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Mateus Castro INTERNATO UNIFAMAZ – Saúde do Adulto I DERRAME PLEURAL O derrame pleural é definido como um acúmulo anormal de líquido no espaço pleural. O derrame pleural pode ser classificado em transudato e exsudato, segundo os critérios de Light. 1 – Transudatos se caracterizam por derrames em que não há agressão pleural. 2 – Exsudatos há um processo inflamatório pleural, com aumento da permeabilidade capilar e liberação de mediadores, assim como recrutamento celular. Etiologia Estatisticamente, a principal causa de derrame pleural por transudato na prática é a Insuficiência Cardíaca Congestiva. As principais etiologias de exsudato são o derrame parapneumônico e o câncer. O tipo de CA mais associado ao derrame pleural é o CA de pulmão, seguido pelo de mama e pelo linfoma. Derrame Parapneumônico é o exsudato que acompanha uma pneumonia bacteriana. Ele pode ou não ser empiematoso. Fisiopatologia O acúmulo de líquido pode ser causado tanto pelo aumento na produção ou pela diminuição da absorção. Mecanismos fisiopatológicos: Quadro Clínico Derrames pleurais pequenos costumam ser assintomáticos. Para que haja alteração na semiologia são necessários aproximadamente 300 mL de líquido na cavidade pleural. História Clinica Tríade clássica: tosse seca, dor torácica e dispneia. A tosse que inicialmente é seca posteriormente por meio de infecções bacterianas associadas pode se tornar produtiva. A dor torácica é do tipo pleurítica (dor que piora na inspiração profunda). A dor é, em geral, ventilatório- dependente, bem localizada, em pontada e de moderada intensidade. Deve-se ressaltar que a inervação diafragmática é feita pelo nervo frênico, podendo causar dor referida em ombro e região cervical homolateral. A dispneia está presente sempre que há dor, por causa da limitação imposta aos movimentos ventilatórios, ou quando há derrame pleural. Trepopneia: dispneia em decúbito lateral com o lado que contém o derrame voltado para cima – o decúbito para o lado oposto alivia a dispneia. Esse quadro geralmente é presente diante de derrames volumosos. Exame Físico Na inspeção, observa-se FR aumentada nos derrames volumosos. O padrão respiratório, pelo quadro álgico, pode apresentar incursões respiratórias curtas ou uso de musculatura acessória, quando existe doença prévia comprometendo a função pulmonar. Mateus Castro INTERNATO UNIFAMAZ – Saúde do Adulto I Em geral, a expansibilidade está diminuída, podendo ocorrer abaulamento dos espaços intercostais no lado do derrame, principalmente em derrames volumosos e nas regiões mais inferiores do tórax. Sinais clássicos foram descritos para caracterizar a presença de derrame pleural à inspeção, como o Sinal de Lemos Torres, que é o abaulamento expiratório localizado nos últimos espaços intercostais, principalmente à expiração forçada, nos pequenos e médios derrames. O Sinal de Litten é a ausência da visualização da depressão intercostal inspiratória no hemitórax acometido. À palpação, observa-se diminuição na mobilidade respiratória e na elasticidade da caixa torácica. Na percussão do tórax com derrame pleural observa-se um som maciço. A ausculta pulmonar apresenta redução ou ausência do murmúrio vesicular, podendo ocorrer paralelamente sopro pleurítico (colapso pulmonar) e/ou atrito pleural (decorrente da inflamação pleural). Derrames pleurais pequenos não possuem expressão semiológica, podem aparecer somente um atrito pleural. Derrames volumosos costumam produzir uma síndrome de derrame pleural: (1) macicez à percussão; (2) redução (ou abolição) do murmúrio vesicular acima da área de derrame; (3) desaparecimento do frêmito toracovocal. Diagnóstico Imagem O método mais comumente utilizado é a Radiografia de Tórax em PA, Perfil e Decúbito Lateral. A incidência PA é a menos sensível, pela necessidade de cerca de > 200ml de líquido na cavidade pleural para visualização do derrame. Para que o derrame seja visível na incidência em perfil, são necessários mais de 75-100 ml de líquido. Sendo essa incidência mais sensível ao diagnóstico. Derrames muito volumosos são facilmente identificáveis, pois produzem um aspecto inconfundível no RX: a parábola de Damoiseau. Incidência de Lawrell (decúbito lateral): Quando a lâmina líquida visualizada nesta incidência possuir > 10 mm de espessura, isso indica que a toracocentese poderá ser realizada às cegas, pois há mais de 300 ml de líquido. Mateus Castro INTERNATO UNIFAMAZ – Saúde do Adulto I TC de tórax: exame de imagem mais sensível para detecção do derrame pleural. Na suspeita de doença pleural, podemos ministrar contraste iodado endovenoso - a ocorrência de captação (ex.: pleural split sign, em que ambos os folhetos – parietal e visceral – estão espessados e se impregnam pelo contraste, sendo separados pelo conteúdo líquido do derrame) evidencia a existência de pleurite. USG: Serve para auxiliar nos procedimentos invasivos torácicos. Laboratório A Toracocentese Diagnóstica é o exame mais importante para esclarecer a etiologia de um derrame pleural. Existem situações onde a toracocentese a princípio não precisa ser feita, por exemplo: paciente com ICC com derrame pleural bilateral e simétrico (quadro típico). Nestes casos, inicialmente, pode-se apenas observar a resposta aos diuréticos, realizando a toracocentese somente se não ocorrer melhora conforme o esperado. O diagnóstico laboratorial inicialmente busca diferenciar o derrame em Exsudato ou Transudato pelos Critérios de Light, onde 