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Profa. Ma. Monica Buratto UNIDADE III Dualismo Religioso O início do século XVI foi um momento de grandes transformações na história e que desencadeou novas perspectivas culturais, científicas, econômicas, políticas, geográficas e religiosas. A Idade Média foi a matriz da civilização ocidental cristã. Certo está que surgiu com os seus pilares na cultura greco-romana e na filosofia da Antiguidade, mas reformulou à luz do cristianismo muito dos conceitos, até hoje, trabalhados. O período histórico que foi o cenário do desenvolvimento de Santo Agostinho, foi um prelúdio para o que, hoje, chamamos de Idade Média. Datada entre os séculos V e XV, tem, no seu início, a queda do Império Romano do ocidente e termina com uma sucessão de eventos, como a Reforma Protestante. Dez séculos entre Agostinho e Martinho Lutero Para explicar esse período devemos compreender o arcabouço que formou essa instituição. Com as invasões bárbaras no Império Romano, fatores estruturais modificaram o sistema romano de colonos, clientes e precários para o sistema de servidão e isolamento impostos pela insegurança das invasões. Esses aspectos, associados à descentralização do poder, que estava nas mãos dos senhores de cada feudo, contribuíram para que houvesse uma submissão dos servos ao seu senhor. Isso, facilitou o domínio político e religioso do período. A Idade Média e as suas épocas As bases germânicas, ou seja, bárbaras, são outra peça fundamental. Os germânicos eram tribos do norte, inicialmente divididos em diversas nações, como escandinavos, vândalos, godos, francos, alemanos, anglo-saxões, entre outros. Provinham da Ásia ocidental e, por falar línguas indo-europeias, tinham certa afinidade com os gregos e os romanos. As invasões bárbaras no Império Romano foram, lentamente, deixando as influências nos romanos e deixando-se influenciar, uma vez que eram absorvidas no império, seja no exército, seja na administração. A Idade Média e as suas épocas Do ponto de vista econômico, a produção feudal era autossuficiente, isto é, eles produziam tudo o que consumiam, a produção era baixa, devido à carência de inovações técnicas que pudessem aumentar a oferta de produtos e o sistema jurídico social era comandado pela nobreza, assim como as relações de suserania e vassalagem. A Igreja Católica, como a cúpula da sociedade feudal, influenciou sobremaneira a mentalidade dos moradores dos feudos com os seus dogmas e fundamentos religiosos, como a proibição do lucro e da usura (juros), muito comuns na época, e foi a responsável pela perpetuação das estruturas de exploração feudal. A Idade Média e as suas épocas A crença cristã entrou no Império Romano pelos apóstolos Paulo e Pedro, que difundiram os ensinamentos de Cristo. As perseguições aos cristãos começaram dentro do império, uma vez que estes eram contrários ao paganismo e a divindade atribuída ao imperador romano. As perseguições só pararam com Constantino, que introduziu a liberdade religiosa com o Edito de Milão (313 d.C.). A Idade Média e as suas épocas Em Bizâncio, Constantinopla ou Império Romano do oriente, Justiniano (395 d.C.) se transformou em um imperador com poderes divinos (cesaropapismo): combateu as heresias e uniu o monofisismo, corrente que atribuía apenas a natureza divina a Cristo, com os seus poderes políticos. A intromissão do poder político na vida monástica medieval determinou várias transformações na doutrina cristã. Esse evento, chamado de cesaropapismo, já tinha se iniciado com a proteção do Império ao cristianismo e teve grande influência do imperador de Bizâncio, Justiniano. A Idade Média e as suas épocas Apesar disso, a igreja cristã no Império Bizantino e no Império Romano do ocidente era bem diferente, uma vez que as transformações ocorridas na Europa com as invasões bárbaras, proporcionaram o êxodo urbano e o confinamento populacional em torno do feudo, ao contrário do mundo oriental (Constantinopla ou Império Bizantino), que o cristianismo permaneceu livre e a sua mentalidade pautada no mundo clássico e no mundo helenístico. Com o tempo, a Igreja Católica passou a dominar a vida social medieval na Europa, uma vez que era protegida pelo Estado (que era descentralizado). O batismo de Clóvis (rei bárbaro), marca o relacionamento entre o poder religioso e o poder temporal. A Idade Média e as suas épocas Foi no Sacro Império Romano Germânico que o poder papal enfraquecido permitiu a dominação da Igreja pelo Estado, pois os imperadores controlavam o papado e o bispado na medida em que os religiosos eram a base para o poder militar desses imperadores. Na Querela das Investiduras (século XI) ocorreu a luta entre a Igreja e o Império, principalmente no que diz respeito à indicação dos bispos alemães. O papado começou a indicar os bispos, o imperador alemão teve o seu poder diminuído e a força espiritual dos papas retornaram à vida política na Europa. De acordo com a Concordata de Worms, o cesaropapismo ficaria proibido, assim como a simonia (venda de cargos eclesiásticos). A Idade Média e as suas épocas Ainda no século XI, com o Cisma do Oriente, por volta de 1054, ou seja, a separação do cristianismo em duas vertentes: Igreja Católica Apostólica Romana (capital Roma) e Igreja Ortodoxa (capital Constantinopla) houve a cisão dos princípios doutrinários cristãos, uma vez que os ortodoxos não acreditavam nos santos e na Virgem Maria, não pregavam o celibato, como na Igreja Romana, e elegiam os seus próprios patriarcas. Nesse período, o patriarca de Constantinopla (atual cidade de Istambul), rejeitou, definitivamente, a hegemonia do papado romano e passou a se considerar o chefe supremo da Igreja do Império Bizantino, provocando uma autonomia religiosa na região. A Idade Média e as suas épocas O sistema feudal era um sistema baseado em trocas – proteção e usufruto da terra por trabalho, mas era um sistema desigual e ilusório, onde as pessoas eram manipuladas pela Igreja Católica a perpetuarem-se os seus costumes e valores nessa condição. Apesar disso, esse sistema começou a