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FEBRE DO NILO OCIDENTAL Uma vez dentro do corpo humano, acredita-se que a replicação inicial ocorra na pele e em linfonodos regionais gerando uma viremia primária no retículo endotelial. Nos dias imediatamente após a infeccção o vírus inicia um processo de replicação e aumenta seu nível na circulação sanguínea, sendo este um período de alta viremia (AUDUBON, 2006; CORRÊA, 2008). Os cientistas ainda não entendem o exato mecanismo dos locais de replicação do vírus do Nilo Ocidental, sabe-se somente que o vírus se multiplica e pode cruzar a barreira hematoencefálica.Sua entrada faz com que o sistema imunológico inicie uma resposta inflamatória o que causa os sintomas mais graves da inflamação da medula espinhal e ou do cérebro pelo vírus do Nilo Ocidental Infecção viral aguda que pode transcorrer de forma subclínica ou com sintomatologia de distintos graus de gravidade, variando desde febre passageira acompanhada ou não de mialgia até sinais e sintomas de acometimento do sistema nervoso central com encefalite ou meningoencefalite grave. SINONÍMIA - Febre do Oeste do Nilo - West Nile Fever (WNF) -Virus del Nilo Occidental (VNO) HISTÓRICO 1937 : Uganda, Distrito de West Nile 1950 : Surtos no Egito → Estudo da ecologia → Variações da doença Surtos em Israel → 1951-54 → 1957 • Meningoencefalite em idosos 1962, 2000 → França 1973-74 → África do Sul 1996→ Romênia ● Primeiro surto em área urbana industrializada 1998 → Itália 1999 → Rússia → EUA, Nova York→ Primeira ocorrência no ocidente ETIOLOGIA ● RNA Vírus ● Família Flaviviridae ● Gênero Flavivirus (Grupo B) → Relacionado ao Vírus da Encefalite de Saint Louis (SLE) e da Encefalite Japonesa (JE) ● Infecta humanos, aves, mosquitos, equinos e outros mamíferos. → West Nile Virus (WNV) : Virion arredondado EPIDEMIOLOGIA → Distribuição mundial: África, Ásia, Europa EUA e Canadá Maior frequência → verão. Vetores biológicos com maior incidência. 2005 a 2009 : EUA época com maiores surtos ● Maior abundância dos vetores biológicos (mosquitos) ● Pode ser endêmico ou epidêmico → Introduzida em 1999 nos EUA → Epizootia em equinos (2002) : grande epizootia causando grande prejuízos econômicos ● >15.000 casos ● Letalidade >36% → Casos humanos de encefalite ● 2002 → 4.000 ● 2003 >9.800 em 46 estados dos 50. → EUA (2003) : Casos positivos ● 4.554 equinos ● 30 cães ● 17 esquilos ● 1 gato ● 32 espécies animais não identificadas Argentina (2006) ● Abril → Detectado em equinos ● Dezembro → primeiro caso de encefalite humana . Casos animais antecedem aos casos humanos. ● Colômbia (2008) Brasil → Após os casos dos EUA e Argentina fez investigações → Existe evidência sorológica de atividade viral no pantanal sul matogrossense → 198 amostras : 30 jacarés (EUA ocorreu sorologia positiva) e 168 cavalos ● 5 cavalos soropositivos para Febre do Oeste do Nilo → Todos as amostras de jacaré e mosquitos foram negativas Epizootias em equídeos ● Espírito Santo (2018) → 33 → 5 confirmadas por laboratório • Nova Venécia [1], São Mateus [1] e Baixo Guandu [3] ● Ceará (2019) e São Paulo (2019)--> houve confirmação de epizootias em equinos. 2018: maior afetado→ ES - havia circulação mas esse vírus não se propagou para o humanos nesta região. Brasil – Casos humanos ● Piauí: Aroeiras do Itaim (2014), Picos (2017), Piripiri (2017), Lagoa Alegre (2019), Teresina (2019) e Amarante (2019), Água Branca (2019) ● 1 óbito → Piripiri – PI ES ceará e SP- com epizootia e PI - com casos humanos Transmissão → O ciclo de transmissão do vírus envolve aves e mosquitos. Nos mosquitos, a transmissão vertical do vírus favorece a sua manutenção na natureza. → O homem e os equinos são considerados hospedeiros acidentais e terminais, uma vez que a viremia se dá por curto período de tempo e em níveis insuficientes para infectar mosquitos, encerrando o ciclo de transmissão. → Algumas espécies de aves atuam como reservatórios e amplificadores do vírus, em decorrência da elevada e prolongada viremia que apresentam, quando atuam como fonte de infecção para os vetores → Principalmente pela picada de mosquitos do gênero Culex :43 espécies → Aedes, Anopheles e outras espécies de mosquitos também podem servir de vetores. As espécies Culex quiquefasciatus e Aedes albopictus, ambos com registros de isolamento do vírus, apresentam elevada abundância e ampla distribuição no Brasil, constituindo-se como potenciais vetores do vírus do Nilo Ocidental no país. ● Incomumente isolado de carrapatos → Ásia, Rússia Papel na transmissão não está esclarecido Reservatórios: Aves → rota migratória passando pelo Brasil ● Principalmente os Corvídeos Hospedeiros amplificadores→ Aves. Espécies migratórias. Rotas que integram Europa ásia e áfrica com as américas. 