Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NEFROPATIA DIABÉTICA Nefropatia diabética é uma síndrome clínica caracterizada pela presença de proteinúria superior a 500mg/24h, em pacientes com DM de longa duração (superior a 10 anos), acompanhada de retinopatia diabética e HAS. O diagnóstico é clínico e baseado na presença de albuminúria, queda da TFG ou ambos. Não há, ainda, um padrão patológico específico. Atualmente o nome mais adotado para a doença é “doença renal no diabetes”, que é uma expressão focada no comprometimento relacionado ao DM1 e DM2. Já o termo nefropatia diabética deve ser reservado aos pacientes com proteinúria detectável, persistente e geralmente associada à HAS. É uma das principais causas da síndrome nefrótica, doença renal crônica, amputação não-traumática e cegueira em vários países do mundo, e esses pacientes ainda possuem alto risco cardiovascular, sendo, esta, a maior causa de morte nessa população. No Brasil, entretanto, a principal causa de IRC é HAS. Já os diabéticos correspondem a 35% dos pacientes que necessitam de TRS – Terapia Renal Substitutiva (diálise ou transplante renal). PACIENTES COM NEFROPATIA DIABÉTICA APRESENTAM • Microalbuminúria + alterações glomerulares; • Proteinúria > 500mg/24hrs sem patologia associada (atribuída apenas ao DM); • Aumento da mortalidade principalmente insulino-dependente FATORES DE RISCO • História familiar de nefropatia diabética; • HAS (talvez a pressão seja o principal fator de evolução/piora da doença); • Dislipidemia; • Retinopatia: não é um fator de risco, é um marcador de complicação – um paciente que tem retinopatia é muito comum que tenha lesão renal; “A retina é um espelho do rim”; DM1: 90% dos que tem lesão renal tem retinopatia. DM2: 60-70%; Lembrar que é uma doença vascular. • Níveis de hemoglobina glicada, pois estes refletem o controle glicêmico dos pacientes; • História neonatal de baixo peso (têm mais chance de ter doenças renais no futuro); • Tabagismo. EPIDEMIOLOGIA • Os pacientes com DM 1 evoluem mais para DRC (20-40%), sendo mais frequente em homens (1,7:1,0). o Incidência cumulativa em 25 anos = 21%, declinando a partir daí para 10% • Nos pacientes com DM 2, 10-20% evoluem com comprometimento renal, sendo a progressão para DRC variável (dependendo do momento do diagnóstico, intervenção, aderência ao tratamento, entre outros fatores. Considerando que 90% dos pacientes são diabéticos tipo 2, em número absoluto tem- se mais DRC por DM2; • Após 10 anos de doença, cerca de 16% dos pacientes vão ter proteinúria clínica persistente; • Sobrevida após 10 anos é 50% da observada em normoalbuminúricos devido a causas vasculares. TIPOS DE DIÁLISE • Hemodiálise; • Diálise peritoneal. CAUSAS DE DRC NO BRASIL • HAS (35%); • DM (30%); • Glomerulonefrite crônica; • Doença renal policística; • Outras causas. FISIOPATOLOGIA No início, a taxa de filtração glomerular é aumentada, com consequente hiperfiltração. Em seguida o paciente começa a ter microalbuminúria progressiva com diminuição da TFG*, até chegar na doença renal em estágio final. *Começa a ter os sinais de hipofiltração: náuseas, vômitos, alterações no metabolismo do cálcio e do fósforo que cursa com hiperparatireoidismo e anemia pela deficiência de eritropoietina. Há 3 fatores influenciadores da patogênese: fatores metabólicos, fatores hemodinâmicos e fatores genéticos, que não são isolados, se interligam. FATORES METABÓLICOS � Via dos polióis • Hiperglicemia ativa a aldose redutose: transforma glicose em sorbitol; • Sorbitol aumentado → estresse hiperosmóQco → dano celular → no caso do rim, leva ao aumento dos podócitos corticais renais; • Aldose redutase aumentada → aumenta produção de prostaglandinas vasodilatadoras → alterações hemodinâmicas; • Há acúmulo de sorbitol nos tecidos, incluindo túbulos renais e glomérulos, alterando a osmorregulação celular, estimulando a proteína cinase C e agindo na patogênese da ND. � Glicosilação não enzimática • Hiperglicemia crônica → glicosilação não enzimática de proteínas plasmáticas e teciduais → aumento de PGA (produtos de