoproteínas que impede a aderência ao endotélio normal, enquanto favorece a aderência às áreas lesionadas da parede vascular especialmente às células endoteliais e, ainda mais, a qualquer colágeno exposto na profundidade da parede do vaso. Além disso, a membrana plaquetária contém grande quantidade de fosfolipídios que ativam múltiplos estágios do processo de coagulação do sangue. A participação das plaquetas na coagulação do sangue pode ser resumida da seguinte maneira: 1. Agregação primária: descontinuidades do endotélio produzidas por lesão vascular são seguidas pela absorção de proteínas do plasma sobre o colágeno adjacente. As plaquetas também aderem ao colágeno, formando um tampão plaquetário; 2. Agregação secundária: as plaquetas do tampão liberam ADP, que é um potente indutor da agregação plaquetária, fazendo aumentar o número de plaquetas do tampão; 3. Coagulação do sangue: durante a agregação das plaquetas, fatores do plasma sanguíneo, dos vasos lesionados e das plaquetas promovem a interação sequencial (em cascata) de cerca de 16 proteínas plasmáticas, dando origem a um polímero, a fibrina, e formando uma rede fibrosa tridimensional, que aprisiona eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Forma- se, assim, o coágulo sanguíneo, mais consistente e firme do que o tampão plaquetário. Um defeito hereditário na formação de uma das proteínas do plasma (fator VIII) resulta na doença hemorrágica conhecida como hemofilia; 4. Retração do coágulo: inicialmente o coágulo provoca grande saliência para o interior do vaso, mas logo se contrai, graças à ação da actina, da miosina e do ATP das plaquetas; 5. Remoção do coágulo: protegida pelo coágulo, a parede do vaso se restaura pela formação de tecido novo. Então, o coágulo é removido principalmente pela enzima plasmina, formada pela ativação da proenzima plasmática plasminogênio pelos ativadores do plasminogênio produzidos pelo endotélio. Enzimas liberadas pelos lisossomos das plaquetas também contribuem para a remoção do coágulo. As plaquetas têm um sistema de canais, o sistema canal icu lar aber to , que se comunica com invaginações da membrana plasmática da plaqueta . Assim, o interior da plaqueta comunica-se livremente com sua superfície, disposição que tem importância funcional por facilitar a liberação de moléculas ativas que são armazenadas nas plaquetas. Na periferia da plaqueta, fazendo parte do hialômero, observa-se o feixe marginal de microtúbulos, que contribui para manter a forma ovoide desses corpúsculos. O h ia lômero contém também microfilamentos de actina e moléculas de miosina, responsáveis pela contração das plaquetas. Esses corpúsculoscontêm uma camada situada por fora da membrana, medindo 15 a 20 nm, rica em glicoproteínas e glicosaminoglicanos, responsável pela adesividade das plaquetas e que pode absorver compostos diversos. O granulômero, mais escuro, apresenta uma variedade de grânulos delimitados por membrana, algumas mitocôndrias e inclusões de glicogênio. Os grânulos densos ou delta têm 250 a 300 nm de diâmetro e armazenam difosfato de adenosina (ADP) e trifosfato de adenosina (ATP). Os grânulos delta também contêm serotonina (5- hidroxitriptamina) retirada do plasma sanguíneo. Os grânulos alfa são um pouco maiores (300 a 500 nm) e contêm fibrinogênio e fator de crescimento plaquetário, que estimulam as mitoses no músculo liso dos vasos sanguíneos e a cicatrização das feridas. Os grânulos menores (175 a 250 nm), chamados grânulos lambda, são lisossomos carregados com as enzimas usuais dessas organelas. Hematopoiese: produção das células sanguíneas Todas as diferentes células sanguíneas são descendentes de um único tipo de precursor celular, denominado célula-tronco hematopoiética pluripotente. Esse tipo de célula é encontrado primariamente na medula óssea, um tecido mole que preenche o centro oco dos ossos. As células-tronco pluripotentes possuem a notável habilidade de desenvolver-se formando vários