apresentar sinais de enfraquecimento com a introdução de novos elementos que desmontaram a sua estrutura. Gradativamente, foram introduzidas melhorias no sistema produtivo com o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas, pequenas novidades como o surgimento da charrua, um tipo de arado de ferro que facilitava o cultivo, além da rotação dos campos de produção, por exemplo. Dessa forma, a produção aumentou e houve um significativo aumento da população. A Idade Média e as suas épocas Alimentando-se melhor devido às inovações, as pessoas passaram a viver mais, favorecendo o aumento demográfico. Isso facilitou a fuga de parte dos camponeses para as cidades, já que, estas, não apresentavam mais o perigo de invasões. Ocorreu um verdadeiro êxodo rural. Formaram-se as cidades. Com o desenvolvimento das cidades medievais, a burguesia, habitante dos burgos, entrou em ascensão devido à grande movimentação comercial, com a venda de mercadorias vindas do oriente. Formou-se uma classe de mercadores e de artesãos que desenvolveram os seus negócios e, muitos destes últimos, conseguiram abrir as suas oficinas. As manufaturas produzidas nas oficinas eram vendidas pelos comerciantes, que distribuíam o produto tanto localmente, quanto internacionalmente. A Idade Média e as suas épocas Os mercadores e banqueiros (comerciantes que guardavam dinheiro) pressionavam os monarcas para que tomassem providências em relação à proteção, à segurança e à organização das trocas comerciais e, isso, resultou no fortalecimento do poder real, nas monarquias nacionais. É o desmantelamento das estruturas feudais, a partir do renascimento urbano e comercial, da acumulação do capital pela nova classe de mercadores, comerciantes e banqueiros, e da reintrodução da moeda como base de troca. A partir dos anos 1300, as instituições feudais passam a decair devido a essas várias transformações ocorridas no campo. As novas instituições procuram se afastar das características feudais, imprimindo novas feições à civilização europeia, no que se passa a denominar de Renascença, dentro de um arco temporal de 1300 até, cerca de, 1650. A Idade Média e as suas épocas Nesse período, ocorreram várias renascenças em diversos lugares da Europa, filósofos clássicos foram revisitados, como Cícero, Virgílio, Aristóteles, e esse período conheceu um grande desenvolvimento em vários campos, como na arte, literatura, ciência, filosofia, política, educação e religião. As transformações ocorridas nesse período irão determinar o surgimento das novas estruturas sociais, econômicas e políticas e trazer inovações nas formas de pensar, nos debates e no comportamento humano como resultado de um novo ciclo. Do legado filosófico grego, destacamos a ideia de que o conhecimento verdadeiro deve ser demonstrado por meio de provas e argumentos racionais, a ideia da não casualidade da natureza, mas sim das leis naturais que a governam, a ideia das leis universais que podem ser conhecidas pelo pensamento humano, a ideia de que a ação moral humana depende da sua vontade e da sua liberdade, dentre outros conhecimentos e silogismos. Ocorre que os saberes adquiridos em cada época são amálgamas dos saberes anteriores e podem ser construídos de acordo com os novos problemas e questionamentos. Os filósofos medievais empenharam-se em estabelecer uma coerência que envolvia a fé e a razão, a teologia e a metafísica. A filosofia na história As concepções sobre a busca metódica da verdade, inaugurada pelos filósofos gregos, foi substituída, com o surgimento do cristianismo, pela procura pela verdade interior, proposta por Santo Agostinho. Esse filósofo representa o que, hoje, chamamos de filosofia patrística. Essa filosofia relaciona-se com a passagem do mundo Antigo ao Medieval. Tem esse nome porque foi obra não só dos apóstolos Paulo e João, e suas epístolas e evangelhos, mas também dos padres da Igreja, como eram conhecidos os primeiros dirigentes espirituais e políticos do cristianismo. A patrística grega predominou na região de Bizâncio, uma vez que as indagações e dúvidas humanas do pensamento grego associaram-se aos questionamentos cristãos e às suas várias correntes de pensamento sobre o cristianismo, quando as primeiras comunidades cristãs foram infiltradas por ideias gnósticas, ou seja, o conhecimento místico das verdades divinas e transcendentes que se referem à condição espiritual do ser humano. A filosofia patrística latina introduziu ideias desconhecidas e até rejeitadas pelos filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo a partir do nada, de pecado original do homem, de Deus como trindade una, de encarnação e morte em Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, entre outros. Essa filosofia enfrentou um dos grandes problemas do dualismo filosófico na época: como o mal pode existir se tudo foi criado por Deus? A partir de Agostinho e Boécio, introduziu-se a discussão e a ideia de “homem interior”, ou seja, da consciência moral e do livre-arbítrio da vontade. Dessa forma, eles tentam resolver o problema do conflito do bem e do mal, pois o homem, por ser dotado de liberdade para escolher entre o bem e o mal, é o responsável pela existência do mal no mundo. A patrística gira em torno do dualismo entre a razão e a fé, e de como se pode conciliar essas duas posições. O pensamento filosófico da patrística e a da escolástica, que conciliou a tradição grega do platonismo e do aristotelismo com a fé cristã, constituem o núcleo da filosofia medieval e se caracteriza pelo fortalecimento da concepção cristã, uma vez que, ainda no século III, ela não estava completamente difundida em função das várias correntes míticas de interpretação do cristianismo. Sobre a filosofia medieval é correto afirmar que: a) É uma amálgama entre os saberes gnósticos e metafísicos. b) Havia um empenho dos filósofos medievais em estabelecer uma coerência que envolvia a fé e a razão, a teologia e a metafísica. c) A busca metódica pela verdade foi substituída pela procura pela verdade metafísica. d) Agostinho, representante da filosofia patrística, buscou os