glicosilação avançada), que leva a dano tecidual; • No rim, causa alterações quantitativa e qualitativa nos componentes da matriz celular (altera o mesângio); há aumento da matriz extracelular e maior presença de fibronectina e colágeno IV; • Os produtos finais da glicosilação não-enzimática se acumula nos tecidos e nas paredes dos vasos, ligam-se à receptores em macrófagos (RAGE), células endoteliais e mesangiais, induzindo a síntese e secreção de citocinas e ativando processos inflamatórios. Todos esses fatores associados levam à glomerulosclerose. � Dislipidemia. � Citoquininas e Hormônios (TGF-beta-1, AII, IGF-1, GH) que ativam processos inflamatórios. � Aumento do estresse oxidativo • Há aumento na produção de espécies reativas de hidrogênio (ânion superóxido e peróxido de hidrogênio) e redução da metabolização do sistema de defesa antioxidante (desmutase superóxido e peroxidases). � Ativação de processos inflamatórios • Ativação do fator nuclear kapa-b (NF-KapaB) > estímulo de diversas citocinas inflamatórias e infiltração tecidual de macrófagos. FATORES HEMODINÂMICOS → Hiperfiltração glomerular Fatores envolvidos: Metabólicos: hiperglicemia e hiperlipidemia Hormonais: protaglandinas, glucagon, GH, PNA (peptídeo natriurético atrial) e SRAA Nutricionais: proteínas (por isso se diz para não comer muita proteína, pois esta leva à hiperfiltração) MECANISMO Vasodilatação da arteríola aferente → Aumento da pressão glomerular/capilar sem queda da resistência pós-capilar (a arteríola eferente não dilata*) por aumento da angiotensina II intrarrenal → Hiperfiltração glomerular → Dano ao capilar, altera a permeabilidade da membrana e, com o tempo, há esclerose do glomérulo. O aumento da pressão sobre as células glomerulares leva também ao aumento de matrix (TGFB-1). *Pois a angiotensina faz sua vasoconstricção. *Para diminuir a pressão intraglomerular, pode-se usar IECA ou BRA pois estes inibem a vasoconstricção da arteríola eferente. Ocorre também, devido à hiperfiltração, passagem de macromoléculas → se depositam no mesângio → espessamento da membrana basal glomerular → alteração da permeabilidade da membrana. De forma geral, teremos vasodilatação da arteríola aferente e vasoconstricção da arteríola eferente. Portanto, a nefropatia diabética é uma doença glomerular, que vai cursar inicialmente com hiperfiltração e no final leva à uma glomeruloesclerose. CASCATA DO SRAA IECA ou BRA: melhora a hemodinâmica renal pois abre a arteríola eferente e também diminui a proteinúria → Redução da progressão e estacionar a doença *Via AT1 Receptor, atua em: Hipertensão: vasoconstrição, retenção de Na, secreção de aldosterona, proliferação vascular ICC: vasoconstrição, sobrecarga de volume, estimulação simpática, remodelamento Pós IAM: remodelamento (produção de AII local) Nefropatia diabética: piora da hemodinâmica renal + albuminúria. FATORES GENÉTICOS Já se conhece algumas alterações genéticas, mas isso ainda não é utilizado na clínica: • Polimorfismo do gene da ECA (DD): fator de risco através da modulação da hemodinâmica renal (pessoas resistentes a IECA e BRA). • Alterações bioquímica da matriz extracelular → diminuição dos GAGs (glicosaminoglicanos) que são responsáveis pela eletronegatividade da membrana que repele albumina → mais albuminúria. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Na história da doença atual, que vai desde a clínica do diabetes até a doença renal crônica, o risco de morte cardiovascular está sempre presente e aumentado. A DRC, independente se diabética ou não, a mortalidade cardiovascular é altíssima. Doença cardiovascular é a principal causa de mortalidade em pacientes dialíticos (antigamente era infecção). Estágio 1: hiperfiltração,hipertrofia renal e aumento da taxa de filtração glomerular. *Na DRC geralmente há uma diminuição do volume renal, mas na DM ocorre o contrário. *Doenças que tem rim de tamanho normal (não contraído): mieloma múltiplo, esclerodermia e diabetes. Estágio 2: clinicamente silencioso, alterações histológicas (espessamento da membrana basal e aumento do volume