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Livro-Texto Unidade I - História das Relações Internacionais

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Camila Cristina Ribeiro Luis
 Profa. Letícia Cunha de Andrade Oliveira
Colaboradores: Prof. Enzo Fiorelli Vasques
 Profa. Tânia Sandroni
História das Relações 
Internacionais
Professoras conteudistas: Camila Cristina Ribeiro Luis / 
Letícia Cunha de Andrade Oliveira
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L953h Luis, Camila Cristina Ribeiro.
História das Relações Internacionais / Camila Cristina Ribeiro 
Luis, Letícia Cunha de Andrade Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
172 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Relações internacionais. 2. Sociedade. 3. Guerras. I. Luis, 
Camila Cristina Ribeiro. II. Oliveira, Letícia Cunha de Andrade. III. Título.
CDU 341.12
U508.96 – 20
Camila Cristina Ribeiro Luis
Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2007, na cidade de Franca, 
interior de São Paulo. Também pela Unesp, na capital paulista, por meio do programa interinstitucional San Tiago Dantas, é 
mestre e doutora (2018).
Desde a iniciação científica, suas pesquisas enquadram-se na área de paz, defesa e segurança internacional, interesse que 
surgiu ainda na graduação, quando queria entender as circunstâncias da formulação do projeto Zona de Paz e Cooperação do 
Atlântico Sul, proposto pelo Brasil à Organização das Nações Unidas (ONU) em 1986. No mestrado, continuou com os olhos fixos 
no mar e analisou a participação da Marinha do Brasil na política externa brasileira formulada para a fronteira atlântica. E, por 
fim, no doutorado, estudou a política de defesa do Brasil no Atlântico Sul.
Iniciou a carreira na docência em 2014 na Universidade Paulista (UNIP). Leciona no curso de Relações Internacionais 
e Ciências Econômicas desde 2017.
Letícia Cunha de Andrade Oliveira
Possui toda a formação em Relações Internacionais. Concluiu o bacharelado pela Pontifícia Universidade Católica 
de Goiás (PUC-GO) em 2011, o mestrado pela Universidade de Brasília (UnB), em 2013, e o doutorado pela Universidade de 
São Paulo (USP) em 2019.
Na graduação, analisou as propostas de reforma do Conselho de Segurança ONU. No mestrado, analisou o 
desempenho do Brasil no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). E, no doutorado, analisou 
a implementação do Programa Mais Alimentos na África, mais especificamente em Moçambique.
Em 2017, começou a coordenar o curso de Relações Internacionais do campus de São José dos Campos da UNIP e 
continuou em sala de aula. Atualmente, contribui com a equipe de professores do curso de Relações Internacionais da 
UNIP na produção de material didático.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Aline Ricciardi
 Bruna Baldez
Sumário
História das Relações Internacionais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................................... 11
1.1 Estudos europeus ................................................................................................................................. 13
1.2 Estudos americanos ............................................................................................................................. 16
2 A CONSTRUÇÃO DA “SOCIEDADE INTERNACIONAL EUROPEIA”: 
DE VESTFÁLIA A VIENA ...................................................................................................................................... 20
2.1 A Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestfália .......................................................................... 21
2.2 O Congresso de Viena e a sociedade internacional europeia............................................. 28
2.3 Expansão da sociedade internacional europeia ....................................................................... 34
3 O APOGEU DO SISTEMA INTERNACIONAL EUROPEU (1871-1914) ............................................. 38
3.1 Tendências na geopolítica europeia após 1871 ....................................................................... 39
3.2 Economia e relações internacionais ............................................................................................. 41
3.3 A diplomacia de Bismarck ................................................................................................................. 44
3.4 O despertar da bipolaridade na Europa ...................................................................................... 46
4 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ............................................................................................................... 49
4.1 O estopim da Primeira Guerra Mundial ...................................................................................... 50
4.2 O desenrolar do conflito .................................................................................................................... 53
4.3 A Paz de Versalhes ................................................................................................................................ 56
4.4 Discutindo as forças profundas que levaram à Primeira Guerra Mundial .................... 59
Unidade II
5 O PERÍODO ENTREGUERRAS (1919-1939) ............................................................................................ 70
5.1 A Liga das Nações ................................................................................................................................ 71
5.2 A Europa ................................................................................................................................................... 76
5.3 União Soviética, Japão e Estados Unidos ................................................................................... 78
5.4 América Latina, África e Ásia ........................................................................................................... 84
5.5 A retomada das hostilidades ........................................................................................................... 87
6 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945) .................................................................................... 93
6.1 A guerra civil europeia ....................................................................................................................... 95
6.2 Mundialização da Segunda Guerra Mundial ..........................................................................100
6.3 Surgimento de uma nova ordem internacional ....................................................................105
Unidade III
7 A GUERRA FRIA (1946-1989) ...................................................................................................................1197.1 Período “quente” da Guerra Fria ..................................................................................................119
7.2 Coexistência pacífica ........................................................................................................................124
7.3 Distensão ...............................................................................................................................................130
7.4 Nova Guerra Fria .................................................................................................................................134
8 O MUNDO GLOBALIZADO (1990-) .........................................................................................................138
8.1 Nova balança de poder ....................................................................................................................139
8.2 Novos problemas globais ................................................................................................................141
8.3 Novas formas de inserção internacional ..................................................................................146
8.4 Fenômenos recentes .........................................................................................................................151
7
APRESENTAÇÃO
O livro-texto que aqui se apresenta tem como objetivo auxiliar o estudante de Relações Internacionais 
em sua jornada de estudos sobre a história das relações internacionais, um assunto denso e rico que 
muito contribuirá não apenas para sua formação acadêmica, mas também para ampliar seus horizontes 
sobre o entendimento do mundo.
A história das relações internacionais tem como objeto de estudo a formação do sistema internacional 
contemporâneo, bem como sua evolução ao longo dos últimos séculos. Assim, discutiremos o contexto 
que resultou na formação do sistema de Estados europeu e da sociedade internacional europeia; sua 
expansão mundial no século XIX; as rupturas do século XX e a formação de uma sociedade mundial; 
e a transição da Guerra Fria para o sistema internacional contemporâneo, tudo isso a partir de uma 
perspectiva histórica, fundamentada em conceitos e elementos históricos.
No entanto, pode ocorrer a indagação: por que estudar história se estou cursando Relações 
Internacionais? Qual a importância do conhecimento histórico na formação do internacionalista, se 
geralmente lidamos com os fatos do mundo contemporâneo? De fato, tais perguntas perpassam nosso 
pensamento toda vez que nos deparamos com o estudo da história e são importantes guias para o 
desenvolvimento deste livro-texto.
Como nos explica o professor José Flávio Sombra Saraiva, o mundo atual é moldado pela evolução 
dos processos internacionais do passado, e, portanto, é importante o domínio do conteúdo histórico 
para uma análise mais acurada e crítica dos fenômenos do presente. Sobre esse assunto, Gonçalves 
(2007, p. 13) argumenta:
Devido à sua complexidade, o conhecimento dos problemas internacionais 
contemporâneos requer a análise histórica. Não basta compreender o 
funcionamento das instituições e a capacidade de codificação conceitual 
de certos aspectos da realidade. Para a produção do conhecimento, é 
indispensável acrescentar a esse trabalho intelectual de interpretação da 
realidade a articulação dos elementos ao longo do tempo.
É importante destacar que a história das relações internacionais não se resume ao simples estudo 
do material produzido pelas chancelarias ou da observação das ações da diplomacia e dos poderes 
políticos instituídos. Para além dessa abordagem, a disciplina procura esclarecer as configurações do 
atual cenário das relações internacionais por meio dos processos sociais que se iniciaram e evoluíram 
em passado recente, moldando o mundo que hoje observamos.
A esses processos históricos, Pierre Renouvin, considerado o fundador da história das relações 
internacionais, chamou de “forças profundas”, isto é, explicações e interpretações da evolução 
da vida internacional que não eram contempladas nos documentos disponíveis, necessitando, 
portanto, de um olhar desde uma perspectiva histórica.
8
Dessa forma, podemos afirmar que a história tem algo a nos dizer sobre a globalização e a integração 
econômica; as crises nacionalistas e a ascensão de governos conservadores em todo o mundo; o 
protecionismo econômico; os desafios ambientais; o peso da cultura nas relações internacionais, entre 
outros desafios com os quais se deparam nós, internacionalistas.
É a partir da perspectiva histórica que nos debruçaremos neste livro-texto para a análise da evolução 
do sistema internacional contemporâneo, com o propósito de conhecer as forças profundas que o 
tornaram tão complexo e desafiador na atualidade.
Bons estudos!
 Observação
Fazemos referência aos renomados autores Pierre Renouvin e José Flávio 
Sombra Saraiva. É importante saber que Pierre Renouvin é um historiador 
francês que organizou e fundamentou essa área de estudo quando lançou, 
em 1953, sua obra História das relações internacionais, tornando-se 
referência mundial.
José Flávio Sombra Saraiva é um especialista brasileiro em história das 
relações internacionais, sendo, portanto, uma referência nessa área de 
estudo no país. Por isso, ao longo do livro-texto, muito nos reportaremos a 
esses autores, entre outros.
INTRODUÇÃO
A configuração do sistema internacional contemporâneo teve início nos tratados firmados ao 
término da chamada Guerra dos Trintas Anos, um conflito que ocorreu no continente europeu na 
primeira metade do século XVII. O conjunto desses tratados ficou conhecido como Paz de Vestfália, como 
referência a uma região alemã onde se localizavam as cidades Osnabrück e Münster, em que foram negociados 
e assinados os acordos. E foi nos tratados que instituíram a Paz de Vestfália e que foram estabelecidos os 
pilares do moderno sistema de Estados que depois se tornaria mundial: soberania, territorialidade e 
não intervenção.
