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PEÇA V - ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAL

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EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE EXTREMA/MG
Autos nº xxxxx
NONO NINHO, devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem por intermédio de seu procurador, Adv. xxx devidamente qualificado, que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 403, §3º, do Código de Processo Penal, apresentar:
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAL
 
O que o faz nos seguintes termos:
1- DA TEMPESTIVIDADE
A legislação processual penal, tem em seu arcabouço, a garantia de as partes em caso das diligencias serem consideradas complexas, apresentar memoriais finais dum prazo de 5 dias.
Tendo em vista, que o acusado foi intimado no dia 27 de março de 2020 numa (sexta-feira), sendo assim, como prevê a súmula 310 do STF, inicia-se o prazo na primeira segunda-feira subsequente, com isso, o prazo a ser considerado para o início da contagem será dia 30 de março (segunda-feira) e finda no dia 03 de abril de 2020, com isso, as alegações finais por memorial encontra-se tempestivo, aos moldes do art. 798, §1º do CPP, e da Súmula 310 do STF.
2- DOS FATOS
O acusado foi preso no dia 06 de janeiro de 2020, pelo suposto cometimento do crime de roubo majorado pelo uso de arma de fogo. Ocorre que o crime foi cometido no dia anterior a sua prisão, dia 05 de janeiro de 2020.
Na data do suposto cometimento do crime, Nono Ninho tinha apenas 20 anos, pois nascera no dia 01 de janeiro de 2000. Há de salientar que Nono Ninho é um homem trabalhador, casado, pai de duas crianças tendo (2 e 3 anos), não tendo nenhuma conduta que demonstre relação ao crime cometido anteriormente, possui residência fixa, exerce atividades lícita e não tem nenhuma condenação e se quer tem algum registro demonstrando ser criminoso.
Com o decorrer dos tramites legais, foi agendado Audiência de Instrução e Julgamento para o dia 19 de março de 2020.
Durante a Audiência, o ofendido e as testemunhas foram ouvidas, e o réu foi interrogado.
Ao ser ouvido, o ofendido relatou que não era possível identificar o réu, pois estava muito nervoso no momento do crime, sendo que a única coisa que dava para perceber era que a roupa utilizada por Nono Ninho no momento de sua prisão eram semelhantes ao de seu algoz do dia do crime, assim como reconheceu o relógio.
Uma das testemunhas relata ter visto o acusado na cidade de Extrema/MG no dia do cometimento do crime, porém, não se recorda de qual seria sua vestimenta naquele dia.
O Ministério Público trouxe uma filmagem com a intenção de comprovar a autoria e materialidade do delito. Porem, o que pode-se ver é que a única coisa que pode ser vista no momento do crime é que ocorreu à mão armada, mas, em nenhum momento, as imagens foram capaz de mostrar o rosto do delinquente, mostrando apenas as costas, com isso não é possível confirmar qualquer característica física do delinquente.
Durante o interrogatório a o réu sempre foi firme em dizer que era inocente, e as testemunhas de não trouxe nada de novo que pudesse incriminar o acusado.
Com o fim da Audiência de Instrução e Julgamento o parquet requereu o aditamento da inicial acusatória, com a intenção de alterar a capitulação do crime imputado a Nono Ninho.
Foi aberto o prazo para a manifestação do MP posterior a AIJ, onde foi requerido a condenação de Nono Ninho com o incurso no §2º-B do art. 157 do Código Penal, tendo alegado, para tanto, que o crime fora praticado com o emprego de arma de fogo de uso restrito (arma calibre 222 Remingtom, com energia de 1.717,63 Joules, classificada no Anexo B da Portaria nº 1.222/19 como de uso restrito), devendo a reprimenda aplicada ser dobrada, quando da terceira fase da dosimetria da pena, pois à época dos fatos a Lei 13.964/19 já havia sido publicada.
