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DIABETES NA GESTAÇÃO Nas últimas décadas, houve um aumento progressivo do número de mulheres com diagnóstico de diabetes em idade fértil e, consequentemente, durante o ciclo gravídico-puerperal. O crescimento populacional, o aumento da idade materna, a falta de atividade física e, principalmente, o aumento da prevalência de obesidade são apontados como principais fatores responsáveis pela verdadeira epidemia de obesidade e de diabetes que temos vivido. História de DMG é o principal fator de risco para o desenvolvimento de diabetes do tipo 2 e de síndrome metabólica Identificação da hiperglicemia durante o ciclo gravídico-puerperal: importante pelo risco de piores desfechos perinatais e prevenção de distúrbios maternos em longo prazo Os filhos de mães diabéticas também sofrem complicações em longo prazo e apresentam risco aumentado de desenvolver obesidade, síndrome metabólica e diabetes na vida futura - Microambiente hiperglicêmico → hiperinsulinemia → maior número de células adiposas fetais Incidência Brasil → 7,6% das gestações Morbimortalidade perinatal → 2-5% Aumento prematuridade → 25% Aumento macrossomia → 54,2% Anomalias congênitas → 5% Etiopatogenia Distúrbio metabólico de etiologia multifatorial Secreção deficiente de insulina + redução da capacidade da insulina em exercer sua ação (resistência periférica) = hiperglicemia Tipos de diabetes ● DM1 Destruição de células beta das ilhotas pancreáticas - Anticorpos anti-ilhotas em 85% dos casos Associado com HLA no cromossomo 6 História familiar em 10% dos casos Início súbito e diagnóstico na infância Predisposição à cetose Maior risco de complicações a longo prazo ● DM2 90% da população diabética > 30 anos História familiar positiva Fisiopatologia - Resistência insulínica - Depleção de receptores responsivos à ação da insulina - Mecanismo pós receptores - Deficiência relativa, progressiva da insulina ● Diagnóstico fora da gestação DM gestacional Importante discriminar os casos de diabetes preexistente daqueles relacionados às modificações gravídicas Prevalência crescente de DM2 não diagnosticado em mulheres não grávidas em idade fértil. Estima-se que, no Brasil, 46% dos casos de diabetes não são diagnosticados. - Complica o diagnóstico de DM gestacional Consulta pré concepcional ● Conceito Intolerância a carboidrato de gravidade variável com início ou primeiro reconhecimento durante a gravidez Alteração ocorre principalmente na 2º metade da gestação ● Fatores de risco Alterações metabólicas normais ● 1º metade da gestação: ANABOLISMO Aumento do estrogênio e progesterona → hiperplasia de células beta pancreáticas → aumento secreção insulina → aumento da resposta insulínica à glicose → redução da glicemia em 10-20% e aumento de ácidos graxos livre e cetonas Sensibilidade periférica à insulina está normal mas há aumento da utilização periférica de glicose e da lipogênese ● 2º metade da gestação: CATABOLISMO Aumento dos hormônios contra-insulínicos (HLP, prolactina, cortisol, progesterona) → aumento da glicemia → suprimento constante de nutrientes para o feto Aumenta a resistência insulínica e produção hepática de glicose, reduz tolerância à glicose e estoque de glicogênio Tendência de hiperglicemia, principalmente pós prandial Insulina age no desenvolvimento fetal como hormônio de crescimento Hiperglicemia gestacional ● 1º metade da gestação Hiperglicemia → teratogênese - Aumento 2-8x o risco de malformação congênita - HbA1c > 6% já aumenta risco - Quanto pior o controle glicêmico, maior o risco; a cada ponto percentual de aumento da HbA1c aumenta-se o risco em 30% Embriopatia diabética - Hiperglicemia → Aumento beta hidroxibutirato → Hipercetonemia (materna e produção fetal) → Hipoglicemia grave → estresse oxidativo aumentando radicais livres Anomalias cardíacas são as mais comuns ● 2º metade da gestação Hiperglicemia → hiperplasia de células beta pancreáticas fetais → hiperinsulinemia fetal → crescimento somático fetal (ação GH-like) → aceleração do anabolismo - Grandes para idade gestacional Complicações fetais e perinatais Macrossomia fetal - Mais comum Hiperglicemia fetal Malformações congênitas DM pré gestacional → 6 a 12% Controle glicêmico precário pré gestacional → HbA1c > 10% CIUR Na presença de vasculopatia Hiperinsulinemia → hipóxia → aumenta noradrenalina e epinefrina → aumenta PA e BCF Óbito intrauterino Aumento eritropoetina → policitemia → fenômenos tromboembólicos Tocotraumatismo Distocia de ombro → 40-50% Hipoglicemia neonatal Hiperinsulinemia fetal Policitemia Hiperinsulinemia → aumento eritropoetina Icterícia Imaturidade hepática na degradação enzimática de hemácias Policitemia SARI Hiperglicemia e hiperinsulinemia → redução da síntese de surfactante Distúrbios metabólicos Redução da síntese de paratormônio após o nascimento → hipocalcemia e hipomagnesemia Na vida adulta Risco aumentado de