Desde a Paz de Vestfália, datada de 1648, até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram no contexto 
internacional. O sistema de Estados, apesar de manter os princípios vestfalianos, vem alterando sua interpretação 
sobre eles conforme a evolução histórica da sociedade mundial. Abordaremos neste livro-texto o processo 
de formação e evolução do sistema internacional, de forma concisa, para a apoiar os estudos de história das 
relações internacionais.
Para tanto, apoiamo-nos na revisão da bibliografia já produzida por autores renomados indicada 
para o estudo desta disciplina, a qual será apresentada ao final do livro-texto. Não pretendemos esgotar 
completamente a produção bibliográfica, tampouco abordar todos os fatos históricos dos últimos quatro 
9
séculos; primeiro, por conta do limitado tempo e espaço que uma disciplina de 60 horas de carga horária 
impõe ao professor, e segundo porque, aqui, empregou-se a metodologia da relevância histórica.
Nesse sentido, analisaremos o contexto e os tratados que resultaram na Paz de Vestfália; a sociedade 
internacional europeia e o sistema de Estados; o Tratado de Viena e o Concerto Europeu; a expansão 
da sociedade europeia no século XIX; a ascensão alemã e o fim do equilíbrio europeu; a Primeira e a 
Segunda Guerra Mundial; a Guerra Fria em suas múltiplas fases; a globalização e a nova ordem mundial.
Vale destacar que sistema internacional e sociedade internacional, ambos objetos de estudo nesta 
disciplina, são conceitos diferentes. Conforme explica Hedley Bull (2002), um sistema internacional de 
Estados consiste em um contexto em que dois ou mais Estados mantêm contato suficiente entre si a 
ponto de considerar os impactos recíprocos em suas decisões. Porém, para que exista uma sociedade 
internacional, é necessário que os atores compartilhem regras e valores comuns. No decorrer deste 
livro-texto e nos estudos de história das relações internacionais, não nos limitaremos ao sistema 
internacional, mas também analisaremos a evoluçãodos valores, as regras e os interesses que os Estados 
e demais atores internacionais estabeleceram para a existência de uma sociedade internacional.
Não podemos nos esquecer ainda de abordar a própria formação da disciplina História das Relações 
Internacionais a partir das diferentes interpretações propostas por abordagens oriundas especialmente 
da Europa e da América, muito embora existam outras perspectivas de diferentes regiões do globo.
Alguns recursos utilizados ao longo do texto, como “Observação”, “Lembrete” e “Saiba mais”, vão 
conferir um tom mais didático a sua leitura e ajudá-lo a fixar o conteúdo de forma mais efetiva. Além 
disso, ao final de cada unidade, o “Resumo” e os “Exemplos de Aplicação”, resolvidos e comentados, vão 
ajudá-lo a retomar o conteúdo estudado antes de partir para a próxima parte ou na hora da revisão, 
tanto para a resolução dos questionários do ambiente virtual quanto para a avaliação presencial no seu 
polo de apoio presencial.
 Observação
Vestfália não é uma cidade específica, mas sim uma região da 
Alemanha entre os rios Reno e Weser, onde se encontram as cidades 
Dortmund, Münster, Bielefeld e Osnabrück. Atualmente, essa região está 
incluída no estado federal alemão de Renânia do Norte – Vestfália – e 
parte no estado da Baixa Saxônia. Vale destacar que os limites políticos 
e geográficos da Europa na época da Paz de Vestfália não eram os mesmos 
de hoje; portanto, não há correspondência integral da região de Vestfália 
do século XVII com o presente.
11
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Unidade I
1 A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Abordaremos a trajetória da história das relações internacionais enquanto uma subárea de estudos das 
relações internacionais, bem como sua contribuição por meio de diversos ângulos para a análise 
dos fenômenos contemporâneos, com foco, especialmente, nas contribuições europeias e americanas.
A história das relações internacionais cresceu em importância quando ocorreram as transformações 
observadas no cenário mundial entre as décadas de 1980 e 1990. O desmoronamento da União Soviética, 
o término da Guerra Fria e a emergência da globalização do capitalismo liberal foram fatos que levantaram 
questionamentos e crises sobre interpretações científicas na área das relações internacionais capazes de 
explicar o mundo recente (SARAIVA, 2007b).
Foi nesse contexto que os historiadores apontaram a necessidade de resgatar os estudos de história 
nas relações internacionais, despertando a atenção para a história das relações internacionais, que, 
durante as décadas anteriores, havia ficado em segundo plano. Os debates levantados nesse momento 
apontavam que, sem as contribuições da história, os fenômenos do presente eram incompreensíveis 
(GONÇALVES, 2007).
Também foi de grande contribuição para a mudança de perspectiva sobre a história a obra de 
Jean-Baptiste Duroselle, Todo Império perecerá: uma visão teórica das relações internacionais, no início 
da década de 1980, que se diferenciou da visão dos teóricos tradicionais das relações internacionais à 
época ao propor uma análise fundamentada na história da crise no Império Soviético num momento 
que ninguém falava ou sequer imaginava os fatos que estavam por vir (SARAIVA, 2007b).
No entanto, quando abordamos a história das relações internacionais, é importante lembrar que 
sua origem remete à história diplomática, área de estudos que se desenvolveu ao longo do século XIX. 
Conforme explica Gonçalves (2007), a história diplomática é a história das relações do Estado com outros 
povos, contada com base nos documentos oficiais do Estado, isto é, notas diplomáticas, memorandos, 
correspondências, tratados, convenções etc.
Nessa perspectiva, a contribuição da história nas relações internacionais se resumia na descrição das 
ações conduzidas pelos agentes oficias do Estado; em sua maioria, os diplomatas. Não havia nesse ramo 
de estudos a preocupação em problematizar o tema em análise, mas única e exclusivamente descrever 
os fatos relativos observados nos materiais das chancelarias.
12
Unidade I
 Observação
Empregamos a palavra “Estado” para nos referir a uma comunidade 
organizada politicamente em uma estrutura governamental autônoma e 
espacialmente determinada em um território. No senso comum, utiliza-se 
a palavra “país” como sinônimo de Estado, muito embora “país” se refira 
somente aos aspectos geográficos do Estado.
Foi após a Revolução Francesa, em 1789, que a história diplomática ganhou força e se tornou uma 
modalidade de estudos de história. O grande volume de material diplomático produzido a partir do 
Congresso de Viena em 1815 e a expansão do imperialismo europeu no mundo todo muito contribuíram 
para esse quadro. Os eventos da Primeira Guerra Mundial e a crise que a ela se seguiu até desembocar 
na Segunda Guerra Mundial aumentaram ainda mais o interesse nos estudos de história diplomática, 
que, nesse momento, chegou a seu apogeu. Porém, o desmoronamento da hegemonia europeia sobre o 
mundo nas décadas da Guerra Fria apontou a insuficiência dessa modalidade de história para explicar 
as grandes mudanças pelas quais o mundo passava.
 Observação
O termo “diplomacia” deriva do verbo grego diploun, cujo significado 
é dobrar. Daí o significado de “diploma”: documento oficial gravado em 
uma placa dupla de bronze. Diploma, portanto, na Roma Antiga, referia-se 
aos documentos oficiais produzidos pelo governo. Mais tarde, com o emprego 
de pessoas para arquivar e organizar tais documentos, o termo passou a 
designar os funcionários do Estado habilitados a informar às autoridades 
tudo aquilo considerado necessário a respeito dos outros povos. A partir da 
mesma origem, consolidou-se o significado de “diplomacia” como o modo 
de conduzir os assuntos do Estado com outros povos essencialmente por 
meios pacíficos (GONÇALVES, 2007).
Nesse contexto, coube a Pierre Renouvin o mérito de proceder à crítica da história diplomática, de 
forma a superar as produções historiográficas nos marcos das chancelarias e propor uma interpretação 
com base em outras perspectivas, as chamadas forças profundas, que impulsionavam as ações daqueles 
que conduziam as relações entre os Estados. A esse respeito, esclarece Gonçalves (2007, p. 22):
[...] Embora a História das Relações Internacionais não negligencie a 
importância da iniciativa dos Estados, requer a interpretação das influências 
geográficas, econômicas, culturais e ideológicas que condicionam a ação 
dos Estados em suas relações externas. Na expressão consagrada por Pierre 
Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle (1967), estas são as “forças profundas” 
que formam o quadro no interior do qual agem os “homens de Estado”. Isto 
13
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
é, são essas forças profundas que dão sentido às decisões tomadas pelos 
representantes oficiais do Estado nas relações que mantêm com as demais 
nações e organizações internacionais.
É, portanto, ao estudo das mais diversas influências do momento histórico sobre as decisões e ações 
das pessoas que estão à frente da política dos Estados que se dedica a história das relações internacionais. 
Essas influências podem ser de natureza diversificada, tais como ideológicas, econômicas, geográficas, 
sociais, culturais etc., e não podem ser analisadas somente a partir dos documentos produzidos 
nas chancelarias.
Por isso, a história das relações internacionais recorre às mais diversificadas fontes de pesquisa, 
tanto escritas, como jornais, cartas, panfletos, cartazes, livros, biografias; quanto orais, a fim de realizar 
a interpretação dos fatos em análise. Assim, é possível ter um panorama mais amplo para compreender 
os acontecimentos do presente nas relações internacionais.