Ainda foi requerida sua condenação em razão da existência de provas que demonstram cabalmente ter sido ele o autor do crime, pois foi encontrado na posse de bem idêntico ao subtraído da vítima e visto no dia dos fatos na cidade de Extrema/MG.
3- DO DIREITO
3.1- Ausência de provas 
Diante dos fatos narrados, verifica-se que não há provas suficientes que possam incriminar o acusado. Vale ressaltar, que no momento onde a vítima foi ouvida na Ação de Instrução e Julgamento, ela foi cara que no momento do crime não teve como reconhecer quem seria o autor do crime, somente conseguiu ver que seu algoz tinha uma vestimenta parecida com a que o acusado usava no momento de sua prisão, e que reconhecia que o relógio que ele utilizava era o idêntico ao que lhe fora subtraído.
E de salientar que aquele que está acusando tem o dever de trazer provas suficientes para demonstrar a autoria e materialidade, e com isso o parquet tem o dever de provar que Nono Ninho foi quem cometeu o crime, como podemos ver o que prescreve o art. 156 do CPP,  “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício”, com isso, fica comprovado que até o momento não teve nenhuma prova que demonstrasse que o acusado foi quem cometeu o crime.
Sendo assim, veja o que nossa Carta Magna diz no art. 5º LVII “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Com isso, até que tenha provas suficientes para condenar o acusado, e após transitar em julgado é que ele pode ser considerado culpado, no entanto ele deve ser considerado inocente até que tenha provas do contrário.
Na data do crime não teve nenhuma testemunha ocular, sendo assim, não é possível dizer que ele é o autor do crime, além da testemunha que disse ter visto Nono Ninho em Extrema/MG no dia do crime, não sabia dizer qual seria a vestimenta que ele usava naquele dia, logo, percebe-se que não pode inferir ser ele o autor do crime.
Ademais, foram apresentado a filmagem que demonstrar com clareza quem cometeu o crime, pois, só foi possível ver as costas do autor do crime, sendo que em nenhum momento pode ver o rosto ou comprovar a estatura física do infrator, além de que, nem a própria vítima na Audiência de Instrução e Julgamento foi capaz de identificar que o acusado foi quem cometeu o crime naquele dia, sendo assim, e indevido a condenação de alguém que não foi reconhecido e nem comprovado ter cometido o crime, pois se assim for feito corre o risco de deixar encarcerada uma pessoa inocente.
Com isso, o art. 386, em seu inciso VII, diz que:
 Art. 386 O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
[...]
VII – não existir prova suficiente para a condenação (BRASIL. 1941).
Logo, como foi demonstrado a completa ausência de provas, que demonstre que o acusado foi o autor do crime, ele deve ser absolvido tendo como fundamento os inciso, LVI do art. 5º da CF/88 e do inciso, VII, do art. 386 do CPP, que deixa claro que o magistrado deve absolver o réu no caso de não ter provas suficientes capaz para sua condenação.
3.2- Incorreta capitulação apresentada pelo Ministério Público na inicial acusatória
Ao final da Audiência de Instrução e Julgamento, foi aberto o prazo para que o parquet aditasse a capitulação na inicial da acusatória, requerendo a condenação do acusado pela pratica descrita no §2º-B do art. 157, tendo em vista que o armamento utilizado no momento do crime é considerado pelo Anexo B da Portaria nº 1.222/19, como de uso restrito, devendo então ser a reprimenda ser aplicada em dobro, quando na terceira faze da dosimetria da pena, pois à época do fato a Lei nº 13.964/19 já havia sido publicada.
Embora, a Lei 13.964 tenha sido sancionada pelo Presidente no dia 24 de dezembro de 2019, e publicada no mesmo dia, porém, nos termos do art. 20 da referida lei, ela tem um prazo de vacatio legis de 30 dias, sendo que sua entrada em vigor passa a ser no dia 23 de janeiro de 2020. Como podemos notar, o crime supostamente praticado pelo acusado, foi cometido no dia 05 de janeiro de 2020, ou seja, antes da Lei entrar em vigor, e com isso, a reprimenda não pode ser aumentada aos moldes do §2º do art. 157-B.
