Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Proliferação Profilaxia Aluna: Gabriela Sales Ano: 2º (XIX) Medicina - Universidade Estadual de Santa Cruz 1. DISCORRER SOBRE A ANATOMOHISTOLOGIA DO COLO UTERINO. ● Anatomia É o terço inferior cilíndrico do útero. Seu comprimento é de aprox. 2.5 cm em uma mulher adulta não grávida. O colo uterino divide-se em duas porções: ● ECTOCÉRVIX: porção vaginal, visível a olho nu no exame vaginal, o qual pode estar virtualmente fechado em mulheres nulíparas (nunca fez sexo). Se projeta para a parte superior da parede anterior da vagina. O ectocérvix circunda o óstio do útero, que por sua vez é circundado pelo fórnice da vagina, um recesso estreito. ● ENDOCÉRVIX: superior ao óstio externo, entre o istmo e a vagina. É separada da bexiga anteriormente por tecido conjuntivo frouxo e do reto posteriormente pela escavação retrouterina. Junto ao lúmen da vagina, o colo de útero constitui o canal de parto que o feto atravessa ao fim da gestação. É sustentado pelo ligamento transverso do colo do útero e posteriormente pelos ligamentos retouterinos. É irrigado pela artéria uterina. Os plexos hipogástricos inferiores estão associados ao colo do útero e aos fórnices laterais da vagina, levando fibras simpáticas para a inervação pélvica. O colo do útero é principalmente fibroso (colágeno com um pouco de músculo liso e elastina). Por isso, é a parte menos móvel do útero, já que é sustentado passivamente por condensações dos ligamentos fixados à ele. 1 ● Histologia da cérvice uterina (Junqueira Cap. 22) A mucosa é revestida por um epitélio simples colunar secretor de muco. Tem pouco músculo liso e 85% de tecido conjuntivo denso. Já a porção externa é revestida por epitélio estratificado pavimentoso. A mucosa do cérvice contém glândulas mucosas cervicais intensamente ramificadas. Durante a gravidez, essas células proliferam e secretam um líquido mucoso e viscoso abundantemente. A endocérvice é revestida por uma camada única de células cilíndricas produtoras de muco, chamada de epitélio colunar simples, enquanto a ectocérvice é revestida por um tecido de várias camadas de células planas, chamado de epitélio escamoso e estratificado. Entre esses dois epitélios, encontra-se a Junção Escamocolunar (JEC), que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endocérvice, dependendo da situação hormonal da mulher. Na infância e no período pós-menopausa, geralmente a JEC situa-se dentro do canal cervical. No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geralmente a JEC situa-se ao nível do orifício externo ou para fora e recebe o nome de ectopia ou eversão. O epitélio colunar fica em contato com um ambiente vaginal ácido, hostil a essas células. Assim, células subcilíndricas bipotenciais, de reserva, se transformam por meio de metaplasia em células mais adaptadas (escamosas), dando origem a um novo epitélio situado entre os epitélios originais, chamado de terceira mucosa ou zona de transformação (ZT). Nessa região pode ocorrer obstrução dos ductos excretores das glândulas endocervicais subjacentes, dando origem a estruturas císticas sem significado patológico, chamadas de cistos de Naboth. ● Epitélio colunar (cilíndrico) simples: é o epitélio característico da região endocervical, constituído por uma única camada de células responsáveis pela secreção do muco cervical (epitélio cilíndrico simples ou epitélio glandular) ● Epitélio escamoso estratificado não queratinizado: é o epitélio característico da região da ectocérvice, formado por várias camadas de células, o que confere maior proteção à região. Esse epitélio também reveste os fundos de saco e a vagina em toda sua extensão. ● JEC (Junção Escamocolunar): O ponto de encontro destes epitélios denomina-se Junção Escamocolunar (JEC). Quando a JEC se localiza no orifício externo tem-se o colo padrão. A JEC é um ponto dinâmico, de localização variável, que se modifica em resposta