Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Vict�ria K. L. Card�so Anemia falcif�rme Introdução Trata-se de uma mutação no gene beta-globina (Hb B), de caráter genético e que causa anemias hemolíticas crônicas, por alteração nos eritrócitos, deixando as hemácias com formato de foice. Maior incidência: afrodescendentes. ● Mas pode ocorrer em brancos e pardos também. Genética: o padrão genético mais característico na anemia falciforme é o de homozigose recessiva (hemoglobina SS) para o gene βS. ● Essa é a alteração mais grave, pois há praticamente ausência da hemoglobina normal (Hb A) e aumento da hemoglobina fetal (Hb F). ● Padrão heterozigótico para a hemoglobina S: traço talassêmico → não causa muitas alterações morfológicas nas hemácias. ○ Esses pacientes possuem algumas complicações renais (hematúria, redução da capacidade de concentrar a urina e alta incidência de infecções urinárias em gestantes). ■ Outras complicações: falcização em procedimentos cirúrgicos, glaucoma agudo após sangramento intraocular, infarto esplênico, trombose venosa profunda e carcinoma medular renal. Principais agentes infecciosos: ● Streptococcus pneumoniae → pneumococo. ● Haemophilus influenzae. ● Escherichia coli. Fisiopatologia Vict�ria K. L. Card�so 1. Transcrição de adenina para timina no códon 6 (A6T). 2. Substituição de um resíduo de ácido glutâmico por um de valina, o que dá a propriedade de polimerização quando desoxigenada. 3. Essa polimerização causa uma lesão no eritrócito e gera um grupo heterogêneo de células falciformes, com citoesqueleto membrânico danificado. 4. Assim, na vasculatura, as células falciformes interagem com o endotélio e com outras células sanguíneas, causando vaso-oclusão. 5. Alguns eritrócitos danificados hemolisam e liberam o grupo heme no plasma, que reduz as concentrações de NO. ● A diminuição da disponibilidade do NO endotelial impede as funções homeostáticas vasculares da molécula, como a inibição da agregação plaquetária e a diminuição das moléculas de adesão. Complicações a longo prazo: ● Nefropatia. ● Retinopatia. ● Hipertensão pulmonar. ● Complicações neurológicas. Clínica As manifestações clínicas são variáveis, derivadas, em sua maioria, da oclusão vascular e, em menor grau, da anemia; podendo afetar todos os órgãos. Apenas quando há diminuição importante dos níveis de Hb F que ocorre a sintomatologia e geralmente isso ocorre após os 6 meses de vida. ● Manifestação comum nessa idade: síndrome mão-pé → dactilite falcêmica. Fatores que precipitam crises: ● Hipóxia. ● Infecção. ● Frio extremo. ● Desidratação. Vict�ria K. L. Card�so ● Acidose sanguínea. ● Febre. Possíveis intercorrências clínicas: ● Episódios dolorosos. ● Síndrome torácica aguda. ● AVC. ● Osteonecrose. ● Priapismo. ● Retinopatia proliferativa. ● Infarto e sequestro esplênico. ● Úlceras de MMII. ● Cálculos. ● Crise aplástica. ● Osteopenia. ● Deficiências nutricionais. ● Doença pneumocócica e sepse. ● Insuficiência placentária. Diagnóstico O diagnóstico das síndromes falciformes depende da comprovação da existência da hemoglobina S pela eletroforese de hemoglobina. Técnicas mais utilizadas: ● Eletroforese de hemoglobina: ● Teste de solubilidade da hemoglobina em tampão fosfato concentrado. Características: ● Anemia normocítica ou microcítica e normocrômica. ● Possui elevação de reticulócitos (> 10% - reticulocitose) e pode haver eritroblastos. ● Principal caracterização: drepanocitose → hemácias em foice. Alterações laboratoriais: ● Aumento de