evangelhos de Paulo e João. e) Os apóstolos Paulo e João eram conhecidos como os bispos da Igreja. Interatividade Sobre a filosofia medieval é correto afirmar que: a) É uma amálgama entre os saberes gnósticos e metafísicos. b) Havia um empenho dos filósofos medievais em estabelecer uma coerência que envolvia a fé e a razão, a teologia e a metafísica. c) A busca metódica pela verdade foi substituída pela procura pela verdade metafísica. d) Agostinho, representante da filosofia patrística, buscou os evangelhos de Paulo e João. e) Os apóstolos Paulo e João eram conhecidos como os bispos da Igreja. Resposta Com a dominação romana no oriente e a posterior queda do Império, por volta do século III d.C., a filosofia ocidental conheceu as transformações e as adaptações que se relacionam com as indagações, os problemas e as questões mais relevantes de acordo com as condições materiais de existência da nova era que estava surgindo: o período medieval. Nesse período, a Igreja Católica teve uma influência fundamental na cultura europeia, atuando como mediadora nos costumes comuns e mantendo o monopólio da cultura. A filosofia medieval A Idade Média compreendeu os séculos VIII ao XIV e abrangeu os pensadores europeus, árabes e judeus. Nesse período, a Igreja Romana dominava a Europa, nas esferas políticas e sociais. Proclamava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa, mas também, ao mesmo tempo, criou, em torno das catedrais, as primeiras universidades e escolas desse período. A partir do século XII, por ser ensinada nas escolas, a filosofia medieval também ficou conhecida como escolástica. A filosofia medieval Nesse período, nasce a filosofia cristã, que é representada pela teologia. Tinha, como tema principal, as provas da existência de Deus e da imortalidade da alma. O raciocínio teológico utilizava os métodos e os argumentos da metafísica para chegar ao conhecimento cristão e vice-versa, ou refutar uma tese com os argumentos da Bíblia. O problema da fé em contraponto à razão e à existência de Deus, como o princípio de tudo, subsidia as discussões e os dualismos da época: a diferença e a separação entre o infinito (Deus) e o finito (homem e mundo), a diferença e a separação entre o corpo (matéria) e a alma (espírito), o Universo como uma hierarquia de seres, em que os superiores dominam e governam os inferiores, e a subordinação do poder temporal dos reis e dos barões ao poder espiritual de papas e bispos. A filosofia medieval A filosofia medieval pode ser dividida da seguinte forma: a) Filosofia dos Apóstolos: teve como expoente Paulo de Tarso (século I e II d.C.), que pretendeu difundir o cristianismo mais primitivo. b) Apologética: defesa das escrituras sagradas contra o paganismo (discurso de São Cipriano). c) Patrística: igreja agostiniana onde surgia a possibilidade de se aprofundar nas questões existenciais, mas a partir da inteligibilidade divina. d) Escolástica: cisão entre a fé e a razão defendida por São Tomás de Aquino. A filosofia medieval, no contexto da sua existência, procurou explorar os temas religiosos e, até mesmo, psicológicos averiguando a influência de Deus no indivíduo: a percepção do mundo só poderia ser desvendada pela inteligência divina, tendo os seus pensadores e teólogos como intermediários. As coisas mundanas eram explicadas através da providência divina. A filosofia medieval Novos tempos marcaram as transformações profundas na Europa desde o século XII, assinalando a crise do feudalismo e o início do capitalismo. Ainadequação da Igreja Católica frente ao poder nas mãos dos reis, a centralização do poder político, o surgimento da burguesia, o crescimento do comércio, do mercantilismo, da urbanização das cidades medievais e, principalmente, as novas correntes humanistas antropocêntricas que estavam surgindo, dentre outras mudanças, caracterizaram a emergência do mundo moderno. O poder real foi se fortalecendo, juntamente com a adoção de medidas para facilitar o desenvolvimento do comércio, e para obter e preservar as riquezas em suas nações. Isso se deveu aos descobrimentos e à colonização de terras capazes de oferecer produtos primários através da sua exploração. Pré-capitalismo O capitalismo comercial que se desenvolveu com a prática mercantilista, ajudou a avançar para a etapa seguinte, a do capitalismo industrial, e na conquista da burguesia pelo poder político. Essa classe social adquiriu o prestígio mediante a conquista de riquezas provenientes do comércio. O Renascimento foi uma verdadeira revolução cultural que caracterizou a emergência da burguesia ao poder, uma vez que esse movimento quebrou com o monopólio intelectual imposto pela Igreja Católica. O Renascimento teve início na Itália, justamente onde o pré-capitalismo estava se desenvolvendo, com o ativo comércio mediterrâneo. Pré-capitalismo O equilíbrio de poderes entre os Estados italianos com a influência de intelectuais vindos de Bizâncio, foi fundamental para o surgimento do Renascimento italiano. As características renascentistas são encontradas no antropocentrismo, no humanismo e no racionalismo que se manifestaram a partir da crítica dos valores cristãos medievais, principalmente porque o Renascimento voltou-se para a observação e o estudo da natureza, e para a sua comprovação científica. A filosofia da Renascença (século XIV ao século XV), procurou a leitura das obras de Platão, do neoplatonismo e dos livros de magia natural. A filosofia do período buscou, também, o humanismo, a valorização do homem e a visão crítica de sua própria sociedade. A filosofia da Renascença Nesse período, cresceram as manifestações e as críticas contra a Igreja Católica. Alguns filósofos como Thomas Morus e Erasmo de Roterdã foram críticos contumazes em relação à Igreja Católica, principalmente em relação ao poder da Igreja e ao apego aos bens materiais. Já as reformas religiosas do século XVI, foram as grandes revoluções espirituais da época moderna, uma vez que rompeu com o cristianismo ocidental, encarou e transformou os dogmas cristãos e modificou a doutrina da salvação. A Reforma