tipos diferentes de célula. Quando se especializam, elas diminuem seus possíveis destinos. Primeiramente, elas tornam-se células-tronco não comprometidas e, em seguida, células progenitoras, que se comprometem a se desenvolverem em um ou, talvez, dois tipos celulares. As células progenitoras diferenciam-se em eritrócitos, linfócitos, outros leucócitos e em megacariócitos, as células que dão origem às plaquetas. A hematopoiese (síntese de células sanguíneas) começa no início do desenvolvimento embrionário e continua ao longo da vida de uma pessoa. Por volta da terceira semana de desenvolvimento fetal, células especializadas do saco vitelino do embrião formam aglomerados. Alguns desses aglomerados de células estão destinados a se tornarem o revestimento endotelial dos vasos sanguíneos, ao passo que outros se tornam células sanguíneas. A origem embrionária comum do Transporte de oxigênio Apesar da alta concentração de nitrogênio na atmosfera, uma quantidade muito pequena desse gás circula livremente no sangue, pois seu coeficiente de solubilidade é muito pequeno. O mesmo acontece com o oxigênio, que, apesar de ser duas vezes mais solúvel que o nitrogênio, ainda apresenta um coeficiente de solubilidade muito baixo no plasma. Assim, apenas 3% do oxigênio difundido circulam livremente no plasma. Os 97% restantes são transportados por uma proteína que tem alta afinidade com o O2 – a hemoglobina. Assim como há, por exemplo, lipoproteínas para transportar lipídios no meio aquoso do plasma, há também a hemoglobina para transportar oxigênio, possibilitando que, apesar do seu baixo coeficiente de solubilidade, haja quantidades satisfatórias de O2 circulando no sangue. Para termos uma ideia quantitativa da importância da hemoglobina, sob uma pressão de 100 mmHg, somente cerca de 0,5 ml do gás se difunde em 100 ml de água. Já em 100 ml de sangue, a hemoglobina garante o transporte de mais de 20 ml de O2. Logo, sem a hemoglobina, o O2 não poderia ser adequadamente transportado e não chegaria de modo eficiente ao seu destino: todos os nossos tecidos. A hemoglobina é uma proteína que fica localizada no interior das hemácias. Cada molécula de hemoglobina tem um átomo de ferro capaz de se ligar a quatro moléculas de oxigênio. A ligação do oxigênio com a hemoglobina forma a oxi- hemoglobina (HbO2). Após a ligação de uma molécula de oxigênio à hemoglobina, a afinidade da hemoglobina para se ligar à segunda molécula de oxigênio aumenta, e assim por diante. endotélio e das células sanguíneas talvez explique por que muitas ci tocinas que controlam a hematopoiese são liberadas pelo endotélio vascular. À medida que o embrião se desenvolve, a produção das células sanguíneas estende-se do saco vitelino para o fígado, o baço e a medula óssea. Após o nascimento, o fígado e o baço param de produzir células sanguíneas. A hematopoiese continua ocorrendo na medula de todos os ossos do esqueleto até a idade de 5 anos. Com o envelhecimento, as regiões ativas da medula diminuem até que em adultos, as únicas áreas que produzem células sanguíneas são a pelve, a coluna vertebral, as costelas, o crânio e as extremidades proximais dos ossos longos. Nas regiões da medula que produzem ativamente células sanguíneas, cerca de 25% das células em desenvolvimento são eritrócitos, ao passo que 75% são destinadas a se tornarem leucócitos, porque o tempo de vida dos leucócitos é bem mais curto do que o dos eritrócitos. A hematopoiese dos eritrócitos acontece da seguinte forma: Na medula óssea, as células progenitoras comprometidas se diferenciam, após vários estágios, em grandes eritroblastos nucleados. Como eritroblastos maduros, o núcleo é condensado e a célula encolhe de um diâmetro de 20 mm para cerca de 7 mm. No último estágio antes da maturação, o núcleo é perdido e fagocitado por macrófagos da medula óssea. Ao mesmo tempo, outras organelas com membrana (como as mitocôndrias) são degradadas e desaparecem. A forma celular imatura