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Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • A cirrose representa a via final de uma lesão hepática crônica e persistente em indivíduo geneticamente predisposto e que, independentemente da etiologia, acarretará fibrose e formação nodular difusas, com consequente desorganização da arquitetura lobular e vascular do órgão. • Epidemiologia: o Prevalência: 4,5 a 9,5% da população mundial – 100 milhões de acometidos no mundo todo; o Existem acentuadas variações geográficas na incidência e prevalência, dependendo largamente da predominância dos fatores causais; o 2001: 14o principal causa de morte no mundo (2020: 12o causa); o Fator genético: 30% dos casos de etilista crônico ou infectados cronicamente pelo VHC, evoluem para CH. • Principais agentes etiológicos: Metabólicos: decorrentes de erros congênitos ou adquiridos do metabolismo e que acometem crianças ou adultos jovens, como na galactosemia, na tirosinemia, na doença de Wilson, ou pacientes de idade mais avançada, como na hemocromatose, deficiência de alfa 1- antitripsina e esteato-hepatite não alcoólica, entre outras. Virais: ocasionadas pelos vírus B (associado ou não ao vírus D) ou C da hepatite. Alcoólico: principal agente etiológico entre pacientes adultos. Ocorre após período médio de 5 a 10 anos de ingestão de quantidade diária superior a 80 g de etanol para os homens e 60 g para as mulheres. Induzida por fármacos: metotrexato, isoniazida, oxifenisatina e alfametildopa, entres outros. Autoimune: consequente à evolução da hepatite ou da colangiopatia autoimune, caracteristicamente afetando mulheres em idade jovem ou na pós-menopausa, com fenômenos autoimunes concomitantes. Atualmente, existem, pelo menos, três tipos de hepatite autoimune (HAI) bem caracterizados que podem ocasionar cirrose. Biliares: Cirrose biliar primária e cirrose biliar secundária, que é o processo final de doenças crônicas que acometem a árvore biliar com colangites de repetição, como na colangite esclerosante e na obstrução das vias biliares. Obstrução do fluxo venoso hepático: causa anóxia congestiva do fígado, como ocorre na síndrome de Budd- Chiari, na doença veno-oclusiva e na pericardite constritiva. Criptogênica: corresponde a 5 a 10% dos casos, que permanecem com a etiologia indeterminada. • Principais achados morfológicos da CH: fibrose difusa, nódulos regenerativos, arquitetura lobular alterada e estabelecimento de derivações vasculares intra- hepáticas. • Há também capilarização dos sinusoides e fibrose perissinusoidal, trombose vascular e lesões obliterativas no trato portal e veias hepáticas. • As alterações acima são responsáveis pelo desenvolvimento de hipertensão portal e suas complicações. • Fibrose: representa o acúmulo relativo e absoluto dos componentes da matriz extracelular, em detrimento do componente celular. Esse acúmulo de tecido conjuntivo no fígado decorre de uma maior síntese e/ou menor degradação desses componentes. • Os mecanismos que determinam a reparação do tecido ou sua progressão para a fibrose são mediados pelas citocinas decorrentes da necrose e da inflamação local, liberadas pelos linfócitos e monócitos/macrófagos, que podem efetivamente estimular ou inibir a proliferação, a síntese proteica e a movimentação das células responsáveis pela síntese do tecido fibroso (fibrogênese) e de sua degradação (fibrólise). • TGF-beta 1 (fator transformador do crescimento), TNF (fator de necrose tumoral), interleucinas, fibronectina, fator de crescimento plaquetário, destes o TGF-beta 1 parece o principal mediador da fibrogênese. • Miofibroblastos: células efetoras do processo, que regulam tanto a fibrogênese como a fibrólise. São originados primariamente pela ativação das células estreladas dos sinusoides ou dos fibroblastos portais, das células derivadas da medula óssea e também da transição epitelial mesenquimal. CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOGENIA FIBROSE HEPÁTICA E FIBROGÊNESE Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • Células estreladas: Além da síntese de proteínas da matriz extracelular, estão associadas à degradação da matriz. • No caso de uma lesão hepática crônica, a progressão para a fibrose hepática ou para a reparação do tecido dependerá do tipo de estímulo desencadeado pela lesão e da genética do indivíduo. • Manifestações clínicas: icterícia, hemorragia digestiva e encefalopatia. • Em alguns casos, o diagnóstico é obtido em consequência do acompanhamento