à faixa etária, gravidez, paridade, menopausa, traumatismos, infecções e estimulação hormonal (anticoncepção hormonal). ● Metaplasia escamosa: é um processo fisiológico de transformação do epitélio colunar em escamoso, que origina uma “nova JEC” (zona de transformação). Nesse processo, a nova JEC “desloca” a JEC primitiva para dentro do canal endocervical. Consequentemente, 2 essa nova JEC se exterioriza. Como a metaplasia escamosa é um processo fisiológico e comum em mulheres na menacme, a sua presença em um esfregaço de Papanicolaou ou no laudo de biópsia do colo uterino não indica nenhum tipo de tratamento ou de cuidado especial. ● Zona de Transformação (ZT): Corresponde à zona de transformação, onde se vê o epitélio escamoso entremeado de epitélio colunar, orifícios glandulares e cistos de Naboth. A zona de transformação corresponde à região entre a JEC primitiva (original) e a nova JEC. Ou seja,corresponde à região que sofreu metaplasia escamosa. Em outras palavras, a ZT é a responsável pela transformação do epitélio colunar em estratificado pavimentoso. Portanto, é na ZT que se localizam mais de 90% das lesões precursoras ou malignas do colo do útero. ● Ectopia ou ectrópio: a JEC ativa deslocada para fora do orifício externo do colo uterino. Esta alteração topográfica é clinicamente referida como mácula rubra durante o exame especular. Como a mácula rubra não é um achado patológico, não há necessidade de realizar nenhum outro exame complementar. 2. ABORDAR O CÂNCER DE COLO UTERINO, SEU TRATAMENTO, PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO. (Robbins Cap. 18) ● Neoplasias de colo uterino A maioria é de origem epitelial e causada por cepas oncogênicas do HPV. Na puberdade, a JEC sofre eversão, e fica visível na abertura do colo do útero. As células colunares expostas sofrem metaplasia, formando a ZT. O HPV tem tropismo para as células escamosas imaturas da ZT, e as lesões persistentes progridem para a neoplasia intraepitelial cervical (NIC), lesão precursora que pode gerar carcinomas invasivos. Apesar da infecção ocorrer nas células escamosas imaturas da camada basal, a replicação do DNA do HPV ocorre em células escamosas sobrejacentes diferenciadas. Graças à expressão de duas oncoproteínas potentes codificadas do DNA do HPV (E6 e E7), que ligam à p53 e a Rb, inativando-os, fazem com que as células escamosas infectadas que normalmente não replicaria DNA, comecem a replicá-lo. Dessa forma, o crescimento é promovido, e a chance de ocorrer mutações adicionais que podem levar à carcinogênese aumenta. Os sorotipos do HPV são classificados em alto e baixo risco. Os sorotipos de alto risco são os mais propensos a desenvolver NIC e carcinoma, sendo os sorotipos 16 e 18 responsáveis por 3 70% dos casos de NIC e carcinoma cervical. Os sorotipos de alto risco costumam ter lesões persistentes, além de terem propensão a integrar o genoma da célula hospedeira, evento ligado à progressão. Já as cepas de baixo risco como 6 e 11 estão associadas ao desenvolvimento de condilomas do trato genital inferior, sem se integrar ao genoma hospedeiro, ficando como DNA viral livre epissômico. Porém, apenas o HPV não é suficiente para a geração de neoplasia. A progressão tem sido atribuída ao estado imune e hormonal ou coinfecção com outros agentes de IST. A inativação adquirida somaticamente do gene supressor de tumor LKB I, uma cinase de serina-treonina que fosforila o sensor metabólico AMPK (regulador do crescimento celular do complexo mTOR*) também é um fator que contribui para o desenvolvimento das neoplasias cervicais. *mTOR (mammalian target of rapamycin) é uma proteína com papel central no crescimento, na proliferação e na manutenção das células, que participa da formação de dois complexos, mTORC1 e mTORC2 ● Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) É uma alteração pré-cancerosa epitelial. (Atlas de citopatologia clínica) As lesões pré-cancerosas