É importante destacar que essa nova abordagem histórica que levou à superação da história 
diplomática não se restringiu aos estudiosos franceses já citados. Foi considerável a contribuição 
de outros autores europeus, como os ingleses, além de autores dos países americanos,sobretudo 
norte-americanos. São a essas produções que nos dedicamos, considerando que é sempre positivo 
diversificar nossas fontes de leitura e conhecer o máximo da bibliografia produzida pelo estudo em foco.
1.1 Estudos europeus
Nos estudos europeus de história das relações internacionais, destacam-se várias correntes, com 
proeminência das francesas, uma vez que, com o lançamento da obra de Pierre Renouvin, inaugurou-se 
toda uma tradição francesa na subárea. Aos oito volumes produzidos por Renouvin no início da década 
de 1950, seguiram-se obras de outros autores, como François Ganshof, Gaston Zeller, André Fugier 
e René Girault, que definitivamente firmaram a produção da escola francesa sobre a história das 
relações internacionais.
Pierre Renouvin, nascido em Paris em 1983, foi professor na Sorbonne entre 1933 e 1964. Tinha 
vivenciado e lutado na Primeira Guerra Mundial, em que perdeu o braço esquerdo e o uso da mão 
direita. Sobrevivente do conflito, Renouvin pertencia a uma geração de europeus que havia não apenas 
visto os horrores de duas guerras, mas também vivenciado a perda da importância relativa da Europa 
nas relações internacionais (SARAIVA, 2007b).
Como professor universitário, Renouvin estava insatisfeito com as interpretações propostas à época 
pela história diplomática para as causas das guerras, da paz e de todos os fatos que tumultuaram 
a sociedade europeia na primeira metade do século XX. A proposta da obra de Renouvin e de seus 
colegas franceses seria a construção de uma explicação que considerasse os variados aspectos da vida 
internacional, como as forças materiais e morais que influenciavam o mundo do seu tempo com os 
movimentos nacionais e a crise econômica.
14
Unidade I
É nesse sentido que Renouvin propõe o conceito de “forças profundas”, que se refere ao conjunto 
de causalidades sobre as quais atuavam as pessoas responsáveis pela política externa dos Estados. Tais 
causalidades se relacionam aos processos econômicos e materiais, às ideologias correntes, aos elementos 
culturais, enfim, aos diversos fatores presentes na vida social das comunidades humanas. Conforme 
explica Canesin (2008, p. 131):
Estas “forças profundas” são de diversos tipos e Renouvin as enumera na 
primeira parte da obra “Introdução à História das Relações Internacionais” 
(1967) como: geográficas; demográficas; econômicas; da mentalidade coletiva; 
e correntes sentimentais. Sendo a primeira composta por atributos de posição 
e espaço que orientam a alocação dos agregados humanos. No segundo 
caso, discorre-se sobre o papel dos surtos demográficos e movimentos 
migratórios como constrangimentos do ambiente internacional. Quanto às 
forças econômicas, estas são divididas entre materiais e financeiras e entre 
conflitivas e cooperativas. No tocante à mentalidade coletiva, destaca-se o 
papel constitutivo de sentimento nacional. E, finalmente, dentre as correntes 
sentimentais, Renouvin dá ênfase aos movimentos nacionalistas e aos pacifistas.
Por trás de uma decisão de ministros ou chefes de Estado registrada em documentos oficiais, existe 
todo um processo de decisão em que tais fatores, de forma consciente ou não, são considerados. Daí a 
importância da história nas relações internacionais e da superação dos limites impostos pela história 
diplomática (SARAIVA, 2007b).
Jean-Baptiste Duroselle foi um dos mais importantes discípulos de Renouvin, deu continuidade ao 
esforço da disciplina, com novas publicações conjuntas, e ainda foi responsável pela difusão da escola 
francesa para outras partes do continente europeu e para o mundo. Sua maior contribuição veio com a 
obra, já mencionada, Todo Império perecerá, em que Duroselle enxergou a derrocada da União Soviética 
ainda no início dos anos de 1980. Dessa forma, Duroselle consolidou a escola francesa como a tradição 
mais longa da história das relações internacionais.
René Girault foi o terceiro expoente da escola francesa, que, junto com seus colegas Jacques Thobie 
e Robert Frank, produziu três volumes abordando a história das relações internacionais europeias entre 
o século XIX e XX. No presente, a escola francesa continua produzindo obras que analisam a evolução 
das relações internacionais de 1945 aos nossos dias (SARAIVA, 2007b).
Outra tradição relevante quando analisamos as produções europeias em história das relações 
internacionais é a contribuição dada pela escola britânica; porém, no Reino Unido, ficou mais conhecida 
como história internacional e teve como ponto de partida a chegada de Donald Watt na Escola de 
Londres de Economia e Política em 1954, responsável pela formação de talentos dedicados ao estudo. 
A Watt reuniram-se, entre 1959 e 1984, os historiadores e teóricos Herbert Butterfield, Martin Wigth, 
Hedley Bull, Adam Watson, entre outros (SARAIVA, 2007b).
Entre os temas abordados pela tradição britânica, destacam-se o estudo do Estado nas relações 
internacionais, a questão da ordem internacional, as biografias de personalidades consagradas na 
15
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
condução da política exterior europeia, as causas das guerras mundiais e seus impactos na sociedade 
e, ainda, as relações entre Reino Unido e Estados Unidos ao longo do século XX. Mais recentemente, na 
década de 1980, foi também tema de análise da corrente britânica o processo de integração europeia, 
com uma perspectiva mais crítica, apontando as fragilidades e os desafios da atual União Europeia.
No conjunto da produção acadêmica vinculada à escola britânica, é importante dar atenção especial 
à obra do diplomata e professor Adam Watson, que publicou, em 1981, Diplomacy: the dialogue between 
States (Diplomacia: o diálogo entre os Estados) e, em 1984, The expansion of international society 
(A expansão da sociedade internacional), em coautoria com Hedley Bull. Nessas obras, Watson e Bull 
desenvolvem uma análise de base histórica para a evolução do sistema internacional e da sociedade 
internacional, observando sistema e sociedade como conceitos diferenciados. Conforme esclarece 
Saraiva (2007b, p. 20):
[...] Watson discute a distinção entre um “sistema de Estados” e uma 
“sociedade internacional”. O primeiro, anteriormente discutido por Hedley 
Bull no seu The anarchycal society (A sociedade anárquica), foca a rede de 
pressões que levam Estados a considerarem outros Estados em seus cálculos e 
desígnios. A sociedade internacional vincula o sistema ao conjunto de regras 
comuns, instituições, padrões de conduta e valores que são compartilhados 
e acordados por Estados.
A tradição britânica, portanto, teve o mérito de aprofundar os estudos de história das relações 
internacionais a partir de um sistema de conceitos que possibilitam compreender as dinâmicas das 
relações internacionais para além de um mero sistema de ordenamento entre Estados. A percepção 
da existência de valores e padrões de conduta relativos à existência de uma sociedade internacional, 
inicialmente europeia e depois mundial, seria o grande diferencial proposto e abordado historicamente 
pela escola britânica.
Demais estudos de história das relações internacionais produzidos em âmbito europeu, menos 
volumosos, mas não menos importantes, foram desenvolvidos na Itália e na Suíça a partir da difusão da 
produção da escola francesa e britânica.
Na Itália, o nome mais proeminente na disciplina foi Mario Toscano, com estudos sobre a política 
exterior italiana ainda nos anos de 1950 e 1960. Atualmente, destacam-se os estudos de Ennio di Nolfo, 
da Universidade de Florença, Brunello Vigezzi, em Milão, e Fulvio D’Amoja. Na Suíça, destacam-se os 
estudos elaborados por Antoine Fleury, Daniel Bourgeois, Yves Collart, Marco Durrer, Verdina Grossi, 
entre outros, que abordam com consistência histórica os temas mais contemporâneos das relações 
internacionais (SARAIVA, 2007b).
Os estudos produzidos na Itália e Suíça apontam a consolidação de uma tradição histórica das 
relações internacionais nesses países. Entretanto, são ainda consideráveis outrasproduções conduzidas em 
âmbito europeu, ainda que em menor escala. A Bélgica, por exemplo, por meio de análises produzidas por 
Michel Dumoulin, J. Willequet e J. Stengers, entre outros, enfatizou a importância dos estudos históricos 
no contexto das relações internacionais belgas sobre a história diplomática.
16
Unidade I
Já na Alemanha, apesar da existência de trabalhos pontuais como o de Leopold von Ranke, não 
houve o desenvolvimento de uma escola de história das relações internacionais, como observado nos 
demais países europeus analisados. Observa-se, contudo, uma potencial expectativa de desenvolvimento 
de estudos alemães na disciplina a partir do esforço de algumas universidades do país, como a 
Universidade de Saarbrücken, realizados nas últimas décadas.
Por fim, cabe mencionar que existem outros estudos pontuais em história das relações internacionais 
na Espanha, em Portugal, na Suécia e na Rússia, com enfoques próprios. Contudo, a produção e os 
estudos nesses países ainda são considerados periféricos e insuficientes para conduzir a uma tradição 
como aquelas observadas na França, no Reino Unido, na Itália e na Suíça (SARAIVA, 2007b).
