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Morfologia Portuguesa Aula 1: Língua, Linguagem, Sincronia e Diacronia Apresentação Nessa aula, você vai vê os conceitos de língua, a linguagem e sistema linguístico, distinguir as características da linguagem verbal e não verbal. Irá constatar que os fatos da língua podem ser analisados tanto diacrônica quanto sincronicamente e também identi�car o conceito de norma, percebendo que todas as variedades de língua são dotadas de estrutura própria e são adaptáveis às novas necessidades de expressão. Objetivos Identi�car as concepções de língua e linguagem enquanto sistema; Reconhecer o funcionamento da estrutura da língua portuguesa; Relacionar os fatos da língua sob uma perspectiva histórica (diacrônica) e atual (sincrônica); De�nir o conceito de signo linguístico. A presença da palavra em nossas vidas é tão comum e seu uso tão espontâneo e natural que não vemos nela nada de especial. No cotidiano, todos reconhecem que as palavras são símbolos que nomeiam as coisas e que as utilizamos para entrar em contato com o outro. Daí, percebemos o real emprego deste recurso, acreditando que as pessoas se comunicam e trocam ideias com a mesma destreza que executam tarefas organicamente possíveis, sempre com o objetivo de perceber oque as cerca para que possam interagir com tudo e todos. Fonte: Raphael Schaller / Unsplash E h ói ? D f é í l h di d d ? E como o homem constrói este espaço? De que forma é possível chegar a este entendimento do mundo? Através da faculdade da linguagem, que permite ao homem não só compreender as relações do e com o mundo, mas também explicar estas relações através de seu conhecimento. A linguagem é elemento indispensável da comunicação social e de domínio individual. Ao usá-La, o indivíduo se integra com os seus semelhantes. Ela pode ser não verbal (sem o uso da palavra) ou verbal, ambas as características favorecendo a transmissão de comunicação. Linguagem verbal Fonte: Blake Barlow / Unsplash Identi�cada pela constituição de palavras faladas ou escritas nas seguintes manifestações, por exemplo: textos manuscritos; livros, artigos, receitas, bilhetes, e-mail; conversa ao telefone, televisão, cinema; reuniões, encontros de amigos, missa, cultos religiosos. Fonte: Jerry Wang / Unsplash São pequeninos seres Que em tudo dependem de nó Dentro deles há um espírito que muito precisa aprender Cabe a nós, adultos, a tarefa de lhes dar orientação. Acreucho – Publicado no Recanto das Letras em 30/09/2007 Código do texto:T675166 O fragmento do texto acima transmite a ideia sobre o papel de um adulto na formação das crianças, alusivo ao dia das crianças. Linguagem não verbal Identi�cada, por exemplo, nas seguintes manifestações: Na pintura, pelas cores, �guras e outros elementos utilizados pelo artista. Na dança, pelo movimento e ritmo. Nos sinais de trânsito, nos sinais de matemática, nos símbolos utilizados em linguagem virtual. Em cartuns, charges ou caricaturas. Na charge, também alusiva ao dia das crianças, o cartunista mostra, de forma irônica, através de Linguagem não verbal, a disputa dos candidatos à Presidência do Brasil pelos votos de outra candidata, para um 2° turno de eleições. Tanto o fragmento de texto de Acreucho como a charge de Clayton apresentam signos, elementos constitutivos da linguagem. Os signos podem ser, portanto, verbais, as palavras e não verbais, o desenho. En�m, tudo isto é Linguagem: representação do pensamento por sinais e/ou por palavras. A Linguagem A linguagem humana é expressa por meio de um sistema de som vocal chamado língua. Esta possibilidade permite que o ser humano utilize um código linguístico, a língua, em sua materialidade verbal, para se comunicar. Cada língua apresenta o seu código, com regras e normas, sua maneira de arrumação das palavras na frase, sua própria estruturação. Você verá a seguir mais algumas informações sobre a língua! Fonte: Shutterstock Por lassedesignen "A língua é uma forma de conhecimento e um meio de construir, estabelecer, manter e modi�car relações com os outros. Por isso mesmo, uma mesma pessoa é capaz de utilizar diferentes ‘estilos’ ou registros de língua, conforme o contexto ou as �nalidades da comunicação: quando se dirige a um adulto ou quando fala a uma criança, quando fala a pessoas reunidas em um auditório ou quando conversa de modo descontraído numa roda de amigos, quando escreve uma carta de candidato a emprego ou quando comparece para uma entrevista com esse mesmo objetivo, quando relata um acontecimento ou quando dá um conselho a alguém." - AZEREDO, José Carlos. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha Houaiss, 2008: 57 Se o sistema da língua é social porque é comum a todos os falantes de uma comunidade linguística, podemos entender que a atividade linguística é sistematizada, ou seja, segue um conjunto de elementos lexicais (palavras) e gramaticais (organização do código) que fazem parte de uma língua, de uma organização interna desses elementos e de suas regras combinatórias. Para entendermos melhor, consideremos a seguinte situação de comunicação: O signi�cado da palavra desconto corresponde à ideia de redução em uma soma ou no total de uma conta ou quantia. Pode-se dizer que este signi�cado é o mesmo em qualquer situação ou frase. A situação acima apresenta claramente a relação de comunicação construída entre os participantes, onde se estabelece que o sentido das palavras é razoavelmente estável, que não vive mudando, mas que se adapta dentro de uma margem de compreensão compartilhada entre os falantes, ou seja, o contexto favorece a compreensão da palavra desconto. Contamos, desta forma, com uma característica fundamental da faculdade da linguagem humana, que permite que o homem crie enunciados linguísticos in�nitamente: a CRIATIVIDADE. As experiências de vida de toda ordem (no cotidiano, nos grupos de amigos, no contato com culturas diferentes), a convivência com textos de variadas espécies (poemas, lendas, crônicas), a possibilidade da fala e da escrita contribuem signi�cativamente para esta criatividade linguística. Signo linguístico A linguagem humana, conforme demonstrado no vídeo, apresenta-se, essencialmente, fundamentada no signo. É o instrumento através do qual a comunicação se realiza. Em uma ação de comunicação, apresentamos nossos conceitos, ideias, pensamentos; en�m, nossa visão de mundo, por meio de palavras que trazem o signi�cado que queremos transmitir. Daí surgem os signos linguísticos (sons da língua + signi�cado) Exemplo Para o conceito “livro”, o português utiliza o termo “livro”, o espanhol emprega “libro”, o inglês usa “book”; já no francês, temos “livre”. Variaram os signi�cantes, mas o signi�cado é o mesmo, mesmo conceito. Fonte: Shutterstock Por fizkes Durante todo o processo de avanço linguístico, tanto o processo de aquisição de linguagem como a sistematização da língua em si vêm sofrendo alterações ao longo do tempo. Já houve uma época em que as línguas eram comparadas a seres vivos - nasciam, cresciam, envelheciam e morriam. Sabemos, hoje, no entanto, que em qualquer fase da sua existência histórica, a língua é dotada de uma estrutura complexa em qualquer fase que esteja. Elas são adaptáveis às novas necessidades e ondas de crescimento de expressão de uma comunidade. Fonte: Shutterstock Por Festa Se compararmos épocas, observamos que a língua não muda de vez em quando, mas sim, de modo contínuo. Em enunciados como os apresentados abaixo, observamos signos que, ao longo do tempo, modi�caram seu signi�cante, mas que ainda permanecem em nosso sistema linguístico nos dias de hoje, em seu conceito fundamental. Sincronia e Diacronia Foi o linguista Ferdinand de Saussure quem nos alertou sobre a possibilidade de estudarmos a língua sob dois aspectos: 1 Sincrônico Procura estudar o sistema de uma língua em uma determinada época ou período. Ex.: o plural de “pão” é “pães”; o plural de “cidadão” é “cidadãos”. 