lactato desidrogenase. Vict�ria K. L. Card�so ● Aumento de aspartato aminotransferase. Diagnóstico precoce: ● Teste em sangue do cordão umbilical ou em amostras para outros testes neonatais, como a fenilcetonúria. ● Teste do pezinho. ○ Nesse caso o tratamento começa imediatamente. Obs: caso a doença falciforme não seja investigada logo após o nascimento, a eletroforese de hemoglobina pode confirmar ou excluir o diagnóstico. Eritrograma: ● Hemoglobina: reduzida (<10) → principalmente. ○ Fase estável: entre 6 e 10. ○ Casos graves: < 4. ● Hematócrito: reduzido (< 0,5). ● VCM: normal (entre 80-100). ● HCM: normal (entre 27-33). ● CHCM: normal (entre 32-35). ● RDW: normal ou elevado - anisiocitose (> 14%). ● Reticulócitos: elevado - reticulocitose (> 10%). Leucograma: ● Leucócitos: leucocitose (> 11.000). Plaquetograma: ● Plaquetas: plaquetose (> 400.000). Achados microscópicos: ● Drepanócitos: presentes. ● Corpúsculos de Howell-Jolly: presentes → são fragmentos nucleares liberados na degradação do núcleo das células vermelhas no sangue. ● Eritroblastos: presentes. Outras alterações: ocorrem por intensa hemólise. ● Bilirrubina indireta: elevada. ● Urobilinogênio urinário: elevada. Vict�ria K. L. Card�so ● Ferrtina: elevada (> 12). Tratamento O tratamento é ambulatorial e sempre realizam-se exames frequentes para evitar complicações. Objetivo principal: tratamento das complicações específicas e em cuidados gerais da saúde. Tratamento geral: ● Quelação de ferro. ● Vacina pneumocócica. ● Reativação da síntese de hemoglobina fetal com hidroxiureia. ● Reposição de ácido fólico. ● Boa hidratação constante e boa nutrição. ● Reoxigenação de hemácias. Avaliações frequentes por contagens do sangue: ● índices de RBC. ● Nível de HbF. ● Bioquímica sérica. Quando necessário: ● Transfusões sanguíneas → indicações: ○ Úlceras de MMII. ○ Crises fortes anteriores. ○ Síndrome torácica aguda grave. ○ Crise aplástica. ○ Anemia sintomática. ○ Gravidez. ○ Episódio doloroso sem resposta a tratamento. ○ AVC. ○ Anterior à injeção de meio de contraste hipertônico. Obs: o tipo de concentrado de hemácias deve ser fenotipado desleucocitado (filtrado e lavado), pois não se deve fazer uma transfusão com hemoglobinas anormais. Conduta nas crises de dor frequente: ● Repouso. ● Hidratação. ● Analgesia (se necessário associar com antiinflamatório). ● Suplementação de oxigênio. Vict�ria K. L. Card�so Obs: na suspeita de infecção bacteriana, deve-se fazer uma antibioticoterapia empírica, para tentar controlar uma possível crise álgica (vaso-oclusiva). Tratamento a longo prazo: 1. Suplementação com ácido fólico: 5mg ao dia. ● O ácido fólico causa hiperplasia eritropoiética, elevando a produção de células sanguíneas. 2. Uso de medicamentos que promovem o aumento da hemoglobina fetal (como a hidroxiuréia), em pacientes selecionados. ● Hidroxiuréia: fármaco que aumenta a síntese de hemoglobina fetal (HbF). É indicado para pacientes com genótipo SS e S-beta (talassemia). 3. Profilaxia de infecções. 4. Tratamento das crises dolorosas vaso-oclusivas. 5. Tratamento de outras crises agudas. 6. Tratamento de infecções. No caso de dor abdominal intensa: ● Realizar um raio-X de tórax para diagnosticar precocemente a síndrome torácica aguda. ● Hidratação venosa. ● Transfusão com concentrado de hemácias. ● Administração de antiinflamatórios e analgésicos. No caso de crise vaso-oclusiva: administração de opióides intravenosos, além de repouso, hidratação, transfusão sanguínea...
Compartilhar