 Saiba mais
Neste tópico, mencionamos constantemente o autor referência 
na disciplina José Flávio Sombra Saraiva. Sugerimos, para maior 
aprofundamento em seus estudos, que leia o capítulo 1 da obra a seguir:
SARAIVA, J. F. S. História das relações internacionais: o objeto de estudo 
e a evolução do conhecimento. In: SARAIVA, J. F. S. (Org.). História das 
relações internacionais contemporâneas: da sociedade internacional do 
século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007b.
1.2 Estudos americanos
Os estudos de história das relações internacionais na América concentram-se nos Estados Unidos 
e América do Norte e também no cone sul do continente, abarcando principalmente Argentina e 
Brasil. Em nosso país, Gonçalves (2007) destaca a contribuição de José Honório Rodrigues, historiador 
brasileiro que viveu entre 1913 e 1987, como decisiva para a formação de uma corrente de estudo 
específica no assunto.
Nos Estados Unidos, a predominância do desenvolvimento de uma teoria de relações internacionais 
a partir da área da ciência política dificultou a formação de uma escola de história das relações 
internacionais norte-americana. A esse respeito, Saraiva (2007b, p. 30) afirma:
Não há, assim, uma escola norte-americana de história das relações 
internacionais no sentido da francesa ou da britânica. O que existe é uma 
abordagem histórica das relações internacionais vinculada aos problemas 
postulados pelos cientistas políticos. Ao mesmo tempo, registra-se uma 
série de teorias e abordagens norte-americanas que seguem os grandes 
paradigmas de interpretação histórica dominantes em determinados 
momentos da vida internacional daquele país.
17
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Dizer que não há uma escola norte-americana de história das relações internacionais, mas apenas 
uma abordagem histórica em determinadas questões vivenciadas pelos Estados Unidos, significa 
que não houve entre os intelectuais norte-americanos preocupação em trabalhar especificamente a 
consolidação desse estudo naquele país.
No âmbito da história diplomática, é importante mencionar a obra de Samuel Bemis A diplomatic 
history of Unites States (Uma história diplomática dos Estados Unidos, em tradução livre), publicada 
em 1936. Em seu livro, Bemis analisou a história diplomática dos Estados Unidos por meio do material 
produzido por instituições norte-americanas e discorreu sobre o nacionalismo e conservadorismo dos 
estudos sociais desenvolvidos nos Estados Unidos daquele período (SARAIVA, 2007b).
Posteriormente, Thomas Baily e Charles Beard foram os responsáveis por renovarem os estudos em 
torno da história diplomática dos Estados Unidos. O primeiro discutiu a formulação da política exterior 
norte-americana por meio da opinião pública e de outros fatores internos, de forma a revisar a obra de 
Bemis. Por outro lado, Beard analisou concepções divergentes da política exterior dos Estados Unidos, 
fundamentando-as na industrialização versus a agricultura, ou seja, por meio de elementos econômicos.
Entretanto, nos anos que se seguiram à Guerra Fria, o enfoque dos estudos norte-americanos em 
relações internacionais não foi aprofundado. A preferência dos intelectuais norte-americanos recaiu sobre 
a preocupação com o expansionismo da União Soviética e a difusão do comunismo pelo mundo. Dessa 
forma, os Estados Unidos foram o berço de nascimento da teoria realista das relações internacionais, uma 
das mais aclamadas nos estudos da área.
 Observação
A teoria realista das relações internacionais, de maneira simplificada, é 
um instrumento de análise da realidade internacional em que predominam 
a centralidade e autonomia dos Estados, a escolha racional do chefe de 
Estado, o interesse nacional e a busca pelo poder, de forma a enfrentar os 
desafios de um sistema internacional em que prevalecem a desconfiança e 
a ausência de um governo central acima dos Estados.
Tendo como foco a participação decisiva dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, seguida 
por sua posição privilegiada nos anos da Guerra Fria, autores como Walter Lippmann, Hans Morgenthau 
e George Kennan publicaram trabalhos que consagraram o realismo como teoria predominante na 
análise das relações internacionais. Entre esses trabalhos, destaca-se a obra de Morgenthau, A política 
entre as nações, publicada em 1948, no início, portanto, da Guerra Fria. A obra tornou-se um clássico da 
área, sendo considerada o fundamento da teoria realista.
Mais recentemente houve algumas tentativas de retomar os estudos de história das relações 
internacionais nos Estados Unidos, porém essas produções seguem sendo irregulares. Assim, não 
podemos afirmar a existência de uma escola norte-americana na disciplina e nos limitamos apenas a 
18
Unidade I
dizer que existe somente uma aproximação entre historiadores e cientistas políticos em torno do tema 
recorrente da inserção internacional dos Estados Unidos (SARAIVA, 2007b).
Os estudos realizados a partir dos Estados Unidos disseminaram-se na América do Norte, influenciando 
as produções acadêmicas do México e Canadá. Por outro lado, as produções elaboradas a partir do cone 
sul americano, apesar da influência norte-americana, adotam uma perspectiva mais independente e, no 
caso do Brasil, aproximam-se mais da tradição francesa. Ademais, o tema do desenvolvimento é algo 
que perpassa os trabalhos de acadêmicos de ambos os países.
Na opinião de Saraiva (2007b, p. 35), são os países da América do Sul que possuem abordagens 
sistemáticas e consideráveis da história das relações internacionais:
O reconhecimento de ambos os países como protagonistas da moderna 
análise histórica culminou, na reunião plenária da Comissão de História das 
Relações Internacionais, em Montreal, em setembro de 1995, na aprovação 
da inclusão de um segundo nome latino-americano no seu Bureau. Ladeando 
Amado Luiz Cervo, o historiador argentino Mario Rapoport foi conduzido à 
condição de 12º membro do órgão.
Na Argentina, os estudos realizados em torno da disciplina têm como tema a inserção internacional 
argentina frente aos desafios contemporâneos. Também se destacam os estudos sobre a história da 
política exterior da Argentina, entre os quais cabe mencionar as obras de Guillermo Figari, Passado, 
presente e futuro da política exterior argentina; e José Paradiso, Debates e trajetórias da política exterior 
argentina, ambas publicadas em 1993. Além disso, na Argentina, foi criada, no início da década de 
1990, a Associação Argentina de História das Relações Internacionais, inicialmente presidida por Marco 
Rapoport (SARAIVA, 2007b).
No Brasil, o esforço no sentido de uma produção consistente nos marcos da história das relações 
internacionais coube a José Honório Rodrigues (1913-1987). Com o lançamento do livro Brasil e África: 
outro horizonte, em 1961, Rodrigues inauguroua disciplina História das Relações Internacionais no 
Brasil; até o momento, só havia História Diplomática. A importância dessa obra é assim resumida por 
Gonçalves (2007, p. 37):
A ruptura que a obra de Rodrigues promoveu, superando a História Diplomática 
pela inauguração da moderna História das Relações Internacionais, deveu-se 
a essa transparência política e, sobretudo, à maneira como tratou o 
passado das relações do Brasil com a África. O autor não visita esse passado 
para descobrir “tudo” o que compunha as relações entre as partes. Nem 
tampouco sua pesquisa ficou restrita aos documentos oficiais produzidos 
pela chancelaria. Sua atitude metodológica é outra: interpela o passado. 
Isto é, procura demonstrar aquilo que de alguma forma já se sabia, mas era 
negado pelo conhecimento histórico estabelecido.
19
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Em torno da nova perspectiva promovida por Rodrigues e aprofundada pelo contato com a produção 
francesa e britânica, delineou-se uma tradição brasileira de estudos históricos das relações internacionais 
a partir da Universidade de Brasília, que inaugurou o primeiro programa de pós-graduação da América 
do Sul na disciplina, em 1976, dentro do curso de História. Com base no programa, formou-se um grupo 
de estudiosos de história das relações internacionais, que reúne Amado Luiz Cervo, Sérgio Bath, Paulo 
Roberto de Almeida, Moniz Bandeira, Corcino Medeiro dos Santos, Clodoaldo Bueno, José Flávio Sombra 
Saraiva, entre outros (SARAIVA, 2007b).
Entre os estudos produzidos pelo chamado grupo de Brasília, destaca-se a preocupação com a 
inserção internacional do Brasil desde sua independência. A obra de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, 
História da política exterior do Brasil, lançada em 1992, analisa, com riqueza de detalhes e fontes, o 
percurso do Brasil nos desafios de inserção internacional desde o Império até os anos mais recentes da 
República. Também é importante mencionar a obra coletiva O desafio internacional: a política exterior 
do Brasil de 1930 aos nossos dias, publicada em 1994 (SARAIVA, 2007b).
Há ainda os estudos conduzidos para o entendimento de parcerias essenciais na compreensão das 
relações internacionais do Brasil. Ainda conforme Saraiva (2007b), merecem destaque os estudos de 
Moniz Bandeira sobre as relações do Brasil com os Estados Unidos, a Alemanha, a Argentina e a América 
Latina; de Amado Luiz Cervo, com a Itália; de José Flávio Sombra Saraiva, com a África; e de Francisco 
M. Doratioto, com o Paraguai.
 Saiba mais
Conheça a obra de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno. É de suma 
importância para o estudante ler esse clássico para maior aprofundamento 
nos estudos da história das relações internacionais do Brasil.
CERVO, A. L.; BUENO, C. História da política exterior do Brasil. 4. ed. 
Brasília: UnB, 1992.
