Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Luíza Barreto – Medicina 2020.2 Diabetes Mellitus é um transtorno metabólico de etiologias heterogêneas, caracterizado por um estado de hiperglicemia contínuo e distúrbios de metabolização de carboidratos, proteínas e gorduras, resultantes de defeitos da secreção e/ou da ação da insulina. Geralmente tem associação com dislipidemias, hipertensão e disfunção endotelial. Diabetes mellitus tipo 1: É uma doença crônica hereditária, que é mais comum em crianças e adolescentes. Na maioria dos casos, a hiperglicemia é acentuada, evoluindo rapidamente para cetoacidose (especialmente na presença de infecção ou outra forma de estresse). É quando o sistema imune ataca as células beta (processo autoimune), levando à falta de insulina no organismo, de modo que é dependente de insulina. A destruição das células beta pode ser identificada, às vezes, pela presença de autoanticorpos circulantes como antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina. • Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, sendo que a forma 1A apresenta um ou mais dos autoanticorpos circulantes no sangue. A 1A envolve, além dos fatores genéticos, os fatores ambientais que desencadeiam a resposta autoimune. A DM tipo 1B é de natureza idiopática e os anticorpos não são detectáveis na circulação. Diabetes mellitus tipo 2: Tem natureza multifatorial e envolve componentes genético e ambiental. Ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida, e está relacionada com obesidade, sedentarismo, dislipidemias, hipertensão e alimentação inadequada. Isto é, há um estado de resistência à ação da insulina, associado a um defeito na sua secreção, o qual é menos intenso do que o da DM1. Após o diagnóstico, o DM2 pode evoluir por muitos anos antes de requerer insulina para controle (seu uso, nesse caso, não visa evitar a cetoacidose, mas alcançar o controle da hiperglicemia → a cetoacidose nesses casos é rara, sendo causada por infecção ou estresse muito grave). FISIOPATOLOGIA: O diabetes do tipo 1 produz uma insuficiência profunda das células B com resistência insulínica secundária e o diabetes do tipo 2 está associado a uma deficiência insulínica menos grave, mas a um maior comprometimento da ação insulínica. DM 1: O DM tipo 1 resulta de interações de fatores genéticos, ambientais e imunológicos que acabam acarretando a destruição das células β pancreáticas, assim como uma deficiência de insulina. Acredita-se que os indivíduos com suscetibilidade genética apresentem uma massa normal de células β no nascimento, porém começam a perder essas células em consequência da destruição autoimune que ocorre ao longo de meses a anos. Admite-se que esse processo autoimune seja desencadeado por um estímulo infeccioso ou ambiental e sustentado por uma molécula específica da célula β. Na maioria dos pacientes, marcadores imunológicos aparecem após o evento desencadeante, porém antes de o diabetes se tornar clinicamente manifesto. A seguir, a massa de células β começa a diminuir, e a secreção de insulina declina progressivamente, apesar de ser mantida uma tolerância à glicose normal. O ritmo de declínio da massa de células β varia amplamente entre os indivíduos, com alguns pacientes progredindo rapidamente para diabetes clínico e outros evoluindo mais lentamente. As características do diabetes só se tornam evidentes depois que a maioria das células β já foi destruída (70-80%). Nesse ponto, existem células β funcionantes residuais, mas seu número é insuficiente para manter a tolerância à glicose. Os eventos que induzem a transição da intolerância à glicose para o diabetes franco estão associados, com frequência, a maiores demandas de insulina, como poderia ocorrer durante infecções ou na puberdade. O processo se inicia a partir do reconhecimento de antígenos nas células beta pelos linfócitos T, devido a uma deleção clonal defeituosa de células T autorreativas no timo. Alguns