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138 Unidade III Unidade III 7 ARTICULAÇÕES PERIFÉRICAS: MEMBROS INFERIORES 7.1 Quadril Vamos começar esta unidade falando sobre a articulação do quadril, que é a mais proximal do membro inferior (figura seguinte). Ela é importante nas atividades de sustentação de peso e deambulação. Os dois ossos do quadril articulam-se um ao outro anteriormente e ao sacro posteriormente. A porção do sacro também está articulada ao cóccix. Esses quatro ossos são conhecidos, em conjunto com a pelve, que é o cíngulo do membro inferior. Lábio interno da crista ilíaca Tuberosidade ilíaca Espinha ilíaca posterior superior Face auricular (para o sacro) Espinha ilíaca posterior inferior Incisura isquiática maior Corpo do ílio Espinha isquiática Incisura isquiática menor Corpo do ísquio Tuberosidade isquiática Ramo do ísquio Sulco obturatório Ramo inferior do osso púbico Ilíaco Ísquio Púbis Forame obturado Face sinfisal Tubérculo púbico Púbis pectíneo (linha pectínea) Ramo superior do osso púbico Eminência iliopúbica Linha arqueada Espinha ilíaca anteroinferior Asa (ala) do osso ilíaco (fossa ilíaca) Espinha ilíaca anterossuperior Linha intermédia da crista ilíaca Figura 96 – Ossos do quadril. Vista lateral A articulação coxofemoral apresenta propriedades de mobilidade e estabilidade, movimentando-se nos três planos de movimento. Ao mesmo tempo, é uma articulação estável, pois serve para apoio e locomoção, trabalhando com forças elevadas, sendo difícil de sofrer luxações. O exame físico de pacientes com dores no quadril é complexo devido às diversas possibilidades de diagnósticos diferenciais, incluindo patologias intra-articulares, extra-articulares e dores referidas de outras regiões, como pélvicas e vertebrais. 139 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL As doenças que acometem o quadril são inúmeras, sejam congênitas ou adquiridas, e costumam provocar alterações significativas na marcha, fazendo com que essa articulação mereça atenção adequada. 7.1.1 Deformidades angulares de quadril O ângulo entre o corpo e o colo do fêmur no plano frontal é o ângulo de inclinação, variando desde o nascimento, com 170°, até a fase adulta com aproximadamente 125° (figura seguinte). Ângulos colo-corpo maiores que 125° são descritos como coxa valga. Enquanto ângulos menores que 125° são denominadas de coxa vara. Ângulos maiores tendem a tornar o membro mais longo, colocando o quadril em posição aduzida durante a sustentação de peso. Com ângulos mais fechados, o membro inferior torna-se mais curto, com queda da pelve ipsilateral durante a sustentação de peso. 125º 105º 140º A) B) C) Figura 97 – Ângulo de inclinação de fêmur. (A) Normal: 125°. (B) Coxa vara: < 125°. (C) Coxa valga: > 125° No plano horizontal, o ângulo entre o colo e o corpo do fêmur é dito ângulo de torção, apresentando-se com 15° a 25° de rotação lateral da cabeça e do colo em relação ao corpo do fêmur (figura seguinte). Ângulos maiores que 25° caracterizam uma anteversão, com rotação medial da coxa, enquanto que reduzidos causam uma retroversão com maior rotação lateral de quadril, fazendo com que, durante a marcha, o indivíduo caminhe com os “pés voltados para fora”. A) B) C) 35º 15º Figura 98 – A) Anteversão normal. B) Anterversão excessiva. C) Retroversão. Ângulo >15° indica anteversão excessiva 140 Unidade III A) B) Figura 99 – Exame radiográfico demonstrando os ângulos de inclinação (A) e de anteversão (B) Podemos mensurar o grau de anteversão femoral por meio do teste de Craig. Para tanto, o paciente deve posicionar-se em decúbito ventral com joelho flexionado a 90°. O examinador posiciona-se próximo ao paciente e realiza palpação de trocânter maior. Passivamente, deve-se movimentar o fêmur em rotação medial e lateral até que o trocânter esteja paralelo à mesa de exame. O paciente é solicitado a manter o quadril na mesma posição enquanto o fisioterapeuta mensura a ADM por meio do goniômetro do ângulo entre o eixo perpendicular à maca e o eixo maior da perna. Ângulo > 15° indica anteversão de fêmur; ângulo > 8° corresponde à retroversão femoral. 40º A B Figura 100 – Teste de Craig. > 15° Anteversão femoral. < 8° Retroversão femoral. Indivíduo apresentando anteversão de fêmur 141 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL 7.1.2 Bursite As bursas têm por função dissipar a fricção causada por duas ou mais estruturas que se movem uma contra a outra. O mecanismo de lesão dessas estruturas pode estar relacionado a uso excessivo e traumas diretos. As três principais bursas da articulação do quadril, mais suscetíveis a bursites são as bursa isquiática, de iliopsoas e trocantérica. Iliopsoas Bursa trocantérica Bursa isquiática Bursa psoas Figura 101 – Localização das bursas do quadril Na bursite trocantérica, a bursa está localizada entre glúteo máximo, tensor da fáscia lata e superfície de trocânter maior. Esse é o termo usado para descrever dor crônica, intermitente, acompanhada de desconforto à palpação da região lateral do quadril por causa do processo inflamatório das bursas. Caracteriza-se por processo inflamatório da bolsa sinovial ou bursa, estrutura que tem função de reduzir o impacto ou atrito entre as estruturas tendíneas e ósseas. Decorre do atrito constante entre o músculo tensor da fáscia lata ao passar por cima da bursa trocantérica durante movimentos de flexão e extensão de quadril ocasionando em mudanças degenerativas dos tendões, músculos e tecidos fibrosos. Entre todas as bursas descritas do quadril, a trocantérica é a mais frequentemente acometida por inflamação. Sendo comum em mulheres com mais de 40 anos, corredores, ciclistas ou indivíduos com sobrepeso, ângulo Q aumentado, com proeminência de trocânteres, artrose ou dismetria de membros inferiores. O quadro clínico apresentado é de calor, possível edema e equimose em região de trocânter maior, algia durante a marcha e ao deitar-se sobre o lado acometido podem estar presentes. Paciente pode relatar desconforto ao permanecer em pé assimetricamente por longos períodos com quadril acometido aduzido e elevado e pelve contralateral caída. Os sintomas pioram com a deambulação e subida de escadas. Na avaliação é importante ter acesso à história detalhada do paciente, determinando nível de atividade, início e duração dos sintomas, ADM, sensibilidade, rigidez, fraqueza muscular e padrões de marcha. O diagnóstico diferencial compreende: 142 Unidade III • Tendinopatia de glúteos máximo, médio com ou sem calcificação. • Hérnia inguinal ou femoral. • Irritação da raiz nervosa L4-L5. • Meralgia parestética. • Quadril estalante. • Neoplasia espinal inferior. • Tumor pélvico. • Infecção de quadril. • Necrose avascular. • Fratura por estresse de fêmur. • Tumor ósseo ou de tecido mole. O tratamento da bursite trocantérica, em geral, é conservador e inclui medicamentos anti-inflamatórios não esteroides por até seis a oito semanas e infiltrações. Nosso objetivo durante o tratamento fisioterapêutico consiste em remover os fatores causadores ao alongar os tecidos moles da coxa lateral, em especial o tensor da fáscia lata, o trato iliotibial e rotadores externos de quadril (figuras seguintes). O fortalecimento dos abdutores e adutores também é importante. O uso de calor, ultrassom a nível do trocânter maior e do triângulo femoral, massagem friccional e a prescrição de órteses para as articulações de tornozelo e pé em caso de alterações biomecânicas também são indicados. Figura 102 – Autoalongamento do trato iliotibial 143 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL C) A) D) B) Figura 103 – Alongamento de iliopsoas. (A) Decúbito dorsal. (B) Semiflexão de joelhos. (C) Decúbito ventral. (D) Decúbito lateral esquerdo A bursite de iliopsoas/iliopectínea ocorre mais frequentemente em virtude do excesso de atividades. A bursa do iliopsoas está localizada entre a porção anterior da cápsula articular do quadril e miotendínea de iliopsoas. O principal sintoma é dor na virilha ou quadrilanterior, que piora com movimento de hiperextensão lombar ou de quadril ou caminhadas vigorosas. Pode haver, ainda, dor ao final da ADM passiva de flexão, adução e rotação externa de quadril, sensibilidade dolorosa à palpação da bolsa envolvida. O tratamento inclui repouso relativo, medidas anti-inflamatórias, alongamento e fortalecimento de rotadores e flexores de quadril. Para tanto, podem ser aplicados exercícios resistidos de rotação interna e externa de quadril, rotação externa/abdução em decúbito lateral, miniagachamentos, alongamento de flexores de quadril, quadríceps, piriforme e isquiotibiais. A bursite isquiática envolve duas bolsas distintas, uma entre a tuberosidade isquiática e porção inferior de glúteo máximo e outra entre os tendões de bíceps femoral e semimembranáceo. Sua causa está relacionada a trauma direto ou compressão crônica. O tratamento consiste em repouso relativo, uso de assentos acolchoados, massagem para tecidos moles, fortalecimento e flexibilidade de isquiotibiais e medidas anti-inflamatórias. 7.1.3 Síndrome do piriforme A síndrome do piriforme é uma doença neuromuscular que ocorre devido ao encarceramento do nervo ciático e representa um importante causa de dor na região glútea à área de distribuição do nervo ciático. De causa multifatorial, os sintomas incluem hipertrofia, inflamação e espasmos do músculo piriforme, pseudoaneurisma da artéria glútea inferior, excesso de exercícios, traumas regiões sacroilíaca ou glútea, contratura em flexão do quadril, processos infecção e variações anatômicas. 