Ainda é cedo para afirmarmos a existência de uma escola de história das relações internacionais 
brasileira tal como aquelas existentes na França e no Reino Unido, mas podemos dizer, sem dúvida, que 
há uma sólida tradição no Brasil a partir do grupo que se formou em Brasília. Entretanto, os esforços 
conduzidos pelo grupo de Brasília, ainda que consistentes e de longa data, seguem praticamente isolados 
no país, visto que existem poucos centros de pesquisa fora do círculo brasiliense.
Outros estudos vêm sendo desenvolvidos fora do eixo europeu e americano, muito embora ainda 
sejam rarefeitos. Na Finlândia e na Rússia, há grupos de estudos começando a desenvolver pesquisa em 
história das relações internacionais. Na Ásia e Oceania, Israel, a Universidade de Tel Aviv reúne alguns 
estudiosos. Japão e Austrália estão desenvolvendo perspectivas próprias por meio da Universidade de 
Sophia, da Organização das Nações Unidas (ONU), em Tóquio, e da Universidade de Sidney. Já na Índia, há 
um grupo de estudiosos na Universidade de Nova Déli inspirados na tradição britânica (SARAIVA, 2007b).
20
Unidade I
Por fim, na África, há estudos isolados produzidos nas cidades de Dakar, Pretória, Lagos e Cairo, cujo 
cerne das análises são a questão da dependência e a inserção internacional dos países do continente 
africano. Contudo, todos esses locais, com exceção da América e da Europa, ainda não se afirmaram 
como tradição nos estudos de história das relações internacionais, mas estão igualmente contribuindo 
para sua ampliação e difusão em todo o mundo.
2 A CONSTRUÇÃO DA “SOCIEDADE INTERNACIONAL EUROPEIA”: DE VESTFÁLIA 
A VIENA
A Europa, no início do século XVII (1601-1700), passava por um processo conflituoso entre o esforço 
para superação de costumes e instituições medievais e a ascensão de novos valores que posteriormente 
dariam lugar à sociedade internacional europeia consolidada no Congresso de Viena (1815), já no século 
XIX. Esse processo, contudo, seria lento e marcado por guerras de escala continental, conflitos religiosos, 
ascensão e quedas de potências e dinastias, consolidação do Estado-nacional, revolução cultural iniciada 
no Renascimento, Contrarreforma e tantos outros vaivéns observados durante dois séculos.
O século XVII, conforme aponta a historiografia europeia, teve início com a execução na Fogueira, 
em Roma, de Giordano Bruno, filósofo que anunciou a existência de universo infinito, e a expulsão do 
astrônomo Kepler pela Universidade de Graz. Em meio ao clima de intolerância, perseguição a cientistas, 
apreensão de livros, pestes, crise econômica e monetária, ocorreu a Guerra dos Trintas Anos (1618-1648), 
que intensificou o clima de catástrofe e desespero, além de destruição e mortandade generalizada. 
A guerra não foi apenas um conflito bélico, mas uma crise geral que marcou o início do período conhecido 
como uma época de estagnação e decadência (CARNEIRO, 2011).
A Guerra dos Trinta Anos teve início por questões religiosas, com a intensificação da rivalidade 
entre o imperador católico do Sacro Império Romano-Germânico e as cidades-Estados que haviam 
aderido ao protestantismo no norte do território da atual Alemanha, que se opunham ao seu controle 
(JESUS, 2010). Porém, a justificativa religiosa do conflito, que opunha rebeldes protestantes e defensores 
católicos da autoridade religiosa e política do imperador, tornou-se mais difusa durante a guerra, com 
a entrada da França, país católico, mas que apoiava os protestantes, uma vez que temia a expansão do 
domínio da família imperial Habsburgo na Europa.
 Saiba mais
Para conhecer com profundidade a política exterior francesa nesse 
período, leia o livro Testamento político escrito pelo primeiro-ministro 
francês à época da Guerra dos Trinta Anos, o Cardeal de Richelieu, 
considerado um dos maiores estadistas da França:
CARDEAL DUQUE DE RICHELIEU. Testamento político. Abel, [s.d.]. 
Disponível em: https://www.portalabel.org.br/images/pdfs/o-testamento-
politico.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020.
21
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Ao fim da guerra, surgiu não apenas um novo equilíbrio de poder, mas também uma nova regra do 
jogo das relações internacionais fundamentada na Paz de Vestfália, que encerra a Guerra dos Trinta Anos. 
Ao estabelecer o Estado como entidade política legítima, o conceito principal de soberania consolidou-se 
nas liberdades dadas às cidades-Estados alemãs em relação à interferência imperial.
Por isso, a Guerra dos Trinta Anos e a assinatura dos Tratados de Vestfália são consideradas o 
marco da construção da sociedade internacional europeia, uma vez que os interesses dos Estados se 
sobrepõem aos princípios religiosos medievais da soberania universal do papa, chefe da Igreja católica 
(CARNEIRO, 2011).
Além do princípio da soberania, foi instituído também o princípio da não intervenção. Embora 
o Sacro Império Romano-Germânico tenha continuado a existir até 1806 e os príncipes das 
cidades-Estados e principados alemães pudessem fazer alianças fora do Império, de forma a exercerem 
poder independente, nem os príncipes nem o imperador intervieram para resolver problemas no território 
de outro príncipe.Ademais, foram oferecidas garantias a novas unidades quanto à adesão ao sistema, desde que 
tivessem atributos como um governo viável, o controle do próprio território e a habilidade para fazer e 
honrar tratados. Com a expansão colonial no século XIX e a descolonização afro-asiática do século XX, 
o sistema de Vestfália adquiriu uma abrangência maior, chegando também a todas as regiões do 
planeta (JESUS, 2010).
2.1 A Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestfália
O cenário que desencadeou a Guerra dos Trinta Anos circunscreve os conflitos religiosos entre 
católicos e protestantes nos territórios da Europa central, hoje território da atual Alemanha, Áustria, 
República Tcheca e Hungria, mas à época integravam o Sacro Império Romano-Germânico, uma 
estrutura feudal com fronteiras pouco definidas, na qual se sobrepunham suseranias e soberanias em 
múltiplas entidades políticas.
O Sacro Império Romano-Germânico foi formado em 962, com a coroação do imperador Otto pelo 
papa João XII, e durou até 1806, quando foi dissolvido pela invasão de Napoleão. Sua criação pretendia 
reivindicar a sucessão de Carlos Magno e do antigo Império Romano do Ocidente, herança direta da 
civilização romana e cristã, fundamentada na Igreja Católica Romana. O Sacro Império, portanto, 
representava a unidade temporal dos católicos, enquanto o papado representava sua unidade espiritual 
(CARNEIRO, 2011).
Na estrutura política do Império, a sucessão do imperador não era hereditária, e sim eletiva. 
Abrangendo mais de mil unidades políticas divididas em cidades-Estados, principados, ducados, 
bispados e territórios eclesiásticos, o Sacro Império Romano-Germânico abrangia uma vasta região da 
Europa central, porém apenas sete príncipes eram eleitores do imperador: três desses príncipes eram 
eclesiásticos, os arcebispos de Colônia, Trèves e Mogúncia, e quatro eram eleitores leigos, o Rei da 
Boêmia, o duque da Saxônia, o margrave (equivalente ao título de marquês, na Europa ocidental) 
de Brandemburgo e o conde do Palatinado.
22
Unidade I
Figura 1 – Mapa do Sacro Império Romano-Germânico em 962
Esse frágil equilíbrio político do Império começou a se deteriorar após a Reforma promovida por 
Martinho Lutero em 1519. Lutero rebelou-se contra o imperador e o papa e conseguiu o apoio do 
poderoso duque da Saxônia, onde a Reforma teve profundo apelo. Seguiu-se uma série de conflitos 
entre católicos e os seguidores da religião reformada de Lutero, os quais passaram a ser chamados de 
“protestantes”, que só teve uma trégua com a assinatura de um tratado entre o imperador do Sacro 
Império, Carlos V, e os protestantes reunidos na Liga de Esmalcalda em 25 de setembro de 1555, na 
cidade de Augsburgo.
23
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Saiba mais
Assista ao filme:
LUTERO. Direção: Eric Till. Alemanha: Eikon Film, 2003. 121 min.
Com a Paz de Augsburgo, seguiu-se um período de tolerância religiosa. Pelo tratado, ficou estabelecido 
que cada príncipe ou governante teria liberdade de escolher sua religião, que, por consequência, 
estenderia-se aos seus súditos, porém permitindo a emigração dos descontentes. Entretanto, com a 
chegada do imperador Rodolfo II ao trono do Império em 1575, com sólida formação católica, acirraram-se 
novamente as rivalidades religiosas, que se agravaram com impasse de sucessão no Reino da Boêmia.
Os protestantes, reunidos na União Evangélica, defendiam que a coroa da Boêmia deveria ser entregue 
a Frederico V, eleitor do Palatinado e defensor da religião protestante, enquanto os católicos apoiaram a 
reivindicação de Fernando II, da casa dos Habsburgos, futuro imperador e católico fervoroso. Educado na 
Igreja católica e herdeiro da aliança entre os Habsburgos e o papado, Fernando II reprimiu violentamente 
os protestantes, destruiu templos e impôs o catolicismo como única religião a ser praticada do reino.
Revoltados com a atitude de Fernando II, os protestantes acusaram-no de romper com a tolerância 
religiosa estabelecida pela Paz de Augsburgo e reagiram prontamente no episódio que ficou conhecido 
como Defenestração de Praga: invadiram o palácio real e atiraram pela janela do segundo andar dois 
ministros e um secretário do rei. O episódio aconteceu em 23 de maio de 1618, data considerada como 
o início da longa Guerra dos Trintas Anos.