Protestante regenerou os aspectos sombrios e mundanos do cristianismo romano, quebrou alguns paradigmas católicos e modificou a forma de culto. A Reforma Protestante é o resultado da nova realidade econômica que se estabeleceu na Europa, no século XVI, com o desenvolvimento comercial e urbano. Ela estimulou a acumulação do capital entre os fiéis que estavam cativos nas doutrinas católicas que proibiam a usura e o lucro. A mudança na consciência religiosa dos fiéis possibilitou o incremento do poder de crítica, capacitando-os na defesa de seus interesses antes controlados e manipulados pela Igreja Católica. Ao contrário, as mudanças sociopolíticas e econômicas se constituíram em um cenário fundamental para que a Reforma surgisse. A Reforma Protestante É importante salientar que a mentalidade do homem europeu do século XV e XVI conservava a crença em Deus e em Cristo; entretanto, com o surgimento da imprensa criada por Gutemberg e a edição da Bíblia, os fiéis aumentaram o seu poder de análise do mundo material e divino. Outros críticos da igreja medieval surgiram a partir do século XIV, como o inglês John Wycliffe, que pregava o confisco dos bens da Igreja, e o pensador reformador boêmio John Huss, que inspirou o sentimento nacionalista na região, e contribuíram para renovar as necessidades espirituais dos fiéis. A Reforma Protestante Os reformistas foram indivíduos que conseguiram furar o bloqueio imposto pela Igreja Católica, pois outros movimentos que se iniciaram no século XII foram, fervorosamente, combatidos pela igreja medieval, através da Inquisição (tribunal eclesiástico) como é o caso dos cátaros franceses que possuíam a visão dualista do mundo (bem e mal) e os valdenses que faziam voto de pobreza. Apesar da evidente expansão da fé cristã na Europa medieval, as crises religiosas resultantes da divergência entre as necessidades espirituais dos indivíduos e a organização clerical, causaram vários problemas aos fiéis e colaboraram para as mudanças que irão ocorrer entre a passagem do feudalismo para o capitalismo. A Reforma Protestante A crise religiosa da Igreja Católica e os rápidos avanços da Reforma Protestante favoreceram as reformas internas que resultaram na chamada Contrarreforma. A solução encontrada foi a recuperação de áreas de influência protestantes que estavam prestes a entrar na Itália e na Península Ibérica, por meio de colégios confessionais e a difusão do catolicismo em regiões de povos não cristãos, como foi o caso brasileiro, com a vinda da Companhia de Jesus ao Brasil, no século XVI, para a evangelização dos indígenas. Outra solução para conter o protestantismo foi reforçar os tribunais da Inquisição. A Contrarreforma Um dos pais dos reformistas foi Martinho Lutero. O monge agostiniano Martinho Lutero nasceu em 1483, na cidade de Eisleben, na Alemanha. Foi criado no campo, mas como o seu pai gostaria que se tornasse funcionário público, levou Lutero a estudar em escolas na cidade. Com 17 anos, entrou na Universidade de Erfurt, onde estudou Filosofia e foi influenciado por Ockham. Esse teólogo seguia a ideia de que as palavras designam as coisas como elas são e não os “universais”, a ideia da coisa perfeita; por isso, nada poderia ser conhecido, com certeza, pela razão humana, fora a realidade como ela é. Martinho Lutero Em 1512, Martinho Lutero terminou seu doutorado em Teologia. Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem, tendo sob a sua autoridade onze monastérios. Foi durante esse período, que estudou grego e hebraico para conhecer e entender a Bíblia, e, com isso, era conhecido como o “doutor da Bíblia”. No período de sacerdócio, ele percebeu o problema do oferecimento das indulgências aos fiéis. A indulgência é a remissão do castigo que uma pessoa deve receber por causa dos seus pecados e deve ser aplicada a uma pessoa que esteja arrependida de todos eles. Essa prática começou a incomodar Martinho Lutero. Ele via isso como um abuso e considerava que, tal prática, poderia confundir as pessoas, que deixariam de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros para pagar pela indulgência. Martinho Lutero Por conta desse processo interno de questionamento das indulgências, escreveu as famosas 95 Teses e afixou esse documento na porta da Catedral de Wittenberg (cidade onde morava), convidando as pessoas para a discussão acadêmica sobre o significado das indulgências. As 95 Teses foram traduzidas para o alemão e foram divulgadas através da impressão por toda a Alemanha e, logo depois, por toda a Europa. Martinho Lutero Em 1518, o papa Leão X tomou ciência da polêmica gerada a partir do documento de Martinho Lutero e começou, então, a debater academicamente com Lutero. Esse debate não chegou a um resultado que a Igreja em Roma considerasse adequado. Nesse processo, Lutero se firmava, cada vez mais, contrário às indulgências e a outras atitudes da Igreja Católica. Frente à resistência e à oposição da Igreja, Lutero se colocou em posição perigosa e foi acolhido pela nobreza culta da Alemanha, mesma nobreza que também estava cansada de enviar riquezas a Roma e, de certa forma, apoiava o pensamento de Lutero. Foi o imperador Carlos V que chamou Lutero para participar de sua primeira Dieta real, em 1521. Martinho Lutero Nessa reunião, Lutero foi indagado sobre a sua obra, que já era amplamente conhecida e que não só questionava o papa, mas também argumentava que ele estava errado. Ele não retirou os seus argumentos. Antes do final da reunião, Lutero abandonou a cidade de Worms e, no seu regresso à Wittenberg, desapareceu. Foi declarado fugitivo e herege pelo imperador Frederico, o Sábio, que ordenou que Lutero fosse capturado. Este foi levado para o castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ficou por quase um ano e assumiu o pseudônimo de Jörg. Foi nesse período de afastamento que Lutero trabalhou na tradução da Bíblia para o alemão. Até então, todas as escrituras e outros documentos da Igreja eram escritos em latim, o que fazia com que grande parte da população cristã não conhecesse, de fato, a palavra de Deus. Em