144 Unidade III O paciente apresentará intenso quadro álgico acompanhado de distúrbios sensitivos e motores na área de distribuição do nervo ciático. Glúteo médio Glúteo mínimo Piriforme Nervo fibular comum Tendão do bíceps da coxa Ramo comunicante fibular Sóleo Flexor longo do hálux Nervo sural Nervo para os músculos sóleo e gastrocnêmio Nervo tibial Semitendíneo Nervo ciático Nervo cutâneo posterior da coxa Nervo para o obturador interno Nervo pudendo Nervo glúteo superior Glúteo máximo Figura 104 – Trajeto do nervo ciático Durante o exame físico, devemos avaliar minuciosamente o quadril, a pelve e a articulação sacrilíaca, descartando disfunções nessas regiões. Identifique se há desvios da pelve ou dismetria de membros inferiores. Ainda no exame físico, é necessário realizar a palpação do músculo piriforme diretamente na parte posterior da articulação do quadril, próximo à incisura isquiática maior, observe a presença de dor focal e/ou sintomas radiculares. Diversas manobras e testes que “ativam” o músculo piriforme podem ser utilizadas. Entre elas, a manobra de Pace, na qual o paciente, em sedestação, realiza abdução das pernas contra resistência manual, contraindo assim o músculo piriforme. Dor e/ou fraqueza no lado afetado são indicativos de comprometimento do piriforme. O teste do piriforme investiga o encurtamento e compressões do nervo ciático. Consiste na aplicação de uma força de adução sobre o joelho do paciente. Para tanto, solicite que ele se posicione em decúbito lateral sobre o lado não afetado com o membro acometido em flexão de quadril e joelho a 60°. Mantenha-se próximo ao paciente, posicionando suas mãos sobre a pelve e o joelho do paciente, 145 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL estabilizando-os. Encurtamento ou dor no quadril e nádegas indicam comprometimento de piriforme. Dor na nádega e região posterior de coxa indica comprometimento do nervo ciático. L2 L3 L4 L5 S1 S2 Nervo ciático Nervo peroneal Nervo tibial Nervo sural Nervo plantar lateral e medialA) B) Figura 105 – Distribuição do nervo ciático: ramos motores (A) e áreas de sensibilidade nas lesões do tronco e do nervo cutâneo posterior (B) Observação A síndrome do piriforme apresenta sintomas idênticos aos de uma hérnia de disco, com exceção da ausência de sinais neurológicos verdadeiros. Um sinal importante para a síndrome do piriforme é quando o paciente apresenta dor na nádega irradiada para os membros inferiores. A base do tratamento é conservador e inclui medidas anti-inflamatórias, relaxantes musculares e correção de anormalidades biomecânicas. Para o tratamento da irritação do nervo ciático, podemos utilizar Tens, crioterapia, ultrassom, acupuntura, corrente galvânica e infravermelho. Em casos não 146 Unidade III responsivos ao tratamento conservador, injeção de anestésico e/ou corticosteroides e em casos mais graves, a descompressão nervosa pode ser considerada para fins terapêuticos. 7.2 Joelho Como vocês já devem ter percebido, a articulação do joelho é uma das mais complexas do corpo. Sua sustentação ocorre devido a diversos músculos e ligamentos. É classificada como uma articulação sinovial gínglimo, realizando movimentos de flexão e extensão da perna. Não é considerada uma articulação gínglimo verdadeira, como a articulação do cotovelo, pois apresenta um componente de rotação como movimento acessório durante a flexão e extensão da perna na articulação do joelho. A partir de 0° de extensão, há aproximadamente 120° a 135° de flexão. 7.2.1 Bursite O joelho é composto por diversas bolsas sinoviais que têm por função reduzir o atrito entre tendões e estruturas ósseas (figura a seguir). A bursa suprapatelar está localizada entre o fêmur e o tendão quadricipital, sendo um prolongamento da cavidade sinovial. A bolsa infrapatelar profunda situa-se entre o ligamento patelar e a região da interlinha articular anterior proximal da tíbia e raramente torna-se sintomática. Já a infrapatelar superficial está posicionada entre a pele e a tuberosidade da tíbia, enquanto a prepatelar protege a face anteroinferior da patela, logo abaixo da pele. Embora sejam estruturas distintas, as bursas prepatelar e infrapatelar superficial são acometidas por processos patológicos simultâneos, sendo referidas frequentemente em conjunto como bursite prepatelar. Bursa suprapatelar Bursa prepatelar subcutânea Bursa infrapatelar subcutânea Bursa infrapatelar profunda Bursa subsartorial (pes anserinus) Bursa semimembranosa Figura 106 – Vista lateral. Bursas do joelho 147 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL Pode resultar de movimentos repetitivos, artrite reumatoide, gota, infecções, mas, em geral, sua causa é idiopática, sendo denominada de bursite não infecciosa. Pode surgir ainda após trauma com ferimento, resultando em inoculação direta de um germe no interior da bolsa. Um trauma contuso, um ferimento cutâneo ou uma pressão repetitiva aplicada sobre o joelho pode provocar infecção, caracterizando uma bursite do tipo infecciosa. Outra forma decontaminação seria por disseminação hematogênica, sendo rara em razão do suprimento vascular da bursa ser limitado. No processo de avaliação, pode não ser possível diferenciar a bursite infecciosa da não infecciosa, para tanto, faz-se necessário, nesses casos, a aspiração do líquido, estabelecendo a origem. O líquido intrabursal deve ser analisado quanto a sua aparência, contagem leucocitária, presença de cristais e cultura microbiana. Em bursites infecciosas, é necessário tratamento antimicrobiano, sendo a droga eleita de acordo com agente etiológico. No caso de recidivas com agravamento do quadro, pode haver necessidade de desbridamento cirúrgico e antibioticoterapia e, em alguns casos, a bursectomia endoscópica da lesão. Para bursites não infecciosas, o tratamento conservador apresenta bons resultados, consistindo em aspiração, anti-inflamatórios e enfaixamento compressivo. Em geral, a intervenção para bursites inclui a remoção da irritação com alongamento das estruturas adaptativas encurtadas ou mobilizações articulares para a correção do alinhamento. A bursite prepatelar é a mais frequente do joelho. A inflamação dessa bolsa acomete indivíduos que sofrem trauma recorrente menor na região anterior de joelho. Sua incidência é desconhecida, sendo mais comum em homens e do tipo não infecciosa. Os fatores de risco para bursite prepatelarestão relacionados à execução de atividades, cujo trauma direto ao joelho é comum, tais como mecânicos, encanadores, faxineiros, jardineiros. Imunocomprometidos, por uso sistêmico de corticosteroide, portadores de neoplasia, transplantados, leucopenia, diabetes melito ou insuficiência renal podem desenvolver o problema. Indivíduos com histórico de gota podem desenvolver em decorrência da formação de cristais. Os sinais e sintomas incluem: claudicação, tumefação localizada, eritema, calor, alívio da dor ao repouso e em alguns casos artrite. Na bursite infecciosa é comum que o paciente apresente celulite peribursal e febre. No caso da bursite devido à presença de cristais, haverá processo inflamatório agudo. A bursite infrapatelar superficial e profunda resulta de irritação mecânica durante atividades como ajoelhar ou trauma direto. A bursite infrapatelar superficial localiza-se entre o ligamento patelar e pele, enquanto, que a profunda ocorre entre o ligamento patelar e a face anterossuperior da tíbia, sendo menos frequente. Clinicamente, o paciente relata dor durante movimentos extremos de flexão e extensão sob resistência. 148 Unidade III 7.2.2 Síndrome anserina A inserção em comum dos tendões dos músculos grácil, sartório e semitendíneo, na interlinha articular medial do joelho, forma uma estrutura semelhante à membrana natatória do ganso, sendo então conhecida como de “pata de ganso” (figura a seguir). Nessa região, temos a presença da bursa anserina, também chamada de bursa intertendinosa, que é uma das 13 bursas ao redor do joelho e está localizada logo abaixo da “pata de ganso’’ (HELFENSTEIN; KUROMOTO, 2010). Músculo sartório Tendão grácil Semitendinoso Pata de ganso Figura 107 – Músculo da pata de ganso Entre as possíveis causas, estão retração da musculatura posterior da coxa, trauma repetitivo, exostose óssea, irritação de plica suprapatelar, lesão do menisco medial, pé plano, genu valgum, infecção e reação a corpo estranho, overtraining e OA. Os sinais e sintomas incluem dor e edema na porção medial do joelho, com piora do quadro álgico durante os movimentos de flexão e extensão repetitiva do joelho. O diagnóstico é baseado nos sinais e sintomas, ainda assim, os exames por imagem podem corroborar. Na radiografia, podem-se observar sinais de OA ou exostose óssea. A ressonância magnética pode evidenciar o processo inflamatório da bursa próximo ao ligamento colateral medial. No exame físico deve-se realizar inspeção, estática e dinâmica, testes semiológicos, alinhamento articular, hipermobilidade e função muscular. A terapêutica envolve o uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais, repouso. O tratamento cirúrgico, bursectomia, pode ser indicado quando houver falha no tratamento conservador. 149 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL 7.2.3 Tendinopatia patelar Trata-se de uma tendinopatia relacionada com a sobrecarga do aparelho extensor do joelho, também conhecida como joelho “do saltador” por ser comum em atletas que praticam esporte de salto. Essa tendinopatia acomete o tendão patelar em sua porção profunda e posterior, adjacente ao polo inferior da patela. É mais frequente em indivíduos jovens, entre 16 a 40 anos. Relaciona-se à prática de esportes com alta carga em extensão e que envolvem saltos como atletismo, basquetebol etc. Ainda assim, pode ocorrer em indivíduos que não pratiquem atividades esportivas. Lembrete Tendinose: caracteriza a degeneração do tendão sem sinais clínicos ou histológicos de processo inflamatório. Sua causa é multifatorial, havendo fatores intrínsecos e extrínsecos, importantes para início e progressão da doença. Entre os fatores intrínsecos, temos: doenças sistêmicas, alterações biomecânicas de membros inferiores, índice de massa corporal. São fatores extrínsecos: carga física no tendão, ambiente, atividade laboral, erros de treinamento, equipamentos inadequados. De acordo com as escalas de Blazina et al., a gravidade das lesões da TP pode ser graduada em: • Fase 1: dor após atividade. • Fase 2: dor no início e após atividade. • Fase 3: dor no início, durante e após atividade, sem rendimento afetado. • Fase 4: dor no início, durante e após atividade, com rendimento afetado. O indivíduo relatará dor anterior do joelho bem localizada, relacionada a atividades de esforço, progredindo para quadro álgico persistente até mesmo durante atividades diárias. Atividades como descer escadas ou realizar corridas pioram o quadro doloroso. É incomum a presença de edema local. Podem ocorrer atrofia muscular de coxa e perna relacionadas à cronicidade da doença. Em geral, o paciente apresenta dor a palpação do tendão patelar adjacente ao polo inferior da patela. Podemos identificar o local doloroso durante a palpação posicionando o joelho em extensão total e aplicando uma leve pressão no polo superior da patela. Com isso, a região distal do osso se anterioriza, facilitando a palpação da origem do tendão. 