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Montes Claros/MG - 2012 Filomena Luciene Cordeiro Reis História Econômica Geral e do Brasil Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Huagner Cardoso da Silva CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ângela Heloiza Buxton Arlete Ribeiro Nepomuceno Aurinete Barbosa Tiago Carla Roselma Athayde Moraes Luci Kikuchi Veloso Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Maria Lêda Clementino Marques Ubiratan da Silva Meireles REVISÃO TÉCNICA Admilson Eustáquio Prates Cláudia de Jesus Maia Josiane Santos Brant Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Marcos Henrique de Oliveira DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Clésio Robert Almeida Caldeira Fernando Guilherme Veloso Queiroz Francielly Sousa e Silva Hugo Daniel Duarte Silva Magda Lima de Oliveira Marcos Aurélio de Almeida e Maia Sanzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Ap. Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso 2012 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Ministro da Educação Aloizio Mercadante Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor do Centro de Educação a Distância Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Antônio Wagner Veloso Rocha Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Artes Maristela Cardoso Freitas Chefe do Departamento de Ciências Biológicas Guilherme Victor Nippes Pereira Chefe do Departamento de Ciências Sociais Maria da Luz Alves Ferreira Chefe do Departamento de Geociências Guilherme Augusto Guimarães Oliveira Chefe do Departamento de História Donizette Lima do Nascimento Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Ana Cristina Santos Peixoto Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Helena Murta Moraes Souto Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Rosana Cassia Rodrigues Andrade Chefe do Departamento de Educação Andréa Lafetá de Melo Franco Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais Maria Elvira Curty Romero Christoff Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas Afrânio Farias de Melo Junior Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais Cláudia Regina Santos de Almeida Coordenadora do Curso a Distância de Geografia Janete Aparecida Gomes Zuba Coordenadora do Curso a Distância de História Jonice dos Reis Procópio Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol Orlanda Miranda Santos Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês Hejaine de Oliveira Fonseca Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português Ana Cristina Santos Peixoto Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia Maria Narduce da Silva Autora Filomena Luciene Cordeiro Graduada em História pela Universidade Estadual de Montes Claros; Pós- graduação Lato Sensu em Ciências Sociais pela Unimontes e Gestão da Memória: Arquivo, Patrimônio e Museu pela Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG; Mestre em História pela Universidade Severino Sombra – USS e Doutoranda em História pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Professora do Departamento de História da Unimontes. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Conceitos básicos da história econômica e transição feudalismo-capitalismo. . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Conceitos básicos da história econômica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 As sociedades pré-históricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 1.4 A transição do feudalismo para o capitalismo e os elementos de superação da crise do século XIV: expansão ultramarina e sistemas coloniais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 1.5 Mercantilismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Consolidação e crises do capitalismo, socialismo e tendências do desenvolvimento capitalista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 2.2 Revolução industrial e a ascensão do capitalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 2.3 Liberalismo, neocolonialismo e imperialismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.4 A primeira guerra mundial, a crise de 1929 e modelos de recuperação da crise de 1930 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2.5 Socialismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 2.6 Globalização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 Colonialismo e economia brasileira até a república nova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 3.2 Colonização da América Portuguesa no Brasil . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 3.3 Análise econômica do Brasil Colônia e Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Referências Básicas, Complementares e Suplementares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79 Atividades de Aprendizagem - AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83 9 História - História Economica Geral e do Brasil Apresentação Caro (a) acadêmico (a), O caderno didático de História Econômica Geral e do Brasil objetiva proporcionar a você a compreensão acerca da formação, expansão e transformação do capitalismo e a inserção da eco- nomia brasileira, nesses processos, desde o período colonial à República Nova. Nesse sentido, a disciplina História Econômica Geral e do Brasil tem como objetivo geral possibilitar a compreensão dos processos econômicos mundiais do feudalismo até a atualidade. Para tanto, é necessário estar atento aos seguintes objetivos específicos: • Propiciar a compreensão dos conceitos básicos de História Econômica; • Compreender a História Econômica como a história do domínio do homem sobre a natureza e de sua capacidade de utilizá-la em proveito próprio, pois, após milhares de anos, o homem aprendeu a lidar com o mundo que o rodeia e a obter da natureza muito mais do que neces- sitava para viver; • Analisar a transição do feudalismo para o capitalismo; • Analisar a íntima relação entre a trajetória da economia mundial e a evolução das relações sociais de cada período supramencionado; • Refletir acerca dos seguintes conceitos: Feudalismo, Mercantilismo, Capitalismo, Colonialis- mo, Imperialismo e Globalização; • Estudar e compreender a consolidação do capitalismo; • Refletir acerca da expansão, dos problemas e dos limites do capitalismo; • Discutir a globalização, o neoliberalismo e a regionalização; • Entender as crises vivenciadas pelas grandes potências e o Imperialismo; • Identificar os mecanismos que favoreceram o início da economia globalizada; • Discutir acerca do processo de colonização do Brasil pelos portugueses e a repercussão des- se fato, sobretudo no âmbito econômico; • Analisar a economia brasileira no período da República; • Compreender o processo de industrialização do Brasil, após 1930. Para atender aos objetivos apresentados, organizamos os conteúdos em três unidades. Na Unidade I, discutiremos os conceitos básicos da história econômica, a transição feudalismo - ca- pitalismo e a consolidação do capitalismo. Na Unidade II, estudaremos o socialismo, o capitalis- mo e tendências do desenvolvimento capitalista, assim como a globalização e seus efeitos. Por último, na unidade III, o colonialismo e a economia brasileira até a República Nova serão o alvo do estudo. A leitura e o estudo de cada uma das unidades que compõem o caderno serão úteis por possibilitar conhecer e compreender a disciplina História Econômica Geral e do Brasil. Enfim, a proposta desse material é permitir a sua aprendizagem sobre esse universo. Bom trabalho! A autora. 11 História - História Economica Geral e do Brasil UNIDADE 1 Conceitos básicos da história econômica e transição feudalismo-capitalismo. 1.1 Introdução Nesta Unidade, abordaremos itens significativos da História Econômica no âmbito geral e em relação ao Brasil. Num primeiro momento, trataremos dos conceitos básicos da História Eco- nômica e, em seguida, da transição do Feudalismo para o Capitalismo, enfocando, também, o Mercantilismo. Ao discutir os conceitos básicos, a abordagem percorrerá não só a definição de história e de economia, fazendo a correlação entre elas, como também a trajetória nacional e internacional da História Econômica. A transição do Feudalismo para o Capitalismo tentará mostrar, sobretudo, os fatores que le- varam a esse momento histórico de passagem. Os elementos de superação da crise do século XIV, como o Mercantilismo, a expansão ultramarina e os sistemas coloniais serão estudados nessa perspectiva. O Mercantilismo será apresentado a partir de um enfoque especial com a aborda- gem historiográfica de Francisco Calazans Falcon. Assim, a proposta dessa unidade objetiva compreender não só o que é e de que trata a His- tória Econômica, mas também o período de passagem da sociedade feudal para a sociedade ca- pitalista. 