setembro de 1522, o Novo Testamento foi impresso em alemão, tornando acessível, a todos, a leitura e o entendimento das escrituras. Martinho Lutero São causas da Reforma Protestante: a) O capitalismo comercial desenvolvido no oriente, principalmente em Bizâncio. b) O Renascimento que provocou a emergência da aristocracia cristã europeia. c) A transformação dos dogmas cristãos e da doutrina da salvação. d) É o resultado da mentalidade bíblica do homem europeu do século XVI. e) As mudanças sociopolíticas e econômicas que se estabeleceram na Europa, no século XVI. Interatividade São causas da Reforma Protestante: a) O capitalismo comercial desenvolvido no oriente, principalmente em Bizâncio. b) O Renascimento que provocou a emergência da aristocracia cristã europeia. c) A transformação dos dogmas cristãos e da doutrina da salvação. d) É o resultado da mentalidade bíblica do homem europeu do século XVI. e) As mudanças sociopolíticas e econômicas que se estabeleceram na Europa, no século XVI. Resposta Martinho Lutero enfrentou os seus questionamentos importantes em relação à postura da Igreja Romana, no que se refere à condução ética da moral dos cristãos. Esses questionamentos eram dele mesmo, fruto de seus estudos e da experiência na vida monástica. Esses questionamentos em relação à Igreja culminaram na afixação das 95 teses sobre as indulgências papais. As 95 teses, formuladas para iniciar uma discussão acadêmica, se referiam às indulgências papais e à cobrança de indultos para comprar um lugar no céu ou para pagar os pecados. Martinho Lutero via pessoas com delitos graves que pagavam pelos indultos, mas não estavam, de fato, se arrependendo das suas atitudes. Lutero dizia que isto era uma “lenta degradação moral das consciências”. Lutero não pretendeu desencadear uma divisão da Igreja, mas, simplesmente, discutir teologicamente o assunto. Martinho Lutero Lutero atacou as indulgências não como abuso, mas como algo de verdade da religião. As teses poderiam ter sido debatidas apenas na academia. Foram escritas em latim e de forma moderada, questionando os poderes papais. Assim que os alemães entenderam o poder desse questionamento, traduziram essas teses para o alemão e, através da imprensa, as distribuíram por todo o território. O interesse que suscitaram foi geral, súbito e inesperado. Martinho Lutero Lutero não se deixou tranquilizar pelos méritos da disciplina eclesiástica. O ideal monástico tornou-se, cada vez mais, difícil de alcançar. A contradição que ele observou nesse tipo de espiritualidade rigorista e na doutrina escolástica em geral é que, quando o ser humano falha, face às exigências da justiça divina, fica sozinho com a sua culpa e merece a condenação. Lutero não entendia como Deus poderia ser uma vez um Deus de amor e outra vez um Deus de justiça implacável. Essa contradição da teologia escolástica o angustiava de tal modo que não se deixava tranquilizar com soluções mediadas pela instituição eclesiástica. Precisava de uma relação pessoal com Deus, algo contrário à imaginação escolástica medieval, que considerava Deus absoluto, onipotente e distante, uma imagem de Deus fortemente desenhada nos termos ontológicos da filosofia aristotélica. Martinho Lutero O dualismo religioso de Lutero sofre a influência de Paulo e, portanto, do cristianismo primitivo. Entretanto, é possível que Lutero tenha tido uma formação escolástica, mesclando os seus conhecimentos entre a fé e a razão, apesar de não ter absolutamente aceito a interferência da filosofia platônica em muitos de seus diálogos. Também Filipe Melanchthon, íntimo amigo de Lutero e o seu principal colaborador, percebeu as deformações sofridas pela teologia decorrentes da influência da teologia grega. Martinho Lutero O dualismo religioso prossegue com Lutero, com a ideia da soberania de Deus que exerce sobre todas as fases da existência, incluindo a ordem política, uma vez que a sua doutrina foi importante no desenvolvimento do nacionalismo alemão. Ele cria o conceito de dois reinos - o de Deus e do mundo, embora os dois reinos estejam sujeitos à vontade de Deus. É importante saber como a relação entre a religião e o trabalho se desenvolveu no pensamento de Lutero, uma vez que esta questão se tornou o prelúdio da secularização da Igreja, isto é, a perda de prestígio das organizações religiosas na vida do indivíduo e na vida coletiva, assim como as suas influências nas instituições, como ocorria na era medieval. O progresso científico e as verdades políticas, culturais e filosóficas irão facilitar o desenvolvimento de um modo de vida não mais baseado na religiosidade, como aquela vivenciada no mundo feudal. Martinho Lutero O que se assiste na modernidade é a consolidação do “declínio da religião” de sua condição estruturante da sociedade, não exercendo nenhuma influência significativa na cultura contemporânea, eclipsada pela ciência (Renascimento), esta sim responsável pelos “milagres” impactantes do nosso cotidiano. O desenvolvimento da secularização está absolutamente relacionado com o fenômeno moderno como resultado dos fatores que provocaram o seu surgimento. A Reforma Protestante foi precursora nesse episódio. As ideias reformistas foram auxiliadas pela invenção da imprensa, que propiciou a impressão dos textos reforçados pela circulação dessas ideias. Martinho Lutero Evidentemente, o fenômeno reformista provocou uma maior liberdade individual e de espírito como resultado da nova ordem social que estava nascendo. Com a abertura do conhecimento devido ao contato do fiel com as escrituras sagradas, quando a Bíblia foi traduzida para o alemão, tornou-se possível garantir ao indivíduo, uma maior subjetividade e criticidade, em contraponto com a manipulação religiosa medieval. A emancipação do indivíduo, isto é, libertá-lo das superstições medievais e do domínio político norteou o surgimento das “novas verdades”, ou das novas posições filosóficas surgidas com o “Século das Luzes” ou o Iluminismo. Martinho Lutero Pela sua trajetória, Lutero avança em termos da modernidade que o contexto exigia, se libertando