mesangial relativo). Estágio 3: (onde geralmente é feito o diagnóstico) • Nefropatia incipiente: presença de Malb • Surgimento de hipertensão arterial • Redução da filtração glomerular Estágio 4 • Início e estabelecimento da nefropatia diabética • Aumento progressivo da proteinúria com diminuição da TFG (10ml/min/ano) *Dialisa quando TFG < 15 ml/min/ano. O diabético entra mais cedo em diálise, pois ele começa a ficar sintomático, vomitar e ter fastio, ficando desnutrido (é muito difícil um paciente diabético recuperar massa) Ocorrência de síndrome nefrótica (secundária) Estágio 5: Doença renal crônica terminal *Neste caso, o tratamento é Terapia Renal Substitutiva (o ideal é transplante de rim e pâncreas) PATOLOGIA LESÃO GLOMERULAR � Glomeruloesclerose diabética (vista na biopsia) Ocorre expansão acelular da matriz mesangial, formando um deposito de material amorfo PAS positivo (se cora pelo PAS). A depender como o material se deposita, é classificada em: Nodular: Nódulos de Kimmelstiel-Wilson (mais específico). Difusa: mais frequente. Exsudativa – fibrin cap (depósito de material eosinofílico entre endotélio e MBG) ou capsular drop (cápsula de Bowman). *O acometimento principal da diabetes é a glomeruolopatia. *Parede espessada com deposito de substância hialina. LESÃO TÚBULO-INTERSTICIAL Se o paciente está perdendo proteína, com o tempo o túbulo que está tentando reabsorve-las vai ser lesado, levando a isquemia túbulo-intersticial – atrofia tubular e fibrose intersticial. LESÃO VASCULAR Arterioesclerose hialina: afeta a arteríola eferente (deposita no vaso uma substância hialina) – hialinização da arteríola eferente. *Se há alteração vascular, é um fator para esses pacientes se tornarem hipertensos. *Na hipertensão ela poupa a arteríola aferente. IF: depósito linear de IgG e albumina na MBG, MBT e cápsula de Bowman ME: espessamento MBG; aumento progressivo do mesângio DIAGNÓSTICO Fase inicial: geralmente não é feito o diagnóstico Microalbuminúria – fase incipiente: onde muitas vezes é feito o diagnóstico É uma quantidade pequena de albumina que no exame normal (proteinúria de 24 horas) não é detectado Proteinúria ou nefropatia crônica Estágio Urina 24 horas (mg/24h) Amostra isolada de urina – Relação albumina/creatinina (mg/g) Normoalbuminemia < 30 < 30 Microalbuminemia 30-300 30-300 Macroalbuminemia > 300 > 300 *Na macroalbuminúria já pede proteinúria de 24 horas (O parâmetro da proteinúria é > 500, pois nestes estão incluídos outras proteínas além da albumina – 2/3 são de albumina) RASTREAMENTO DA NEFROPATIA DIABÉTICA • DM 1: após 5 anos de doença (exceto pacientes na puberdade ou persistentemente descompensados). • DM 2: logo após o diagnóstico. O seguimento de ambas deve ser ANUAL. *Tem que ter pelo menos 2 de 3 Malb positivas para considerar microalbuminúria, pois existem algumas situações que alteram a Malb, como DM descompensado (colher a Malb só quando compensado), hipertensão arterial, obesidade. Caso uma amostra dê positiva, confirmar em 2-3 amostras em um intervalo de 3-6 meses. � Também é preciso avaliar a Taxa de Filtração Glomerular (medida ou estimada). FATORES QUE INTERFEREM NA MICROALBUMINÚRIA • Controle metabólico inadequado; • Níveis elevados de PA; • Obesidade mórbida; • Ingesta proteica e de água; • Doença aguda ou febre; • Exercício físico extenuante; • ITU; • IC descompensada; • Hematúria; • Mentruação; • Gestação; • Febre; • Leucorreia A MALB É UM MARCADOR MAIS IMPORTANTE NO DM TIPO 1 OU 2? Na DM1, pois no tipo 2 geralmente tem esses fatores que interferem na Malb, pois a Malb é um marcador de disfunção endotelial sistêmica, não só renal. � Microalbuminúria persistente: é fator de risco para cardiopatia isquêmica e aumento de mortalidade em diabéticos. � Tendência à elevação da PA e lípides séricos. QUANDO BIOPSIAR UM PACIENTE DIABÉTICO? Quando se suspeita que pode ser outra doença: � Rápida perda de função renal; � Início abrupto de síndrome nefrótica; � Hematúria de origem glomerular (as vezes na nefropatia diabética pode ter hematúria, mas é raro – pode ocorrer quando há