antígenos que podem ser atacados pelos linfócitos T reativos: enzimas das células β, ácido glutâmico descarboxilase (GAD) e auto antígeno das células das ilhotas 512 (ICA512). Do ponto de vista patológico, as ilhotas pancreáticas apresentam infiltração modesta de linfócitos (um processo denominado insulite). Após a destruição das células β, acredita-se que o processo inflamatório diminua, e as ilhotas se tornam atróficas. Vários mecanismos podem contribuir para destruição das células β, incluindo inflamação mediada por células TH1 CD4+ reativas com antígenos das ilhotas (incluindo insulina), lise de células das ilhotas mediada por CTL, produção local de citocinas (TNF e IL-1) que danificam células das ilhotas e autoanticorpos contra as células das ilhotas. Nos poucos casos em que as lesões pancreáticas foram examinadas nas fases ativas precoces da doença, as ilhotas exibem necrose celular e infiltração linfocitária consistindo em células T CD4+ e CD8+. Essa lesão é denominada insulite. Sobre o ponto de vista genético, múltiplos genes estão associados ao diabetes tipo 1, mas o principal estudado é o papel dos genes HLA. Haplótipos HLA específicos foram vinculados ao diabetes do tipo 1; 90% a 95% dos pacientes do tipo 1 expressam moléculas HLA classe II DR3 ou DR4 Luíza Barreto – Medicina 2020.2 (comparados com 50% a 60% da população em geral), enquanto 60% expressam ambos os alelos, uma taxa mais de 10 vezes superior à da população geral. A associação da doença com classes específicas de genes HLA II indica o envolvimento de células T CD4+ no processo autoimune, já que essas moléculas tanto são críticas para a apresentação dos peptídeos antigênicos às células T CD4+ quanto para a seleção do repertório de células T CD4+ no timo. DM 2: Inicia pela resistência à insulina principalmente pelos tecidos muscular estriado esquelético, adiposo e pelos hepatócitos. Com isso, a hiperinsulinemia está associada ao início da comorbidade, que levará a um estresse celular e posteriormente diminuição na produção insulínica. O aumento de insulina, para compensar a resistência, é eficaz no início. Há falha de inibição de lipases lipoprotéicas no tecido adiposo, levando ao excesso de ácidos graxos livres circulantes (AGLs). O excesso de AGLs sobrecarrega as vias de oxidação dos ácidos graxos intracelulares, levando ao acúmulo de intermediários citoplasmático, como o diacilglicerol (DAG). Esses intermediários “tóxicos” podem atenuar a sinalização através da via do receptor de insulina e também competem com a glicose pela oxidação do substrato (inibem as enzimas da via glicolítica). Nas células hepáticas, a insulina normalmente inibe a gliconeogênese, bloqueando a atividade da fosquinolpiruvato carboxiquinase, a primeira etapa enzimática nesse processo. A sinalização atenuada da insulina permite que a carboxoquinase fosfoenolpiruvato atinja a gliconeogênese. O DM tipo 2 tem um poderoso componente genético. A doença é poligênica e multifatorial, pois além da suscetibilidade genética, fatores ambientais (como obesidade, nutrição e atividade física) modulam o fenótipo. O DM tipo 2 caracteriza-se por menor secreção de insulina, resistência à insulina, produção hepática excessiva de glicose e metabolismo anormal das gorduras. A obesidade, particularmente visceral ou central (conforme evidenciada pela relação quadril-cintura), é muito comum no DM tipo 2 (80% ou mais dos pacientes são obesos). Nos estágios iniciais do distúrbio, a tolerância à glicose continua sendo quase normal, não obstante a resistência à insulina, pois as células β pancreáticas realizam uma compensação aumentando a produção de insulina. Com a progressão da resistência à insulina e da hiperinsulinemia compensatória, as ilhotas pancreáticas de certos indivíduos tornam-se incapazes de preservar o estado hiperinsulinêmico. Instala-sea seguir uma TGD, caracterizada por elevações da glicose pós-prandial. Um declínio adicional na