das amarras medievais quando defende a sua liberdade enquanto cristão, além de ter uma dimensão crítica à tradição judaico-cristã. Todavia, Lutero apoiou os príncipes alemães na captura do líder dos camponeses Thomas Müntzer e na condenação dos revoltosos. Martinho Lutero Thomas Müntzer teve um papel muito mais importante no período do que se imagina, embora não teve a relevância merecida. Esse teólogo, ao contrário das revisões teológicas encontradas no próprio Martinho Lutero e em Felipe Melanchthon, considerado um importante pedagogo da Reforma. A própria Reforma Protestante, na Alemanha, também representou uma revolução social e não apenas religiosa, em função das transformações ocorridas no mundo feudal e com o surgimento da burguesia. Ocorre que a nobreza alemã pressionava os camponeses, o que provocava muitos conflitos e revoltas sociais. Thomas Müntzer O teólogo Müntzer, nascido por voltade 1489, aproximou-se da doutrina de Lutero, mas logo se afastou, principalmente devido a Lutero ter sido protegido pela nobreza. Além disso, Müntzer criticava a riqueza da Igreja e da nobreza, e pregava o milenarismo, ou seja, a eliminação de todos os não crentes (cristianismo primitivo), assim como a divisão dos bens materiais entre todos. Thomas Müntzer Suas ideias reuniam os princípios religiosos e políticos, e colocavam Müntzer em uma postura bastante radical. Ele representava os anabatistas, grupo que defendia o batismo na idade adulta e compôs o grupo para liderar as revoltas camponesas. Os anabatistas eram um grupo heterogêneo, formado por camponeses e intelectuais humanistas, que encontraram, na nova igreja reformada, um meio para combater a situação social em que viviam. Se esse grupo tivesse nascido no período da Alta Idade Média, seria perseguido e morto como herege. Thomas Müntzer A revolta camponesa liderada por Müntzer, por volta de 1523, pretendia a abolição da servidão no campo. As revoltas camponesas na Alemanha foram veementemente condenadas por Lutero. Seus líderes, principalmente Müntzer, foram decapitados. De qualquer forma, Martinho Lutero teve uma importância incontestável nas transformações ocorridas no século XVI, em sua doutrina da justificação pela fé, atuando, juntamente com outros teólogos, nas mudanças estruturais do cristianismo medieval, principalmente na hierarquia eclesiástica que estava corroída devido a vários anos de dominação e poder. Lutero é um dos personagens principais no movimento de regeneração da Igreja Católica. Thomas Müntzer O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) se manifestou sobre a questão da fé dizendo que ela era fundamental para a solução dos problemas éticos que afligiam os seres humanos e que a espiritualidade dava sentido à vida. Conhecido pelo seu existencialismo cristão, isto é, pensadores que defendiam a ideia que vinculava a existência humana por meio de Deus, onde o homem vive em consonância com o absoluto, Kierkegaard foi um crítico ávido aos preceitos e à burocracia luterana. Soren Kierkegaard Os pressupostos que separam as doutrinas de Agostinho e de Lutero podem ser encontrados nos fatos históricos distintos e nas diferentes sociedades em que viveram. Ambos conheceram uma sociedade em transformação e as suas concepções foram influenciadas por essas mudanças. Entretanto, algumas diferenças podem ser encontradas nestes dois grandes pensadores, uma vez que foram “homens de seu tempo”. Lutero, ex-monge agostiniano, provocou uma grande ruptura na igreja medieval, principalmente na influência que esta tinha na vida social. Além disso, promoveu uma revolução léxica ao traduzir a Bíblia para o alemão, o que colaborou para a unificação da língua e, consequentemente, a unificação do império alemão. Agostinho e Lutero As diferenças entre Agostinho e Lutero estão no desprezo desse último à filosofia aristotélica e escolástica, apesar de Agostinho ter influenciado, sobremaneira, o pensamento de Lutero, e, até mesmo, de Calvino. Esses reformadores instrumentalizaram os escritos de Agostinho. Por isso, os séculos que separam Agostinho, de Lutero, são genuínos potencializadores para a aproximação entre os dois. Agostinho e Lutero As diferenças entre Agostinho e Lutero são encontradas: a) Nas diferenças econômicas que permeavam a vida de ambos. b) No desprezo que Agostinho possuía diante da filosofia aristotélica e da escolástica. c) Na influência que tinham na vida social dos fiéis. d) Eram homens de seu tempo e, portanto, de tempos diferentes. e) Nas questões políticas que ambos defendiam ao lado dos príncipes alemães. Interatividade As diferenças entre Agostinho e Lutero são encontradas: a) Nas diferenças econômicas que permeavam a vida de ambos. b) No desprezo que Agostinho possuía diante da filosofia aristotélica e da escolástica. c) Na influência que tinham na vida social dos fiéis. d) Eram homens de seu tempo e, portanto, de tempos diferentes. e) Nas questões políticas que ambos defendiam ao lado dos príncipes alemães. Resposta Conhecido em português como João Calvino, o reformador religioso nasceu em 10 de julho de 1509, na cidade de Noyon, na região da Picardia, na França. Calvino se converteu ao protestantismo luterano quando estudava Direito na Universidade de Orleans. Em 1536, ele publicou um estudo em latim sobre a religião cristã intitulado As instituições da religião cristã. Após a primeira tradução e interpretação da Bíblia, por Martinho Lutero, surgiram, na Europa, outras interpretações. Calvino reescreveu, pelo menos, três vezes essa obra, completando-a para se tornar a sua herança intelectual. Calvino rompeu com a religião católica aos 24 anos. Jean Calvin Calvino desenvolveu um sistema da Teologia Cristã, mais tarde conhecido como calvinismo, quando a doutrina cristã inclui as ideias de predestinação e da soberania absoluta de Deus na salvação da alma humana da morte e da condenação eterna. Essas ideias que Calvino desenvolveu estavam fortemente ligadas às primeiras tradições cristãs inspiradas por Santo Agostinho. Atualmente, na Igreja Protestante, várias manifestações como a Igreja