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MÓDULO – MÃO Esse módulo trata das principais patologias não traumáticas que acometem a mão, sendo elas a síndrome do túnel do carpo, a Tenossinovite de De quervain, o dedo em gatilho e o cisto sinovial. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO É a síndrome compressiva mais comum no membro superior dentre uma série de síndromes compressivas, como a síndrome do desfiladeiro torácico (região de transição entre a região cervical e o tórax, é uma área estreita que comporta a artéria subclávia e o plexo braquial), a síndrome do espaço quadrilátero, a compressão do nervo supraescapular, as síndromes compressivas do nervo mediano (pode ocorrer acima do cotovelo, na região do pronador redondo, no arco superficial dos dedos ou na região do túnel do carpo que é a que mais ocorre) , a síndrome do pronador, a síndrome do interósseo anterior, as síndromes compressivas do nervo ulnar (pode ser tanto na região do punho quanto no túnel cubital, afetando metade do quarto dedo e o quinto dedo nas regiões dorsal e ventral na mão, afetando sensitivamente e motoramente, ocasionando a mão em garra) e a síndrome compressiva do nervo radial (pode ser comprimido próximo ao punho, afetando a sensibilidade do dorso da mão do primeiro até o quarto dedo e pode ser comprimido na altura do terço médio do úmero, gerando a síndrome do sábado à noite, por ficar em cima do braço, com o paciente sem fazer extensão do punho, dos dedos e do polegar – mão em gota). Essa síndrome do túnel do carpo ocorre mais em mulheres na 4ª a 6ª décadas de vida, afetando de 5 a 8% da população mundial. É caracterizada pela compressão do nervo mediano ao nível do túnel do carpo. O túnel do carpo é uma região formada entre os ossos do carpo (assoalho) e o ligamento carpal/transverso do carpo, sendo que nesse espaço entre eles passam os 4 tendões flexores superficiais dos dedos, os 4 tendões flexores profundos dos dedos, o flexor longo do polegar e o NERVO MEDIANO (inerva polegar, 2º, 3º e metade do 4º dedo). Há alguns fatores predisponentes para essa síndrome (tudo que aumenta o volume do conteúdo na região ou tudo que diminui o túnel em si), como alterações hormonais (menopausa, hipotireoidismo, diabetes), artrite reumatóide, gestação, amiloidose, sequelas de traumas na região e tumores na região. QUADRO CLÍNICO: parestesia na mão ou dormência (+comum), acompanhada ou não de dor, inicialmente de caráter noturno (paciente acorda com a mão dormente a noite), comprometimento unilateral mais frequente e é mais comum de ocorrer na mão dominante (51% dos casos). EXAME FÍSICO: alteração sensitiva na área do mediano, atrofia tenar (região gordinha da mão) em casos mais graves, o que acarreta em fraqueza no movimento de pinça e pode ter diminuição da força irradiada até o ombro. Deve-se fazer o teste de phalen (durante 1 minuto) e o teste de phalen invertido (punho em dorsiflexão), os quais são positivos quando reproduzem os sintomas. Faz-se a digitopercussão em cima do nervo, em busca do Sinal de Tinel (dá um choquezinho pra ponta dos dedos invervados pelo mediano) e também se faz o teste de Durkan, que é a digitocompressão do túnel do carpo (mais específico e sensível nesse caso). *O DIAGNÓSTICO DESSA SÍNDROME É CLÍNICO, COM A HISTÓRIA E ESSES TESTES REALIZADOS JÁ SE PODE INSTITUIR O TRATAMENTO! EXAMES COMPLEMENTARES: a eletroneuromiografia é o mais importante (tempo de resposta sensitivo e motor geralmente aumentado em pacientes positivos) mas não é indispensável pra fechar o diagnóstico, sendo que ele só confirma o diagnóstico clínico. É usado geralmente em pacientes mais difíceis (poliqueixosos, reincidentes, paciente