do colo são caracterizadas histologicamente pelo aumento da taxa mitótica, atipia citológica (tamanho, forma, alterações nucleares) e organização anormal (aumento da celularidade,alterações na diferenciação celular e na polaridade celular). Essas alterações ocorrem no epitélio e, dependendo da sua gravidade, podem comprometer toda a sua espessura. Essas lesões são potencialmente reversíveis. O sistema Bethesda de terminologia estabelece como anormalidades epiteliais escamosas. Para a classificação das lesões pré-cancerosas nos esfregaços citológicos, os seguintes aspectos devem ser considerados: • Maturidade citoplasmática. • Intensidade das alterações nucleares. O grau de maturidade celular é avaliado pela relação nucleocitoplasmática. Quanto maior a relação nucleocitoplasmática (comparada com as células normais do mesmo tipo), mais avançada é a displasia. As anormalidades nucleares tanto nas displasias como no carcinoma in situ incluem: • Aumento do tamanho nuclear. • Alterações da forma e da borda nuclear. 4 • Modificações da estrutura cromatínica e hipercromasia. Apesar do encontro frequente de nucléolo e mitoses nos cortes histológicos das lesões pré-cancerosas, nos esfregaços habitualmente não se identificam nucléolos, e mitoses são raramente observadas e restritas às células do carcinoma in situ. A classificação das lesões pré-cancerosas nos esfregaços citológicos se dá pelo tipo mais anormal de células encontradas, mesmo que não predomine na amostra. Para alguns autores, a principal diferença entre displasia e carcinoma in situ é a presença ou a ausência respectivamente de qualquer sinal visível de diferenciação (maturação) escamosa nas células anormais. A incidência de NIC atinge seu ponto máximo por volta dos 30 anos, enquanto o carcinoma invasivo atinge o ponto máximo por volta dos 45 anos de idade. A NIC começa com displasia de baixo grau (I) e progride para displasia moderada (NIC II) e para displasia grave (NIC III). Algumas exceções relatam pacientes com NIC III em seu primeiro diagnóstico. Quanto maior o grau, maior a possibilidade de progressão. Até lesões de alto grau podem regredir e não se tornarem câncer. O manejo do paciente é feito em dois níveis, observação e tratamento cirúrgico, e, assim, esses três graus foram simplificados para lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LIEBG que era NIC I) e NIC II e NIC III foram combinados em lesão intraepitelial escamosa de alto grau (LIEAG). A decisão do tratamento será feita a partir das diferenças das histórias naturais desses grupos de lesões: (Rotinas em ginecologia, Freitas) LIEBG Corresponde às alterações nucleares leves e pequena perda da diferenciação. As alterações citopáticas causadas pelo HPV, sem a ocorrência da alteração nuclear (discariose), podem ser também incluídas na LIEBG. LIEAG As proteínas E6 e E7 dos vírus 6 e 11 (baixo risco) não mutam a célula. Diferentemente, E6 e E7 dos vírus de alto risco mutam a célula através do seguinte mecanismo: a E6 inativa e muta a p53, e a E7 inativa a proteína Rb e CDK2 (cyclin-dependent kinase). Elas rompem a dupla hélice do DNA celular e substituem micronucleotídeos do DNA celular pelos seus próprios, inscrevendo-se em seu genoma, mutando a célula e imortalizando-a, em vez de provocar a apoptose (senescência e morte programada). Assim como LIE BG, LIE AG é uma denominação citológica. O 5 correspondente colposcópico é “alteração maior” e engloba os casos da antiga displasia moderada e grave, de Reagan, e as correspondentes NIC I e NIC II, de Richart, além do carcinoma in situ (intraepitelial). A histologia segue usando NIC II, NIC III e carcinoma intraepitelial ou in situ. Do ponto de vista clínico, a classificação de Bethesda caiu no gosto dos ginecologistas. A maioria usa LIEBG e LIEAG ao referir-se a essas lesões, independentemente de se referir ao exame citológico, colposcópico ou histopatológico, ficou consagrado pelo