secreção de insulina e um aumento na produção hepática de glicose resultam em diabetes manifesto com hiperglicemia de jejum. Por fim, instala-se falência das células β. Embora tanto a resistência à insulina quanto a secreção diminuída de insulina contribuam para a patogênese do DM tipo 2, a contribuição relativa de cada uma varia de um indivíduo para outro. Obs: O excesso de AGLs dentro de macrófagos e células β pode ativar o inflamassoma, um complexo citoplasmático multiproteico que leva à secreção da citocina interleucina IL- 1β. A IL-1β, por sua vez, medeia a secreção de citocinas pró- inflamatórias adicionais de macrófagos, células de ilhotas e outras células. Obs: Em diabéticos tipo 2 de longa data é possível observar a presença de amiloides (proteínas no pâncreas – de diversas origens). O polipeptídeo amiloide das ilhotas (PPAI), também conhecido como amilina, é secretado pelas células beta em conjunto com a insulina, e a sua agregação anormal resulta em amiloide. O PPAI também mobiliza o inflamassomo e promove a secreção de IL-1b, sustentando, assim, o ataque às células beta sobreviventes ainda que tardiamente no curso da doença. DIAGNÓSTICO: Os sinais e sintomas característicos que levantam a suspeita de diabetes são poliúria, polidipsia, polifagia e perda inexplicada de peso. Esses sintomas são mais agudos no tipo 1, podendo progredir para cetose, desidratação e acidose metabólica, e pode apresentar também sintomas vagos como prurido, visão turva e fadiga. O DM tipo 2 normalmente é assintomático, e a suspeita da doença é feita por conta das complicações tardias, como proteinúria, retinopatia, neuropatia periférica, doença arteriosclerótica ou então infecções recorrentes. O diagnóstico é realizado a partir dos exames de glicemia em jejum, glicemia casual, hemoglobina glicada e teste de tolerância à glicose (75g). Não precisa fazer todos os exames, pode escolher só 2. - Glicemia em jejum: acima de 126mg/dL - Glicemia ao acaso: acima de 200mg/dL - Hemoglobina glicada: acima de 6,5% - TTG-75g: glicemia de 2h pós sobrecarga acima de 200mg/dL Obs.: Glicação da hemoglobina é a destruição proteica da hemácia, ou seja, quanto mais açúcar a hemácia recebe, maior o nível de glicação. Já que o tempo de vida da hemácia é de 90 a 120 dias, o resultado da hemoglobina glicada representa a média das glicemias de 3 meses, sendo mais difícil do paciente tentar forjar mudança no resultado do exame com apenas alguns dias de dieta. Obs 2.: É importante pedir também a dosagem de insulina (para acompanhar a resistência) e o sumário de urina (presença de glicose na urina e dosagem de ureia para analisar nefropatia diabética), mas nenhum dos dois serve como meio de diagnóstico. Obs 3.: Solicitar perfil lipídico para avaliar complicações por dislipidemia. Obs: O alvo para o controle glicêmico (conforme refletido pela HbA1c) deve ser individualizado, e as metas da terapia devem ser elaboradas em uma conversa com o paciente Valores normais: - Glicemia em jejum: até 99 - Glicemia ao acaso: até 140 - Hemoglobina glicada: até 5,7% - TTG-75g: até 140 Luíza Barreto – Medicina 2020.2 após levar em conta inúmeros problemas médicos, sociais e relacionados com o estilo de vida. TRATAMENTO: Além de mudanças no estilo de vida, como alimentação e prática de exercícios físicos, além do controle do peso, há também medicamentos que são usados para o tratamento da diabetes. Sensibilizadores da Insulina: Biguanidas. Aumentam a sensibilidade a insulina no fígado e no músculo. Alvo molecular: proteína cinase dependente de AMP (AMPPK). Bloqueia a gliconeogênese e a glicogenólise hepática e aumentam a oxidação de ácidos graxos, mas não induzem hipoglicemia. No caso da metformina, ela não estimula o apetite e é a 1ª opção de tratamento DM2 em pacientes obesos, sem comprometimento renal ou hepático. Pode ser utilizada em combinação com segretagogos, glitazonas ou insulina. - A metformina (Glifage) é utilizada em