Figura 2 – Defenestração de Praga
24
Unidade I
A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito que opôs não apenas regiões do Sacro Império 
Romano-Germânico, que queriam autonomia diante do poder imperial, e outras que sustentavam o 
Império e o papado; também envolveu diretamente os apoiadores católicos do imperador e da dinastia 
de Habsburgo, Espanha e Polônia contra uma coligação protestante composta pelos príncipes alemães, 
Países Baixos, Dinamarca, Suécia e a França católica. Dessa forma, conforme explica Carneiro (2011), o 
confronto tomou proporções internacionais:
O que era uma guerra civil do Império Germânico desdobrou-se no 
mais agudo conflito da Europa moderna devido à conjunção de diversas 
disputas: rivalidade franco-espanhola, luta holandesa contra a Espanha pela 
independência nacional, Reforma e Contrarreforma, que de forma paralela e 
depois conjugada se somaram para uma deflagração generalizada.
Para fins didáticos, esse longo conflito pode ser dividido em cinco fases: a primeira é a fase da Boêmia, 
de 1618 a 1621; a segunda é a fase do Palatinado; de 1621 a 1624; a terceira é a fase dinamarquesa, de 
1625 a 1630; a quarta é a fase sueca, de 1630 a 1634; e a quinta e última fase é a fase francesa, 
de 1634 a 1648. Em cada uma dessas fases, cada país enfrentou a coalização do Império com a Espanha 
e os Estados germânicos católicos (CARNEIRO, 2011).
Na fase boêmia, o imperador Fernando II, com apoio dos espanhóis, derrotou os protestantes na 
Batalha da Montanha Branca, e Frederico V, eleitor do Palatinado, foge para Haia, onde se refugia com 
sua corte. Na fase do Palatinado, ocorreu a ocupação dessa região pelas forças imperiais, e Fernando II 
acabou com todos os direitos antes gozados pelos protestantes. O Império saiu de tal modo fortalecido 
que amedrontou outros países protestantes europeus.
Assim, na terceira fase, a Dinamarca do rei Christian IV envolveu-se diretamente no conflito em apoio 
à Boêmia e ao Palatinado, marcando o início da dimensão internacional da guerra. O rei dinamarquês, 
no entanto, também é derrotado pela coligação do Império com a Espanha, o que fortaleceu ainda mais 
Fernando II e resultou na promulgação do Edito da Restituição, documento que anulava todos os títulos 
protestantes sobre as propriedades católicas expropriadas desde a Paz de Augsburgo.
A quarta fase da guerra é marcada pela entrada da Suécia, sob o reinado de Gustavo Adolfo, que temia 
o crescimento do poderio do Império. Apesar de algumas vitórias iniciais e de conquistas territoriais que 
se estenderam até a Baviera, o rei Gustavo Adolfo foi morto na Batalha de Lützen em 1632, e os suecos 
foram finalmente derrotados em 1634, na Batalha de Nördlingen. Em 1635, a ocupação sueca da Baviera 
havia acabado e, no mesmo ano, foi assinada a Paz de Praga, que efetivamente encerrou a participação 
dos príncipes protestantes na Guerra dos Trinta Anos, deixando a Suécia sozinha em território inimigo.
25
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 3 – A morte do Rei Gustavo Adolfo da Suécia em 1632
Na quinta e última fase, a França declarou guerra aos Habsburgos em 1935. A Paz de Praga alarmou 
sobremaneira os franceses, que viam o poderio imperial crescendo enquanto estavam cercados por duas 
monarquias dos Habsburgos, no Sacro Império Romano-Germânico e na Espanha. Portanto, a entrada da 
França na Guerra dos Trinta Anos, país católico em apoio aos protestantes, nada tinha a ver com questões 
religiosas, mas sim com o equilíbrio de poder europeu. Conforme esclarece Carneiro (2011, p. 180):
A intervenção de uma nação católica no lado protestante da guerra foi uma 
hábil decisão geopolítica da diplomacia francesa de Luís XIII,por meio de seu 
chanceler, Richelieu, e após 1643, Luís XIV e Mazarino. A França busca, por 
meio de negociações separadas com a Suécia, a Bavária e os Países Baixos, 
obter seus territórios ambicionados, especialmente a Alsácia, e conseguir a 
derrota da Espanha.
O cardeal de Richelieu orientava a política externa francesa de modo a torná-la uma grande potência 
na Europa em oposição aos domínios da casa dos Habsburgos, e, por isso, a França já estava apoiando 
indiretamente os esforços de suecos e dinamarqueses na guerra. A intervenção francesa foi decisiva 
para determinar a vitória dos protestantes e encerrar o conflito que se estendeu até 1648, quando os 
suecos conseguem tomar o Castelo de Praga na última batalha da Guerra dos Trinta Anos. Nesse mesmo 
ano, a Espanha, esgotada e passando por rebeliões internas, aceitou a derrota.
Os acordos que possibilitaram o término da guerra foram sendo negociados ao longo dos últimos três 
anos de conflito. As cidades Münster, de precedência católica, e Osnabrück, de precedência protestante, 
são declaradas zonas neutras para sediar as conferências de paz. As negociações demonstram-se um 
grande desafio para as potências europeias, visto que era necessária toda uma logística para abrigar, 
alimentar e manter o correio para todos os negociadores nas duas cidades das mais de cem unidades 
políticas envolvidas na Guerra dos Trinta Anos (ROMANO, 2012).
26
Unidade I
O resultado dessas conferências ficou conhecido como a Paz de Vestfália e reúne um conjunto de 
11 tratados. Por meio desses acordos, foi proclamada uma anistia geral, e os vencedores receberam 
concessões territoriais. A França ganhou a Alsácia, Verdun, Toul e Metz e estabeleceu suas fronteiras na 
margem oeste do Reno. A Suécia ganhou o controle do mar Báltico e dos estuários dos rios Elba, Oder 
e Weser, além dos territórios da Pomerânia ocidental. Reconheceu-se ainda a independência da Suíça e 
das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos (CARNEIRO, 2011).
Figura 4 – Mapa da Europa em 1648
No que concerne ao Sacro Império Romano-Germânico, também houve importantes mudanças 
com a Paz de Vestfália. A Paz de Augsburgo, que institui a liberdade religiosa, é reafirmada não apenas 
na Boêmia, mas em todo o Império. A Bavária ganhou territórios do Alto Palatinado e o direito de 
voto no Conselho Imperial dos Eleitores, que escolhia o imperador. Brandemburgo ganhou a Pomerânia 
oriental e outros territórios, que fundamentam o surgimento da Prússia. E, por fim, os diversos Estados 
alemães independentes alcançaram o direito de conduzir sua própria política externa, fortalecendo o 
princípio da soberania.
Nesse sentido, o Tratado de Vestfália é considerado o primeiro acordo internacional, uma vez que 
consagrou o exercício da soberania estatal por meio de garantias de não intervenção entre eles e separação 
entre as esferas da religião e da política. Vestfália, portanto, representa um esforço para a superação da 
ordem e do direito medievais, pelos quais cabia ao papa o papel de árbitro dos reis, sendo as funções do 
Estado secular subordinadas à Igreja (ROMANO, 2012).
Nessa visão de mundo, há uma clara hierarquia de comando: o papa concede o poder aos reis 
para governarem, e estes devem usá-lo conforme as regras ditadas pela Igreja. No Sacro Império 
27
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Romano-Germânico, a hierarquia descrita incluía ainda o imperador. Vestfália, contudo, estabeleceu 
a abolição da hierarquia eclesiástica e imperial, na medida em que impôs a igualdade jurídica entre os 
Estados e a rejeição da autoridade universal do papa. Isso significa que os Estados soberanos não mais 
reconhecem qualquer autoridade acima de si mesmos.
Em Vestfália, a hierarquia medieval é substituída pela anarquia do equilíbrio de poder e a razão 
de Estado. Ou seja, antes, as ações e decisões dos príncipes eram subordinadas ao imperador e, por 
conseguinte, eram regulamentadas pelo papado. Após os acordos de Vestfália, os Estados deixam de se 
sujeitar a normas morais externas a eles próprios e adotam um sistema de reciprocidade fundamentado 
no reconhecimento mútuo das múltiplas soberanias e no direito internacional moderno dos pactos e 
tratados internacionais (CARNEIRO, 2011).
Reinos
Império
Papa
Principados
França Espanha Suíça Holanda
Pactos de Lealdade 
Hierarquizados
Múltiplas Independências
Figura 5 – Sistema medieval x sistema moderno de Estados
Na ausência de um organismo internacional religioso ou jurídico superior aos Estados e entidades 
políticas para garantir o pacto e servir de árbitro entre os soberanos, como era o caso anterior da Igreja, 
a Paz de Vestfália é desenhada a partir de um equilíbrio fundamentado na amizade e vizinhança comum 
de cada parte. Trata-se, portanto, de uma obrigação social entre as entidades soberanas que se definem, 
ao mesmo tempo, como juízes e partes, com direitos e obrigações mútuas (ROMANO, 2012).
Além disso, podemos observar que os tratados de Vestfália estabeleceram a existência de um sistema 
fundado em preceitos racionais e seculares. A religião, seja católica ou protestante, continuaria tendo 
um peso considerável na vida social e política das sociedades da época; no entanto, não seria a fé 
religiosa que guiaria as escolhas e ações dos Estados no sistema internacional. Estes priorizariam seus 
próprios interesses baseados essencialmente na geopolítica e no equilíbrio de poder (CARVALHO, 2018).