150 Unidade III Figura 108 – Teste de palpação do polo inferior da patela Outras características a serem observadas no exame físico são: atrofia muscular e força funcional da coxa. Um teste funcional útil para tendinopatia patelar é o squat test, executado em um plano inclinado descendente a 30º. Esse teste exerce maior carga no tendão patelar do que com o teste em solo plano. Figura 109 – Agachamento em plano inclinado 30° Radiografias simples são úteis para identificação da doença de Osgood-Schlatter ou da síndrome de Sinding-Larsen-Johansson, assim como para detectar calcificações intratendíneas. No ultrassom, observa-se presença de edema tendíneo, redução da ecogenicidade e calcificação. Em geral, o objetivo do tratamento é reduzir a dor e recuperar a função. Para tanto, utiliza- se como medidas de tratamento conservador: repouso relativo, correção biomecânica de fatores predisponentes, gelo, ondas de choque, medicamentos, exercícios de alongamentos e fortalecimentos (COHEN et al., 2008). 151 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL Saiba mais Para saber mais sobre a tendinopatia, leia: COHEN, M. et al. Tendinopatia patelar. Rev. Bras. Ortop., v. 43, n. 8, 2008. O uso de anti-inflamatórios não hormonais se mostra ineficiente na fase tardia por tratar-se de um processo crônico com ausência ou mínima inflamação. O uso injetável de corticoides é benéfico em curto prazo, porém, pode resultar na ruptura do tendão patelar. A crioterapia é utilizada em condições agudas, reduzindo o processo inflamatório. É indicada devido a sua ação analgésica e o possível efeito vasoconstritor na neovascularização do centro da tendinose, consequentemente diminuindo o aporte de sangue e proteínas ao local afetado. A aplicação do exercício excêntrico (EC) é apontada como parte importante do tratamento conservador, sendo o exercício de agachamento feito em plano inclinado, sendo um dos exercícios mais recomendados para a TP. A indicação cirúrgica deve ser feita após um período igual ou superior a seis meses de insucesso do tratamento conservador. Compreendem diversos procedimentos, tais como desbridamento (perfurações no ápice da patela, excisão do polo inferior da patela etc.) e protocolos de reabilitação pós-operatória. 7.2.4 Cisto de Baker Afecção comum, na qual há formação de um nódulo benigno na região posteromedial do joelho. Caracteriza-se pela hipertrofia da bolsa sinovial do músculo semimembranoso, entre seu tendão e a cabeça medial de gastrocnêmio. Em geral é assintomático, mas na presença de efusão sinovial, pode haver edema e dor durante flexão e extensão passiva, sustentação de peso e flexão resistida de joelho (figura seguinte). Cistos de maior volume podem romper-se e evoluir para sintomas similares à trombose venosa profunda. Figura 110 – Cisto de Baker em membro inferior esquerdo 152 Unidade III Figura 111 – Exame de ressonância magnética do joelho, presença de cisto de Baker Os diagnósticos diferenciais são: • Aneurismas. • Tromboflebites.• Neoplasias benignas e malignas. 7.2.5 Deformidades angulares de joelho Do recém-nascido à criança em idade escolar, desvios do ângulo frontal do joelho, também chamado de ângulo Q, são considerados fisiológicos e relacionados ao desenvolvimento motor inerente a cada fase de crescimento. O joelho valgo caracteriza-se por alinhamento do membro inferior no qual os segmentos distais estão em posição mais lateral que o normal. Resulta da mudança do ângulo do fêmur devido à anteversão femoral. Ocorre o aumento do ângulo Q, deslocando a tuberosidade tibial lateralmente. Essa sobrecarga provoca alterações biomecânicas, acarretando perda progressiva de cartilagem, osso subcondral, artrose, alongamento capsulo ligamentar. Os joelhos tendem a se aproximar enquanto os tornozelos estão afastados. 153 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL Figura 112 – Avaliação clínica e radiográfica pré-operatória O joelho varo pode estar relacionado ao movimento do arco da tíbia ou do varo na articulação do joelho (figura seguinte). Modificações na orientação entre diáfise e colo de fêmur modificam a orientação da articulação tibiofemoral, modificando as forças de sustentação de peso na articulação de joelho. A) B) C) Figura 113 – Tipos de alinhamento do membro inferior. (A) Geno varo; (B) alinhamento normal; (C) geno valgo A mensuração desse ângulo pode ser realizada por meio de radiografias, biofotogrametria e goniômetro, com o paciente posicionado em decúbito dorsal com os quadris e joelhos em extensão ou em posição ortostática. Utilizando um goniômetro universal, posiciona-se o paciente em decúbito dorsal, com extensão completa de quadris e joelhos. O cálculo é feito a partir da intersecção formada 154 Unidade III pelo cruzamento de duas linhas no centro da patela, a primeira a partir da espinha ilíaca anterossuperior até o centro da patela, e a segunda da tuberosidade anterior da tíbia até ao centro da patela. O valor normal para o ângulo Q é de 13° para homens e 18° para mulheres. Joelho recurvado é uma posição da articulação do joelho na qual a ADM ocorre além de 0° de extensão. É mais comum em mulheres, relacionado a hábitos posturais, lesões de joelho e lassidão articular. Os sintomas apresentados são dor na articulação anteromedial e posterolateral de joelho. Durante a inspeção, observa-se rotação interna femoral excessiva, joelho varo ou valgo, varo tibial ou pronação subtalar excessiva. 7.3 Tornozelo e pé A anatomia e cinesiologia do tornozelo e pé são complexas, sendo projetadas para prover estabilidade, bem como mobilidade às estruturas distais do membro inferior. A articulação do tornozelo, conhecida como talocrural, é uma articulação do tipo dobradiça ou gínglimo. É constituída pelo tálus, tíbia e fíbula distais. O tornozelo apresenta ADM articular de 50° de flexão plantar e 15° a 20° de dorsiflexão. Os movimentos de inversão e eversão ocorrem nas articulações subtalar e transversa do osso tálus, com ADM de 20° a 30° de inversão e 5° a 15° de eversão. O seguimento posterior do pé é denominado de retropé, sendo composto pelos ossos tálus e calcâneo, o segmento medial de pé é formado pelos ossos navicular, cuboide e cuneiformes formando o mediopé e o segmento anterior de pé é caracterizado pelos ossos metatarsais e 14 falanges sendo denominado de antepé (figura seguinte). A articulação do tornozelo recebe maior carga por área do que qualquer outra região do corpo. As estruturas osteomioarticulares do complexo de pé e tornozelo agem como estabilizadores, adaptando-se durante as atividades de sustentação de peso. Ainda assim, estresses abruptos ou não antecipados podem repercutir em disfunções. Articulação transversa do tarso Osso navicular Osso cuneiforme intermédio Osso cuneiforme lateral Articulação tarsometatársica Ossos do metatarso Falanges Tuberosidade do Vº osso metatarsal Sulco do tendão do músculo fibular longo Tuberosidade do osso cuboide Osso cuboide Sulco do tendão do músculo fibular longo Tróclea fibular do calcâneo Tuberosidade do calcâneo Corpo do calcâneo Processo posterior do tálus Processo lateral do tálus Seio do tarso Tróclea do tálus Colo do tálus Cabeça do tálus Figura 114 – Vista lateral. Ossos do Pé 155 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL 7.3.1 Tendinite A tendinite por uso excessivo nos tendões que envolvem o tornozelo pode estar relacionada a erros de treinamento, desequilíbrios musculotendíneos, desalinhamentos anatômicos, calçados inadequados ou crescimento forçado súbito. • Tendinite de fibular: comum em bailarinos e patinadores de gelo e atletas de corrida. Relaciona-se a traumas, desequilíbrios musculares, movimentos repetitivos e alterações biomecânicas que repercutem em lesões no tecido tendíneo. A entorse crônica do tornozelo também é apontada como causa. Quando ocorre uma entorse em inversão, pode haver lesão por estiramento excessivo dos músculos e tendões fibulares gerando diminuição da acuidade proprioceptiva, favorecendo novas entorses e instabilidade de tornozelo, gerando, assim, um estresse repetitivo. Paciente relata dor ou desconforto em região lateral do tornozelo, ao longo do trajeto dos fibulares. A dor piora com dorsiflexão passiva e eversão resistida de retropé, alongamento passivo dos tendões fibulares, flexão plantar e eversão. Pode ser acompanhada ainda por edema localizado, crepitação e instabilidade lateral de tornozelo. • Tendinite do tibial posterior: responsável por sustentar o arco medial do pé e movimentos de flexão plantar e inversão. Sua afecção causa desequilíbrio muscular e alteração arco longitudinal medial do pé. Entre as causas estão obesidade, encurtamento de gastrocnêmio e sóleo, redução da força de tibial posterior, pé plano, valgismo de calcâneo e tálus, artrite reumatoide e uso prolongado de corticoide. Paciente relata dor proximal ao maléolo medial, em navícula e durante os movimentos de flexão plantar e inversão resistidos. No teste de força, você deve estabilizar a perna do paciente em posição