casos de resistência à insulina, pois vai melhorar a ligação do receptor com a insulina. Nos casos de pré diabetes, dependendo da situação do paciente, pode utilizar o glifage juntamente com mudanças do estilo de vida como tratamento/prevenção. OBS.: Não deve ser administrada a pacientes com doença hepática, insuficiência cardíaca, doença respiratória, hipoxemia, infecção grave, consumo excessivo de álcool, tendência à cetoacidose ou doença renal (visto que as biguanidas são excretadas pelos rins de forma inalterada) - O victoza vai ser usado para estimular a produção de insulina, pois é um análogo do GLP-1 (hormônio intestinal que vai estimular a produção de insulina e inibir o apetite), mas não é tão utilizado por conta do valor (+/- 500). - Outra possibilidade de tratamento é com inibidores da DPP- 4 (que destrói o GLP-1), mas também não é tão acessível (+/- 200). PS.: Também não é utilizado em pacientes que não produzem insulina. - As sulfonilureias vão estimular diretamente o pâncreas, aumentando a liberação de insulina pelas células β pancreáticas, sendo assim um processo não tão natural, mas são opções disponíveis pela farmácia popular, de modo que é uma opção de tratamento muito utilizada (glibenclamida, glimepirida, gliclazida). Atuam inibindo o canal K + /ATP. São mais indicados para pacientes não obesos e são contraindicados para gestantes e lactantes. - Secretagogos da Insulina: Megletinidas. Possuem farmacodinâmica semelhante a das sulfonilureias, mas com menor duração de efeito. (REPAGLINIDA: ação rápida – efeito máximo em 1h; duração 4 a 7h; NATEGLINIDA: melhor perfil de segurança). - Sensibilizadores da Insulina: Tiazolidinedionas. As TZD ou glitazonas não afetam a secreção de insulina, mas intensificam a ação da insulina nos tecidos-alvo (induz aumento da captação de glicose). É um agonista do receptor nucelar PPARγ (receptor gama associado a proliferados de peroxissomos) e não induzem hipoglicemia. Contraindicado durante a gravidez, lactação e em crianças. - Outra opção é o inibidor de SGLT-2, que faz a reabsorção renal do açúcar, de modo que sua inibição vai liberar glicose a partir da urina (importante realizar sumário de urina para analisar o efeito do remédio, e deve alertar ao paciente sobre um maior cuidado com a higiene pessoal, de modo que a presença de glicose pode facilitar a infecção por bactérias). (+/- 200) - A última opção é arcabose, que vai diminuir a absorção da glicose no intestino (cerca de 30%) e tem baixo risco de hipoglicemia, mas é evitada por causar muitos gases no paciente, gerando desconforto. Uso de insulina: A insulina pode ser do tipo humana (ação rápida ou prolongada) ou pode ser análoga à humana (ação rápida ou prolongada). A de ação rápida pode causar hipoglicemia, por isso deve ser utilizada logo após se alimentar, enquanto a de ação prolongada não causa hipoglicemia e só é administrada 1x por dia, já que seu efeito é de longo prazo. Em geral, as duas são utilizadas em conjunto. A via de administração usual da insulina é subcutânea, mas a insulina regular (de ação rápida) também pode ser aplicada por vias intravenosa e intramuscular, em situações que requerem um efeito clínico imediato. Obs.: A meta para tratamento de hiperglicemia em adultos (pela Associação Americana de Diabetes), é alcançar HbA1c <7%, glicemia em jejum entre 70-130mg/dL e pós- prandial abaixo de 180mg/dL (mas essas metas podem varias de acordo com a demanda do paciente). Obs.: Excesso de glicose pode levar à desidratação, por conta da capacidade osmótica da glicose que, por ficar concentrada no plasma e não na célula, vai “puxar” a água das células para o plasma. No entanto, só vai ocorrer edema em casode comprometimento renal que pode se dar tanto por esse fenômeno osmótico quanto pela glicação, levando a uma proteinúria (causando edema). Diabetes gestacional: É um estado de hiperglicemia, menos severo que o DM tipo 1 e 2, detectada pela primeira