da doença de base (hepatite crônica viral, doença metabólica, alcoolismo etc.), porém, em 45% dos casos, o diagnóstico é realizado através de exame físico ou complementar solicitado em decorrência de sintoma não relacionado à hepatopatia. É o caso da elevação das aminotransferases séricas ou plaquetopenia, em exames rotineiros, do encontro de varizes esofágicas em endoscopia realizada para investigação dispéptica ou, ainda, do achado de sinais de hepatopatia em exame ultrassonográfico ou tomográfico, solicitados para investigação de outras lesões abdominais ou na propedêutica de dor abdominal. • Classificação dos pacientes de acordo com as formas clínicas de apresentação: o Compensados; o Descompensados: presença de ascite, encefalopatia e/ou icterícia. • Classificação de Child-Turcotte (Pugh): • Classificação MELD: envolve os parâmetros bilirrubinas, creatinina e RNI do tempo de protrombina: (MELD = 0,957 + log (creatinina mg/ dL) + 0,378 × log (bilirrubinas mg/dL) + 1,120 × 10 g (RNI) + 0,643. O MELD isolado ou associado à concentração sérica de sódio plasmático é considerado o melhor preditor de sobrevida nesses pacientes e tem sido adotado mundialmente como critério de alocação de órgãos para transplante hepático. • As complicações da doença hepática, especialmente o aparecimento de varizes esofágicas, ascite e hemorragia digestiva pelas varizes, apresentam importante impacto na sobrevida desses pacientes. • O diagnóstico é anatomopatológico por biópsia hepática. Porém, em decorrência das alterações da coagulação que esses pacientes apresentam e pelas alterações vasculares hepáticas e peri-hepáticas, há elevado risco de complicações desse procedimento. • Alterações encontradas ao exame físico: hepatoesplenomegalia, fígado nodular, sinais periféricos de insuficiência hepática. • Alterações encontradas no exame de imagem: alteração da ecogenicidade e retração do parênquima com superfície nodular e os sinais de hipertensão portal. • Alterações no exame endoscópico: varizes esofágicas, varizes gástricas e/ou gastropatia hipertensiva. • Tais alterações tornam a biópsia desnecessária e eticamente questionável. Nesses casos, apenas uma dúvida etiológica poderia justificar o emprego de uma biópsia por via laparoscópica ou transjugular. • Além disso, em função dos riscos da biópsia, vários marcadores não invasivos têm sido empregados no estudo dos pacientes hepatopatas, e é exatamente nos cirróticos que eles têm encontrado sua melhor aplicação. • Biomarcadores diretos: aqueles envolvidos com a síntese e a degradação da matriz extracelular, como ácido hialurônico, pré-colágeno tipo III, metaloproteases etc. Entre os marcadores diretos, os mais utilizados no estudo da fibrose hepática são: o Colágenos: propeptídeo N-terminal do procolágeno tipo III (PIIINP) e o colágeno tipo IV; o Glicoproteínas: laminina e fibronectina; o Glicosaminoglicano; ácido hialurônico (AH); o Proteínas envolvidas na degradação da matriz (TIMPs e metaloproteinases). Obs.: Esses marcadores não são utilizados na prática médica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICO MARCADORES NÃO INVASIVOS DE FIBROSE HEPÁTICA Maria Beatriz Valença Gastroenterologia• Biomarcadores indiretos: compostos por parâmetros não diretamente relacionados à matriz, mas que refletem as alterações bioquímicas da fibrose, como os níveis de AST, ALT, bilirrubinas, proteínas e contagem de plaquetas. o Relação AST/ALT: mostra-se útil na identificação não invasiva de cirrose hepática, particularmente quando essa relação apresenta valores > 1 a 1,5. Entretanto, além de poder ser influenciada pela ingestão de álcool, essa determinação, apesar da alta especificidade, apresenta baixa sensibilidade. o Índice de APRI: APRI = AST (limite superior da normalidade) × 100/contagem de plaquetas). Esse teste tem a vantagem de incluir somente dois testes laboratoriais, ser de fácil acesso e poder ser facilmente incorporado à prática médica “à beira do leito”. APRI > 1,5 a 2. o FIB4: outro escore que combina os marcadores séricos AST, ALT e plaquetas em fórmula específica. o Fibrotest: biomarcador não invasivo que combina parâmetros séricos: haptoglobina, bilirrubinas, GGT, alfa-2 macroglobulina, Apolipoproteína A1. Tem sido amplamente utilizado e validado, inicialmente, para hepatite e, mais recentemente, para outras doenças hepáticas. O cálculo desses parâmetros, no entanto, pode ser obtido apenas com licença do grupo francês que detém sua patente, dificultando seu emprego