final, chamada de reticulócito, deixa a medula e entra na circulação, onde amadurece até um eritrócito em cerca de 24 horas. O que controla a produção e o desenvolvimento das células sanguíneas são os fatores químicos, chamados de citocinas. As citocinas são peptídeos ou proteínas liberadas de uma célula, que afetam o crescimento ou a atividade de outra célula. As citocinas são chamadas de fatores, com o acréscimo de um modificador que descreve suas ações: fator de crescimento, fator de diferenciação, fator trófico (nutritivo). Principais citocinas na hematopoiese: • Fatores estimuladores de colônia (CSFs): são moléculas produzidas por células endoteliais e leucócitos, como a interleucina. Interleucinas: nome dado a citocinas liberadas por um leucócito para agirem em outro leucócito. Os nomes enumerados das interleucinas, como interleucina 3 (IL-3), são dados às citocinas quando sua sequência de aminoácidos tenha sido identificada. As interleucinas também tem papéis importantes no sistema imune. • Eritropoetina (EPO): glicoproteína que controla a síntese de eritrócitos. Frequentemente é chamada de hormônio, mas tecnicamente se encaixa na definição de uma citocina, uma vez que ela é produzida a partir da demanda, em vez de estocada em vesículas, como os hormônios peptídicos. A EPO é sintetizada principalmente nos rins dos adultos. O estímulo para a síntese e liberação da EPO é a hipóxia, baixos níveis de oxigênio nos tecidos. A hipóxia estimula a produção de um fator de transcrição, chamado de fator induzível por hipóxia 1 (HIF-1), que ativa o gene EPO para aumentar a síntese de EPO. Pela estimulação da síntese dos eritrócitos, a EPO coloca mais hemoglobina na circulação para transportar oxigênio. • Trombopoetina (TPO): é uma glicoproteína que regula o crescimento e a maturação dos megacariócitos, as células progenitoras das plaquetas. (trombócito é um nome alternativo para plaqueta.) A TPO é produzida principalmente no fígado. Metabolismo do ferro na hemoglobina A hemoglobina, o principal componente dos eritrócitos, é mais bem conhecida por seu papel no transporte de oxigênio, mas a verdade é que ela é uma grande e complexa proteína com quatro cadeias proteicas globulares, cada uma envolvendo um grupo heme contendo ferro. Existem muitas isoformas das proteínas globinas na hemoglobina. As isoformas mais comuns são designadas alfa, beta, gama e delta, dependendo da estrutura da cadeia. A forma mais comum de hemoglobina no humano adulto, a hemoglobina A, é a combinação de duas cadeias alfa e duas cadeias beta. (Existe uma pequena porção deadultos - cerca de 2,5% - que em duas cadeias alfa e duas cadeias delta). Os quatro grupos heme em uma molécula de hemoglobina são idênticos. Cada um consiste em um anel porfirínico composto por carbono-hidrogênio- nitrogênio com um átomo de ferro (Fe) no centro. Cerca de 70% do ferro no corpo é encontrado nos grupos heme da hemoglobina. Como resultado, a síntese de hemoglobina requer um suprimento adequado de ferro na dieta O ferro é absorvido no intestino delgado por transporte ativo. Uma proteína carreadora, chamada de transferrina, liga-se ao ferro e o transporta no sangue. A medula óssea capta o ferro e o utiliza para produzir o grupamento heme da hemoglobina para o desenvolvimento dos eritrócitos. O excesso de fe r ro inger ido é es tocado, principalmente no fígado. Os estoques de ferro são encontrados dentro de uma pequena proteína esférica, chamada de ferritina. O núcleo da esfera contém o mineral ferro, que pode ser convertido a ferro solúvel e liberado, quando necessário, para a síntese de hemoglobina. Anemia Pelo fato de a hemoglobina desempenhar um papel crítico no transporte de oxigênio, a contagem dos eritrócitos e o conteúdo de hemoglobina do corpo são importantes. Se o conteúdo de hemoglobina é muito baixo – uma condição conhecida como anemia –, o sangue não pode transportar oxigênio o suficiente para os tecidos. Dos diversos tipos de