uso. A LIE BG deve ser encarada como uma infecção pelo HPV, sem potencial oncogênico, em tese. Somente 10 a 15% dos casos progridem para LIE AG. (Robbins) NICs estão associadas a anormalidades de preparações citológicas (Papanicolau), que podem detectar lesões muito antes do exame macroscópico, sendo o teste de triagem de câncer mais bem sucedido já desenvolvido. A vacina de HPV quadrivalente para sorotipos 6, 11, 16 e 18 é eficaz na prevenção de infecções mas não substitui os exames de rotina. ● NIC I: alterações displásicas no terço inferior do epitélio escamoso e alterações coilocitóticas nas camadas superficiais do epitélio. ● NIC II: a displasia estende para o terço médio do epitélio e toma forma de maturação retardada dos queratinócitos. O tamanho nuclear da célula pode variar, acontece heterogeneidade da cromatina e presença de mitoses acima da camada basal. A camada superficial mostra diferenciação. ● NIC III: perda quase completa de maturação, variação da célula e no tamanho nuclear, heterogeneidade da cromatina, orientação desordenada das células, mitoses atípicas em todas as camadas do epitélio. Sem alteração coilocitótica. ● Carcinoma invasivo do colo do útero ● Células escamosas (75% dos carcinomas). ● Adenocarcinomas e carcinomas adenoescamosos mistos (20%) ● Carcinomas neuroendócrinos de pequenas células (menos de 5%) Todos são causados por HPV. O carcinoma de células escamosas tem pico de incidência aos 45 anos (+/-), 10 a 15 anos após a detecção do precursor NIC, cuja progressão é variável e imprevisível, além de requerer infecção por HPV e mutações em gene LKB. Entre os fatores de risco estão o tabagismo e a infecção por HIV. Entretanto, a única maneira confiável de monitorar a doença é pelo exame físico frequente e a biópsia de lesões suspeitas. Os carcinomas invasivos 6 se desenvolvem na ZT e variam de focos microscópicos de invasão estromal até tumores exofíticos macroscopicamente visíveis. Aqueles tumores que circundam o colo e penetram no estroma produzem colo do útero em barril que pode ser identificado por palpação direta. Se a invasão tumoral for profunda e houver células tumorais em espaços vasculares, pode acontecer a disseminação para linfonodos pélvicos. Com exceção dos tumores neuroendócrinos, os carcinomas cervicais são classificados com base no grau de diferenciação escamosa. OBS.: O câncer de colo do útero invasivo é observado em mulheres que não fazem o Papanicolau, e procuram o médico com queixas sobre sangramento vaginal, leucorreia , dispareunia e disúria. Faz-se a histerectomia e dissecação dos linfonodos linfáticos, sendo que pequenos carcinomas microinvasivos são tratados com biópsia em cone. A mortalidade se relaciona com o grau do tumor e com carcinomas neuroendócrinos. (Rotinas em Ginecologia, Freitas) A proteína E6 inibe a função da p53, permitindo o contrário,ou seja, a replicação do DNA danificado. Essa proteína está aumentada nos casos de LIEAG e indica progressão para invasão. Quando detectado seu aumento, no câncer invasor, indica mau prognóstico para o paciente. O VEGF aumentado também indica prenúncio de invasão, já que o estroma se prepara para acolher células novas modificadas. O aumento da COX-2 que coordena os fenômenos da inflamação e é precursora das prostaglandinas também é um marcador de invasão, embora em menor frequência e grau. ● Diagnóstico/prevenção (ESPECIFICIDADE, SENSIBILIDADE E VALOR PREDITIVO) (Rotinas em ginecologia, Freitas) Inspeção visual Consiste na inspeção do colo à vista desarmada. Há duas modalidades: ● VIA (visual inspection acetic), que consiste na aplicação de ácido acético a 2 a 5% no colo. ● VILI (visual inspection lugol iodine), que consiste na visualização do colo após embrocação com lugol. O ideal é a conjugação dos dois métodos. El-Shalakany e colaboradores (2008) encontraram sensibilidade de 90,9%, com o uso do lugol, contra 22,7% da citologia. Outros pesquisadores