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LAPAROTOMIA É a abertura cirúrgica da cavidade abdominal para fins diagnósticos e/ou terapêuticos. É, na fala popular, a cirurgia de “barriga aberta”. Envolve uma incisão no abdome para acesso dos órgãos internos, de tamanho variável segundo o procedimento a ser executado, mas quase sempre grande. É uma intervenção desconfortável, agressiva e que deixa cicatrizes, por vezes até deformidades. Ainda, pode causar dores e infecções, o que adia e dificulta o retorno das atividades cotidianas ou pode gerar complicações graves e até fatais. Esse tipo de cirurgia tem indicações precisas e eletivas, cabendo ou não ao cirurgião a decisão da sua necessidade de conveniência. Pode ser feita com objetivo diagnóstico, com o intuito de analisar as possíveis causas de determinada condição clínica, mas também com o objetivo terapêutico de uma doença já identificada. 1. Indicações da laparotomia • Acesso aos órgãos intra-abdominais • Drenagem de coleções • Método diagnóstico – atualmente é preferível por meio de videolaparoscopia 2. Princípios básicos da incisão • Necessidade de entrada rápida – urgências de trauma abdominal geralmente é feita a mediana • Certeza do diagnóstico • Localização das cicatrizes anteriores – se existir cicatrizes prévias, a incisão pode ser feita na cicatriz, para evitar ainda mais a perda de força tênsil • Hábitos do corpo • Potencial para sangramento significativo • Minimização da dor pós-operatória – menor lesão nervosa, a fim de reduzir as chances de atelectasias, porque a dose promove incursões respiratórias mais superficiais e redução da expansão da base pulmonar • Resultado estético • Comprimento adequado • Trauma tecidual mínimo • Hemostasia bem feita • Uso correto de afastadores – distensão excessiva em alguns casos da cavidade abdominal • Posicionamento correto na mesa cirurgia – pacientes obesos com grande abertura do braço possuem altas chances de lesão do plexo braquial • Iluminação adequada • Preferência do cirurgião – existência de algumas incisões distintas para o mesmo procedimento • O uso de bisturi elétrico ou de lâmina não apresenta diferença significativa na taxa de infecção da ferida operatória • Maior tempo e perda de sangue com o bisturi de lâmina • Bisturi elétrico pode reduzir requisitos de analgesia pós-operatória • Entre os bisturis, não há benefício significativo entre um e outro 3. Direção das incisões • Longitudinais – plano vertical • Oblíquas • Transversais – plano horizontal 4. Linhas de Langers São linhas de tensão da pele. Como são linhas predominantemente horizontais, as incisões transversais geram menos tensão na pele. Tendo em vista que os versos abdominais são implantados de forma oblíqua, as incisões longitudinais (exceto mediana) e oblíquas tendem a lesar uma maior quantidade de nervos, provocando mais dor e estendendo o prazo de recuperação. Em crianças com menos que 12 anos, a incisão longitudinal é contraindicada, porque ocorre lesão terminal nervosa e prejuízo no desenvolvimento muscular abdominal, podendo gerar atrofia. Logo a laparotomia exploratória em crianças é feita por meio de incisão transversa supraumbilical direita, se necessário faz a extensão à esquerda. 5. Anatomia da parede abdominal Os quatro músculos presentes na figura foram a parede muscular ventral do abdome. As aponeuroses dos Mm. Oblíquos e Transversos formam, juntos, a bainha do M. Reto do abdome. A bainha é dividida de duas formas, de acordo com a linha arqueada de Douglas tomamos um referencial. Acima da linha arqueada temos que o M. Obliquo externo tem trajeto descendente e medial, ao aproximar-se do M. reto do abdome, torna-se tendíneo e passa anteriormente a ele. O M. Vias de acesso à cavidade abdominal Bases Técnicas de Cirurgia e Anestesiologia – aula 14 Nicole Sarmento Queiroga Figura 1. Linhas de Langers. Figura 2. Inervação abdominal. Figura 3. Musculatura abdominal. Obliquo interno tem trajeto ascendente e medial, ao aproximar-se do M. reto do abdome, torna-se tendíneo e seu ventre anterior funde-se com o a bainha do M. Oblíquo externo, e seu ventre