anatômica, com tornozelo do paciente em leve flexão plantar. Aplique, então, resistência manual à borda medial da parte de antepé em eversão e dorsiflexão. De acordo com os sintomas apresentados, a tendinopatia de tibial posterior pode ser dividida em quatro fases: fase I, em que o paciente relata dor sobre o tendão e região posterior e medial do maléolo medial; fase II, em que há deformidade unilateral do tipo pé plano; fase III, em que há rigidez e degeneração e antepé varo; fase IV, em que há rigidez do retropé e valgismo do osso tálus. O tratamento conservador consiste em medidas analgésicas e anti-inflamatórias, alongamento do tibial posterior, fortalecimento, órteses e imobilização. • Tendinite do tibial anterior: o tibial anterior é o principal responsável pelo movimento de dorsiflexão preponderante na fase de desaceleração da marcha. Consiste em uma lesão incomum, com predomínio em mulheres com sobrepeso entre 50 a 70 anos de idade. Os sintomas são dor à palpação na região anteromedial de pé e durante a manobra de dorsiflexão contra resistência. Sua causa está relacionada a traumas diretos, indiretos ou degeneração, doenças inflamatórias, do tipo artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, gota úrica e psoríase, diabetes mellitus, hiperparatireoidismo ou uso de esteroides. Na inspeção, observa-se aumento de volume no nível do cuneiforme medial. Durante a palpação, pode haver sensibilidade sobre o tendão, presença de nódulo e falha da continuidade. Para avaliar a força muscular de tibial anterior, posicione o pé do paciente em flexão e inversão, estabilize a perna e aplique resistência manual na região dorsal medial da parte anterior do pé em flexão plantar e eversão. O tratamento conservador consiste em alongamento de tibial anterior, fortalecimento, imobilização, gelo e uso de órteses. 156 Unidade III • Tendinite de flexor longo de hálux: tem maior prevalência em indivíduos jovens corredores, bailarinos ou ginastas. Ainflamação decorre de elevações forçadas com a parte anterior do pé, onde o tendão encontra-se alongado entre o tubérculo posterior e o tálus. Paciente apresenta dor durante o movimento resistido de flexão de hálux e posterior ao maléolo medial, podendo ser confundida com tendinite de tibial posterior. Para avaliar déficit de força muscular no músculo flexor longo do hálux, mantenha o pé do paciente me posição média, estabilize o primeiro metatarsal e aplique resistência abaixo das falanges proximal e distal do hálux com extensão do artelho. O tratamento conservador inclui crioterapia, alongamento, fortalecimento, redução da atividade, correções da técnica de treino, órteses, causados com sola dura e medidas anti-inflamatórias. O tratamento cirúrgico consiste na liberação da bainha do tendão. 7.3.2 Tendinopatia do tendão de calcâneo Sabemos que o tendão de calcâneo é o mais forte e espesso do corpo humano. É formado pelo tendão comum dos músculos gastrocnêmio e sóleo, compondo, assim, o tríceps sural. Durante a caminhada, forças de 2,5 vezes o peso do corpo atuam sobre essa estrutura, sendo de seis a 12 vezes o peso corporal durante a corrida. A tendinopatia do tendão de calcâneo (TPC) é uma patologia que pode interferir na função física, laboral e esportiva. Apresenta terminologia variada, sendo sinônimos dela: tendinopatia de Aquiles, tendinite do calcâneo, entre outros. A prevalência de TPC é maior em homens, na quarta e quinta décadas de vida, tendo ainda relação com tipo sanguíneo O. Comum em atletas recreacionais e profissionais, tem maior incidência em corredores de alta performance. Sua causa é multifatorial, envolvendo fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre eles estão calçados inadequados, tipo de atividade física, terreno inapropriado, erros de treino, peso corporal, idade, gênero masculino, pronação excessiva do pé. O excesso de atividade, seja por repetição ou sobrecarga, está relacionado a sua patogênese. Pode ser classificada de acordo com os sintomas dolorosos apresentados ou a área do tendão acometida: • Quanto ao quadro álgico: — Grau I: dor leve após atividade física. — Grau II: dor no início da atividade física, reduzida após o aquecimento e pior no fim da atividade, sem alterar o rendimento. — Grau III: dor durante e após atividade física, com redução de rendimento. — Grau VI: ruptura parcial ou total da estrutura tendínea. 157 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL • Quanto ao local: — Não insercional: mais comum, afeta a parte descrita como o corpo principal do tendão, de 4 cm a 5 cm, relativamente avascular. — Insercional: acomete a interface tendão-osso, em seu local de inserção. O principal sintoma é dor no início e final de um esforço físico, com períodos de melhora. Com a progressão, a dor pode ser referida durante toda a atividade. Haverá dor à palpação com piora durante o movimento passivo de dorsiflexão de tornozelo. Podem ainda apresentar a formação de nódulo na região de tendão, sinais inflamatórios, hipotrofia e fraqueza de tríceps sural. É comum a formação de esporão ósseo ou ainda a calcificação no tendão. O diagnóstico pode ser estabelecido a partir da história clínica e exame físico. A ressonância magnética apresenta maiores sensibilidades e especificidades para esses casos, ainda assim, na radiografia simples é possível observar alterações no contorno de partes moles e presença de esporão de calcâneo ou calcificações. Na ultrassonografia, apresentam-se áreas hipoecoicas, alargamento do tendão, rupturas de suas fibras e anormalidades ósseas. As opções de tratamento não cirúrgico da TPC incluem: identificação e correção dos fatores intrínsecos e extrínsecos, terapias físicas e uso de medicamento. Como fisioterapeutas, teremos como objetivo promover analgesia por meio de eletroestimulação e uso de gelo, corrigir a pronação anormal com prescrição de órteses e utilização de calçados adequados, aumentar a flexibilidade, fortalecer a musculatura e reestabelecer o equilíbrio corporal e retorno as atividades funcionais. Recomenda-se tratamento cirúrgico para pacientes com perda funcional completa e que não tenham obtido resposta às medidas conservadoras. Entre os procedimentos estão, tenotomias, tenoplastia, ressecção da tuberosidade posterior de calcâneo, entre outros. Observação Tenotomia: intervenção cirúrgica efetuada para realizar o corte de tendões. Tenoplastia: procedimento cirúrgico para enxerto de tendão. 7.3.3 Síndrome dolorosa plantar do calcâneo É uma síndrome dolorosa e degenerativa da fáscia plantar, mais conhecida como fascite plantar ou esporão do calcâneo, foi descrita inicialmente em 1812. 158 Unidade III Causa mais comum de dor na região de calcâneo em adultos de todas as idades, ativos ou sedentários. Em geral, apresenta-se unilateral, mas em menor caso pode envolver ambos os pés. É comum em atletas, principalmente corredores. Decorre de microrrupturas repetidas na origem da fáscia plantar na região da tuberosidade do calcâneo, gerando um processo degenerativo, resultando em fadiga, espessamento, esclerose e, em alguns casos, inflamação dos tecidos locais. De causa multifatorial, envolve microlesões na fáscia plantar, decorrentes de movimentos repetitivos de andar ou correr. As forças de tração durante a marcha possivelmente levam ao processo inflamatório inicial e posteriormente degenerativo e doloroso na porção medial da fáscia plantar. Os fatores de risco relacionados à síndrome dolorosa plantar do calcâneo (SDPC) são a redução da ADM de dorsiflexão do tornozelo, sobrepeso, sobrecarga na fáscia plantar associada à fraqueza muscular intrínseca do pé, alterações do arco plantar e pé, discrepância de membros, calçados inadequados. O diagnóstico envolve a história do paciente e os resultados do exame físico. Os sintomas são dor em “pontada” na sola do pé, ao redor da base do calcâneo e no arco, principalmente aos primeiros passos do dia ou após períodos sem descarga de peso, melhorando com a deambulação. Em alguns casos, quadro doloroso, pode persistir durante todo o dia. Durante a fase de contato total do pé ao solo, ocorre um aumento de tensão da fáscia devido à valgização de calcâneo, que faz aumentar a distância entre origem e inserções do tecido fascial. Exames por imagem podem mostrar calcificações adjacentes aos tecidos moles ou presença de esporão de calcâneo (figura seguinte). O estudo radiográfico dos pés é útil na determinação de ângulos e alterações estruturais, que são utilizados como importantes parâmetros na diferenciação entre normal e patológico. Medidas objetivas da disposição do arco longitudinal medial podem ser obtidas por goniometria, por meio das relações ósseas. A ultrassonografia possibilita a observação da hipocogenicidade e espessamento da fáscia, considerada normal entre 3-4 mm. Figura 115 – Indivíduo com fascite plantar, apresentando esporão de calcâneo e esporão posterior do calcâneo 159 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL O tratamento da fascite plantar pode ser cirúrgico ou conservador. O tratamento fisioterapêutico consiste no alívio dos sintomas e melhora do quadro patológico, reestabelecendo a função. Entre os diferentes recursos estão: uso de palmilhas, alongamento e fortalecimento muscular, eletroterapia, terapia manual, bandagens funcionais. Órteses para pés são frequentemente utilizadas no tratamento conservador da FP, com objetivos de corrigir alterações biomecânicas do pé que causam estresse excessivo à fáscia. São indicados diferentes tipos de órteses, como palmilhas com feltro e amortecedores. Enquanto houver inflamação, indica-se repouso e modalidades físicas apropriadas. A crioterapia é considerada um recurso de baixo custo e fácil aplicabilidade, o qual, por meio do resfriamento local, diminui a frequência de transmissão do impulso nervoso, reduzindo a sensibilidade dolorosa para o sistema nervoso central. Na fase subaguda, os exercícios terapêuticos são úteis para o aumento da flexibilidade e melhorado desempenho muscular. Nessa fase, você pode realizar massagem profunda, mobilizando a aponeurose plantar. Para a melhora do desempenho funcional, inicie com exercícios isométricos resistidos, progredindo para exercícios dinâmicos para tornozelo e pé em cadeia cinética aberta e fechada. Incluam exercícios de fortalecimento dos músculos intrínsecos do pé, como apanhar bolas de gude ou outros objetos pequenos com os artelhos. Oriente o paciente a rolar uma bola ou cilindro sob o arco longitudinal do pé alongando a fáscia plantar. Além do fortalecimento muscular, enfatize a resistência muscular a fadiga e tolerância a cargas excêntricas. A maior parte dos pacientes obtém resultados satisfatórios com o tratamento conservador, ainda assim, em caso de falha após 12 meses, considera-se a cirurgia. O tratamento cirúrgico consiste na liberação da fáscia plantar através de uma incisão abrangendo a porção medial da fáscia, por método endoscópico ou sua dissecação parcial. 