1.2 Conceitos básicos da história econômica Para compreensão do significado de História Econômica, é importante definir separadamen- te que é história e economia, pois cada termo tem um significado específico. História é definida por Borges (1993) como acontecimento histórico porque o homem não vive sozinho, mas é um ser social. Por isso, relaciona-se com o mundo e com as pessoas que o rodeiam, transformando a sociedade em que vive. A acepção processo histórico diz respeito ao fato de que os acontecimentos históricos não acontecem da noite para o dia, mas por meio de uma caminhada em que o homem, através das relações estabelecidas, gera mudanças na socie- dade. Já o conhecimento histórico, que constitui o saber histórico, serve para fazer entender, as outras ciências, as condições e realidades vividas e experimentadas pelo homem no decorrer da sua existência. Os acontecimentos históricos são objetos de análise do conhecimento histórico, ou seja, é aquilo que aconteceu com o homem na natureza e no universo. A História não é o passado mor- to, pelo contrário, é uma possibilidade de explicar o universo social do homem por meio dos his- toriadores que têm como matéria-prima as fontes. As fontes podem ter suportes variados, como revistas, jornais, fotografias, documentos oficiais, roupas, etc., que constituem vestígios do passa- do, conforme afirma Le Goff (1996). 12 UAB/Unimontes - 8º Período A História serve para dar a dimensão do homem na socieda- de através da interdisciplinaridade. A Antropologia, Sociologia, Economia, Geografia, Psicologia, Demografia, por exemplo, aju- dam a História a ver e compreender as transformações das socie- dades humanas, que é a sua essência. A Economia é a ciência social que estuda a produção, distri- buição e consumo de bens e serviços. O termo economia vem do grego oikos (casa) e nomos (costume ou lei) ou, ainda, gerir, admi- nistrar. Daí, “regras da casa” (lar) e “administraçao da casa” (BAR- ROS, 2002). De acordo com Barros (2002), a História Econômica é uma corrente historiográfica recente, pois nasce no século XIX e ganha prestígio acadêmico no século XX. Ela acompanhou a evolução de seu objeto, o que quer dizer que estudou as economias de sociedades de épocas passadas, objetivando mostrar como o ho- mem domina a natureza e o meio em que vive para seu proveito. Ainda conforme Barros, os interesses e objetos da História Econômica constituem: a. Produção de bens • Sistemas e modos de produção escravista, feudal, capitalista, socialista e comunista; • Técnicas de produção; • Meios de produção e suas relações, como: Capitalista versus operário; Servo versus senhor feudal; Escravo versus senhor. • Regimes de trabalho: Trabalho escravo; Trabalho remunerado: estatutário ou CLT; • Sistemas de propriedade. b. Circulação ou distribuição de bens • Os ciclos ou fase, como do algodão, do café, etc.; • Ritmos, levando em conta o tempo lento, longo ou rápido; • Preços: alto e baixo; • Trocas no âmbito interno ou externo; • Moedas: entender o que elas significam e o valor de troca. c. Consumo de bens • Hábitos de consumo;• Salários; • Sistemas de propriedade; • Moedas. Mendonça e Pires (2002), ao tratarem dos conceitos básicos da História Econômica, dizem a importância de o historiador econômico conhecer uma teoria econômica. Assim, trabalham com os conceitos de tempo, conjuntura e estrutura. Tempo é pensado na perspectiva de mudanças e transformações que ocorrem com o homem, gerando o acontecimento histórico. É a ideia de movimento. No tempo, temos a conjuntura, ou seja, “(...) um corte do movimento temporal da sociedade” (MENDONÇA; PIRES, 2002, p. 7). E a estrutura que constitui “(...) um conjunto de rela- ções majoritárias, a solidariedade e proporção existentes entre um conjunto de componentes, ou seja, a interdependência entre o todo e a parte” (MENDONÇA; PIRES, 2002, p.7). Dessa forma, abordam o pressuposto básico para avançar em relação aos conceitos básicos de História Econô- mica, ou seja, a análise estrutural que possibilita estudar as questões que envolvem as modifica- ções qualitativas (variações dimensionais) e quantitativas (variações estruturais) relativas ao cres- cimento. Esse crescimento que lida com a arrancada e a desaceleração é que, por sua vez, pensa o global e o setorial ou a macroeconomia e a microeconomia. ▲ Figura 1: Consumo de bens Fonte: Disponível em: <http://images.meez.com/ user11/04/04_10015759173. gif>. Acesso em: 24 dez. 13 História - História Economica Geral e do Brasil Enfim, Mendonça e Pires (2002) afirmam que: a análise histórico-econômica deve abranger problemas ligados ao processo, não ao estático. O tempo, assim como o movimento, são os pontos de partida para a identificação e a análise de dada estrutura. A compreensão da dinâmica da estrutura dá-se por meio de cortes conjunturais. Tais conjunturas caracteri- zam-se por movimentos de ordem qualitativa ou quantitativa, que apresentam momentos de arrancada e desaceleração. Por fim, a qualidade da análise está em saber unir o global e o setorial (MENDONÇA; PIRES, 2002, p. 8). Entre os autores que se dedicam ao es- tudo da História Econômica podemos citar: George Duby, Emanuel Le Roy Ladurie, An- tônio Gramsci e Mikhail Bakhtin (marxistas), Jean Meuvret e Claude Imbert (Escola Históri- ca Francesa), Simon S. Kuznets (Nova História Econômica), Ernest Labrousse, Pierre Vilar e Ciro Flamarion Cardoso. 1.2.1 História Econômica Conforme Fragoso e Florentino (1997), a História Econômica agoniza, e essa tendência não é localizada, mas mundial. Verifica-se que a Revista dos Annales apresenta um declínio na produção de artigos que envolvem a Histó- ria Econômica. De 1929 a 1945, quando Marc Bloch e Lucien Febvre coordenavam a Revista dos Annales, constata-se uma produção de 60% de artigos de História Econômica. Já no período de 1946 a 1969, sob a coordenação de Fernand Braudel, essa produção cai para 40 %; e hoje se faz a mesma constatação. O Brasil sentiu esse fenômeno tardiamente: na Universidade de São Paulo, em 1970, metade das produções científicas, como teses e dissertações, era na perspectiva da História Econômica, em 1980, constitui um terço. O mesmo ocorre na Universidade Federal Fluminense e Universida- de Federal do Rio de Janeiro nas décadas de 1980 e 1990. Com o pós-guerra, ocorre a ênfase na História Econômica, porém, cultura e política se tor- nam autônomas. Em 1940, historiadores economicistas da Escola Histórica Francesa e do mun- do anglo-saxão afirmam-se como economistas-historiadores criando o movimento denominado Nova História Econômica. Os historiadores assumem o modelo dos economistas com as equa- ções e quadros estatísticos, nesse papel não são historiadores e não são economistas. É a contra- mão da História Econômica. Assim, vários historiadores, como Labrousse, Vilar, Kula, Darnton, Le Roy Ladurie, Berend, Paul Bois e outros, por meio de estudos e pareceres acerca dessa questão, afirmam que a História Econômica deve ser apreendida além dos números, numa perspectiva global. De acordo com Fragoso e Florentino (1997), a Histó- ria Econômica dizia explicar tudo, bem como determinar, através de laboratórios e modelos matemáticos, todas as questões. Era elitista, afastando-se da História, dos histo- riadores e dos homens. Após 1945, a História Econômica continua em declí- nio por causa do enorme crescimento dos Estados Unidos da América e da economia socialista da União Soviética. Esses acontecimentos sugerem transformações no mun- do. Em 1960 e 1970, há um crescimento da História Eco- nômica feita por economistas. Criam-se, então, os institu- tos e departamentos de História Econômica. Verifica-se, nesse período, o isolamento intelectual, a fragilização e marginalização da História Econômica. ◄Figura 2: Georges Michel Claude Duby Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.bibl.u-szeged.hu/ exhib/duby/gifs/duby. jpg&imgrefurl=http:// www.bibl.u->. Acesso em 24 dez. de 2009. ▲ Figura 3: Ciro Flamarion Cardoso, historiador brasileiro. Fonte: Disponível em: <http://www.google. com.br/imgres?imgurl=http://>. Acesso em 7 jul. de 2011. DICA Reflita e pesquise, individualmente, acerca das formas de produção, distribuição e consumo de bens na sociedade, mais espe- cificamente no Brasil e em nossa cidade. Como ela acontece? Quem produz os bens? Quem distribui? E quem con- sume? Após encontrar essas respostas partilhe com o professor forma- dor, tutor e colegas no ambiente de apren- dizagem. Refletir em conjunto sobre essas noções permitirá que você conheça melhor a cidade em que vive. PARA SABER MAIS Procure se informar, recorrendo à inter- net ou a sites como o google acadêmico ou ainda visite a biblioteca da sua cidade, sobre os autores George Duby, Emanuel Le Roy Ladurie, Gramsci e Bakhtin, Meuvret, Imbert, Kuznets, Ernest Labrousse, Pierre Vilar e Ciro Flamarion Cardoso. Conhecer esses autores e sua trajetória é im- portante para conhecer seus posicionamentos em relação ao que eles escreveram, sobretudo, no campo historio- gráfico. De antemão, é possível afirmar que eles contribuem com os novos formatos da historiografia. Poste o resultado de sua pesquisa no fórum de discussão e tente veri- ficar as posturas desses autores em relação às escolas historiográficas estudadas nas discipli- nas anteriores. 