posterior passa posteriormente ao M. reto do abdome. O M. Transverso do abdome tem trajeto horizontal e ao aproximar-se do M. reto do abdome, torna-se tendíneo e passa posteriormente a ele, unindo-se ao ventre posterior do M. Oblíquo interno. Abaixo da linha arqueada temos que todos os músculos e sua projeção tendínea dirigem-se anteriormente ao M. reto do abdome. Linha de Spiegel é a linha em que os músculos deixam de ser carnosos e passam a ser tendíneos, tendo interseção com a linha arqueada de Douglas, sendo o local de maior probabilidade de hérnia. A linha alba é a união das aponeuroses na linha mediana. Os vasos torácicos internos emitem e recebem os vasos epigástricos superiores, que, ao nível da 6ª ou 7ª costela, se subdividem em superficiais e profundos. Os vasos epigástricos inferiores profundo se originam dos vasos ilíacos externos e os vasos epigástricos inferiores superficiais são provenientes dos vasos femorais. Ainda, existem os vasos colaterais, que advém da união dos vasos epigástricos superiores e inferiores. Os vasos ilíacos externos ainda emitem os ramos circunflexos ilíacos profundos, e os vasos femorais, os ramos circunflexos ilíacos superficiais. A A. Musculofrênica (ramo da A. Torácica interna) faz anastomose com os vasos subcostais. 6. Incisões transversais • Mais demoradas • Apresentam menor formação de aderências e obstrução intestinal no pós-operatório • Tendem a ser menos dolorosas • Tendem a ter menos impacto na função pulmonar – menor dor promove expansibilidade normal do pulmão, reduzindo as chances de atelectasia • Menor chance de hérnias incisionais – mais camadas protetoras, como aponeuroses • Maior chance de infecção da ferida operatória e exigem hemostasia minuciosa – maior massa de tecido a ser incisada, promovendo maior sangramento • Mais utilizada em crianças • Incisão de Rockey-Davis ou Elliott – incisão longitudinal ao ponto de McBurney, apendicectomia 7. Incisões longitudinais • Mediana ✓ Apenas ramos terminais dos vasos e nervos na linha alba ✓ Não necessita de secção muscular ✓ Mais rápidas ✓ Grande exposição da cavidade peritoneal ✓ Maior chance de hérnias incisionais ✓ Mais associados ao comprometimento pulmonar, deiscência de ferida pós-operatória e mais dolorosas ✓ Podem ser xifoumbilical ou supraumbilical, infraumbilical, xifopúbica, transumbilical • Paramediana (interna ou externa) e transretal ✓ Podem ser realizadas de 2 a 5cm à esquerda ou à direita da linha média ✓ Podem se estendidas sem dificuldade de se contornar o umbigo ✓ Diminui risco de deiscência ou hernia incisional ✓ Maior demora na realização ✓ Restringe acesso principalmente à pelve contralateral ✓ Transretal fica entre as paramedianas ✓ Pouco utilizadas atualmente Figura 4. Organização da musculatura e aponeuroses de acordo com a linha arqueada. Figura 5. Vascularização abdominal. Figura 6. Tipos de incisão transversa. Figura 7. Localização das incisões longitudinais. Figura 8. Localização das incisões paramediana e pararetal. 8. Incisões oblíquas • Utilizados para exposições anatômicas específicas • Incisão subcostal (Kocher) – colecistectomia • Incisão subcostal bilateral (Chevron) – V invertido próximo ao processo xifoide, cirurgias hepáticas ou pancreáticas • Incisão de Mercedes – Chevron + incisão longitudinal, transplante hepático • Incisão de McBurney – incisão oblíqua ao ponto de McBurney (interseção do terço medial e distal da linha que liga a crista ilíaca AS ao umbigo), apendicectomia • Lombotomia – realizadaspara atingir o rim 9. Incisões para operações pélvicas • Exposição limitada à parte superior do abdome • Aumento do tempo cirúrgico – muitas estruturas incisionadas • Transversais são mais usadas • Incisão de Pfannenstiel (transversal) ✓ Situa-se 2 a 5cm acima da sínfise púbica e geralmente tem 10 a 15cm de comprimento ✓ Excelente força de tensão, estética e exposição adequada para procedimentos limitados à pelve ✓ Menor velocidade de entrada ✓ Maior risco de hematoma, seroma e infecção da FO ✓ Contraindicada em presença de infecção abdominal ativa ou se urgência de entrada rápida na cavidade peritoneal ✓ Não existe secção muscular, mas divulsão ✓ Possível evolução para dor crônica por lesão nervosa ✓ Cesárea • Incisão de Cherney (transversal) ✓ Excelente exposição ao espaço de Retzius – boa escolha para uretropexiaretropúbica ✓ Semelhante à incisão de Pfannenstiel, exceto porque secciona os tendões dos Mm. Retos e Piramidais e possui localização mais abaixo • Incisão de Maylard ou Mackenrodt (transversal) ✓ Geralmente ao nível da espinha ilíaca ✓ Secção transversal dos músculos transversais ✓ Exposição pélvica adequada ✓ Agravamento dos sintomas de isquemia de MMII em pacientes com oclusao aorto-ilíaca significativa, devido à dependência do fluxo colateral dos vasos epigástricos para perfusão dos MMII • Incisão de Kustner ✓ Feita 5cm cima da sífise púbica e logo abaixo da espiha ilíaca ânterossuperior ✓ Pouco utilizada ✓ Muito demorada • Incisão de Turner-Warnick (transversa) ✓ Excelente exposição do espaço retropúbico, mas exposição limitada à pelve e ao abdome superior ✓ Realizada de 2 a 3cm acima sínfise púbica ✓ Secção dos Mm. Piramidais Figura 9. Incisões oblíquas. Figura 10. Incisão de Pfannenstiel. Figura 11. Divulsão de órgãos na incisão de Pfannenstiel. Figura 12. Secção tendinosa na incisão de Cherney. Figura 14. Incisão de Maylard. Figura 13. Secção muscular na incisão de Maylard. Figura 15. Incisão de Kustner. Figura 16. Incisão de Turner-Warnick. 10. Complicações de incisões • Deiscência • Hérnia incisional • Eviscerações – emergência VIDEOLAPAROSCOPIA Método cirúrgico terapêutico e diagnóstico da cavidade abdominal, realizada com uma técnica minimamente invasiva, em que dispositivos como câmeras são manipulados pelo cirurgião e introduzidos através da parede abdominal para guiar a visão, assim como pinças são utilizadas para manipular os órgãos. 1. Princípios da videolaparoscopia • Revolução do campo cirúrgico • Menos complicações pós-operatórias – dor, infecção da FO, hérnia incisional • Retorno precoce ao trabalho e às atividades normais • Sempre existe possibilidade de conversão para via convencional • Ambiente adaptado com materiais ergonômicos • Curva de aprendizado maior • Equipe técnica e familiarizada com instrumentos 2. Generalidades e fisiologia • Punção da cavidade com agulha de Verees, podendo usar já o trocarte • Insuflação do gás CO2, confeccionando o pneumoperitônio – espaços pré-peritoneais ou retroperitoneal, efeito similar à síndrome compartimental • Gás carbônico é mal tolerado por pacientes portadores de DPOC e com ventilação mecânica • Passagem do trocarte seguida de passagem da ótica • Passagem dos demais trocartes por meio da visao da ótima • Menor resposta sistêmica ao trauma • O posicionamento do paciente de forma correta é de muita importância porque o aumento da pressao abdominal pode gerar intensos efeitos sobre o sistema cardiovascular – mudanças da posição com alterações do centro de gravidade podem promover tração em pontos fixos 3. Efeitos perioperatórios específicos • Pulmonares • REMIT • Hematológicos • Cardiovasculares 4. Complicações • Medicação e anestesia • Inserção de agulha e trocarte • Relacionado ao instrumental – perda parcial da sensibilidade tátil • Relacionadas ao pneumoperitônio 5. Situações d atenção • Crianças • Pacientes cirróticos – circulação colateral da parede abdominal, facilitando hemorragias • Pacientes com incisões abdominais prévias – grande chance de aderencia, principalmente de alça intestinal • Gestantes • Pacientes obesos ✓ Espessura da parede dificulta a realização do pneumoperitônio ✓ Manipulação de instrumentos dificultados pela parede ✓ Necessidade de pressoes intrabdominais maiores ✓ Cirurgia bariática laparoscópica CIRURGIA ROBÓTICA Cirurgia laparoscópica avançada, em que participam dois cirurgiões, que acoplam seus braços aos do robô. Os benefícios residem na manipulação mais precisa dos instrumentos pelo robô, bem como realização de movimentos mais amplos e o cirurgião possui uma visão de extrema qualidade, diminui a necessidade de auxiliares. Figura 17. Colocação de trocarte na videolaparoscopia.
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