glomeruloesclerose proliferativa); � Ausência de retinopatia; � Síndrome nefrótica com função renal normal (na DM a TFG vai estar diminuída no estágio em que há síndrome nefrótica); � Início de proteinúria em DM1 com menos de 5 anos de doença. INVESTIGAÇÃO COMPLEMENTAR � Pesquisar retinopatia; � Pesquisar vasculopatia e neuropatia periférica; � Pesquisar cardiopatia isquêmica; � Avaliar perfil lipídico; � Desencorajar tabagismo. QUADRO CLÍNICO É baseado na excreção urinária de albumina e no ritmo de filtração glomerular. • Proteinúria > 500 mg/24h, sem outras patologias associadas • Retinopatia diabética: 60% pacientes com glomerulopatias • DM 2: pior controle metabólico, dislipidemia, excesso de peso, HAS, neuropatia periférica e autonômica, macroangiopatia e cardiopatia isquêmica • DM 1: redução inexorável da FG Principais determinantes são: grau de albuminúria, níveis de PA e de colesterol, além de fumo. • DRC 25% após 6 anos de proteinúria 75% após 15 anos de proteinúria • Sobrevida mediana após início da proteinúria: 7 a 10 anos. MICROALBUMINÚRIA É um marcador precoce de acometimento renal no DM e tem associação com outras complicações microvasculares (especialmente retinopatia diabética). Quando houver um paciente com IRC e RETINOPATIA suspeitar sempre de DM! Devemos avaliar a neuropatia periférica desses pacientes e a vasculopatia periférica (que pode levar à lesões de pele, úlceras e até mesmo amputações). MACROALBUMINÚRIA OU NEFROPATIA CLÍNICA A maioria desses pacientes apresenta hipertensão e queda da taxa de filtração glomerular (esta é variável para cada paciente). O paciente pode apresentar anasarca, edema palpebral... geralmente é um quadro clínico mais acentuado. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL � Outras causas de glomerulonefrite; � Doença isquêmica renal; � Nefropatia por hipertensão arterial (nefroesclerose hipertensiva). Considerar biópsia renal para diagnóstico (seguindo os critérios já citados). TRATAMENTO O manejo terapêutico visa reduzir a albuminúria e desacelerar o declínio da TFG, além de prevenir eventos cardiovasculares. Isso se dá através de medidas farmacológicas e não farmacológicas. A primeira linha de tratamento é feita com metformina e inibidores de SGLT2. Ambos são contraindicados para pacientes com TFG < 30 ou em diálise, e naqueles em uso de metformina é essencial fazer monitorização de vitamina B12 (pode causar anemia megaloblástica). � Exercício físico; � Controle da dieta (sal, açúcares e proteínas); � Cessar o tabagismo; � Controle glicêmico; Hb1Ac < 7% (idosos) e 6,5% (não idosos) � Controle da dislipidemia → retarda o declínio da FG. Pacientes > 50 anos: uso de estatinas Pacientes < 50 anos: avaliar presença de doença cardiovascular estabelecida ou risco cardiovascular em 10 anos > 10 %. Se POSITIVO, indicar estatinas. Pacientes em diálise: se já fazia uso de estatinas antes, pode manter. Se não usava, só iniciar as estatinas se houver IAM. � Restrição proteica (pois as proteínas agem na hiperfiltração) 0,8g/kg por peso/dia. � Controle da PA < 140 x 80 mmHg. < 130 x 80 quando o paciente é jovem ou tem risco elevado de AVC. � IECA ou BRA Indicados quando há microalbuminúria ou HAS (NÃO HÁ EVIDÊNCIA DE PROFILAXIA PRIMÁRIA!). Dilata a arteríola eferente diminuindo o efeito hemodinâmicoe melhora a proteinúria; Diminui pressão transglomerular; Diminui albuminúria por modificações da permeabilidade capilar glomerular; Interfere nas propriedades tróficas da angiotensina II. *Hoje em dia não se faz mais bloqueio duplo (IECA + BRA), pois há uns anos saiu um estudo onde quem usou o bloqueio duplo teve um desfecho pior (maior mortalidade e menor sobrevida renal). � Alguns pacientes necessitam de terapia de antiagregação plaquetária, especialmente aqueles com histórico de eventos isquêmicos. A taxa de hemoglobina glicada, de acordo com estudos mais recentes, pode ser seguida de acordo com a tabela: Exemplo: paciente com poucas comorbidades precisa manter a HbA1c <6,5%, já aqueles com complicação macrovasculares já pode ser tolerado < 8,0%.
Compartilhar