vez na gravidez. Geralmente se resolve no período pós-parto e pode frequentemente retornar anos depois. COMPLICAÇÕES: Microangiopatia diabética: Uma das características morfológicas mais uniformes do diabetes é o espessamento difuso das membranas basais. O espessamento é mais evidente nos capilares da pele, músculos esqueléticos, retina, glomérulos renais e medula renal. Todavia, também é observado em estruturas não vasculares, como os túbulos renais, a cápsula da Bowman, os nervos periféricos e a placenta. A lâmina basal que separa as células parenquimatosas ou as endoteliais do tecido circundante está acentuadamente espessada por camadas concêntricas de material hialino, composto predominantemente por colágeno do tipo IV, à microscopia ótica ou eletrônica. Observe-se que, a despeito do aumento da espessura das membranas basais, os capilares diabéticos são mais permeáveis do que o normal às proteínas plasmáticas. A microangiopatia está subjacente ao desenvolvimento da nefropatia, da retinopatia e de algumas formas de As incretinas são uma classe de substâncias produzidas pelo pâncreas e pelos intestinos e que regulam o metabolismo da glicose. São eles: insulina, glucagon, amilina, GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e GIP (glucose- dependent insulinotropic polypeptide). Luíza Barreto – Medicina 2020.2 neuropatia diabética. Uma microangiopatia indistinguível pode ser encontrada em pacientes idosos não diabéticos, mas raramente no grau observado nas pessoas com diabetes de longa duração. Nefropatia diabética: Os rins constituem o primeiro alvo do diabetes. A insuficiência renal está atrás apenas do infarto do miocárdio como causa de óbito por essa doença. Três lesões são encontradas: (1) lesões glomerulares; (2) lesões vasculares renais, principalmente arteriosclerose; e (3) pielonefrite, incluindo a papilite necrosante. As lesões glomerulares mais importantes são o espessamento da membrana basal capilar, a esclerose mesangial difusa e a glomeruloesclerose nodular. As membranas basais capilares glomerulares estão espessadas ao longo de toda a sua extensão. Essa alteração pode ser detectada através da microscopia eletrônica poucos anos após o início do diabetes, algumas vezes sem qualquer alteração associada da função renal. Infecção de órgão-alvo por hiperglicemia crônica. O paciente apresenta proteinúria detectável persistente, em geral associada a um aumento da PA. O rastreamento deve ser iniciado logo ao diagnóstico de DM nos pacientes com DM2 e após 5 anos do início nos casos de DM1 (pacientes na puberdade ou com DM constantemente descompensado são rastreados independente disso). O rastreamento é anual e se baseia na medida da albuminúria e na estimativa da TFG. Neuropatia diabética (é diagnóstico de exclusão): Presença de sintomas e/ou sinais de disfunção dos nervos do SNP somático e/ou autonômico em indivíduos com DM. Sua progressão se torna um fator de risco para ulcerações nos pés, amputação, desequilíbrio ao andar, e ainda manifestações relacionadas a distúrbios cardiovasculares, da sudorese e dos sistemas geniturinário e gastrointestinal. O padrão mais frequente de envolvimento é o da neuropatia periférica simétrica das extremidades, afetando tanto a função motora quanto a sensorial, particularmente esta última. Outras formas incluem a neuropatia autonômica, que produz distúrbios da função intestinal e vesical, e, algumas vezes, impotência sexual, e a mononeuropatia diabética, que pode se manifestar como queda súbita dos pés ou punhos ou paralisias isoladas de nervos cranianos. As alterações neurológicas podem ser o resultado da microangiopatia e do aumento da permeabilidade dos capilares que suprem os nervos, assim como de lesão axonal direta. Retinopatia: É uma complicação neurovascular específica do diabetes e é uma das principais causas de perda visual irreversível no mundo. São recomendados exames periódicos e rastreamento de doenças oculares