que não se comunica muito bem, casos atípicos). As radiografias auxiliam muito pouco, usada somente pra destacar anormalidades ósseas. Os exames laboratoriais são usados pra avaliar doenças sistêmicas. CLASSIFICAÇÃO: classifica-se em leve (testes provocativos + sintomas transitórios, principalmente à noite – geralmente nesse estágio tem só sintomas sensitivos, dormência e dor), moderada (sintomas constantes, paresia e hipoestesia – perda de força e sintomas que duram durante todo o dia) e grave (hipotrofia da região tenar e alteração grave de sensibilidade – essa lesão não se recupera geralmente, nem com a cirurgia). TRATAMENTO: geralmente faz-se a abordagem cirúrgica, sendo o tratamento conservador uma exceção, feito em casos iniciais e leves, com paciente sem condições de operar ou em gestantes que terão melhora do quadro ao fim da gestação, pacientes com doenças sistêmicas que quando controladas também aliviarão os sintomas. Nesses casos, faz-se o uso de talas em leve extensão, repouso, AINEs e fisioterapia, devendo-se evitar (pode ter necrose de pele, lesão de tendão,...) a infiltração com corticoide para alívio temporário. O tratamento cirúrgico tem uma boa resposta (90% de taxas de bom resultado), podendo ser feito com uma incisão reta entre a região tenar e hipotênar e abrindo o ligamento transverso do carpo, por uma incisão em ziguezague, geralmente em recidivas e casos atípicos ou por uma incisão MINI OPEN (mais utilizada atualmente), que faz a liberação anatômica através de uma incisão bem pequena. Pode ser feito ainda por endoscopia, porém não faz sentido, a MINI OPEN é só vantagens. Cirurgia simples, rápida e com bons resultados. COMPLICAÇÕES: a cirurgia terá menos complicações de acordo com a experiência do cirurgião, sendo que um especialista em mão tem taxas abaixo de 5% de complicações. Uma complicação que pode ocorrer é o alívio incompleto, em casos de paciente que tem a compressão no túnel do carpo mas também tem em outro local, não aliviando assim completamente os sintomas. Outras que podem ser citadas são a distrofia simpático-reflexa, a sensibilidade na cicatriz, rigidez dos dedos e neurite. TENOSSINOVITE DE DE QUERVAIN É a tenossinovite (inflamação do tendão ou do tecido que recobre um grupo de tendões) do primeiro compartimento extensor (abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar). Acomete mais mulheres, de 30 a 50 anos de idade. ETIOLOGIA: maior parte é idiopática, tem relação com movimentos repetitivos (LER/DORT*) e também com sequelas de fraturas de rádio distal. Quando se tem uma fratura desse tipo consolidada errada, essa é a tendinite mais comum de acontecer. CLÍNICA: dor em região do estilóide radial (punho), edema, ressalto e espessamento. Alguns pacientes, em fases mais agudas, ao mexer o polegar fazem um rangido na região do punho. A região da “tabaqueira anatômica” pode se apresentar discretamente abaulada e dolorosa. O teste de Finkelstein é patognomônico pra essa doença. EXAMES DE IMAGEM: o RX geralmente exclui outras causas de dor (ex: artroses). O USG avalia processo inflamatório e quantifica os tendões (essa região tem muita variação anatômica, deve-se sempre averiguar o paciente). *O DIAGNÓSTICO DESSA DOENÇA É CLÍNICO, COM A HISTÓRIA E O EXAME FÍSICO JÁ MATA. O USG AJUDA NO PLANEJAMENTO CIRÚRGICO E NA CONFIRMAÇÃO DO DIAGNÓSTICO SOMENTE. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: o principal diagnóstico diferencial é a osteoartrite da articulação carpometacarpiana do polegar. A maneira de diferenciar mais comum é injetar lidocaína na região distal ao processo estilóide do rádio, sendo que se a dor passar completamente é tenossinovite e se não passar, é osteoartrite. TRATAMENTO: o tratamento é essencialmente cirúrgico, com tratamento conservador sendo feito somente em casos de exceção, já que a partir do momento que tem um processo inflamatório na região, dificilmente ele melhora sozinho, estabelece-se um ciclo vicioso de inflamação. Esse tratamento conservador envolve imobilização, AINEs e fisioterapia, sendo que a infiltração local não é feita por suas complicações citadas anteriormente nesseresumo!! A cirurgia é feita com um acesso oblíquo, tomando cuidado com o ramo sensitivo do nervo radial (passa em cima do retináculo extensor). O objetivo da cirurgia é “abrir” o retináculo pra criar mais espaço no interior desse compartimento. As falhas da cirurgia se dão por aderências, formações de neuroma (quando afeta o nervo), subluxação volar dos tendões, cicatriz hipertrófica e não liberação das septações. DEDO EM GATILHO É a inflamação da bainha dos tendões flexores, é uma tenossinovite estenosante com bloqueio progressivo. Ocorre a formação de um calo/nódulo (geralmente pelo esforço repetitivo de flexão e extensão) na área próxima da polia que mantém o caminho dos tendões flexores na região metacarpofalangiana, sendo que quanto mais esse nódulo tendinoso evolui e passa pela polia, ele trava seu funcionamento, aumentando dor, gerando uma trava parcial (gatilho – paciente pode até mesmo ouvir um estalo quando trava nessa posição) e depois pode até bloquear o movimento. Afeta mais mulheres, idade de 40 a 60 anos e geralmente atinge o lado dominante. A ordem de mais incidência é POLEGAR – 4º DEDO – 2º DEDO – 3º DEDO – 5º DEDO. ETIOLOGIA: nodulação sinovial, associação com pacientes diabéticos insulino-dependentes e pacientes com doenças do colágeno, como artrite reumatóide. CLÍNICA: varia muito, vai desde uma simples sinovite até um bloqueio em flexão, deixando o paciente sem mobilidade. Varia em graus, sendo o Grau 0 somente dor e crepitação sob a polia A1 (desconforto somente), o Grau 1 é o bloqueio esporádico (ao acordar o dedo fica mais bloqueado), o Grau 2 é bloqueio constante com redução ativa, Grau 3 é bloqueio constante com redução passiva e o Grau 4 é deformidade fixa (ou o dedo fica bloqueado pra baixo ou não consegue fechar mais fechar). TRATAMENTO: essencialmente cirúrgico, envolvendo a abertura da polia A1 e a soltura (tenólise) dos tendões flexores. As incisões são variadas, deve-se tomar cuidado com o feixe vásculo-nervoso no polegar. Cirurgia simples, pode ser feita até de forma ambulatorial. O tratamento conservador é de exceção, com uso de repouso, AINEs e fisioterapia e, novamente, infiltração com corticoide é contraindicada. A liberação percutânea (usada no passado) também é contraindicada. CISTO SINOVIAL É um tumor benigno preenchido por líquido sinovial. Dilatação anormal da membrana sinovial, a qual recobre articulações e tendões. Pode acontecer em vários locais, mais comumente no dorso da mão, punho e região radial volar do punho. Esse nódulo geralmente é indolor, evolução completamente benigna. O tratamento conservador NESSE CASO é o mais utilizado, fazendo uso de AINEs, repouso e observação e, principalmente, orientação ao paciente quanto à benignidade do cisto. Também se deve evitar punção e infiltração. Apela-se para o tratamento cirúrgico em casos de dor (quando surge ou quando ele aumenta muito pode doer), aumento progressivo do cisto e por interesse estético. A cirurgia resume-se à retirada do cisto e tem uma taxa de recidiva de 10%. Se o cisto estourar, em uma pancada por exemplo, também tem taxa de recidiva de 40 a 50%. Punção e sumiço espontâneo do cisto tem taxas de recidiva de 90%. FIM!!!
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