2 rotas pelo brasil, margeando o litoral e outra cruzando o BR. Te sistema de monitoramento das aves migratórias pensando na influenza mas junto com FNO. O BR ainda não passou por uma epizootia, mas os cuidados são refletidos por conta da experiência dos EUA. Vigilância sorológica nas aves. Hospedeiros Acidentais→ Humanos, equinos e outros animais Vetores → Culex, Aedes, Anopheles. As larvas mantêm o vírus (transovariana e transestadial- o vírus mantém o vírus por algumas gerações sem hospedeiro- podem ser considerados reservatórios). Mosquitos infectados : Transmissão transovariana e transestadual. Meta zoonose tipo IV. Aves: Transmissão por contato e Transporte migratório (hospedeiros amplificadores). Geralmente as infecções em hospedeiros acidentais não conseguem sustentar uma epidemia, e sim as aves que sustentam ( não costumar ter uma viremia alta e persistente). Transmissão em laboratório ● Laceração durante necropsia de ave - estava em viremia ● Acidente com agulha Transfusão sanguínea - evento raro por conta da viremia curta ● 2002 : 23 casos ● 2003 : Implementada triagem → 737 doadores presuntivamente virêmicos → 2 casos associados à transfusão Transplante de órgão → 4 casos documentados de um doador → Doador recebeu sangue de doador virêmico Transmissão transplacentária ● 27 semanas de gestação → Amamentação ● Mãe recebeu sangue contaminado ● Criança positiva Ocorre pela picada de mosquitos, que se infectam ao realizar o repasto sanguíneo em aves infectadas e em período de viremia. O vírus se replica no intestino dos mosquitos e migra para as glândulas salivares, de onde pode ser transmitido para outros animais durante novos repastos sanguíneos. Período de incubação De 2 a 14 dias. Período de transmissibilidade Nas aves, a viremia pode durar vários dias, dependendo da espécie, e pode ultrapassar três meses. Esquilos e coelhos podem desenvolver viremia suficientemente elevada para infectar mosquitos, levantando a possibilidade de que pequenos mamíferos podem contribuir para o ciclo de transmissão do vírus do Nilo Ocidental. SINTOMATOLOGIA - Humanos A forma leve da doença caracteriza-se por febre aguda de início abrupto, frequentemente acompanhada de mal-estar, anorexia, náusea, vômito, dor nos olhos, dor de cabeça, mialgia, exantema máculo- -papular e linfoadenopatia. → Período de incubação : 3 a 14 dias ● 80% assintomáticos ou semelhante a gripe ● 20% febre, fraqueza, cefaléia, mialgia, náusea, vômitos. → Duração dos sintomas 3 a 6 dias → Lesões de pele máculo-papulares - ● Mais frequente em crianças → Epidemias recentes : meningoencefalite. Forma mais grave que pode levar a óbito Menos de 1% dos infectados ● Desenvolve forma grave → Lesão neurológica : Encefalite (principalmente meningoencefalite) • Febre, confusão, desorientação, convulsões, ataxia, tremores, rigidez de nuca, coma. Fraqueza muscular a paralisia flácida das extremidades - síndrome de guilanbaret Forma grave → Letalidade 3 a 15% → Maior entre idosos: >50 anos→ maior risco → Mortalidade 0,1% 1:1.000 infecções SINTOMATOLOGIA - Animais Aves (Corvídeos) ● Comumente encontrados mortos Morcegos, esquilos, gambás e coelhos domésticos ● Maioria não desenvolve sinais clínicos Esquilos cinzentos ● Letargia,mordem as patas, vocalização, ataxia, andar em círculo, encefalite, ( associação de sintomas neurológicos com cardíacos é muito sugestivo de FNO). semelhante ao quadro dos humanos. Bovinos ● Ataxia progredindo para paralisia- confunde-se com raiva e botulismo Alpacas, ovinos, caprinos ● Febre, nistagmo horizontal, torcicolo, ataxia. Vocalização. Cães e gatos ● Raramente têm sinais clínicos : Febre, depressão. Fraqueza e espasmos musculares. Convulsões, paralisia, miocardite. Lobo → 1 caso ● Animal de zoológico com 3 meses de idade. Apresentava sinais neurológicos. Animais exibindo sinais neurológicos e cardíacos→ Suspeitar de Febre do Oeste do Nilo - Equinos Paralisia nos lábios, músculos faciais ou língua; Balançar de cabeça, dificuldade de engolir; Estado mental alterado; Sensibilidade a barulho; Cegueira; Perda de propriocepção; Sonolência. Síndrome gripal, anorexia, depressão; Movimentos de pele e músculo; Hiperestesia; Andar propulsivo; Fraqueza, ataxia; Convulsões. ● Manguito perivascular – cérebro de equino. Inflamação encefálica com infiltrado inflamatório ao redor dos vasos. DIAGNÓSTICO - Humanos O teste diagnóstico mais e!ciente é a detecção de anticorpos IgM contra o vírus do Nilo Ocidental em soro (coletado entre o 8º e o 14º dia após o início dos sintomas) ou em líquido cefalorraquidiano (LCR) (coletado até o 8º dia a partir do início dos sintomas), utilizando a técnica de captura de anticorpos IgM (ELISA). Pacientes recentemente vacinados ou