Neste caso, deve continuar valendo o que prescrevia o art. 157 e seus parágrafos antes da entrada emvigor da referida lei, como podemos ver: “§ 2º-A, a pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):  I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo”, no entanto, deve prevalecer esse aumento de pena na dosimetria e não o que foi pedido pelo parquet.
Vejamos o que prescreve o art. 2º e 3º do Código Penal:
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência (BRASIL. 1940).
Ademais, como se trata de norma penal pura, deve prevalecer o que previa antes de entrar em vigor a lei do pacote anticrime, pois, por se tratar de uma norma penal menos benéfica para o réu, ela não pode retroagir ao momento do crime, pois o crime em comento foi cometido antes da entrada em vigor da Lei 13.964/19, portanto, a lei só poderá retroagir para beneficiar ao réu como podemos ver no art. 2º do CP, sendo que o art. 3º traz a exceção onde a lei mais maléfica poderá retroagir para prejudicar o réu, sendo no caso de lei temporária ou excepcional.
Nesse sentido, a arma que Nono Ninho está sendo acusado de cometer o crime com ela, somente pode fazer incidir a majorante do aumento em dobro da pena nos casos de cometimento de crime com este tipo de arma na data posterior ao dia 23 de janeiro de 2020.
Portanto, como o crime fora praticado em momento anterior à entrada em vigor da norma, não há que se falar em retroatividade da norma mais benéfica, devendo ser aplicada aqueloutra vigente à época da infração, qual seja o §2º-A do art. 157 do CP, que prevê um aumento de 2/3 da pena.
3.3- Dosimetria da pena
No que tange a dosimetria da pena, na segunda fase deve ser levado em consideração as circunstâncias que atenuam e agravam a pena, com isso, deve ser levada em consideração a idade do acusado no momento em que supostamente cometeu o crime, pois como podemos ver no art. 65, inciso I do Código Penal, é uma das causas que deve atenuar a pena Art. 65 – “São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença”.
Como na data do cometimento do crime, Nono Ninho era menor de 21 anos de idade, ele faz jus ao beneficio da atenuante da pena, pois essa circunstancia sempre deve atenuar a pena.
No que tange a terceira fase da dosimetria, que refere aos aumentos ou diminuição, deve ser levada em consta que devido o erro do parquet em requerer a condenação do réu na capitulação do crime previsto no §2-B do art. 157, como ficou demonstrado na tese anterior, não poderá ocorrer o aumento em dobro da reprimenda, e sim de 2/3, como prescreve o §2º-A do art. 157, pois, como foi demonstrado, o crime perpetrado ocorreu antes da entrada em vigor da Lei13.964/19, e com isso não pode retroagir para prejudicar o réu.
4- DOS PEDIDOS
Diante do exposto, vem respeitosamente requerer:
a) A absolvição de Nono Ninho, ante a falta de provas que demonstrem ser ele o autor do crime, com fundamento no art. 5º, inciso LVII da Constituição Federal, e do art. 386, inciso VII do CPP, haja vista, ser obrigatório que o magistrado na falta de provas absolver o acusado sob pena de manter encarcerado um inocente;
b) De forma alternativa, caso não seja considerado a tese anterior e o acusado seja condenado, deve a recapitulação do tipo penal ser rejeitada, não incidindo o aumento em dobro da reprimenda, com isso, deve ser levado em consideração o que prevê o art. 157, §2º-A, onde incide o aumento de 2/3 da pena;
c) Entendendo pela condenação, também deve ser levado em consta a atenuante do art. 65, inciso I do CP, que prevê que a pena será atenuada no caso em que o infrator seja menor de 21 anos de idade, e como Nono Ninho na data da infração era menor de 21 anos de idade nesta data ele faz jus a atenuante mencionada.
Nestes termos, pede e espera deferimento.
Local/data.
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Nome e assinatura do Advogado
Nº da OAB.

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