rotineiro. Segundo seus idealizadores, ele apresenta elevada sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de cirrose. o Os testes respiratórios utilizando carbono marcado (13C ou 14C) são medidas quantitativas que permitem uma avaliação dinâmica da massa hepática funcional, por meio da mensuração da capacidade de metabolização e de eliminação de determinada substância exógena, quase exclusivamente metabolizada pelo fígado. o Elastograma usando o FibroScan: novo método não invasivo mecânico para avaliação de fibrose hepática pela medida da elasticidade do tecido. Quanto menor a elasticidade, ou seja, quanto mais firme o tecido, maior a velocidade de propagação da onda, expressa em kilopascal (kPa) ou metros/segundo. Portanto, essa velocidade de propagação da onda produzida está diretamente relacionada à elasticidade hepática. • Na atualidade, observa-se uma tendência na utilização combinada e escalonada dos marcadores não invasivos na avaliação da fibrose hepática, e não isoladamente. A combinação de método mecânico como a elastografia hepática com biomarcador, como Fibrotest ou APRI ou Fibrometer (ou ainda de dois biomarcadores como Fibrotest e APRI), mostraram-se as melhores opções para avaliar os pacientes. • APRI: em pacientes obesos, com espaço intercostal estreito e na presença da ascite. • Novos métodos de imagem acoplados à ressonância magnética (RM) estão em desenvolvimento no estudo da fibrose hepática, como a elastografia por RM e a RM por difusão. A elastografia por RM teria a vantagem de avaliar a elasticidade de todo o parênquima hepático, e não de apenas uma área do fígado, como com os outros métodos de elastografia. • Sempre que possível, deve ter como objetivo a erradicação do agente causal da cirrose. • Os casos nos quais a cirrose é mais histológica que clínica representam o grande contingente dos pacientes em que a fibrose regride; em contrapartida, quando a cirrose já apresenta grande retração do órgão e hipertensão portal bem estabelecida, a possibilidade de regressão é bem menor, se existir. • Ainda não se dispõe de nenhum droga antifibrogênica. • A destacada participação do fígado no metabolismo de hidratos de carbono, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais pode afetar significativamente o estado nutricional e o equilíbrio orgânico quando da vigência de anormalidades na função hepática. • Alterações no metabolismo energético e proteico em pacientes cirróticos, independentemente da etiologia, podem contribuir para a piora do estado nutricional. Intolerância à glicose, aumento da oxidação de lipídios e aminoácidos, resultam em perdas energéticas e, consequentemente, depleção nos depósitos de gordura e de proteínas. • Tanto o álcool quanto o vírus podem ocasionar hipermetabolismo, sendo que pacientes hipermetabólicos se apresentam mais frequentemente desnutridos quando comparados aos normometabólicos em terapias convencionais ou transplante hepático. • A patogênese da desnutrição em portadores de doença hepática crônica (DHC) é multifatorial, incluindo: TRATAMENTO GERAL DA CIRROSE NUTRIÇÃO NA DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA Maria Beatriz Valença Gastroenterologia o Ingestão dietética inadequada, em virtude de anorexia e restrição alimentar; o Alteração na biossíntese de nutrientes; o Absorção intestinal comprometida; o Utilização inadequada de substratos; o Anormalidades no metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios; o Aumento no nível de citocinas pró-inflamatórias, resultando em estado hipercatabólico. • Há alteração dos indicadores antropométricos, bioquímicos e clínicos, evidenciando importante comprometimento nutricional. • A desnutrição está presente em 20% dos pacientes com doença hepática compensada e acima de 80% naqueles com cirrose descompensada. • A terapêutica nutricional é imprescindível para esses pacientes, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e redução da taxa de complicações e mortalidade. • A DPC (desnutrição proteico-calórica) associa-se geralmente à deficiência de vitaminas e minerais, sendo uma complicação comum da cirrose hepática, com impacto na morbidade e mortalidade dos pacientes. • A acurácia do status nutricional torna-se muito difícil na DHC, em razão da retenção hídrica presente e dos efeitos da função hepática comprometida sobre a síntese de proteínas plasmáticas. A porcentagem de peso corporal ideal e o IMC não são medidas precisas em razão dessa retenção, edema e ascite. Deve-se