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GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL Definir a anatomia pulmonar e da pleura; à O derrame pleural é definido como um acúmulo anormal de líquido no espaço pleural. A pleura é uma membrana de tecido conjuntivo recoberta por uma camada única de células epiteliais denominada mesotélio. Ela reveste, de forma contínua, a superfície externa dos pulmões e a superfície de todas as estruturas adjacentes, como a parede lateral do mediastino, a hemicúpula diafragmática e a face interna da caixa torácica, delimitando o espaço pleural – um espaço normalmente “virtual” que contém apenas uma pequena quantidade de líquido (necessário para reduzir o atrito durante os movimentos respiratórios). O folheto que reveste o interior da caixa torácica é chamado de parietal, enquanto o folheto que reveste os pulmões é dito visceral. Fisiologicamente, o líquido pleural é formado na pleura parietal. Este líquido é continuamente reabsorvido pelos vasos linfáticos da própria pleura parietal. Numa situação de homeostase, encontra-se de 5-15 ml de líquido no espaço pleural a cada momento. Os canais linfáticos podem absorver 20 vezes mais líquido do que é produzido normalmente. Por essa razão, o derrame pleural pode ocorrer quando há produção excessiva de líquido pleural (proveniente dos espaços intersticiais do pulmão, da pleura parietal ou da cavidade peritoneal), ou quando há redução da remoção desse líquido pelos vasos linfáticos. Diferenciar transudato e exsudato e citar os diagnósticos diferenciais do derrame pleural; A diferenciação entre transudato e exsudato é o grande divisor de águas na investigação do diagnóstico etiológico. A principal razão para buscar essa diferenciação é que exames diagnósticos adicionais estarão indicados aos pacientes com derrames exsudativo para definir a etiologia da doença local à O derrame pleural transudativo forma-se quando os fatores sistêmicos que influenciam a produção e a absorção do líquido pleural estão alterados. à O derrame pleural exsudativo acumula-se quando os fatores locais que regulam a formação e a absorção do líquido pleural estão alterados. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL Caracterizar as etiologias de um derrame pleural; A principal causa de derrame pleural na prática é a Insuficiência Cardíaca Congestiva – um transudato. As principais etiologias de exsudato são o derrame parapneumônico e o câncer. O tipo de câncer mais associado ao derrame pleural é o câncer de pulmão (responsável por 1/3 dos casos), seguido pelo câncer de mama e pelo linfoma (juntas, essas três doenças respondem por ~ 75% dos derrames pleurais neoplásicos). Estudar as manifestações clínicas do derrame pleural; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Derrames pleurais pequenos costumam ser assintomáticos. Nos pacientes que referem sintomas, as queixas mais frequentes são: (1) dispneia; (2) tosse; (3) dor torácica tipo “pleurítica” ou “respirofásica” (dor que piora na inspiração profunda e desaparece com o aumento do DP). Esse tipo de dor denota a existência de inflamação pleural (pleurite), e costuma desaparecer quando o acúmulo de líquido afasta as pleuras parietal e visceral, anulando seu atrito. Derrames muito volumosos podem causar a clássica trepopneia, isto é, dispneia em decúbito lateral com o lado que contém o derrame voltado para cima (o decúbito para o lado oposto alivia a dispneia). De um modo geral, a sintomatologia tende a ser mais intensa em portadores de doenças cardiopulmonares prévias. EXAME FÍSICO Derrames pleurais pequenos não possuem expressão semiológica. Derrames volumosos costumam produzir uma síndrome de derrame pleural: (1) macicez à percussão; (2) redução (ou abolição) do murmúrio vesicular acima da área de derrame; (3) desaparecimento do frêmito toracovocal. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL Se houver atelectasia compressiva do parênquima pulmonar subjacente notaremos a clássica respiração brônquica (som alto e agudo, com nítida divisão (silêncio) entre as fases inspiratória e expiratória) e a egofonia (o paciente fala “i”, mas o médico ausculta “e” – significa colabamento do espaço alveolar com brônquios pérvios). Um derrame que ocupa todo o hemitórax costuma produzir abaulamento dos espaços intercostais e desvio contralateral da traqueia. Nas pleurites iniciais (ainda sem derrame significativo), pode-se perceber o atrito pleural. Definir os exames de conduta e critérios diagnósticos para derrame pleural; Pontuar os achados típicos do RX em caso de derrame