não encontraram resultados tão bons. 7 p16INK4a Trata-se de um cyclin-dependent kinase inhibitor. Sua detecção, juntamente com L1 do capsídeo viral, permitiu as seguintes conclusões: ● p16 e L1: encontrados em 100% dos casos de LIEAG; ● p16 e L1: 57% das LIE BG regrediram (Negri,2008). Na verdade, não importa muito a regressão da LIEBG, já que não costuma ser uma lesão oncogênica. A detecção de p16 apresentou um índice Kappa (índice de concordância que avalia um conjunto de dados, e pode avaliar a eficiência do exame) de 0,95, comparado a 0,47 da tipagem viral para HPV (Eleutério et al., 2007). Exame de Sangue Linfócitos são expostos a antígeno HPV-E7 e PMA nitrogen: ● Controle: 10% de positividade. ● Infecção: 73% de positividade. ● LIE: 50% de positividade. ● Carcinoma: 91% de positividade (Chao et al., 2003). Testes para detecção do ácido nucleico viral São mais sensíveis para detecção do sorotipo de HPV. Têm várias técnicas: ● Dot: tanto para detecção do DNA quanto para RNAm viral. ● Southern blotting: técnica de hibridização em fase sólida. Consome mais tempo por ser muito sensível e específica, e diferencia o DNA integrado do epissomal, tornando possível detectar deleção do DNA, infecção dupla e identificação dos tipos de HPV. ● Hibridização in situ sobre filtro: captura de células em suspensão por um filtro, desnaturação e detecção do ácido nucleico. A sensibilidade é aumentada por sondas radioativas. ● Hibridização in situ clássica: detecção de vírus em tecidos congelados ou parafinados e esfregaços fixados na lâmina. Não é altamente sensível mas permite determinar o tipo de HPV e a localização do genoma viral em uma camada da epiderme ou do tumor. ● PCR: a mais sensível. Permite detecção de cópias do ácido nucleico genômico e a tipagem do HPV. 8 Histopatologia Permite o diagnóstico de infecções por HPV mas sem identificar o tipo viral. Confirma o diagnóstico e determina o grau de gravidade das lesões. Permite categorizar o NIC. Microscopia eletrônica Revela presença de partículas virais intranucleares, mas é pouco usada no diagnóstico do HPV. Imunocitoquímica Procura de antígenos em esfregaços celulares empregando anticorpos de proteínas comuns aos HPV, conjugados com substância marcadora (peroxidase ou fluorescente). Tem sensibilidade limitada de acordo com o tipo de lesão. ● Resultados citológicos - colpocitologia O Papanicolau é um exame ginecológico de citologia vertical, feito em mulheres a partir dos 25 anos que têm vida sexual ativa. Recebeu esse nome por conta de seu criador e médico romeno Geórgios Papanicolau, pioneiro nos estudos sobre a citologia. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), esse exame é essencial para a prevenção do câncer de colo de útero, que é um dos tumores que acontece com maior frequência em mulheres e é o quarto causador de morte em mulheres no país. A colpocitologia oncológica, conhecida popularmente como Papanicolau, é um exame ginecológico de citologia vertical simples, rápido e geralmente indolor. O Papanicolau deve ser realizado entre o décimo e o vigésimo dia depois do primeiro dia de menstruação. O exame é realizado com a paciente em posição ginecológica, com as duas pernas separadas e apoiadas em suportes. O médico ginecologista examina a parte exterior da vagina da paciente e observa se há algum corrimento ou anormalidade, logo após, introduz um espéculo vaginal (também conhecido como bico de pato) na vagina, para que seja possível a visualização do colo do útero. Com o uso de uma espátula especial e de uma escova endocervical, é possível colher amostras do tecido uterino para analisar possíveis lesões presentes. O material coletado é colocado em uma lâmina, tratado com um fixador e levado para análise em laboratório. Além de diagnosticar lesões do colo de útero que podem se tornar câncer, o exame também pode detectar outras doenças, como: ● Clamídia; 9 ● Sífilis; ● Gonorreia; ● HPV; ● Candidíase; ● Tricomoníase; ● Detectar presença de nódulos ou cistos Os resultados detectam presença de bactérias, fungos ou anormalidades encontradas na amostra coletada. São três resultados possíveis: ● Negativo para câncer; ● Lesão de baixo grau; ● Lesão de alto grau. O exame é um método que previne o câncer de colo de útero, caso o resultado do teste dê alterações, novos exames para uma investigação mais detalhada podem ser solicitados. O exame citopatológico identifica tanto alterações celulares benignas, como aquelas de maior gravidade. No diagnóstico citológico de esfregaço cervicovaginal de mulheres infectadas com HPV são observadas alterações como presença de coilócitos (Figura 20.9), disceratose e anomalias nucleares. Os coilócitos, descritos pela primeira vez por Papanicolaou (médico grego considerado o pai da citopatologia por ter criado o método que leva o seu nome), são células encontradas na camada superficial ou intermediária do epitélio, aumentadas ou não de volume, contendo um halo perinuclear claro e de tamanho variável, com 1 ou mais núcleos hipercromáticos. Papanicolaou criou uma nomenclatura que procurava expressar se as células observadas eram normais ou não, atribuindo-lhes uma classificação, em que a classe I indicava ausência de células atípicas ou anormais; II, citologia atípica, mas sem evidência de malignidade; III, citologia sugestiva, mas não conclusiva, de malignidade; IV, citologia fortemente sugestiva de malignidade; e V, citologia conclusiva de malignidade. No sistema de Bethesda as anormalidades citológicas são classificadas como lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL), correspondendo às anormalidades citológicas brandas, e lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL), incluindo as anormalidades mais graves. 10 ● Colposcopia e biópsia Colposcopia: Realizada quando o teste de Papanicolau é anormal. Usa-se um colposcópico para visualização interna da vagina, a fim de delinear a extensão da lesão e determinas áreas que serão excisadas para biópsia. Utiliza-se ácido acético no colo uterino para destacar áreas anormais e um filtro de luz verde para analisar vascularização. É rápido e indolor, mas causa um leve desconforto. (American Cancer Society) Existem vários tipos de biópsias que podem ser utilizadas para diagnosticar lesões pré-cancerígenas ou cânceres de colo do útero: ● Biópsia com colposcópio. Nesse tipo de biópsia, em primeiro lugar o colo do útero é examinado com um colposcópio para detectar as áreas anormais. Em seguida com auxílio de uma pinça de biópsia é removida uma pequena porção da área anormal sobre a superfície do colo do útero. Esse procedimento pode causar cólicas leves, dor e algum sangramento. O procedimento é realizado com anestésico local. ● Curetagem endocervical (Raspagem endocervical). Às vezes a zona de transição (área em risco de infecção pelo HPV e pré-câncer) não pode ser visualizada com o colposcópio. Nesse caso, é realizada a curetagem endocervical através da inserção de uma cureta no canal do colo do útero. O tecido removido na curetagem é enviado para análise. Após esse procedimento, as pacientes podem sentir cólicas e ter algum sangramento. ● Biópsia em cone. Nesse procedimento, também conhecido como conização, o médico remove uma amostra de tecido do colo do útero em forma de cone. A biópsia em cone pode também ser utilizada como tratamento para remover completamente muitas lesões pré-cancerígenas e alguns cânceres incipientes. Existem dois métodos comumente utilizados para as biópsias em cone: ● Cirurgia de alta frequência. A cirurgia de alta frequência (CAF) ou LEEP (Loop electrosurgical excision procedure) ou, ainda, alça diatérmica; tem sido empregada como um método diagnóstico e muitas vezes terapêutico. A alça diatérmica é um instrumento ablativo constituído por um conjunto de eletrodo ativo acoplado a um filamento de tungstênio. O procedimento é realizado