mensurar a gordura subcutânea por meio das dobras cutâneas (triciptal, biciptal e subescapular) e da massa magra, por serem os indicadores que menos sofrem interferência da retenção hídrica. • As recomendações de energia e proteína dos pacientes com doença hepática variam em função do estado nutricional e do tipo de doença. • Consenso elaborado pela Sociedade Internacional de Encefalopatia Hepática e Metabolismo de Nitrogênio (2013): o A necessidade energética deve ser de 30 a 40 kcal/kg de peso ideal; o Proteínas de 1,2 a 1,5 g/kg de peso ideal, com lato teor de proteínas vegetais e lácteas (são mais bem toleradas) associada a suplementação de aminoácidos de cadeias ramificadas; o Pequenas refeições distribuídas durante o dia, com atenção ao lanche noturno com carboidratos complexos, para minimizar a perda proteica; o Restrição proteica não é recomendada, exceto por período curto de tempo na ocorrência de hemorragia gastrointestinal. Mesmo pacientes com encefalopatia graus I e II respondem bem à administração de uma dieta com proteína animal (10 a 30 g/dia), e o restante, em proteína vegetal (rica em aminoácidos de cadeia ramificada), até atingir as necessidades proteicas. Na encefalopatia graus III ou IV é mais indicado o uso de nutrição enteral exclusiva com solução rica em aminoácidos de cadeia ramificada na proporção de 3:1 (aa ramificados/aa aromáticos); o É injustificável a restrição de gorduras na dieta. Além de não ter qualquer base científica, a exclusão da gordura da dieta tende a agravar ainda mais o déficit nutricional; o Restrição ao sódio: não deve ser inferior a 2000 mg/dia. Além do mais, restrição excessiva de sódio não adiciona eficácia ao tratamento com diuréticos, podendo resultar em maior incidência de insuficiência renal induzida por diurético e hiponatremia; o Restrição hídrica não deve ser implementada, exceto nos pacientes em que a concentraçãosérica de sódio for inferior a 120 mEq/L; o O uso de suplementos vitamínicos pode ser justificável em pacientes com cirrose descompensada. • Deficiência de vitaminas hidrossolúveis, em especial a tiamina, associa-se a sintomas neuropsiquiátricos. • Observa-se também deficiência de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, D e E (portadores de doença hepática alcoólica) e K, sendo que da K é frequente em indivíduos com cirrose hepática descompensada. • Suplementação com probióticos (Enterococcus faecium) em cirróticos com encefalopatia mínima, graus I e II, foi tão efetiva quanto lactose na redução do nível de amônia e melhora no status mental. Dos probióticos em estudo, os que têm se mostrado mais efetivos são os lactobacilos e as bifidobactérias. • Projeto Diretrizes: a suplementação de probióticos, prebióticos e simbióticos está indicada na prevenção e no tratamento da encefalopatia hepática. • Minerais: o zinco e o manganês parecem ser importantes no tratamento. No caso do zinco, relatou- se sua deficiência em cirróticos, e parece que a suplementação reduziu o nível sérico de amônia. • Entre essas novas perspectivas de tratamento, destaca-se a suplementação oral de L-ornitina e L- aspartato na redução dos níveis de amônia no sangue. • Alterações nos níveis de cálcio, ferro e magnésio podem acarretar distúrbios neuropsiquiátricos, como alterações na personalidade, comportamento e redução da cognição na encefalopatia hepática, sendo importante monitorar o nível desses nutrientes. • O consumo regular de café na DHC diminui a progressão da fibrose hepática, prevenindo a cirrose e carcinoma hepatocelular. Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • Hemorragia digestiva; • Encefalopatia hepática; • Síndrome hepatorrenal; • Hiponatremia; • Síndrome hepatopulmonar; • Cardiomiopatia cirrótica; • Ascite. • Síndrome clínica caracterizada pelo aumento de pressão no sistema porta, com consequentes alterações hemodinâmicas esplâncnicas e sistêmicas, que originam as principais complicações das hepatopatias crônicas, tais como hemorragia digestiva alta, ascite e peritonite bacteriana espontânea síndrome hepatorrenal, encefalopatia hepática e síndrome hepatopulmonar. • Todas essas complicações clínicas da HP relacionam- se fundamentalmente à formação de veias colaterais e à circulação hiperdinâmica em nível esplâncnico e sistêmico. Em termos fisiopatológicos, as consequências clínicas da circulação hiperdinâmica são fundamentalmente o aumento da volemia, o aumento do débito cardíaco e a queda da pressão arterial. Embora detectáveis nos