pleural; EXAMES DE IMAGEM Após suspeita clínica de derrame pleural, é mandatório realizar um exame de imagem para definir sua extensão. O método mais comumente utilizado é a Radiografia de Tórax em PA e Perfil. Para que o derrame seja visível na incidência em PA (Póstero- Anterior), é preciso que mais de 175-200 ml de líquido se acumule no seio costofrênico lateral, levando ao “velamento” desse seio. Para que o derrame seja visível na incidência em perfil, são necessários mais de 75-100 ml de líquido para “velar” o seio costofrênico posterior. Logo, a incidência em perfil é mais sensível do que a incidência em PA para o diagnóstico de derrame pleural. Derrames muito volumosos são facilmente identificáveis, pois produzem um aspecto inconfundível no RX: a famosa parábola de Damoiseau. Lawrell: Incidência com o paciente em decúbito lateral com raios horizontais. Lâmina líquida >1cm no RX = 300mL O método de imagem mais sensível para avaliar o derrame pleural é a Tomografia Computadorizada de Tórax, que é capaz de detectar volumes tão pequenos quanto 10 ml (ou seja, a TC consegue perceber até mesmo a presença do líquido pleural normal). Tal exame tem sua grande indicação no diagnóstico diferencial da doença de base, por permitir uma análise detalhada de todas as estruturas torácicas. Na suspeita de doença pleural, podemos ministrar contraste iodado endovenoso: a ocorrência de captação (ex.: pleural split sign, em que ambos os folhetos – parietal e visceral – estão espessados e se impregnam pelo contraste, sendo separados pelo conteúdo líquido do derrame) evidencia a existência de pleurite. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL Definir a indicação de toracocentese e compreender como o procedimento é realizado. DIAGNÓSTICO A Toracocentese Diagnóstica é o exame mais importante para esclarecer a etiologia de um derrame pleural. Diante de derrame pleural novo e sem causa aparente, devemos sempre realizar uma toracocentese. à Paciente sentado, de costas e MMSS apoiados, procura-se pelo nível em que o som da percussão demonstra inicio do derrame (7º-8º arco costal, abaixo da escápula). Quanto mais baixo entrar melhor, mas cuidar para não errar. Pode ser guiada por US nos derrames pequenos ou loculados. Entra com cateter em ângulo de 90º e sempre na borda superior do arco costal inferior para desviar do feixe vasculonervoso. Se a intensão for drenar todo o liquido pode-se usar um dreno. Se for só diagnostico, apenas um aspirado é necessário. Existem situações onde a toracocentese a princípio não precisa ser feita, por exemplo: paciente com insuficiência cardíaca congestiva que apresenta derrame pleural bilateral e simétrico (quadro típico). Nestes casos, inicialmente, pode-se apenas observar a resposta aos diuréticos, realizando a toracocentese somente se não ocorrer melhora conforme o esperado (em 75% das vezes o derrame pleural da ICC se resolve em até 48h de diureticoterapia adequada). Outras indicações de toracocentese na ICC são: (1) derrame francamente assimétrico; (2) febre; (3) dor torácica pleurítica. Feita a coleta, o primeiro passo na análise do líquido pleural é a avaliação de sua aparência, o que, em muitos casos, permite um diagnóstico imediato. Elucidar a investigação clínica do derrame pleural,ver os Critérios de Light; Quando o líquido pleural possui aspecto seroso, o próximo passo consiste na diferenciação bioquímica entre TRANSUDATO e EXSUDATO. Essa tarefa é facilmente realizada através do emprego dos Critérios de Light. - Se apenas um critério de Light positivo, pode- se usar o gradiente soro-pleural de proteína que é a Proteína sérica – proteína do líquido= GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL Ao definirmos se o derrame é um transudato ou exsudato, limitamos o rol de etiologias possíveis. Assim, a investigação subsequente deverá ser conduzida visando o diagnóstico das doenças incluídas no respectivo grupo, considerando o contexto clínico. Como no caso dos exsudatos assume-se que existe uma doença localizada na pleura, além das dosagens de proteína total e LDH (necessárias para os critérios de Light), avalia-se também, de forma rotineira: pH, glicose, celularidade (contagem de células mesoteliais, hemácias e leucócitos, estes últimos com diferencial), coloração de Gram, culturas e citologia oncótica (pesquisa de células neoplásicas). Outros exames “especiais” podem ser solicitados em cenários clínicos específicos. No QUILOTÓRAX, fazemos a pesquisa de quilomícrons e dosamos o nível de triglicerídeos do líquido pleural. Valores de TG > 100-110 mg/dl confirmam o