anemias acima citados, observaremos com ênfase a anemia falciforme. A anemia falciforme é um defeito genético no qual o glutamato, o sexto aminoácido da cadeia beta de 146 aminoácidos da hemoglobina, é substituído por valina. A hemoglobina que se forma (Hb S) difere da normal apenas pela presença de valina em vez de ácido glutâmico na posição 6 das cadeias beta da hemoglobina. No entanto, as consequências dessa substituição de apenas um aminoácido são imensas. O resultado é hemoglobina anormal (uma forma referida como HbS - hemoglobina S) que cristaliza quando libera seu oxigênio. Essa cristalização deixa os eritrócitos com uma forma de foice, semelhante a uma lua crescente. As células falciformes se enredam com outras células falciformes, à medida que passam pelos vasos sanguíneos menores, fazendo as células se aglomerarem e bloquearem o fluxo sanguíneo para os tecidos. Esse bloqueio causa danos nos tecidos e dor por hipóxia. O eritrócito falciforme não tem flexibilidade, é frágil e tem vida curta. O sangue se torna mais viscoso. Pode também haver lesão da parede capilar e coagulação sanguínea. Um dos principais efeitos da anemia, consiste no grande aumento do débito cardíaco, bem como no acentuado aumento da sobrecarga dos bombeamento cardíaco. Isso se dá em razão da viscosidade do sangue cair pela diminuição de hemácias, diminuindo a resistência ao fluxo sanguíneo nos vasos periféricos, aumentando a quantidade de sangue que flui pelos tecidos e retorna ao coração. Hemostasia e coagulação A hemostasia é o processo de manter o sangue dentro de um vaso sanguíneo danificado, impedindo a perda sanguínea. A hemostasia possui quatro passos principais: 1. Vasoconstrição; 2. Bloqueio temporário por formação de tampão plaquetário; 3. Formação de coágulo que sela o orifício até que o tecido seja reparado; 4. Eventual crescimento de tecido fibroso no coágulo para o fechamento perante do orifício do vaso. 1º PASSO: Vasoconstrição O primeiro passo na hemostasia é a constrição imediata dos vasos danificados, a fim de reduzir o fl u x o s a n g u í n e o e a p r e s s ã o n o v a s o temporariamente. A contração resulta de (1) espasmos miogênicos local, (2) fatores autacoides locais dos tecidos traumatizados e das plaquetas, e (3) reflexos nervosos. Os reflexos nervosos são desencadeados por impulsos nervosos dolorosos ou outros impulsos sensoriais originados no vaso traumatizado ou nos tecidos vizinhos. Quanto maior for a gravidade do trauma ao vaso, maior será o grau do espaço vascular, podendo o espasmo durar vários minutos ou mesmo horas — tempo no qual ocorrem os processos de formação dos tampões plaquetários e de coagulação do sangue. 2º PASSO: Formação de tampão plaquetário É o bloqueio mecânico do orifício por um tampão plaquetário solto. Quando um vaso sanguíneo é inicialmente danificado, o colágeno exposto e substâncias químicas provenientes das células endoteliais ativam as plaquetas. Em geral, o endotélio dos vasos sanguíneos separa as fibras de colágeno da matriz do sangue circulante. Todavia, quando o vaso está danificado, o colágeno é exposto e as plaquetas rapidamente começam a aderir nele. As plaquetas aderem ao colágeno com a ajuda de integrinas, proteínas receptoras de membrana que são ligadas ao citoesqueleto. A ligação ativa as plaquetas e elas liberam o conteúdo de seus grânulos i n t r a c e l u l a r e s , i n c l u i n d o s e r o t o n i n a ( 5 - hidroxitriptamina), ADP e fator de ativação plaquetária (PAF). O PAF inicia uma alça de retroalimentação positiva, ativando mais plaquetas. O PAF também inicia vias que convertem os fosfolipídeos de membrana em tromboxano A2. A serotonina e o tromboxano A2 são vasoconstritores. Eles também contribuem para a agregação plaquetária, juntamente com ADP e PAF. O resultado final é o crescimento de um tampão plaquetário que sela a parede do vaso danificado. Observação: as plaquetas não aderem ao endotélio normal. As células endoteliais vasculares intactas convertem seus l ipídeos de membrana em prostaciclina, um eicosanoide que bloqueia a adesão e agregação plaquetárias. O óxido nítrico, liberado pelo endotélio normal e íntegro, também inibe a adesão das plaquetas. A combinação da atração das plaquetas para o local da lesão e a repulsão da parede normal do vaso cria uma resposta localizada que limita o tampão plaquetário à área danificada. 