estudos hemodinâmicos de qualquer tipo de hipertensão portal, apenas nas fases descompensadas ou terminais da cirrose, as manifestações clínicas da circulação hiperdinâmica tornam-se relevantes. • Pré-sinusoidal: o Intra-hepática: esquistossomose; o Extra-hepática: trombose de veia porta e trombose de veia esplênica. • Medida do gradiente de pressão portal: padrão ouro - > 10 mmHg. • USG com doppler: fluxo hepatofugal; Alterações de veia porta e veia esplênica. • Angioressonância e angitomo. • Endoscopia digestiva alta: varizes de esôfago, varizes gástricas e gastropatia hipertensiva. • Profilaxia primária: betabloqueador ou ligadura elástica. • Profilaxia secundária: betabloqueador e ligadura elástica. • Entre as possíveis localizações de veias colaterais unindo o sistema porta à circulação sistêmica, as mais importantes são as varizes gastroesofágicas. As colaterais na região retal podem resultar em varizes hemorroidárias, mas as possibilidades de sangramento são pequenas. O ligamento falciforme, que corresponde à veia umbilical obliterada, pode recanalizar ou surgirem veias paraumbelicais. • Síndrome de Cruveilhier-Baumgarten: consiste na conexão dessas veias com a circulação sistêmica, pelas veias da parede anterior do abdome, ao redor do umbigo. • Além do fluxo hepatofugal, avaliado à ultrassonografia com Doppler, clinicamente, é possível auscultar um ruído nessa região ou visualizar varicosidades superficiais, conhecidas como caput medusae. *GPVH: GRADIENTE DE PRESSÃO VENOSA ENTRE A CIRCULAÇÃO PORTAL E A SISTÊMICA • Os cuidados com o paciente durante e/ou logo após episódio hemorrágico devem ser realizados preferencialmente em unidades de terapia intensiva. • A ressuscitação volêmica precisa ser criteriosa, mantendo-se a hipovolemia relativa, com níveis de PAS entre 90 e 100 mmHg e frequência cardíaca menor que 100 bpm. • A proteção das vias aéreas é mandatória, particularmente naqueles pacientes com diminuição do nível de consciência e/ou hematêmese maciça. • Em termos de reposição sanguínea, deve-se ter como alvo níveis de hemoglobina entre 7 e 9 g/dL, dependendo da presença de comorbidades, de sangramento ativo, da idade e do estado hemodinâmico do paciente. • Para estancar a hemorragia por varizes, dois grandes grupos de abordagens são possíveis: o Em primeiro lugar, estão as atitudes que visam diminuir os níveis pressóricos no sistema portal, tanto pelo uso de drogas vasoativas como pelo desvio do fluxo portal hipertenso para a circulação sistêmica; o A oclusão venosa, utilizada nos tratamentos endoscópicos, é a outra forma de estancar HDAV COMPLICAÇÕES HIPERTENSÃO PORTAL DIAGNÓSTICO VARIZES DE ESÔFAGO HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA VARICOSA CUIDADOS TERAPÊUTICOS EMERGENCIAIS NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA VARICOSA Maria Beatriz Valença Gastroenterologia sem modificar os níveis pressóricos do sistema portal. • Deve-se iniciar o emprego de vasoconstritores esplâncnicos o mais precocemente possível nos pacientes com HDAV, de preferência antes da realização de exame endoscópico. As drogas disponíveis para uso são: terlipressina, somatostatina e octreotide. • A endoscopia digestiva alta deve ser realizada dentro das primeiras 12 horas de sangramento em todo paciente com HDAV. • A ligadura elástica de varizes esofágicas (LEVE) é a melhor postura terapêutica para hemostasia endoscópica em HDAV. A opção pela escleroterapia restringe-se aos casos de indisponibilidade ou impossibilidade técnica de realização da LEVE. O tratamento combinado, ou seja, a associação das terapias farmacológica e endoscópica, é superior a cada uma das modalidades terapêuticas isoladamente, sendo ideal que o tratamento farmacológico preceda o endoscópico e seja mantido após este último. • As infecções bacterianas constituem causa frequente de morbidade e mortalidade em cirróticos com HDAV. Dessa maneira, o rastreamento deve incluir pelo menos coleta de hemoculturas, punção de líquido ascítico, quando presente, com citologia diferencial e cultura (semeada em balão de hemocultura), sumário de urina e raio X de tórax. O emprego profilático de antibióticos é mandatório, pois reduz a frequência de eventos infecciosos e aumenta a sobrevida nos pacientes tratados. Podem-se empregar quinolonas orais (norfloxacino 400 mg, 2 vezes/dia) ou cefalosporina de 3a geração (ceftriaxona 1 g, IV/dia), sendo recomendado período de tratamento de 7 dias.
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