infectados com outro Flavivírus (como por exemplo, febre amarela, dengue, encefalite japonesa e Saint Louis) podem apresentar resultado de IgM-ELISA positivo (reação cruzada) e deve haver confirmação por outras técnicas, como a soroneutralização. → Sorologia : Soro ou líquor → ELISA IgM captura (MAC-ELISA): Após 8 dias já tem Ac no líquor → Aumento do título → 4x ou mais ● Aguda/convalescência → 3 semanas de intervalo ● Forte evidência de infecção → Presença de IgM no líquor → infecção SNC . Quando o vírus pertence ao grupo B pode dar reação cruzada com o grupo A ou com outros do flavivirus. → Reação cruzada com outros Flavivírus ● SLE, JE, Febre amarela e Dengue Teste de neutralização da redução de placas ● Diferencia reações cruzadas ● Testes negativos → Amostra colhida após 14 dias da doença → Confirmar Duração da imunidade → Desconhecida ● IgM → Sangue 6 meses ou mais → Líquor mais de 16 meses DIAGNÓSTICO - Equinos Sorologia : Soropositivo e não vacinado infecção Imunidade → Vários meses Realizar necropsia com precaução: as aves têm viremia alta em comparação aos equinos. No BR ainda não tem vacina licenciada e os testes não diferenciam Ac da vacina e da exposição natural. Tratamento Para os quadros moderados e leves sem comprometimento do sistema nervoso central, não existe tratamento específico. É apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos, quando indicado. Nas formas graves, com envolvimento do sistema nervoso central, o paciente deve ser atendido numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) PREVENÇÃO E CONTROLE ● Vacina para equinos (EUA) : Licenciada em novembro 2002, Inativada ● 2 doses Intervalo de 3 a 6 semanas ● Revacinação anual ● Uso restrito a veterinários dos EUA. Evidências epidemiológicas não sustentam a regulamentação da vacina no BR. Controle de vetores ● Vigilância entomológica ● Redução de criadouros ● Proteção individual . Culex pica principalmente de noite. ● Controle biológico ● Larvicida - produtos a base de sal, cloro. ● Adulticida O vírus do Nilo Ocidental foi isolado pela primeira vez em Uganda, em 1937. Desde então, a febre do Nilo Ocidental foi identificada em humanos e animais na África, Ásia, Oceania, Europa e Oriente Médio. Nas Américas, emergiu em 1999 nos EUA, onde foram registrados mais de 36 mil casos, dos quais cerca de 16 mil manifestaram a forma grave, com duas mil mortes (taxa de letalidade de 12,8% entre os casos graves) até 2012. A partir de então, o vírus se dispersou para outros países das Américas do Norte e Central, chegando à América do Sul em 2004, quando foi isolado em aves e/ou equinos na Colômbia, Venezuela e Argentina. No Brasil, achados sorológicos sugerem a circulação do vírus em animais (aves e equídeos), principalmente na região do Pantanal, desde 2011. Entretanto, foi no estado do Piauí em 2014, que ocorreu o primeiro registro de caso humano de encefalite pelo vírus do Nilo Ocidental no país, destacando a importância da abordagem sindrômica de doenças do sistema nervoso central para detecção de casos humanos A doença é de notificação compulsória e imediata, portanto todo caso suspeito deve ser prontamente comunicado por telefone, fax ou e-mail às autoridades, por se tratar de doença grave com risco de dispersão para outras áreas do território nacional e mesmo internacional A mortandade de aves, sem etiologia definida, é fator de alerta para a vigilância da febre do Nilo Ocidental e deve ser notificada, seguindo-se as etapas de investigação. A implantação de pontos sentinelas de vigilância de aves mortas em zoológicos, parques e praças, assim como a realização de inquéritos sorológicos em aves residentes e migratórias, pode contribuir para a identificação da entrada ou da circulação do vírus no país. O levantamento da fauna entomológica pode ser útil para o mapeamento de áreas receptivas ao vírus, considerando a distribuição das espécies potencialmente vetoras do vírus nas Américas. A investigação entomológica de eventos envolvendo a mortandade de aves ou equinos, ou mesmo o adoecimento desses animais sem causa conhecida, é fundamental para identificar o ciclo de transmissão e subsidiar a tomada de decisão e a adoção de medidas de prevenção e controle. A vigilância de epizootias em equinos, com sintomatologia neurológica, pode contribuir na identificação !cação precoce da circulação viral, sobretudo em áreas rurais, considerando a interface com populações de aves silvestres nesses ambientes. Aves domésticas (galinhas), sorologicamente negativas, podem ser introduzidas em pontos de relevância epidemiológica e testadas periodicamente para o monitoramento da infecção pelo vírus do Nilo Ocidental nestes animais.
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