com anestesia local e pode ser feito em consultório. Após o procedimento a paciente pode ter cólicas leves e sangramento 11 moderado que pode persistir por várias semanas. ● Biópsia em cone a frio. Este método utiliza um bisturi cirúrgico ou um laser em vez de um fio aquecido para remover o tecido. O procedimento é realizado com anestesia e é feito em hospital. Apóso procedimento, a paciente pode apresentar cólica e sangramento por algumas semanas. A realização de qualquer tipo de biópsia em cone não impedirá a maioria das mulheres de engravidar, mas em casos nos quais uma grande quantidade de tecido é removida, essas mulheres podem ter um risco aumentado de parto prematuro. ● Fatores de risco PERFIL DE MULHERES PORTADORAS DE LESÕES CERVICAIS POR HPV QUANTO AOS FATORES DE RISCO PARA CÂNCER DE COLO UTERINO, Bezerra e Gonçalves Hoje são conhecidos os seguintes fatores de risco para leões cervicais: DST; condições infecciosas e reativas; hábitos sexuais, como início precoce e multiplicidade de parceiros; tabagismo ativo e passivo; uso prolongado de anticoncepcionais orais. Carências nutricionais, receio da cliente em realizar o exame devido ao medo, vergonha, ansiedade, ignorância e dificuldade de acesso aos serviços de saúde para realização de exame preventivo podem ser considerados como fatores que dificultam o diagnóstico precoce. A maior incidência do câncer de colo de útero acomete mulheres com idades entre 40 e 60 anos, sendo menos freqüente antes dos 30 anos, isso se deve ao longo período da evolução da infecção inicial pelo HPV no início das atividades sexuais, na adolescência ou até por volta dos 20 anos, até o aparecimento do câncer. Porém, esse quadro vem se modificando aos poucos e o aparecimento de lesões precursoras está ocorrendo cada vez mais precocemente, devido à iniciação cada vez mais antecipada das atividades sexuais associada aos demais fatores de risco. Entre os fatores de risco da NIC estão: ● Idade precoce da iniciação sexual ● Múltiplos parceiros sexuais ● Parceiro masculino com múltiplos parceiros sexuais ● Infecção persistente por cepas de alto risco do HPV 12 ● Tratamento (comentar) Tratado de ginecologia Berek e Novak Crioterapia Destrói o epitélio superficial do colo do útero por cristalização da água intracelular. A temperatura fica na faixa de 20 a 30 graus negativos, e entre os gases mais utilizados estão o óxido nitroso e o dióxido de carbono. NIC III tem pouco sucesso nessa tática, e o sucesso dela depende do tamanho e do grau de lesão, já que ela só atinge camadas superficiais do epitélio. Ablação com laser Cada vez menos usada pois o equipamento é caro e necessita um treinamento especial. Excisão eletrocirúrgica por alça Ou LEEP, útil para diagnóstico e tratamento. É feita uma separação de tecido por um eletrocautério e por lesão térmica. Não é indicada antes de identificar uma LIE. Conização Indicada para mulheres com LIEAG ou adenocarcinoma in situ, retirando lesões menores. Histerectomia Último recurso no tratamento de NIC de alto grau recorrente. Apresenta maiores complicações por ser um tratamento radical. É usada em casos de microinvasão, NIC III nos limites endocervicais, baixa adesão ao acompanhamento, associação com outros problemas ginecológicos, NIC de alto grau recorrente. 3. EXPLANAR A IMPORTÂNCIA DA CAMPANHA NACIONAL DE COLO UTERINO. ● Conceito e importância Os acontecimentos mais importantes da sua história foram em: 13 ● Setembro de 1995: Ministério da Saúde reconheceu a necessidade de um programa de âmbito nacional, visando o controle do câncer do colo do útero e elaborou um estudo piloto, com ajuda de profissionais nacionais e internacionais e incentivos da Conferência Mundial de Mulheres realizada na China em 1995, chamado de Viva Mulher. ● Janeiro de 1997 e junho de 1998: houve a implantação do projeto Viva mulher em 5 cidades e no estado de Sergipe e atendeu 124.440 mulheres, priorizando mulheres