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1 Fabiana Nogueira-5º semestre Síndromes dispépticas Significado: Dor ou desconforto crônico, persistente ou recorrente, em andar superior do abdômen, podendo ou não estar associado a outros sintomas do TGI.Podemos perceber a partir dessa definição a quantidade de diagnósticos diferenciais que existem. Características da dor epigástrica: Tipo queimação Em peso Em aperto Tipo facada Tipo cólica O paciente pode queixar-se também: Plenitude pós-prandial Empachamento Má digestão Saciedade precoce Observação: A pirose e regurgitação não fazem parte da dispepsia. Epidemiologia: É mais frequente em mulheres, tabagistas e pacientes em polifarmácia (principalmente AINH). História clínica e exame físico são essenciais para o bom diagnóstico: Na história clínica iremos ouvir o paciente relatar “Doutor, tudo que eu como me faz mal”. Nessa história precisamos ter conhecimento: 1)caracterização da dor: localização e irradiação, tipo, intensidade, duração, evolução e tempo desde a primeira sensação, relação com outros sintomas se forem presentes, fatores desencadeantes e de alívio com ênfase na dieta. 2)Plenitude pós prandial: Quando inicia, quanto dura, quais alimentos mais desencadeia, associação com distensão de abdome, náuseas, regurgitação. 3)Saciedade precoce: frequência e tipo de alimentos que desencadeia sintomas associados, fatores de melhora. Diagnóstico topográfico: Nos guiamos a partir da inervação e origem embrionária. Diante do diagnóstico sindrômico de dispepsia: teremos uma divisão de fisiopatologia: dispepsia estrutural (teremos um substrato anatômico para justificar os sintomas, ou seja, iremos encontrar doenças orgânicas) e dispepsia funcional (mal funcionamento da motilidade, secreção ou condução do estímulo sensitivo motor para musculatura lisa). Sinais de alarme para dispepsia: Emagrecimento não explicado 2 Fabiana Nogueira-5º semestre Sinais de sangramento (anemia, sangramento digestório- hematêmese, melena). Obstrução e presença de massas (icterícia, visceromegalia ou massas abdominais, disfagia progressiva e vômitos persistentes) Cirurgias gástricas prévias Sintomas sistêmicos Esses red flags indicam maior probabilidade de doença orgânica e indicam quais pacientes precisam de propedêutica mais rápida e ampla. Possíveis etiologias da dispepsia: Gastrite associada ao Helicobacter Pylori Doença ulcerosa péptica Câncer gástrico Doença hepatobiliar (colelitíase) Doença pancreática (pancreatite crônica e câncer de pâncreas) Parasitoses Se eu não encontro nada do ponto de vista orgânico Dispepsia funcional Gastrite associada ao Helicobacter Pylori: HP é uma bactéria gram negativa, espiralada, microarófila, único hospedeiro é o estômago humano. A transmissão se dá de pessoa para pessoa, contato oral-oral, contato fecal- oral, astro-oral e, possivelmente através de alimentos contaminados. O HP possui formas de ludibriar o PH ácido do estômago e conseguir sobrevier nesse meio→ Sabemos que o PH do estômago gira em torno de 2 (extremamente ácido), porém o HP tem a capacidade de quebrar a ureia em amônia, pois ele possui uma enzima chamada urease que faz esse processo. O ambiente do muco em que a bactéria está inserida fica cheio de amônia e isso faz aumentar o PH para algo em torno de 6. O HP também possui flagelo que garante a motilidade, fazendo com que eles consigam penetrar no muco e se aproximem das células epiteliais. Além disso o HP possui adesinas que fazem a aderência a essas células (superfície do estômago). A partir dos componentes de virulência geram o processo inflamatório no estômago→ Gastrite. Nem todos os pacientes com gastrite são sintomáticos! Dependendo da virulência da bactéria e dependendo das condições predisponentes do hospedeiro, podemos desenvolver: Úlcera duodenal, úlcera gástrica e neoplasia. Sintomas da gastrite crônica: Muitos pacientes com gastrite crônica associada ao HP são assintomáticos. Alguns apresentam dispepsia: sintomas crônicos e recorrentes de dor epigástrica (queimação, aperto, contínua ou incaracterística), empachamento, plenitude epigástrica, saciedade precoce, náuseas, desconforto pós prandial. A suspeita clínica será baseada em dados epidemiológicos e de sintomas e a certeza do diagnóstico, nesse caso, ela endoscopia digestiva alta com testes específicos para HP. Doença