2 Diacrônico Mostra como as línguas se formaram, sua evolução natural.Ex.: o vocábulo avença é um termo arcaico, que signi�ca “acordo”; entretanto, manteve-se na palavra desavença. Entende-se, portanto, que os estudos lexicais envolvem, principalmente, uma abordagem sincrônica, do momento atual, sem, contudo, perder de vista uma abordagem do passado, uma abordagem diacrônica. Resumindo: Clique nos botões para ver as informações. Os membros da comunidade linguística entendem-se e comunicam-se porque participam de um mesmo ‘estado da língua’, partilhando dos mesmos hábitos linguísticos. SINCRONIA É a história interna de uma língua; uma sucessão de ‘estados da língua’, uma passagem sem interrupção, de uma sincronia para outra. DICRONIA O uso da língua Saiba mais Conforme observamos, a língua desempenha importante papel social. Reconhecemos, inclusive, muitas vezes, a condição social de uma pessoa pela maneira de falar. Assim, há um conjunto de regras que precisamos respeitar. Ouça a canção Língua e observe a letra. javascript:void(0); A Língua como estrutura abstrata, uma espécie de denominador comum de todos os seus usos: o sistema. B O ato concreto de falar/ouvir ou escrever/ler a língua: o uso. C A soma dos usos histórica e socialmente consagrados numa comunidade e adotados como um padrão que se repete: a norma. A interpretação destas canções denota que o uso da língua é um ato individual. Porém, mesmo individual, esses atos são normalmente realizados na e para a comunicação entre sujeitos ou indivíduos, que para compreender-se, precisam estar “de acordo” sobre o que signi�cam os sinais que usam. Este acordo refere-se à dimensão social e histórica da língua. SOCIAL, porque pertence a todos e HISTÓRICA, pois é transmitida de geração em geração, através dos tempos. O fato de pertencer a todos os falantes exerce sobre o uso da língua uma pressão padronizada, cujo efeito é a semelhança de uso entre os membros da mesma comunidade linguística, a que denominamos norma. Fonte: Gerd Altmann / Pixabay De acordo com Azeredo (2008:63), temos, então, portanto, três conceitos fundamentais: Voltando às canções, percebemos que em ambas podemos observar um denominador comum (a língua), podemos usá-las (ouvindo/lendo a letra) e adotamos as “regras linguísticas” utilizadas tanto por Adoniran Barbosa quanto por Caetano Veloso como consagradas em uma comunidade de falantes (a norma). Quanto à norma utilizada, principalmente na primeira canção, compreendemos que esta pode ser caracterizada por ser de cunho regional, social, econômico, familiar ou de faixa etária. O mais importante na conceituação da norma é o seu caráter coletivo e sua condição de uso, quer seja por escolha, quer seja por herança sócio- histórica. Daí o conceito de variação linguística. Cabe a cada usuário da língua avaliar o contexto de uso e escolher a forma de expressão mais apropriada. A�nal, paralelamente à sua condição de sistema, a língua é expressão da imagem que os usuários fazem da situação social em que se encontram – ou seja, é uma forma de comportamento. (AZEREDO, 2008:66) "Falar corretamente signi�ca o falar que a comunidade espera: o erro em linguagem corresponde a desvios dessa norma, sem relação alguma com o valor interno das palavras ou formas." - Celso Cunha, em Língua portuguesa e realidade brasileira, RJ: Tempo Brasileiro, 1970. Notas Referências AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. Publifolha Houaiss, SP, 2008. BASILIO, Margarida. Teoria lexical. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.CAMARA Jr. J.M. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. CARONE, Flávia. de Barros. Morfossintaxe. 9. ed. São Paulo: Ática, 2000.KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. 4.ed. São Paulo: Ática, 2007. RIBEIRO, M.P. Gramática Aplicada da Língua Portuguesa: uma comunicação interativa., RJ: Metáfora, 2005.ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2003. VILELA, Mario; KOCH, Ingedore Villaça. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001. Próxima aula Os conceitos de morfologia na língua; O conceito de palavra e vocábulo; A relação da dupla articulação da linguagem na estrutura da língua portuguesa. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.