Congregacional, a Reformada e a Presbiteriana veem, em Calvino, o principal pensador de sua crença. Jean Calvin Quando as tensões religiosas na França se tornaram violência generalizada contra os cristãos protestantes, Calvino fugiu para a Basileia, na Suíça, onde, em 1536, publicou a primeira edição das Institutas. No mesmo ano, Calvino foi recrutado pelo francês William Farel para ajudar a reformar a igreja em Genebra. Levou para lá as suas ideias e tentou transformar a sua forma de pensar a religião cristã na interpretação hegemônica da cidade. Mas os católicos reagiram aos seus sermões, fazendo o conselho de governo da cidade resistir à implementação de suas ideias, até que Farel e Calvino fossem expulsos de lá. Calvino encontrou refúgio na cidade francesa de Estrasburgo, onde se tornou ministro de uma igreja que recebia franceses perseguidos por sua opção religiosa. Ele continuou a apoiar o movimento de reforma em Genebra e, em 1541, foi convidado a voltar para assumir a igreja daquela cidade. Naquele tempo, cada cidade assumia uma forma única de religião cristã, e aqueles que confessavam credos cristãos diferentes, eram obrigados a mudar de cidade. Após o seu retorno a Genebra, Calvino introduziu novas formas de condução da igreja e apesar da oposição de várias famílias poderosas na cidade, os adversários de Calvino foram obrigados a sair e Calvino passou a promover a Reforma tanto em Genebra como em toda a Europa. O processo reformista na Suíça teve início com o teólogo Ulrich Zwinglio e com a independência da Suíça do Sacro Império Romano Germânico, do século XVI. Esse processo histórico foi fundamental para a independência das várias cidades comerciais da região e para o fortalecimento da burguesia ascendente. A Suíça, naquele período, vivia muitos problemas similares aos da Alemanha. Ulrich Zwinglio (1484-1531), foi o iniciador da Reforma na Suíça. Foi influenciado pelo humanismo de Erasmo de Roterdã e a sua doutrina era próxima a de Lutero, porém mais radical. A partir de Zurique, ganhou a simpatia de outros cantões suíços do Norte e pretendeu fundar um Estado teocrático cristão. Os católicos levantaram-se contra ele, o que originou uma guerra civil. Foi derrotado na batalha de Kappel, na qual morreu, em 1531. Ulrich Zwinglio Apesar da falta de unidade ideológica na região, Zwinglio colaborou para uma maior independência de costumes, na medida em que esse teólogo rompeu com muitos preceitos, tanto da Igreja Católica quanto com os teólogos reformistas; foi contrário aos anabatistas, inicialmente, e à predestinação e à confissão; entretanto, se aproximou das ideias de Lutero, emboranão conseguisse refutar as suas ideias luteranas. As ideias polêmicas de Zwinglio provocaram uma guerra civil, em 1531. Ele teve importante influência no protestantismo primitivo nesta região. Ulrich Zwinglio Genebra era uma cidade independente do Sacro Império Romano Germânico e era habitada por pequenos comerciantes e artesãos. A população de comerciantes independentes temiam um poder político forte e ansiavam por um sistema religioso e político independente. As ideias de Lutero e Zwinglio já haviam surgido na região e essas ideias vieram a coincidir com o modo de vida dos habitantes da cidade e de suas crenças cristãs que estavam abaladas pelos problemas com as estruturas eclesiásticas e com a administração da igreja. A cidade era dividida em católicos e protestantes, mas com o passar do tempo a população passou a se identificar com as ideias calvinistas. As influências presentes no pensamento de João Calvino A vinda de Calvino com apenas 27 anos, à Genebra, em 1536, combinou os interesses da população com as ideias humanistas e luteranas recém-adquiridas por esse pensador que viria transformar a localidade que temia uma mudança radical. Lá, Calvino idealizou um projeto reformista com o apoio das instâncias civis e implantou as Ordenações Eclesiásticas, conjunto de leis rígidas e intolerantes. As ideias de Calvino como a predestinação, a salvação pela fé e o hábito da poupança através do trabalho, moralmente edificado, receberam uma rápida adesão, uma vez que muitos comerciantes eram ligados aos costumes morais cristãos. A igreja medieval combatia a obtenção de lucros excessivos em relação a todos os tipos de preços adotados com o comércio e as outras formas de renda: isso era chamado de justo preço. Isso impedia o acúmulo de capital que estava em franca ascensão na Baixa Idade Média. Os valores morais propagados pela Igreja estavam impedindo que as recém-criadas atividades financeiras pudessem se desenvolver. Os judeus europeus emprestavam dinheiro aos indivíduos que precisassem sanar os seus problemas relacionados com a produção e com o pré-capitalismo; os empréstimos bancários eram a tônica do momento. A Igreja Católica condenava o lucro, principalmente os empréstimos a juros. Com o aumento do volume de negócios, a Igreja ficou menos rígida, no século XI, com as regras da usura e do juro. As ideias calvinistas viriam tomar corpo na Suíça, em virtude de que, apesar de rígidas, libertavam os comerciantes do “pecado” do lucro e da usura, e colocavam as práticas burguesas comerciais fora das transgressões católicas, onde os colocaria no caminho da predestinação, ou seja, os escolhidos por Deus, devido à vida próspera e sem ostentação. O dualismo religioso em João Calvino envolve a questão da ética, que provém da tradição cristã e das ideias agostinianas. Para ele, Deus é absoluto sobre todas as coisas terrenas e universais, e o ser humano foi criado à sua imagem e semelhança. Essa concepção é percebida por Calvino, por meio do sentido ético e moral, ou seja, o ser humano tem o livre- arbítrio para fazer a vontade de Deus, dentro de seus limites naturais. Calvino diz que a salvação depende, exclusivamente, da soberania de Deus; a predestinação depende da graça divina. Esse pensamento está no raciocínio agostiniano: o conceito de dualidade fica determinado entre a imortalidade da alma, do pensamento platônico e a sua ressurreição, do pensamento cristão. Dessa forma, percebe-se que o