ulcerosa peptídica: 3 Fabiana Nogueira-5º semestre O que é ulcerosa péptica-uma solução de continuidade da mucosa a submucosa que ocorre quando há a quebra de equilíbrio de fatores agressivos e fatores protetivos a mucosa TGI.Obs.: Se for uma lesão somente de mucosa, chamamos de erosão. Mucosa normal: Está exposta a PH ácido e enzimas digestivas, então temos habitualmente fatores lesivos, porém temos fatores protetivos que protegem nossa mucosa gerando equilíbrio entre os fatores agressivos e protetivos. Úlcera: Anteriormente se acreditava que o ácido seria o principal fator que acometia os pacientes e geraria a úlcera, porém hoje se sabe que o H. pylori é o fator principal para as lesões ulceradas pépticas. Lembrando que uso de AINES, tabagismo, etilismo, patologias que aumentam a secreção de ácidos podem desenvolver a úlcera. Observações quanto as úlceras: São mais comuns em homens A úlcera duodenal é mais comum que a úlcera gástrica. A úlcera duodenal-95% é de associação com HP, mais comum entre 30-45 anos. A úlcera gástrica-60 a 70% associação com HP, mais comum 60-70 anos. O segundo agente etiológico mais comum é o uso de AINS. Fisiopatologia da úlcera associada ao H. pylori: Paciente tem a infecção através do HP, um número grande de pacientes terá somente a gastrite crônica, esse paciente terá acidez normal no estômago e apresentará um epitélio gástrico normal. Um outro número de pacientes pode desenvolver uma gastrite somente do antro, esse paciente apresentará uma hipoacidez, teremos um estímulo as células G na produção da gastrina para que a mesma estimule as células parietais e assim adquirirmos uma maior produção de ácido, gerando então um paciente hiper clorídrico, com maiores chances de desenvolver úlcera duodenal. Por outro lado, um menor número de pacientes desenvolve uma gastrite do corpo e do antro (pangastrite)→quando a gastrina for produzida, encontrará uma célula parietal inflamada não conseguindo produzir uma grande quantidade de ácido→ paciente hipoclorídrico. A inflamação das células do corpo gástrico vai gerar mudanças nessas células, fazendo com que se tenha tendência a hipertrofia, displasia, úlcera gástrica e câncer gástrica. RESUMO da úlcera gástrica associada ao HP: HP se liga a mucosa e sua presença gera um processo inflamatório, levando a uma agressão local e uma redução de defesa local→formação da úlcera. Úlcera associada a AINES: As prostaglandinas que são inibidas pelo aines são uma das responsáveis pela motivação da proteção gástrica. Sintomas: Úlcera gástrica: Dor epigástrica em queimação, dor melhora um pouco ou não melhora com alimentos, responde pouco a anti-ácidos, hiporexia, perda ponderal, pode ter “clocking” (acordar a noite com dor). Úlcera duodenal: dor melhora com a dieta e com anti-ácidos, hiperfagia e ganho de peso, 4 Fabiana Nogueira-5º semestre frequente “clocking”, frequente sintomas periódicos. Se complicada: Melena, hematêmese, anemia, febre, dor abdominal intensa, sinais de irritação peritoneal. Câncer gástrico: é causado pelo HP. Como sabemos, na infecção pelo HP desenvolvem uma gastrite superficial e uma gastrite crônica posteriormente. Alguns pacientes permanecem assintomáticos,alguns terão ulcera, e alguns (principalmente os pacientes que tenham pangastrite) pegam a via da mudança celular. São mais comuns em homens. Sintomas iniciais indistinguíveis de dispepsia benigna ou da dispepsia que sugere úlcera gástrica. Dor epigástrica em queimação ou aperto, piora com alimentação. Pode se associar a náuseas, hiporexia. Quando mais avançado pode gerar perda ponderal, melena, anemia, dor mais intensa e palpação epigástrica e massa palpável. Doença hepatobiliar (colelitíase): A litíase biliar é muito frequente. A maioria dos pacientes serão assintomáticos. Teremos a formação de um cálculo dentro da vesícula biliar. Fisiopatologia da formação dos cálculos: Cálculos de colesterol- se formam devido a uma supersaturação de colesterol associada a uma vesícula biliar com hipomobilidade, isso gera uma bile mais espessa (lama biliar), essa lama pode gerar microcristais (microlitíase), e a união desses microcristais→cálculos. O segundo tipo de cálculo mais comum é o cálculo de bilirrubinato: Ocorre o aumento do aporte de bilirrubina em pacientes principalmente com doenças hemolíticas. Cálculos marrons (com infecção bacteriana da bile). Fatores de risco: 5F (obesidade, histórico familiar, múltiplos parto, sexo feminino, 40 anos). Sintomas: Maioria dos pacientes assintomáticos Nos sintomáticos temos 70 a 75% “cólica biliar”. Não há certeza se sintomas leves de empachamento e desconforto em epigástrio podem ser atribuídos a colelitíase. A cólica biliar→ dor epigástrica e hipocôndrio direito, pode irradiar para região interescapulovertebral, intensa, contínua, raramente cólica. Início súbito, geralmente pós refeições ou na madrugada, dura de 15 minutos a 3 horas. Frequentes náuseas e vômitos. Detalhe: Sinal de Murphy ao exame físico: colecistite. 