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Por Clarissa Cavalcante @clarissacavalcantee Direitos reais Propriedade Conceito O direito de propriedade consiste no direito real de usar, gozar, ou fruir, dispor e reivindicar da coisa, nos limites da sua função social. Quando o proprietário reúne todas essas faculdades (ou poderes), diz-se que tem propriedade plena. Art. 1228: O proprietário tem a faculdade de usar, gozar, e dispor da coisa, e do direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º: O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas (...). § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. A legislação proíbe os atos emulativos, aqueles que não trazem ao proprietário qualquer comodidade/utilidade e são animados pela intenção de prejudicar outrem. Ou seja, veda o abuso do direito de propriedade. Características O direito de propriedade é: • Complexo: pois é formado por um conjunto de poderes/faculdades/atributos. • Absoluto: é o mais completo direito real em razão do seu caráter erga omnes (contra todos), o proprietário pode desfrutar da coisa como bem entender, mas, claro atendendo as limitações da função social e socioambiental da propriedade. A propriedade é um direito absoluto, mas pode ser relativizada quando se encontrar frente a um outro direito fundamental. • Exclusivo: a coisa não pode pertencer a mais de uma pessoa, a propriedade presume-se plena e exclusiva, salvo os casos de condomínio e copropriedade (que não exclui a exclusividade). Mesmo sendo um direito exclusivo, a propriedade envolve interesses da coletividade, que demandam o atendimento à função social. • Perpétuo: o direito de propriedade permanece independentemente do seu exercício, enquanto não houver causa modificativa ou extintiva, sejam elas de origem legal ou convencional. • Elástico: a propriedade pode ser distendida ou contraída quanto ao seu exercício, conforme seja adicionados ou retirados os atributos ou outros direitos sem perder sua essência. Extensão da Propriedade Art. 1229: A propriedade do solo, abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais que não tenha ele interesse legitimo em impedi-las. Ex.: O subsolo do terreno do proprietário A foi invadido por pinos de concreto instalados pelo vizinho B, o proprietário A, não terá legitimo interesse para requerer/impugnar a remoção desses pinos, desde que fique constatado que a invasão acarretou prejuízos a segurança de A, bem como impossibilitou o perfeito uso, gozo e fruição do seu imóvel. Além disso, A não demonstrava interesse em utilizar ou empregar algum exercício nesse subsolo, por isso ele não tem o legítimo interesse em impedir a utilização. Formas de Aquisição da Propriedade Imóvel Por Clarissa Cavalcante @clarissacavalcantee Formas originárias: quando desvinculada de qualquer relação com titular anterior, não existindo relação jurídica de transmissão. Usucapião e acessões Formas derivadas: ocorre quando há relação jurídica com o antecessor. Existe transmissão da propriedade de um sujeito a outro. Registro imobiliário e a sucessão hereditária. É um modo originário de aquisição da propriedade, mediante o exercício da posse pacífica e continua, durante certo período de tempo. Pressupostos: Posse com intenção de dono; Posse mansa e pacífica; Posse continua e duradoura; Posse justa; Posse de boa-fé e com justo título. Modalidades: Usucapião ordinária (art. 1242): Adquire a propriedade do imóvel, aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único: Será de 5 anos o prazo, se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelado posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico (posse-trabalho). Possibilidade de usucapião com prazo reduzido havendo a posse que atenda a função social + existência de um documento hábil que foi registrado e cancelado posteriormente. Usucapião extraordinária (art. 1238) Aquele que, por 15 anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire- lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Paragrafo único: o prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. (posse-trabalho) Usucapião constitucional ou especial rural (pró-labore) A regra do art.191 CF foi reproduzida no art.1239 CC e diz que, aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á propriedade. A lei 6.969/81 trata desta forma de usucapião. Usucapião constitucional ou especial urbana (pro misero) Art. 183 CF/88: “Aquele que possuir como sua área urbana de até 250m², por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para a sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe- á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.” A regra constitucional foi reproduzida no art. 1240 do CC: Aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250m², por 5 anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Encontramos esta norma, no art. 183 CF/88, art.1240 CC e no art. 9° Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade). Usucapião especial urbana coletiva Usucapião Por Clarissa Cavalcante @clarissacavalcantee Art. 10 Estatuto da Cidade (lei 10.257/01): os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de 5 anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a 250m² por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. Observação: O critério de 250m² por possuidor funciona como o máximo da área de cada usucapiente. § 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. (Soma de posses/acessio possessionis) § 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. § 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendofrações ideais diferenciadas. § 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. § 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes. Usucapião especial indígena (art. 33 Estatuto do Índio lei 6.001/73) O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por 10 anos consecutivos, trecho de terra inferior a 50 hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena. Paragrafo único: O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras da propriedade coletiva