7.3.4 Pé cavo Consiste na elevação exagerada do arco longitudinal do pé decorrente de flexão plantar rígida do primeiro raio associada ao varismo de retropé, adução de antepé e dedos em garra. Pode ocorrer em região de retropé, médio pé ou em ambos (figura seguinte). A etiologia do pé cavo pode ser dividida em doenças neurológicas, traumáticas, não neurológicas e idiopáticas. Apresenta intenso quadro álgico, atrofia dos músculos lumbricais, encurtamento do tendão de Aquiles, episódios recorrentes de entorse de tornozelo. Há comprometimento da capacidade de absorção de choque na articulação subtalar. Observação A instabilidade de tornozelo em decorrência do pé cavo pode estar relacionada a episódios de quedas. Além disto, a sobrecarga ao pé durante a marcha pode resultar em fasciíte plantar, calosidades, algias e fraturas por estresses em metatarsos. 160 Unidade III O arco longitudinal do pé desenvolve-se com o crescimento, tornando-se mais evidente a partir dos dois anos, altura em que começa a desaparecer a gordura do pé do recém-nascido. Figura 116 – Pé cavo. Área de contato no solo reduzida. Arco longitudinal médio alto As deformidades apresentadas podem variar de pés cavos leves com dedos em garras flexíveis até deformidades mais graves, com rigidez e distúrbios da marcha, conforme pode ser observado na figura a seguir. Figura 117 – Pé cavo-varo grave. Paciente cadeirante Pode ser classificado de acordo com as variações anatômicas apresentadas: • Pé normal discreto: antepé equilibrado, retropé neutro ou valgo. • Pé cavo-varo: antepé em flexão plantar, retropé varo. • Pé calcâneo-cavo: antepé equino rígido, retropé equino. 161 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL Na inspeção, observa-se atrofia dos músculos da perna e assimetrias do pé cavo e a presença do sinal “peek-a-boo” ou “sinal de Brian” (paciente com pés apoiados ao solo apresenta varo do retropé, caracterizando o pé cavovaro, funcionalmente mais rígido, como na figura a seguir). Figura 118 – Sinal de “peek-a-boo”. Visualização da parte medial de calcâneo em vista anterior de pé Para avaliação de força muscular, priorizam-se os músculos tibial anterior e posterior e fibulares longo e curto. Ao realizar o teste de força de tibial anterior, aplique resistência à região dorsal medial da parte anterior do pé em flexão plantar e eversão. Para avaliar a força muscular de tibial posterior, aplique resistência em eversão e dorsiflexão. Os fibulares longo e curto podem ser testados com o paciente em supino, com o pé sobre a borda da mesa e o tornozelo em posição anatômica. Aplique resistência à borda lateral da parte anterior do pé. Durante o exame físico, é importante avaliar a marcha do paciente. Observe se há presença de claudicação e/ou dificuldade em andar na ponta dos pés ou calcanhares, indicando fraqueza muscular. Observação Claudicação: comprometimento da capacidade de deambular, seja por dor, desconforto, dormência ou fadiga que piora progressivamente durante uma caminhada e é aliviado pelo repouso. O tratamento do pé cavo pode ser conservador, em casos leves, ou cirúrgicos, em casos mais graves. A prescrição de órteses tem objetivo de promover a redistribuição da pressão plantar durante a marcha. O tratamento cirúrgico consiste em alongamento do tendão de Aquiles, fasciotomias, osteotomias, transposições tendinosas e artrodeses. 162 Unidade III 7.3.5 Pé plano Representa a redução do arco plantar longitudinal associado à pronação da articulação talocalcaneonavicular. Pode haver, ainda, rotação medial da tíbia e valgismo da articulação de joelho, aumento de tensão dos ligamentos plantares e aponeurose plantar, causando assimetria de membro inferior. Pés planos e arco longitudinal reduzido são comuns em crianças. Em torno dos dez anos de idade, com o alinhamento normal dos membros inferiores, perda de gordura subcutânea de pés, redução da lassidão ligamentar e a distribuição equilibrada do peso corpóreo, os pés adotam um formato também “normal”, com o desenvolvimento do arco longitudinal plantar. Na maioria dos casos, é assintomático, sendo necessária avaliação abrangente na presença de dor, podendo estar relacionado a colisão tarsal, tálus vertical ou presença de osso navicular acessório. Durante a avaliação, considera-se pé plano flexível quando houver formação do arco plantar no momento que o paciente se mantém sobre as pontas dos pés. O pé plano rígido é incomum, apresentando-se com calcâneo em valgo e região mediotarsal pronada, ocasionando a luxação do navicular e tálus. A presença de deformidades congênitas pode causar pronação excessiva. Relacionando-se a displasias do quadril, antitorção de fêmur e joelhos em varo ou valgo. No exame radiográfico, observam-se alterações dos eixos, podendo ser demonstradas por ângulos traçados entre eles. Na vista anteroposterior, a subluxação de navicular e a pronação do calcâneo são evidenciadas pelo aumento dos ângulos talocalcaneano e talonavicular, respectivamente. O tratamento preconiza o restabelecimento do arco plantar, estacionar a progressão da deformidade e tratar sintomas quando presentes. A correção cirúrgica é indicada na persistência dos sintomas e deformidade após terapia conservadora, causando restrições a atividades cotidianas e desgaste irregular dos calçados (figura a seguir). A) B) Figura 119 – Pé plano. (A) Colapso do arco plantar medial. (B) Correção do arco após intervenção cirúrgica 163 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL 7.4 Distrofia simpático reflexa Você já ouviu falar em distrofia simpático reflexa? O termo síndrome da dor regional complexa (SDRC), proposto pela Associação Internacional para o Estudo da Dor em 1993, fornece terminologia descritiva com base em características clínicas, localização e especificidades da lesão, sem implicar mecanismo, causa ou manutenção simpática. A SDRC tipo 1 é aquela sem lesão nervosa conhecida, e a tipo 2, com lesão nervosa periférica. Distrofia simpático-reflexa (DSR) é um termo genérico usado para descrever a dor pós-traumática acompanhada de atividade autonômica inadequada e função prejudicada. As manifestações da SDRC são respostas normais a um insulto nocivo inicial que se prolonga anormalmente e persiste na ausência de dano celular em curso ou iminente. Na SDRC, uma série de eventos periféricos e centrais afeta o controle autônomo periférico, modifica a atividade do sistema nervoso central (SNC) e produz dor incapacitante, disfunção autonômica, alterações tróficas e comprometimento da função. A dor pode ser nociceptiva ou neuropática. A primeira se origina de uma fonte mecânica na ausência de uma lesão nervosa identificável. A dor neuropática emana de uma lesão ou disfunção de um nervo periférico combinada com alterações tróficas, disfunção autonômica e comprometimento funcional. Observação Sinônimos para síndrome da dor regional complexa: • Algodistrofia. • Atrofia aguda do osso. • Algoneurodistrofia. • Edema traumático crônico. • Causalgia maior.• Distrofia traumática maior. • Causalgia menor. • Distrofia traumática menor. • Neurodistrofia. • Distrofia neurovascular. • Osteoneurodistrofia. 164 Unidade III Embora a SDRC possa se desenvolver em qualquer paciente, mulheres brancas fumantes são afetadas com mais frequência. É comum que ela tenha início em indivíduos entre 30 e 55 anos de idade, mas indivíduos de qualquer idade podem ser afetados. A SDRC é observada frequentemente (20% a 40%) após fratura do rádio distal. Além disso, lesões nos seguintes nervos contribuem para o desenvolvimento da SDRC: o ramo cutâneo palmar do nervo mediano, o nervo mediano em qualquer nível, o ramo dorsal do nervo ulnar, o nervo radial superficial, o nervo ulnar no cotovelo e o nervo interósseo posterior. Fatores familiares ou genéticos são fatores de risco para a doença. 7.4.1 Diagnóstico Você sabia que não existem testes patognomônicos para SDRC? Isso mesmo, o diagnóstico é essencialmente clínico, feito em média de duas a 12 semanas após a lesão. A dor tem início na periferia, devido ao incidente nocivo; é influenciada por evento pós-traumático, é exacerbada por variáveis fisiológicas ou anatômicas e é determinada, em parte, por doenças congênitas ou fatores genéticos (SKIRVEN et al., 2011). Conforme estabelecido pela Associação Internacional para o Estudo da Dor, a atual nomenclatura recomendada é SDRC tipos I e II. A tipo I corresponde à DSR, e a tipo II se apresenta de maneira semelhante, mas com lesão de um nervo periférico ou ramo nervoso. Entre as categorias da SDRC, a dor é considerada como simpaticamente independente (DSI), ocorrendo no início da síndrome. A dor mantida simpaticamente (DMS), por outro lado, é definida como “um sintoma da SDRC e não uma entidade clínica” que ocorre após um tempo do início da síndrome. A SDRC possui critérios rígidos de inclusão que não abrangem a presença ou ausência da DMS. Veja a seguir os critérios diagnósticos da Associação para o Estudo da Dor para SDCR: • presença de um evento nocivo ou imobilização; • dor contínua e desproporcional, alodinia ou hiperalgesia; • evidência de edema, alterações no fluxo sanguíneo cutâneo ou atividade sudomotora anormal na região da dor em algum momento; • esse diagnóstico é excluído pela existência de uma condição que, de alguma forma, seria responsável pelo grau de dor e disfunção. Em um esforço para validar ainda mais o diagnóstico clínico da SDRC, foi realizada uma análise de fatores e novos critérios de diagnóstico foram propostos. Além da dor, quatro fatores sintomas e sinais foram identificados: sensorial, vasomotor, sudomotor-edema e motor-trófico. Pelo menos dois dos fatores devem ser evidentes no momento do exame e o paciente deve relatar a presença de pelo menos três dos fatores sintomas. Isso resultaria em uma sensibilidade de 0,85 e especificidade de 0,69 (SKIRVEN et al., 2011). Os fatores sinais e sintomas estão destacados no quadro a seguir. 