Nesse sentido, Carneiro (2011, p. 185) resume a importância dos 11 tratados firmados em 
1648 afirmando que:
Toda a política moderna e contemporânea, baseada no reconhecimento 
da legitimidade dos Estados e na constituição de um conjunto político de 
nações que se reconhecem como parte de um sistema em que rege um 
direito internacional, deriva do modelo criado e formalizado a partir da 
Paz de Vestfália.
28
Unidade I
A Paz de Vestfália, portanto, pode ser considerada a formalização do nascimento do sistema europeu 
de Estados, que posteriormente definiu o modelo das comunidades nacionais no Ocidente. Porém, 
pesquisas como a de Diego Santos Vieira de Jesus (2010) questionam a profundidade das inovações 
creditadas aos acordos de Vestfália, além de argumentar no sentido de haver “brechas” nos princípios de 
autonomia e territorialidade que dificultam a manutenção da estabilidade do sistema.
Nas palavras dele:
O que Vestfália fez, em certa medida, foi consagrar uma ordem cooperativa 
legal de entidades autônomas não soberanas, o que indica que a soberania 
não é o único conceito ou forma possível de interpretar a interação entre 
atores autônomos.
Para Jesus, portanto, a ordem de Vestfália não foi em si uma inovação nas relações entre as 
comunidades políticas nos termos de soberania, mas apenas formalizou um padrão de relações entre 
os povos europeus já existentes à época da Guerra dos Trinta Anos. De qualquer forma, importa lembrar 
que Vestfália tornou-se um marco nos estudos de relações internacionais, uma vez que fundamentou 
uma cultura política compartilhada própria que determina a atual sociedade internacional.
2.2 O Congresso de Viena e a sociedade internacional europeia
A estrutura política arquitetada pela ordem Vestfália, isto é, das “múltiplas independências”, perdurou 
por um longo tempo, o que possibilitou tanto a realização das estratégias das grandes potências europeias 
quanto a sobrevivência dos Estados menores. Apesar da persistência de conflitos bélicos, a guerra foi um 
mecanismo eficiente para manutenção do equilíbrio de poder e, até a ascensão de Napoleão Bonaparte 
na França, não representou ameaça ao sistema de Estados europeu.
 Lembrete
Equilíbrio de poder é um conceito muito empregado no estudo das 
relações internacionais, sendo definido por Raymond Aron (2002) da 
seguinte forma: “a política de equilíbrio se reduz à manobra destinada a 
impedir que um Estado acumule forças superiores às de seus rivais coligados. 
Todo Estado, se quiser salvaguardar o equilíbrio, tomará posição contra o 
Estadoou a coalizão que pareça capaz de manter tal superioridade. Essa é 
uma regra geral válida para todos os sistemas internacionais”.
No período de 1648 a 1789, é possível observar mudanças significativas na geopolítica europeia. 
A França, sob a monarquia dos Bourbons, tornou-se a principal potência na Europa continental, 
enquanto o advento do poder hegemônico da Grã-Bretanha nos mares e no comércio internacional 
superou o poder marítimo holandês. Na Península Ibérica, a Espanha enfrenta um processo de longo 
declínio que culminou com a guerra de sucessão ao trono espanhol iniciada em 1701 e encerrada em 
1714 (MAGNOLI, 2012).
29
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Nesse conflito, a França de Luís XIV, por seu lado, apoiava a pretensão de Felipe d’Anjou, neto de 
Luís XIV; já a Grande Aliança, formada por Grã-Bretanha, Portugal, Prússia e Holanda, defendia que 
o trono espanhol fosse assumido por Carlos, do Sacro Império Romano-Germânico. Com a eleição de 
Carlos como imperador do Sacro Império, a Aliança perdeu força, uma vez que não interessava às 
potências europeias que Carlos acumulasse as duas coroas.
Assim, as negociações de paz tiveram início em 1713 na cidade holandesa de Utrecht e encerraram-se 
em 1715. Na Paz de Utrecht, a questão de sucessão ao trono espanhol foi solucionada em favor de 
Felipe d’Anjou, rei Felipe V da Espanha, e, além disso, foram confirmados os princípios de soberania, não 
intervenção, equilíbrio de poder, a prevalência do direito internacional e a retomada à guerra como último 
recurso. Como observa Amado Luiz Cervo (2007a, p. 43), entre os séculos XVII e XIX, foram consolidados 
os valores de uma sociedade internacional europeia conforme estabelecido na Paz de Vestfália:
A filosofia política de Vestfália fez avançar a sociedade internacional 
europeia em termos conceituais: a nova ordem era fruto na negociação, 
legitimava uma sociedade de Estados soberanos, enaltecia a associação 
e a aliança, mas não era ingênua a ponto de ignorar a hierarquia e 
hegemonia entre Estados e a mobilidade da balança de poder. O direito 
internacional modernizou-se. O jurista holandês Grotius deu aos europeus 
a convicção de que as relações internacionais haviam migrado para fora 
da anarquia maquiavélica quando os convenceu de que obedeciam a 
um conjunto de princípios, valores e regras aceitos e praticados pelos 
novos Estados-nação.
A estrutura pluripolar da ordem de Vestfália deu origem a uma nova configuração geopolítica 
na Europa que posteriormente abriria caminhos para as guerras napoleônicas. A Grã-Bretanha era a 
maior potência emergente no período e fundamentou sua ascensão em um poderoso poder naval para 
garantia de sua segurança no equilíbrio de poder com potências continentais. Na parte oriental, a 
Rússia também vinha praticando uma política de afirmação como potência emergente, enquanto no 
Ocidente a Espanha, enfraquecida pelos conflitos em que se envolvera desde o século XVII, declinava 
definitivamente. Na parte mais central do continente, França e Áustria mantinham seus status enquanto 
a Prússia almejava converter-se em polo de influência no espaço alemão (MAGNOLI, 2012).
No entanto, no final do século XVIII, a eclosão da Revolução Industrial e da Revolução Francesa 
levaria ao desabamento de toda a estrutura construída na Paz de Vestfália. Com a Revolução Industrial, 
ocorrida na Inglaterra entre as décadas de 1770 e 1780, o mundo material mudou substancialmente, 
abrindo espaço para o capitalismo industrial e uma nova classe dirigente, dinâmica, cujos ideais e valores 
moldariam não apenas a Europa, mas também o mundo a partir da expansão da sociedade europeia 
na segunda metade do século XIX. Por sua vez, a Revolução Francesa derrubou violentamente todos 
os resquícios da estrutura política medieval, substituindo a soberania real absolutista pela soberania 
popular (MONDAINI, 2011).
Entre 1792 e 1815, houve guerra ininterrupta em toda a Europa e em alguns locais do mundo, 
desencadeada pela força do ideário revolucionário francês. A França revolucionária adotou valores 
30
Unidade I
universais que não eram compatíveis com as monarquias absolutistas na Europa, desencadeando uma 
rápida reação dos Estados que defendiam os valores tradicionais. A contrarrevolução, no entanto, 
alimentou o imaginário de Napoleão Bonaparte em torno de um Império Francês e empregou o grande 
exército revolucionário como instrumento pelo qual a revolução projetou-se no cenário internacional, 
ameaçando não apenas um Estado ou uma coalizão, mas todo o sistema de Estados europeu 
(MAGNOLI, 2012).
Para melhor compreensão desse contexto, faz-se necessário entender os três momentos ou “eras” 
em que didaticamente se divide o curso da Revolução Francesa: a era das constituições (1789-1792); a 
era das antecipações (1792-1794); e a era das consolidações (1794-1815). Na primeira era, observa-se 
a tentativa de estabelecimento de uma monarquia constitucional, que resultará na elaboração da 
Constituição de 1791. O objetivo das principais lideranças era reformar o regime absolutista e instituir 
os direitos civis (MONDAINI, 2011).
Na segunda era, ocorreu a radicalização do processo, em que os jacobinos, grupo mais revolucionário, 
assumiram a liderança e lutaram pela eliminação de todos os resquícios de origem nobre ou burguesa. Foi 
a fase em que a guilhotina espalhou o terror em todo o território francês. Na última era, a fase política 
da Revolução teve o objetivo de consolidar as instituições burguesas na França, sendo o Exército, sob 
liderança de Napoleão Bonaparte, o principal instrumento de pacificação e unificação da nação francesa 
(MONDAINI, 2011).
Sob o comando de Napoleão, a França revolucionária anexou a Bélgica à margem esquerda do Reno, 
modificou os governos da Suíça e da Holanda, estabeleceu posições na Espanha e em regiões da Itália, 
enfim, tentou formar um Império continental. Em contrapartida, seis coalizações internacionais foram 
formadas para enfrentar o Exército Francês, lideradas pela Grã-Bretanha e compostas por Rússia, Áustria, 
Suécia e Prússia. No seu auge, em 1802, o Império de Napoleão estendia-se por parte considerável da 
Europa (MAGNOLI, 2012).
A partir de 1812, após inumeráveis vitórias, Bonaparte amargou uma imensa derrota na campanha 
da Rússia, seguida de outra derrota na campanha da França com o cerco de Paris pela sexta coalização. 
Após a capitulação de Paris em março de 1814, Napoleão renunciou e foi exilado pelos aliados na ilha 
de Elba. Em 1815, ainda tentou retornar ao trono francês, então ocupado por Luís XVIII, porém foi 
definitivamente derrotado na Batalha de Waterloo, na Bélgica, pelo general Wellington. Napoleão 
foi novamente exilado na ilha de Santa Helena, onde terminou seus dias (MONDAINI, 2011).