diagnóstico. Os níveis de AMILASE no líquido pleural devem ser dosados perante a consideração diagnóstica de: (1) pancreatite; (2) pseudocisto pancreático; (3) câncer de pulmão ou de pâncreas; (4) ruptura esofagiana. Valores aumentados corroboram a relação etiopatogênica entre essas entidades (se presentes) e o derrame pleural. Na suspeita de TUBERCULOSE, indica-se ainda a pesquisa de BAAR (baciloscopia), TRM- TB (Teste Rápido Molecular para Tuberculose) e dosagens de ADA (Adenosina Deaminase) e/ou IFN-gama. A confirmação, no entanto, geralmente necessita da biópsia pleural (granulomas caseosos na histopatologia + cultura de fragmento positiva). Na suspeita de NEOPLASIA, a sensibilidade do primeiro estudo citológico varia em função do tipo específico de câncer e sua extensão, sendo em média de 50-65%. Logo, um resultado negativo não afasta o diagnóstico, e em pacientes com elevada probabilidade pré-teste a conduta é repetir a citologia oncótica, de preferência enviando ao laboratório o maior volume possível de líquido. Caso ainda assim o resultado seja negativo (persistindo uma elevada suspeita clínica), o próximo passo é a biópsia pleural guiada por toracoscopia (preferencial à biópsia “às cegas”). Com tal conduta, a sensibilidade aumenta para 92-96%. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL TRATAMENTO 1) TRANSUDATOS PLEURAIS No transudato a pleura não está doente. Geralmente envolve diurético de alça (Furosemidas), com radiografias seriadas para acompanhar os resultados – Casos de síndrome nefrótica ou insuficiência cardíaca. Logo, o tratamento é direcionado para o controle da doença de base cuja descompensação está causando o derrame (ex.: diureticoterapia para ICC, reposição de levotiroxina no hipotireoidismo). Uma toracocentese terapêutica pode ser indicada na vigência de desconforto respiratório, visando o rápido alívio do paciente. No entanto, se a doença de base não for controlada, o benefício da toracocentese será transitório. - Atentar-se ao risco de edema de reexpansão (rápida expansão pulmonar de um pulmão que estava atelectasiado, causando liberação de citocinas, podem aumentar a permeabilidade capilar gerando uma síndrome de desconforto respiratório agudo/edema pulmonar não cardiogênico). Sendo assim, evitar drenar mais que 1-1,5L/24h. A pleurodese raramente é necessária. - PLEURODESE é um procedimento que induz a fusão dos folhetos parietal e visceral da pleura após instilação de substâncias irritativas pelo dreno torácico (ex.: doxiciclina 500 mg, bleomicina), ou após abrasão mecânica ou instilação de talco durante a toracoscopia, gerando fibrose. De todas as opções disponíveis, a mais eficaz é a instilação de talco por videotoracoscopia. 2) Quimio e/ou radioterapia podem ser empregadas de forma paliativa, levando em conta que para a maioria dos tumores malignos a existência de derrame pleural neoplásico significa doença metastática incurável, além do uso de toracocentese terapêutica. Se houver reacúmulo do derrame (o que é comum), deve-se optar entre: (1) toracocenteses repetidas; (2) pleurodese; (3) instalação de dreno tubular permanente (que pode ser manejado no domicílio pelo próprio paciente). 3) DERRAME PARAPNEUMÔNIO É dividido em três categorias: (1) simples ou “não complicado”; (2) complicado; e (3) empiema. O derrame parapneumônico simples é estéril, geralmente de pequeno a moderado volume. Ele não requer drenagem, e sua resolução acompanha a resolução da pneumonia com antibióticos. O empiema, por outro lado, representa infecção grosseira do espaço pleural, sendo francamente purulento (com bacterioscopia e/ou cultura positivos). Além de antibioticoterapia, esse tipo de derrame precisa ser drenado o mais rápido possível, a fim de evitar a síndrome do encarceramento pulmonar secundária à fibrose pleural. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 3 – DERRAME PLEURAL Já o derrame complicado é aquele em que existem alterações inflamatórias sugestivas de invasão bacteriana do espaço pleural, porém esta pode não ser formalmente demonstrada (bacterioscopia e cultura negativos). Ele será tratado com antibioticoterapia + drenagem torácica se: (1) glicose < 60 mg/dl; (2) pH < 7.2 ou (3) pH entre 7.2-7.3 e LDH do líquido pleural > 1.000 U/l. A presença de loculações (comum nos derrames parapneumônicos “não simples”) dificulta a drenagem tubular. Nestes casos, pode-se tentar a lise das aderências com método químico (ex.: instilação intrapleural de fibrinolítico + DNAse) ou mecânico (debridamento por videotoracoscopia).
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