14 UAB/Unimontes - 8º Período Na contramão da história surgem elementos exteriores com outras propostas, como Carlos Ginzburg, que, diante do macro - estuda o micro -, ou seja, temas como privado, pessoal e o vi- vido. François Dosse disse que a história conquista a mídia e, assim, o papel do historiador se modifica, ou seja, em vez de revolucionar, conservar. Já Ciro Flamarion aborda a falência dos sis- temas éticos tradicionais que norteavam as relações dos indivíduos consigo e com os outros. A grande questão nesse contexto, de acordo com Florentino e Fragoso (1997), é: como fica a História Econômica? Constata-se que o homem continua trabalhando, produzindo e consumin- do e expressando-se em relação à cultural de diferentes formas. A História Econômica diante da sua trajetória é legítima como campo do saber, e o saber histórico é construído a partir da inter- disciplinaridade, ou seja, as outras áreas do conhecimento contribuem para a historiografia. Nesse sentido, Fragoso e Florentino (1997) apontam perspectivas futuras da História Econô- mica no Brasil: • Pensar a historiografia nacional de 1930 a 1970 que contava com as contribuições de Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Fernando Antônio Novais, Ciro Flamarion Cardoso e Jacob Go- render, os quais montaram quadros explicativos, dando conta da sociedade e de economias coloniais na perspectiva da totalidade; • Publicação de trabalhos, inclusive de economistas, dialogando com a Sociologiae a Econo- mia, desferindo golpes no factualismo; • A História Econômica, sobretudo de Londres e Chicago, de modo diferente, não se separou formando institutos e departamentos, ou seja, não conheceu a Nova História Econômica; • O apogeu da História Econômica se deu por causa das pós-graduações. 1.3 As sociedades pré-históricas Conforme a abordagem anterior que trata da definição de História Econômica, mostrando como o homem dominava a natureza e o meio em que vivia para seu proveito, vamos retornar ao período da “pré-história” para conhecer um pouco mais sobre a história da humanidade. Esse item objetiva apenas relembrar como o homem dominou a natureza e tudo que está ao seu re- dor para, posteriormente, compreender como se deu a passagem da sociedade feudal para a so- ciedade capitalista. Inicialmente, fazemos uma ressalva a respeito do termo “pré-história”. Esse termo, para a his- toriografia, é impróprio, pois o homem é o sujeito da história e, por isso, sempre histórico. Então, não há antes e depois na história. Ressaltamos que, didaticamente e conforme já está estabeleci- do, vamos utilizar o termo sempre lembrando essa observação. Figura 4 e 5: Homens da pré-história. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// sepiensa.org.mx/con- tenidos/historia; http:// images.google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.negociosgraficos. com.br/>. Acesso em: 13 jan. 2010. ► PARA SABER MAIS Procure se informar sobre a Escola dos Annales, pesquise na internet e nos seguintes livros: - REIS, José Carlos. Escola dos Annales: a inovação em história. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. - BURKE, Peter. A Es- cola dos Annales - 1929 - 1989: a revolução francesa da historio- grafia. São Paulo: Ed. UNESP, 1997. Após a pesquisa, faça um resumo e encami- nhe ao tutor para que ele possa fazer uma apreciação GLOSSáRIO Factualismo: factual; referente a fatos; que se baseia em fatos. (BUENO, 1996, p. 285) DICA Retome o material de Introdução aos Estudos de História e Historio- grafia para relembrar o que você estudou sobre História Econô- mica. Partilhe com os colegas essas leituras no ambiente de apren- dizagem. 15 História - História Economica Geral e do Brasil ATIVIDADE Assista ao filme: Guerra do fogo (La Guerre du feu, 81, FRA/CAN), sob a direção de Jean-Jacques Arnaud. Elenco: Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Nameer El Kadi. O filme trata de dois grupos de hominídeos pré-históricos: um que cultuava o fogo como algo sobrenatural, e outro que dominava a tecnologia de fazer o fogo. Em termos de linguagem, o primeiro não está muito longe dos demais primatas, emitindo gritos e grunhidos quase na totalidade vocálicos. Já, o segundo grupo pa- rece ter uma comunicação mais complexa, fazendo uso de um maior número de sons articulados. Há outros elementos culturais, como habitações e ritos, que denotam um maior grau de complexidade do segundo grupo em relação ao primeiro. Ao assistir ao filme, reflita acerca de como se dá o proces- so histórico e como cada grupo se desenvolve em momentos diferentes. Verifique as mudanças que ocorrem nas vivências do homem no decorrer do tempo, desde o período abordado no filme, até os dias de hoje. Posteriormente, debata com seu professor formador, tutor e colegas sobre suas impres- sõe no ambiente de aprendizagem. 1.3.1 O paleolítico Esse período compreende cerca de 700.000 a 10.000 a.C. A atividade econômi- ca fundamental do homem, conforme Hilário Franco Júnior e Paulo Pan Chacon (1987), era a caça. A coleta constituía uma atividade secun- dária, geralmente praticada pelas mulheres. O homem desse período é caçador e coletor, sendo inferior a outros animais em força física e agilidade, porém sua inteligência e habilida- des eram maiores. Ele utilizava os recursos da natureza, como, por exemplo, pedras para con- feccionar instrumentos: machados, raspadeiras e facas, etc. A grande descoberta do homem desse período é o fogo. O fogo servia para co- zinhar os alimentos e afugentar os animais e, dessa forma, dava maior segurança ao homem. 1.3.2 Mesolítico Compreende o período entre 10.00 a 7.000 a. C. O homem nessa época é pastor e agricultor, e a ati- vidade fundamental ainda é a caça. Conforme Hilário Franco Jú- nior e Paulo Pan Chacon (1987), o homem domestica os animais. Ele, como pastor, captura o animal vivo, pequeno ou doente, e cuida dele. O animal não se afasta porque tem alimento. Para o homem, há as van- tagens de ter carne ao alcance, usar o leite como alimentação comple- mentar diminuindo a mortalidade infantil e possibilitando, posterior- mente, o surgimento do queijo, da manteiga e de outros alimentos. As mulheres coletam mel, frutas e raízes, observam no seu cotidiano as sementes germinando e descobrem que é possível cultivar a terra. Essa nova realidade muda à mentalidade do homem dessa época. O amanhã não é mais incerto. ▲ Figura 6: Cenas do filme “A guerra do fogo”. Fonte: Disponível em: <http://blog.uncovering. org/archives/2008/03/a_ guerra_do_fogo.html>. Acesso em: 26 de dez. 2009. ◄ Figura 7: Viver no Neolítico. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http://4. bp.blogspot.com/>. Aces- so em: 31 dez. de 2009. 16 UAB/Unimontes - 8º Período Como pastor e agricultor, conforme Hilário Franco Júnior e Paulo Pan Chacon (1987), o ho- mem percebe que pode acumular, pois existe agora o excedente que, por sua vez, vai gerar a Revolução Neolítica. São características da Revolução Neolítica: • O homem produz seu alimento e não depende do acaso para sobreviver; • A agricultura é base de todas as economias; • A vida agrícola sedentariza o homem, que cria vínculo emocional com a terra; • A vida comunitária torna-se mais intensa. Precisa-se de mais pessoas para lidar com a terra. A partir daí, surge o estado; • Com o excedente, surge a propriedade privada que possibilita a substituição do comunismo primitivo, e a separação entre donos de terra e rebanhos versus aqueles que trabalham, oca- sionando a escravidão; • A necessidade que haja braços para cultivar as terras faz surgir às guerras; • Novas técnicas, como a cerâmica e os instrumentos de pedra trabalhada, possibilitam a se- dentarização do homem; • Surgimento das primeiras trocas; • Os mistérios, como o fenômeno da semente brotar, a importância das chuvas, do sol e da temperatura, preparam o espírito humano para as religiões; • A necessidade de registrar a extensão de terras, a produção de vegetais, o número de gados e as palavras aos deuses proporcionam a criação da escrita, ou seja, a passagem para a His- tória. • A partir de então, ocorre uma nova configuração que permite o surgimento das civilizações de regadio ou hidráulicas. 1.3.3 Civilizações de regadio ou hidráulicas Com o surgimento da agricultura, o homem trabalha em grupo e procura um lugar para a atividade. As primeiras civilizações nascem, então, em torno dos rios. Cita-se como exemplo: • • Mesopotâmia que nasce às margens dos rios Tigre e Eufrates, onde se plantava cevada, po- rém o lugar era acessível a muitas enchentes; • O Egito nasce às margens do rio Nilo, onde se cultivou trigo e cevada; • A Índia às margens dos rios Ganges e Indo; • A china às margens do rio Amarelo. Os rios fertilizam a terra e permitem boas colheitas, porém, há algumas preocupações com o homem desse período. Ele deve levar água a locais distantes e, para isso, cria os ca- nais de irrigação e diques para deter as en- chentes. Com essas demandas, surge a neces- sidade da coordenação desses trabalhos. O poder central será necessário para defender o território e interferir junto aos deuses. Nasce o estado burocratizado e teocratizado.1.3.4 Civilizações comerciais As civilizações comerciais não apresen- tam condições geográficas propícias à agri- cultura, mas buscam meios para conseguir produtos alimentícios, oferecendo em troca outras mercadorias. O resultado disso é o de- senvolvimento do comércio de base agrícola. Figura 8: Egito às margens do rio Nilo. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http://4. bp.blogspot.com/>. Acesso em: 31 dez. 2009.► DICA Retome o caderno didático de História Antiga para se lembrar dessas questões, e facilitar sua assimilação da disciplina. 17 História - História Economica Geral e do Brasil Podemos citar como exemplos: • Fenícia, atual Líbano, dedicou-se à pesca, e tratou do cedro e da madeira para a fabricação de barcos, além disso, cultivou a vinha e a oliveira típicas do local; • A Grécia tinha pouca área fértil, um relevo acidentado, era pro- fundamente penetrada pelo mar, e a existência de portos naturais leva-a para a navegação. A Grécia, como vocês estudaram anterior- mente em História Antiga, torna-se uma grande potência até sur- gir Roma que domina praticamente o mundo conhecido naquela época. Tanto a Grécia quanto o Império Romano desenvolverão no decorrer da sua trajetória histórica o modo ou sistema de produção escravista. Com a queda do Império Romano, gradativamente, ve- remos o Feudalismo ser implantado e ganhar configuração. E a par desse contexto que iremos tratar da transição do Feudalismo para o Capitalismo, ou seja, a partir do que foi apreendido nas discipli- nas anteriores que embasam essa discussão. 1.4 A transição do feudalismo para o capitalismo e os elementos de superação da crise do século XIV: expansão ultramarina e sistemas coloniais Após a abordagem da história do homem, desde os primórdios até a idade antiga com a queda do Império Romano e a nova configu- ração social, política, econômica e cultural que se construiu com o feudalismo, passamos a discutir a transição do feudalismo para o capi- talismo que ocorreu concretamente a partir do século XII. De acordo com Pierre Vilar (1971), deve-se pensar a passagem qualitativa da sociedade feudal para a sociedade capitalista. Esse acon- tecimento não deve ser colocado de maneira acabada e pronta, mas pensando nas variações de país para país. Nessa perspectiva, os fatores imediatos que contribuíram para essa passa- gem foram os elementos contrários ao princí- pio do modo de produção feudal que, por sua vez, possibilitaram a sua destruição. São eles: 1) A propriedade da terra em diferentes graus; 2) A propriedade limitada sobre as pessoas. ▲ Figura 9: Fenícia, com o cedro e a madeira, fabrica barcos e torna- se uma civilização marítimo-mercantil. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.artimanha.com.br/ Navio>. Acesso em: 26 dez. 2009. DICA Retome o material de História Medieval, que você estudou no ensino médio, e os cadernos didáticos de História Medieval I e II do Curso de História da UAB com o objetivo de rememo- rar esses temas. Sugeri- mos também que você consulte os seguintes livros: - VALADARES, V. T. de et al. História: assim ca- minha a humanidade. Belo Horizonte: Editora do Brasil em Minas Ge- rais, 1992. - MONTELLATO, A. et al. História temática: tempos e culturas. São Paulo: Scipione, 2000. ▲ Figura 10: Estrutura social feudal. Fonte: Disponível em: <http://images.google.com.br/ imgres?imgurl=http://www.professoraclara.com/ima- gens/feudal/feudo>. Acesso em: 28 dez. de 2009. 18 UAB/Unimontes - 8º Período ATIVIDADE Assista ao filme “Em Nome de Deus” que conta a história ocorrida no século XII, em que Abelard (Derek De Lint), um respeitado filósofo e professor em Paris, é contratado para ser o tutor da bela e inteligente Heloise (Kim Thomson). Rapidamente, eles se apaixonam, mas precisam manter seu rela- cionamento escondido de todos porque Abelard está comprometido com o celibato. O filme lançado em 1988, direção de Clive Donner, auxiliará na compreensão da mentalidade medieval e contribuirá na assimilação do período medieval. Assim, assista ao filme com essa intenção. Posteriormente, deba- ta com seu professor formador, tutor e colegas quais são suas impressões sobre o filme, relacionando ao tema estudado. O resultado dessa desagregação demonstra que o Feudalismo era um circuito quase fecha- do, porém deixou brechas para outras possibilidades que fluíram no decorrer do processo. As im- plicações apresentadas a seguir desagregaram e desestruturaram o Feudalismo, possibilitando sua passagem para a sociedade capitalista. São elas: • Trocas exteriores; • Desenvolvimento da circulação monetária; • Propriedade absoluta que progride, em vez de retroceder, diante da propriedade feudal; • Homens livres, ricos ou pobres, cada vez mais numerosos, vinculados às relações feudais; • A cidade adquire importância ao lado dos campos. Percebe-se o surgimento de fortunas mobiliárias; • Impostos do estado competem com tributos senhoriais. Esses fatores constituíram ameaças ao regi- me feudal, proporcionando sua desagregação. Conforme Pierre Vilar (1971), nas discus- sões teóricas acerca da transição feudalismo/ capitalismo há controvérsias. Verifica-se que alguns locais, desde o século XI, esboçam o Ca- pitalismo. Porém, ressalta-se que Karl Marx diz que algumas cidades italianas irão esboçar o Capitalismo a partir do século XIV. Conforme Vilar (1971), não se pode falar da verdadeira passagem da sociedade feudal para o Capitalismo porque esses esboços re- trocedem. Somente quando regiões extensas vivem um regime completamente novo pode- -se dizer que se deu a passagem para o Capi- talismo. Essa passagem decisiva vai ocorrer quando as revoluções políticas, como as revoluções burguesas, sancionam juridicamente as mu- danças de estruturas e novas classes sociais dominam o estado. Mas essa evolução dura séculos, porém ocorre com a burguesia legitimando o Capitalismo. 1.4.1 O papel da burguesia Pierre Vilar (1971) orienta que se deve ter precaução ao usar as palavras burguesia e Capi- talismo. Justifica seu ponto de vista dizendo que essas palavras fazem parte da sociedade mo- derna, onde há produção maciça de mercadorias e exploração de trabalho assalariado, em outras palavras, verifica-se o antagonismo entre quem nada possui e quem possui os meios de produção. Por outro lado, de acordo com Pierre Vilar (1971), ocorre um abuso no emprego das expressões Capitalis- mo antigo e Capitalismo medieval, sendo interessante apresentar o sentido de cada termo. a. Capitalismo antigo De fato, existiam financistas em Roma e mercadores em Veneza na Ida- de Antiga, mas eles não dominavam a produção social dessa época. Quem fazia isso eram os escravos. Então, não se pode comparar essa realidade com a configuração do Capitalismo. Figura 11: Elementos de um feudo. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.professoraclara.com/ imagens/feudal/feudo>. Acesso em: 28 dez. 2009. ▼ Figura 12: Escravos servindo em um banquete romano. Mosaico proveniente de Cartago. Século III d.C. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http://3. bp.blogspot.com/ >. Acesso em: 28 dez. 2009. ▼ 19 História - História Economica Geral e do Brasil b. Capitalismo medieval Verifica-se que na Idade Média havia uma produção industrial, po- rém obtida de forma artesanal e corporativa. O mestre artesão compro- mete seu capital e trabalho, e alimenta em sua casa os companheiros e aprendizes, de maneira que as relações sociais não se reduzem a laços apenas de dinheiro. Nesse formato, não ocorre à separação entre os meios de produção e o produtortípico do Capitalismo. As comunas também são extremamente importantes dentro desse contexto, pois é o local onde se vê um caráter coletivo do modo de viver urbano, assim como as guildas que tinham o modo de vida dos mercado- res com uma estrutura burguesa da Idade Média. Tanto as comunas como as guildas apresentam estruturas diferentes das estruturas burguesas ca- pitalistas do século XIX. Diante desse contexto, Pierre Vilar (1971) afirma que não há capitalis- mo, pois ele tem outra configuração, conforme explica a abordagem anterior. 1.4.2 O renascimento das cidades Pierre Vilar (1971) e Hilário Franco Júnior (1987), ao tratarem desse assunto, fazem questão de dizer que não estão falando do Oriente, que apresenta outro contexto, mas do Ocidente Europeu. Nesse sentido, rememorar a atividade urbana no século III é interessante para verificar como se dá a evolução do renascimento das cidades ainda na Idade Média. A atividade urbana, nesse período, era mínima, pois, com as invasões dos bárbaros, apresenta outro contexto histórico. Ve- rifica-se que as cidades romanas cercadas de muralhas que serviam para proteção não desapare- cem, mas vivem mediocremente. O caráter rural da vida econômica e social corresponde ao perí- odo de implantação do modo ou sistema de produção feudal que ocorreu nos séculos IV ao X. As exceções são Lund, no Mar Báltico, e Veneza, no Mar Mediterrâneo, que praticavam o comércio em terras distantes até o século IX, além das frentes de contato, como Espanha muçulmana e cristã, que tinha papel militar ou comercial, distribuindo objetos preciosos ou moedas adquiridas nas razzias e com vendas de escravos. Assim, no século XI, generaliza-se o grande comércio que proporciona: • produção local destinada ao mercado; • substituição de oficinas dos servos no feudo. Agora, ocorre a fabricação de objetos de uso corrente pelas oficinas urbanas; • a especulação que surge com pessoas querendo abusar ou tirar vantagem da situação; • a oposição entre cidade e campo. É importante ressaltar que, no período medieval, as cidades dependiam dos senhores, mas, internamente, constata-se que: ▲ Figura 13: Gravura francesa do século XIII: servos trabalhando no campo. Ao fundo, o castelo senhorial (STENMANN, H.; OLMO, M. J. A.del [199-?] p.32). Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// soniamartins.com.br/img/ artigos/>. Acesso em: 28 dez. de 2009. GLOSSáRIO Comunas: Cidades com governo próprio, livres. (BUENO, 1996, p. 152) Guildas: Corporações artesanais ou corpo- rações de ofício. Eram associações de artesãos de um mesmo ramo, isto é, pessoas que desenvolviam a mesma atividade profissional e que procuravam ga- rantir os interesses de classe e regulamentar a profissão. Ocorreram na Europa durante e após a Idade Média. (BUENO, 1996, p. 334) ◄ Figuras 14 e 15: Cidade da Idade Média e a cidade de São Paulo nos dias atuais. Fonte: Disponível em: <http://cidademedieval. blogspot.com/2008/09/ vida-urbana-medieval- -iluminada-pela-luz.html >. Acesso em: 21 de maio de 2010. <http://cafehistoria.ning. com/>. Acesso em: 28 dez. 2009. 20 UAB/Unimontes - 8º Período • os moradores das cidades se rebelavam e discutiam, propiciando as “cartas de franquia”, ou seja, a liberdade; • as cidades, coletivamente, pertenciam ao sistema feudal, mas, dentro das muralhas, os habi- tantes eram livres e organizavam-se; • fundação de novas vilas, com o objetivo de vigiar as fronteiras, povoar territórios, aproveitar encruzilhadas e exigir a liberdade. Essas cidades se tornavam livres, mas não modificam o modo e as relações de produção que continuam camponesas, porém influenciam outras comunas rurais e dão asilo aos servos refugia- dos e lutam pela liberdade. Nas cidades, nobres, mercadores e corporações artesanais disputam o poder municipal. Para isso, firmam compromissos ou se eliminam, gerando uma crise geral do feudalismo no século XIV e XV. Nessa época, surgem às propriedades urbanas e fortunas mercatins, assim como é um tem- po de luxo, construções de mecenas das artes, mas não é o auge produtivo, porque a burguesia vive de renda ou compra de terras feudais. A burguesia imita os senhores feudais não caracteri- zando uma nova configuração nas cidades. Diante de tudo isso, as lutas de classes se agravam, pois a situação não é harmoniosa. Enfim, essa realidade não se apresenta de forma tranquila e serena, pelo contrário é conflituosa e tensa. Desse modo, as cidades do Mediterrâneo, que eram mercantis, entram em decadência, pois os turcos conquistam o Oriente em 1453. A Inglaterra, Portugal e Espanha agora se tornam novidades para a Europa Ocidental. 1.4.3 As forças produtivas dos séculos XV e XVI Nos séculos XV e XVI, as forças produtivas também constituem as invenções e os descobri- mentos de acordo com Pierre Vilar (1971). a) Invenções No século XV, o número de invenções é muito maior que no século XVII. Isso se justifica porque: • o uso da artilharia impulsiona a produção de metal; • surge o primeiro alto forno; • a imprensa também é criada e difunde o pensamento humano; • ocorre o progresso da ciência da navegação. Enfim, pela primeira vez, as técnicas industriais e de comunicações ultrapassam a técnica agrícola, dando início ao processo que coloca a indústria em primeiro plano. DICA Com o objetivo de compreender melhor a transição da Idade An- tiga para Idade Média, leia: - GUERRAS, Maria Sonsoles. Os povos bárbaros. São Paulo: Ática, 1987. Figura 16: Invenção da imprensa: equipamento utilizado para prensar. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.paroquiansdores. org/wp-content/uploa- ds/2008/07/>. Acesso em: 28 dez. 2009.► 21 História - História Economica Geral e do Brasil b) Expansão marítima e colonial No final do século XV, por meio da expansão marítima e colonial, há uma grande riqueza que vem do exterior. Nesse período, verifica-se que ocorre • a circunavegação da África; • o descobrimento da rota das Índias por Vasco da Gama e da América por Cristóvão Colombo; • a volta ao mundo realizada por Fernão Magalhães. Essas “descobertas” ampliaram o nível científico e a concepção de mundo na Europa, além disso, ocorre a retomada do grande comércio de produtos exóticos, escravos e metais preciosos, que constitui a finali- dade dos “descobridores”. 1.4.4 Acumulação primitiva de capital De acordo com Pierre Vilar (1971), há duas versões para explicação da acumulação primitiva de capital. Uma versão é a de Max Weber que diz que ela ocorre por meio do espírito de poupan- ça. Essa explicação ganha respaldo nas teorias protestantes. A outra versão, de Karl Marx, explica que a acumulação primitiva de capital só pode acontecer por causa das crises, das violências, dos desequilíbrios, dos açambarcamentos e das usuras do fim do regime feudal e a expansão dos europeus. É na perspectiva marxista que Pierre Vilar (1971) aborda essa questão. Nesse sentido, a acu- mulação primitiva de capital se deu da seguinte forma: a) Expropriação agrária e proletarização das mas- sas rurais Marx tem como símbolo para explicar esse fato à In- glaterra. No século XIV, verifica-se o desenvolvimento da classe rural comprometida com a produção artesanal e com o comércio de produtos. Nos séculos XV e XVI, há o incen- tivo de lucros sobre campos de pastagens com a indústria de lã que acaba por expulsar pequenos agricultores dos campos. Essa expropriação se dá de forma sistemática. O despovoamento e o empobrecimento do campo ocorrem sistematicamente contando com uma legislação impotente ao movimento. Essa legislação, no entanto, volta-se contra o pobre, desocupado e vagabundo que são colocados à disposição da indústria.Enfim, a expropriação e a proleta- rização têm como resultado a acumulação primitiva. Esse fenômeno é uma violência legalizada. b) Saque e exploração colonial Os saques constituem uma exploração contínua e sistemática dos povos colonizados. Ocor- rem roubos de joias e tesouros dos colonizados, como os índios na América, especificamente no México; dos Maias, Incas e Astecas em Portugal e Espanha; no extremo oriente pelos holandeses no século XVII; na Índia, no século XVIII, pelos ingleses. A pirataria e a pilhagem realizadas nos carregamentos dos espanhóis eram constantes. c) A exploração colonial e alta de preços na Europa Do século XV ao XVIII ocorre a exploração das minas de ouro no Méxi- co, Brasil, Cuba e São Domingos. Quem trabalha nessas minas são escravos e trabalhadores assalariados. A consequência dessa exploração sem limites é a banalização do ouro e a alteração de preços, sobretudo dos alimentos. ▲ Figura 17: Navegações do século XV. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.dightonrock.com/ caravela2>. Acesso em: 28 dez. 2009. ◄ Figura 18: Cercamentos na Inglaterra: séculos XV a XVIII. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.usp.br/fau/docen- tes/>. Acesso em: 28 dez. 2009 Figura 19: Aspecto do interior de uma mina de ouro. Fonte: Disponível em: < em: br. olhares.com/mina_ de_ouro_foto2422013. html> Acesso: em 21 de maio de 2010. ▼ 22 UAB/Unimontes - 8º Período d) O papel do capital usurário e do capital mercantil A produção industrial em massa não se torna regra na Europa no século XIX. Ainda hoje, verificamos a existência de países “subdesenvolvidos”. De acordo com Vilar (1971), a acumulação monetária possibilita a acumulação primitiva de capital por meio de três procedimentos: • Empréstimo usurário para consumo Havia dois níveis: o nível mais baixo e o mais alto. O nível mais baixo ocorria quando o ho- mem tinha disponibilidade monetária e emprestava a juros altos para o camponês comprar suas ferramentas, sementes e pagar os impostos. O nível mais alto ocorria quando os mercadores e banqueiros emprestavam aos grandes senhores e príncipes. • Especulação sobre escassez Havia as carestias periódicas. Quem acumulava grãos nessas épocas acabava vendendo em momento oportuno e obtendo lucro. Quem fazia isso era odiado, mas enriquecia. • Especulação comercial Ocorria a acumulação primitiva de capital, por meio da especulação comercial a partir de produtos valiosos, que alimenta o capital mercantil. Os europeus que tinham muito ouro, por causa da exploração colonial, banalizam-no e compram produtos caríssimos como azeite, vinho e panos. Nesse mercado de produtos de luxo, há a concorrência que faz a circulação do capital. Caso isso não ocorresse, a economia viria a pique. Há muita pobreza e alta dos preços, e os ho- mens com dinheiro tomam o controle da produção. 