165 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL Quadro 3 – Fatores sinais e sintomas Fator Sinais Sintomas Sensorial Hiperalgesia, alodinia ao toque leve, movimento, pressão profunda Hiperestesia/alodinia Vasomotor Assimetria de temperatura Alterações na coloração da pele Assimetria de temperatura/pele Alterações na coloração/assimetria Sudomotor/edema Edema, alterações na sudorese/assimetria Edema, hiperidrose Alterações na sudorese/assimetria Motor/trófico Redução da ADM, disfunção motora Alterações tróficas Redução da ADM, disfunção motora Alterações tróficas Recomenda-se que o examinador não diagnostique um paciente que relatou dor crônica como SDRC sem os achados indicados. A SDRC requer intervenção imediata a fim de minimizar alterações estruturais no membro e, consequentemente, recuperar a função o quanto antes. A taxa de recorrência é de 1,8%, e pode ocorrer espontaneamente ou pode estar relacionada a um segundo episódio traumático. Atrasos no diagnóstico e tratamento também podem aumentar a recorrência. 7.4.2 Sinais e sintomas O sintoma de dor é um pré-requisito da SDRC e geralmente é descrita como queimando, latejando, rasgando, cortando, penetrando. Os tipos característicos de dor na SDRC incluem hiperalgesia, alodinia e hiperpatia. A hiperalgesia, dor superior ao esperado para um determinado estímulo doloroso, é considerada primária quando afeta a área imediata ao redor da lesão. A hiperalgesia é denominada secundária quando causa desconforto distante da região que sofreu o trauma, proximal ou distal à área inicial da lesão. A dor secundária a estímulos normalmente não dolorosos é chamada alodinia. A hiperpatia é uma dor tardia que geralmente supera o estímulo inicial e se espalha para além dos limites dermatomais normais. A sensibilidade ao frio (uma resposta dolorosa à exposição ao frio) é comumente sentida por pacientes com SDRC. Vale ressaltar que alterações tróficas e vasculares são frequentes. As alterações tróficas associadas à SDRC incluem rigidez, edema e atrofia dos cabelos, unhas e pele. Pode ocorrer hiperceratose da pele. Os sintomas de disfunção vasomotora e/ou do sistema nervoso autônomo ocorrem em 80% dos pacientes. ADM reduzida, fraqueza muscular ou disfunção do movimento podem estar presentes. Os sintomas subjetivos de pacientes com SDRC podem ser quantificados pelo uso de instrumentos validados que avaliam dor, sensibilidade ao frio e dormência. Esses instrumentos incluem variações do Questionário de dor McGill, Carpal tunnel instrument, e McCabe cold sensitivity severitivity scale. A função do membro superior pode ser analisada usando a escala de função do Carpal tunnel instrument e o Disabilities of the arm, shoulder, and hand (Dash) da Academia Americana de Cirurgia Ortopédica. RAND desenvolveu o 36 item short form health survey, que pode ser usado para avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de pacientes com SDRC. Esse instrumento avalia os componentes físico, social e emocional; saúde percebida; satisfação geral com a vida; dor percebida; e desempenho no trabalho. 166 Unidade III Saiba mais Para saber mais sobre o 36-item short form health survey, leia: 36-ITEM short form health survey. Rand Health Care, [s.d.]. Disponível em: http://www.rand.org/health/surveys_tools/mos/mos_core_36item.html. Acesso em: 27 out. 2020. Para compreender melhor a nomenclatura, aí vai uma breve descrição: os sinais e sintomas da SDRC são dinâmicos (complexos), estendem-se além da área da lesão (regional), sempre incluem desproporção contínua (dor) e representam uma combinação de variáveis (síndrome). 7.4.3 Avaliação Não se esqueça de que o exame deve ser o mais completo possível, sem provocar dor, mesmo que isso exija atrasar alguns aspectos do exame. O exame físico deve incluir avaliação da coluna cervical, coluna torácica, cintura escapular, extremidade envolvida, membro contralateral e ambas as extremidades inferiores. É necessária uma avaliação neurológica cuidadosa para determinar a presença ou ausência de doença cervical discogênica ou degenerativa, neuropatia periférica, artrite e/ou artrofibrose. Restrição da ADM do ombro ou capsulite adesiva também são achados comum. Essa condição, frequentemente chamada de síndrome ombro-mão, afeta negativamente a qualidade de vida relacionada à saúde, requer modalidades específicas de tratamento e geralmente é ignorada se não houver um exame cuidadoso do ombro. A extremidade envolvida deve ser avaliada quanto à sensibilidade, hiperpatia, alodinia, alteração da coloração, edema, atrofia, tônus vasomotor e autonômico, função neurológica, condição vascular, preensão e pinça (SKIRVEN et al., 2011). Além disso, qualquer foco nociceptivo deve ser observado. A reavaliação após ou durante o tratamento pode revelar achados adicionais, facilitar a identificação de áreas desencadeantes ou delinear processos inflamatórios subjacentes e esclarecer qualquer lesão estrutural. Se essas condições forem corrigíveis, seu tratamento poderá ter um impacto positivono resultado. A avaliação da dor deve incluir o uso de um diagrama corporal indicando áreas e tipos de dor, se é constante ou intermitente, superficial ou profunda, aplicação do Questionário de dor McGill para avaliação qualitativa e escala analógica verbal ou visual para avaliação quantitativa. O exame da função do nervo periférico deve incluir testes de limiar sensorial (monofilamentos) e discriminação de dois pontos para identificar áreas com resposta alterada. O teste com monofilamentos não deve ser realizado nos casos de extrema hipersensibilidade, pois ele pode aumentar a alodinia. O teste sensorial para esses casos incluiria observar a distribuição dos sintomas e a resposta ao toque leve. O exame do nervo periférico também inclui avaliação neurodinâmica. É importante que fiquemos atentos à presença de fibrose da pele, alterações vasomotoras, alterações nos tecidos conjuntivo e esquelético, alterações tróficas como crescimento do cabelo, temperatura, cor e textura da pele, alterações sudomotoras como hipoidrose ou hiperidrose, alterações vasomotoras como 167 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL edema, calor, rubor (vasodilatação), palidez e frio (vasoconstrição), lembrando sempre de comparar com o membro contralateral. O paciente pode apresentar-se com vasodilatação, vasoconstrição ou uma combinação de ambos a qualquer momento. Conforme a tolerância do paciente permitir, devemos avaliar a coluna cervical e torácica. Força muscular deve ser verificada com teste muscular manual ou dinamômetro de preensão e pinça se o paciente tolerar. Palpação pode ser realizada para verificar presença de fibrose e disfunção miofascial. É recomendada a mensuração da ADM com goniômetro. A história, a dor e o exame físico estabelecerão o nível de irritabilidade ou sensibilidade do tecido, o que possibilita a criação de diretrizes para formulação de um plano de tratamento. Os sinais e sintomas do paciente podem ser variáveis, por isso reavaliações frequentes são importantes. Já que não existe marcador patognomônico para SDRC, recomenda-se a realização de testes para aumentar e/ou quantificar achados clínicos, como, por exemplo, instrumentos validados que avaliam a qualidade de vida, função e sintomas relacionados à saúde. Combinadas com um exame padronizado, essas informações fornecem dados reprodutíveis e quantificáveis. Testes são capazes de fornecer uma análise da integridade anatômica, desempenho fisiológico e capacidade funcional, o que orienta as decisões de tratamento. Testes padronizados podem ser usados para avaliar a densidade óssea e presença de osteopenia, desempenho sudomotor, controle vasomotor e termorregulador, componentes do fluxo sanguíneo, força e resistência musculares. Radiografias podem ser úteis para avaliar a osteopenia, que está presente em 70% a 80% dos pacientes com SDRC (SKIRVEN et al., 2011). 