entre 35 e 49 anos que nunca haviam feito o exame preventivo ou que estavam sem fazê-lo há mais de três anos. ● 21 de junho de 1998: Ministério da Saúde instituiu o Programa Nacional de Combate ao Câncer de Colo do Útero através da Portaria GM/MS no 3040/98. A primeira fase de intensificação ocorreu de agosto a setembro de 1998, com a adoção de estratégias para estruturação da rede assistencial, estabelecimento de um sistema de informações para o monitoramento das ações (SISCOLO) e dos mecanismos para mobilização e captação de mulheres, assim como definição das competências nos três níveis de governo. Nesta fase, mais de três milhões de mulheres foram mobilizadas para fazer o exame citopatológico. ● 2011: Ministério da Saúde torna o controle do câncer do colo de útero como uma prioridade da agenda de saúde do país e integra-o ao Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil. ● 2013: a Portaria no 874/2013 institui a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). ● 2014: Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), iniciou a campanha de vacinação de meninas entre 11 e 13 anos contra o vírus HPV. A vacina é a quadrivalente, que oferece proteção contra os subtipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. IMPORTÂNCIA: ● Fornecimento de dados epidemiológicos: por meio de estudos e do censo, essa campanha fornece dados epidemiológicos, o que auxilia na criação de um plano de ação para a promoção da saúde e prevenção da doença. Um dado epidemiológico importante é que o câncer do colo do útero é o terceiro mais incidente na população feminina brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma. ● Incentivo da vacinação: com o auxílio do PNI, fornece a vacina gratuitamente para meninas de 11 a 13 anos. A vacinação no Brasil é tetravalente (subtipos 6, 11, 16, 18, responsáveis por mais de 70% de todos os cânceres cervicais). Estudos indicam que a vacina previne 100% das HSIL associadas aos HPV 16/18, os mais comuns carcinogênicos. 14 ● Aumento da disponibilidade de exames preventivos: em parceria com o SUS, possibilita o acesso à população mais carente aos exames preventivos, o que favorece a diminuição da letalidade desse câncer. ● Conscientização e promoção de ações educativas: prioriza a transmissão do conhecimento sobre a doença para as mulheres se tornarem mais alertas sobre os sintomas e assim, buscar assistência médica o mais rápido possível. ● Incentivo do uso de preservativos: a prática de sexo seguro é uma das formas de evitar o contágio pelo HPV. Caderno de Atenção Básica - CONTROLE DOS CÂNCERES DO COLO DO ÚTERO E DA MAMA - MS, 2013 Políticas de saúde de relevância para o controle do câncer do colo do útero e da mama: ● Promover a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais ● Visa ampliar a autonomia e a corresponsabilidade de sujeitos e coletividades, inclusive o poder público, no cuidado integral à saúde, e minimizar e/ou extinguir as desigualdades de toda e qualquer ordem (étnica, racial, social, regional, de gênero, de orientação/opção sexual, entre outras) ● Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) - promover o desenvolvimento e a implantação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco; e fortalecer os serviços de saúde voltados para a atenção aos portadores de doenças crônicas Metas: ● Aumentar a cobertura de mamografia em mulheres entre 50 e 69 anos. ● Ampliar a cobertura de exame citopatológico em mulheres de 25 a 64 anos. ● Tratar 100% das mulheres com diagnóstico de lesões precursoras de câncer. Principais ações para o enfrentamento dos cânceres do colo do útero e da mama: ● Aperfeiçoamento do rastreamento dos cânceres do colo do útero e da mama (INCA, 2011a). ● Universalização desses exames a todas as mulheres, independentemente de renda, raça-cor, reduzindo desigualdades, e garantia de 100% de acesso ao tratamento de lesões precursoras de câncer. 15
Compartilhar