1.4.5 Etapas finais do processo de transformação De acordo com Pierre Vilar (1971), a passagem da sociedade feudal para sociedade capitalista se deu de forma lenta e gradativa, ou seja, processual. Na se- quencia, apresentamos alguns fatos que concorreram como etapas finais desse processo de transformação. a) Primeiro controle do capital mercantil sobre a produção industrial No século XVII, em relação à manufatura, verifi- cava-se o lucro por meio da exploração das colônias, sobretudo por causa da matéria-prima, das dificulda- des do artesanato corporativo e do excesso de mão de obra no campo. Os mercadores distribuíam matéria- -prima e instrumentos de produção em domicílios para os camponeses e oficinas, separando produtor e meio de produção, organizando, assim, a divisão do trabalho. b) Papel dos primeiros estados nacionais e a acumulação primitiva As contribuições dos primeiros estados em rela- ção à acumulação primitiva de capital constituem: • Organização do crédito, por meio da criação dos ban- cos, que eliminou os agiotas, mas acabou criando gru- pos restritos e poderosos; • Proteção da produção nacional, por meio das alfândegas, com a finalidade de fazer dinheiro e lucro. Um exemplo é a Inglaterra, no final do século XVII, que podia verificar: concentra- ção de propriedade agrária; proletarização de mão de obra; atividade marítima e colonial in- tensa. Portugal e Espanha, que tinham um afluxo de dinheiro, eram diferentes da Inglaterra, mas viviam do parasitismo das rendas. A Holanda não tinha recursos industriais na época, assim como a França, que resistia aos cercamentos, por isso o atraso em relação à Inglaterra. ▲ Figura 20: Interior de uma fábrica no século XVIII na Inglaterra. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.coljxxiii.com.br/ webquest/>. Acesso em: 30 dez. 2009. 23 História - História Economica Geral e do Brasil c) No século XVIII há o novo avanço das forças de produção: produção industrial em massa e a nova agricultura A Inglaterra do século XVIII apresenta uma nova configuração com o aparecimento do maquinismo. As invenções de 1730 a 1760 substituem a manufatura pela maquinofatura, multiplicando a produtividade, tornan- do o trabalho mais barato e a mão de obra de força re- duzida, como a da criança e da mulher, passa a ser utili- zada. Pode-se citar, como exemplo, a metalurgia com a fundição de carvão, por meio da máquina a vapor, cujas consequências foram a produção industrial em massa, contando com a fonte do capital através da mais-valia. A partir daí, acaba a era da acumulação primitiva. Tudo é mercadoria, e as relações sociais são vinculadas ao di- nheiro e ao lucro. Configura-se, então, o fim do Feudalismo. Verifica-se, também, a exploração cada vez mais acentuada do trabalho humano. No século XVIII, ocorre a alta de preços, sobretudo dos alimentos. A fonte de renda e riqueza é constituída por meio da exploração das colônias. Grandes fortunas são edificadas com o colonialismo. Da América, vem o algodão; do Brasil, especificamente, o ouro e do México, a prata. A Índia também é fonte de exploração, sobretudo das especiarias. O salário é diminuído, porém há um contraste: todos, mulheres e crianças, podem trabalhar aumentando a renda familiar, favorecendo, na épo- ca, o desaparecimento da carestia e da falta de pão. Nesse contexto, ocorre a revolução agrícola e a liberdade do comércio de grão por meio da produção agrícola em massa para a venda. Enfim, nem todos os países entram no século XVIII no Capitalismo. A Inglaterra tornou-se capitalista em 1760. Contudo, verifica-se ainda hoje que há aqueles países, como, por exemplo, a África que não chegaram a esse ponto. Outra questão importante é em relação ao regime social que não estava constituído exclusivamente pela economia, pois cada modo de produção corres- pondia a um sistema direto de instituições e de formas de pensamento, como, por exemplo, as lutas de classes, resistências do regime anterior, revoluções e conflitos. 1.5 Mercantilismo Para Francisco Calazans Falcon (1986), autor eleito, neste caderno didático, para tratar do Mercantilismo, Pierre Deyon diz que o Mercantilismo nunca existiu e é um mito, pois esse termo foi criado no século XIX pelos positivistas. São os admiradores da Escola Histórica Alemã no sécu- lo XIX que denominam pela primeira vez esse fato de Merkantilismus. 1.5.1 Quem constrói o conceito/termo Os fisiocratas no século XVIII e economistas da Escola Clássica de Economia no século XVIII e XIX denominam após estudos esse acontecimento como “sistema mercantil” ou “sistema do comércio”. ▲ Figura 21: Agricultura industrializada nos nossos dias. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.rodalpr.com.br/ imagens/colheitadeiras.>. Acesso em 30 dez. 2009Figuras 22 e 23: Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). Fonte: Disponível em: <http://images.goo- gle.com.br/imgres?imgurl=http://jacusers. johnabbott.qc.ca/~bill.russell/AdamSmith>. Acesso em 31 dez. 2009. ► 24 UAB/Unimontes - 8º Período GLOSSáRIO Fisiocracia: Considerada a primeira escola da economia científica, antes até mesmo da teoria clássica de Adam Smith, é uma teoria econômica que surgiu para se opor ao mercantilismo, apresentando-se como fruto de uma reação iluminista. Em síntese, a fisiocracia baseia-se na afirmação de que toda a riqueza era proveniente da terra, da agricultura. Escola Clássica de Economia: A economia clássica foi elaborada e sistematizada nas obras dos economistas políticos Adam Smith e J.S. Mill. Além de Smith e Mill, os principais responsáveis pela formação da economia clássica foram o francês Jean-Baptiste Say (1767-1832), David Ricardo e Robert Malthus (1766-1834). A ideia central da economia clássica é a de concorrência. Embora os indivíduos ajam apenas em proveito próprio, os mercados em que vigora a concorrência funcionam esponta- neamente, de modo a garantir a alocação mais eficiente dos recursos e da produção, sem que haja excesso de lucros. Por essa razão, o único papel econômico do governo é a intervenção na economia quando o mercado não existe ou quando deixa de funcionar em condições satisfatórias, ou seja, quando não há livre concorrência. (Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/afp/economia/ eco02/04eco02.htm.> Acesso em 31 dez. 2009.) Uma questão importante para a construção do conceito de Mercantilismo que Falcon (1986) chama atenção é para a utilização do sufixo “-ISMO” que remete à ideia ou à maneira de pensar e sentir. Essa palavra é contemporânea ao objeto de estudo que se quer indicar, sendo coerente. Verifica-se, também, de acordo com Falcon (1986), um anacronismo em relação a esse ter- mo. Mercantilismo é definido como ideias e práticas econômicas cuja característica básica é a intervenção do Estado na economia. Porém, além dessa definição, é interessante considerar o Mercantilismo como produto das condições específicas de um determinado período histórico do Ocidente, caracterizado pela transição feudalismo/capitalismo. Enfim, não há um consenso em relação ao significado de Mercantilismo. Para Marx, esse “ca- pitalismo comercial” ou Mercantilismo é a primeira época da história do Capitalismo, cuja carac- terística é o comércio. Para os autores positivistas, Mercantilismo é o sistema ou forma econômi- ca que caracteriza a economia nacional, ou seja, o espaço geopolítico, o Estado Nacional. Nesse caso, eles consideram apenas os aspectos econômicos e políticos. Afinal, o que significa Mercantilismo? É um sistema econômico? Um modo de produção en- tre o feudalismo/capitalismo? Para responder a essa questão, Falcon (1986) diz que há versões diferentes e que elas dependem do foco de estudo historiográfico, podendo ser: a) Materialista: Modo de produção, cuja característica dominante é o comércio, que tem papel importante no processo de acumulação primitiva do capital. Mercantilismo não é Capitalis- mo, mas cria condições para isso. b) Idealista: Mercantilismo é a primeira manifes- tação do espírito capitalista. Ele busca lucro por meio de operações no comércio, empréstimos a juros, con- trole de oficinas artesanais e manufaturas e explora- ção colonial, propiciando a acumulação do capital comercial. c) História Nova: Mercantilismo é o conjunto de ideias ou práticas econômicas que caracterizam a história econômica e política europeia nos séculos XV, XVI e XVIII, e autores como Adam Smith, Maurice Dobb e Karl Marx confirmam esse conceito. 1.5.2 História do conceito ou da ideia do Mercantilismo De acordo com Falcon (1986), é necessário compreender melhor o objeto de estudo, veri- ficando a trajetória da sua construção. Nesse sentido, conhecer as expressões anteriores, como sistema mercantil ou sistema comercial, criadas pelos fisiocratas franceses no século XVIII, que apresentam uma conotação negativa acerca do Mercantilismo, porque abordam, na perspectiva de leis contrárias à economia, como o intervencionismo estatal é fundamental. PARA SABER MAIS Pesquise na internet ou leia os seguintes livros para saber mais sobre noções como mate- rialismo, idealismo e História Nova: - CARDOSO, Ciro Flama- rion. (Org.). Os domí- nios da história. Rio de Janeiro: Campos, 1997. - BARROS, José D’Assunção. O campo histórico: as especiali- dades e abordagens da história. Rio de Janeiro: CELA, 2002. - BOURDÉ, Guy e MAR- TIN, Hervé. As escolas históricas. Portugal: Publicações Europa/ América, 1983. Figura 24: Karl Marx (1818-1883). Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.fjaz.com/graphics/ marx>. Acesso em: 31 dez. 2009. ► ATIVIDADE Procure se informar na internet, dicionário e livros na biblioteca da sua cidade sobre o que é balança comercial fa- vorável. Depois partilhe com os colegas, pro- fessor formador e tutor sobre esse assunto no ambiente de aprendi- zagem. 25 História - História Economica Geral e do Brasil Adam Smith, através do livro “Riqueza das nações”, em 1776, define Mer- cantilismo como um sistema do comércio que se apresenta pronto e acaba- do, porém com princípios e objetivos equivocados por causa da questão da balança comercial favorável. Enfim, o Mercantilismo é sinônimo de estatismo, monopolismo, privilégios abusivos e maquinações diabólicas, conforme abor- da Falcon (1986). Na Alemanha, ainda conforme Falcon (1986), Fichte e F. List, integrantes da Escola Histórica, estuda-se o fato na perspectiva de que o Mercantilismo privilegia a economia nacional, ou seja, o protecionismo estatal. Assim, Mer- cantilismo pode ser definido como política econômica racional para constru- ção e fortalecimento do Estado Moderno. Em 1930, o sueco Eli Heckscher publica um trabalho discutindo Mercan- tilismo como um sistema de política econômica em que os meios econômicos (política protecionista e monetária) conduzem os fins (política de unificação e política de poder) de natureza política. A pesquisa de Eli Heckscher foi elo- giada e criticada, assim como considerada historicamente incompleta e sendo pessimista ao seu objeto de estudo. Para ele, o Mercantilismo era um sistema imaginário, cuja noção é inútil e perigosa. Porém, o trabalho de Eli Heckscher foi um marco historiográfico. Durante a grande depressão de 1930, a ordem do dia era o intervencio- nismo, protecionismo e autarquia. Esse fato possibilitará compreender a lógi- ca interna do Mercantilismo e reconhecer a cientificidade e racionalidade na época em que existiu. Atualmente, há muitos trabalhos sobre esse assunto que constatam a sua riqueza, diversi- dade e peculiaridades. Enfim, a construção do conceito ou da ideia de Mercantilismo deu-se de forma processual. Mercantilismo é mais que uma palavra, um sistema ou uma doutrina, consti- tuindo ideias e práticas econômicas ligadas ao processo que durou mais de três séculos, envol- vendo a transição feudalismo/capitalismo; problemas do estado moderno; absolutismo e expan- são político-econômica, fazendo a conexão política e econômica entre o final da ‘Idade Média e o início da Revolução Industrial’. 1.5.3 Época mercantilista Conforme abordagem anterior e de acordo com Falcon (1986), o Mercantilismo está inserido no período de transição feudalismo/capitalismo. Verificam-se divergências com o termo transi- ção, pois essa palavra é algo sem sentido para a História que vive uma “eterna transição” porque trabalha com a perspectiva de processo, esse termo também é incompatível com tempo longo. O contexto do Mercantilismo constitui a passagem da sociedade feudal para a sociedade capitalista que está inseridanos séculos XV, XVI, XVIII e XIX. Pensando a época mercantilista, há visões e ponto de vistas diferentes que apresentam as suas características, tais como: a) Ideia de ruptura da idade moderna A ideia de ruptura da Idade Moderna apresenta-se a partir dos seguintes aspectos: • Econômico: Na Idade Média, há uma economia quase fechada e de subsistência. Na Idade Moderna, verifica-se a expansão marítima, comercial e colonial com seus efeitos, ou seja, preços, moeda, exploração ultramar; • Político: Na Idade Média, o poder é descentralizado, calcado nas mãos dos senhores feudais. Na Idade Moderna, surgem os estados nacionais, centralizado, propício à guerras e à diplo- macia, estabelecendo relações políticas e econômicas; • Social: Na Idade Média, a sociedade era estamental, sem mobilidade social. Na Idade Moder- na surge a burguesia e, assim, a mobilidade social; • Espiritual e ideológico: Na Idade Média, a ideologia e a espiritualidade estão voltadas para o teocentrismo da Igreja Católica. Na Idade Moderna, o Humanismo, o Renascimento, a Refor- ma Protestante e a Contrarreforma possibilitarão uma nova concepção de mundo. ▲ Figura 25: Multidão lota a Bolsa de Valores de New York logo após quedas acentuadas de 1929. (Foto: Reprodução/Wikipedia Commons) Fonte: Disponível em: http://images.google.com. br/imgres?imgurl=http:// g1.globo.com/Noticias/ Mundo>. Acesso em: 31 dez. 2009. 26 UAB/Unimontes - 8º Período Para Falcon (1986), essa ideia é insustentável. Pensar na rup- tura, ou seja, ontem foi de uma forma, e hoje é de outra é incon- cebível. b) Ideia de continuidade Os mesmos aspectos apresentados acima, ou seja, econo- mia, política, espiritualidade, etc., nessa perspectiva de continui- dade, permanecem. É a ideia de permanência das relações feu- dais até o século XVII, na Inglaterra, e 1789, na França. Essa ideia em parte é válida, porém devem-se ter argumentos para respal- dá-la. c) Ideia do novo Considera-se o Mercantilismo como a época pré-capitalista, quando se formam e germinam elementos do sistema capitalis- ta. Essa ideia envereda pelo caminho da teleologia, que tenta ex- plicar a época não pelo que ela é, mas pelo que virá a ser. d) Ideia do dualismo estrutural Tenta superar o dualismo estrutural, ou seja, a coexistência e interdependência de relações feudais e capitalistas. Considerada época de transição feudalismo/capitalismo. Entre todas essas ideias, Falcon (1986) aponta o dualismo estrutural como a mais coerente. 1.5.4 Estruturas do período de transição Falcon (1986) apresenta as estruturas econômicas, sociais, políticas e ideológicas do período de transição feudalismo/capitalismo, nas quais o mercantilismo se insere. São elas: a) Econômicas As estruturas econômicas referentes ao período de transição feudalismo/capitalismo se apresentam da seguinte forma: • Relações existentes entre o campo e a agricultura Na relação existente entre o campo e a agricultura, temos: - Aforamento: Retrata a persistência das relações feudais. Os foreiros e senhores são os nobres, eclesiásticos e burgueses; - Arrendamento: Identifica-se ou aproxi- ma-se das relações contratuais capitalistas; - Parceria: Ocupa lugar intermediário en- tre os dois tipos anteriores, aforamento e ar- rendamento. Caracteriza-se por ser tipicamen- te de transição; - Cercamentos ou enclouseres: O Capita- lismo com os cercamentos contrapõe a todos. Eles constituem na expropriação e expulsão dos camponeses. • Relações existentes na cidade/indústria Na relação existente entre a cidade e a indústria, temos: - O artesanato: Ocorre a produção em pequenas oficinas com o controle das corporações ou guildas. O artesão é dono dos meios de produção e do processo de produção. Possui caracte- rística feudal; - A manufatura: A organização era feita com o produtor direto, ainda artesão, porém subor- dinado ao empresário. Esse empresário fornece a matéria-prima e os instrumentos de trabalho, assim como se apropria da produção pagando por tarefa ou salário. Dessa forma, acontece a es- pecialização de funções. Esse modelo apresenta característica de transição. ▲ Figura 26: Lutero e as 95 teses. Fonte: Disponível em: http://images.google.com. br/imgres?imgurl=http:// eudesenholetras.files. wordpress.co>. Acesso em: 31 dez. 2009. ATIVIDADE Procure no dicionário, com vistas a ampliar seu conhecimento, o significado das palavras: aforamento, arrendamento, parceria e cercamento. Depois partilhe com os cole- gas, professor formador e tutor os resultados de sua pesquisa no ambiente de aprendi- zagem. Figura 27: Camponeses da Idade Média trabalhando no campo. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http://raul- marinhog.files.wordpress. com/2008/12/idade- -media>. Acesso em: 31 dez. 2009. ► 27 História - História Economica Geral e do Brasil b) Sociais O aspecto social é tratado por Falcon (1986), a partir da discus- são de classe social. A sociedade do Antigo Regime é caracterizada como uma socie- dade de ordens. O termo sociedade de ordens ou estamental consti- tui a negação de classe social. Para os marxistas, Engels e Lukacs, há uma impossibilidade do uso do termo classe social no Antigo Regi- me, pois esse termo é próprio da sociedade capitalista. É necessário ter consciência de classe para que esse termo possa ser utilizado. Para os positivistas que trabalham com critérios de evidência, esse termo não é utilizado no Antigo Regime, logo, não existe classe social nesse período. Nessa perspectiva, Falcon (1986) apresenta duas análises para essa questão. Verifica-se que, trabalhando textos da época, ou seja, do An- tigo Regime, a sociedade se autodefine como sociedade de ordens ou de estados. Então, a ideologia e a mentalidade da época tinham essa concepção. Em relação a essa questão, na perspectiva marxista, tendo como foco o materialismo históri- co, a estrutura socioeconômica e as relações de produção, no Antigo Regime, existe classe social, e ocorre a luta de classes, apesar de as estruturas religiosas, sociais, políticas e econômicas da época na sua aparência não deixarem transparecer. Enfim, constata-se que a sociedade de ordens do Antigo Regime escamoteia por meio de práticas político-jurídicas e ideológicas a existência da classe de proprietários de terra (nobreza e clero), classe de camponeses e burguesia mercantil e industrial. c) Políticas A expressão máxima nesse período de transição da sociedade feudal para a sociedade ca- pitalista é ESTADO ABSOLUTISTA. Esse Estado Moderno é completamente diferente da propos- ta da Idade Média. Ele constitui um estado territorial, sendo governado por um príncipe, com a concentração do poder e a centralização administrativa caracterizando um Estado Monárquico Absolutista, consistindo em um aparelho burocrático e militar. ▲ Figura 28: A Liberdade guiando o Povo (1830), de Eugène Delacroix, quadro alusivo à Revolução Francesa. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// twilighthatersbrasil.files. wordpress.com/2009/03/ revoluofrancesasimbolo>. Acesso em: 31 dez. 2009. ATIVIDADE Procure no dicioná- rio de história ou de política, ou ainda na internet o significado de Antigo Regime. Partilhe posteriormente essa informação com seus colegas, tutor e professor formador nos fóruns de debate. ◄ Figura 29: Invasão da Bastilha em 14 de julho de 1789. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// www.historiadomundo. com.br/imagens/france- sa_revolucao3>. Acesso em: 31 dez. 2009. 28 UAB/Unimontes - 8º Período Falcon (1986) para tratar da natureza social e política do Estado, apresenta os seguintes ar- gumentos:• A burguesia auxilia no fortalecimento do Estado por meio do poder econômico que detém. Os burgueses, em troca, ganham e conquistam cargos importantes. Essa é a justificativa para a origem social do Estado; • Verifica-se a existência de ministros burgueses influentes. Os burgueses compram títulos de nobres e tornam-se um deles, assim como seus descendentes. Essa é a justificativa para a origem social das elites na época; • O Estado tem de ser neutro, contando com o equilíbrio de classes, ou seja, um príncipe livre para governar e uma burocracia do Estado independente das classes. Esses argumentos dis- sociam o príncipe de sua própria classe - a nobreza – além de não destacar o fato de que a aristocracia é a classe dominante. Nessa veia, o Estado Absolutista é feudal ou capitalista? Falcon (1986) responde que são as duas coisas: nem uma nem outra, constituindo uma relação contraditória. O Estado apoia os burgueses que são capitalistas e mantém interesses dos nobres, que apresentam características feudais. Essa configuração vai se alterar com o nascimento do Liberalismo que vem com a Revo- lução Burguesa que é anti-feudal, antiabsolutista com a proposta do reformismo esclarecido por meio dos déspotas esclarecidos. d) Ideológicas Os elementos gerais, de acordo com Falcon (1986), que constituíam a ideologia da época, eram os conceitos de modernidade e progresso, assim como a passagem da transcendência à imanência. O século XVIII é o século do Iluminismo e da Ilustração, por isso, conta com pensadores como Locke, Hume, Montesquieu, Rousseau, Diderot, D’Lambert e outros que trazem à tona a discussão do político como campo diferente e próprio. Constrói-se também o discurso econômico com um foco diferente do político. O discurso econômico não existia como campo do saber, já que existiam ideias. A economia era pensada na perspectiva da administração doméstica e controle dos negócios privados. A ideia de seculariza- ção é voltada para o individualismo burguês. O universo ideológico é secular, imanentista, racio- nalista e individualista, ou seja, burguês. Ocorre a autonomia discursiva do político e do econômico como campos definidos de sa- beres nos séculos XVIII e XIX. O discurso político é construído por Maquiavel no século XVI pen- sando a secularização do Estado. No século XVII, Thomas Hobbes e Hugo Grotius vêm afirmar o seu caráter convencional. A economia estava subordinada ao Estado. Era a política econômica, ou seja, ideias econômicas e ideias mercantilistas. GLOSSáRIO Transcendência: Su- perioridade, elevação espiritual. (BUENO, 1996, p.649) Imanência: Que existe sempre num ser, inseparável dele, permanente, constante. (BUENO, 1996, p. 353) PARA SABER MAIS Procure se informar sobre o Iluminismo, a Ilustração e as contri- buições, sobretudo para a história, de Locke, Hume, Mon- tesquieu, Rousseau, Diderot, D’Lambert. Não só a internet pode colaborar, mas também a consulta ao livro de FONTANA, Josep. História: análise do pas- sado e projeto social. Bauru/SP: EDUSC, 1998. Depois partilhe essas informações com o pro- fessor formador, tutor e colegas nos fóruns de debate e no ambiente aprendizagem. DICA Leia o livro “O Príncipe” de Maquiavel. Figuras 30 e 31: Maquiavel e seu livro “O Príncipe”. Fonte: Disponível em: <http://images. google.com.br/ imgres?imgurl=http:// teatrosilva.files.wordpress. com/2009/03/maquiavel. jpg&imgrefurl=http:// teatrosilva.wordpress. com/2009/03/&usg Acesso em: 2 jan. 2010.► 29 História - História Economica Geral e do Brasil Assim sendo, o Mercantilismo é sinônimo de discurso político-econômico que vem se afir- mar com o Liberalismo Econômico e a Revolução Industrial. Referências BARROS, José D’Assunção. O campo histórico: as especialidades e abordagens da história. Rio de Janeiro: CELA, 2002. BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. 84 p. (Coleção Pri- meiros Passos, 17) BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: FYD: LISA, 1996. FALCON, F. C. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1986. FRANCO JÚNIOR, Hilário; CHACON, Paulo Pan. História econômica geral. São Paulo: Atlas, 1987. LE GOFF, Jacques. História e memória. 4. ed. Campinas, SP: Unicamp, 1996. 523 p. (Coleção re- pertórios) MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marcos Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo. In: VAINFAS, Ronaldo; CARDOSO, Ciro Flamarion. Domí- nios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. VILAR, Pierre. La transition du féodalisme au capitalisme. In: ____. Sur le féodalisme. Paris: CERM/Éditions Sociales, 1971. PARA SABER MAIS Conheça melhor o liberalismo econômico, consultando os sítios: www.abphe.org.br; http://www.abphe.org. br/revista/objetivo. html; http://sites.google. com/site/rephe01/; http://www.race.nuca. ie.ufrj.br/bvartigoseco- nomia. DICA Releia o caderno didáti- co de História Moder- na que discute esse período de transição do feudalismo para o capi- talismo, para que você possa assimilar melhor esses conteúdos de História Econômica. 31 História - História Economica Geral e do Brasil UNIDADE 2 Consolidação e crises do capitalismo, socialismo e tendências do desenvolvimento capitalista 2.1 Introdução Nesta Unidade, discutiremos a consolidação e as crises do Capitalismo, Socialismo e tendên- cias do desenvolvimento capitalista. De acordo com a proposta, os temas abordados referem-se à Revolução Industrial e à ascensão do Capitalismo, do Liberalismo, Neocolonialismo e Imperia- lismo, da primeira Guerra Mundial, da Crise de 1929 e modelos de recuperação da Crise de 1930, do Socialismo, da Globalização, do Neoliberalismo e Regionalização. Ressaltamos que, ao discutir a Revolução Industrial, o nosso objetivo é constatar como ocor- re à consolidação do Capitalismo que traz consigo novos integrantes como o Liberalismo, Neoco- lonialismo e Imperialismo. Após a apresentação da consolidação do Capitalismo, serão focadas algumas de suas crises, como a primeira grande depressão de 1873 a 1896, a primeira Guerra Mundial, a crise de 1929, bem como modelos de recuperação da crise de 1930. Na sequência, apresentaremos uma alternativa de sistema ou modo de produção diferente do Capitalismo que é o Socialismo. Por fim, a Globalização, o Neoliberalismo e a Regionalização possibilitarão revelar as alternativas viáveis do Capitalismo. Desse modo, a proposta dessa unidade objetiva compreender a consolidação, as crises e a recuperação do Capitalismo, e ainda, por meio do Socialismo, entender que é possível outro mo- delo de sociedade. É importante não se esquecer de que nesse contexto as relações que se confi- guram são tensas e conflitosas o tempo todo. 2.2 Revolução industrial e a ascensão do capitalismo De acordo com Hobsbawn (1994), é importante trabalhar com o conceito e com o termo Re- volução Industrial. Entre as definições existentes, pode-se conceituá-lo como: • Um processo, pois constituiu um período gradual de desenvolvimento, porém firme, que durou cerca de 150 anos; • Aplicação de inventos às tarefas humanas e divisão do trabalho em equipe; • Mudança de economia agrária para produção mecanizada realizada nas fábricas nas áreas urbanas; • Denominação desse acontecimento de Revolução Industrial ou Industrialismo, pela primeira vez, pelos observadores e estudiosos franceses, em 1820. 32 UAB/Unimontes - 8º Período Em relação ao período em que ocorreu a Revolução Industrial pode-se afirmar que foi em meados do século XVIII, na Inglaterra e parte da Europa Ocidental; meados do século XIX, nos Es- tados Unidos da América;
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