No decorrer desses anos de guerra, o mapa geopolítico da Europa foi redesenhado diversas 
vezes, e a mudança mais significativa do ponto de vista da geografia política foi a consolidação do 
Estado-nacional, com fronteiras bem delimitadas e instituições e leis unificadas sob uma só autoridade 
soberana. Além disso, a comunidade feudal consistia em uma propriedade de algum nobre, herdada pelos 
seus descendentes, mas agora deixa de ser propriedade da nobreza para ser nacional. O reconhecido 
historiador inglês Eric Hobsbawm (1974, p. 99) assim descreveu os impactos da Revolução Francesa em 
termos político-sociais:
31
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
“A Revolução Francesa”, observava De Bonald em 1796, “é um acontecimento 
único na história”. A frase é enganadora: ela foi um acontecimento universal. 
Nenhum país estava imune a ela. Os soldados franceses que guerrearam de 
Andaluzia a Moscou, do Báltico à Síria estenderam a universalidade de sua 
revolução mais eficazmente do que qualquer outra coisa. E as doutrinas 
e instituições que levaram consigo, mesmo sob o comando de Napoleão, 
desde a Espanha até a Ilíria, eram doutrinas universais, como os governos 
sabiam e como também os próprios povos logo viriama saber.
As guerras napoleônicas marcaram o fim das múltiplas independências da Paz de Vestfália, porque 
não foram apenas guerras interestatais, em que as unidades políticas se reconhecem como legítimas. 
A França revolucionária de Napoleão Bonaparte tinha pretensões imperiais, ou seja, almejava destruir 
a ordem internacional vigente para construir uma nova ordem que refletisse seus próprios valores. 
As guerras travadas por Bonaparte tinham, portanto, características imperiais com o objetivo de 
eliminação de inimigos e formação de uma unidade superior aos demais. Assim, as negociações de paz 
deveriam suprimir o agressor que buscava a hegemonia e restaurar a ordem (MAGNOLI, 2012).
Nesse sentido, as potências europeias, uma vez derrotado o Império Francês, reuniram-se no 
Congresso de Viena em 1815 na tentativa de reconstituir a ordem internacional europeia. Porém, 
decidiram que não mais convinha restabelecer o sistema das múltiplas independências diante 
da possibilidade de que isso implicasse o perigo de uma nova aventura imperial. Dessa forma, a 
sociedade internacional europeia evolui para um sistema de colaboração e controle pelas grandes 
potências (CERVO, 2007a).
O Congresso de Viena ocorreu oficialmente entre novembro de 1814 e junho de 1815 com o objetivo 
de reorganizar a ordem europeia após as guerras napoleônicas. No entanto, havia muitos outros 
interesses em jogo de cada uma das quatro grandes potências que derrotaram Napoleão Bonaparte: 
à Grã-Bretanha, interessava a edificação de uma ordem baseada no consenso e estabelecimento de 
quesitos de segurança que impedissem o surgimento de um Estado hegemônico na Europa; a Prússia 
almejava manter uma política de influência da região alemã e, para tanto, via a anexação do Reino da 
Saxônia como condição indispensável; por sua vez, a Rússia exigia a formação de um Estado polonês 
unificado, porém subordinado às prerrogativas de Moscou, e conflitava com os interesses da Prússia e 
Áustria; e a Áustria desejava não somente conter a expansão russa em território polonês, mas também 
tinha pretensões territoriais sobre o leste e sul da Europa.
As negociações, como descreve Demétrio Magnoli (2012), desenrolaram-se em diversas fases. 
A primeira fase, antes da abertura do Congresso, caracteriza-se pela discussão dos procedimentos da 
negociação, cujo resultado foi a manutenção das discussões territoriais somente entre as quatro grandes 
potências, excluindo a França restaurada e outros países que participaram das guerras napoleônicas, 
como Espanha e Suécia. Houve protestos por parte da França, porém, nessa fase, sem resultados.
32
Unidade I
Ainda no contexto das preliminares, iniciou-se em outubro de 1814 a segunda fase das negociações, 
na qual as grandes potências expuseram suas reivindicações territoriais e estudaram os possíveis 
cenários de compromisso. Nesse momento, ficou clara a dificuldade de estabelecer um equilíbrio geral 
na Europa sem que fosse resolvida a questão regional entre os Estados alemães. Para a Grã-Bretanha, 
um eixo de entendimento entre Prússia e Áustria com apoio dos ingleses seria ideal para equilibrar 
qualquer pretensão hegemônica da Rússia e França. Porém, devido ao fracasso das negociações entre as 
potências centrais, a França foi convidada a ingressar no núcleo das potências, dando início à terceira 
fase do Congresso de Viena (MAGNOLI, 2012).
Entre dezembro de 1814 e janeiro de 1815, desenrolou-se a terceira fase de negociações e foram os 
momentos mais tensos do Congresso. A Prússia, recuada pela entrada da França no círculo fechado das 
potências, impôs suas condições sobre territórios alemães e poloneses sob ameaça do recurso à força 
caso não fosse atendida. Os ânimos foram contidos após recuo da Rússia em suas pretensões sobre a 
Polônia, que abriu caminho para um entendimento geral.
Na quarta fase, ocorreu o processo de negociação final liderado pela Grã-Bretanha. O texto do 
tratado possibilitou à Rússia a formação do Estado polonês independente, porém descrito como um 
patrimônio hereditário da dinastia russa; a Prússia recebeu territórios a leste do Reno e parte do 
reino da Saxônia, além de outros territórios reivindicados; a Áustria perdeu poder no espaço alemão, 
mas, em contrapartida, obteve territórios ao sul da Europa; a Grã-Bretanha, em suas pretensões de 
segurança, conseguiu estabelecer o Reino da Holanda, abrangendo a Bélgica, que funcionaria como 
barreira às pretensões francesas na região; por fim, a França obteve a formação de uma Confederação 
dos Estados Alemães, de forma a dificultar a pretensão da Prússia e da Áustria de avançarem sobre a 
região (MAGNOLI, 2012).
O novo desenho do mapa europeu (figura adiante) beneficiou, sobretudo, a Grã-Bretanha, que 
alcançou todos os objetivos de segurança sem renunciar à prática de não intervir nos assuntos 
continentais, além de obter o desejado equilíbrio que possibilitou aos ingleses perseguirem sua política 
de expansão mundial. O isolamento britânico gerou protestos por parte das monarquias centrais, que 
reuniam Rússia, Áustria e Prússia, quando ocorreram revoltas liberais na Espanha, influenciadas pelos 
valores da Revolução Francesa.
O episódio levou as três monarquias a estabeleceram a Santa Aliança, fundamentada nos valores 
cristãos e absolutistas, de forma a afastar os ideários franceses. Diversos reis e príncipes aderiram 
ao documento da Santa Aliança, abalando a opinião liberal europeia. Diante disso, a Grã-Bretanha 
formulou a Quádrupla Aliança, composta também por França, Espanha e Portugal, com a finalidade 
de preservar a ordem edificada em Viena. Por esse mecanismo, ocorreriam conferências periódicas 
para sustentar o Concerto Europeu (MAGNOLI, 2012).
33
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 6 – A Europa após o Congresso de Viena, 1815
A partir de 1815, as cinco grandes potências europeias (Grã-Bretanha, Áustria, França, Prússia e 
Rússia) agiam como diretório, realizando intervenções coletivas para manutenção do equilíbrio e da 
ordem de Viena. O sistema das múltiplas independências e a razão de Estado foram substituídos pela 
hegemonia coletiva e pelo equilíbrio de poder entre os cinco grandes. Amado Cervo (2007a, p. 47) assim 
resume o novo contexto das relações internacionais que emergiu do Congresso de Viena:
A legitimidade desse sistema internacional, o Concerto Europeu, fundava-se nos 
benefícios que seus membros supunham derivarem de seu funcionamento: 
como os extremos – a potência singular independente ou a hegemonia singular 
absoluta – não podiam impor-se, a prática tornava o sistema legítimo ao erradicar 
os males dos extremos. O senso realista das concepções e práticas da política 
internacional do Concerto Europeu do século XIX pretendeu corrigir o sistema de 
igualdade jurídica dos Estados implementado no século XVII, porque este último 
revelou-se incapaz de evitar a dominação dos impérios. Foi além, ao indicar 
que os grandes devem atender a interesses de todos os Estados-membros da 
sociedade internacional.
34
Unidade I
O Concerto Europeu mostrou-se um mecanismo eficiente para manutenção da estabilidade europeia 
até a ascensão da Alemanha unificada. Por meio desse mecanismo de equilíbrio de poder, foi possível 
um longo período de paz que durou cerca de cem anos, com apenas conflitos esporádicos que não 
colocavam em risco o sistema de Estados europeu. Nesse período, a burguesia europeia e a ordem 
liberal capitalista atingiram seu auge e materializaram a força de expansão da sociedade europeia 
para todo o globo.
2.3 Expansão da sociedade internacional europeia
No decorrer do século XIX, a Europa mergulhou em duas ondas que conformariam o mundo 
contemporâneo: o nacionalismo e o liberalismo. As reivindicações do liberalismo econômico e democrático 
e do nacionalismo viriam a ser gradualmente realizadas nas décadas seguintes, resultando em um período no 
qual consagrou-se a soberania popular, e o mundo tornou-se capitalista (HOBSBAWM, 1974).
Na década de 1840, um novo

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