de grupo tribal”. Usucapião familiar (art. 1240-A CC) Também chamada de pró-família ou por abandono de lar conjugal. Art. 1240-A: Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex- companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Obs. 1: a prescrição aquisitiva é reduzida (2 anos), se compararmos com as outras formas de usucapião. Obs. 2: É situação fática da separação, independentemente de divórcio. A usucapião familiar também pode ser aplicada em situações em que um dos cônjuges, em virtude de ordem judicial deve sair compulsoriamente do imóvel. Mas não pode acontecer quando o abandono resulta de consenso ou ajuste entre os conjugues, ou seja, o abandono deve resultar de comportamento voluntário e unilateral. Usucapião administrativa (art. 1701 CPC) Trata da forma extrajudicial/administrativa de usucapião. Escapa da regra geral da reserva de jurisdição, na medida em que a prescrição aquisitiva é oficialmente reconhecida por meio de natureza não jurisdicional. Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 216-A: (Vigência) “Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente Por Clarissa Cavalcante @clarissacavalcantee perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com: I - Ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias; II - Planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes; III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV - Justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel. Art. 1.245: Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. Enunciado n.503 V Jornada de D. Civil: É relativa a presunção de propriedade decorrente do registro imobiliário. Porque se o título constitutivo do domínio apresentar algum vicio, algum defeito pode ele ser considerado nulo ou anulável e o registro ser cancelado. § 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. Teoria da aparência Daí decorre o famoso ditado popular “quem não registra não é dono”. Realmente, quem adquire um imóvel, mas não cuida em efetivar o registro de título (contrato) no Cartório de Registro Imobiliário, formalmente ainda não é considerado dono, somente o registro de título tem o condão de operar a transferência de domínio. Art. 1.246: O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo. Princípio da prioridade: prenotação do título do protocolo do Cartório Prenotação é a anotação prévia e provisória no protocolo, feita por oficial de registro público de um título apresentado para registro, passando a gozar de prioridade no registro em relação àquele protocolado posteriormente Art. 1.247: Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente. Se o registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. Essa ação de retificação ou anulação demonstra que o registro pode ser alterado, havendo falsidade. É possível afastar o registro imobiliário, quando a sua causa não condiz com a realidade. Passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado de forma natural ou artificial. Implica aumento e volume da coisa principal. Não se confunde com benfeitoria, que é bem acessório, melhoramento. Acessões artificiais: plantações e construções. Acessões naturais: formação de ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono do álveo. Registro imobiliário Acessões Por Clarissa Cavalcante @clarissacavalcantee Da formação de ilhas (art. 1249) Ao Direito Civil interessa somente ilhas formadas em rio não navegáveis (particulares) pertencentes ao domínio particular. Art. 1249: As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I - as que se formarem no meio do rio consideram- se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; Já que a ilha foi formada bem no meio, a linha amarela representa o meridiano que então divide em 50% para cada proprietário (metade de A e metade de B). II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; Se a ilha se formar do lado esquerda do meridiano, será de A, se surgir do lado direito pertence a Y. III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram. Se a ilha se formar no desdobramento de um braço de rio, no novo curso de água que se abriu, a ilha pertencerá ao proprietário que margeia esse novo desdobramento, nesse caso, pertence a B. Da Aluvião (art. 1250 CC) Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização. Parágrafoúnico. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem. Aluvião própria: é o acréscimo de terras às margens de um rio, de forma lenta e imperceptível, aos poucos o movimento de águas traz terra para a margem da propriedade e esta vai se expandindo. Esses acréscimos pertencem aos donos dos terrenos marginais (o acessório segue o principal). Aluvião impropria: A propriedade se expande à medida que a água recua, o rio seca e então sobra terra. (TJSP, Apelação 0001176- 43.2007.8.26.0204, Acórdão 9717829, General Salgado, 13.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Francisco Giaquinto, j. 17.08.2016, DJESP 30.08.2016). Proprietário A Proprietário B Proprietário B Proprietário A Por Clarissa Cavalcante @clarissacavalcantee Nesse caso, não foi concedida a reintegração de posse ao autor que utilizou a presença de suposta aluvião, pois periodicamente, o rio enchia e secava uma vez que se localizava em ambiente pantanoso. Avulsão (art. 1251 CC) Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado. Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. Resumo: A ganhou propriedade, enquanto B perdeu parte de sua faixa de terra ribeirinha. B poderá pleitear reparação de danos pela parte perdida, no prazo decadencial de um ano, a contar da sua ocorrência. Se A recusar ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá concordar que se remova a parte acrescida (obrigação de fazer). Álveo abandonado (art. 1252 CC) Art. 1.252: O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.” Álveo abandonado é o rio ou a corrente de água que seca (o rio que desaparece). O álveo abandonado (espaço vazio) de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
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