7.4.4 Reabilitação Dos pacientes com SDRC tratados no primeiro ano de lesão, 80% irá apresentar melhora significativa, enquanto, após esse período, apenas 50% evoluirá com melhora. No entanto, pacientes com SDRC após fratura do rádio distal apresentam pior prognóstico. Embora a intervenção precoce seja importante, nem sempre é possível, e muitos pacientes são tratados inadvertidamente antes do diagnóstico (SKIRVEN et al., 2011). O tratamento eficaz da SDRC requer reconhecimento e intervenção imediata. O grau de contratura dos tecidos moles deve ser avaliado porque os pacientes com artrofibrose e atrofia significativas geralmente sofrem alterações tróficas irreversíveis, que indicam um prognóstico menos favorável. Técnicas de modulação da dor usadas na terapia da mão incluem banhos de contraste, dessensibilização, uso de órtese, eletroterapia e ultrassom. O edema pode ser controlado com drenagem linfática ou técnicas de compressão. O tratamento da síndrome da dor regional complexa (SDRC) de tipos I e II é desafiador. O termo “distrofia simpática reflexa” implica que o sistema nervoso simpático esteja envolvido, mas isso ainda não foi comprovado. Existe uma escassez de ensaios clínicos randomizados que avaliem a eficácia da intervenção terapêutica, mas a grande maioria dos estudos fala sobre a necessidade dessa intervenção. Por meio 168 Unidade III do exame, conseguimos determinar a irritabilidade dos tecidos envolvidos do paciente e formular um plano de tratamento. Não existe um tratamento padrão, a reabilitação requer raciocínio clínico, observação frequente, avaliação da resposta do paciente a tratamentos anteriores e avaliação do nível de irritabilidade dos tecidos (SKIRVEN et al., 2011). Como a condição vasomotora é instável, devemos tentar identificar o estado vasomotor atual (em cada sessão de tratamento) e evitar exacerbá-lo. Portanto, pacientes que se apresentam com a mão quente, vermelha e edemaciada devem ser submetidos a técnicas que promovam vasoconstrição, enquanto pacientes que se apresentam com a extremidade fria e pálida devem ser submetidos a técnicas que promovam vasodilatação. A presença do edema dificulta a movimentação do membro e ocasiona remodelamento do colágeno em uma posição de encurtamento, o que gera perda permanente de movimento. A fibrose aumenta por causa do comprometimento do fluxo vascular, criando hipóxia tecidual e maior permeabilidade celular, estagnando fluidos intersticiais que contêm grandes quantidades de proteína. Portanto, na presença de edema, são necessárias medidas para combatê-lo. A elevação da mão acima do nível do coração é um dos métodos mais simples e eficazes de controle do edema. Ela diminui a pressão hidrostática arterial e auxilia na drenagem linfática e venosa, resultando em diminuição do volume intersticial. Cuidado deve ser tomado para que o posicionamento em elevação não cause desconforto, lembrando que o uso de tipoia deve ser evitado em pacientes com SDRC como forma de diminuir o edema. Nós recomendamos, frequentemente, elevação combinada com exercício ativo para minimizar edema. Exercícios ativos envolvendo toda a extremidade superior na ADM sem dor devem ser iniciados precocemente, para ajudar na redução do edema e na diminuição da rigidez. Deslizamento diferencial dos tendões está indicado. Movimentos agressivos resultam em reatividade articular, aumento de edema e rigidez progressiva, por isso devem ser evitados. Nos pacientes com mãos vermelhas, edemaciadas e quentes, recomenda-se também crioterapia (compressas frias ou banhos de imersão a 18° C por 10 a 15 minutos). Outra técnica que pode ser aplicada é a drenagem linfática manual, já que ela diminui o volume de líquido intersticial. É importante manter continuamente contato com a pele do paciente, evitando estimulação tátil intermitente. Quando o paciente se apresentar com a extremidade fria e pálida (vasoconstrição), devemos utilizar recursos que promovam aumento da circulação, como ultrassom, compressas quentes, parafina ou exercícios aeróbios. Caso a hipersensibilidade do paciente não permita a aplicação direta de recursos térmicos, recomenda-se aplicar no membro contralateral ou realizar imersão do corpo todo. É importante não só reconhecer o estado vasomotor do paciente em cada sessão, como também educar o paciente para reconhecê-lo. Além disso, todas as modalidades usadas para aumentar a vasodilatação devem ser seguidas por algum exercício ativo para a extremidade envolvida. É importante ressaltar a importância de reconhecer os aspectos emocionais e psicológicos do paciente com DSR. É comum que esse paciente tenha dor relacionada ao medo de realizar alguma atividade, e isso pode ser mais incapacitante do que a própria dor. 169 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL Trata-se de uma doença que reduz a qualidade de vida, principalmente por muitos pacientes negligenciarem o uso do membro envolvido nas atividades diárias. Quanto mais comprometidas ADM e força, menor é a utilização do membro para atividades. O tratamento da dor é primordial, por isso, antes que qualquer progresso possaser alcançado, a dor deve diminuir. A modulação da dor pode ser obtida por meio do tratamento das alterações teciduais, recursos analgésicos como termoterapia, ultrassom na área afetada ou no trajeto dos nervos periféricos e exercício ativo, que pode contribuir para diminuir o desconforto do paciente por meio da estimulação opioide ou ativação das fibras aferentes de maior diâmetro. Existem poucas evidências que apoiem o uso de recursos eletroterapêuticos no tratamento de pacientes com SDRC (SKIRVEN et al., 2011). É de extrema importância que não façamos nenhum procedimento que aumente a dor do paciente durante o tratamento. Para determinar uma redução significativa da dor em pacientes com SDRC I, Forouzanfar et al. (2003) estudaram 52 pacientes e mediram suas respostas na EVA e no perceived global effect score. Os autores determinaram que uma redução significativa da dor era pelo menos uma redução de 50% e uma redução de 3 cm na escala visual analógica. Além disso, é necessário ter esse nível de redução da dor para que os pacientes relatem um tratamento bem-sucedido. Você já ouviu falar sobre terapia de espelho? Ela é recomendada para auxiliar na reorganização do córtex somatossensorial de pacientes com SDRC. A técnica faz uso de um espelho para simular o movimento do membro afetado usando a reflexão do membro não afetado durante a execução de movimentos específicos. A) B) Figura 120 – Terapia do espelho Nos casos de hiperestesia ou alodinia, deve ser introduzida dessensibilização com uso de texturas, percussão, pressão e vibração, respeitando-se a quantidade e o tipo de estimulação tátil que o paciente é capaz de tolerar sem exacerbação da dor. Devemos iniciar a dessensibilização fora da área de hipersensibilidade e trabalhar progressivamente em direção à área de maior sensibilidade. Estímulos intermitentes ou cíclicos devem ser evitados, ou seja, o terapeuta deve manter continuamente o contato do estímulo com a pele do paciente. Não se esqueça de que a massagem também faz parte de um programa de dessensibilização. Quando o paciente não conseguir tolerar dessensibilização na extremidade afetada, estimular a mesma área na 170 Unidade III extremidade não afetada pode ajudar a diminuir a sensibilidade e a reorganização cortical. Isso pode ser combinado com a terapia do espelho. Caso o tratamento com dessensibilização não funcione, é preciso proteger as áreas hipersensíveis com órtese protetora ou luvas acolchoadas para que os pacientes consigam realizar atividades funcionais. Quando você estiver diante de uma rigidez articular, é importante lembrar que ela deve ser combatida com mobilização de toda a extremidade superior, incluindo a coluna cervical e torácica. Além disso, exercícios ativos e atividades funcionais são extremamente importantes para manter o nível de cooperação e motivação do paciente. Atividades que envolvam ambos os membros superiores como empurrar ou puxar objetos, por exemplo, devem ser incentivadas porque representam uma forma de assistência ativa. O uso de órtese pode ser benéfico para minimizar rigidez articular e contratura. Órtese dinâmica pode ser usada de modo intermitente ao longo do dia e não deve atrapalhar a realização de atividades funcionais. Para auxiliar no controle do edema e da dor, uma órtese de repouso para o punho ou para o punho e a mão pode ser útil. Órtese estática deve ser utilizada durante a noite, principalmente para auxiliar na manutenção da posição funcional das articulações, portanto o punho deve ser mantido em extensão de 20°, polegar em abdução palmar, metacarpofalangeana com flexão de 70°, interfalangeanas entre 0° e 10°. Conforme a dor for reduzindo e as deformidades articulares se tornarem mais isoladas, órteses seriadas podem ser indicadas para ganho progressivo de ADM. Essa órtese deve ser usada durante a noite e por períodos prolongados, baseando-se nos princípios do alongamento prolongado de baixa carga. Quando o paciente estiver com o sintoma de dor controlado, devemos iniciar exercícios passivos como, por exemplo, mobilização articular para ganho de ADM. Mobilização é contraindicada se houver necessidade de colocar as mãos em áreas de hipersensibilidade ou alodinia. A combinação de calor superficial e alongamento passivo e suave é mais eficaz no aumento da extensibilidade do tecido quando a temperatura do tecido é superior a 40 °C (SKIRVEN et al., 2011). Imediatamente após, enquanto os tecidos ainda estiverem aquecidos, o fisioterapeuta deve realizar exercícios, técnicas ou propor atividades que minimizem a rigidez da mão. Observação Cafeína e nicotina aumentam a vasoconstrição. Álcool aumenta a vasodilatação. 8 AMPUTAÇÃO Consiste na retirada total ou parcial de um membro, sendo este um método de tratamento para diversas doenças. A cirurgia de amputação tem por objetivo retirar o membro acometido e criar perspectivas para a melhora da função da região amputada. A técnica mais antiga de amputação é atribuída a Hipócrates, 171 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL que foi o primeiro a usar ligaduras. Entretanto, o método se perdeu, sendo reintroduzido por Ambroise Paré, em 1529. No mesmo período, foi iniciada a utilização de fórceps arterial, reduzindo a mortalidade e resultando em um coto mais funcional. Avanços nas técnicas cirúrgicas possibilitaram mais resultados com as amputações, como a introdução do torniquete por Morel, em 1674, e da assepsia pelo Lord Lister, em 1867. Outro grande marco na evolução dos tratamentos cirúrgicos foi o advento da anestesia geral no século XX. Após as duas Grandes Guerras Mundiais, foi criado, nos Estados Unidos em 1940, o Comitê de Membros Artificiais. Deve ser ressaltado que o grande número de amputações secundárias a traumas em campo de batalha alavancou o desenvolvimento de novas tecnologias para protetização de amputados (BRASIL, 2016). 