DM2 e obesidade Complicações maternas Hipoglicemia de jejum Cetoacidose diabética Parto pré-termo espontâneo Amniorrexe prematura espontânea Pré-eclâmpsia (lesão endotelial vascular e estresse oxidativo) Piora de HAS preexistente Piora das vasculopatias diabéticas ITU Candidíase Aumento da frequência de cesariana DM2 no futuro Orientações pré-concepcionais Controle glicêmico 3 a 6 semanas antes da concepção Controle pressórico - Suspender IECA ou bloqueadores da angiotensina (teratogênicas) Descontinuar uso de estatinas - Usar fibratos → apenas em trigliceridemia severa com risco de pancreatite aguda Fundoscopia - Tratamento de retinopatia proliferativa antes de engravidar - Caso seja portadora, reavaliar com 16-20 semanas e com 28 semanas de gestação Adequação do peso Suspensão de antidiabéticos orais → substituição por insulina - Controverso Ácido fólico 5mg/dia - 3 a 6 meses antes da concepção Contra indicações para engravidar Retinopatia proliferativa grave Gastroparesia Coronariopatia HAS grave e de difícil controle Creatinina sérica > 2mg% GlicoHb > 10% Rastreamento DMG Screening universal Glicemia de jejum no início do pré natal GPD → entre 24 e 28 semanas Critérios diagnósticos O diagnóstico de DG é quando não fecha critérios para DM Tratamento ● Dieta Refeições fracionadas em 6x - Carboidratos 40-50% - Proteínas 20% - Gorduras 30-40% - Saturadas < 10% - Muita fibra (lentifica a absorção → reduz pico glicêmico e maior saciedade) Adoçantes como sucralose, stevia e xilitol - Aspartame restrito para gestante Necessidade calórica: - IMC normal: 30kcal/kg - Obesas: 15-25kcal/kg ● Atividade física Benefícios: redução da resistência insulínica e da adiposidade fetal Contraindicações: - Sinais de trabalho departo pré-termo - Pré eclâmpsia - Sangramento uterino persistente após o 2º trimestre - CIUR - Síndrome nefrótica - Retinopatia proliferativa - Hipoglicemia - Neuropatia periférica ● Tratamento medicamentoso INSULINA (1º escolha) - Droga de escolha - Pouca ou nenhuma absorção pelo feto (não atravessa pela barreira placentária) - 20-30% dos casos de DMG vão necessitar de insulina - Indicação: ausência de resposta glicêmica após 2 semanas de dieta + atividade física OU macrossomia fetal CA> percentil 70 no US entre 29-33 semanas - Mais usadas: NPH e regular - Pacientes que já utilizam insulina: - 1º trimestre → redução da insulina em 10-20% - 2º trimestre → aumento necessidade insulina - 3º trimestre → aumento da insulina - Redução da necessidade de insulina no final da gravidez, indica insuficiência placentária ou sofrimento fetal METFORMINA (2º escolha) - Atravessa placenta 50% - Nenhum efeito adverso descrito no feto mas sem estudos com impactos a longo prazo - Pode ser utilizada GLIBENCLAMIDA (3º escolha) - Atravessa barreira placentária → maiores taxas de hipoglicemia neonatal - Não identificado efeito adverso no feto - Maior taxa de macrossomia fetal - Só deve ser utilizada a partir do 2º trimestre Glicemia alvo Acompanhamento ambulatorial Consultas quinzenais até 30ª semana e semanais até o parto Medição da glicemia capilar 5x/dia Avaliaçãofetal ● 1º trimestre US → datamento e tn Avaliação de doppler da artéria uterina para avaliar risco de eclâmpsia (aumentado na DMG) ● 2º trimestre US morfológico → 20 a 24 semanas Doppler artéria uterina → 20 semanas ECO fetal → entre 24 e 26 semanas (DM pré gestacional) US mensalmente → crescimento fetal e ILA ● 3º trimestre US mensalmente → crescimento fetal e ILA Cardiotocografia basal → após 30 semanas Doppler → a partir de 26 semanas (vasculopatia ou aumento de PA) Mobilograma diariamente → após 28 semanas Indicação de internação Cetonúria > ++ com hiperglicemia > 200mg Glicemias persistentemente elevadas HAS grave ou PE grave Infecções graves - Acometimento do estado geral - Aumento da glicemia Necessidade de uso de corticóide para maturidade pulmonar fetal Uso de beta miméticos (salbutamol ou análogos) Indicações obstétricos Hipoglicemias persistentes Coma hipoglicêmico / cetoacidose Indicações para interrupção eletiva da gravidez Controle metabólico materno precário (glicemia média > 120mg) Pré-eclâmpsia Piora de HAS pré existente CIUR Macrossomia - Especialmente se assimétrica Sofrimento fetal Declínio da função renal Insuficiência útero-placentária Via de parto Indicação é obstétrica Gestantes portadoras de retinopatia proliferativa ativa têm indicação de cesariana na tentativa de se evitar novas hemorragias Fetos > 4,5kg tem indicação de cesariano pelo risco de distócia de ombro Avaliação pós parto Reavaliar necessidade de insulina - Reduzir dose de insulina para metade da dose utilizada no final da gestação ou retornar para dose de insulina pré-gestacional - DMG → 98% níveis glicêmicos normais após o parto - Reavaliação 6 a 8 semanas após o parto com glicemia de jejum e glicemia 2h após 75g de dextrosol
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