1 dos critérios já diagnostica o líquido como Exsudato. Até 25% dos derrames ditos como Exsudatos pelos Critérios de Light sejam verdadeiramente Transudatos. Assim, diante da dúvida, deve-se calcular o Gradiente Soro-Pleural de Proteína: proteína total do sangue – proteína total do líquido. Um resultado > 3,1 confirma ser Transudato e anula o critério de Light. Mateus Castro INTERNATO UNIFAMAZ – Saúde do Adulto I Tratamento Transudatos Pleurais No transudato a pleura não está doente. Logo, o tratamento é direcionado para o controle da doença de base cuja descompensação está causando o derrame. Uma toracocentese terapêutica pode ser indicada na vigência de desconforto respiratório, visando o rápido alívio do paciente. No entanto, se a doença de base não for controlada, o benefício da toracocentese será transitório. PLEURODESE é um procedimento que induz a fusão dos folhetos parietal e visceral da pleura após instilação de substâncias irritativas pelo dreno torácico (ex.: doxiciclina 500 mg, bleomicina), ou após abrasão mecânica ou instilação de talco durante a toracoscopia, gerando fibrose. De todas as opções disponíveis, a mais eficaz é a instilação de talco por videotoracoscopia. Derrame Pleural Neoplásico Para a maioria dos tumores malignos a existência de derrame pleural neoplásico significa doença metastática incurável. O tumor que melhor responde a essas medidas é o carcinoma de pequenas células pulmonares. De um modo geral, a única opção eficaz para esses doentes é a toracocentese terapêutica. REEXPANSÃO: Derrames pleurais muito volumosos sempre provocam algum grau de atelectasia do pulmão ipsilateral. O parênquima pulmonar cronicamente atelectasiado, quando reexpandido de forma SÚBITA, libera citocinas pró-inflamatórias devido ao fenômeno de “distensão dos alvéolos colabados”. Se isso envolver uma grande porção de parênquima, o resultado pode ser a síndrome do desconforto respiratório agudo (edema pulmonar não cardiogênico). A fim de evitar essa iatrogenia, recomenda-se não drenar mais do que 1-1,5 litros de derrame pleural CRÔNICO nasprimeiras 24h. Derrame Parapneumônico É dividido em 3 categorias: simples ou não complicado, complicado e empiema. 1 – Derrame parapneumônico não complicado: é estéril, geralmente de pequeno a moderado volume. Ele não requer drenagem, e sua resolução acompanha a resolução da pneumonia com antibióticos. 2 – Empiema: Representa infecção grosseira do espaço pleural, sendo francamente purulento (com bacterioscopia e/ou cultura positivos). A sua abordagem requer ATB + drenagem. 3 – Derrame parapneumônico complicado: Existem alterações inflamatórias sugestivas de invasão bacteriana do espaço pleural, porém esta pode não ser formalmente demonstrada (bacterioscopia e cultura negativos). O derrame complicado será tratado com antibioticoterapia + drenagem torácica se: 1 – Glicose < 60 mg/dl; 2 – pH < 7.2 ou 3 – pH entre 7.2-7.3 e LDH do líquido pleural > 1.000 U/l. O diagnóstico do derrame pleural na presença de pneumonia ou sepse deve ser realizado por meio da toracocentese diagnóstica, sendo recomendado o uso do USG para guiar a punção. Em pacientes cuja espessura da lâmina de líquido ao radiograma ou ao USG for < 10 mm, deve-se optar por observar a evolução e, em eventual aumento do líquido, proceder a toracocentese. Uma vez realizada a punção e o líquido analisado quanto à sua bioquímica, devem-se observar os critérios estabelecidos para definir o tratamento adequado, seja observação, punções de repetição ou drenagem torácica, que deve ser realizada com dreno calibroso. O uso de fibrinolíticos, apesar de controverso, pode ocorrerem casos selecionados. O tratamento com antibióticos é obrigatório, sendo, sempre que possível, guiado pelas culturas. Em caso de cultura negativa, deve-se empregar agentes que cubram patógenos comunitários e Gram-negativos. Se a infecção for nosocomial, o uso de agentes de amplo espectro está indicado. A abordagem cirúrgica está indicada na eventual falha de tratamento após a drenagem pleural. Mateus Castro INTERNATO UNIFAMAZ – Saúde do Adulto I Derrame Pleural Tuberculoso A tuberculose pleural pode ocorrer tanto na infecção primária quanto na reativação da doença e reflete a presença dos bacilos no espaço pleural ou a reação imune mediada por células T, alterando a fisiologia do mesotélio. A análise do líquido pleural, cujo aspecto é geralmente turvo e raramente hemorrágico, demonstra proteínas e DHL elevados e adenosina deaminase (ADA) acima de 40 UI/L. A citologia do líquido, em geral, apresenta 50 a 90% de linfócitos, sendo que nos primeiros 15 dias de evolução pode haver um predomínio de polimorfonucleares. Em geral, as células mesoteliais estão diminuídas, sendo pouco frequentes os valores acima de 5%. A positividade da bacterioscopia do líquido pleural é reduzida, sendo a cultura positiva em cerca de 10% dos casos; melhores resultados são vistos na cultura do fragmento pleural. A pesquisa de BAAR no escarro não deve ser desvalorizada, pois, apesar de a tuberculose pleural ser paucibacilar, em muitos casos existe a concomitância parenquimatosa. A biópsia pleural é ainda o exame diagnóstico padrão ouro, principalmente pela falta de estrutura para realização de outros exames como a ADA. A análise histológica pode apresentar-se com padrões morfológicos variáveis, desde exsudativo até granulomatoso completo ou incompleto, assim como demonstrar a presença de bacilos. Anotações:
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