8.1 Etiologia Estima-se que 85% das amputações ocorrem nos membros inferiores, em 2011, 94% das amputações realizadas pelo Sistema Único de Saúde foram de membros inferiores. A incidência de amputações de membros é de 13,9 por 100 mil habitantes/ano. De modo geral, são identificadas três causas principais: vasculares, traumáticas e congênitas. A etiologia frequente de amputação de membro inferior é de complicações geradas por doenças crônicas degenerativas e, geralmente, ocorrem nos idosos (BARBIN, 2017). As amputações por causas traumáticas prevalecem em acidentes de trânsito e ferimentos por arma de fogo, sendo essa a segunda maior causa. O trauma é responsável por cerca de 20% das amputações de membros inferiores, sendo mais prevalente em homens. Podem ser classificadas de acordo com sua etiologia em três tipos. Nas congênitas, o paciente já nasce com ausência de um membro ou parte dele. As traumáticas são causadas por traumas violentos. As vasculares são decorrentes de doenças circulatórias, tumorais ou infecciosas. As amputações de membros superiores raramente são causadas por patologias vasculares. As causas mais frequentes são as traumáticas, causadas por acidentes de trabalho. As amputações traumáticas são realizadas principalmente em adolescentes e adultos jovens. 8.2 Níveis de amputação O membro residual de amputação é denominado coto. O coto de amputação é considerado um novo membro, sendo o responsável pelo controle da prótese durante o ortostatismo e a deambulação. Ao eleger uma amputação, deve-se ter cuidado ao considerar o nível da amputação (figura seguinte). Um nível adequado é aquele que possibilita a adaptação a uma prótese funcional, considerando a idade, etiologia e a necessidade da amputação. Amputações realizadas ao nível dos maléolos possibilitam ao paciente permanecer períodos longos de pé ou em movimento, devido ao aumento da base de sustentação promovido pelo uso da prótese. Em amputações acima do joelho, os níveis médio e proximal do fêmur são os selecionados, por oferecerem melhor capacidade de adaptação à prótese. Desarticulações devemsempre ser consideradas como última opção. 172 Unidade III Membro superior: 1. Desarticulação do ombro 2. Transumeral 3. Desarticulação do cotovelo 4. Transradial 5. Desarticulação do punho 6. Transcarpal Membro inferior: 1. Hemipelvectomia 2. Desarticulação do quadril 3. Transfemural 4. Desarticulação do joelho 5. Transtibial 6. Desarticulação do tornozelo 7. Syme 8. Parcial do pé Figura 121 – Níveis de amputação para membro superior e inferior 8.3 Amputação de membro superior Conheça, a seguir, as possíveis amputações de membro superior. • Hemiescapulotomia: retirada da escápula e da clavícula homolateral e consequentemente de todo o membro superior. Importante prevenir alterações posturais, principalmente escoliose. • Desarticulação do ombro: retirada total do úmero, preservando a integridade da clavícula e escápula. É a retirada completa do membro superior. • Transumeral: ocorre entre a articulação do ombro e o cotovelo, podendo ser a nível proximal, medial ou distal. A amputação acontece na articulação do cotovelo e ombro. • Desarticulação do cotovelo: retirada total dos ossos do antebraço, rádio e ulna, preservando a integridade distal do úmero. É uma amputação em que se retira toda a parte da articulação do cotovelo para baixo, preservando o úmero por completo. • Transradial: é a secção óssea entre a articulação do cotovelo e do punho. Pode ser proximal, média ou distal. 173 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL • Desarticulação do punho: retirada total da mão, preservando a integridade distal dos ossos do antebraço, rádio e ulna. • Transcarpiana: retirada de uma das partes das diáfises dos metacarpos. 8.4 Amputação de membros inferiores Agora, veremos as amputações de membro inferior. • Interfalangeana: nível da articulação interfalangeana distal ou proximal. Preconiza-se manter a base da falange proximal devido à inserção dos tendões extensor e flexor curto dos dedos. Normalmente não apresenta problemas funcionais e estéticos. • Metatarsofalangeana: desarticulação entre a falange proximal e o metatarso. A superfície cartilaginosa é retirada e os tendões flexores e extensores são fixados ou suturados no metatarso. A amputação do hálux não inviabiliza a marcha próxima do normal, porém ocasiona perda da impulsão, importante para a corrida ou andar em ritmo mais acelerado. • Transmetatarsiana: retirada do primeiro ao quinto metatarso. A marcha é prejudicada na fase de desprendimento do pé. Amputações mais proximais resultam em prejuízo da deambulação devido à perda do apoio e do impulso. Amputações do retropé ou tornozelo são mais funcionais, sendo indicados nos casos de pacientes diabéticos ou pós-traumatismos. • Amputação de Lisfranc: desarticulação ao nível da articulação tarso-metatarsiana. Pode resultar em deformidade no equino, em decorrência da perda da inserção dos tendões dos músculos dorsiflexores do tornozelo, dificultando a protetização. • Amputação de Chopart: desarticulação na articulação mediotársica, na junção entre os ossos navicular e cuboide com o tálus e o calcâneo. O coto comumente forma um curto braço de alavanca, evoluindo para deformidade em equino do tornozelo e consequente redução da área de apoio. • Amputação de Syme: desarticulação tibiotársica, seguida de uma secção óssea abaixo dos maléolos tibial e fibular, preservando a sindesmose tibiofibular. Permite descarga distal de peso sobre o coto e a presença de espaço entre o coto e o solo possibilita protetização. Permite ainda deambulação sem auxílio de prótese, porém gerando encurtamento do membro amputado. A desvantagem desse nível é estética, devido ao aumento do volume distal. • Amputação de Pirogoff: similar à amputação de Syme, porém realiza-se uma artrodese entre a tíbia e o calcâneo, sendo este seccionado verticalmente para elevar sua parte posterior, com rotação de 90°, de modo a gerar um encontro com as superfícies da tíbia. Produz um espaço entre o coto e o solo menor que a amputação de Syme. Permite protetização, porém com menor funcionalidade. • Amputação de Boyd: consiste em uma osteotomia vertical do calcâneo, na qual os ossos do tarso são removidos, exceto o tálus e o calcâneo. 174 Unidade III • Amputação transtibial: entre a desarticulação de tornozelo e a desarticulação do joelho. Podendo ser nos níveis: proximal, medial e distal. A amputação no terço distal permite bom controle da prótese, por possuir um braço de alavanca mais longo. • Desarticulação do joelho: retirada total de tíbia e fíbula, preservando a integridade óssea distal do fêmur. Pode ou não ocorrer à preservação da patela. • Amputação transfemoral: entre a desarticulação do joelho e do quadril, podendo também ser dividida em terço proximal, médio e distal. Pode ocorrer deformidade em flexão e abdução do quadril, que é maior quanto mais curto for o coto de amputação, devido à secção dos músculos adutores, prevalecendo, assim, a força dos abdutores. • Desarticulação sacroilíaca: remoção de metade da pelve e de todo membro inferior homolateral. A descarga de peso nesse tipo de amputação é feita no ísquio contralateral à amputação e à região torácica. 8.5 Principais complicações As principais complicações são listadas a seguir. • Membro fantasma: consiste na sensação não dolorosa do membro amputado imediatamente após a amputação, sendo descrita pelo paciente como uma pressão, formigamento, dormência, posição do membro ou temperatura. Deve ser diferenciada da dor fantasma, que é uma sensação dolorosa do membro amputado. • Dor fantasma: sensação dolorosa do membro ausente, geralmente localizada em região distal devido à grande representação cortical. Essas sensações são relatadas como disparos dolorosos, apertos, dormência, câimbras e queimações. Alterações do sistema nervoso central são apontadas como principal mecanismo envolvido nesse fenômeno, porém mecanismos periféricos e psicológicos podem estar relacionados. • Neuromas: formação bulbosa que se forma em um nervo lesionado, como resultado de uma regeneração desorganizada de axônios após lesão parcial ou completa. O neuroma torna-se doloroso quando esse tecido desorganizado, frequentemente envolvido por tecido fibrocicatricial, é estimulado por pressão, tensão e/ou hipóxia. • Edema: o edema está presente na maioria dos pacientes amputados que ainda não foram protetizados, impossibilitando a confecção de um encaixe adequado para a protetização. A principal localização do edema é na porção distal do membro devido a infecções e processos inflamatórios. 8.6 Avaliação Envolve a identificação da capacidade funcional, barreiras e facilitadores para a realização das atividades de vida diária e laborais. O exame físico deverá descrever as características do membro amputado e do membro contralateral. Os membros não acometidos por amputação devem ser avaliados 175 FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA FUNCIONAL quanto à presença de lesões osteoarticulares, neurológicas ou vasculares que possam comprometer a marcha ou dificultar o manuseio das próteses, órteses e meios auxiliares de locomoção. A avaliação sensorial também tem importância no processo de reabilitação, pois muitos dos pacientes idosos amputados apresentam alterações visuais, como catarata e retinopatias, que interferem diretamente no progresso do tratamento. As alterações proprioceptivas comprometem o esquema e a percepção corporal do indivíduo e, por isso, prejudicam também na reabilitação. E, por fim, há o distúrbio auditivo, que pode contribuir com acidentes por falta de percepção de perigo. Podemos classificar o coto de acordo com seu comprimento em terço proximal, medial ou distal, analisado de forma comparativa em relação ao membro contralateral. Quadro 4 – Medição do coto de amputação Nível Pontos de medição Transumeral Articulação acrômio clavicular até a extremidade do coto Transradial Prega anterior do cotovelo até a extremidade do coto Transfemoral Espinha ilíaca anterossuperior (Eias)
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