3º PASSO: Coagulação Esse passo da hemostasia, a coagulação, é um processo complexo, no qual o fluido sanguíneo forma um coágulo gelatinoso. A coagulação é dividida em duas vias que, eventualmente convergem a uma via comum. A via intrínseca inicia quando o dano aos tecidos expõe o colágeno. Por isso, a via intrínseca é também conhecida como via de ativação por contato. A via intrínseca usa proteínas já presentes no plasma. O colágeno ativa a primeira enzima, o fator XII, iniciando a cascata. A via extrínseca inicia quando os tecidos danificados expõem o fator tecidual, também chamado de tromboplastina tecidual ou fator III. A via extrínseca é também chamada de via de lesão celular ou via do fator tecidual. O fator tecidual ativa o fator VII, iniciando a via extrínseca. As duas vias unem-se na via comum, produzindo trombina, que é a enzima que converte o fibrinogênio em polímeros insolúveis de fibrina. Essas fibras de fibrina se tornam parte do coágulo. Os fatores das vias intrínseca e extrínseca interagem entre si, fazendo da coagulação uma rede, em vez de uma simples cascata. O passo final da coagulação é a conversão de fibrinogênio em fibrina, uma reação catalisada pela enzima trombina. As fibras de fibrina permeiam o tampão plaquetário e retêm eritrócitos dentro de sua malha. O fator XIII ativo converte a fibrina em um polímero com ligações cruzadas, o qual estabiliza o coágulo. Os coágulos são apenas uma correção temporária. Conforme o vaso danificado lentamente é reparado, o coágulo é desintegrado quando a fibrina é quebrada em fragmentos pela enzima plasmina. Uma forma inativa da plasmina, o plasminogênio, é parte do coágulo. Depois da coagulação, a trombina, um fator na cascata de coagulação, age com um segundo f a to r, chamado de a t i vador de plasminogênio tecidual (tPA) para converter o plasminogênio inativo em plasmina. A plasmina, então, quebra a fibrina, em um processo chamado de fibrinólise. Levando em consideração o grande número de fatores envolvidos na coagulação e o fato de que um mesmo fator pode ter diferentes nomes, foi atribuído aos fatores númerosao invés de nomes, seguindo a ordem com que foram descobertos, e não a ordem em que acontecem. Anticoagulação Dois mecanismos limitam a extensão da coagulação do sangue dentro de um vaso: (1) inibição da adesão plaquetária e (2) inibição da cascata de coagulação e produção de fibrina. Fatores como a prostaciclina no endotélio do vaso sanguíneo e no plasma asseguram que o tampão plaquetário fique restrito à área lesada. As células endoteliais liberam substâncias químicas, chamadas de anticoagulantes, que impedem a coagulação. A maioria age bloqueando uma ou mais reações da cascata da coagulação. O corpo produz dois anticoagulantes, heparina e antitrombina III, as quais trabalham juntas para bloquear os fatores ativos IX, X, XI e XII. A proteína C, outro anticoagulante do corpo, inibe os fatores de coagulação V e VIII. Várias doenças hereditárias afetam o processo de coagulação. Pacientes com distúrbios na coagulação formam equimoses facilmente. Nas formas graves, o sangramento espontâneo pode ocorrer por todo o corpo. O distúrbio da coagulação mais conhecido é a hemofilia, um nome dado a várias doenças nas quais um dos fatores da cascata de coagulação é defeituoso ou ausente. A hemofilia A, uma deficiência do fator VIII, é a forma mais comum, ocorrendo em cerca de 80% de todos os casos. Esta é uma doença recessiva ligada ao sexo que afeta normalmente só os homens.
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