pelo oftalmologista, para diagnóstico e prevenção. O envolvimento ocular pode tomar a forma de retinopatia, formação de cataratas ou glaucoma. A retinopatia, o padrão mais comum, consiste em uma constelação de alterações que, em conjunto, são consideradas por muitos oftalmologistas como virtualmente diagnósticas da doença. A lesão da retina assume duas formas: retinopatia não proliferativa (de fundo) e retinopatia proliferativa. A retinopatia não proliferativa inclui hemorragias intrarretinianas ou pré-retinais, exsudatos retinais, microaneurismas, dilatações venosas, edema e, mais importante, o espessamento dos capilares retinianos (microangiopatia). Os exsudatos retinianos podem ser “moles” (microinfartos) ou “duros” (depósitos de proteínas plasmáticas e lipídios. Os microaneurismas são dilatações saculares distintas dos capilares coroidais da retina que surgem através do oftalmoscópio como pequenos pontos vermelhos. As dilatações tendem a ocorrer em pontos focais de enfraquecimento, resultando da perda de pericitos. O edema retiniano presumivelmente resulta de permeabilidade capilar excessiva. Subjacente a todas essas alterações está a microangiopatia, que se acredita leve à perda de pericitos capilares e, consequentemente, ao enfraquecimento focal da estrutura capilar. A denominada retinopatia proliferativa é um processo de neovascularização e fibrose. Essa lesão leva a consequências graves, incluindo cegueira, especialmente se envolver a mácula. As hemorragias vítreas podem resultar da ruptura de capilares recém-formados: a organização subsequente da hemorragia pode puxar a retina para fora do seu substrato (descolamento de retina). ANAMNESE ESPECÍFICA: - Dados socioeconômicos, trabalho/ocupação, moradia, escolaridade, religião, capacidade de autocuidado, vulnerabilidade. (Entender a pessoa e analisar a repercussão do diagnóstico para o paciente, além da condição dela de aderir ao tratamento). - HMA: Procurar por sintomas atuais (apesar da maioria ser assintomática) - IS: Buscar principalmente por poliúria (o aumento da osmolaridade vai levar a pessoa a tentar balancear por meio da eliminação pela urina), polifagia (como a célula não recebe glicose, entende como se estivesse em jejum, aumentando o apetite do paciente), polidipsia (por conta da desidratação, levando a um maior consumo de água), perda de peso (como a célula não recebe glicose, o corpo começa a utilizar outras vias de reposição energética), astenia, infecções de repetição (diminuição da imunidade), visão turva, proteinúria, etc. - Buscar por fatores de risco e antecedentes pessoais (hipertensão, dislipidemia, obesidade ou sobrepeso, uso de medicações, infecções recorrentes, úlcera de extremidades ou parestesias, etc) - História gestacional (pesquisar sobre diabetes gestacional) Luíza Barreto – Medicina 2020.2 - Patologias: Lúpus com uso de corticoides crônicos, síndrome de ovários policísticos, artrite reumatoide com uso de corticoides crônicos. - História familiar: Diabetes, doenças cardiovasculares e endocrinopatias em familiares próximos. - Hábitos de vida: Alimentação (açúcar e carboidratos), uso de álcool e tabaco, sedentarismo. EXAME FÍSICO ESPECÍFICO: - Antropometria: Peso e IMC, circunferência abdominal, pressão arterial. - Cabeça: Fazer exame da cavidade oral (buscar por infecções de repetição, candidíase oral, infecção dentária, etc) - Pescoço: Palpação de tireóide (calor ou mudança no tamanho – dosar taxas e/ou solicitar USG) - Ausculta cardíaca e pulmonar: Pesquisa de insuficiência, - Exame dos pés (buscar por neuropatiadiabética – analisar sensibilidade e presença de lesões, micoses, úlceras, predisposição a aterosclerose, rarefação de pelos, redução de pulso, etc). REFERÊNCIAS: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020; Caderno de atenção básica n°36; Ministério da Saúde; Medicina Interna (Cecil); Medicina Interna (Harrison); Aula; Patologia Básica (Robbins)
Compartilhar