pensamento de Calvino não suplantou o raciocínio de Agostinho. Dualismo religioso Calvino propôs reformas mais radicais do que as de Lutero; simplificou o culto e apenas os sacramentos do batismo e da comunhão eram aceitos, segundo a sua doutrina. As Sagradas Escrituras eram as bases de sua crença. Suas ideias difundiram com rapidez com o teólogo Teodoro de Beza e pela França, Holanda e Inglaterra, país onde o calvinismo chamou-se de puritanismo. O calvinismo penetrou na França católica e os seus adeptos receberam o nome de huguenotes, em homenagem à Besançon Hugues, líder religioso suíço. Eles foram vítimas de perseguição em um momento em que a França lutava contra o protestantismo no século XVI. Os huguenotes foram massacrados na “Noite de São Bartolomeu”. Posteriormente, Henrique IV decretou o Édito de Nantes, concedendo a liberdade religiosa aos huguenotes. Jean Calvin O contexto histórico em que os reformadores apareceram era, predominantemente, humanista. O humanismo (séculos XIV até XV) propagava uma postura humana mais independente da visão religiosa como resultado das críticas que a Igreja Católica vinha recebendo. A discordância em relação aos preceitos católicos era severamente punida com prisões, julgamentos e fogueiras (Inquisição). Os filósofos humanistas tinham uma postura antropocêntrica (o homem como centro do mundo), ao invés do comportamento teocêntrico defendido pela Igreja Católica, que colocava Deus como o fundamento de tudo. O pensamento humanista procurou, nos valores clássicos, incrementado com os avanços técnicos e científicos, a justificativa para tratar a teoria antropocêntrica. O contexto histórico e religioso O filósofo holandês e clérigo Erasmo de Roterdã (finais do século XV) se beneficiou com a invenção da prensa de Gutenberg para difundir as suas ideias. Ele estava vinculado ao humanismo cristão que pleiteava uma igreja renovada. Em sua obra O elogio da loucura, Erasmo de Roterdã criticou as indulgências (perdão), a venda das relíquias religiosas, a ganância, a imoralidade, dentre outros problemas encontrados nessa instituição. Martinho Lutero se aproximou das ideias de Erasmo em função das suas críticas ao clero, pois ambos dialogavam com o pensamento e as concepções reformistas e com a nova consciência religiosa que estava surgindo, apesar de Erasmo combater a noção de predestinação defendida por Lutero, porque acreditava no livre-arbítrio do ser humano. Erasmo de Roterdã O calvinismo foi amplamente estudado pelo sociólogo e economista alemão Max Weber (1864-1920). Ele encontrou conexões entre o protestantismo e o capitalismo. Weber recorreu à explicação de que a essência do capitalismo está no racionalismo econômico da classe dirigente e na classe dirigida, e nas crenças religiosas da Baixa Idade Média: elas teriam exercido um papel importante no espírito capitalista. Ele buscou compreender uma ética peculiar que existia na valorização da vocação, no cumprimento do dever, já encontrados nos escritos de Martinho Lutero. Segundo Lutero, o conceito de vocação dependia da ordem divina e cabia ao indivíduo se adaptar a isso. Como Weber não aceitava essa ideia, procurou em outras formas de protestantismo e da racionalização do trabalho. Protestantismo e capitalismo Weber irá encontrar, no calvinismo, os conceitos que necessitava para explicar a sua tese: a consideração de que o trabalho moralmente virtuoso levava o indivíduo à salvação. O trabalho era um dever humano e a sua prática austera levaria à sua predestinação, à realização dos desígnios divinos. Para Calvino, o ser humano é apenas um instrumento de Deus e cabia ao indivíduo servir a ele por meio de um trabalho digno, a salvação encontrava- se no sucesso econômico. Essa ética calvinista e o seu ascetismo, ou seja, o trabalho e a abstenção dos prazeres mundanos para atingir o equilíbrio espiritual, foram considerados por Weber como os pressupostos básicos para a explicação do espírito capitalista, ou seja, “o ethos protestante foi uma forma de racionalização da vida que contribuiu para formar o que ele chama de “espírito capitalista”. Max Weber Para o calvinista, não existiam confortos humanos e amigáveis, não havia perdão pelos momentos de fraqueza ou de descuido, mesmo se ele aumentasse as suas boas ações, como o católico e, mesmo, o luterano. O Deus do calvinismo exigia de seus crentesnão boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações. Assim, a conduta moral da pessoa comum foi impedida de viver de forma errática, pois ficou submetida, como um todo, a um método de conduta. Puritano era aquele que vivia uma vida racionalmente, escolhendo agir de forma ética, mesmo quando isso fosse ameaçado pelas emoções que sentia. O cristão deveria ter uma vida alerta e inteligente, sem um contentamento espontâneo e impulsivo, e ter uma vida moral rígida. Para Weber, portanto, a doutrina calvinista foi fundamental para a explicação sobre o espírito capitalista: a conduta ascética colaborava para uma lógica racional comanda pela vontade divina, e o êxito profissional deveria ser monitorado para que o indivíduo não caísse em tentações da carne e no ócio. Uma maior produtividade no trabalho, o controle de gastos, uma vida simples possibilitou o desenvolvimento capitalista. A ética protestante para o desenvolvimento do capitalismo pode ser encontrada em: a) Uma conduta ascética que colaborava para uma conduta religiosa. b) Uma conduta ascética que colaborava para a lógica racional segundo a vontade divina. c) Uma vontade divina que influenciaria uma conduta ascética. d) A racionalização da vida pública. e) A racionalização dos costumes errantes. Interatividade A ética protestante para o desenvolvimento do capitalismo pode ser encontrada em: a) Uma conduta ascética que colaborava para uma conduta religiosa. b) Uma conduta ascética que colaborava para a lógica racional segundo a vontade divina. c) Uma vontade divina que influenciaria uma conduta ascética. d) A racionalização da vida pública. e) A racionalização dos costumes errantes. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!