5 Fabiana Nogueira-5º semestre Outros→coledocolitíase (quando o cálculo vai para o colédoco) e colecistite (infecção bacteriana da vesícula). Doença pancreática (pancreatite crônica): Etiologia está associada ao alcoolismo em 90% dos casos. Tabagismo é um fator etiológico independente. Poucos casos são hereditárias, nutricionais ou metabólicas. É caracterizada pela progressão da inflamação do parênquima pancreático e substituição por tecido fibroso com calcificação, distorção dos ductos e formação dos cálculos. Fisiopatologia: paciente consome álcool→agressão direta do pâncreas→ suco pancreático rico em proteínas→ formação de plugs proteicos nos ductos pancreáticos→ deposição de cálcio e formação de cálculos→obstrução dos ductos pancreáticos→ podem gerar inflamação ou aumento da pressão intramural→pancreatite crônica. Sintomas: Mais comum em homens Terceira a quinta década de vida Dor costuma ser a primeira manifestação clínica: contínua, moderada a intensa, epigástrica irradiando para HCD ou HCE e para dorso. Pode durar horas, dias ou semanas, geralmente após a libação alcoólica ou alimentar. A esteatorreia, perda ponderal e o diabetes pancreático (resulta em mais de 90% de perda de parênquima pancreático). Câncer de pâncreas: 95% das neoplasias pancreáticas são exócrinas,70% localizadas na cabeça do pâncreas. Maioria absoluta são adenocarcinomas. Pancreatite crônica é fator predisponente É neoplasia altamente consumptiva, com invasão local e, no tempo do diagnóstico, somente 10-20% tem potencial para ressecção. A dor é sintoma cardinal, inicialmente é moderada, irradia para o dorso, contínua, piora pós alimentar. Associada a náuseas e vômitos. Com a progressão da doença piora muito a dor e associa rápida perda ponderal. A icterícia está presente em mais de 80% dos casos. Parasitoses: precisamos lembrar dos parasitas cujo habitat é o intestino delgado em sua porção proximal: 1)Strongyloides stercoralis 2) Giárdia Lamblia 3)Ancylostoma duodenalis Dor epigástrica incaracterística, pode ser continua, episódica, moderada, associada ou não a vômitos, náuseas, anemia, sintomas de má absorção intestinal, sintomas pulmonares e sintomas cutâneos (penetração da larva) OBSERVAÇÃO: Se não há alteração orgânica, metabólica, estrutural... Dispepsia funcional. Critérios (roma IV) -um ou mais: Dor epigástrica Queimação epigástrica Empachamento Saciedade precoce 6 Fabiana Nogueira-5º semestre Sem evidências de doenças orgânicas, sistêmica ou metabólica em investigação de rotina (inclusive EDA). Detalhe: Gastrite enantematosa antral não é considerada alteração estrutural, orgânica a menos que tenha definição etiológica→ Dispepsia funcional. Observação: pacientes com Dispepsia funcional o caracterizamos a partir de duas síndromes clínicas: 1)Sintoma mais importante: empachamento e má digestão (paciente com síndrome do desconforto pós prandial, esse paciente vai melhorar: alimentação e medidas que melhorem a motilidade). 2) sintoma mais predominante: DOR (síndrome de dor epigástrica) esse paciente vai melhorar mais com bloqueio ácido). ENTÃO... Se o paciente não tem alteração estrutural, como explicar os sintomas? Temos o eixo cérebro- intestinal, alterações centrais influenciam no TGI. Se eu tenho um paciente com uma dispepsia com 3 meses e não tratado→ Precisamos saber se nosso paciente tem sinais de alarme, se não→ podemos fazer um tratamento empírico. Se o paciente tiver sinais de alarme→ endoscopia digestiva alta (se encontrarmos a etiologia→ dispepsia orgânica). Se não encontrarmos a etiologia→ solicitar novos exames com focos em outras etiologias. Se mesmo assim não encontrarmos→Dispepsia funcional.
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